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quinta-feira, abril 15, 2010

Portugal 180

Acordem Portugueses!


  • Former IMF economist says Portugal must be helped now to stop domino effect (FT, April 15 2010
  • Presidente checo ataca países com défice excessivo
    Num encontro com Cavaco Silva, o seu homólogo checo e anfitrião disse que nunca permitiria no seu país uma situação semelhante. Cavaco Silva não fugiu ao tema, mas evitou entrar em polémicas. (RR, 15 Abril 2010
  • Governo aceita parceria na gestão do aeroporto
    Norte duvida da possibilidade do "Sá Carneiro" ser gerido autonomamente (JN, 15 Abril 2010)

UMA DEMOCRACIA DE PIRATAS (A NOSSA) ESTÁ A VENDER LITERALMENTE A INDEPENDÊNCIA DE PORTUGAL AO ESTRANGEIRO - COM ESPECIAL DESTAQUE PARA ESPANHA !!!

  O Estado e a Câmara Municipal de Lisboa estão falidos. Esta é a simples realidade por trás da privatização da TAP e da venda de monopólios de Estado (REN, ANA, EDP) aos especuladores privados internacionais. A outros, como as ÁGUAS DE PORTUGAL, chegará também a vez, se nada fizermos entretanto. Isto é, se não pusermos rapidamente o PS de quarentena, e não formos capazes de eleger um novo presidente da república independente — que nem Alegre, nem Cavaco são (além de que são muitíssimo co-responsáveis pelo estado a que chegámos!)

A venda da ANA serve apenas para financiar a construção do novo aeroporto, o maior elefante branco que a tríade de piratas que nos governa insiste em levar por diante, com o seu exército de advogados e professores-economistas corruptos, para gáudio do BES e da Mota-Engil. Ou seja, entrega-se um negócio público aos especuladores privados para que estes, depois, enquanto monopólio privado, ponham e disponham no transporte aéreo de e para o nosso país!

No entanto, assim como não haverá quem pague as SCUTS, também não haverá quem pague o NAL. O que vem a querer dizer que, seremos todos nós, indiscriminadamente, que pagaremos estes assaltos à riqueza nacional através duma carga letal de impostos e do empobrecimento inexorável da sociedade portuguesa. Os partidos parlamentares são todos responsáveis!

Lembro que uma das causas da falência da Grécia foi precisamente o novo aeroporto de Atenas e a corrupção das Olimpíadas. Por cá será, se não travarmos imediatamente este assalto ao país, o NAL da Ota em Alcochete e o Mundial de Futebol a que Portugal e Espanha concorrem "juntos".

A Espanha (através da FCC), que não brinca em serviço, está a beira de ter as chaves de entrada em Lisboa através da anunciada Terceira Travessia do Tejo (TTT)

A Espanha (através da Ferrovial, que hoje controla os principais aeroportos ingleses), mais cedo ou mais tarde, terá nas mãos a futura ANA , começando obviamente por entrar no consórcio vencedor da privatização da ANA/construção do NAL.

A Espanha, através da Ibéria (que acaba de ver aprovada a sua fusão com a British Airways, indo ambas agora avançar para uma fusão com a American Airlines), fez uma aliança estratégica com o Reino Unido e com os EUA para controlar o espaço aéreo do Atlântico Norte.

Por fim, Espanha tem em marcha uma operação fortíssima para estender a sua plataforma marítima continental atlântica por cima da plataforma portuguesa!

Resumindo: a Espanha tem um plano claro de absorção pacífica de Portugal, posicionando-se como novo vértice de um triângulo estratégico com o Reino Unido e a América. Foi este o sentido profundo da Cimeira das Lajes, em cujas fotografias publicadas em Espanha, nunca apareceu a figura subserviente do cicerone Durão Barroso! Ou muito me engano, ou este gajo é mesmo um agente duplo da CIA.

Precisamos mesmo de um Vladimir Putin antes que o país desapareça!

Ou então que a Maçonaria e os militares retomem seriamente os seus deveres patrióticos.


ÚLTIMA HORA  — Grécia pede reunião com BCE, FMI e Bruxelas

Numa carta endereçada a Jean-Claude Trichet, Dominique Strauss-Kahn e a Olli Rehn, o ministro grego das Finanças, George Papaconstantinou, “solicita conversações” com os três dirigentes, referindo que o faz na sequência do acordo político alcançado neste domingo sobre uma eventual ajuda dos países da Zona Euro à Grécia. (Jornal de Negócios, 15 Abr 2010)

Com as dores da Irlanda, da Bélgica, do Reino Unido, do Japão, ou dos Estados Unidos, todos países com endividamentos descomunais, podemos nós bem! Isto é, devem preocupar-nos menos do que as nossas próprias mazelas. Agora que a Grécia resolveu, por fim, dirigir-se a Bruxelas e ao FMI para que ponham em marcha uma operação de salvamento do endividado e corrupto país onde um dia habitaram filósofos imortais, aproxima-se um fim de semana de cortar à faca! O euro já começou a cair e os detentores de dívida grega já começaram a desembaraçar-se de algo que vale cada vez menos.

Leiam-se estes dois textos —Greece Saved For Now – Is Portugal Next? By Peter Boone and Simon Johnson (The Baseline Scenario, April 11) e Greece And The Fatal Flaw In An IMF Rescue. By Peter Boone and Simon Johnson (April 6, 2010)— em vez da versão grosseira do pensamento destes dois autores publicada pelo Económico de hoje.

Seria preciso qualquer coisa como 150 mil milhões de euros para salvar a Grécia da bancarrota, isto é, os 40-45 mil milhões sugeridos a medo por Bruxelas e pelo FMI não teriam outro efeito que não fosse empurrar o problema com a barriga até ao próximo colapso. Aparentemente, o actual presidente do FMI tem ambições presidenciais em França, ou seja, o socialista Dominique Strauss-Kahn pensa suceder a Sarkozy em 2012. E por este simples motivo de carreira gostaria muito de deixar o problema grego para quem lhe suceder, algures em 2011. Claro que estes cálculos podem sair furados, e o dominó dos defaults soberanos começar muito antes do que todos esperam. Por exemplo, na próxima Segunda Feira!

Os cálculos do senhor Cavaco Silva, que hoje levou um inesperado e muito bem dado raspanete do presidente checo, podem pois estar também viciados por um erro de estimativa. A Alemanha vai tentar salvar o euro a todo o custo, mas este desiderato poderá mesmo implicar uma quarentena de 1, 2, 3, 4 anos fora do euro, para países como a Grécia, a Irlanda, Portugal... e Espanha! Seria o fim do euro? Não creio. Seria o fim dos PIIGs? Também não creio. Mas lá que vai ser um período de lágrimas e ranger de dentes, disso não tenho dúvidas há já muito tempo.


POST SCRIPTUM — O raspanete a Cavaco foi muito bem dado, objectivamente, ou não?

O calculista de trazer por casa, Aníbal Cavaco Silva, inepto presidente da nossa república, em vez de reconhecer os factos denunciados e bem pelo presidente checo, e anunciar que o seu (nosso) país irá corrigir os erros do passado e começar uma nova vida, não! Desculpou-se com o cargo: "eu desde o início vou responder como presidente da república" (não sou primeiro ministro, queria ele dizer na sua). Ora porra!

Cavaco Silva é pelo menos meio responsável pelo estado a que o país chegou. Desde logo porque nunca enviou à Assembleia da República uma mensagem formal e clara sobre o desvario orçamental e a corrupção de Estado, exigindo ao parlamento que fizesse a sua obrigação. Também não denunciou formal e claramente aos deputados a promiscuidade entre o Banco de Portugal, a banca comercial, alguns grandes grupos económico-financeiros e as redes de interesses instalados nos partidos com assento parlamentar (e que capturaram mesmo, para já, um deles — o PS).

Numa palavra (e escrevo agora directamente ao actual presidente da república do meu país):

— senhor Aníbal Cavaco Silva, não peça votos ao povo português para reeleger quem num período crucial da nossa anunciada decadência, nada fez para o impedir, salvo balbuciar algumas mensagens encriptadas que ninguém entendeu! Ou pior ainda, deixar que o seu sinistro Chefe da Casa Civil, Nunes Liberato, tivesse orquestrado a telenovela patética das escutas ao Palácio de Belém. Para quem, como eu, chegou a crer que não havia fumo sem fogo, e depois verificou que tudo se tratara afinal duma operação de contra-informação armadilhada por um aprendiz de feiticeiro ambicioso, mas burro, a confiança em si, Senhor Presidente da República, não poderia deixar de esmorecer e acabar por morrer depois de tão imbecil episódio palaciano.

Como tenho vindo a recomendar, Cavaco Silva deve anunciar quanto antes que não irá recandidatar-se ao cargo que hoje ocupa. O país não irá à falência por isso. Vai à falência, sim, porque tem sido dirigido por gente inepta, corrupta e sem coragem política.


OAM 682—15 Abril 2010 12:41 (última actualização: 16 Abril 2010 15:46)

sexta-feira, abril 03, 2009

Portugal 96

Que venha o rei!

Se o actual presidente da república se confessa impotente para atalhar casos de corrupção no seu quintal e os três presidentes que o antecederam hesitam em dar sinais de preocupação pela manutenção em funções de um primeiro ministro protagonizado por uma personagem sobre a qual se acumulam suspeições públicas documentadas de corrupção, então talvez os monárquicos tenham razão e esteja na hora de referendar o regresso à monarquia — uma monarquia constitucional e democrática, claro, como sucede em 12 estados europeus.

Eu não sou doido. Se ler esta nota até ao fim perceberá porquê.

Nenhum país pode endividar-se continuamente por largos períodos sem ver o regime que permite e fomenta tal endividamento colapsar ou ser fortemente abalado por convulsões, guerras civis e revoluções. Há quem diga que 50 anos de bloqueio estratégico, endividamento compulsivo, irresponsabilidade e corrupção são suficientes para deitar abaixo qualquer regime político, por mais democrático que seja.

A transferência da hegemonia económica mundial da Europa para a Ásia tem sobretudo que ver com este fenómeno. A deterioração crescente dos termos de troca entre os Estados Unidos e o resto do mundo, sobretudo Ásia e Médio Oriente, acentua-se de forma irremediável a partir do início da década de 1970, daqui resultando a previsão de o poder imperial ainda residente em Washington ter começado ontem formalmente a sua deslocação acelerada em direcção a Pequim, onde deverá chegar antes de 2020.

Vejamos o caso português. A queda da monarquia deu-se na sequência de uma crise agrícola interna muito grande e prolongada, provocada por vários factores conjugados: fim da protecção britânica à importação de vinhos portugueses; pragas do oídio e da filoxera (1852, 1867); e ainda a estagnação internacional do mercado do vinho.

Esta crise levou centenas de milhar de portugueses a emigrar para o Brasil: 332 312, entre 1856-1900; 754 147, de 1900 a 1930, decaindo depois abruptamente: 148 699 entre 1931 e 1950... (in Wikipedia).

Esta emigração que, como se vê, cresceu brutalmente com a crise do vinho, e mais ainda durante a primeira república, funcionou como uma verdadeira exportação de mão de obra, na medida em que a maioria dos novos "brasileiros" enviava dinheiro para Portugal. No entanto, a implantação da república no Brasil (1890-1907) quase destruiu a moeda brasileira que os portugueses emigrados enviavam para as suas aldeias via Londres, daí resultando a desvalorização da própria moeda portuguesa e o consequente agravamento da nossa balança de pagamentos (1).

Resumindo e concluindo, o endividamento português induzido pelo abandono dos campos e pela deterioração da moeda conduziu à queda sucessiva da monarquia e da primeira república. O que a ditadura basicamente fez depois foi poupar e recompor as reservas do país, permitindo um primeiro período longo de recuperação (1931-1960), e depois uma verdadeira expansão económica (1961-1974), em grande medida potenciada pela guerra colonial e pelas receitas da nova emigração para a França e Alemanha. A ditadura caiu, ironicamente, em plena fase de expansão económica, por causa de uma guerra injusta, condenada a ser perdida, e porque o desenvolvimento económico e intelectual do país já não suportavam o colete da ditadura, mesmo amaciada durante o consulado de Marcelo Caetano.

O monarquia tombou porque não resistiu a 58 anos seguidos de sub-produção e endividamento. A primeira república colapsou porque não soube inverter este ciclo negativo e o agravou. O regime de 48 anos de ditadura republicana morreu do seu próprio êxito económico e por óbvias causas políticas. E agora?

Desde 1974, apesar da liberdade e democracia que temos, Portugal tem vindo a recair no ciclo negro da desertificação dos campos, da destruição da sua infraestrutura industrial, do desemprego, do endividamento excessivo e de uma nova e entranhada corrupção do Estado. Já lá vão 35 anos. Pelas minhas estimativas, este ciclo negativo não deverá durar mais quinze anos. 2024 é, como muito, o limite a partir do qual ocorrerá o colapso do actual regime.

É pois necessário agir já, se quisermos evitar o catastrófico cenário desenhado. Sem hesitação, nem complacências. Mas para isso precisamos, ao menos, que o poder supostamente moderador da presidência da república funcione! Ora não tem dado mostras de funcionar. Cavaco parece um pau e os presidentes que o antecederam estão resignados às suas próprias culpas no cartório.

Se assim é, talvez tenha chegado a hora de repensar a república e de levá-la a referendo.

Ao senhor Duarte de Bragança faço uma recomendação séria: esteja caladinho e prepare os seus filhos com a mais esmerada educação possível. Pode vir a ser necessário!


NOTAS

  1. Então tudo o que se passava no Brasil tinha reflexos imediatos no valor da moeda face á libra. Isto foi verdade na guerra do Paraguai (1868-71) e particularmente grave na implantação da republica do Brasil (1890-1907).

    A desvalorização da moeda face ao exterior provocava o imediato aumento da Dívida Pública, e de facto o crescente endividamento que se verifica desde 1890 não advém de um endividamento real, mas do menor valor da moeda.

    Na altura todos queriam ver culpados no Fontes ou numa conspiração inglesa. Foi num estudo de 1915 ( "O Ágio", Salazar) por um académico de nome Oliveira Salazar, que se provou o que já era sugerido por alguns... Foi o câmbio da moeda brasileira que determinou o câmbio da moeda nacional até 1907.

    Tudo estava bem se tudo estivesse bem no Brasil (e Dom Carlos sabia-o), mas desde Novembro de 1889, com o fim da monarquia no Brasil que este país descambou num Carnaval de golpes de Estado, sendo que em 1891 já as praças internacionais previam a bancarrota, com o cambio da moeda portuguesa a cair 25% e as transferências do Brasil a passarem de 4355 contos (1888) para 800 contos em 1891, uma queda de 80%. — in 1ª república e economia, Ricardo Gomes da Silva, SomosPortugueses.com.


OAM 569 03-04-2009 19:25

quinta-feira, abril 02, 2009

Portugal 95

O submundo da banca e da política

O mesmo dinheiro que os depositantes retiram do Millennium BCP, do BPN e do pseudo Banco Privado, por óbvios motivos de precaução, tem vindo a regressar àqueles mesmos covis pela mão do Estado!


"A situação de liquidez do BPN atingiu valores absolutamente insustentáveis a curto prazo"

Jornal de Negócios com Lusa — A administração do Banco Português de Negócios (BPN) está preocupada com a dimensão das saídas de depósitos da instituição e admite que a liquidez do banco atingiu valores insustentáveis a curto prazo.

... Numa carta interna dirigida às redes comerciais de retalho e de empresas do BPN, à qual a agência Lusa teve acesso, Jorge Pessoa, administrador do banco recentemente nacionalizado, começa por dizer aos colaboradores que "a situação de liquidez do banco atingiu valores absolutamente inimagináveis e insustentáveis a curto prazo".

"A saída diária de depósitos, em valores que chegam a atingir as dezenas e mesmo as centenas de milhões de euros, sem a necessária e vital compensação, pela via da captação de novos depósitos, está a conduzir a instituição para uma situação muito delicada e de extrema gravidade", escreveu o administrador, acrescentando que o cenário descrito "compromete seriamente o futuro do banco".

Uma das ilusões democráticas mais renitentes, nomeadamente em Portugal, é a de que as decisões que realmente fazem mover as carruagens dos países são obra dos governos e se decidem nos parlamentos, entre jogos de retórica mais ou menos inflamados.

A verdade, porém, é que o essencial da política contemporânea, por mais democrática que aparente ser, tem lugar em requintados restaurantes longe dos olhares públicos, ou em clubes de decisão exclusivos, se não mesmo secretos. As cerimónias oficiais, de que as actividades parlamentares, as reuniões ministeriais e a propaganda mediática em geral são os principais instrumentos, não fazem mais do que tratar do acessório, fazendo ao mesmo tempo passar discretamente o essencial sob a forma de decretos-lei regulamentares, portarias e múltiplos vazios legais, sem a menor suspeição de quem aprova.

Ou seja, a democracia domesticada actual é cada vez mais a cobertura doce, festiva e cara de uma inatacável e discreta plutocracia dominante, de que o sistema financeiro é a principal alavanca.

Higiene dentária

Conto a propósito uma anedota verdadeira que me foi transmitida por um familiar farmacêutico já desaparecido.

Corria o tempo da ditadura (1926-1974). Um dos problemas que preocupava em meados da década de 60 um dos ministros de Salazar era o das estatísticas desfavoráveis sobre a higiene oral dos portugueses. Segundo os números recolhidos pela indústria, que logo alimentavam estatísticas internacionais nada abonatórias do regime, os portugueses lavavam pouco os dentes depois das refeições. Claro que a indústria farmacêutica tinha outro problema: não vendia o suficiente. As multinacionais que por essa altura tinham já desembarcado em Portugal — com grande destaque para a célebre Colgate-Palmolive — andavam preocupadas. A publicidade começara por dar bons resultados, mas a quantidade de produto vendido, com base na qual se construíam as estatísticas de consumo, aumentava apesar de tudo devagar.

O governo de Salazar ambicionava outra ideia da higiene oral lusitana, e os fabricantes de pasta dentrífica queriam aumentar as vendas. Hummmm! Caso bicudo. Que fazer? Será que um decreto-lei de São Bento poderia ajudar? Mais anúncios como aqueles famosos spots da Pasta Medicinal Couto, chegariam? A ditadura era para coisas sérias, e não para forçar os portugueses a lavar os dentes. Os custos de publicidade, por sua vez, têm limites e não podem comprometer as margens de lucro. E se fosse hoje, que saída lhe poderia dar a nossa democracia parlamentar? Serviria a ASAE para alguma coisa num aperto destes? Creio que não, pelo menos directamente.

A solução acabaria por ocorrer a um jovem engenheiro químico, no laboratório de análises de um dos fabricantes do hoje indispensável sabão para os dentes.

O laboratório andava há um ano atrás da fórmula para aumentar o consumo da pasta dentrífica. O ângulo de abordagem fora o da melhoria do sabor e aspecto da pasta que escorria dos tubos de chumbo. Os resultados obtidos junto dos consumidores-teste foram porém decepcionantes. O tempo escorria e tardava uma ideia luminosa. Até que um belo dia alguém perguntou: e se alargássemos o buraco de saída da pasta? A história nunca se tornou pública, mas a verdade é que Salazar e os fabricantes da Colgate e da Couto ficaram muito satisfeitos!

Formatação cognitiva

Mais recentemente, alguém deu à actual ministra da educação uma solução parecida para resolver o problema das más estatísticas portuguesas no campo educativo. Se se alargar os buracos de saída em cada compartimento do ciclo educativo, haverá mais gente a passar do primário para o secundário, e deste para o universitário. Juntando estas aberturas ao esquema de Bolonha, e refreando o poder excessivo dos professores através do recurso à uniformização dos métodos de avaliação, nomeadamente pelo uso generalizado de testes de escolha múltipla —os famosos testes americanos —, em vez de exames à memória e ao raciocínio pela via dos interrogatórios de catedra, Portugal verá finalmente evoluir os níveis da educação prestada aos cidadãos, tal como outrora acabara por ver evoluir a qualidade da sua higiene oral.

Claro que este estratagema pode conduzir ao rebaixamento dos níveis cognitivos, culturais e cívicos dos formandos. Mas para corrigir este desconforto é que servem os rankings das escolas e universidades e a própria percepção crescente por parte das novas gerações de que a falta de emprego e o emprego precário são os seus destinos naturais à luz das novas sociedades tecnológicas. O acesso ao trabalho será sempre escasso e temporário no futuro, ou seja, muito competitivo. Ao contrário do que sucedeu às gerações dos nossos pais e avós, o ensino superior que Bolonha inaugurou é apenas um limbo de massificação e uniformidade da espécie urbana. Há, porém, que salvar as estatísticas, enquanto o problema da formação das massas não for radicalmente revisto à luz dos constrangimentos provocados pela robotização, nanoficação, biopolitização e digitalização de todos os processos produtivos. Ainda não foi encontrada a fórmula. Mas, como no caso da higiene dentária, não será a retórica democrática a descobri-la.

Obras públicas

Outro tema cuja problematização adequada tem vindo a escapar ao olhar democrático, e portanto aos jogos florais da Assembleia da República, é o das grandes obras públicas.

Os políticos e os média envolveram-nos numa miríade de pequenas discussões, certamente importantes do ponto de vista técnico, mas irrelevantes para o que verdadeiramente as move.

As autoestradas que aí vêm, a nova travessia rodo-ferroviária do Tejo, a rede de Alta Velocidade e a putativa cidade aeroportuária que o génio do aeromoscas de Beja quer repetir em Alcochete, são irracionais, seja tendo em conta a calamidade económico-financeira mundial actual — que não terminará antes de 2012, podendo até agravar-se exponencialmente até lá! —, seja avaliando os insustentáveis níveis de endividamento público e privado do país, seja tendo em vista a manifesta falta de qualidade técnica e de rentabilidade expectável das soluções, seja ainda porque as alterações inevitáveis dos actuais paradigmas energéticos e de comportamento ambiental irão obrigar a mudar de vez os mesmíssimos pressupostos caducos que politicamente têm vindo a ser esgrimidos como justificação dos vultuosos investimentos anunciados. E no entanto, como temos visto, o governo acelera que nem uma quadrilha desembestada em direcção às obras, atropelando tudo e todos. Sem o dizer nem admitir, aquilo que o governo quer são contratos assinados tão rapidamente quanto possível. E porquê?

Pelo mesmo motivo que Gordon Brown e Barak Obama querem grandes programas de investimento. Ou seja, para justificar uma gigantesca inflação monetária capaz de apagar o fogo das dívidas com o papel recém saído das tipografias do dólar e do euro. Claro que esta saída airosa não irá dar bom resultado, e em seu lugar poderemos ter um desastre entre Weimar e o Zimbabué. A menos que sejam a China e o Japão a inundar os mercados de liquidez. Mas aí, a factura que os Estados Unidos e a Europa irão pagar por semelhante imprudência é a antecipação precipitada da supremacia asiática. A China espera alcançar este estatuto lá para 2020, ou 2030. Obrigá-la a antecipar o plano parece-me uma ideia perigosa. Seja como for, uma qualquer espécie de Tratado de Tordesilhas terá que acontecer em breve.

As dívidas queimam, ó se queimam! No caso português, como em muito outros países, o risco é mesmo o de uma paragem cardíaca, com o Estado sem verbas para pagar aos funcionários públicos (forças armadas e policiais incluídas) e a consequente insolvência. Estamos de facto numa situação catastrófica do ponto de vista financeiro, muito semelhante à que antecedeu a queda da primeira República. Aliás, com uma agravante: sem colónia alguma que nos valha!

Desta vez, o que acontece por baixo da espuma mediática da política é pura e simplesmente a capitulação antecipada de parte importante do nosso PIB, e sobretudo do nosso Rendimento Nacional, sob a forma de uma gigantesca alienação de receitas de longo prazo (embrulhadas nas deploráveis parcerias público privadas a 50, 75 e mais anos), em troca de empréstimos urgentes, destinados a aliviar temporariamente os efeitos imediatamente nefastos do endividamento imprudente do país.

Se virmos bem, não parece haver outra forma de atrair liquidez a Portugal. E como é evidente, não se pode falar destas coisas em público!

Esponjas banqueiras

Vejamos, por último, o caso da actual crise financeira e o modo como tem sido gerida, por exemplo, nos casos do BCP, BPN e Caixa Geral de Depósitos.

Sabe-se que dezenas de milhar de contas, quer no BCP, quer no BPN, têm sido fechadas pelos respectivos clientes, descontentes e assustados com os escândalos e prováveis falências dos bancos a quem confiaram os seus depósitos. Sabe-se também que a Caixa Geral de Depósitos tem sido a grande beneficiária desta situação, na medida em que boa parte dos clientes que tem abandonado o BCP e o BPN, já para não falar do pseudo Banco Privado, vem confiando o depósito das suas poupanças, dos seus salários e dos seus lucros, à Caixa Geral de Depósitos. Normalmente, uma tal situação, que a notícia sobre o BPN acima transcrita bem evidencia, conduziria rapidamente à falência dos ditos bancos, cujas cotações no caso do BCP não param de cair. No entanto, que vemos?

Por um lado, vemos uma pessoa idosa e doente —o antigo presidente do BPN—, em prisão preventiva há meses, como se a cratera do BPN não devesse já ter arrastado para o calabouço mais suspeitos da prática de crimes económicos. Vemos o Estado entrar pelo BPN dentro, sob o disfarce de uma nacionalização de emergência, calando-se depois muito caladinho sobre tudo o que encontrou e sobre o futuro do banco. Vemos ainda a Caixa Geral de Depósitos a renegociar créditos atribuídos sem controlo à especulação financeira, em condições altamente discutíveis. Supomos mesmo que a CGD tem vindo a comprar acções do Millennium BCP sempre que este cai aos trambolhões da Bolsa abaixo. Por fim, a Caixa terá já injectado quantias astronómicas de euros no BPN, sem que se saiba exactamente para quê.

Resumindo, o mesmo dinheiro que os depositantes retiram, por óbvios motivos de precaução, do Millennium BCP, do BPN e do gestor de fortunas chamado Banco Privado, tem vindo a regressar àqueles mesmos covis pela mão do Estado! Se tudo isto se faz com falta de transparência, nas barbas do parlamento, do governo e do presidente da república, é porque a teoria de que o essencial escapa à democracia tem pernas para andar!

Vejamos apenas este caso: Joe Berardo pediu centenas de milhões de euros à Caixa Geral de Depósitos para comprar acções do Millennium BCP. Parte do dinheiro usado na compra das ditas acções foi emprestado pela Caixa Geral de Depósitos, e a liquidação do correspondente empréstimo deveria ter ocorrido há alguns meses atrás. No entanto, isso não aconteceu. Ao invés, a Caixa aceitou renegociar em termos altamente vantajosos para o milionário o prolongamento por mais cinco anos dos créditos vencidos, ao que se sabe sem juros, ou pagando juros insignificantes. Independentemente de se avaliar publicamente a qualidade dos colaterais dados em garantia pelo novo empréstimo, a verdade é esta: Berardo dispõe, por mais cinco anos, de umas centenas de milhões de euros à sua inteira disposição, que poderá aplicar em negócios rentáveis, pagando 0% de juros ao banco que aceitou renegociar a dívida neste termos. Se isto não é uma forma de alimentar com dinheiro público o gosto pelo risco de quem há muito se encontra na primeira linha do tipo de especulação que conduziu à actual crise mundial, então não sei o que é.

No meio da tormenta o ruído das baratas pode tornar-se ensurdecedor. As formigas há muito que foram expulsas da mesa de migalhas. Sobram tão só intenções piedosas que na realidade são demagogia fina e nada mais. Os especuladores, esses, não param de conspirar. E agora mais do que nunca.

O governo de Obama está a enviar milhares de milhões de dólares para a falida AIG, mas o dinheiro que lá chega, extorquido aos bolsos do contribuinte americano, está afinal a ser usado para gerar lucros súbitos e extraordinários à mesma banca sombria (nomeadamente o famigerado Goldman Sachs) que irresponsavelmente causou o actual colapso económico-financeiro mundial.

O extracto do artigo que se segue é um lancinante alarme para o que nos espera. Na realidade, caminhamos para uma revolução social sem precedentes.

AIG Was Responsible For The Banks' January & February Profitability
Posted by Tyler Durden at 6:35 PM — Zero Hedge.

Zero Hedge is rarely speechless, but after receiving this email from a correlation desk trader, we simply had to hold a moment of silence for the phenomenal scam that continues unabated in the financial markets, and now has the full oversight and blessing of the U.S. government, which in turns keeps on duping U.S. taxpayers into believing everything is good.

... AIG, knowing it would need to ask for much more capital from the Treasury imminently, decided to throw in the towel, and gifted major bank counter-parties with trades which were egregiously profitable to the banks, and even more egregiously money losing to the U.S. taxpayers, who had to dump more and more cash into AIG, without having the U.S. Treasury Secretary Tim Geithner disclose the real extent of this, for lack of a better word, fraudulent scam.

In simple terms think of it as an auto dealer, which knows that U.S. taxpayers will provide for an infinite amount of money to fund its ongoing sales of horrendous vehicles (think Pontiac Azteks): the company decides to sell all the cars currently in contract, to lessors at far below the amortized market value, thereby generating huge profits for these lessors, as these turn around and sell the cars at a major profit, funded exclusively by U.S. taxpayers (readers should feel free to provide more gripping allegories).

What this all means is that the statements by major banks, i.e. JPM, Citi, and BofA, regarding abnormal profitability in January and February were true, however these profits were a) one-time in nature due to wholesale unwinds of AIG portfolios, b) entirely at the expense of AIG, and thus taxpayers, c) executed with Tim Geithner's (and thus the administration's) full knowledge and intent, d) were basically a transfer of money from taxpayers to banks (in yet another form) using AIG as an intermediary.

For banks to proclaim their profitability in January and February is about as close to criminal hypocrisy as is possible. And again, the taxpayers fund this "one time profit", which causes a market rally, thus allowing the banks to promptly turn around and start selling more expensive equity (soon coming to a prospectus near you), also funded by taxpayers' money flows into the market. If the administration is truly aware of all these events (and if Zero Hedge knows about it, it is safe to say Tim Geithner also got the memo), then the potential fallout would be staggering once this information makes the light of day.


OAM 568 02-04-2009 19:25 (última actualização: 03-04-2009 02:04)

quarta-feira, dezembro 03, 2008

Portugal 54

BPP: quem levou o Governo a mudar de opinião?

Há aqui qualquer coisa que não bate certo!

A primeira opinião de Teixeira dos Santos e a primeira opinião de Victor Constâncio sobre o risco de deixar falir a gestora de fortunas e especuladora financeira BPP confluíram para a tese de que não viria daí mal ao mundo, nem sobretudo nenhum risco sistémico para a "saudável" banca portuguesa. O pedido de 750 milhões de euros difundidos pelo Banco Privado seria, por causa desta confluência, liminarmente recusado. E no entanto, bastou uma reunião de emergência dos principais accionistas do BPP —onde pontificaram nomes como os de Francisco Pinto Balsemão (presidente do Conselho Consultivo), João Vaz Guedes (vice presidente do Conselho Consultivo), Stefano Saviotti (vice presidente), José Miguel Júdice (presidente da Assembleia Geral), entre outros— para que Governo e Banco de Portugal dessem o dito por não dito, lançando-se numa corrida aventureira e ilegal para salvar o mais notório exemplar de shadow banking (1) à portuguesa. Que se terá passado? Que terão ouvido os "socialistas" que tanto os assustou?

Os nossos obscuros economistas e analistas de serviço, mais a generalidade dos telejornais, vêm proclamando desde o Verão de 2007 que a banca portuguesa não só é uma das mais modernas do mundo, como teria colocado todos os preservativos para evitar o fatal Subprime e Derivados tóxicos semelhantes. Começamos a saber agora que não era verdade. A banca portuguesa está falida, como tenho vindo a alertar há mais de um ano. O desastre começou no Millennium BCP, continuou pelo BPN e acaba de estilhaçar a especialista lusitana em Derivados — a muito chic gestora de fortunas, João Rendeiro e C.ª. O problema é que a coisa não vai ficar por aqui!

Pensem apenas nestes números:
  1. Operação de salvamento do Banco Privado: 450 M€
    • Caixa Geral de Depósitos: 120 M€
    • Millennium BCP: 120 M€
    • BES: 80 M€
    • Banco Santander-Totta: 60M€
    • BPI: 50M€
    • Caixa Central de Crédito Agrícola Mútuo: 20 M€
  2. Avales da República ao sector financeiro (estimativas avançadas pelos OCS):
    • CGD: 2000 M€
    • BES: 1500 M€
    • BCP: 1000 a 5000 M€
    • BPI: 2000 M€
    • Santander-Totta: ?
Ou muito me engano, ou os mosqueteiros que decidiram subitamente salvar o BPP encontraram uma boa cobertura (e certamente um grande empurrão!) para recorrer rapidamente ao aval previsto no Orçamento de Estado. Fazem figura de banqueiros bons, quando na realidade estão a matar dois coelhos com uma cajadada: emprestam ao BPP para que este lhes pague os créditos actualmente mal parados e, sem que ninguém repare, obtêm uma autorização da República para se endividarem à grande, em troca de activos contaminados cujo valor não pára de decrescer. Teria sido uma jogada de mestre se todos se calassem (algo cada vez mais difícil no estado em que estamos). As denúncias de Francisco Louçã (BE) e de Paulo Rangel (PSD) prenunciam, pelo contrário, dias difíceis para o pior ministro europeu das finanças, bem como para os reguladores virtuais e cada vez mais nervosos do sector financeiro português. Ao que parece, até o Procurador-Geral da República anda com tonturas!

Mas volto à pergunta inicial: o que é que eles (os governantes) viram, ouviram e souberam da boca, por exemplo, do dono da Impresa, que lhes tirasse o sono, forçando-os a dar o dito por não dito e a lançar-se numa operação de resgate ruinosa e endossada à carteira vazia do contribuinte?

Eu só consigo imaginar uma hipótese: a da existência de muitos milhões de euros oriundos da Caixa Geral de Depósitos e do Fundo de Pensões da Segurança Social entalados na panóplia de produtos financeiros especulativos viabilizados através do BPP, do BCP, do BPN e do BES, entre outros. Se, como é previsível, Pinto Balsemão foi informado sobre coisas parecidas com as que eu estou a supor, podemos adivinhar o seu imenso poder negocial nas difíceis circunstâncias que certamente correm contra a sobrevivência do Banco Privado.

O grupo Impresa, como a generalidade das empresas de comunicação e média, ou estão mal e vão piorar, ou estão assim assim e vão entrar em grandes dificuldades nos próximos dois anos. Não são só as transportadoras aéreas que se vão fundir. É bem provável que a TVI engula um dia destes a SIC! Mas antes que isto aconteça, é mais do que natural e humano que o fundador do Expresso não desista e use de todo o seu poder de destruição mediática para segurar o seu grande sonho.

O Sócrates do PSD (Pedro Passos Coelho) transmitiu recentemente (à TSF) um preocupante recado dos bonecreiros que o animam (Ângelo Correia, Miguel Relvas, etc.): os 20 mil milhões prometidos pela maioria PS não chegam; precisam-se, pelo menos, 30 mil milhões de euros!

O buraco negro dos Derivados não se contenta com os bancos e as gestoras de fortunas. Enquanto mastiga estas iguarias, o seu magnete destruidor começará em breve a sugar gabinetes de consultoria e o resto da economia real. Os ingleses, por exemplo (2), continuam a pagar dívidas da Primeira Guerra Mundial. Portugal não terá a mesma sorte macabra, pela simples razão de que não tem força nem alianças para tal.

E assim sendo, a única coisa decente a fazer é exigir o rápido esclarecimento sobre o efectivo grau de contaminação das nossas finanças, da nossa economia, e das poupanças de cada um, pelo endividamento em cascata resultante das apostas no maior esquema Ponzi de sempre. O saudável e moderníssimo sistema financeiro português deve-nos explicações.


NOTAS
  1. Beware our shadow banking system
    We have a secret banking system built on derivatives and untouched by regulation, says Pimco's Bill Gross. Here's how to protect your pocketbook.
    By Bill Gross, founder and chief investment officer of Pimco
    November 28 2007: 10:58 AM EST (CNN Money)

    (Fortune Magazine) -- The tangled web of subprimes has claimed more than its share of victims in recent months: homeowners by the hundreds of thousands, to be sure, but also those who created, packaged, insured, distributed, and ultimately bought what should have been labeled "junk mortgages" but which by a masterstroke of marketing genius received a more respectable imprimatur.

    "Skim milk masquerades as cream," warned Gilbert and Sullivan over a century ago, and sure enough, today's subprimes, packaged into financial conduits with monikers such as SIVs and CDOs, pretended to be AAA-rated cubes of butter.

    Financial institutions fell for the ruse, and now we all suffer the consequences. Defaults are rising, the dollar's sinking, and -- good Lord! -- even Google's (Charts, Fortune 500) stock price is going down. Something must really be wrong.

  2. Hedge Fund Manager Hendry Bets on Deflation With U.K. War Loans

    By Tom Cahill

    Dec. 1 (Bloomberg) -- Hugh Hendry, who oversees about $500 million as co-founder of Eclectica Asset Management in London, said he’s buying World War I debt on the bet the U.K. is due for its worst round of deflation since the Great Depression.

    The gilts, known as perpetuals because they have no maturity date, have a coupon of 3.5 percent compared with the U.K.’s 4.5 percent inflation rate. Investors hold about 1.9 billion pounds ($2.9 billion) of the securities that still pay interest 90 years after the end of the Great War, according to the U.K.’s Debt Management Office.

    “If you have a deflationary shock, the only instrument that will perform will be government debt,” said Hendry, 39, whose Eclectica Fund returned 38 percent this year, putting it in the top 1 percent of 1,817 funds tracked by Bloomberg. “Inflation is going to be back some day. But forget the next 12 years; it’s the next 12 months that matter.”


OAM 485 03-12-2008 02:24 (última actualização: 20:30)

sexta-feira, setembro 12, 2008

Portugal 46

Os PORCOS do Sul

O ano de 2009 ainda não chegou, mas o panorama económico e social do país, assim como da Espanha e da Grécia, é deprimente. A propósito do fim do milagre da multiplicação dos euros, em larga medida proporcionado pela inundação de liquidez proporcionada pelos fundos da coesão comunitária (que terminarão em 2013), o Finantial Times publicou um artigo sarcástico e demolidor. Chama-se "Porcos no chiqueiro" (Pigs in muck).

"Pigs" é o acrónimo utilizado para apontar com sarcasmo o grupo de países do Sul da Europa: Portugal, Italia, Grécia e Spain (PIGS). Fazer parte dum bestiário qualquer não me incomoda (1): Elefantes, Burros, Leões, Águias, Lagartos... Porcos (já agora pretos!) O que me preocupa é o ponto fatal onde assenta a crítica certeira do FT. No momento em que a Alemanha e os demais contribuintes líquidos da coesão se preparavam para orientar o esguicho de fundos para Leste, os "porcos" voadores do Sul começaram a borregar no chiqueiro das suas economias virtuais, atulhadas de letras por pagar! Consequências: desemprego, inflação e destruição do consumo, salários a cair, precariedade laboral e fuga de capitais! É neste contexto que alguns vêem surgir no horizonte um novo Bloco Central ainda mais coeso, entre José Sócrates, Cavaco Silva e Manuela Ferreira Leite. Eu não creio nesta hipótese. Se a crise evoluir para o desastre (como antevejo), ou quando o desastre ocorrer, só um reforço acentuado dos poderes presidenciais poderá impedir que o regime se afogue no mar de dívidas, corrupção e mediocridade em que se deixou atolar. Numa Euro-América a caminho de uma recessão prolongada e de uma imprevisível crise político-militar, as portas da emigração e da mobilidade profissional intra-europeia estão a fechar-se. Nada mais explosivo, portanto. Cada país terá que se virar e enfrentar os seus próprios demónios.


Porcos no chiqueiro

"Países excitantes obtém acrónimos excitantes, pelo menos nos círculos financeiros. O Brasil, a Rússia, a Índia e a China, por exemplo, países em crescimento rápido, são chamados BRICS [tijolos], as próprias iniciais indicando um crescimento sólido. Outros países têm menos sorte. Vejam por exemplo, Portugal, Itália, Grécia e Espanha [Espanha], às vezes chamados PIGS [Porcos]. É uma alcunha pejorativa mas com muita verdade.

Há oito anos, os Pigs [Porcos] voavam mesmo. As suas economias levantaram voo depois de aderir à Zona Euro. As taxas de juro caíam para mínimos históricos – e eram, com frequência, negativas em termos reais. Tal como o dia sucede à noite, seguiu-se uma explosão do crédito. Os salários subiram, os níveis de dívida incharam, tal como os preços das casas e o consumo. Agora os Pigs [Porcos] caíram no chão.

Pelos números do comércio se pode ver até onde podem cair. Enquanto a Zona Euro, de modo geral, está em equilíbrio, no final de 2007 a Espanha e Portugal tinham défices da balança de transacções correntes equivalentes a 10% do PIB. Nessa altura, a Grécia tinha uns colossais 14%, enquanto o défice italiano de 3% era relativamente respeitável.

A resposta usual a um escancarado défice da balança de transacções correntes é uma forte desvalorização. Mas os Pigs [Porcos] são membros do euro, portanto essa estrada está fechada.

A alternativa seguinte é simplesmente continuar e financiar o défice de alguma forma. Mas isso é cada vez mais difícil de realizar nestes tempos de censura do crédito. Na verdade, a Espanha pode ter um problema particular. No passado, os seus bancos – especialmente as suas cajas [caixas] não cotadas – utilizaram títulos garantidos por activos (ABS), de baixa qualidade, para conseguir dinheiro barato do Banco Central Europeu. Mas o Banco Central Europeu tenciona apertar as suas regras de empréstimo.

Resta, por isso, uma última e muito dolorosa solução. A competitividade pode ser restaurada pela baixa dos salários reais. Por outras palavras, uma depressão profunda. O sinal mais dramático disto pode ser visto em Espanha, onde o desemprego cresceu cerca de um ponto percentual no segundo trimestre [em Portugal não cresce porque o Governo coloca formalmente em formação profissional, cerca de 100 mil desempregados, como revelou o semanário Sol e como se fosse financeiramente e humanamente possível estarem constantemente em formação profissional cerca de cem mil pessoas! -- NT]

A Grã-Bretanha, enfrentando problemas semelhantes nos primórdios dos anos 1990 quando foi acorrentada ao Mecanismo de Taxas de Câmbio comunitário (ERM), retirou a libra do ERM e a desvalorização salvou-lhes a pele. Há quem se pergunte se os Pigs [Porcos], enquanto parte do Euro, não se arriscam a tornar-se bacon." -- Tradução de António Bablbino Caldeira, in Do Portugal Profundo.


Pigs in muck

Finantial Times. Published: August 31 2008 19:35 | Last updated: September 1 2008 09:09

Exciting countries get exciting acronyms, at least in financial circles. Fast-growing Brazil, Russia, India and China, for example, are called Brics, the very initials implying solid growth. Other countries are less fortunate. Take Portugal, Italy, Greece and Spain, sometimes described as the Pigs. It is a pejorative moniker but one with much truth.

Eight years ago, Pigs really did fly. Their economies soared after joining the eurozone. Interest rates fell to historical lows - and were often negative in real terms. A credit boom followed, just as night follows day. Wages rose, debt levels ballooned, as did house prices and consumption. Now the Pigs are falling back to earth.

How far they might drop can be seen in their trade figures. While the eurozone is broadly in balance, at the end of 2007 Spain and Portugal had current account deficits equivalent to 10 per cent of GDP. Greece's, meanwhile, was a whopping 14 per cent while Italy's deficit was relatively respectable at about 3 per cent.

The usual response to a yawning current account deficit is a stiff devaluation. But the Pigs are members of the euro, so that route is closed.

The next alternative is simply to carry on and somehow finance the deficit. But that is increasingly hard to do in these credit-chastened times. Indeed, Spain may have a particular problem. In the past, its banks - particularly the unlisted cajas - have used low-quality, asset-backed collateral to raise cheap funds from the European Central Bank. But the ECB plans to tighten its lending rules.

That leaves the last and most painful solution. Competitiveness can be restored through a drop in real wages. In other words, a deep recession. The most dramatic sign of this can be seen in Spain where the unemployment rate rose by almost a whole percentage point in the second quarter.

Britain, facing similar problems in the early 1990s when it was shackled to Europe's exchange rate mechanism, withdrew sterling from the ERM and the devaluation saved its sausage. Some now wonder if the Pigs, as part of the euro, risk turning into bacon.



NOTAS
  1. Mas incomoda a associação de média espanhola! Aqui vai o link para a carta de protesto enviada ao FT, com este título: "Derogatory acronym is more than just a bad joke", assinada por José Manuel Velasco."


OAM 432 12-09-2008 14:21

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terça-feira, agosto 05, 2008

Portugal 38

Por um Estado experimental
eficiência energética e jornada laboral na Função Pública
EUA: semana de trabalho passa para quatro dias no Utah

5-08-2008. A protecção do ambiente e a poupança de energia estão no cerne da decisão que levou, desde ontem, milhares de funcionários públicos do estado de Utah, nos Estados Unidos, a começarem a cumprir a semana de quatro dias.

Em vez de trabalharem oito horas, cinco dias por semana, 17 mil dos 24 mil empregados estaduais passem a cumprir quatro dias de dez horas de trabalho.

A medida do governador republicano, Jon Huntsman, vai ser colocada em prática durante um ano, para depois ser avaliada. -- in Rádio Renascença online.

Há coisas urgentes a fazer para mitigar a crise energética em curso. Uma delas é olhar para o imenso gasto energético do Estado e ver onde podemos poupar, antes de continuar a reduzir os rendimentos reais de quem trabalha. Claro que para dar um passo destes é preciso ultrapassar, em primeiro lugar, a rigidez constitucional, legislativa, política, corporativa e sindical da nossa sociedade. A democracia portuguesa, pela sua adolescência e pelo modo atribulado como se foi estruturando desde a aprovação da actual constituição e das sucessivas revisões promovidas pelo Bloco Central, está longe de ter a maturidade cultural e política que lhe permita dar passos bruscos neste sentido sem correr imediatamente o risco de as boas intenções darem lugar a uma potencial perda de direitos sociais em catadupa. A demagogia sindical colhe nesta fragilidade óbvia da nossa democracia boa parte das suas razões de peso.

Todos sabemos que não há em geral funcionários a mais, nem custos excessivos, quando comparamos os números portugueses com as médias europeias. Mas também sabemos, por outro lado, que a qualidade dos serviços prestados é especialmente medíocre e insuficiente em domínios tão críticos como os da segurança social, cuidados médicos e justiça (já para não mencionar a insuficiência manifesta dos serviços democráticos prestados pela Assembleia da República).

A educação pública é um caso especial, fruto do anacronismo ideológico que persiste em volta da instanciação simbólica do poder e da incompreensão do colapso consumado dos tradicionais aparelhos ideológicos de Estado. O modo como vemos ainda o direito à educação traduz um enviesamento cultural das nossas convicções sobre o lugar certo do conhecimento e das etiquetas sociais nas democracias tecnológicas avançadas. A reprivatização da escola, mais do que um simples negócio oportunista, é uma tendência de fundo, na família nuclear, na família alargada, nos espaços comunitários reais e virtuais, na comunidade virtual alargada, na empresa, na escola associativa, na universidade de empresa, nas redes sociais disciplinares ou nos tanques cognitivos. Mas se assim for -- pergunta-se --, será que Estado terá ainda algumas obrigações neste domínio? Certamente que sim, sobretudo como estratega da facilitação, da transparência processual, da igualdade de oportunidades, do estímulo económico e fiscal, da monitorização e da certificação. Mas já não como produtor, controlador e filtro dos corpos ideológicos do Estado. Todavia, como terá que ser o Estado a dar o primeiro passo, o seu papel nesta verdadeira metamorfose cultural será decisivo. A noção de um Estado experimental seria muito útil para abordarmos convenientemente este problema.

O aparelho de Estado, para lá do crescimento saudável em áreas de prestação de serviços à comunidade que não casam por definição e lógica com o sector privado lucrativo -- i.e., a segurança social, o serviço nacional de saúde, a justiça, os serviços de emergência, segurança pública e defesa --, tem sido usado em Portugal, ao longo das últimas décadas, como uma bolsa de contenção dos efeitos sociais nefastos da falta de emprego na economia produtiva; como base de fidelização eleitoral por parte dos principais partidos do sistema; e ainda como um escandaloso e inaceitável limbo de tráfico de influências e atribuição de situações de privilégio profissional e económico, em larga medida gerido na sombra por uma partidocracia clientelar que, pelo menos em parte, sequestrou o actual regime constitucional.

A consequência mais grave desta perversão burocrática da democracia foi o esvaziamento técnico do Estado, ou seja, a progressiva substituição dos profissionais competentes que em cada direcção-geral, serviço, organismo autónomo ou entidade pública, asseguravam isenção e qualidade nas decisões, por uma mancha viscosa de empregados políticos ignorantes, arrogantes e irresponsáveis. Para alterarmos esta situação, pouco ou nada poderemos esperar do actual sistema parlamentar, a menos que consigamos mudar a sua natureza oportunista. Por exemplo, forçando a redução do actual número de deputados, impondo um regime de dedicação exclusiva a todos os eleitos, limitando a duração dos mandatos a duas legislaturas, criando regras de proporcionalidade baseadas em quotas máximas (número máximo de advogados, de funcionários públicos, etc.), para além das actuais quotas mínimas e paridades de género. O surgimento de novos partidos seria, por outro lado, a espoleta mais do que necessária ao desencadear desta pequena revolução.

Mas voltemos ao que o actual governo e o próximo poderão fazer sem precisar de esperar pelo refrescamento, na realidade inadiável, do actual regime político.

Assim como os americanos do estado de Utah resolveram adoptar experimentalmente a semana de quatro dias no sector da administração pública, esperando conseguir uma substancial redução dos gastos improdutivos com o consumo de energia, ou os espanhóis há vários anos decidiram estabelecer a regra do horário contínuo na Função Pública (das 8 às 15), também nós poderíamos ensaiar algo de radical e inovador nos hábitos funcionais da nossa administração pública, em vez de a deixar atolar-se em conflitos laborais surdos, intermináveis e irresolúveis mantendo-se os actuais paradigmas culturais.

Imaginem que o Estado, salvo serviços especiais e urgentes, passava a funcionar quatro dias por semana, nove horas por dia, de Segunda a Quinta Feira. Quantos milhões de euros seriam poupados em energia eléctrica, água, telecomunicações e despesas de economato? Ficariam coisas por fazer, por causa desta mudança de hábitos? Não creio, sobretudo se todos passassem a trabalhar 36 horas por semana, em vez das actuais 35, recebendo uma compensação na duração total das férias, que passaria a ser de 5 semanas e 3 dias, em vez dos actuais 30 dias.

Haveria mais tempo para os trabalhos de casa, familiares ou outros. Sobraria tempo para experimentar ou prosseguir novas vocações e actividades. Haveria tempo para compaginar sem atropelos a vida real com a vida virtual. Criar-se-ia uma formidável força de trabalho voluntário a favor de todos e cada um. Haveria tempo para construir redes sociais e cognitivas comprometidas com os exigentes desafios energéticos, alimentares, sociais e climáticos que se aproximam. Em suma, o Estado reduziria a sua factura energética, tornaria a sua actividade mais compacta e eficaz, e no fim pouparia os cidadãos a cargas fiscais desmedidas, que estes, mais cedo ou mais tarde, deixarão de poder suportar e contra as quais se revoltarão se entretanto não pusermos a imaginação de Estado a trabalhar.


OAM 404 5-08-2008 15:34

sexta-feira, julho 18, 2008

Portugal 34

Vagina dentata

Era uma vez um diabo que vivia dentro da vagina de uma bela moça. Por duas vezes a moça tentou casar. Mas de cada uma das tentativas o demónio castrou o noivo durante a ansiada noite de núpcias. Foi então que um ferreiro decidido e com imaginação resolveu enfrentar o diabo da vagina. Fundiu e moldou um grande pénis de aço. A primeira noite enfim chegou. Depois de penetrar com vagar e cuidado a nervosa e húmida concha da sua amada, ouviu-se um medonho grito de dor. Não não foi a noiva! Foi o diabo!!! O pénis de aço surtira efeito. Os dentes do demónio acabavam de ruir, salvando-se assim a vida do valente e arguto ferreiro.

Desde essa longínqua data que em muitos lugares da Terra se celebra a coragem daquele enorme e poderoso falos, a quem devemos o direito ao prazer e à procriação. Hoje, no conhecido Festival do Falos de Aço, que tem lugar na primeira semana de Abril numa pequena localidade japonesa, a celebração e parte das suas receitas são dirigidas para o combate ao flagelo da SIDA. Um bom exemplo de reciclagem cultural.

O velhíssimo mito da vagina castradora é um bom símbolo para os períodos de pânico que ciclicamente afligem os indivíduos e as sociedades. No que agora nos toca, o caso mental português, bem melhor seria que as Caldas da Rainha renovassem a sua indústria fálica, do que ouvirmos as patetices nucleares do bétinho a quem deram a poltrona do impotente Banco de Portugal!

A indústria cerâmica das Caldas, onde o Rafael Bordalo Pinheiro realizou algumas das mais extraordinárias peças da escultura portuguesa em barro cozido e vidrado, está a morrer. Não esperem pelo Constâncio! Renovem a vossa indústria cerâmica com um grande festival artístico de Verão, e dediquem a Primavera ao Amor! Façam da Arte e do Erotismo a vossa especialidade. Não confiem nos políticos. Chamem de volta os vossos artistas, que tanto sucesso vão fazendo em Barcelona e noutras paragens. Libertem a vossa escola de arte dos burocratas e dos gangs partidários. Despachem-se!

OAM 395 18-07-2008 13:02

segunda-feira, julho 14, 2008

Portugal 33



As respostas espanhola e portuguesa à crise: que diferença!

El futuro vuelve en tren en septiembre
San Vicente de Alcántara vibra estos días al ritmo de la maquinaria que retira las viejas vías y que instalará una nueva línea que lo conectará con la modernidad.

13-07-2008. Perdidos. Sudorosos y ya morenos por el sol, caminan por la vieja vía con sus chalecos amarillos. Unos jóvenes topógrafos buscaban esta semana un punto exacto en mitad de la sierra de San Pedro para realizar unas mediciones del terreno, y aunque la belleza del paisaje que les rodea era arrebatadora, hacía mucho calor, y ellos no estaban para poesía.

La zona es muy visitada por turistas y amantes de la naturaleza que quieren disfrutar del paisaje o hacerse con alguna de las mejores piezas de caza que abundan por la sierra, pero ellos tenían que medir los desniveles del terreno en la línea ferroviaria Madrid y Lisboa, en el tramo entre Herreruela-San Vicente de Alcántara, y aún les quedaba mucho trabajo por delante. Todo el verano, como mínimo.

La línea está ahora cortada. Desde el último descarrilamiento del 'Lusitania' (Madrid-Lisboa) que ocurrió en la zona, el 19 de enero de este año, ningún tren ha vuelto vuelto a circular por la vía.

Pero el silencio impuesto se ha roto esta semana al comenzar las obras de renovación de la línea entre las estaciones de Herreruela y Valencia de Alcántara. -- Celia Herrera, Hoy.es.

Vale a pena ler na íntegra a edição número 15 de A Verdade, dedicada a sublinhar as diferenças entre as estatísticas e as respostas políticas governamentais de Portugal e Espanha. São chocantes! A administração da coisa pública espanhola revela a existência de rumo e consistência, apesar da rotação do poder se fazer em torno de dois partidos muito mais afastados ideologicamente entre si do que os manos incestuosos do nosso Bloco Central. No caso lusitano, fica claramente à mostra o cretinismo político que nos desgoverna há décadas.

Entretanto, a nossa crise, que só em parte deriva da importação dos males dos outros, soma e segue a caminho do abismo. Realço em seguida alguns tópicos mais recentes, e finalizo com um cardápio de sugestões gratuitas ao Governo.
  • Primeiro problema: os bancos privados (BPI, BCP, etc.) caminham rapidamente para uma gravíssima crise de liquidez, as quais podem facilmente terminar em falência. Os anúncios dos prejuízos de exploração vêm aí!

    A tríade de Macau prepara-se para atalhar este problema recomendado ao Executivo o mesmo embuste descortinado pelo FED para fazer desaguar os custos do buraco negro financeiro americano no resto do mundo , i.e.: "nacionalizar" os bancos em fase de implosão irreversível, por forma a transferir os buracos e as dívidas dos especuladores privados para as costas dos contribuintes!!

  • Segundo problema: estamos a caminho de uma paragem cardíaca do sistema financeiro.

    É que diminuindo drasticamente a circulação monetária, efeito da catastrófica queda do valor especulativo das empresas (incluindo os bancos) e do aumento do endividamento (provocado pela subida das taxas de juro e dos spread, bem pelo atraso acumulado dos incumprimentos financeiros das dívidas públicas e privadas), ocorre um efeito de dominó sobre toda a economia: falências empresariais e pessoais, desemprego e grave crise institucional.

    O Governo português está desesperado e procura uma solução qualquer, nomeadamente sob a pressão monumental da banca, dos donos do betão e dos especuladores profissionais, conhecidos financiadores da actividade partidária.

  • Terceiro problema: a polémica em volta das Grandes Obras e o atraso do peditório nacional chamado QREN, estão a desencadear fugas em frente avulsas e desmioladas por parte da incompetente Ana Paula Vitorino (o Dromedário-Mor já só deve estar a pensar para onde irá a seguir...)

    Em vez de modernizar criteriosamente a linha férrea convencional, nomeadamente finalizando, com pés e cabeça, a modernização da Linha do Norte(1), e interligando esta última com a Linha do Oeste, que por sua vez precisa de ser electrificada e ver modernizado o seu sistema de sinalização), enquanto a Alta Velocidade espera por melhores dias, o MOPCT decide construir novas sedes para a CP e fazer ramais, variantes e anéis ferroviários inúteis, satisfazendo os imbecis do betão e os ávidos autarcas, em plena sintonia com as estratégias da tríade para a campanha eleitoral de 2009. A SEDES teve absoluta razão no diagnóstico publicado!

10 Conselhos (gratuitos) ao Governo:
  1. forme-se um gabinete de crise (energética, económica e ambiental), encarregado de eleger e supervisionar a aplicação de um conjunto limitado e bem estudado de medidas, que os ministérios deverão executar sob vigilância apertada do PM e do Gabinete de Crise;
  2. dê-se prioridade aos projectos estruturantes e evitem-se fugas em frente, caras, irresponsáveis, e eleitoralistas;
  3. aposte-se na recuperação inteligente da rede ferroviária convencional, tendo presente que a prioridade deve ir para as linhas estruturantes da rede: Linha do Norte, Linha do Oeste e Linha do Douro;
  4. aposte-se nas ligações de Alta Velocidade/ Velocidade Elevada entre Lisboa e Madrid (turismo e negócios), entre a Galiza e o Porto (consolidação da capital nortenha como cabeça do Noroeste Peninsular) e entre Aveiro e Salamanca (exportações!)
  5. reserve-se Alcochete para melhores dias e aposte-se imediatamente na modernização efectiva da Portela (não a balbúrdia e acumulação de erros recentes), bem como na activação urgente da Base Aérea do Montijo para as companhias de Low Cost, salvando-se assim a TAP e o potencial aeroportuário estratégico de Lisboa!
  6. defina-se o transporte marítimo de longo curso e de cabotagem como prioridade estratégica nacional, com tudo o que isso implica de novos e grandes investimentos na renovação dos portos portugueses e respectivas acessibilidades, bem como no renascimento de uma indústria naval à altura das nossas necessidades e capacidades (este é um dos raros sectores onde Portugal tem uma vantagem competitiva potencial relativamente à Espanha);
  7. ataque-se sem dó nem piedade as mais nocivas corporações do país: juízes, advogados e médicos;
  8. ponham-se os sindicatos na ordem, criando-se regras claras e intransigentes de relacionamento;
  9. alargue-se o princípio da limitação de mandatos aos deputados e a todos os órgãos eleitos em entidades consideradas ou a considerar de interesse público: sindicatos, ordens, associações académicas e culturais, empresas cotadas em bolsa, etc....
  10. preparem-se medidas especiais de apoio à insolvência pessoal e das PMEs (neste caso, por exemplo, sob a forma de programas de incentivos à reconversão e eficiência energéticas).
Quem avisa...


NOTAS
  1. Ler a este propósito dois documentos oportunos de Rui Rodrigues: A Encruzilhada da Linha do Norte (2002) e Mudar Bitola na Linha do Norte (2004).

OAM 392 14-07-2008 19:13 (última actualização: 15-07-2008 10:36)

terça-feira, maio 20, 2008

Mix Energetico

Lula da Silva apoia cultivo do Pinhão Manso (Jatropha curcas)
Presidente brasileiro, Lula da Silva, apoia a plantação de 1 milhão de hectares de Pinhão Manso (Jatropha curcas) para produzir biodiesel. Uma ideia sustentável?

Emergência Energética Global

"The use of vegetable oils for engine fuels may seem insignificant today, but such oils may become in the course of time as important as petroleum and the coal tar products of the present time." -- Rudolph Diesel, 1912.

30/04/2008 08:06 - "As plantações de cana-de-açúcar no Brasil destinadas à produção de etanol ocupam apenas 1% do total de área cultivável - 3,6 milhões de hectares de um total de 355 milhões -, sendo suficiente para abastecer metade do consumo de combustível dos automóveis." - Câmara Portuguesa de Comércio no Brasil.

Cento e sessenta milhões de dólares estão a ser investidos neste momento no cultivo da Jatrofa, em Moçambique, nas províncias de Nampula (Norte) e Sofala (Centro). "O projecto está a ser promovido pela empresa portuguesa Enerterra SA, e destina-se a produção de bio-combustíveis no País.
O montante será usado igualmente na instalação da fábrica, a ser edificada provavelmente no distrito de Nacala-Porto, Província de Nampula. O Director Executivo da Enerterra, Viannes Vales, disse que as previsões apontam para a produção anual de quatrocentas mil toneladas de Jatrofa nas duas províncias. Os combustíveis terão como mercado prioritário a Europa, mas serão acomodadas as necessidades locais." -- O AUTARCA - 03.04.2008

Chineses querem produzir biodiesel de jatropha em Moçambique

"Quatro companhias chinesas apresentaram propostas de cultivo de 30 mil hectares de jatrofa, ou pinhão manso, (planta típica da África e da América), em Nampula (norte), para a produção de biodiesel.

... "Dados da direção da Agricultura em Nampula revelam que a província superou a meta do plantio da jatrofa ao alcançar 221 hectares, contra os 105 da última safra.

Basta observar a atual corrida dos mercados financeiros e respectivos fundos de investimento em direção aos biocarburantes (biodiesel e bioetanol), e o envolvimento direto das empresas petrolíferas e energéticas no negócio, para percebermos que uma nova bolha especulativa está em plena formação. Chamem-lhe a BOLHA VERDE! Os protagonistas no terreno pressionam os governos, aturdidos pelas sirenes da alta do petróleo, para que lhes subsidiem os novos carburantes e em geral as energias alternativas. Pressionam os agricultores para enveredarem pelo cultivo intensivo dos agro-carburantes e, claro está, adoptarem os Organismos Geneticamente Modificados. Procuram entrar nos países com grandes áreas agrícolas efectivas e potenciais para aí implementarem os seus projectos de agro-carburantes. Contratam agências de comunicação e põem-nas a trabalhar na grande campanha mediática da década. Mas será que faz sentido?
"...the United States has already wasted a lot of time, money, and natural resources... pursuing a mirage of an energy scheme that cannot possibly replace fossil fuels... The only real solution is to limit the rate of use of these fossil fuels. Everything else will lead to an eventual national disaster." -- TADEUSZ W. PATZEK.

"It requires production equivalent to 0.5 ton of grain to feed one person for one year, a value sufficiently large to allow some production to be used as seed for the next crop, some to be fed to animals, and some land to be diverted to fruit and vegetable crops. Compare this value with that for a car running 20,000 km/year at an efficient consumption of 7 liters/100 km. The required 1400 liters of ethanol would be produced from 3.5 ton grain (2.48 kg grain/liter), requiring an agricultural production seven times the dietary requirement for one person. Agriculture now provides, with some shortfalls, food for 6 billion people and will need to feed 9 billion by 2050, while conserving natural resources. From an agronomic perspective, increasing food production to this level during the next 50 years is an enormous challenge. -- DAVID CONNOR AND INÉS MÍNGUEZ.

Um automóvel que ande 20.000 Km por ano precisará de um 1,4 hectares de terra arável para satisfazer o seu consumo anual de biodiesel. Ou seja, se todos os 850 milhões de automóveis ligeiros e pesados, de passageiros e mercadorias, que circulam no planeta fossem alimentados exclusivamente com biodiesel derivado do Pinhão Manso (Jatropha curcas) -- a planta melhor colocada na corrida dos biocarburantes (pois não é uma planta alimentar) --, seria necessário dedicar 1.190 milhões hectares de terra arável para alimentar a frota automóvel mundial. A terra produtiva disponível no planeta é aproximadamente (ver Wikipedia) de 3.100 milhões de hectares. No entanto, 40% desta terra está seriamente degradada e tudo aponta para que esteja irremediavelmente irrecuperável no futuro, pois haverá cada vez menos recursos para investimentos subsidiados como os que seriam precisos para reverter a erosão galopante dos solos agrícolas e florestais em todo o mundo. Ou seja, restam pouco mais de 1.860 milhões de hectares para alimentar 6.664 milhões de pessoas e uns 900 milhões de motores! A missão é obviamente impossível! Ou dito doutro modo, os biocarburantes não podem ser cultivados em terra agrícola disponível para a produção de alimentos, mas apenas, e sob controlo político apertado, nos 40% de terras outrora aráveis e hoje degradadas, se para tal houver recursos financeiros disponíveis, e ainda substituindo parcialmente culturas ameaçadas, como a do Tabaco -- que poderia reduzir para metade os 4 milhões de hectares dedicados a um produto cujo consumo vem sendo dificultado por um número rapidamente crescente de países.

Se o mundo pretendesse chegar, como a Europa pretende, em 2010, à meta dos 5,75% de biodiesel incorporado nos gasóleos, e admitindo que se utilizaria apenas a oleaginosa que parece oferecer o melhor rendimento e fiabilidade produtiva, e o menor estrago ambiental, ter-se-ia que dedicar ao cultivo do Pinhão Manso (Jatropha curcas), em todo o mundo, qualquer coisa como 68 milhões de hectares - quase 20% da superfície cultivável do Brasil. Mas de que serve um objectivo tão tímido se o crude chegar aos 150 USD no fim deste ano, aos 200 no fim de 2009... e aos 300 em 2015?! Só percentagens de incorporação de biocarburantes claramente superiores poderiam mitigar o caos que a actual emergência energética irá seguramente causar nas sociedades e na política mundial se nada de inteligente e justo se fizer entretanto.

Ponhamos pois a fasquia nos 30% de incorporação de biodiesel no gasóleo, percentagem para que estão preparados os motores a diesel da nova geração. Considerando de novo que a proveniência do biodiesel seria o Pinhão Manso (Jatropha curcas), o mundo precisaria agora de alocar à sua produção qualquer coisa como 357 milhões de hectares. Mais dois milhões de hectares do que toda a superfície cultivável do Brasil. Para quem não souber, convem dizer que o país de Lula é só o segundo maior país do planeta, logo depois dos Estados Unidos, se considerarmos apenas as áreas habitáveis dos cinco maiores países do mundo. É certo que a Rússia, o Canadá e a China são maiores do que o Brasil em território absoluto, mas convém saber que são mais pequenos se em cada um deles descontarmos as respectivas áreas geladas e desérticas improdutivas.

O biodiesel e os biorcarburantes em geral não passam pois de alternativas de emergência ao pico petrolífero. Temporárias, insuficientes e que raramente pagam impostos! E a explicação para esta transitoriedade é simples: se algum dia fossem produzidos na proporção máxima tolerada pelos actuais motores a diesel (30%), a capacidade de o planeta alimentar as suas criaturas ficaria irremediavelmente comprometida. Ora tal não pode acontecer!

O problema energético actual tem, em suma, que ser visto como aquilo que é: uma emergência real e global, que exige respostas globais, rápidas, bem informadas, criativas, tecnicamente competentes e democraticamente supervisionadas. Menos do que isto, ou deixar as coisas como estão, i.e. num impasse e entregues aos oportunistas de ocasião, só poderá conduzir o mundo ao desastre.

Biofuels: Biodevastation, Hunger & False Carbon Credits

Europe's thirst for biofuels is fuelling deforestation and food price hikes, exacerbated by a false accounting system that awards carbon credits to the carbon profligate nations. A mandatory certification scheme for biofuels is needed to protect the earth's most sensitive forest ecosystems, to stabilise climate and to safeguard our food security. -- Dr. Mae-Wan Ho
Na Europa, para produzir biocarburantes, preferiu-se até agora, por ordem decrescente, o trigo (!), os excedentes de álcool vínico (o mau vinho pode dar bons biocarburantes, mas atenção ao preço do vinho!), a beterraba açucareira (!), o centeio (!), a cevada (!), o milho (!) e a biomassa florestal. O impacto desastroso sobre os preços alimentares destas opções lideradas pela Alemanha e pela Espanha está à vista e o recuo será inevitável.

A produção doméstica e industrial de biocarburantes a partir do aproveitamento de resíduos tem futuro, mas não chega para atender à emergência energética actual. O aproveitamento das algas para produção de biodiesel (as chamada petro-algas) poderão fazer alguma diferença, mas a sua exploração está ainda numa infância puramente experimental, nomeadamente em Portugal, através do consórcio luso-canadiano Vertigro/SGCEnergia (Grupo SGC, de João Pereira Coutinho.)

Apesar da corrida aos biocarburantes, a verdade é que ela não resolverá por si só o problema gigantesco que temos pela frente. E por outro lado está a provocar uma subida dramática dos preços alimentares à escala mundial. As consequências políticas desta troca egoísta de pão por petróleo serão gigantescas e muito perigosas para a estabilidade política mundial. Os governantes terão forçosamente que alterar o rumo das decisões. Por mim, a única prioridade defensável e reprodutiva é a que souber apontar para uma alteração faseada e consistente do actual paradigma energético. O modelo económico do crescimento contínuo e do consumismo tem que desaparecer. E no imediato, para nos defendermos da escassez e da alta dos preços dos derivados do petróleo teremos que aumentar radicalmente a eficiência energética das nossas cidades, das nossas economias e das nossas vidas. Sem reduzir, recuperar, reciclar e diversificar a nossa pegada ecológica não iremos a parte nenhuma. O colapso da nossa civilização já esteve mais longe!



REFERÊNCIAS
  • Os falsos créditos do carbono no biodiesel de Jatrofa no sul de África
    por Mae-Wan Ho

    "De acordo com as regras internacionais, nenhum dos gases com efeito de estufa ligados à produção de biocombustíveis será atribuído ao sector dos transportes. As emissões decorrentes da produção do biocombustível serão levadas à conta das emissões da agricultura e indústria e/ou sector energético. Do mesmo modo, todas as emissões provenientes do cultivo e refinação nos países do Terceiro Mundo, serão levadas à conta das emissões desses países, portanto um país, como o Reino Unido, que importe o biocombustível pode utilizá-lo para melhorar a sua quota de gases com efeitos de estufa. Isto permite que as nações importadoras ricas possam reduzir parte das suas emissões e reclamar os louros por fazê-lo ao abrigo do Acordo de Quioto. Foi assim que surgiram as plantações de árvores Jatrofa no Malawi e na Zâmbia."

    "As plantações de Jatrofa podem ter graves impactos na protecção dos alimentos e da energia da região, principalmente se se expandirem. Até agora, ainda não se fez qualquer análise do ciclo de vida nem qualquer estudo de sustentabilidade do biocombustível da Jatrofa.

    ..."Estimei que se todos os desperdícios biológicos e do gado na Grã-Bretanha fossem tratados com digestores anaeróbicos obter-se-ia mais de metade do combustível de transporte do país (...). É verdade que os veículos precisam de um motor diferente, mas já existem carros desses no mercado, e os carros alimentados a biogás de metano têm descargas tão limpas que foram eleitos como os carros ambientais do ano em 2005.

  • Produzir Jatrofa para matar?
    ....lamentações dos camponeses em Namacurra

    O cultivo da jatrofa constitui uma prioridade nacional, ou seja, mais um cavalo de batalha no combate a pobreza absoluta, segundo declarou ainda este ano o presidente da República de Moçambique Armando Emílio Guebuza. Desde a sua declaração como um imperativo em Moçambique, um pouco por este país são reproduzidos os mesmos discursos do Presidente da República, desde ministros, governadores, passando para administradores até ao chefe ou secretários das zonas, falam da jatrofa como sendo uma cultura que produzida em quantidades pode aliviar a pobreza absoluta.

    Recentemente Pio Tameliua técnico agrário afecto no distrito de Namacurra apareceu aos camponeses associados de Furquia posto administrativo de Macuse distrito de Namacurra onde teria explicado das suas vantagens e desvantagens. Falando das desvantagens Tameliua disse que a planta da jatrofa é tóxica e que requer um tratamento especial. "ao produzirmos a jatrofa temos que ter em conta que ela mata é muito tóxica, temos de ter muito cuidado com ela" - alertou aquele técnico para depois acrescentar que "temos que pastar os nossos cabritos longe da machamba da jatrofa por que se o cabrito come ele morre o mesmo risco corre o homem sobretudo as crianças que nem devem brincar perto dela" - disse. Pediu igualmente que mesmo as galinhas, patos entre outros animais não devem comer, devem ser protegidos no sentido de não comerem a planta da jatrofa.

    Este discurso provocou terror no seio dos camponeses que estavam longe de pensar sobre os cuidados a ter com aquela planta cuja finalidade é produzir biodísel. Manganhia Manganhia um camponês do posto administrativo de Macuse que falou a nossa Reportagem disse que com estes perigo que ela representa na comunidade não havia razão de tanta promoção como um mecanismo de combater a pobreza. "Se eles próprios sabem que mata, como é que nos dizem para produzir?" – questionou aquele camponês visivelmente arrepiado com aquela explicação que considerou de ameaçadora. "Nós sobrevivemos das nossas galinhas, e um pouco dos nossos cabritos que criamos no âmbito de desenvolvimento, como é que viveremos quando eles morrerem devido a jatrofa?" – voltou a questionar tendo de seguida concluído que a jatrofa vai tornar as famílias miseráveis, uma vez que segundo suas palavras a jatrofa poderá trazer luto nas famílias sobretudo crianças dada a sua vulnerabilidade.

    O nosso entrevistado disse igualmente não haver explicação clara sobre o seu rendimento. "Ainda não nos explicaram quanto dinheiro podemos obter em cada hectare por exemplo e nem sabemos quantas plantas são necessárias para fazer um litros do tal biodísel" - disse. Falou igualmente que os discursos que tem sido lançados nas comunidades nunca dão conta dos valores monetários da sua comercialização. -- in Diário da Zambézia (23.10.2006).


  • The bumpy road to clean, green fuel
    by Charles Mkoka and Mike Shanahan

    4 November 2005. Osman Ibrahim is encouraging farmers in Malawi to abandon their traditional tobacco crops and enter the energy sector - by planting a tree called jatropha (Jatropha curcas).

    Its seeds contain an oil that can be blended with conventional gasoline or diesel to make 'biodiesel', an eco-friendly alternative to fossil fuels. Pure, the oil can be used for cooking, lighting or generating electricity. And the range of by-products includes glycerin - used in cosmetics - and 'seed cake', which is re-processed and used as an organic fertiliser.

    Ibrahim, who heads an organisation called the Biodiesel Agricultural Association, considers the tree to be a kind of 'green gold', a cash crop that can boost rural incomes in poor countries while helping address issues ranging from climate change to soil erosion.

    Ibrahim is not alone, nor is Malawi unique. Elsewhere in Africa, and in parts of Asia and Latin America, plantations of jatropha are appearing.

    In Indonesia last month, the heads of six major energy companies gathered with the governor of the central bank, a dozen cabinet ministers and representatives of universities and local development organisations to sign a declaration supporting government plans to produce jatropha oil on a large scale.

    According to the plan, by 2009 Indonesia will have ten million hectares of jatropha plantations, each hectare yielding enough oil to produce 1,000 litres of biodiesel a year.


  • Portugal e Canadá investem nas Petro-algas




    BRUSSELS, BELGIUM -- 07/26/07 -- Vertigro and SGCEnergia, the biofuels division of the SGC Group of Portugal (João Pereira Coutinho), have agreed to form a joint venture company to produce Vertigro algae biodiesel feedstock. Vertigro is jointly owned by Valcent Products Inc. (OTCBB: VCTPF) ("VCTPF") and Global Green Solutions Inc. ("GGRN").

    The agreement calls for SGCEnergia to build and operate a Vertigro pilot plant near Lisbon, Portugal which will also serve as a research and development facility for Vertigro technology applications and projects in Europe.

    Glen Kertz, CEO of Valcent Products Inc. notes, "This Joint Venture company is the first of many commercial applications of the Vertigro technologies overseas which will form the basis of rapid development within Europe and Africa." According to recent Frost and Sullivan research, approximately 9.5 million tonnes (224 million gallons) per year of biodiesel will be required to meet the European Union's directives that biodiesel become 5.75% of transport fuels.

    "We are excited to team up with one of the world's leading providers of algae-to-biodiesel feedstock technology," said Vianney Vales, CEO of SGCEnergia. "This agreement is a significant milestone for SGCEnergia's planned production of second generation biofuels."

    Construction of the pilot plant is slated to begin in late 2007. Under the terms of the agreement, SGC is committed to building additional large commercial-scale facilities in Portugal as well as other countries in Europe. Plants will also be built in Africa. As Vertigro algae thrives on the absorption of carbon dioxide, significantly reducing greenhouse gases, the plants will be constructed near major sources of carbon dioxide emissions. - The Earth Times.

OAM 364 20-05-2008, 03:42 (última actualização: 19:40)

terça-feira, maio 13, 2008

PPD-PSD-6

Pedro Passos Coelho, PSD
Pedro Passos Coelho, a juventude como oportunidade. Web do candidato.

Aposta com futuro

Passos Coelho apresenta-se como a melhor alternativa social-democrata a Sócrates

02.05.2008 - 20h14 Público. Pedro Passos Coelho afirmou hoje que é o candidato à liderança do PSD com melhores condições para destronar José Sócrates e defendeu que só é possível construir uma alternativa de Governo com "caras novas".

"Se em duas semanas de campanha alguém que não foi primeiro-ministro, ministro, nem secretário de Estado, consegue obter 15,5 por cento das preferências dos portugueses - não do PSD porque no PSD sou muito conhecido - e a possibilidade de impedir uma maioria absoluta, imagine o que não pode ser a progressão num ano de campanha eleitoral centrada nos portugueses e a apostar numa nova geração que traga uma política diferentes", disse.

Passos Coelho desafia adversários a revelar programas para se saber quem está próximo do PS

12.05.2008 - 20h45 Lusa/Público. Pedro Passos Coelho desafiou hoje os seus adversários à liderança do PSD a revelarem o que pensam e apresentarem os seus programas para que os militantes saibam quem está mais próximo do PS.

"Quero fazer um apelo aos outros candidatos: Seja nos debates que vão ocorrer na televisão, seja no debate que já vai ocorrendo dentro do PSD, não esperem pelas eleições para dizer o que pensam, comecem a dizer hoje para que os militantes saibam o que vão escolher", declarou Passos Coelho, na sua sede de candidatura, em Lisboa.

12.05.2008 - Lusa/SOL. Hoje de manhã, numa entrevista ao Rádio Clube, Pedro Santana Lopes defendeu que Manuela Ferreira Leite deveria abandonar a corrida por «dar a entender que não votou no PSD» numa entrevista ao Jornal de Notícias, no domingo.

A subida meteórica das expectativas no jovem candidato à liderança do PSD é um sinal dos tempos. Os portugueses, votantes ou não no partido laranja, e por maioria de razão os eleitores do PPD-PSD, não crêem mais nas virtualidades dos senadores do regime. Toleram Cavaco Silva, espécie de águia atenta e exigente sobrevoando a praia lusitana; escutam o velho Mário Soares, pela sua eterna e comovente bonomia; talvez votem uma vez mais em Manuel Alegre, sobretudo se a situação económica continuar a degradar-se e o PPD-PSD persistir em querer suicidar-se. Mas ficam por aqui. O resto do Bloco Central, espécie oportunista em vias de extinção, não tem já nada para dar. Durão Barroso percebeu o significado da coisa, e José Sócrates, devidamente lubrificado pela tríade de Macau, também! Os populismos de sinal contrário ensaiam, entretanto, as suas gargantas esganiçadas. Dispõem de probabilidades crescentes de êxito, porque, num certo sentido, os tempos mais próximos pertencem-lhes. Mas ainda assim, há quem e bem prefira acreditar que o país está preparado para uma maior sofisticação democrática. E que numa tal suposição, o sistema partidário pode e deve sofrer duas rupturas profundas (uma no PPD-PSD e outra no PS) seguidas de uma reestruturação do apodrecido xadrez político-partidário. Este xadrez precocemente envelhecido pesa sobre o futuro colectivo da espécie lusitana como um lastro de retórica vazia, quando do mesmo deveríamos poder esperar que fosse um tabuleiro criativo de canais de informação e de vontades simultaneamente competitivas e cooperantes.

Não encontro outra explicação para o inegável e persistente apelo que a juventude dos candidatos exerce sobre as sondagens, e de facto sobre todos nós. José Manuel Durão Barroso foi primeiro-ministro aos 46 anos, Sócrates aos 48 e Pedro Passos Coelho, se lá chegar, aos 46! Na realidade, a imagem do maratonista primeiro-ministro, a memória do "tuga" ambicioso e determinado que se abalança sem medo para a presidência da União Europeia, e agora a evidência de que o PSD precisa de alguém como Pedro Passos Coelho, e não de uma figura de cera gasta, nem dum comediante de reality shows fora de moda, estabelecem uma tendência geral no perfil da nossa ansiedade política colectiva, que possivelmente nada fará mudar nos tempos mais próximos. É um bom sinal!

As sociedades são cada vez mais complexas, difíceis de gerir, ávidas de transparência administrativa e informacional, interactivas, informais, ambiciosas e dispostas a enfrentar os dificílimos desafios deste século. A gestão das mesmas impõe tarefas muito duras, que exigem sprinters e maratonistas hábeis e resistentes, ambiciosos, profissionais e sobretudo dispostos a passar o testemunho ao atleta seguinte, com justiça e espírito desportivo.

Outro aspecto desta tendência democrática é o da legitimação pelo voto secreto, directo e universal. O êxito sem precedentes das "directas", primeiro no PS, e agora no PPD-PSD, vem provar que o regime precisa mesmo de uma reviravolta radical nos seus protocolos de legitimação. É verdade para os grandes partidos, mas também o é, cada vez mais, para o PCP, o Bloco de Esquerda (que, soube-se agora, nem sequer uma organização juvenil formalizada dispõe), os sindicatos (onde tem que acabar a indecorosa instrumentalização partidária de que são vítimas há décadas) e as ONGs, cuja obscuridade orgânica e processual tem dado lugar aos mais indesejáveis parasitismos. No plano mais geral da administração pública, há que caminhar urgentemente para a generalização responsável do instituto do referendo.

Marco António, um dos cérebros mais jovens e silenciosos da esperada metamorfose do PSD, afirmou há dias que, com as novas regras sobre limitação de mandatos, e o novo regime de quotas de género na constituição das listas de candidatos aos órgãos legislativos nacionais e locais, o país iria passar por uma mudança política sem precedentes. Tem absoluta razão. E o mais estimulante é que falou não apenas como observador, mas sobretudo como actor dessa importante evolução na nossa ainda muito incipiente democracia.

Sem de modo algum subscrever a detestável provocação de Santana Lopes, diria que Manuela Ferreira Leite não tem efectivamente nenhum papel histórico positivo a desempenhar na actual crise do PPD-PSD. Se quer realmente salvar o PSD, só tem uma coisa a fazer: desistir da sua candidatura a favor de Pedro Passos Coelho, assegurando deste modo uma vitória folgada ao jovem tribuno, em vez de contribuir inadvertidamente para uma fragmentação descontrolada do partido laranja, onde nunca votei, mas cujo desempenho na democracia portuguesa evidentemente estimo.

OAM 358 13-05-2008, 00:47