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quarta-feira, junho 22, 2011

Privatizem a TAP e a SATA, já!

TAP falida encomenda aeroportos em vez de aviões!
Entretanto, a aviação comercial recupera e recebe mais encomendas do que pode satisfazer



Assim que inaugurar a estação de Metro da Portela, o aeroporto de Lisboa será uma das mais competitivas interfaces de mobilidade do mundo. Poucos aeroportos baterão a Portela em matéria de pontualidade, acessibilidade, rapidez e conforto (mas convém, apesar das boas notícias, libertar a ANA da sua actual tacanhez partidária).

Quanto à mentira da saturação do aeroporto de Lisboa (1), basta consultar as tabelas de Slots para verificar que apenas entre as 7 e as 8 da manhã os Slots se encontram, em alguns dias e épocas do ano, ocupados a 100%. O interesse da Ryanair e da easyJet pela Portela é outro sinal claro de que o argumento fabricado pela malta perigosa do NAL —novo aeroporto da Ota em Alcochete, também conhecido por Novo Aeroporto de Lisboa— é um descarado embuste. Para as Low Cost que têm vindo a comer o bolo dos lucros do transporte aéreo de e para o nosso país, no cocuruto pelado do gaúcho que dirige a TAP, este é um excelente aeroporto e deverá sê-lo durante os próximos 20 anos, pelo menos. Depois desta data duvido que o petróleo permita a euforia do transporte aéreo dos últimos 30 anos.

Como se os Slots na Portela não estivessem às moscas, antes e depois das horas sétima e oitava da manhã, a União Europeia prepara-se para atacar as obstruções e negociatas duvidosas com os tempos disponíveis de descolagem/aterragem nos aeroportos europeus. Sabe-se que, no caso da TAP, uma das causas da sua ruína foi ter andado a segurar Slots à custa do contribuinte — um exemplo claro de companhia pública falida alimentada a pão de Ló!

EC study: Slot review could result in more than €5 billion in benefits by 2025. ATW (1-6-2011)

“According to the authors, there are problems with slot coordination (e.g., some aspects of how coordinators are structured could be interpreted to limit the independence of the coordinator), slot “misuse and abuse,” and slot allocation (e.g., at some congested airports administrative mechanism has led to inefficient allocation “as scarce capacity is used for flights with small aircraft” and secondary trading is not transparent, particularly at non-London airports).

[...] The study also concludes that allowing the introduction of market-based mechanisms would help to ensure that slots can be “used by those carriers able to make the best use of them,” the EC said in a statement.”

Finalmente, a Portela tem ainda algo a fazer para expandir a sua capacidade operacional!

Por um lado, o taxiway da Portela precisa de um prolongamento para evitar cruzamentos de pista (valor estimado da obra: 50 milhões de euros); e por outro, o incremento de corredores aéreos de aproximação às pistas pode ser conseguido de um dia para o outro, terminando a farsa do chamado "aeroporto militar de Figo Maduro" e encerrando o já inútil aeródromo militar de Sintra (a guerra colonial acabou há trinta e sete anos!)

Nos primeiros seis meses deste novo governo é preciso atacar com frieza analítica e coragem política as posições irracionais ocupadas pelos lóbis corporativos — sejam estes civis, ou militares!

Sobre este tema recebi esta manhã um comentário agudo e mordaz da Blogosfera anónima, que reproduzo:
    “...a easyJet tem bem claro aquilo que sempre se disse e defendeu: a Portela é um aeroporto ideal para as Low Cost, ou seja, chega-se à conclusão de que a Portela apenas não serve para a TAP. Tirem pois a TAP do Terminal 2 e deixem o mercado funcionar. Por certo que a Ryanair irá abrir por cá uma base, onde como se espera lá irá provocar a erosão nos tráfegos da TAP. Mas afinal não há qualquer problema nestas perdas de tráfego, pois a TAP desde que aqui se escreve negoceia em aeroportos.”

Entretanto o mundo não pára, e a aviação comercial recupera!

O novo Airbus A320 NEO já só aceita encomendas para depois de 2016. O grande apetite por este avião decorre da sua extraordinária eficiência energética — a prioridade económica que já entrou nas cabeças dos executivos mais atentos e que têm mais a ganhar ou perder.

A privatização da TAP e da SATA devem avançar quanto antes!

Creio que chegou o momento de colocar a TAP nas mãos de um grande grupo aeronáutico. Por mim, aposto na Lufthansa e em ligações fortes ao Brasil e Angola, para começar. O Atlântico norte já está nas mãos da nova aliança entre a Ibéria, British Airways e American Airlines. O Atlântico sul deverá ficar noutras mãos... europeias, claro!

Airbus e Boeing aceleram em ambiente de retoma
Por Luís Pimenta/OJE (com agências); 21/06/11, 01:06

O sector da aviação civil voltou a descolar. No Salão Aeronáutico de Le Bourget, um dos mais importantes do calendário mundial, são esperadas encomendas recorde e propostas tecnológicas sem precedentes. Ironicamente, são os próprios fabricantes que poderão não conseguir dar resposta...

A velocidade sente-se em praticamente todos os segmentos de mercado: nos "narrow-body" (Boeing 737, Airbus A320), nos "wide-body" de longo curso (A350, B 787) e nos aparelhos de grande porte e alcance (A380, B747-8). Com novos modelos e um esforço pelo aumento da capacidade de produção, os fabricantes tentam dar resposta ao previsível crescimento de encomendas, fruto da descolagem que se começa a sentir na economia global e, acima de tudo, dos voos cada vez mais altos dos países emergentes.

[...] Os especialistas do mercado consideram que esta retoma volta a colocar em foco os "narrow-body" (A320/ B737): "As encomendas para as famílias A320 e B737 encontram-se em níveis recorde", refere Paul Sheridan, da empresa de consultoria aeronáutica Ascend.

“Os dois fabricantes contam com mais de 4300 encomendas destes populares modelos, contra as cerca de 1200 registadas no final de 2002", sublinhou o mesmo responsável, considerando que, "ao ritmo actual de produção, será praticamente impossível encomendar um destes aparelhos para entrega antes de 2016”.

NOTAS
  1. A capacidade da Portela é de 21 a 23 milhões de passageiros/ano, e 40 movimentos/hora (descolagens+aterragens). Em 2010 a Portela movimentou 14.108.955 passageiros. Fora das duas únicas horas de ponta do dia, o aeroporto da Portela mais parece um aeródromo de província. É o lá vem um! Para verificarmos esta realidade à lupa basta consultar o serviço da ANA, Online Coordination System. Passos da navegação no sítio online: “Runway Availability” -> Week -> “Country”: Portugal -> “Airport”: LIS -> “Week containing”: 20JUN (ou outra data qualquer) Compare a disponibilidade de Slots da Portela com, por exemplo, London-Heathrow (LHR).

quinta-feira, junho 16, 2011

BCP fora do PSI20?

O efeito dominó da bolha soberana parece imparável

Carlos Santos Pereira, CEO do BCP. Foto©Arlindo Pereira-JN (alt.)

As acções do BCP abriram esta manhã nos 0,402€, preço médio das cápsula Nespresso!

Até 5 de Junho (presumo), o BCP era sistematicamente ajudado pela CGD, que lhe comprava acções sempre que estas se aproximavam dos 0,50€. Depois da vitória de Passos Coelho, e face à bancarrota da Grécia (a que o BCP está temerariamente exposto!), a Caixa parou as compras de socorro. Assim sendo, o BCP poderá ter que abandonar o PSI20 entre hoje e amanhã... sugerem algumas vozes atentas da Blogosfera.

Entretanto, outras notícias reveladoras da crise sistémica em curso desde 2007, e do seu impacto em Portugal:

Como se percebe bem, estamos assistindo ao colapso, puro e simples, do Capitalismo Corporativo Lusitano.

A Europa (FEEF) pede emprestado a 3,49%, empresta a Portugal a 5,64%, e este, se preferir pedir emprestado directamente aos mercados de dívida soberana (a 10 anos) terá que pagar 10,79%. Esta bolha vai, porém, rebentar em breve: Dezembro 2011, Primavera 2012? Só em 2013? Ninguém sabe. Pode ser já em Agosto!

“O crude deverá manter-se, em média, em torno dos 103 dólares por barril nos próximos cinco anos. As previsões são da Agência Internacional da Energia (AIE), que hoje divulgou o seu relatório para o petróleo e o gás, com perspectivas até 2016” — Jornal de Negócios.

Isto vai levar ao fundo a TAP, mas também as Estradas de Portugal, obrigando a parar imediatamente todas as PPP rodoviárias em curso e/ou agendadas. Passos Coelho, coragem!

“As concessões da Costa da Prata, Grande Porto e Norte Litoral, que passaram a ter portagens a 15 de Outubro de 2010, registaram uma redução percentual do tráfego médio diário no quarto trimestre do ano passado de 40%, 37% e 21%, respectivamente, face ao mesmo período do ano anterior, revela o relatório de tráfego de 2010 do Instituto de Infra-estruturas Rodoviárias (InIR)” — Jornal de Negócios

Idem para o tráfego na Ponte 25A. Logo, há que suspender imediatamente todas PPP rodoviárias (invocando o INTERESSE NACIONAL!), as imbecilidades aeroportuárias de Alcochete, e o sonho húmido da TTT Chelas-Barreiro. Os iluminados consultores e advogados prestáveis que temos que comecem a escrever outro guião!

Duplicação do fundo de resgate europeu?
“O membro do BCE diz que um segundo pacote de ajuda à Grécia poderá contagiar Portugal e a Irlanda, que poderão precisar também de mais dinheiro. É por isso necessário que o MEE passe de 750 mil milhões para 1,5 biliões de euros.

O Mecanismo Europeu de Estabilidade (MEE), que em 2013 vai substituir um dos dois instrumentos de financiamento da UE – o Fundo Europeu de Estabilização Financeira (FEEF) – deverá duplicar a sua linha de crédito para 1,5 biliões de euros se os políticos quiserem que os investidores do sector privado participem num segundo resgate à Grécia, defende Nout Wellink, membro do conselho de governadores do Banco Central Europeu (BCE).” — Jornal de Negócios.
Se a Europa enveredar pelo Quantitative Easing (o célebre grito de Jorge Sampaio: "Há mais vida para além do défice!"), teremos estagflação ou mesmo hiperinflação à vista — ou seja, a desintegração certa da União Europeia!

quarta-feira, junho 15, 2011

A crise das democracias: Grécia, Espanha e Portugal

Em 1976 o marxista grego Nicos Poulantzas, escreveu A Crise das Ditaduras: Portugal, Grécia e Espanha. Hoje, se fosse vivo, teria que escrever A Crise das Democracias: Grécia, Espanha e Portugal.


LIVE STREAMING: Η Αγανάκτηση των Ελλήνων por News247

China’s central bank used its annual financial stability report to sound one of its starkest warnings yet about Europe’s debt mire, saying a series of rescue measures had helped stabilise the situation but not tackled the root causes.

The report stated: "There is a possibility that the sovereign debt crisis will spread and deteriorate." Read more: Irish Examiner (15-06-2011)

O impasse na reunião de emergência entre os ministros das finanças da zona euro, atirando para o princípio de Julho a tomada de decisão sobre a reestruturação da dívida grega, poderá conduzir este país a uma nova revolução, só que desta vez, contra a democracia degenerada e falida a que os partidos locais conduziram o regime saído da queda ditadura militar há mais de trinta e cinco anos.

Tal como em 1974-1976, poderemos voltar a assistir ao efeito Dominó que Nicos Poulantzas então analisou na perspectiva dos colapsos das mais duradouras ditaduras europeias do pós-guerra —Portugal, Grécia e Espanha. O plano de austeridade imposto pelos credores ao parlamento ateniense (onde hoje parece ter-se instalado o Campus da próxima revolução), e sem o qual não haverá mais empréstimos externos, implica o despedimento imediato de 140 mil funcionários públicos e/ou equiparados, e o corte de milhares de subvenções de que hoje vivem dezenas ou centenas de milhar de gregos. O horizonte imediato não poderia ser mais sombrio —ver este gráfico do Índice de Miséria grego.

O BCE de Jean-Claude Trichet não quer que os ricos paguem a crise (na linguagem da Esquerda), ou seja, opõe-se a que os credores privados levem uma tesourada nos juros (o já famoso haircut) a que acham ter direito integralmente — como se não houvesse uma crise financeira que ameaça destruir o euro, e uma crise social e política que pode resvalar de forma incontrolável para um dominó de revoluções populistas por toda a Europa, ou como se o negócio das dívidas soberanas não tivesse evoluído, como todas as bolhas especulativas deste Capitalismo tardio e sem futuro à vista, para taxas de juro e dividendos esperados na zona perigosa da pura agiotagem financeira! Tudo isto é verdade e sério, mas o BCE tem razão em dois pontos:
  1. se os credores da dívida soberana grega forem forçados a um desconto nos juros esperados, na ordem dos 25-30%, trocando os títulos actuais por novos títulos, com juros mais baixos e/ou prazos de maturidade mais alargados, os governos e os partidos populistas, imprudentes e irresponsáveis, mais os insaciáveis devoradores de poupança privada (pela via do saque fiscal) e do endividamento público, tomarão a generosidade por fraqueza e assumirão que o crime compensa — ou seja, quando as novas maturidades caírem, terão levado de vez a Grécia, e os países que seguirem a mesma receita demagógica, ao fundo;
  2. se houver, por parte dos credores, uma partilha solidária da despesa do endividamento orgiástico das democracias populistas que hoje abundam por essa  Europa fora, o BCE, que recebeu resmas e resmas de papel soberano como garantia das centenas de milhar de milhões de euros que já emprestou aos bancos privados (a 1%) para comprarem dívida europeia (com rendimentos esperados no mercado secundário que já atingiram, nalguns casos, os 28%!), ficará com um enorme vazio nos seus cofres, e verá a sua notação financeira cair a pique! Alguém já pensou nas consequências que uma tal depreciação do BCE poderá ter na integridade do projecto europeu?
Vários governos europeus (Áustria, Alemanha, Holanda, Finlândia, Bélgica), pelo contrário, defendem que os credores sejam parte da solução e não uma parte mais do problema. Uma tesourada nos lucros esperados pelos especuladores da bolha soberana europeia, feita a tempo, com parcimónia, poderá evitar o pior, isto é, poderá impedir o rebentamento descontrolado da bolha soberana grega, à qual se seguirá, se efectivamente explodir este mês ou em Julho, um dominó de explosões descontroladas, em Espanha, Portugal, etc. Seria preferível que este tipo de explosões muito perigosas, a terem que ocorrer, começassem nos EUA, ou no Reino Unido, e não em Atenas! Mas será realista um tal cenário, ou vamos mesmo assistir a uma matança de porcos no Sul da Europa antes da época própria?

A Reserva Federal americana canalizou 600 mil milhões de dólares para bancos europeus, canadianos e japoneses, sendo que a maior fatia foi mesmo parar à Europa!

And one wonders why suddenly German banks are so willing to take haircuts on Greek bonds: it is simply because courtesy of their US based branches which have been getting the bulk of the Fed's dollars in 1 and 0 format, they suddenly find themselves willing and ready to face the mark to market on Greek debt from par to 50 cents on the dollar. And not only Greek, but all other PIIGS, which will inevitably happen once Greece goes bankrupt, either volutnarily or otherwise. In fact, the $600 billion in cash that was repatriated to Europe will mean that European banks likely are fully covered to face the capitalization shortfall that will occur once Portugal, Ireland, Greece, Spain and possibly Italy are forced to face the inevitable Event of Default that will see their bonds marked down anywhere between 20% and 60% — in Zero Hedge.

A hipótese da tesourada ganha pois força entre os bancos recentemente confortados pelo afluxo de liquidez virtual oriundo das suas sucursais americanas —BNP Paribas, Barclays, Credit Suisse, Deutsche Bank, HSBC, UBS. Estes gigantes financeiros, e o seus aliados, esperam apenas o momento oportuno para desencadear um voo de rapina e de concentração financeira sem precedentes na zona euro; ainda por cima, com o apoio de um número crescente de governos e partidos de esquerda. Trata-se, afinal, de levar os ricos a pagar, pelo menos, uma parte da crise, em nome de um estado de bem estar social atolado de dívidas, maus hábitos e contradições irresolúveis. No entanto, uma coisa é certa: se esta opção vingar, as grandes empresas e bancos portugueses cairão paulatinamente na rede de unificação económico-financeira europeia acabada de montar.

A posição mais suave e contemporizadora do futuro director do BCE, Mario Draghi, fará provavelmente caminho, ainda que um caminho tendencialmente favorável à teoria da tesourada, por contraposição à teoria da dívida odiosa, que começa a ganhar cada vez mais adeptos!

Por agora, ninguém sabe exactamente onde a revolução grega irá parar...

O governo supostamente socialista está praticamente demissionário e suplica uma coligação com a Direita parlamentar (ler notícia no Público). Em Portugal, o Partido Socialista lusitano terá mesmo que acelerar o passo na substituição da ainda vigente, mas completamente inútil e execrável, direcção socratina — pois a actual coligação de centro-direita poderá não ser suficiente para as encomendas. O perigo de uma restauração anti-democrática pode espreitar ao virar da esquina... antes mesmo de o frio propício à matança do porco chegar.

É cada vez mais difícil ler as folhas de chá. Mas tentarei fazê-lo nos dias e meses cada vez mais difíceis que se aproximam.

terça-feira, junho 14, 2011

Depois de Trichet

Vem aí um novo BCE!
Draghi, o italiano mais germânico que a Alemanha poderia esperar

Mario Draghi, o novo boss do BCE
Divergências entre o BCE e a UE agravam a crise da dívida
14.06.2011 - 07:32 Por Rosa Soares. Público.

Há um novo factor de pressão na crise da dívida soberana que afecta os países periféricos: a divergência de posições entre o Banco Central Europeu (BCE) e alguns Estados-membros da União Europeia (UE) em relação ao envolvimento dos credores privados no novo pacote de ajuda à Grécia.

Já tínhamos anunciado este ataque sem precedentes ao BCE.

Nos últimos sete meses 600 mil milhões de dólares voaram do FED para bancos europeus, canadianos e japoneses. O grosso da massa foi parar a estes bancos europeus: BNP Paribas, Barclays*, Credit Suisse, Deutsche Bank*, HSBC*, UBS. ‎Os que têm asterisco são os que vão tomar conta da emissão de 5mM€ que em breve virão acudir Portugal.

Acontece que o BCE está atulhado de papel soberano recebido em garantia de empréstimos concedidos a bancos privados para que estes comprassem dívida pública em copiosos montantes. Com a já inevitável reestruturação das dívidas soberanas da Grécia, Portugal, Irlanda, Espanha, etc., o valor do papel soberano cairá a pique (alguns crêem que pode desvalorizar entre 20 e 60%). Logo, os bancos privados e o BCE que entraram nestas negociatas vão ter prejuízos monumentais.

Há já quem fale de duas coisas: pré-falência/aquisição de algumas dezenas de bancos europeus (na realidade, há muito falidos), e um grande enfraquecimento do próprio BCE, ou a sua metamorfose assim que Mario Draghi comece a mandar neste super-banco.

É por causa desta iminente crise do BCE que todos os ministros das finanças do euro foram hoje despachados a grande velocidade para Bruxelas!

As minhas recomendações a quem me lê são as mesmas de há 5 anos a esta parte: livrar-se das dívidas e comprar ouro, prata e quintinhas produtivas, de preferência nas periferias das cidades com mais e 100 mil habitantes. Parece que os títulos de dívida pública alemã prometem também alguma rentabilidade estável. Mas para os grandes investidores (em Portugal vão deixar de existir) vem aí uma nova vaga industrial: ferrovia, portos, eficiência energética e energias pós-carbónicas.


POST SCRIPTUM

Nouriel Roubini defende PIGS fora do euro (Financial Times, 14-06-2011).

Na minha opinião, a razão está mais na resposta que Sony Kapoor deu ao artigo que entusiasmou o Expresso, do que nos fígados que Nouriel Roubini inspeccionou. No entanto, há outra via: uma quarentena dos PIGS fora do euro (durante 2 a 4 anos). Como? Deixo a geometria aos economistas com imaginação ;)

segunda-feira, junho 13, 2011

O amigo americano

600 mil milhões de dólares voaram, nos últimos sete meses, da Reserva Federal americana para 20 instituições estrangeiras. Entre os beneficiados estão seis bancos europeus: BNP Paribas, Barclays*, Credit Suisse, Deutsche Bank*, HSBC*, UBS. Bern Bernanke tem as orelhas a arder!

Bern Bernanke, presidente da Reserva Federal americana
O mínimo que se pode dizer é que o caos financeiro está instalado! Ou seja, o que parecia ser uma guerra da moeda americana contra o euro, pode afinal ser algo muito maior e potencialmente devastador: a elite financeira ocidental, com uma perna em cada margem do Atlântico, procura controlar os danos da especulação desenfreada que criou e alimentou a partir de meados da década de 1980 com a invenção e disseminação de produtos financeiros fraudulentos, no capítulo dos chamados derivados financeiros OTC (over-the-counter). Depara-se, por outro lado, com o colapso imparável da ainda principal moeda de reserva mundial —o dólar americano—, e com a necessidade de improvisar um Plano B (nem que seja o euro!) para o caso de a sentença da ONU se concretizar:

The value of the dollar has dropped to the lowest level in history vis-à-vis other major currencies. Further rising external indebtedness of the United States following a renewed widening of the twin deficits will keep downward pressure on the dollar, and the risk of a hard landing of the world’s main reserve currency will remain high.

[...]

The risk of exchange-rate instability and a hard landing of the dollar could be reduced by having a global payments and reserve system which is less dependent on one single national currency. One way in which the system could naturally evolve would be by becoming a fully multi-currency reserve system. The present system has already more than one reserve currency, but the other currencies remain a secondary feature in a system where most reserve assets by far are held in dollars and where most of the world’s trade and financial transactions are affected in the major reserve currency. The advantage of a multireserve currency arrangement is that it would provide countries with the benefit of diversifying their foreign-exchange reserve assets — in “World Economic Situation and Prospects 2010” (PDF).

As operações de empréstimos de emergência de curto prazo (discount window) lançadas pela Reserva Federal em 2008-2009, e mais recentemente, beneficiaram surpreendentemente várias e importantes instituições estrangeiras com sucursais na América. O documento da Reserva Federal recentemente desclassificado, Discount Window FOIA, é muito elucidativo da escala gigantesca do colapso financeiro da moeda americana.

Exclusive: The Fed's $600 Billion Stealth Bailout Of Foreign Banks Continues At The Expense Of The Domestic Economy, Or Explaining Where All The QE2 Money Went

In summary, instead of doing everything in its power to stimulate reserve, and thus cash, accumulation at domestic (US) banks which would in turn encourage lending to US borrowers, the Fed has been conducting yet another stealthy foreign bank rescue operation, which rerouted $600 billion in capital from potential borrowers to insolvent foreign financial institutions in the past 7 months. QE2 was nothing more (or less) than another European bank rescue operation!

...

In fact, the $600 billion in cash that was repatriated to Europe will mean that European banks likely are fully covered to face the capitalization shortfall that will occur once Portugal, Ireland, Greece, Spain and possibly Italy are forced to face the inevitable Event of Default that will see their bonds marked down anywhere between 20% and 60%. Of course, this will also expose the ECB as an insolvent central bank, but that largely explains why Germany has been so willing to allow Mario Draghi to take the helm at an institution that will soon be left insolvent, and also explains the recent shocking animosity between Angela Merkel and Jean Claude Trichet: the German are preparing for the end of the ECB, and thanks to Ben Bernanke they are certainly capitalized well enough to handle the end of Europe's lender of first and last resort — in Tyler Durden on 06/12/2011, Zero Hedge.

A exposição temerária do sistema financeiro europeu às tropelias de Wall Street foi e é enorme, pelo que não será uma surpresa assim tão grande constatar que parte do guichet dos aflitos tivesse também servido os bancos europeus, japoneses e canadianos com assento nas praças americanas, e que parte do dinheiro virtual da Reserva Federal tivesse voado a velocidade electrónica, de Nova Iorque para Bruxelas, Paris, Londres ou Zurique. Mais intrigante, ou talvez não, é que a liquidez fictícia da Reserva Federal continue a voar para todo o lado, estando já em preparação um novo programa de Quantitative Easing — o QE3.

Para a Grécia, Portugal, Espanha, Itália, Bélgica, Irlanda, estas podem ser, no entanto, más notícias, na medida em que a oligarquia financeira europeia pode estar a preparar-se para um movimento de concentração industrial e financeira sem precedentes, precisamente através da famosa reestruturação das dívidas soberanas — que, entre nós, as ortodoxias decadentes da esquerda estalinista e trotskista vêm reclamando alegremente. Louçã pode estar a ponto de ver realizado o sonho de derrotar Ricardo Salgado. Não deixa de ser irónica esta vitória de Pirro.

A doença da moeda americana parece ser fatal. Como em todas as doenças terminais nunca podemos prever com exactidão o dia e hora do falecimento da criatura atormentada pela morte que se aproxima. Mas que o destino do moribundo dólar parece estar traçado, parece. Aos mais curiosos recomendo esta exposição de hora e meia sobre a doença genética da nota verde.


Economic Federalism - Dr. Edwin Vieira. Ph.D, J.D. from StandUpForLiberty on Vimeo.

(*) — Estes são os bancos que vão gerir a emissão de obrigações do Fundo Europeu de Estabilização Financeira (FEEF), no valor de 5mM€, destinadas a angariar fundos de apoio ao resgate da dívida soberana portuguesa (Jornal de Negócios).

domingo, junho 12, 2011

Euro contra-ataca?

Presidente do Eurogrupo aponta baterias às dívidas americana e japonesa. Não percebe, diz, porque está o epicentro da crise na Eurolândia. Vamos ter um Verão quente!



Juncker: Greece Needs 'Soft' Debt Restructuring

BERLIN—Highly indebted Greece needs a “soft, voluntary restructuring” of its debt, said Jean-Claude Juncker, the head of the group of countries using the euro as a common currency, in a radio interview Saturday.

(...) “The debt level of the USA is disastrous,” Mr. Juncker said. “The real problem is that no one can explain well why the euro zone is in the epicenter of a global financial challenge at a moment, at which the fundamental indicators of the euro zone are substantially better than those of the U.S. or Japanese economy.” -- Wall Street Journal.

Tendo presente os números do FMI referentes a 2010, percebe-se melhor a declaração de Jean-Claude Juncker:

Dívida Pública em % do PIB (Wikipedia):
  • Japão: 225,8
  • Grécia: 130,2
  • Itália: 118,4
  • Bélgica: 100,2
  • Irlanda: 93,6
  • EUA: 92,7
  • Reino Unido: 76,7
  • França: 84,2
  • Portugal: 83,1*
  • Alemanha: 74,3
Dívida Externa em % do PIB (Wikipedia):
  • Irlanda: 1224
  • Reino Unido: 398
  • Portugal: 201 
  • Grécia 165
  • Eurozona: 120
  • EUA: 97
  • Mundo: 95
  • União Europeia: 83
  • Japão: 51
Balança de Transacções correntes, posição relativa (Wikipedia)
  • China: 1º (+)
  • Japão: 2º (+)
  • Alemanha: 3º (+)
  • Noruega: 5º (+)
  • União Europeia: 14º (+)
  • Irlanda: 167º (-)
  • Grécia: 180º (-)
  • Portugal: 181º (-)
  • Reino Unido: 186º (-)
  • França: 188º (-)
  • Itália: 189º (-)
  • Espanha: 190º (-)
  • EUA: 191º (-)

Ou seja: da guerra em curso ente o dólar e o euro apenas pode resultar um desastre maior. O modelo económico tem que mudar. E com ele o modelo financeiro especulativo dominante.

PS: a reestruturação da dívida grega vai ter consequências imediatas no BCP, o banco português mais exposto à dívida soberana daquele país. Sem capacidade para reforçar os capitais próprios, terá em breve que recorrer ao fundo de resgate de 16mM€ previsto no Plano da Troika. Esperam-se tempos difíceis neste banco.

(*) Estes números foram recentemente revistos em alta, depois de Bruxelas incluir no perímetro orçamental as dívidas que andavam escondidas nas empresas públicas e em entidades privadas de capitais 100% públicos! Segundo o Expresso: “Bruxelas estima que a dívida pública portuguesa aumente de 93 por cento do PIB em 2010 para 101,7 em 2011 e 107,4 em 2012.”

terça-feira, junho 07, 2011

Não pagamos?

Estamos no meio duma guerra financeira!
Precisamos de um sistema de forças, de definir correctamente os objectivos, de liderança, de estratégia e de aliados.

Manif. Grécia, 11 de maio, 2011

Como sair da armadilha do endividamento especulativo e da economia virtual para onde fomos arrastados ao longo das últimas duas décadas? Como impor aos credores, sobretudo aos que especularam e especulam com os mercados da dívida, uma repartição equitativa dos prejuízos?

“A UE substituiu os Estados nacionais pela planificação dos banqueiros e, por essa via, a política democrática foi substituída pela oligarquia financeira.” — inWill Greece Let EU Central Bankers Destroy Democracy? A World at Financial War” (6 de Junho de 2011), por Michael Hudson.

De leitura obrigatória, este artigo de Michael Hudson permite-nos uma reflexão mais equilibrada (ainda que deixando de fora as causa estruturais da presente crise financeira ocidental) sobre os desafios dramáticos que temos pela frente: onde estaremos depois de gastar os 78mM€ obtidos pela Troika nos mercados a que já não conseguimos aceder salvo pagando juros suicidas? O dinheiro que vai chegando, com exigências crescentes, serve para pagar facturas atrasadas aos principais credores (Espanha, Alemanha, França e Reino Unido), mas também muitas facturas recentes, provavelmente indevidas, por resultarem do ataque desencadeado pela especulação financeira contra as dívidas soberanas da periferia europeia.

Qual será o preço final do dinheiro fresco que chega, para logo sair em direcção aos credores? Pode ou não acontecer que, depois de os investidores e especuladores recuperaram o seu dinheiro, mais os juros agiotas que conseguiram impor com o auxílio do pelotão de sabotadores das agências de notação, ameaçando expropriar literalmente os nossos melhores activos, a Troika acabe por confessar que o país é insolvente e que por esta razão deverá sair do euro, ou submeter-se a uma governação directa do exterior?

Temos que discutir estas dramáticas perguntas, sem cair na tentação do pensamento linear e completamente inútil dos partidos que, apesar de pagos pelos contribuintes, se recusam a negociar com o inimigo. Na Grécia, actualmente governada por socialistas à beira de serem acusados de traição, é a direita que tem vindo a colocar as questões patrióticas que naturalmente se impõem.

Há uma guerra financeira em curso, como estou farto de sublinhar. Temos que identificar claramente o que está em causa, os teatros de operações, os adversários e os objectivos. E depois, como é óbvio, teremos que defender a integridade do nosso território, como parte indispensável do próprio processo de integração europeia. A União Europeia não pode ser trocada, sob a ameaça terrorista dos mercados especulativos, por uma espécie de feudalismo financeiro e tecnológico, como bem refere Michael Hudson. Regras, coerência e supervisão europeias, sim. Nem sequer contesto, antes pelo contrário, um governo europeu com poderes acrescidos sobre os vários estados-membros da União. Mas não podemos confundir esta trajectória em direcção a uma futura, efectiva e eficiente soberania europeia, com a submissão dos burocratas europeus ao poder cego do dinheiro. Se os dirigentes europeus pensam que podem vender a União a retalho, ou pior ainda, destruí-la em nome de um qualquer imperialismo franco-alemão de trazer por casa, preparem-se para um novo pesadelo! Sem racionalidade económica assente numa visão estratégica efectivamente europeia e solidária, a Europa caminhará inexoravelmente para uma nova guerra civil. É isso que querem os especuladores e os burocratas de Bruxelas, Paris e Frankfurt?

A condição necessária para que arranque o novo pacote “reformado” de empréstimos é que a Grécia entre numa guerra de classes aumentando os seus impostos e rebaixando os gastos sociais – incluindo as pensões do setor privado – e liquide e ponha em leilão terrenos públicos, enclaves turísticos, ilhas, portos, água e sistemas de esgoto. Isto aumentará o custo de vida e o custo de fazer negócios, atingindo a já limitada competitividade das exportações do país.

[...] E no que diz respeito às próprias classes ricas gregas, o pacote de empréstimos da União Europeia conseguiria manter o país na eurozona o tempo suficiente para que retirassem o seu dinheiro do país, antes de chegar o momento em que a Grécia seja forçada a abandonar o euro, regressando a um dracma rapidamente desvalorizado. Enquanto não chegar o momento deste regresso a uma moeda própria em queda, a Grécia terá que seguir a política báltica e irlandesa de “desvalorização interna”, isto é: de deflação salarial e corte de gastos públicos – exceto para pagar o setor financeiro – a fim de diminuir o emprego e, assim, os níveis salariais.

O que realmente se desvaloriza nos programas de austeridade ou de desvalorização monetária é o preço do trabalho. Ou seja, o principal custo interno, já que há um preço mundial comum para combustíveis e minerais, bens de consumo, alimentos e até crédito. Se os salários não puderem ser reduzidos pela via da desvalorização interna (com um desemprego que, começando pelo setor público, induza quedas salariais), a desvalorização da moeda acabará por fazer o trabalho que resta até o fim.

É assim que a guerra dos países credores contra os países devedores na Europa se torna uma guerra de classes. Mas para se impor tamanha reforma neoliberal, é preciso que a pressão externa passe ao lado dos parlamentos nacionais democraticamente eleitos. Pois não é de se esperar que os eleitores de todos os países se mostrem tão passivos como os da Letónia e da Irlanda quando se age manifestamente contra os seus interesses.

[...] As finanças são uma forma de guerra. Como na conquista militar, o seu objetivo é garantir o controle do território e das infraestruturas públicas, e impor tributos. Isso envolve ditar leis aos seus súditos e concretizar a planificação social e económica de forma centralizada. Isto é o que se está fazendo agora com meios financeiros, sem o custo, para o agressor, de ter que colocar um exército no campo de batalha. Mas as economias sob ataque podem terminar tão profundamente devastadas pelos rigores financeiros quanto seriam por investidas militares, provocando a contração demográfica, o encurtamento da esperança média de vida, emigração e fuga de capitais.

in “Golpe de estado financeiro ameaça democracia europeia”, Carta Maior.

segunda-feira, junho 06, 2011

Reservas de ouro ameaçadas

União Europeia abre portas ao assalto às reservas de ouro!



Elisa Ferreira (PS) e Nuno Melo (CDS), membros efectivos da comissão do Parlamento Europeu ECON (Economic and Monetary Affairs), votaram no passado dia 24 de Maio um relatório, aprovado por unanimidade, a favor do uso das reservas de ouro dos países europeus como colateral do endividamento soberano. Este relatório será levado ao Parlamento Europeu no próximo dia 30 de Junho para discussão e aprovação.

Apesar da opacidade do sítio do Parlamento Europeu nesta matéria, a verdade é que a informação chegou ao World Gold Council, e está a ser objecto de comentários muito ácidos por parte de alguma imprensa económica especialmente atenta e independente. Por aqui, o António Maria gostaria de conhecer o que têm a dizer os deputados portugueses citados e que aparentemente terão votado este “compromisso”.

Perguntamos também ao Governador do Banco de Portugal, Carlos Costa, o que pensa sobre a possível alienação do ouro português, acumulado em boa medida por Salazar, na fogueira imparável dos Derivados Financeiros — um buraco negro, entre 10 a 12x o PIB mundial, que ameaça estagnar o planeta num inferno de deflação e inflação sucessivas ao longo desta década.

The Economic and Monetary Affairs Committee of the European Parliament has approved gold to be used as collateral confirming its status as a high-quality liquid asset

Yesterday’s unanimous agreement by the European Parliament’s Committee on Economic and Monetary Affairs (ECON) to allow central counterparties to accept gold as collateral, under the European Market Infrastructure Regulation (EMIR), is further recognition of gold’s growing relevance as a high quality liquid asset. This vote reinforces market demand for a greater choice of assets that can be used as collateral to meet margin liabilities. World Gold Council, 25.05.2011 (PDF).

The European Gold Confiscation Scheme Unfolds: European Parliament Approves Use Of Gold As Collateral

Wonder why Europe is pressing so hard for Greece (and soon the other PIIGS) to collateralize its pre-petition loans on a Debtor in Possession basis? Here is your answer: "Yesterday’s unanimous agreement by the European Parliament’s Committee on Economic and Monetary Affairs (ECON) to allow central counterparties to accept gold as collateral, under the European Market Infrastructure Regulation (EMIR), is further recognition of gold’s growing relevance as a high quality liquid asset. This vote reinforces market demand for a greater choice of assets that can be used as collateral to meet margin liabilities." Luckily for Greece, it has 111.5 tons of gold in storage (somewhere at the New York Fed most likely). Looking down the road, Portugal has 382.5 tons, Spain 281.6, and Italy leads the pack with 2,451.8 tons. Zero Hedge.

Aparentemente confidencial:

Compromise on Article 43
Collateral requirements


1.           A CCP [Central Counterparty Clearing House] shall accept highly liquid collateral, such as cash, gold, government and high quality corporate bonds, with minimal credit and market risk to cover its initial and ongoing exposure to its clearing members. For non-financial counterparties, CCPs may accept bank guarantees taking into account such guarantees in exposure to a bank that is a clearing member. It shall apply adequate haircuts to asset values that reflect the potential for their value to decline over the interval between their last revaluation and the time by which they can reasonably be assumed to be liquidated. It shall take into account the liquidity risk following the default of a market participant and the concentration risk on certain assets that may result in establishing the acceptable collateral and the relevant haircuts. These minimum standards shall be calibrated in accordance with the risk level and shall be regularly revised to reflect market conditions and in particular in response to emergency situations where it is concluded that doing so will mitigate systemic risk. [GREENs]. (AM 111 - Langen, AM 850 - Luvigsson, AM 851 - Swinburne, AM 852 - Balz, AM 853 - Schmidt).

2.           A CCP may accept, where appropriate and sufficiently prudent the underlying of the derivative contract or the financial instrument that originate the CCP exposure as collateral to cover its margin requirements.

3.           In order to ensure consistent harmonisation of this Article, ESMA, in consultation with ESRB and EBA, shall develop draft regulatory technical standards specifying the type of collateral that can be considered highly liquid and the haircuts referred to in paragraph 1. ESMA, in consultation with the ESCB and EBA, shall submit drafts on those regulatory technical standards to the Commission by 30 June 2012. (AM 860 - Langen).

              Power is delegated to the Commission to adopt the regulatory technical standards referred to in the first subparagraph in accordance with Articles 10 to 14 of Regulation …/… [ESMA Regulation]. (AM 861 - Langen)

sexta-feira, junho 03, 2011

The Day After

Sócrates propõe aumento do Rendimento Mínimo Garantido

Um mentiroso sem emenda
Como já aqui vimos, uma das principais consequências da prolongada crise nacional relaciona-se com o extraordinário retorno em força da emigração portuguesa. E se ainda podíamos ter algumas dúvidas se esta vaga emigratória era realmente signficativa ou não, essas mesmas dúvidas começam a dissipar-se com os resultados preliminares do Censo da População, que mostram que as previsões do INE da população nacional poderão estar sobre-avaliadas entre 200 mil e 300 mil portugueses(as). Veremos se estas previsões se mantêm quando os dados definitivos estiverem disponíveis. — Álvaro Santos Pereira in Desmitos.

Se formos empurrados para uma quarentena fora do euro, curiosamente, as centenas de milhar de portugueses forçados a emigrar nos últimos dez anos serão justamente compensados por tal decisão, vendo aumentar instantaneamente o poder de investimento, crescimento e influência no país que os expulsou. Ora aqui está uma maneira de ver a saída de Portugal do euro, ainda que temporária, de uma forma positiva. Claro está que, à excepção das empresas exportadoras e da agricultura, que também beneficiarão, e muito, com esta expulsão do paraíso, o resto da economia, da burocracia, e as pessoas em geral verão as suas dívidas (a pagar em euros) disparar de um dia para o outro, sofrendo, se este colapso se der, uma catastrófica e instantânea perda do seu poder de compra. Este cenário é realmente aflitivo, mas não é totalmente inverosímil.

José Sócrates, tal como a Esquerda degenerada que simboliza —e que vai, de facto, do PS ao MRPP, passando obviamente pelo PCP e pelo saco de gatos bloquista—  defende um país que viva e consuma como se fosse rico e produtivo, mas que trabalhe e produza como qualquer país pobre e subdesenvolvido. A magia desta contradição insanável foi possível até 2010 graças ao afluxo das patacas europeias, à nossa entrada no euro e ao chamado deficit spending (ou seja, crescimento virtual através do endividamento). Acontece, porém, que um país não pode viver simultaneamente com uma moeda forte e uma economia fraca. Insistir nesta incongruência leva inexoravelmente ao sobre endividamento, e deu no nosso caso o resultado que se conhece: a Bancarrota de 2011. Só um primeiro-ministro alucinado pela sua própria ilusão narcisista poderia negar, com a lata que José Sócrates demonstrou, a tragédia anunciada a tempo e horas por dezenas de observadores independentes.

Ou muito me engano, ou 2011 marcará o início do declínio de uma certa Esquerda portuguesa, herdeira decadente de uma mitologia que apenas serviu, desde Marx, ainda que sob uma retórica populista permanente, o grande jogo do Capitalismo. A subida dos salários industriais e urbanos permitiram, numa primeira fase, esvaziar os campos e transformar paulatinamente a agricultura numa agro-indústria de base financeira intrinsecamente especulativa, colonizando depois, sucessivamente, os territórios do saber e as liberdades individuais na grande cidade. A alienação do trabalho, nomeadamente em nome da produtividade e do consumo foi, na realidade, um meticuloso processo de expropriação da autonomia laboral dos indivíduos, das suas artes, e das suas capacidades de agregação e protecção social solidária. Porém, este processo de desestruturação humana tinha e tem um limite, aliás bem identificado por Karl Marx: a lei da queda tendencial da taxa de lucro que conduz às guerras, ao colonialismo exacerbado, ao imperialismo e, por fim, ao colapso. Ora bem, o momento da decadência prevista acaba de chegar ao Ocidente.

O proletariado desapareceu, e em seu lugar ficaram telefonistas, professores, alunos, burocratas, elites palacianas e públicos culturais entregues à metafísica dos direitos adquiridos, do bem-estar e do consumo conspícuo. Enquanto a gordura colonial acumulada durou, os sindicatos e as Esquerdas foram mantendo posições. Vendidos os anéis coleccionados ao longo de séculos de exploração intensiva dos mundos que o Ocidente foi paulatinamente dominando desde o fim da Idade Média, um novo e tremendo desafio se levanta no horizonte: de que modo a nova divisão internacional do trabalho afectará a Europa, os Estados Unidos e o Canadá?

Como iremos empobrecer? De forma grácil e sustentável, redefinindo culturalmente a noção de felicidade e de bem-estar? Ou de forma convulsa e caótica? Conseguiremos livrar-nos das decadentes instâncias de poder que hoje atrofiam a nossa capacidade de reacção aos desafios? Conseguiremos despedir simultaneamente a libertinagem financeira, os cartéis e os sindicatos, em nome de uma nova instanciação do poder e de uma nova criatividade social ajustadas aos novos equilíbrios estratégicos globais que o mundo pós-colonial começa finalmente a desenhar e a impor aos antigos senhores do mundo?

Sem reconhecermos as origens e implicações profundas do capitalismo colonial que se desfaz diante de todos nós, seremos incapazes de compreender os comportamentos partidários que hoje marcam a decadência política do Ocidente, desde as fugas em frente dos piratas financeiros, à hipocrisia e populismo inacreditáveis dos herdeiros caricatos dos velhos partidos sociais-democratas e comunistas que, no seu tempo, pelo uso intensivo da teoria da luta de classes, desempenharam a importante função de válvula de segurança das sucessivas transições do capitalismo ao longo da revolução industrial e tecnológica possibilitada pelo novo paradigma energético decorrente da exploração intensiva do carvão mineral, do petróleo e do gás natural.

Portugal foi à bancarrota este ano, por causas que remetem para o fim do nosso próprio regime colonial, para o colapso das dívidas soberanas do Ocidente, mas também para a irresponsabilidade e corrupção das nossas elites económico-financeiras, profissionais e político-partidárias. José Sócrates é apenas a criatura desgraçada a quem foi dado o papel de protagonizar o epílogo desta farsa. Podemos ser tentados a sentar este boneco no banco dos réus, transformando-o no bode expiatório de uma catarse colectiva. Pão e circo? Recomendo uma saída mais produtiva: desviar as perguntas que todos lhe queremos fazer, para os próximos actores da cena política; e para nós próprios.

quarta-feira, junho 01, 2011

A miopia dos economistas

A avaliação leviana do declínio inexorável do petróleo barato é a principal causa dos erros grosseiros de governação portuguesa desde 1996



Para lá dos maniqueísmos de ocasião, convém ter presente que o colapso das economias ocidentais assenta em três factores corrosivos de ordem estrutural que, se nada for feito, conduzirão as economias afluentes de hoje, mais rapidamente do que previram M. King Hubbert (1956) e Donella Meadows (1972), ou mais recentemente, C. J. Campbell (1997), à rampa descendente da curva de Hubbert — a saber:

  • PRIMEIRO FACTOR: declínio inexorável da principal fonte energética das últimas revoluções industriais, da urbanização em massa e do bem-estar social, i.e. o petróleo (+ gás natural); 
  • SEGUNDO FACTOR: envelhecimento populacional e subsequente declínio demográfico das sociedades alimentadas a petróleo; 
  • TERCEIRO FACTOR: desaparecimento do trabalho, causado por duas consequências inevitáveis das economias liberais: tropismo dos centros produtivos em função do custo do trabalho humano e da proximidade das matérias primas; e substituição progressiva do trabalho humano, incluindo o altamente especializado, por máquinas cada vez mais inteligentes.

Vale a pena ler o último artigo de investigação de Rui Rodrigues (Público) sobre os impactos tremendos que a cegueira dos estrategas pode provocar numa economia, no caso a nossa.
Previsões sobre petróleo levaram a política de transportes errada

Nas próximas eleições, os partidos deveriam discutir e debater seriamente as 120 Parcerias Público Privadas num valor superior a 60 mil milhões de Euros, em que 41% deste valor será destinado à construção de novas auto-estradas e vias rápidas.

Neste artigo vamos recordar as conclusões de um documento governamental, publicado em Março de 1996, cujo título era “Energia 1995-2015. Estratégia para o Sector Energético” da Secretaria de Estado da Energia do Ministério da Indústria e assinado pelo então Secretário de Estado Luís Filipe Pereira. Este estudo pretendia, como se pode ler na página inicial, “apontar os grandes objectivos estratégicos, as políticas fundamentais e as medidas a desenvolver no período considerado”. No final da página V da Síntese é dito: “relativamente aos preços do petróleo, há razões plausíveis para admitir uma certa estabilização dos preços do petróleo no curto prazo e o seu aumento moderado num horizonte mais longínquo”. O que veio a verificar-se foi que, em 1995, o preço do crude era de 17 dólares. No ano de 1998 baixou para os 12 dólares e as previsões, no documento governamental publicado em 1996, eram, para o ano 2000, 23 dólares e de 2005 até 2015 o preço ficaria estabilizado nos 28 dólares!

O buraco de 20 mil milhões de euros das PPPs rodoviárias teve origem (descontando a pirataria) numa hipótese energética completamente irrealista: em 1996, o governo português estabeleceu um cenário de desenvolvimento baseado numa estimativa do preço do petróleo, entre 2005 e 2015, de 23 dólares o barril (PDF). O preço do petróleo bruto à hora que escrevo este texto oscila entre os 100,28USD (WTI) e os 114,61USD (Brent). O resultado é simples: com o actual preço do gasóleo, mais os 8 cêntimos/Km impostos pelas portagens das famosas autoestradas “Sem Custos para o Utilizador” (SCUT), a mobilidade automóvel custa 400% mais nos dias de hoje do que há 10 anos atrás, sem que os salários (salvo o dos administradores do regime) tenham subido ao mesmo ritmo — obviamente!

Em geral, os nossos políticos e burocratas, incluindo a maioria dos deputados e governantes, são uma espécie de novos-ricos para quem andar de comboio, metro ou eléctrico, é um desprestígio. Só os carros de alta cilindrada e o avião lhes dão aquele status que os faz sentir bem. Parece pueril, mas é o principal factor psicológico e cultural que concorre para a irresponsabilidade energética do nosso país.

A ideologia do automóvel e do avião esteve, por outro lado, intimamente associada às pressões dos fabricantes de automóveis e aviões, e às empresas de engenharia e betão armado, dentro e fora de portas. Só o colapso da bolha do endividamento, disfarçada durante duas décadas pelo biombo dos bancos de investimento e as falsas estatísticas, veio desnudar toda a irracionalidade que hoje aperta, como um garrote, a nossa economia, o sistema financeiro de uma ponta à outra, e a sustentabilidade do estado social.

A Mota-Engil e a Brisa, entre outras empresas, parecem ter acordado para o fim de ciclo do betão, e voltam-se finalmente para outras áreas: a ferrovia e os portos. Menos mal! Têm, no entanto, que compreender uma coisa simples: Portugal, para se ligar a Espanha e ao resto da Europa, terá que estabelecer rapidamente três corredores ferroviários —para transporte rápido de pessoas e mercadorias— em bitola europeia (UIC):
  1. Pinhal Novo-Poceirão-Caia; 
  2. Aveiro-Salamanca
  3. Porto-Vigo
Outro sector estratégico da mobilidade a médio e longo prazo abrange os transportes colectivos urbanos, suburbanos e interurbanos, sobre carris, para pessoas e mercadorias, igualmente em bitola europeia. O automóvel eléctrico é uma miragem, e a população portuguesa está a envelhecer rapidamente!

POST SCRIPTUM — O artigo de Rui Rodrigues acima citado deu origem a um debate vivo na Net. Reproduzo, pelo interesse objectivo que tem, a mais recente resposta do autor às críticas que lhe foram dirigidas.

A referência ao documento governamental, publicado em Março de 1996, cujo título era “Energia 1995-2015. Estratégia para o Sector Energético” teve como objectivo chamar a atenção [de] Portugal [para a necessidade de] mudar de política de transportes e [de] investir numa nova rede ferroviária de bitola europeia mista para mercadorias e passageiros, [para deste modo] resolver o grave problema de interoperabilidade ferroviária que o País apresenta.

Limitei-me a apresentar os factos, e pelos dados apresentados temos a certeza absoluta que o preço do Petróleo vai continuar a subir de preço. Mais uma razão para alterar a actual política de transportes e deixar de continuar a gastar dezenas de milhares de milhões de euros em novas auto-estradas.

Temos assistido frequentemente aos comentários de muitos economistas que são contra o troço Poceirão-Caia mas quase nada dizem sobre as novas auto-estradas, muito mais caras, e construídas em regiões onde nem sequer existe tráfego que as justifique. Ninguém consegue entender esta atitude, ainda por cima, quando invocam que o nosso País não tem dinheiro para investir numa nova rede ferroviária. As novas auto-estradas representam 41% dos 60 mil milhões de euros das 120 PPP.

As pessoas que são contra a nova rede ferroviária mista UIC (bitola europeia) nem sequer apresentam alternativas para reduzir os custos de transporte dos contentores de e para a UE. Chamo a atenção para o facto de 50% das nossas exportações serem efectuadas por camião TIR.
Lembro que, quando a Opel de Azambuja anunciou a sua saída de Portugal, para Saragoça, onde tinham outra fábrica, o Presidente da Opel afirmou que a saída daquela empresa tinha, como principal fundamento, os custos de logística. A empresa transferiu-se para Saragoça, onde paga salários duas vezes superiores aos de Azambuja.

A Opel de Azambuja representava, por ano, 0,6% do PIB.

A Auto-Europa também se queixa dos elevados custos de logística devidos ao transporte que tem que ser efectuado em camiões TIR desde a Alemanha até Portugal.

Portugal é um País periférico e para ter acesso aos maiores centros de consumo da Europa, a menores custos, terá que construir uma nova rede ferroviária com 3 linhas, 2 transversais e uma Norte-Sul:

Aveiro-Salamanca, que ligará os portos da Região Norte e o Porto à UE.

Pinhal-Novo-Badajoz, que ligará os portos de Setúbal e Sines e a Região de Lisboa à UE

Vigo-Porto-Lisboa-Sines-Algarve-Huelva, que permitirá conectar todos os nossos portos e principais plataformas logísticas e a nossa fachada Atlântica à rede UIC europeia.

Esta rede vai ter que ser construída de forma faseada, começando pelas vias internacionais que nos ligam à UE.

Vai ser necessário construir uma nova linha Lisboa-Porto, porque é fisicamente impossível mudar a bitola na Linha do Norte, onde circulam centenas de comboios por dia.

Esta nova rede ferroviária vai ser cara? É claro que vai, mas muito pior seria se nada fosse feito. Nesse caso, a nossa economia ficaria menos competitiva e os nossos portos iriam atrofiar. A Espanha seria a grande beneficiada porque iria ganhar receitas de logística à nossa custa.

Cumprimentos Rui Rodrigues 

ÚLTIMA ACTUALIZAÇÂO: 03.06.2011 10:20

terça-feira, maio 31, 2011

A morte de Pinóquio

Quer ganhe, quer perca, José Sócrates tem o destino marcado: a expulsão do paraíso que julgava eterno...



O PSD volta a alargar a sua vantagem para o PS. Na oitava sondagem da Intercampus para o PÚBLICO e a TVI, os sociais-democratas somam agora 37,0% da preferência dos votos, contra 32,3% dos socialistas. O CDS sobe, a CDU mantém e o BE cai. Público (30-01-2011).
Neste momento tudo leva a crer que o PS perderá as eleições do próximo domingo. Os portugueses já não suportam mais a criatura. Eu, por exemplo, mudo imediatamente de canal sempre que o nariz espetado e descarado deste Pinóquio me assalta a casa por um dos canais do MEO. Sei que vai mentir com o descaramento típico de todo o vigarista que se preze, e assim sendo, mudo de programa, ou desligo a televisão. Prefiro manter-me a par dos seus compulsivos delírios de propaganda e manobras de intoxicação mediática, recorrendo aos canais da Net. É menos intrusivo.

As opções de José Sócrates no dia 6 de Junho são apenas estas:
  • no caso improvável de o PS ganhar as eleições, José Sócrates não terá parceiro com quem governar e será por isso forçado a ceder o lugar a alguém que possa e saiba fazer a ponte entre o PS e o PSD. Hoje uma voz amiga soprou-me que estaria tudo preparado para que o socialista ex-fundador da JSD, e actual presidente do Tribunal de Contas, Guilherme d'Oliveira Martins (1), assumisse a espinhosa missão de formar um governo de maioria PS-PSD-CDS, caso o improvável cenário de uma derrota de Passos Coelho viesse a ocorrer;
  • no caso de o PSD ganhar as eleições, formando maioria absoluta com o CDS, ou mesmo precisando do PS para consagrar a estabilidade parlamentar necessária para aplicar rapidamente as medidas mais dolorosas e reformadoras do Memorando de Entendimento, a sorte de José Sócrates é a mesma: despedimento com justíssima causa! A sentença foi aliás decretada pelo consigliere Almeida Santos (primeiro está a família!)

Uma votação mais expressiva no PCP e no Bloco, que deverá, apesar das sondagens, ocorrer, tornaria as coisas ainda mais críticas para o ainda primeiro ministro que conduziu o pais à bancarrota. Se ao menos os ortodoxos do PCP e do BE percebessem quantos milhares de votos perderam pelo simples facto de terem rejeitado quaisquer conversações com a dita Troika, talvez fizessem ainda um esforço nos dias que restam da campanha para evitarem mais verborreia populista, e proporem uma ou duas ideias claras ao país. Louçã está neste momento a perder votos para o PCP, para o PS, para o PSD, para o CDS, para o Partido da Terra, e até para o partido vegetariano!

O PS precisa de uma boa derrota para acordar do estado de hipnose a que foi sujeito pela tríade de Macau e pelo ilusionista José Sócrates Pinto de Sousa. Sem um abalo até às raízes não será provável a clarificação urgente de que necessita para sobreviver ao longo da pesada década que temos pela frente.

A Esquerda está perdida no novelo do seu próprio oportunismo irresponsável. Mas só o PS tem condições de iniciar um processo de aggiornamento socialista capaz de contagiar o PCP e sobretudo o BE, ansiosos ambos por verem superados os atavismos marxistas, estalinistas e trotsquistas que os têm condenado à insignificância partidária e à incapacidade de assumirem o pragmatismo que as gerações mais jovens naturalmente reclamam.

A situação é complexa. Mas há algo cada vez mais evidente: um voto no PS é provavelmente o único voto inútil destas eleições.


NOTAS
  1. Os episódios em volta dos relatórios sobre as PPP rodoviárias podem ter algo que ver com isto. O actual presidente do T.C. aparece, em aparente sintonia com Cavaco, como protector de Sócrates, retendo o relatório que "arrasa" a gestão que a tríade de Macau fez do dossier das PPP rodoviárias do continente (um encargo escandaloso de 20 mil milhões de euros!) Por outro lado, hoje, 30 de Maio, o mesmo Guilherme d'Oliveira Martins deixou publicar, a menos de cinco dias das eleições, um relatório sobre as PPP de Alberto João Jardim na Madeira, onde o governo autónomo é severamente criticado. Link1. Link2. Link3. Link4.

domingo, maio 29, 2011

Travem os agiotas!

Em vez de juros usurários, porque não exigir à tríade uma taxa média de 0,01%?


Fed Gave Banks Crisis Gains on Secretive Loans Low as 0.01%Bloomberg, 26.05.2011.

May 26 (Bloomberg) -- Credit Suisse Group AG, Goldman Sachs Group Inc. and Royal Bank of Scotland Group Plc each borrowed at least $30 billion in 2008 from a Federal Reserve emergency lending program whose details weren’t revealed to shareholders, members of Congress or the public.

(...) New York-based Goldman Sachs’s borrowing peaked at about $30 billion, the records show, as did the program’s loans to RBS, based in Edinburgh. Deutsche Bank AG, Barclays Plc and UBS AG each borrowed at least $15 billion, according to the graphs, which reflect deals made by 12 of the 20 eligible banks during the last four months of 2008.

(...) Other banks listed in the Fed charts borrowed less than their peers. New York-based Morgan Stanley and Paris-based BNP Paribas, France’s biggest bank by assets, took no more than about $10 billion. Citigroup Inc., JPMorgan Chase & Co. and Merrill Lynch & Co., which is now part of Bank of America Corp., borrowed less than $5 billion each — Bloomberg, 26.05.2011.

O cálculo do resgate da dívida soberana portuguesa está de momento avaliada em 78mM€. As organizações que integram a tríade do resgate —Mecanismo Europeu de Estabilização Financeira (MEEF), Fundo Europeu de Estabilização Financeira (FEEF) e Fundo Monetário Internacional (FMI)—, pretendem cobrar juros por esta operação na ordem dos 5,9%! São juros agiotas, mas inferiores aos mais de 10% para onde actualmente caminham as operações de colocação comercial da dívida soberana portuguesa.

Enquanto esteve aberto o guichet do BCE, através do qual os bancos comerciais pediam dinheiro emprestado à taxa de 1%, dando como colateral títulos de dívida soberana com rendimentos garantidos acima dos 4% (hoje estes rendimentos já andam muito próximos dos 10%), foi o fartar vilanagem que o mitómano Sócrates saudou alegremente como prova da sua eficácia na condução de Portugal à bancarrota.

Quando qualquer coisa cresce a 7% ao ano, significa que duplica numa década. Quando cresce a 10%, significa que duplica em apenas sete anos!

Foi conhecendo esta lei matemática, e depois de constatar que o negócio das dívidas soberanas se tinha transformado em mais uma perigosa bolha especulativa, que o BCE decidiu fechar a sua peculiar portinhola de Quantitative Easing. O ataque especulativo à moeda única europeia, por via do ataque às dívidas soberanas dos PIGS, tornara-se uma ameaça real à própria integridade do euro. Bruxelas, Berlim e Paris não tiveram outra saída que não fosse enveredar por programas de resgate dos países membros aflitos, criando estratégias de endividamento em cascata capazes de travar a espiral de pilhagem especulativa em curso.

Assim, a União Europeia passa a financiar-se junto dos mercados a juros aceitáveis, e depois empresta aos PIGS a juros inaceitáveis e sob condições draconianas. Eu até estou de acordo com todas as condições draconianas da última versão do Memorando de Entendimento da Troika (pois são essenciais à reforma da nossa degenerada democracia), mas não estou de acordo, nem com os prazos, nem com o preço do dinheiro emprestado e a emprestar. O FMI, e sobretudo os FEEF e MEEF, estão a comportar-se como agiotas, e pior do que isso, poderão afogar-se na sua própria ganância. Se os juros e os empréstimos forem impagáveis, a cobrança dos ganhos poderá revelar-se impossível, forçando os credores a aceitar um perdão parcial da dívida (o já célebre hair cut) — ou seja, a sua renegociação.

Durante a crise que levou ao colapso do Lehman Brothers, em 2008, a Reserva Federal (FED), o grande cartel bancário que nos EUA equivale aos bancos centrais de outros países, emprestou secretamente mais de 80 mil milhões de dólares a um grupo de bancos americanos e europeus, a prazos de 28 dias, cobrando juros de 0,01%, com o pretexto de evitar uma corrida aos bancos. Mais tarde, Henry Paulson, Ben Bernanke e Timothy Geithner, convenceram o Senado a realizar uma punção fiscal sem precedentes, de 700 mil milhões de dólares, para resgatar a banca de potenciais faltas de liquidez, cobrando-lhes juros de favor cada vez mais próximos do zero. Esta política de empréstimos sem juros, reservada apenas aos bancos (ZIRP), começou no Japão, mas tem feito o seu caminho. No entanto, o contraste com os juros cobrados às empresas, aos cidadãos, e agora, aos governos, é de tal modo escandaloso, que não poderá deixar de causar conflitos sociais e políticos num futuro bem próximo.

Os mais de 42 milhões de americanos que recorrem hoje às senhas alimentares (food stamps) querem saber as razões desta discriminação, e querem deixar de alimentar um sistema financeiro tão evidentemente injusto e corrupto. Os europeus, à medida que as senhas de alimentação forem entrando na sua rotina, para complementar as suas degradadas pensões de reforma, o custo crescente do seus serviços públicos de saúde e o desemprego sistémico, cada vez menos subsidiado, também!


POST SCRIPTUM (30.05.2011 9:11)

O trauma da reestruturação entrou definitivamente na ordem do dia das dívidas soberanas europeias, a começar pela Grécia, seguindo-se-lhe depois, inevitavelmente, Portugal, Irlanda, Espanha, Itália, etc.

Hipóteses em cima da mesa:
  1. estender os prazos de pagamentos;
  2. diminuir as taxas de juro abusivas;
  3. aparar a dívida (hair cut), i.e. deixar os credores (mas sobretudo os especuladores) com uma parte dos lucros esperados no tinteiro;
  4. não pagar de todo e mandar o euro às urtigas (uma hipótese radical que, na realidade, significa transformar um pesadelo de 10-20 anos, num definhamento até ao fim deste século, no mínimo!)
 Mas pode haver um passe mágico, ou seja, uma quinta hipótese que contorne estas soluções demasiado espinhosas: fazer um acerto de contas prévio entre os países que são simultaneamente devedores e credores. Esta é, pelo menos, a proposta criativa de dois professores associados da Europe Business School: Anthony J. Evans (Economics) e Terence Tse (Finance).
The idea

The idea is very simple - if Portugal owes Ireland €0.34bn of short term debt, and Ireland owes Portugal €0.17bn, we can write off Ireland's obligations and leave Portugal with a reduced debt of €0.17bn.

If you are both a debtor and a creditor you do not need money to settle claims. Rather than require additional funds to deal with choking debt, why not write it off?
The diagrams above show the before and after situation, based on analysis done by students. The simulation itself took place on May 17th 2011 and involved three separate trading rounds — inThe great EU debt write off”.

Parece um jogo vídeo. Mas não estamos todos, de facto, imersos numa economia virtual?

sábado, maio 28, 2011

Debitocracia

Devemos exigir uma auditoria popular à nossa dívida externa

Para além de ser imperioso, nas eleições de 5 de Junho, correr com Sócrates e a tríade que tomou de assalto o PS, o governo e o país, também deveremos exigir do próximo governo, parlamento e presidência da república, uma auditoria imediata à nossa dívida externa, com todas as consequências que daí possam advir — por exemplo, a eventual acusação e julgamento dos piratas que levaram Portugal à bancarrota, ou mesmo, a imposição de uma renegociação euro-a-euro da própria dívida, separando o trigo do joio. Se forem detectadas dívidas odiosas, deveremos estar preparados para as repudiar.

O nosso caso será certamente diverso do da Argentina, Equador, ou Grécia. Mas será assim tão diferente? Ora vejam este excepcional documentário sobre o caso, muito mal explicado, da crise soberana da Grécia.


Debtocracy International Version por BitsnBytes

OUTRO VÍDEO — mostrando um ponto de vista bem diferente, no que respeita à natureza do Capitalismo, a recém difundida (23.05.2011) produção da HBO: To Big to Fail, defende que a salvação dos bancos (cujos pormenores até agora clandestinos, uma decisão do tribunal supremo dos EUA obrigou o FED a revelar recentemente), ou melhor, o mais recente e extraordinário processo de concentração ainda curso foi a única forma de evitar um colapso financeiro mundial de proporções nunca vistas, e uma corrida aos bancos que teria provavelmente destruído a moeda americana em poucas semanas. Esperemos pela chegada deste documentário, com o toque de Midas da HBO, chegue em breve a Portugal.



ÚLTIMA ACTUALIZAÇÃO: 29.05.2011 16:57

segunda-feira, maio 16, 2011

Os fariseus desta democracia

Rembrandt, pormenor da pintura sobre a expulsão dos cambistas do templo
“A minha casa será chamada casa de oração, mas vós a tendes convertido em covil de ladrões”

O capitalismo de Estado lusitano chegou ao fim

Se repararmos bem, a democracia portuguesa é a coisa mais parecida que há com o templo de onde Jesus, um dia, expulsou a corja de fariseus e de cambistas (especuladores) que o tinham transformado numa praça financeira, numa repartição de tráfico de influências e numa casa de putas.

O povo, ou pelo menos uma parte maioritária do mesmo, acreditava então e continua a acreditar hoje que os templos e as casas da democracia são lugares de fé, e não corredores e gabinetes sob protecção policial onde operam sem freio, sorridentes, bem vestidos e perfumados nas melhores casas (1), e comendo à noite, fora do olhar plebeu, as melhores iguarias (2), os coveiros da prosperidade, da saúde e da honra de quem distraidamente os elege ou aceita como pastores.

O descaramento dos piratas que tomaram de assalto o PS e vociferam em nome do socialismo e do contrato social brada aos céus. É, de facto, a coisa mais parecida com a propaganda fascista clássica, só que numa variante pós-moderna. Está na altura de percebermos todos que os partidos do centro-direita são, por incrível que pareça, a última barreira democrática interna à destruição do templo democrático e sua transformação no mero biombo farisaico de uma nova forma de ditadura — neo-corporativa, a soldo da pirataria financeira mundial e sob protecção legal de grandes e mafiosos escritórios de advogados. A outra barreira a esta degenerescência e iminente redução de Portugal à categoria de estado falhado é, por incrível que pareça também, o Memorando da Troika —cuja leitura atenta, já possível em português, não me canso de recomendar, por oposição à canalha que faz tudo para o esconder.

A máquina de propaganda que se apoderou do Partido Socialista e do Estado, paga pelos nossos impostos e em clara subversão da lei constitucional e da boa-fé democrática, substitui e espezinha o programa, a inteligência e a cultura genuinamente socialistas.

A cegueira ou cobardia de quem no PS sabe disto e teme agir com coragem poderá revelar-se fatal para toda uma geração de portugueses, sobretudo se a crise sistémica mundial do capitalismo evoluir para uma nova guerra mundial e subsequentes nacionalismos desesperados. A alusão de Eduardo Catroga às relações de pragmática política entre Sócrates e Hitler é menos disparatada do que parece. Ele não comparou os dois políticos sob o prisma do anti-semitismo, mas sublinhou, e bem, o paralelismo da teatralidade das encenações, do histrionismo das criaturas, e das retóricas. Para ser mais exacto, a versão adoptada por Sócrates deve mais ao sobrinho de Freud, Edward L. Bernays, do que a Joseph Goebbels. Digamos que o primeiro é a versão americana e pós-moderna (avant la lettre) do segundo. Ambos, curiosamente, escreveram textos fundamentais sobre o tema da Propaganda, em 1928.

There is really little point to discussing propaganda. It is a matter of practice, not of theory. One cannot determine theoretically whether one propaganda is better than another. Rather, that propaganda is good that has the desired results, and that propaganda is bad that does not lead to the desired results. It does not matter how clever it is, for the task of propaganda is not to be clever, its task is to lead to success. Joseph Goebbels, “Knowledge and Propaganda” (1928), in German Propaganda Archive.

THE conscious and intelligent manipulation of the organized habits and opinions of the masses is an important element in democratic society. Those who manipulate this unseen mechanism of society constitute an invisible government which is the true ruling power of our country. Edward L. Bernays, Propaganda (1928).

Pensemos no batalhão de criaturas incógnitas que escrevem os telepontos diários de Sócrates e alimentam minuto-a-minuto os tickers televisisvos. O resultado é sempre o mesmo: insistir de cada vez, sempre que possível, numa ideia simples, maniqueísta e de enunciação breve (o que hoje se chama sound bite). Por exemplo: não contem com Sócrates para governar com o FMI (criação e diabolização de um inimigo externo, e ocultação da bancarrota óbvia do Estado conduzida pelo PS; ou: o Memorando do FMI, ou da Troika (consoante as audiências para quem fala), é o PEC4 (transformando assim o invasor num derrotado: vieram comer a minha mão...), sim, é o PEC4! sim, é o PEC4!! (insistência minuto-a-minuto); ou sobre o PSD e o CDS: a Direita quer destruir o estado social; a Direita quer privatizar a saúde; a Direita quer privatizar as reformas; a Direita quer despedir os funcionários públicos; a Direita quer subir os impostos! Ou seja, tudo o que Sócrates e o PS têm vindo a fazer ao longo dos últimos seis anos, em nome, diz a propaganda minuto-a-minuto de Sócrates, da salvação do estado social, é agora imputado como agenda secreta demoníaca da Direita. Se tivermos presente que Sócrates utiliza diariamente todos os canais televisivos em horário prime, primeiro como governante, e depois como falso descamisado, podemos calcular o formidável poder de manipulação empregue diariamente por esta máquina de propaganda contra toda a Oposição — mas pior ainda, contra todo um povo aflito e com péssimas perspectivas de futuro.

No entanto, a realidade é esta: ao mesmo tempo que Sócrates manipula o eleitorado, fixando-o no medo da Direita (não nos esqueçamos de que a propaganda nazi, tal como a propaganda americana, da publicidade, ao business coaching, ao marketing em rede e à cientologia, são ferramentas de controlo pacífico das mentes), aquilo que este ditador disfarçado pela moda realmente faz é comprometer-se com a Troika na suspensão do contrato social em todas as vertentes previstas: saúde, reformas, educação e redistribuição fiscal da riqueza.

Fá-lo, porém, negando publicamente o que assinou, sem qualquer receio da contradição e da mentira descarada. A fórmula típica da propaganda eficaz é uma vez mais simples: atribuir minuto-a-minuto esta capitulação e este programa de destruição do estado social à Direita! E ao mesmo tempo que acusa o PSD e o CDS de quererem destruir o estado social, e o PCP e Bloco de Esquerda de serem responsáveis por esta mesma destruição, na qualidade de aliados e muletas da Direita, os piratas da tríade de Macau, em aliança ou não com a Maçonaria, procuram desesperadamente nos corredores obscuros da corrupção salvar desta mesma destruição a incapaz burguesia rentista que ainda temos e a recém chegada turma de novos-ricos e financeiros paridos pela partidocracia. Como? Invocando os direitos adquiridos das PPP e os direitos adquiridos dos monopólios que atrofiam o nosso potencial de crescimento!
Os contratos entre o Estado e as empresas são os novos direitos adquiridos. Parecem gravados na pedra.

Enquanto for bastante mais barato reduzir os direitos dos cidadãos e aumentar impostos do que rever contratos entre o Estado e o sector privado, a história a que temos assistido nas democracias ocidentais e em Portugal continuará a ser a mesma: o Estado capturado pelos partidos e interesses privados, a tirar a quem tem apenas a Lei e a Constituição do seu lado para dar a quem tem contratos.

Eis uma abordagem a roçar o esquerdismo, dirão alguns. Pois não é. A democracia capitalista de mercado tem na liberdade, igualdade e no Estado de direito - e não dos contratos - os seus pilares fundamentais. O que temos hoje é tudo menos mercado. Porque uns são manifestamente mais iguais que outros, porque uns têm manifestamente mais poder sobre o Estado que outros. Terá a troika o poder de curar esta ferida do capitalismo? Helena Garrido in “Direitos, contratos e desigualdades”, negócios online, 13 maio 2011.

Desconfiança a Alta Velocidade

“O Estado também tem compromissos, por exemplo, com os reformados que durante uma vida confiaram nessa instituição entregando-lhe, por outro lado, mensalmente uma parte do seu ordenado e prescindindo, por outro lado, de receber outra parcela de forma a que a entidade patronal contribuísse para a constituição da sua reforma. E o que fez o Estado desses compromissos? Teve de os abandonar, dada a situação financeira a que conduziu o país. Manuela Ferreira Lete, Expresso 14 maio 2011.

Os jornalistas mais conhecedores e sérios já não conseguem esconder o embuste e a calamidade provocada por quem conduziu conscientemente Portugal à bancarrota. Como disse Estela Barbot —uma empresária certamente conservadora no voto, consultora do FMI— os responsáveis pela falência do país são quem canalizou os poucos recursos disponíveis, isto é a nossa fraca poupança, os limitados fundos comunitários e os empréstimos externos, para estádios de futebol (hoje falidos) e autoestradas desnecessárias e economicamente impagáveis. De forma ainda mais detalhada é preciso dizer, explicar e repetir ao país, até à saciedade, que na ordem de principais responsáveis pela bancarrota de Portugal não estão os encargos com os funcionários públicos, mas quatro evidências contabilísticas da responsabilidade de Sócrates e dos piratas que o acompanham:
  1. as 120 Parcerias Público-Privadas
  2. o Estado paralelo escondido do orçamento de Estado (Parpública, empresas privadas regioanis e municipais de capital 100% público, fundações, etc.)
  3. os juros da dívida pública
  4. e os encargos sociais com o subsídio de desemprego a que os cidadãos desempregados têm todo o direito, sobretudo se descontaram para tal eventualidade. 
A falência portuguesa é da exclusiva responsabilidade dos últimos três anos de governação PS, sob o império da tríade de Macau, associada ou não à Maçonaria, associada ou não a redes internacionais que se dedicam a roubar literalmente estados inteiros.

Tão importante quanto pagar as dívidas, é investigar e responsabilizar, criminalmente se for o caso, os seus principais responsáveis, e sobretudo operar uma grande metamorfose social. Sem recuperar as condições fiscais mínimas da liberdade empresarial e criativa, o nosso potencial de crescimento continuará estagnado e caminhará mesmo para uma recessão profunda e duradoura. A consequência desta hipótese de definhamento económico, social e cultural da nossa sociedade, a concretizar-se, seria o caminho mais rápido para a implantação de uma nova ditadura em Portugal. Os embriões adormecidos desse novo poder invasivo estão à vista de quem os quiser ver.

Francesco Franco: “Portugal não vai ter uma segunda hipótese para voltar a ser competitivo e pôr fim a um processo de acumulação de dívida externa que se arrasta há mais de 15 anos”.

Só uma subida dos impostos sobre o consumo, um corte forte nos custos unitários do trabalho e uma estagnação dos salários proporcionada pela chamada desvalorização fiscal irá, no curto prazo, ajudar Portugal a reequilibrar o pesado défice externo e voltar a crescer.

A Taxa Social Única (TSU) deverá descer dos actuais 23,7% para 11% a 12% para ter efeitos imediatos e relevantes na descida dos custos do trabalho e aumento da competitividade./ A redução das contribuições para a Segurança SOcial não significa um emagrecimento do seu financiamento que deverá ser assegurado por outras taxas que não as do trabalho. Anabela Campos, “É preferível reduzir os custos de trabalho a salários”, Expresso, 14 maio 2011.

Não se pode pedir mais produção, como faz e bem o PCP, se esmagarmos pela via fiscal e pelo excesso de zelo burocrático os produtores e os criadores de riqueza.

Há dias visitei um pequeno agricultor biológico que há vinte anos, num hectare e meio de terra recuperada a um pinhal, se dedica a esta alternativa ao colapso inevitável da agricultura intensiva, toda ela baseada no petróleo e no gás natural. Perguntei-lhe duas coisas: como tem evoluído o ambiente do teu negócio nos últimos anos; e que parte do ganho foi comida pelos factores de produção. A resposta foi desoladora:

“Tenho cada vez menos condições para continuar; o trabalho pago e o Estado levam quase tudo — 90% do que vendo vai para salários, licenças, taxas, impostos, selos, segurança social, seguros e médicos do trabalho. Actualmente sou forçado a subsidiar com uma pequena herança recente o meu próprio negócio e as pessoas que trabalham comigo.”

Como querem o PCP e o Bloco apelar à produção se, na realidade, autorizaram no parlamento e continuam a insistir em ideologias cujo resultado prático é a destruição da própria possibilidade de começar? Temos a segunda maior taxa de emigração dos últimos 160 anos por algum motivo. Chegou o momento de acordarmos e de sermos inflexíveis para com os ladrões e os populistas profissionais!

POST SCRIPTUM (16-05-2011 23:30)— Clara de Sousa perguntou a José Sócrates, durante o debate deste com Jerónimo de Sousa, porque razão não havia ainda uma tradução oficial do Memorando da Troika. Sócrates meteu os pés pelas mãos, como é costume quando apanhado em falso, e disse que achava que havia. Achava!

NOTAS
  1. Uma loja de luxo em Beverlly Hills (a Bijan) publicitava na montra principal os seus clientes VIP, entre estes um tal primeiro ministro de Portugal, José Sócrates. Alguém perguntou a esta criatura se é verdade? E se é, alguém lhe perguntou onde obteve o dinheiro para as compras? A diferença entre Lisboa e Luanda, ou entre Lisboa e Port-au-Prince é cada vez mais insignificante.
  2. O CM apanhou o “socialista” Pinóquio Pinto de Sousa à saída de um restaurante de luxo no Porto, onde jantou com seis apoiantes do PS. «A refeição custa, em média, 100 euros por pessoa», lê-se na legenda da fotografia publicada na última página do jornal. Vinham certamente da campanha eleitoral, muitos cansados de explicar ao povo porque devem votar no "estado social".