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quinta-feira, julho 03, 2008

Portugal 31

Titanic no fundo do mar
Titanic no fundo do mar

O iceberg está à frente do nosso nariz!


Uma das primeiras medidas de precaução que recomendo para os tempos que correm é deixarmos de ouvir 90% dos comentadores políticos e programas de televisão portugueses, sobretudo a Quadratura do Círculo! Não valem nada e transmitem intermitentemente, propaganda governamental e partidária, ruído informativo e entretenimento de péssima qualidade, de que o ordinário e idiota "humor português" é prova mais do que evidente. Escapam, na realidade, pouquíssimos exemplos que valham a pena ver e escutar. Entre os profissionais de informação, destacaria Mário Crespo e José Gomes Ferreira, entre os entrevistadores, Constança Cunha e Sá e a nova Manuela Moura Guedes, e entre os analistas e críticos, Medina Carreira (não deixem de ver e ouvir a sua última conversa com o José Gomes Ferreira), Silva Lopes e Vasco Pulido Valente. Cada um deles, à sua maneira e extravagância, tem a independência, acutilância e originalidade de raciocínio adequadas ao estímulo dos nossos cansados neurónios.

Constança Cunha e Sá levou Manuela Ferreira Leite a mostrar a garra de uma líder que, em meia dúzia de semanas, e apesar dos fracos colaboradores que puseram até agora a cabeça de fora, colocou José Sócrates e a tríade de Macau em sentido, obrigando-os a fazer marcha-atrás instintiva em zonas críticas da retórica e da prosápia que os tem caracterizado na sua triunfal marcha para o precipício. Já o frete encomendado pelo primeiro ministro à RTP1, foi mais uma inútil representação do seu irremediável teatro de mentiras. O truque de prestidigitação desta vez resumiu-se a colar a ideia de coragem (patética) a José Sócrates, contrapondo-a ao pessimismo negro e aparentemente impotente da líder da oposição.

E no entanto, Manuela Ferreira Leite desfez, com aquela metáfora assassina da dona de casa que não resiste às porcarias dos saldos (no caso, verbas comunitárias disponíveis), só porque são dadas, toda a política de obras públicas do actual governo. Uma política destinada a alimentar bancos e construtoras a caminho da falência, apoiada na mentira sistemática sobre estudos de custo-benefício que não existem, e ainda na persistente tentativa de esvaziar o património público e os bolsos dos contribuintes e utilizadores-pagadores para assim financiar infraestruturas supostamente imprescindíveis. A privatização da ANA, a entrega dos terrenos da Portela à especulação imobiliária, e as "parcerias público privadas", ruinosas, são a verdade escondida dos investimentos que José Sócrates afirmou e repetiu terem origem privada. Privada?! Quem? Como? Quando?

A Teixeira Duarte perdeu 64,36% do seu valor em bolsa em apenas seis meses. No mesmo período, a Altri perdeu 53,22%, a Mota-Engil, mais de 27%, o BCP e o BPI perderam cada um mais de 50% do seu valor, e a Brisa caiu quase 31%. A TAP poderá perder mais de 200 milhões de euros até ao fim de 2008, e outro tanto ou mais em 2009! Onde estão os privados dispostos a envolver-se nas Grandes Obras sem garantias prévias de que será o Zé Povinho a arcar com as despesas se algo correr mal. Por exemplo, se estas empresas forem à vida?

Basta olhar para os preços do petróleo, para a inflação e para o colapso financeiro mundial, a par do grau de endividamento do nosso país, sobretudo nas circunstâncias anunciadas de uma brutal contracção da liquidez global, para se perceber o que venho escrevendo há mais de dois anos: que não haverá recursos, nem interesse económico em projectos que perderam actualidade ideológica e se vão tornando obsoletos a cada dólar a mais no preço do barril de crude.

Muito em breve a União Europeia irá tomar medidas drásticas para mitigar a irreversível mudança do paradigma energético que alimentou o capitalismo liberal e consumista das sociedades ocidentais nos últimos 50 anos. Nós estamos a entrar numa grave crise mundial, provocada no essencial pela combinação entre três ocorrências: o naufrágio do império americano, a rápida expansão da China e o fim próximo de duas das principais fontes energéticas em que assenta o crescimento económico mundial: o petróleo e o gás natural.

A humanidade entrou numa situação de verdadeira emergência energética e alimentar. Para responder a tal emergência são necessárias medidas à altura do desafio, e não demagogia. A verdadeira coragem política passará inevitavelmente pela adopção de medidas drásticas de poupança e eficiência energéticas, a par da eliminação de duplas tributações ilegais e oportunistas (de que o escandaloso ISP é, entre nós, exemplo), bem como por uma inevitável diminuição da carga fiscal sobre os produtos petrolíferos. Não se pode impor impostos à sede. É ilegítimo e é criminoso!

A BP (1) acaba de publicar a sua Revista Estatística anual, na qual dá a conhecer números das reservas, produção e consumo de petróleo, gás natural e carvão à escala global. Os dados abrangem o intervalo 2003 a 2007. Destaco estes dados, pelo seu óbvio significado:

Dos 18 maiores produtores de petróleo, 4 são importadores líquidos, e grandes consumidores:

1. US
2. China
3. Brasil
4. UK (deixou de ser exportador de petróleo e de gás natural em 2005)

Sobre a Arábia Saudita, maior produtor mundial de petróleo:

1. A produção petrolífera atingiu o pico em 2005
2. A exportação de petróleo atingiu o pico em 2005
3. O consumo petrolífero cresce continuamente desde 2003
4. Todo o gás natural produzido é consumido no país

Exportação de petróleo Saudita (produção total - consumo interno = exportação)

1. 2005 = 9,223 milhões de barris por dia
2. 2006 = 8,848 milhões de barris por dia
3. 2007 = 8,259 milhões de barris por dia

Tendência de longo prazo: a Arábia Saudita deixará de exportar petróleo em 2025

Sobre a Rússia, maior produtor mundial de gás natural:

A produção de gás natural atingiu o pico em 2006
A exportação de gás natural atingiu o pico em 2005
O consumo doméstico tem vindo a crescer rapidamente
As exportações reduziram-se em 12,6% entre 2005 e 2007 e em 6,3% em 2007

Tendência de longo prazo: a Rússia deixará de exportar gás natural em 2020

Mar do Norte, petróleo de Brent (Reino Unido e Noruega): atingiu o pico de produção em 2005.

Post scriptum -- José Silva, um leitor crítico assíduo deste blogue, deixou um comentário que subscrevo inteiramente, sobre mais alguns opinadores pertinentes da nossa praça mediática, que me esqueci de mencionar: Daniel Deusdado e Rui Moreira (RTPN e Público), e Pedro Arroja (VidaEconómica.pt). Já agora, também gosto de ler a Luísa Bessa (Jornal de Negócios ;-)



NOTAS
  1. Sanders Research, Oil and Gas Net Exports, By John Busby, Jul/02/2008.

    BP has just published its annual Statistical Review which provides a comprehensive review of statistics encompassing oil, gas and coal reserves, production and consumption together with many other aspects of global energy vital facts and figures. It contains historical data up until 2007, allowing trends to be viewed.

    It does have certain caveats as to the source of the data and indeed the size of proven reserves is subject to much controversy as in spite of continuous production some national reserves fail to reduce in size without parallel statements of newly confirmed augmentations.

    (...)

    Comments
    It is too early to be sure that Saudi Arabian oil passed a production peak in 2005 and that Russian gas passed its production peak in 2006, but the rising domestic consumption in both the major players in oil and gas respectively indicates that supply problems will continue.

    The UK having been a major oil and gas exporter has with a combination of falling production and rising consumption become a net importer of both. Saudi Arabia and Russia have nowhere else to turn once this crossover occurs.

    Oil and gas importers have only 10 years or so to restrain oil and gas consumption, while investing in renewable alternatives. The drive for wind, tide and sea current generation will assist in the case of electricity, while the time scale for nuclear power is too long even if there was sufficient uranium production to fuel a "renaissance".

    There seems no other course of action other than "energy descent". A change of lifestyle is going to happen – it would be more appropriate for a government to catalyse its introduction, instead of promoting roads and runways. We all have to move about less.

    Artigo completo com gráficos
    .


OAM 384 03-07-2008, 02:01 (última actualização: 04-07-2008 19:36)

segunda-feira, junho 23, 2008

PPD-PSD-11

Casamento de D. João I com Phillipa of Lancaster
Chronique de France et d' Angleterre
(Jean Wavrin, 15th century)

Uma mulher na frente política

De Filipa de Lencastre à vitória de Manuela Ferreira Leite

Quando vi Manuela Ferreira Leite subir ao palco de onde proferiria o seu discurso de posse, num tom calmo, firme e pedagógico, reparei quão masculina era a composição da generalidade dos órgãos partidários do PSD. Vi a sempre sorridente mas nem por isso menos determinada deputada europeísta Assunção Esteves, descortinei por junto mais três ou quatro personagens femininas, cujos nomes ignoro, e foi tudo! Como é possível que tamanho sexismo persista ainda em organizações cuja razão de ser é a promoção e a garantia da própria essência política da democracia?

O PS e o Bloco de Esquerda fizeram ultimamente um esforço, eu sei. Mas que dizer do partido que pretende governar o país em 2009? Será possível que até lá nada mude nesta composição troglodita do segundo maior partido português? Então o PSD quer ser o primeiro partido de Portugal sem antes proceder à necessária metamorfose de género na composição das suas principais instâncias de poder? Acha que alguma vez chegará a São Bento de novo sem substituir algumas dezenas dos seus caricatos machos alfa? Estes Chicos espertos são, como toda a gente sabe, incultos, subservientes, ciosos de mordomias e preocupados acima de tudo com a sua medíocre vidinha, futebolística. Não servem rigorosamente para nada a não ser para arrebanhar pontualmente alguns votos para quem mais benesses lhes prometer em cada momento. Será que as elites da Quinta da Marinha, da Foz e de Matosinhos ainda não sabem que o país, em matéria de competência e mérito, mudou de sexo?

Os resultados de trinta anos de marialvismo político-partidário estão à vista de todos! É tempo de deixar Manuela Ferreira Leite e mais algumas centenas de mulheres competentes e politicamente sábias assumirem uma partilha efectiva na condução dos destinos de Portugal. Voltarei ao tema no fim deste postal de saudação à nova Secretária-Geral do PSD. Mas antes quero sublinhar o que para mim pareceu essencial no discurso de vitória da antiga ministra das finanças, ao encerrar o premonitório congresso de Guimarães.

Em primeiro lugar, o estilo: em vez de demagogia pura, apontou prioridades e metas que devem ter deixado aterrados muitos cus de aparelho da actual nomenclatura. Em segundo lugar, o modo consistente como reafirmou a sua estratégia de encostar o PS à direita, onde efectivamente se encontra em resultado de ter sido comido pela tríade de Macau. Em terceiro lugar, a decisão de enfrentar o grande capital subsidio-dependente que, incapaz de inovar e de trabalhar, se agarra, como um qualquer desgraçado tóxico-dependente, ao endividamento criminoso do país, clamando pelas fatídicas Parcerias Público Privadas, através das quais o Estado tem protagonizado um inacreditável papel de corruptor activo. O betão vai deixar de ser uma prioridade (1), por razões óbvias e ainda porque as responsabilidades e dívidas por ele criadas para as gerações futuras são uma das mais negativas e criminosas heranças deixadas ao país por toda uma geração de políticos que deviam estar na cadeia, em vez de alegremente engordarem os nossos serões televisivos!

A hipótese de um novo Bloco Central, sugerido em tom provocador por Marcelo Rebelo de Sousa, não é totalmente disparatada, ainda que inoportuna na circunstância. O problema é este: se o PSD ganhar em 2009, mas sem maioria absoluta, como vai ser? Bom, o melhor mesmo seria ganhar com maioria absoluta, uma probabilidade que não está totalmente fora de questão, sobretudo se a situação económico-social continuar a deteriorar-se gravemente, como é muito provável que ocorra se as bestas da Europa continuarem a alimentar de forma suicida os jogos de guerra do Pentágono. Se o petróleo chegar aos 200 dólares no fim deste ano (já se viu que as promessas da Arábia Saudita nada podem contra a especulação desenfreada actualmente em curso), e se Israel atacar o Irão, vindo em seguida os Estados Unidos, com o apoio imbecil do Reino Unido e da França, bloquear o Estreito de Ormuz, no início de 2009, então é mais do que certa a emergência de uma crise de regime em Portugal, com fracturas abissais tanto no PS como no PSD. Nesta circunstância, das duas uma, ou o PSD de Ferreira Leite consegue chegar às eleições (que poderão ser antecipadas por Cavaco Silva) antes do esboroamento partidário, e ganha uma maioria absoluta fortemente protegida pela actual Presidência da República, ou pelo contrário, a crise dos partidos adianta-se, e neste caso, regressaremos a uma qualquer variante do Bloco Central, do qual sairá provavelmente um governo de emergência nacional. É que então, poderemos estar todos a entrar numa III Guerra Mundial!

Termino este comentário com uma nota histórica sobre uma grande mulher que governou Portugal: Filipa de Lencastre, ou melhor, Philippa of Lancaster.

Há muito que estou convencido do papel determinante desta inglesa no arranque da expansão ultramarina da Europa, protagonizada por Portugal no início do século 15. No entanto, se procurarmos na Net referências em língua portuguesa ao seu desempenho, não encontraremos praticamente nada! Nada!! Foi preciso chegar à Universidade canadiana de Calgary para conseguir ler uma breve mas instrutiva biografia da esposa inglesa que o Rei João I não quis para si, mas que acabaria por aceitar após intervenção decisiva do duque de Lancaster, John of Gaunt, e do Arcebispo de Braga. Estava então em causa a independência de Portugal e o financiamento das suas guerras contra castelhanos e mouros. Alguém teria que espevitar o pseudo-casto de Aviz.

Ao ler a breve resenha biográfica que se segue (e de que apresentarei em breve tradução portuguesa) fiquei fascinado por esta mulher culta, determinada e com uma enorme visão estratégica. Como foi possível esconder até hoje o seu fundamental papel na história do nosso país? Na entrada completamente chauvinista, machista e reaccionária de Joel Serrão (sim, Joel Serrão) sobre Filipa de Lencastre, no seu Pequeno Dicionário de História de Portugal, podem ler-se estas pérolas de canina subserviência à mentira histórica de Estado:

"Em 1387, (Filipa de Lencastre) casa com D. João e até 1402 passa metade do tempo em estado de gravidez: são os nascimentos de D. Branca, D. Afonso (mortos na infância), D. Duarte, D. Pedro, D. Henrique, D. Isabel. D. João e D. Fernando (a 'ínclita geração'). Ignora-se o papel que teve na educação de todos estes filhos. As alegações feitas nesse sentido não passam de fantasia. Filipa nunca se desligou do mundo inglês. Mantinha-se sempre informada dos negócios do seu país e à sua beira encontramos mordomos-mores, chanceleres, tesoureiros, confessores e damas de nacionalidade inglesa. Apesar disso parece ter tido alguma influência nas decisões de seu marido, como no caso do empreendimento de Ceuta."

É difícil encontrar prosa académica mais desonesta, despeitada, reaccionária e sibilina! Não li, mas vou ler o que outros historiadores portugueses escreveram sobre a rainha portuguesa. Espero que seja um pouco mais sofisticado do que esta demonstração de cronismo machista e bronco. Leia-se a biografia publicada pela Universidade de Calgary, para vermos até onde pode ir o sectarismo da subserviência burocrática.


Philippa of Lancaster, Queen of Portugal

Without the alliance between King João I, the Archbishop of Braga and Prince John of Gaunt, brother of the Black Prince, Portugal would probably have lost its independence to Castile. Central to that alliance negotiated by the archbishop and Prince John, was that John's daughter, Philippa of Lancaster, would be married to the 28-year-old King João I and become queen of Portugal. King João I was forced by necessity to agree to these terms although he had no intention of fulfilling his part of the agreement. Initially the king retreated to the country for two months with his mistress and their two illegitimate children, and sent back protestations that his monastic oath would prevent his ever contracting a marriage. John of Gaunt immediately produced a letter from the pope absolving the king of his vows of celibacy but the king continued to abscond from the marriage. On February 2, 1387 John sent the king a demand, delivered by an army of England's best troops, that the marriage take place at once or England would withhold from Portugal a loan that was desperately needed. King João I finally capitulated and later that month, on Candlemas Day, the Archbishop of Braga united the sullen king with the mortified princess in a resplendent ceremony. In public the royal couple played their parts but in private King João I treated his bride with churlish asperity. After the ceremony he left her at once for the camp of his army and plunged into the campaign against Castile.

Philippa was older than King João I by some years and had already been refused by several other royal bachelors, notably by King Charles VI of France and Albert, Duke of Bavaria. Despite these rejections Philippa would prove herself to be an extraordinary ruler and mother of a great empire. She had received a remarkable education as a girl studying under the Flemish poet Froissart, the foremost chronicler of medieval courts. Another of her tutors was the learned Friar John, the great pioneer in physics and chemistry, who presumably developed in her a sense of critical inquiry that was to become one of her outstanding characteristics. Her most beloved mentor was Geoffrey Chaucer, an intimate friend of her father's. Her father's confessor was the reformer John Wycliffe, Professor of Philosophy at Oxford and the first translator of the Bible into English. He also played a great role in moulding Philippa's young mind to be free of superstition thus enabling her to become a tolerant and enlightened leader.

King João I initially refused to accept Philippa as his wife because he felt forced to go through with the marriage. Thus he avoided her and sought solace between campaigns from his mistress in Lisbon. This situation reminded Philippa of her father's own mistress who dominated her childhood home at the detriment of her mother. Philippa was determined not to go through the same humiliating experience in her own household. She waited patiently until the king was away at the battlefront, and sent a group of clerics and knights to the house where his mistress lived. The mistress was then committed to an ancient convent of Santos where the king could not access her. Philippa took pains to make certain that her rival was treated with every respect and given a dignified establishment with an ample allowance. Philippa then adopted the king's two illegitimate children and reared them with her own children as they were born. By being so conscientious about the care of her husband's children Philippa became responsible for the founding of the bastard House of Braganza. Philippa's quality of character and integrity eventually gained her husband's respect and affection. She bore him ten children and made him a devoted husband and father by encouraging his taste for study and while discouraging his excesses.

Over the next two generations King João I delegated the administration of civil affairs to Philippa while he guarded the kingdom's frontiers. Philippa became the balance wheel of the kingdom, and quietly introduced many enlightened customs from Flanders and England. Because of her close relationship to the English throne Philippa was able to improve the diplomatic and commercial bonds between the two kingdoms. She was also able to improve internal relations between the Portugal's middle class and the aristocracy, as well as the relations between the Christian and Jewish communities.

By the year 1410 Philippa and João had ruled Portugal together for a quarter of a century, during which the kingdom had been constantly at war with Castile and the Moors. All trade, finance, and taxation were designed as war measures. The law at the time compelled every able-bodied man not serving in the armed forces to labour for a certain number of days per year on the walls and defences of his home town. In addition, all male non-combatants were required to serve some weeks annually in the watchtowers and observation posts on the inland borders with Castile and along the seacoast to defend against Moor raiders. The expense of this extended warfare and the lack of metallic material for coinage exhausted the royal treasury, forcing Philippa to issue a bizarre fiat money, in the form of leather tokens, as legal tender. The situation drastically changed in 1411 with a political change in the enemy kingdom of Castile.

With peace came the totally upheaval of Portugal's war economy. Thousands of soldiers, sailors, mechanics, and shipyard workers were thrown into unemployment. The royal councillors feared the danger of a civil war from the domestic turmoil of peace and suggested a foreign war as a diversion. Others advisors pushed for a resumption of hostilities against Castile. Another suggestion was to send an army to help the emperor of Austria against the Turks but King João I vetoed sending the kingdom's defenders so far away. It was Philippa who proposed sending an armed expedition to the Muslim kingdom of Fez in order to reach the kingdom of Prester John, the fabled African Christian ruler. Philippa believed that an alliance with him would give Portugal access to the Indian sources of spices and oriental products, thereby destroying the monopoly of Egypt and Venice over the spice trade. Although the majority of the royal council harshly criticised Philippa's proposal, history eventually proved her vision to be quite sagacious as her successors, King João II and King Manuel the Fortunate, both implemented similar policies of pursuing the Indian trade.

Philippa's proposal was not based on a whim but on facts inspired by her extensive readings of the most respected scholars of that age. These included the written account by the Greek historian Herodotus of a voyage around Africa from the Red Sea, south through the Indian Ocean, and north up the Atlantic to Gibraltar, made centuries before Christ by Phoenician galleys at the command of the Egyptian Pharaoh Necho. Philippa also studied the Roman historian Pliny who chronicled a southerly voyage along the southwestern African coast by a Carthaginian named Hanno. She was also aware of the voyages of Lief Ericson across the Atlantic to Greenland that led her to assume that the ocean could be traversed safely without fear of superstitious monsters. Philippa probably studied the popular account of Marco Polo's expedition to the Orient. All of these sources corroborated the personal testimonies of hundreds of Genoese, Venetians, Byzantines, Jewish, and Moorish merchants who all travelled along the eastern coast of Africa to the Malabar coast of India where they traded in the bazaars of Calicut. Using her vast knowledge the queen not only conceived of the bold plan of an invasion of North Africa, but she also painstaking worked to win political support for it among the royal council. On her suggestion, spies were sent to Ceuta, the centre of all North African trade activities, to report back concerning the feasibility of her plan. One spy returned with information about the great south central African market and the importation of gold through Timbuktu, the hub of that particular trade network. This was the first information that Europeans had about the source of Arab gold, until this point they had believed that the gold was brought from India. The importance of this discovery was immense because the Arabic states were the only suppliers for gold-starved Europe, now the capture of Ceuta became an even more attractive option since it could potentially save Portugal's crippled economy.

With this information Philippa believed that the Florentine bankers could be persuaded to finance her invasion, she was correct and the bankers joined the enterprise. Philippa now sought out the good will of the clergy and their assistance in winning popular support for the invasion. Once the blessing of Rome was secured, the queen had to convince her husband to authorise the undertaking. At this time King João I was tired of war and considered the stronghold of Ceuta impregnable. He flatly refused the lure of gold and religious glories. Philippa then enlisted the aid of her three oldest sons, all eager to win the spurs of knighthood, to convince their father. Eventually King João I yielded once he realised that his wife had managed to convince the majority of her former detractors of the logical and potential of her proposal.

It took three years of active preparation before the army and fleet were ready for the invasion. At this stage Philippa stepped aside to allow her husband and sons to take over the planning of the expedition. She was now over sixty years old and exhausted from the task of financing and assembling the expedition. Then disaster struck when Philippa contracted the plague and failed to recover. When she knew her end was near, she called her children to her. Upon her deathbed Philippa made her three oldest sons and daughter swear a solemn vow to carry out her dream of trying to gain an alliance with the kingdom of Pester John and through this gain access to the Indies. On July 25, 1415, the fleet of two hundred vessels dropped down the Tagus into the Atlantic Ocean and steered south; Philippa was dead, but they carried out her invasion and successfully conquered Ceuta.

The European Voyages of Exploration / The Applied History Research Group / The University of Calgary. Copyright © 1997, The Applied History Research Group


NOTAS

  1. As grandes obras e as privatizações oportunistas estão agora, felizmente, em causa. Ou melhor, a haver Grandes Obras, estas deverão incidir sobretudo na ferrovia, no transporte colectivo urbano e sub-urbano, e ainda nos portos do país. Não faltam, como se vê, oportunidades de negócio!


    • A linha de Alta Velocidade entre Lisboa e o Porto nunca fez qualquer sentido, e agora faz ainda menos. Basta prosseguir o que há muito deveria ter sido concluído: acabar a adaptação da ferrovia ao potencial cinético do Alfa e melhorar radicalmente o respectivo serviço comercial.
    • No que à Alta Velocidade (AV) entre Lisboa e Madrid se refere, basta assegurar uma ligação de Velocidade Elevada (VE), em vez de AV, entre as duas capitais, construindo-se uma linha nova de passageiros e mercadorias entre o Caia e Pinhal Novo (em vez de deixá-la pendurada no Poceirão), e permitindo que os comboios atravessem a actual Ponte 25 de Abril, até chegar a uma estação central situada na Via de Cintura Interna (por exemplo, nos antigos terrenos da Feira Popular, ou nas imediações da actual estação Roma-Areeiro). A linha VE entre o Caia e Pinhal Novo poderá ainda ligar-se à Linha do Norte, sem precisar de passar por Lisboa, desde que seja lançado um desvio ao longo da margem esquerda do Tejo, como propõe António Brotas.
    • A ligação Porto-Aveiro-Salamanca em comboios de Velocidade Elevada para passageiros e mercadorias é uma necessidade que deverá ser desde já meticulosamente planeada.
    • O mesmo ocorre com a ligação Porto-Vigo, já prevista para ser uma via de Velocidade Elevada, e não de AV.
    • O Novo Aeroporto de Alcochete, por sua vez, pode esperar bem uma década. Uma decisão definitiva sobre o mesmo deve ser adiada para 2013-2015. Se então estivermos todos enganados, e o tráfego aéreo continuar a subir, então sim, faça-se o NAL de Alcochete. Até lá, melhore-se a Portela (depois de despedir os incompetentes da ANA e da NAER) e prepare-se o Montijo como solução de complementaridade, se vier a ser necessária.
    • Finalmente, os planos de privatização da ANA, destinados a viabilizar o projecto financeiro do NAL devem ser imediatamente denunciados e suspensos. Quem não tem dinheiro não tem vícios, muito menos à custa de terceiros e vindouros!

OAM 379 23-06-2008, 16:41

domingo, junho 01, 2008

PPD-PSD-10

Decisões difíceis

A vitória tangencial de Manuela Ferreira Leite nas eleições directas do PPD-PSD deixou o partido dividido em três bocados, agora mais evidentes e consolidados que nunca: o bocado populista (Santana Lopes e Menezes), o bocado neoliberal (Passos Coelho, Relvas, Marco António) e o bocado social-democrata (Manuela Ferreira Leite e... Cavaco Silva!)

O primeiro problema que Manuela Ferreira Leite vai ter que enfrentar é o da ameaça de turbulência, ou mesmo de separatismo, por parte dos populistas de norte a sul do país. O segundo problema será o presente envenenado que uma excessiva solicitude de Pedro Passos Coelho poderá representar para o aproveitamento da janela de oportunidade que se abriu, por breves momentos, com esta sua vitória. Na realidade, se quiser levar o PSD a vencer José Sócrates, Manuela Ferreira Leite deverá evitar subtilmente estes obstáculos iniciais. Terá, no entanto, que estar preparada para uma provável cisão do PPD-PSD, antes ou depois das eleições legislativas de 2009. Tudo dependerá da natureza e intensidade das feridas abertas nas últimas semanas, e ainda da evolução da crise aberta no PS pelas mais recentes e quase simultâneas iniciativas de Mário Soares e Manuel Alegre.

Como observava um amigo meu, a moção de censura avançada pelo PP poderá ter sido combinada com José Sócrates, visando criar uma oportunidade inesperada para este se demitir, forçando Cavaco Silva a antecipar as eleições. Bastaria para isso que toda a Oposição votasse a favor da moção e alguns deputados socialistas se ausentassem para tomar café. Não sei se a coisa é verosímil, mas que o actual primeiro ministro anda desesperadamente à procura de uma saída para a agonia longa e humilhante que o espera, disso não tenho dúvidas. Na realidade, se isto fosse possível, nem Manuela Ferreira Leite teria tempo para derrotar Sócrates, nem este teria que temer a conspiração aberta contra si por toda a esquerda portuguesa, incluindo os socialistas que existem e dão nome ao partido que o levou ao poder. Por fim, a actual conjuntura aponta para a extinção eleitoral pura e simples do PP, mas se houvesse um golpe de rins semelhante ao descrito, o "partido do táxi" ganharia ainda mais uns anos de vida.

Prefiro, no entanto, olhar para os próximos dois ciclos legislativos que previsivelmente se sucederão: 2009-2012 e 2013-2016. O que vejo não é nada bom. A crise energética mundial vai continuar a agravar-se (bye bye NAL de Alcochete!); a crise financeira continuará indomável (bye bye TTT Chelas-Barreiro!); a crise alimentar tenderá a piorar à medida que aumentar a produção dos agro-combustíveis; o descalabro ecológico estará longe de ser mitigado. Ou seja, Portugal, cuja classe média tem vindo a desaparecer a um ritmo fulminante, estará em piores lençóis do que hoje e por conseguinte mais do que disponível para acolher alternativas populistas ao apodrecido presente político-partidário. O surgimento de novos partidos tem pois o caminho aberto, antes ou depois das próximas eleições legislativas.

Não faz sentido, a não ser por pura cobardia política, vermos os populistas do PPD agora derrotados permanecerem hipocritamente num partido que precisa urgentemente de cortar a ligação siamesa existente entre o PPD e o PSD, para assim poder dar lugar a duas formações ideologicamente mais bem delimitadas e com lugar seguro numa refundada geometria eleitoral. Quanto ao PS, passa-se algo semelhante. Socialistas e neoliberais disfarçados não podem continuar a conviver com a mesma rosa ao peito. Onde votarão Mário Soares e Manuel Alegre nas próximas eleições? Responder a esta pergunta é dizer que algo decisivo irá acontecer proximamente na esquerda portuguesa. Tomar as declarações de Mário Soares e as iniciativas de Manuel Alegre e de Francisco Louçã como meras manobras tácticas para enganar algumas dezenas de milhar de eleitores ingénuos em 2009 seria um erro de avaliação crasso. O eleitorado de esquerda não irá dar um voto que seja ao pinóquio que nos governa, sobretudo depois de o maior partido da oposição ter eleito para sua líder uma social-democrata declaradamente preocupada com a crise social estrutural que temos pela frente, por tempo indeterminado. Não me admiraria nada que a tríade de Macau estivesse a pressionar José Sócrates para fazer alguma coisa...


OAM 373 01-06-2008, 01:01

quinta-feira, maio 29, 2008

PPD-PSD-9

Boomerang


O boomerang de Manuela Ferreira Leite

Lisboa, 28 Mai (Visão/Lusa) - O líder do Bloco de Esquerda, Francisco Louçã, afirmou hoje que o comício de terça-feira contra as desigualdades sociais e a corrupção em Portugal representará a maior mudança dos últimos anos na esquerda portuguesa.

Não podemos ainda saber se o comício da próxima terça-feira vai ou não ser decisivo para a emergência de uma nova força de esquerda, que englobe antes de 2009 os socialistas do PS, o Bloco de Esquerda e alguns comunistas desiludidos com a esclerose múltipla do PCP. O que sei é que o desvio da atenção pública para a actual crise social, provocado pela chave programática de Manuela Ferreira Leite, na sua corrida para a presidência do PSD, transtornou transversalmente as agendas políticas de todos os partidos com assento parlamentar!

As chamadas de atenção mais pertinentes para a degradação da situação social portuguesa tiveram início com os alertas lançados pela igreja católica a propósito das novas correntes migratórias que têm levado centenas de milhar de compatriotas para o Reino Unido, Suíça, Espanha e Austrália, entre outros países de acolhimento. O relatório da SEDES foi, mais recentemente, um sério aviso à navegação por parte de uma prestigiada instituição académica. Por sua vez a AMI fez um alerta dramático sobre o crescimento da pobreza no nosso país.

Acontece, porém, que estes avisos depararam sempre com uma parede de silêncio parlamentar e com a jovial contra-informação dos optimistas profissionais que nos governam. De facto, foi só depois de Manuela Ferreira Leite nos ter surpreendido a todos com o seu discurso sobre a questão social como a prioridade de uma governação democrática responsável, que a agenda política do país mudou.

O PS, chupado até ao tutano pela voragem da tríade de Macau, foi apanhado literalmente com as calças na mão. A esquerda populista -- BE, PCP e Verdes (1) --, entregue aos seus pequenos cálculos eleitorais e ao maniqueísmo de sempre, percebeu de repente que alguém vira o país para lá das pequenas coutadas eleitorais, corporativas e sindicais, e que poderia assim beneficiar à esquerda e à direita, de uma boa parte da revolta surda que cresce na sociedade portuguesa contra um sistema democrático acomodado, preguiçoso, incompetente e incapaz de combater a corrupção. O grito de Mário Soares, que curiosamente ou não se antecipou à iniciativa de Manuel Alegre e do Bloco, serviu basicamente para explicar aos mais distraídos, que o PS actual, chefiado por José Sócrates, não passa dum vulgar aparelho de legitimação da agenda neoliberal estúpida que apodrece nos bolsos das araras, dromedários e demais espécies exóticas que compõem o actual governo.

O governo PS vai chegar às eleições de 2009 num estado lastimável. E se Manuela Ferreira Leite ganhar o PSD, veremos a agenda neoliberal do actual PS completamente esmagada pelos argumentos mais ou menos irrealistas e desconexos da esquerda populista, a par duma crítica social-democrata razoavelmente consistente por parte dum PSD renovado. Sócrates será então exposto e visto completamente como o que verdadeiramente é: um cópia fraudulenta do New Labor, e uma caricatura liberal e tardia do socialismo!

No último debate entre os candidatos à liderança do PPD-PSD (2) ouviu-se falar muito de impostos e da importância que a sua eventual redução teria para o renascimento da economia portuguesa. Para populistas de direita e de esquerda, baixar o IVA, baixar o ISP, e já agora baixar os juros bancários (quer dizer o preço do dinheiro) é, pelos vistos, a pedra filosofal da salvação lusitana. Pois eu não creio que baixar 5 pontos percentuais no IVA (de 21 para 16), ou baixar o ISP à medida que suba o petróleo, melhore o que quer que seja. Os países mais ricos da União Europeia têm todos taxas de IVA elevadas: Dinamarca = 25%; Finlândia 22%; Suécia 25%. Não é por isso que deixam de crescer acima da média europeia. Não é por isso que deixam de ter uma segurança social invejável. Não é por isso que deixam de ser países ricos. No covil pirata de Sua Majestade Britânica, a Ilha de Jersey, apenas se cobra 3% de IVA -- o que não deixa de ser um belo exemplo das aspirações íntimas de todo o especulador e de todo o político corrupto.

O que nós realmente precisamos é de menos burocracia, de mais transparência e responsabilização na acção política e na administração pública, de uma verdadeira igualdade cidadã perante as leis, de um sólido e económico sistema de saúde e segurança social, de uma verdadeira revolução educativa e, por fim, mas não menos essencial, de pulverizar o excesso de poder das corporações. São a pior corja deste país!


  1. O desvio temático do debate parlamentar de hoje, agendado para discutir com o governo a questão energética, é um claro exemplo do comportamento sistematicamente demagógico dos partidos parlamentares. Falou-se de passes sociais, de código do trabalho e do mais que ocorreu às mentes demagógicas da Oposição. Como se não fosse importantíssimo debater a sério a crise energética. A nossa maior pobreza é sobretudo uma pobreza de estilo.
  2. A melhor prestação do debate foi sem dúvida a de Patinha Antão. Não é um político, e por isso não lhe damos muita importância na corrida à próxima liderança do PPD-PSD. No entanto, ficou demonstrado que o PSD tem bons técnicos, que porventura não têm sido ouvidos dentro do partido. Se MFL ganhar, esperemos que saiba trabalhar com os melhores e se afaste rapidamente dos barões falidos da Quinta da Marinha e dos intelectuais da Pedratura do Círculo.


OAM 371 29-05-2008, 04:25 (última actualização: 23:23)

sábado, maio 24, 2008

PPD-PSD-8

Vasco Pulido Valente
Vasco Pulido Valente: um ácido em estado puro.

Freak show

Nunca tinha visto a Manuela Moura Guedes em acção. Alguma vez passara por ela em velocidade zapping, mas nunca me detivera a vê-la, nem escutá-la, verdadeiramente. A TVI, para mim, começou por ser coisa de sacristia bolorenta, que dispenso, e depois metamorfoseou-se numa espécie de Freak TV, a partir do primeiro e famoso Reality Show desembarcado na basbaque praia lusitana, onde aparecia um Zé Ninguém que se tornou, do dia para a noite, herói nacional. Nunca me detive no canal, mas era impossível, mesmo assim, escapar à omnipresença mediática daquela anedota oriunda de uma fronteira onde insistem matar os touros como se ainda vivessem dentro de um filme do Buñuel. Recentemente, por recomendação de amigos, lá tenho ido uma que outra vez escutar o vozeirão do matador e fumador viril todo-o-terreno, filho de excelente poetisa, ao que dizem escritor (que nunca li) de sucesso: Miguel Sousa Tavares. Fala e escreve como um impressionista, pelo que em nada difere da leveza algo histérica e feminina que caracteriza a esmagadora maioria dos opinocratas lusitanos. O seu horror aos números e aos factos leva-o inexoravelmente à facilidade demagógica. É, no fundo, mais um dos responsáveis pelo populismo jornalístico e mediático actual. No caso deste MST, o modo como defende a nicotina que toma e impinge aos demais, ataca a regionalização administrativa e defende ao mesmo tempo a pulverização da linha de costa e a distribuição dos estilhaços às autarquias ávidas de receitas fáceis, mostra bem a pouca confiança a depositar nas suas palavras semanais.

Entretanto, alguém me telefonou e insistiu que visse o debate entre os candidatos à liderança do PPD-PSD. Lá zapei para a TVI. O que vi foi, no mínimo, espantoso! A personagem apresentada como sendo Manuela Moura Guedes (aceito que fosse) pareceu-me coisa de pura ficção, espécie de comediante Botox saída do MADtv, ou melhor, regressada de um filme que vira há muitos anos e que não resisti a rever após o debate: Freaks (1932) de Tod Browning.




Para minha surpresa, os políticos do PPD-PSD lá foram aparecendo, assegurando-me assim que aquilo era mesmo a sério. Um debate sobre o próximo PPD ou PSD, e sobre o futuro de Portugal! Manuela Ferreira Leite, na sua manifesta falta de eloquência (um eco perfeito de Cavaco Silva) manteve-se discreta como uma cobra assediada por três viris demagogos, cheios de razões. E no entanto, dizimou-os a todos em quatro assaltos rápidos e incisivos:
  1. o nosso principal problema, grave e urgente, já não é o défice orçamental, nem muito menos a privatização da Caixa Geral de Depósitos, nem obviamente conversas de café em volta da teoria do Liberalismo -- mas sim, o da pobreza social galopante, depois de erros sucessivos na política económica e social;
  2. o novo código de trabalho, ainda em revisão, é insusceptível de discussão no contexto daquele debate televisivo, pois o essencial do que está verdadeiramente em jogo reside nos pormenores e não nas linhas gerais que têm entretido o populismo parlamentar e mediático dominante (palavras minhas) -- pelo que, só em sede de negociação concreta do mesmo se pode ou não fazer a diferença;
  3. das grandes obras públicas, nomeadamente aquelas sobre as quais o Governo parece ter já tomado decisões firmes, não é curial, afirmou MFL, desfazê-las a pretexto de um mero exercício de exaltação oposicionista; a seu tempo, quando o PSD voltar a ser governo, se ganhar credibilidade para tal, se analisarão os vários projectos em causa e as respectivas viabilidades económicas e prioridades. De que vale impugnar ideologicamente decisões que os factos se encarregarão de desfazer ou corrigir naturalmente -- pergunto eu?
  4. serviço nacional de saúde, universal e gratuito para todos, é coisa que infelizmente não será possível prometer para o futuro; o essencial, perante as circunstâncias reais que nos rodeiam, é garantir que aqueles que não podem mesmo pagar, nem por isso deixem de ser convenientemente assistidos pelo Estado.
A sensação de que a antiga ministra das finanças havia cilindrado os opositores, não tanto pela oratória, mas pelas coisas claras que disse, foi imediata. Eis então que um segundo personagem inacreditável ecoou do passado com uma limpidez de voz que julgara perdida há muito. Era a imagem quase etérea do Vasco Pulido Valente (há anos que não a via.) Mas seria ele mesmo, de verdade?

Era. Como um ácido corrosivo e implacável aviou e enterrou os três challengers de Manuela Ferreira Leite. E eu rebolei-me às gargalhadas no sofá a ouvi-lo rosnar os seus argumentos assassinos. Um velho impagável! Temi, no entanto, depois de me congratular com aquele reencontro virtual, pela minhas próprias apostas nesta competição. É que também eu vaticino a vitória da Manuela, por uma simples razão: é o caminho mais rápido para a separação entre o PPD e o PSD. Ou ganha, e a curto prazo os populistas arrumam as trouxas e fazem um partido novo com possibilidade de captar 15 a 20% do eleitorado. Ou perde para Santana Lopes, e nasce um novo PSD ainda mais depressa. No entanto, se ganhar Pedro Passos Coelho, há uma maior probabilidade de a ambiguidade entre populistas, liberais e social-democratas prolongar a agonia do PPD-PSD. Sucede porém que, tanto quanto me lembro, o Vasco tem uma queda especial para ser corrosivo como ninguém, mas costuma falhar nos prognósticos.

Post scriptum -- li há pouco um artigo encomendado, assinado por uma pseudo-jornalista do Expresso, fazendo campanha contra Manuela Ferreira Leite, sob o falso argumento de que José Sócrates teria assegurada a renovação da sua maioria absoluta no caso de ser MFL a ganhar as directas do PPD-PSD. Errado! O PS perderá a maioria absoluta em qualquer circunstância. E provavelmente perderá as eleições, se tiver pela frente a antiga ministra das finanças de Durão Barroso. O actual PS encontra-se dominado por uma tríade de piratas vendidos ao liberalismo mais boçal e sórdido. A vitória de MFL será aliás uma excelente oportunidade para os socialistas recuperarem o seu partido.

OAM 367 24-05-2008, 21:23

quinta-feira, maio 15, 2008

PPD-PSD-7

Um boomerang em direcção a Sócrates

Parece que me enganei na avaliação desta Senhora! Numa entrevista exemplarmente conduzida por Ana Lourenço (SIC Notícias), Manuela Ferreira Leite aproveitou em toda a linha o vergonhoso abandono dos ideais socialistas por parte do senhor Sócrates e da tríade de piratas que o colocou na posição onde está, para desferir um golpe certeiro no actual edifício de propaganda governamental. Dando a entender claramente que o actual governo não passa de uma agência de intriga e demonização, sistematicamente insensível ao tremendo drama social que cresce na nossa sociedade, a candidata à presidência do PSD matou dois coelhos de uma só cajadada: respondeu ao jovem Pedro sobre quem efectivamente se encontra mais próximo de Sócrates (Pedro Passos Coelho!), e tolheu de forma considerável o espaço de manobra ao directório socratintas. O eleitorado que tem vindo a deslizar continuamente para a esquerda do PS, sabendo que tal deriva não é mais do que uma desesperada repulsa da traição socialista, quando medir o alcance do ideal proposto por esta economista de mérito, política experiente e mulher de pulso, irá seguramente fazer pender decisivamente o fiel da balança eleitoral para esta oportunidade, possivelmente a última, de encontrar o Norte perdido da política portuguesa.

Como tenho vindo a escrever, o terreno do populismo está semeado há muito, embora entre nós, e ao contrário da Itália, da Áustria, da Holanda e da Suécia, a cor dominante seja mais rosa e laranja do que azul e verde. O desenvolvimento destes ninhos de facilidades, falsas dicotomias e promessas vãs, que vem ocorrendo dentro dos próprios partidos parlamentares, é sobretudo um preocupante sintoma de mal-estar. Não vejo como evitar a sua erupção a curto prazo, desfazendo por dentro os partidos que não souberem fazer uma clarificação atempada. Os populismos conservadores de Santana Lopes e Alberto João Jardim farão explodir, mais cedo ou mais tarde, o PPD-PSD; os populismos esquerdistas de Francisco Louçã e Jerónimo de Sousa, começaram a corroer seriamente o território eleitoral do degenerado PS.

Por outro lado, o famigerado Bloco Central não foi menos responsável pelo actual processo de implosão do sistema partidário. Ao estimularem entre si uma convivência oportunista escandalosa, por mais de década e meia, acabaram por tecer um verdadeiro estado clientelar, ganancioso, cada vez mais improdutivo, irresponsável e impune. Socialismo e Social-Democracia foram assim ficando sucessivamente para trás, como se de relíquias históricas irrecuperáveis se tratassem. A tríade de Macau tomou de assalto o PS, fazendo dele uma sofisticada agência neoliberal da globalização e dos carteis bancário-betoneiros do país, enquanto os desempregados do PPD-PSD (não os que a tempo e horas realizaram os necessários matrimónios de conveniência com a rede PS) derivavam irremediavelmente para os braços do populismo de direita.

Está na hora de revelar e fixar as tendências populistas, como de clarificar as novas tendências liberais e social-democratas/socialistas. Precisamos de renovar o tecido partidário. O que não supunha até hoje é que Manuela Ferreira Leite pudesse vir a federar uma destas clarificações necessárias. Será que a entendi bem? Terá força bastante para manter os barões, baronetes e penduras à distância nesse seu aparente intento de fazer o PSD voar para uma grande aventura política? O aviso de Jardim foi, como antecipei, claro: se a Senhora não passar dum mero e frágil intermezzo, incapaz de bater o nulo Sócrates, ele, o Jardim, tomará conta do PiSD.

Fui apanhado desprevenido pelas suas palavras de esta noite. Oxalá seja um bom prenúncio!


Post scripta


  1. 18-05-2008 - Menezes sabota como pode candidatura de Manuela Ferreira Leite
    ... "quem tanto criticou a legitimidade do líder que foi eleito com a maior votação de sempre no partido em 30 anos, não terá legitimidade para ser líder do PSD se tiver menos de 50% de votos.

    ..."quem contestou este líder, quem disse que ele tinha de ser corrido à bomba quando teve quase 60% dos votos, por essa razão não tem legitimidade para exercer o cargo com 30% ou 40%."- Luís Filipe Menezes, JN, 18-05-2008.

    A entrevista de Luís Filipe Menezes ao Jornal de Notícias deixa subrepticiamente a porta entreaberta para o seu regresso em ombros ao PPD-PSD. Repetindo o que já dissera Alberto João Jardim sobre uma liderança abaixo dos 30%, Menezes não reconhecerá um futuro líder com menos de 50% dos votos. Acontece que a declaração, para ser consistente, é válida para todos os candidatos! Os cenários de uma separação entre o PPD e o PSD, ou de uma cisão regionalista, com formação de dois partidos regionais autonomistas, um na Madeira e outro no Norte, nunca foram tão plausíveis, e porventura desejáveis. Depois de ouvir ontem à noite na RTP2 as palavras imbecis do boy Mega Ferreira sobre o futuro de Lisboa, consolida-se a minha convicção de que Portugal precisa mesmo de uma regionalização à força, ou será em breve um deserto de mendigos à mercê dum condomínio de chulos descerebrados.
  2. 17-05-2005 - Resposta a uma pergunta sobre os populismos lusitanos em formação:

    Em primeiro lugar, as naturezas e formas recentes do populismo de direita europeu são inovadoras, distintas e obviamente contraditórias das do populismo de esquerda, que subsiste há décadas e procura os seus novos figurinos na América Latina de Hugo Chávez e Evo Morales.

    Dito isto, parece-me evidente que Alberto João Jardim, Pedro Santana Lopes e Luís Filipe Menezes confluem neste momento para uma cisão ou enquistamento populista do PPD-PSD. O tom ameaçador com que Menezes se vem dirigindo a Manuela Ferreira Leite, e que irá piorar (!) é todo um cardápio da grosseria típica dos populistas de direita. Os populistas de direita estão convencidos, e com razão, de que o tempo é propício para a sua aventura demagógica.

    Por outro lado, temos um populismo de esquerda difuso, que não se vê obviamente como tal, mas que tende também a crescer com a incapacidade manifesta dos piratas do PS em lidar com uma crise sistémica (e local) que irá agravar-se ao longo da segunda metade de 2008, antecipando um tempo eleitoral virtualmente explosivo para 2009. O PCP e o Bloco de Esquerda serão os protagonistas da variante esquerdista do populismo, que o agravamento da crise económica, social e política, propiciará.

    A característica comum dos dois populismos em confronto é a mistificação intencional da realidade com o fim último de atrair eleitoralmente uma massa social muito diversa: desempregados, idosos aflitos com a rápida erosão das suas pensões e a degradação rapidíssima dos sistema de segurança social e de saúde pública, jovens à procura do primeiro emprego, uma classe média assustada e a caminho do desemprego ou da desqualificação económico-profissional, pequenos e médios empresários falidos.

    O bom-senso e a sabedoria não se encontram nestas zonas da acção política. A explicação é simples: são completamente incapazes de governar em contextos mais amplos que o das endogamias regionais e municipais, salvo se puderem subverter seriamente as regras do jogo democrático. Ora para aqui chegarem seria necessário que se verificasse pelo menos uma de duas condições: a falência efectiva do Estado, e/ou a disponibilidade de generosos recursos energéticos e naturais sob controlo estatal (Países Árabes, Rússia, Venezuela, etc.) Até agora, na Europa das democracias representativas posteriores à Segunda Guerra Mundial, os populismos, quando inopinadamente chegam ao poder legislativo e executivo, têm-se revelado desastrosos e insustentáveis, caindo rapidamente no elitismo, autoritarismo e obscuridade que anteriormente denunciaram. Vejam-se entre nós os casos recentes de Pedro Santana Lopes e José Sócrates, ou mesmo de José Sá Fernandes, que acabou por fazer um pacto com António Costa, por cima dos munícipes e do Bloco de Esquerda, sob cuja sigla tem vindo a fazer a sua pequena e estranha carreira populista de esquerda.

    E não havendo bom senso pelas bandas populistas, resta saber se os socialistas e os social-democratas de gema conseguirão fazer alguma coisa juntos que não seja uma re-edição suicida do Bloco Central.

    A alternativa liberal-tecnocrata de Pedro Passos Coelho, apesar do seu fulgor inicial, irá perder força assim que se perceber o desajustamento ideológico completo das suas propostas. O rapaz continua a defender receitas liberais alegremente, sem perceber que o mundo está a colapsar precisamente por causa da "globalização" que tardiamente papagueia. O boomerang lançado por Manuela Ferreira Leite atingiu-o em cheio anteontem à noite. E a forma como reagiu foi indecorosamente oportunista e suicida: envolver o Menezes num ataque ordinário à sua colega de partido, e anunciar publicamente que gostaria de ver o dito Menezes apoiar a sua candidatura. Ou seja, se tal ocorrer, assistiremos todos à morte daquilo que parecia uma promessa, e teremos mais um sargento para o populismo de direita que se aproxima a toda a bolina. Vai ser divertido observar a luta livre entre Santana Lopes e Pedro Passos Coelho (para gozo e estratégia do Alberto João Jardim.)

OAM 361 15-05-2008, 02:32

quinta-feira, maio 01, 2008

PPD-PSD-4

Liberais versus Bloco Central (reedição)

01-05-2008. "Se pegarmos num responsável empresarial só porque é sério ou porque tem ar de mau e o transformarmos" em presidente executivo ou presidente do conselho de administração, "o que é que acontece? Daqui a um ano está falida" -- Mira Amaral e Passos Coelho criticam política financeira de Ferreira Leite, Público.

Manuela Ferreira Leite é a candidata do impasse, apoiada por todo o Bloco Central. No entanto, esta agremiação endogâmica de interesses já não existe, a não ser dispersa pelos conselhos de administração das empresas públicas e privadas por onde se foram enfiando ao longo da última década, e mais apressadamente desde que se percebeu que o actual cartel político-partidário começara a perder aderência democrática. Ferreira do Amaral, Pina Moura, António Vitorino e Jorge Coelho, entre muitos outros, são o exemplo vivo da dispersão do até agora indisputável e escandalosamente lucrativo Bloco Central. O PPD-PSD e o PS foram literalmente comidos por dentro, tendo ambos servido de escada e almofada protectora de uma nomenclatura indecorosa, irresponsável, corrupta, sem um mínimo de visão estratégica para o país e completamente nas tintas para a sorte e a qualidade de vida dos seus compatriotas. É uma canalha que deve desaparecer!

O PPD-PSD e o PS são hoje aparelhos esquálidos com pouca ou nenhuma capacidade de auto-regeneração. Estão basicamente assustados. E é por isto que só no contexto de uma mudança profunda do actual regime político-partidário e parlamentar, haverá esperança. Para isso, porém, é preciso separar os populistas dos liberais dentro do PPD-PSD, e é preciso, depois, separar os sociais-democratas dos neo-liberais do PS. Por menos do que uma separação clara de águas com esta dimensão não iremos a lado nenhum. E pelo contar das espingardas, diria que Pedro Passos Coelho (1) se tem vindo a afirmar (contra as minhas expectativas iniciais) como protagonista de um possível futuro partido liberal com pés e cabeça. Falta ainda o protagonista do futuro partido populista. Pedro Santana Lopes, ou Alberto João Jardim? Creio que o experiente demagogo da Madeira faria melhor! Quanto a Manuela Ferreira Leite, é mais uma figura para arder no fogo da cisão inevitável do PPD-PSD.



NOTAS
  1. Curriculum Vitae

    Antes de se meter ao caminho, seria bom que este candidato à liderança do PPD-PSD tornasse claro qual tem sido o seu percurso profissional, nomeadamente ao serviço da empresa que dá pelo nome de Fomentinvest, dirigida por Ângelo Correia.
    - Está ou esteve envolvido no negócio dos biocombustíveis?
    - Que pensa da reciclagem doméstica de óleos alimentares como medida particular de mitigação do preço do gasóleo?
    - Está de acordo com a utilização de solos agrícolas e de cereais alimentares na produção de bioetanol?
    - Está ou esteve envolvido, directa ou indirectamente, em negócios de armamento?
    - Conhece as actividades do grupo Carlyle em Portugal? Esteve alguma vez envolvido em operações com este grupo?

    A melhor maneira de começar um ciclo novo de vida pública é fazer uma declaração honesta de interesses, evitando assim dúvidas e suspeitas futuras, porventura infundadas.


OAM 353 01-05-2008, 12:45 (actualização: 01-05-2008 22:38)

terça-feira, abril 29, 2008

PPD-PSD-3

Populismo suave, populismo duro

Prolongar o actual status quo no PPD-PSD seria como manter a soro um doente em fase terminal, crendo que o falido Bloco Central poderá renascer das cinzas, quando o que começa a ser evidente para todos é a emergência imparável de populismos de sinal contrário, com tudo o isso possa ao mesmo tempo significar de renovação e condenação do actual regime democrático. Pela frente temos um tempo de crise profunda à escala europeia e mundial. Assim sendo, não há nada pior que evitar as discussões difíceis. A repetição, em tão curto período, das directas do PPD-PSD é um sinal evidente da instabilidade que nos espera.
"As we know, the 'catch-all' party is not the political party's final and definitive incarnation. Since 1970's, in fact, another mutation has occurred with the rise of what Richard Katz and Peter Mair (1994; 1995) term the 'cartel party', denoting the oligopolistic transformation of interparty competition through which parties have established links of cooperation/collusion. Emboldened by their positions of strength vis-a-vis the state, they worked together to discourage new entrants into the political market and to ensure their own confortable survival, independent of electoral competition. In short, the parties found safe haven within the state, on whose resources they largely depend and of which they can almost be viewed as expressions (Van Biezen, 2004).

... "The evolution of the parties followed a parallel route to that taken by organized production. Mass-based parties attracted support by integrating the electorate and organizing it according to the same type of hierarchical model also adopted both by the state and the Fordist factory. If the latter was labour-intensive, the parties were member-intensive. In similarly parallel fashion, the parties of today have dismantled their old organizational structures and assigned crucial segments of their productive cycles to specialized agencies, while superficially enhancing the role of members and activists through primaries and direct elections. It is clear, however, that while their 'shareholders' may be present at assemblies, they do not threaten the monopoly of the management, which often controls the composition of the body of shareholders. The parties have not become less important. Indeed, they continue to post impressive gains in terms of public offices secured. However, they have become something else, something which has diminished their democratic nature.

... "According to the Trilateral Comission [report by Michel Crozier, Samuel Huntington and Joji Watanuki (1975); ... "although it is also worth mentioning the work of Niklas Luhmann (1990) ...], democracy had involved citizens too much. It had made them too active. It had overprotected them, but to their own detriment, since it had pushed them towards making excessive and particularistic demands which damaged the effectiveness of democracy. The remedy, therefore, for the good of democracy, lay in driving redundant pluralism back towards society and out of the political sphere. This solution did not profess to wish to surpress social pluralism or fundamental rights such as the freedom of thought or association. Rather, it claimed to desire to put things back in their proper place by restraining a political pluralism which had become counterproductive and by revising the mechanisms of representation. After all, it was argued, democracies were now mature, predicated on solid agreements regarding their foundations, while what citizens really needed most of all was good government and good policies, carried out by authoritative and competent leaders, so that they, the citizens, could devote themselves to their own affairs in peace and tranquility.

To this end, the Trilateral specifically called for an about-turn in how parties functioned: from being selective carriers of social pluralism, they should become selective filters of political pluralism. ... "In this way, from the idea that democracy should function thanks to hospitable and welcoming parties, the prevailing logic - above all that of the Establishment - moved towards an idea that, since the defeat of Fascism, only the most obtuse and isolated conservatives had dared to profess: that democracy, democratic participation and politics itself are harmful, particularly when administered in large doses." -- in "Politics against Democracy: Party Withdrawal and Populist Breakthrough", by Alfio Mastropaolo; Twenty-First Century Populism; Ed. Daniele Albertazzi & Duncan McDonnell.

O dilema profundo do PPD-PSD é este: que opor ao populismo suave de José Sócrates?

Um populismo forte e truculento (Alberto João Jardim) que o faça sair do sério e perder as eleições de 2009, ou, pelo contrário, uma promessa de competência, seriedade e respeitabilidade (Manuela Ferreira Leite), com a ambição menor de retirar, num primeiro passo, a maioria absoluta ao PS, para depois, numa possível eleição intercalar, chegar ao poder, reeditando em ambos os passos a valsa gasta do Bloco Central?

Há ainda uma terceira via, que julgo ter vislumbrado esta noite ao escutar as declarações de Marco António, líder incontestado da distrital do PSD do Porto e vice-presidente da câmara municipal de Vila Nova de Gaia, ao Jornal das Nove (SIC). Para este político, que parece saber o que quer, Pedro Passos Coelho até poderá transformar-se numa alternativa credível a Manuela Ferreira Leite (e desde logo ao desastrado Pedro Santana Lopes.) Mas para isso, teria que fazer alguns ajustamentos estratégicos e programáticos importantes no seu discurso, até agora recheado de banalidades neoliberais fora de prazo. O meu pessimismo relativamente à capacidade de resposta do antigo líder da Juventude Social Democrata é, porém, absoluto. Daí que, em minha opinião, Marco António precise de pensar rapidamente se não será tempo de avançar ele mesmo, com as ideias que tem, para a disputa da liderança do partido laranja, marcando desde já uma posição clara, preparatória de futuros voos. Num ponto Marco António tem toda a razão: as alternativas que se apresentaram até agora estão velhas e gastas.

Santana e Ferreira Leite, por mais que queiram, não poderão surpreender. Santana ficará seguramente pelo caminho. Mas o efeito que a vitória provável de Manuela Ferreira Leite terá no partido, depois de superada nova catarse eleitoral, acabará por ser o agravamento da agonia em curso do PPD-PSD. Jardim, ao contrário do que cheguei a crer, está receoso e não tem efectivamente tropas no continente (vai esperar pela terra queimada.)

O populismo suave de Sócrates não se depara, conhecidos que foram os candidatos às próximas directas do PPD-PSD, com nenhuma alternativa temível. Tanto mais que o actual governo tenderá a intensificar as suas manobras de propaganda e sedução populistas até às legislativas de 2009.

Se decidir abrir alas à vitória de Manuela Ferreira Leite, por verificar que a alternativa Pedro Passos Coelho não passa de uma promessa pífia, Marco António ganhará porventura o tempo de que necessita para projectar a sua aposta estratégica de renovação geracional da liderança do PSD, da qual seria provavelmente o principal protagonista. Quando Marco António repete a ideia de que é preciso bom senso, ressoa claramente o aviso sobre a extrema fragilidade actual do seu partido. Nisso está plenamente sintonizado com Manuela Ferreira Leite. Uma sintonia que, bem vistas as coisas, poderá salvar o segundo maior partido português de uma extinção prematura.

As coisas poderão, no entanto e apesar de todos os cuidados, ir noutra direcção. O cenário da cisão continua de pé. Entretanto, uma certeza: o tempo de crise extrema que aí vem não poderia ser mais propício à proliferação dos populismos. Não vale a pena excomungar o fenómeno sem sequer discuti-lo. Os partidos tradicionais não só enfermam todos eles de tiques populistas, como o status quo de que fazem parte e inconscientemente acarinham há décadas passa por ser um dos grandes fermentos desta forma de empobrecimento, desvio e finalmente deformação da pulsão democrática.

Donde que a pergunta crítica que me apetece colocar neste momento seja esta: existe ou não uma variante europeia de populismo, civilizada, sofisticada e incapaz de subverter os pressupostos básicos da democracia representativa suportada por uma clara e bem institucionalizada divisão de poderes? E se a resposta for afirmativa, qual seria o seu papel na regeneração das democracias ocidentais?


OAM 351 29-04-2008, 03:56

quinta-feira, abril 24, 2008

PPD-PSD 2

O Joker do Atlântico

Depois de uma noite de facas longas, Jardim regressou ao Funchal com uma certeza: no Continente só viu candidatos fracos, como uma Manuela Ferreira Leite incapaz de chegar a primeira-ministra, e alguns exóticos, entre os quais se deparou, inesperadamente, com o cadáver ambulante de Pedro Santana Lopes.

Há quatro partidos dentro do PPD-PSD: o PSD de Cavaco, Pacheco Pereira e Manuela Ferreira Leite, o PPD dos herdeiros desvairados de Sá Carneiro, entre os quais se destacaram pela caricatura, Pedro Santana Lopes e Luís Filipe Menezes, o PiSD, de Alberto João Jardim -- impagável jindungo da nossa malbaratada democracia --, e o grande vagão laranja de quem um dia espera ser ministro ou motorista de Aníbal Cavaco Silva, de Alberto João Jardim, ou de qualquer outro distribuidor de empregos pouco especializados.

No momento em que escrevo estas linhas começou o processo de execução do zombie em que se metamorfoseou Pedro Santana Lopes na sua teimosia em não morrer com o mínimo de dignidade política exigível a um ex felizmente brevíssimo primeiro ministro. Convém que a execução seja rápida. Amanhã, ou quanto muito, depois das festividade abrilistas, o populismo voluntarioso e experiente do líder da Madeira deveria começar a desinfectar o PiSD dos seus candidatos exóticos à liderança e das suas obsoletas sobrevivências "maoístas", lançando-se sem demora às goelas de José Sócrates. O país está a precisar dum bom Thriller!

Há muito que defendo a necessidade de partir ao meio (ou mais ou menos ao meio) a laranja e a rosa do nosso esgotado e corrompido Bloco Central. O populista que a tríade de Macau colocou em desespero de causa à frente do PS e do país, merece um populista à altura, capaz de o pôr na ordem e de divertir ao mesmo tempo o país durante o tango político que, presumo, já ninguém conseguirá evitar. A cisão do PPD-PSD é inevitável. Quanto mais cedo se der melhor.

Quanto mais cedo se der, mais cedo precipitará a cisão do PS e a renovação imprescindível do apodrecido espectro político-partidário que temos. O CDS deve desaparecer, porque na realidade há muito que não existe. Os socialistas devem mandar o Sócrates e a tríade de Macau às urtigas e refundar o seu partido em moldes cultural e tecnologicamente decentes. A linda Joana Amaral Dias deve dar um golpe de Estado no Bloco de Esquerda e fazer daquilo um partido pós-contemporâneo capaz de atrair de novo a juventude para o debate político e para a cidadania activa. Em suma, os sociais oportunistas do PSD e do PS devem juntar os trapos sob a batuta de José Sócrates e do sagaz Júdice, e formar uma espécie de partido neo-tecnocrata e tardo-liberal.

Sabem uma coisa? O elogio de Jaime Gama a Alberto João Jardim afinal não foi um lapso. E mais, a noite passada sonhei que o actual presidente da república aproveitou o passeio pelo arquipélago da Madeira para indicar ao populista que o governa há mais de trinta anos, um destino inadiável: Lisboa! Se não for desta, será na próxima crise do moribundo PPD-PSD.


OAM 350 24-04-2008, 21:06