Meu caro António Maria,
- As previsões €/$ apontavam para k o euro chegasse aos 1.20/1.22 até ao final do próximo trimestre de 2015.
- As previsões €/$ para o final de 2015 eram de 1,18 e 1,20, ainda que com uma margem. Quando me refiro a previsões estou a aludir ao que a maioria dos analistas previa. No curto prazo é menos fiável, mas para o médio-longo, é aceitável.
- Pode ser que ocorra mais cedo, isto é, entre fim de 2014 e início de 2015.
A novidade foi a inesperada acção do Banco do Japão (BoJ), ao alagar ainda mais o mercado com dinheiro. Não se esperava, e isso gerou liquidez no mercado. Efeito imediato: as acções em Tóquio subiram, o iene baixou face USD (moeda de refúgio) e o € baixou em relação ao USD. O que saiu do Japão não veio para a Europa, como tinha sucedido até Setembro.
Existem/existiam rumores de que o BCE iria alargar a compra de ativos e comprar mais agressivamente. Os rumores apontavam para que tal ocorresse no primeiro trimestre do próximo ano, como máximo. Assim, os investidores começariam a descontar esse efeito, e a partir de janeiro o euro baixaria. O BoJ veio alterar as previsões.
Neste momento, outro fator ainda vem complicar as análises: a birra entre a Alemanha e o Reino Unido sobre as quotas de imigração, e também sobre a contribuição do RU para o orçamento da UE.
Para além da histórica prova de força entre as duas nações (vamos lixarmo-nos e pagar com língua de palmo andarmos a dormir demasiado tempo na cama errada), o efeito sobre o euro será imediato assim que os investidores compreenderem que não se trata apenas de uma birra, mas de um problema real e que, mesmo com resolução mais adiante, vai abrir e deixar feridas.
Penso que isso deve suceder ainda esta semana. A maioria do pessoal foi apanhada desprevenida e aguardam que os representantes dos principais interesses —fundos de pensões, bancos, gringos e chinocas— façam o seu papel. Se isso não acontecer, ou seja, se demorar mais tempo, e pode demorar, porque o Cameron está entre a espada e a parede com o UKIP, o euro vem por aí abaixo mais depressa e chegará aos valores previstos para finais de 2015 já a meio do ano que vem.
Para a malta do Sul, será bem vinda esta desvalorização, sobretudo para a Espanha e Itália. Para nós, tugas, nem por isso, porque quem estava a ganhar com o euro alto e o barril a 100USD era a GALP, uma mama, contudo, em vias de secar. Aliás, segue a GALP com atenção porque pode ser o próximo grande problema que vamos ter nas páginas dos jornais e no país. Para o consumidor, até poderá ser melhor, mas terá impacto na balança, pelo menos durante meio ano.
Prepara-te para seres aumentado por via do câmbio em mais uns pp daqui até ao fim do ano.
Abraço
Garganta Funda
PS: as opiniões do nosso correspondente no Médio Oriente são livres, respeitadas, mas não são necessariamente seguidas pelo António Maria.
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