Mariana Mortágua, deputada do Bloco não faz os TPC. Foto © Jose Sérgio/ Sol |
A casta deixou de servir a democracia. Serve-se a si mesma e sem qualquer vergonha na cara
Mariana Mortágua | Embalos semânticos
Expresso, 7:00 Sexta feira, 21 de novembro de 2014
A partir do momento em que se tornou pública a necessidade de uma intervenção estatal no BES, o Governo, na voz de Maria Luís Albuquerque (MLA), apressou-se a construir duas teorias. A primeira: "aconteça o que acontecer, não haverá prejuízos para os contribuintes" (MLA, 8 Out, AR). A segunda: "O Governo teve conhecimento da decisão da resolução do BES na tarde do dia 1 de agosto (MLA, 8 Out, AR), logo, a responsabilidade da mesma cabe ao Banco de Portugal.
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Apesar de pertencerem à casta dos 1% com maior rendimento coletável do país, os nossos deputados da treta nem sequer se dão ao trabalho de ler o Jornal Oficial da União Europeia, e as resoluções do Parlamento Europeu, nomeadamente aquela que deu lugar ao Mecanismto Único de Resolução (MUR ou SRM). Se o fizessem não andariam a pulverizar os indígenas com a falsa discussão sobre as responsabilidades do governo e de Maria Luís Albuquerque no colapso do banco do regime, onde tantos beberam, mais ou menos, privilégios corruptos. Assim que governo e BCE perceberam que o BES ia colapsar, começou uma corrida contra o tempo para antecipar a redação, aprovação e implementação do MUR. Houve, pois, uma triangulação entre o nosso governo e Banco de Portugal e o Parlamento Europeu e o BCE, nas medidas, nas provisões e no timming da entrada do grupo financeiro GES e banco BES no Mecanismo Único de Resolução. Tudo o resto é conversa de jornalistas e deputados que não fazem o trabalho de casa... e mais do mesmo, ou seja, a manipulação diária dos bovinos contribuintes que continuam a alimentar a corja que arruinou o país — com impostos, taxas e votos!
Quando as ações do BES e do BCP cairam 25% numa só semana de maio deste ano, o destino do grupo BES estava traçado, e só quem anda a milhas destes temas, ou queira escondê-los, não sabia o que iria acontecer. Quem especulou e perdeu, não tem nada que arrastar-se pelos gabinetes e redações vertendo lágrimas crocodilo.
Neste blogue foram escritos vários textos esclarecendo sem ambiguidades o que iria acontecer e porquê.
Ricardo Salgado chegou a convocar um Conselho de Estado para anunciar o que aí vinha se não o acudissem. Queria dinheiro do estado, mas sem mostrar os livros; queria, através do BCP e da meretriz Caixa Geral de Depósitos, a massa da Troika, mas sem mostrar os livros. Como levou tampa, telefonou aos afilhados da PT e sacou-lhes 900 milhões de euros. Como levou tampa do governo, do BdP e dos outros bancos, convenceu a Goldman a fazer uma entrada/saída relâmpago, obviamente especulativa, no capital do BES, por um lado, para ver entrar liquidez num navio que batera no gelo e que afundava à vista de todos os ceguinhos do país (que por isso viam outras coisas e dançavam...). A imprensa económica anunciava a operação de tomada de posição qualificada no BES por parte de dois fundos abutre (um deles, a Goldman Sachs) no mesmo dia em que estes mesmos especuladores já vendiam as ações que entretanto 'valorizavam' na lógica do sobe-e-desce do Casino do PSI20. Pretender que o governo poderia ter feito outra coisa, ou sequer agir autonomamente quando o país não passa de um protetorado da União Europeia, é atirar areia aos olhos de quem não vê ou não quer ver.
O inquérito ao colapso do GES/BES é uma farsa. Já agora quanto ganham os senhores deputados e as senhoras deputadas por esta farsa? Quanto vai custar mais um inquérito inútil aos contribuintes? Onde estão os tribunais? Onde está a Polícia?!
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