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quarta-feira, maio 07, 2014

O fim do crescimento, seguido de deflação e...


Medina Carreira precisa de mudar de discurso

The Death Cross Of American Business
Submitted by Tyler Durden on 05/06/2014 17:44 -0400 | ZeroHedge

So much for the recovery... As WaPo reports, the American economy is less entrepreneurial now than at any point in the last three decades. A rather damning new Brookings Institution report shows that US businesses are being destroyed faster than they're being created. As the authors of the report ominously explain: If the decline persists, "it implies a continuation of slow growth for the indefinite future," as new business creation has been cut in half since 1978.

O suicídio da capitalismo americano não vai ser bonito de ver.
Desde 2008 que mais empresas morrem por ano do que aquelas que nascem. Ou seja, depressão económica inevitável.

O Medina Carreira deveria começar a olhar para as estatísticas de outros países, e depois tentar perceber o que se passa, coisa que ainda não consegue, de todo!

Mas eu explico-lhe numa frase: sem petróleo barato, que acabou de vez, o crescimento capitalista acelerado e anormal dos últimos 120 anos (i.e. acima dos 2-3%) morreu. O que vimos de 1996 para cá foram bolhas financeiras e endividamento desenfreado desenhados com o único propósito de esconder e atrasar o inevitável, i.e. a chegada de uma nova era de equilíbrio macro-económico, precedida embora por um período de colapso, depressão e deflação, que irá desgraçar todos os indivíduos, empresas, especuladores e estados sobre-endividados.



É aliás esta a explicação simples para o insucesso a que a 'esquerda' idiota que temos, a começar pelo PS do acólito Seguro, está inexoravelmente condenada. A 'esquerda' indígena, ou ganha juízo, ou vai pulverizar-se rapidamente, com possíveis erupções extremistas episódicas e sem qualquer hipótese de êxito, pela explicação sociológica dada em post anterior.

Recomendo a todos a leitura de The Great Wave, de David Hackett Fischer.

sábado, abril 05, 2014

A deflação não é um perigo, a dívida imparável e a inflação, sim!

Se a procura de capacidade cai, a economia não cresce.

 

O que Seguro pede, já foi e continuará a ser dado pelo BCE, e não é bom... 

 

“...we do not exclude further monetary policy easing and we firmly reiterate that we continue to expect the key ECB interest rates to remain at present or lower levels for an extended period of time” — Mario Draghi.
“The first obstacle is… the emerging risk of what I call “low-flation,” particularly in the Euro Area. A potentially prolonged period of low inflation can suppress demand and output—and suppress growth and jobs. More monetary easing, including through unconventional measures, is needed in the Euro Area to raise the prospects of achieving the ECB’s price stability objective. The Bank of Japan also should persist with its quantitative easing policy” — Christine Lagarde (in Stockman’s Corner).
The fear of deflation serves as the theoretical justification of every inflationary action taken by the Federal Reserve and central banks around the world. It is why the Federal Reserve targets a price inflation rate of 2 percent, and not 0 percent. It is in large part why the Federal Reserve has more than quadrupled the money supply since August 2008. And it is, remarkably, a great myth, for there is nothing inherently dangerous or damaging about deflation.

Deflation is feared not only by the followers of Milton Friedman (those from the so-called Monetarist or Chicago School of economics), but by Keynesian economists as well. Leading Keynesian Paul Krugman, in a 2010 New York Times article titled “Why Deflation is Bad,” cited deflation as the cause of falling aggregate demand since “when people expect falling prices, they become less willing to spend, and in particular less willing to borrow” — in Deflating the Deflation Myth - Chris Casey - Mises Daily
Wednesday, April 02, 2014, by Chris Casey.

O medo de deflação é irracional e infundado, segundo a Escola Austríaca. Baixar os juros e aumentar mais ainda a emissão de moeda e portanto a massa monetária é o que está em curso, tanto nos EUA, como na UE, como na... China, supostamente para afastar o demónio da deflação. E no entanto os preços e a atividade económica continuam estagnados. Basta reparar nos últimos gráficos do Baltic Dry Index. Nem a criação artificial de liquidez, nem a destruição dos juros chegam à economia, e muito menos às famílias que se vêm atingidas pelo desemprego estrutural causado pelo colapso das empresas, seja por efeito do excesso de capacidade destas, seja por terem o acesso ao crédito bancário bloqueado.

Todos queremos pagar menos, e não mais!

No entanto, a aposta dos bancos centrais, e do PS, e do Bloco de Esquerda, vai sempre ter com a inflação. Ora, como o emprego não cresce e o desemprego aumenta, esta inflação invisível (os tais 2% que são bem mais...) estimulada pelos bancos centrais e pelos partidos de esquerda só pode ser uma receita para o desastre: expropriação generalizada das classes médias, através da expropriação financeira e fiscal das suas poupanças e rendimentos, a qual resulta da redução das taxas de juro para valores negativos (sim, negativos...) e da destruição do crédito à economia produtiva (aquilo que eufemisticamente os banqueiros centrais chamam 'mecanismos de transmissão monetária' e 'fragmentação').

Na realidade, estamos a caminho de uma expropriação em massa da riqueza privada através dos bancos centrais, em nome, não da emancipação de um qualquer proletariado, que já não existe, mas do fortalecimento, enriquecimento e centralização de uma classe financeira global e globalmente servida por uma tropa de choque burocrática sem vergonha, de que a generalidade dos partidos sentados nos parlamentos são parte integrante.

Ou seja, os rendimentos de capital caiem, os rendimentos do trabalho caiem, mas os preços das matérias primas, da energia e os impostos continuam a subir acima da inflação declarada, tal como o preço a pagar pelas dívidas soberanas que são alimentadas pela demagogia populista instalada com recurso à criação imparável de massa monetária fictícia, i.e. de dívida pública e privada — o que, por sua vez, dará aos novos soberanos financeiros pretexto e fundamento legal para a mencionada expropriação da riqueza produzida, bem como da poupança de mais de duas gerações! Veja-se a venda de ativos públicos ao desbarato e sem prudência contratual por parte dos governos de José Sócrates (PS) e Passos Coelho (PSD-CDS/PP). O Estado não tem outra forma de pagar o banquete que encomendou e papou ao longo das últimas duas décadas!

Quando o tótó Seguro pede mais tempo e menos juros esquece, porque na realidade não sabe, e apenas repete o que o economista cor-de-rosa de turno lhe diz, que é precisamente isso que tem sido feito desde que o BCE entendeu que o problema financeiro da UE deixara de ser um problema circunscrito à periferia e se deslocara para o coração do... euro!

Enquanto não deixarmos cair os bancos, e sobretudo não tratarmos da saúde aos especuladores e aos rendeiros sistémicos do capitalismo burocrático, assistiremos à continuada destruição das classes médias, ao empobrecimento geral das economias, à desagregação social dos países e ao perigo de novas guerras e revoluções. Só que desta vez o sangue correrá sem prémio no fim :(

Curiosamente, a democracia populista, devorista e rendeira que temos começa a morder perigosamente a própria cauda.

POST SCRIPTUM
Introductory statement to the press conference (with Q&A)
Mario Draghi, President of the ECB,
Frankfurt am Main, 3 April 2014
(transcript)

Atualizado: 6/4/2014, 02:06 WET

segunda-feira, março 17, 2014

Bloomberg: Investidores estão a vender dívida espanhola e a virar-se para Portugal - Jornal de Negócios

 Não é só mérito próprio, mas sobretudo fruto da época!


A BlackRock Inc., a maior gestora de activos mundial, está a reduzir o investimento em dívida espanhola por considerar que os títulos estão sobrevalorizados, escreve a Bloomberg. Já o JPMorgan Asset Management está a vender dívida de todos os países periféricos e a Sturgeon Capital Ltd. está a alterar o seu foco para Portugal e Itália.

“O jogo está praticamente perdido para Espanha face às ‘bunds’ alemãs”, explica o gestor de activos Yannick Naud, da Sturgeon Capital, citado pela Bloomberg. “A partir de agora, estamos a falar de ganhos marginais comparando com aquilo que Portugal e Itália ainda oferecem”.

A dívida espanhola gerou uma rendibilidade de 5% nos últimos três meses, metade da rendibilidade oferecida pela dívida portuguesa, de acordo com os dados compilados pela Bloomberg. Portugal ainda paga mais 130 pontos-base do que Espanha para se financiar a 10 anos, o que compara com um ‘spread’ de apenas oito pontos-base na primeira década da união monetária.

A andanças das taxas de juros e dos câmbios é o principal negócio do capitalismo financeiro especulativo nesta fase declinante do Capitalismo afluente.

Mas quando as taxas de juro se aproximam do zero, ou de valores abaixo de zero, no Japão, Estados Unidos, Reino Unido e União Europeia, e a deflação espreita em todas estas regiões, ou já se instalou, e os processos de regulação das dívidas começam a ter contornos militares cada vez mais acentuados, a proximidade de uma reestruturação efetiva, embora deslizante, prolongada e disfarçada, da dívida impagável dos países desenvolvidos é inevitável.

Por enquanto os especuladores continuam na busca frenética das melhores rendibilidades e da segurança de pagamentos. Mas até Portugal começou a ver baixar os juros dos novos empréstimos públicos, e portanto a ver recuar as famosas rendibilidades (yields) devidas aos especuladores da Goldman Sachs, JP Morgan e afilhados, que as buscam por toda a parte.

O que explica a nova credibilidade da dívida portuguesa é uma confluências de ocorrências que convém reter, para evitar ilusões perigosas:

  1. regresso à destruição das taxas de juro (que em Portugal também ocorre, mas vai mais atrasada do que em Espanha e resto da UE), combinada com a destruição do poder aquisitivo de 90% da população americana e europeia, com especial incidência nas classes médias, e com a deflação dos preços que desponta;
  2. perca de controlo sobre a imparável dívida pública e privada americanas;
  3. crise política a leste da União Europeia, com impactos previsíveis nas relações entre o Ocidente e a Rússia e China, e um expectável reforço económico estratégico das relações atlânticas no triângulo Europa Ocidental-América-África;
  4. venda maciça de dívida americana por parte da China e da Rússia.


Bloomberg: Investidores estão a vender dívida espanhola e a virar-se para Portugal - Taxas de juro & Crédito - Jornal de Negócios

sábado, junho 16, 2012

Hiperinflação ao virar da esquina ?

Imaginem que um litro de leite Vigor, que hoje custa 0,80€, passaria a custar daqui a um ano OITO MIL BILIÕES DE EUROS (0,8x10E16). Foi o que aconteceu na Hungria depois da Segunda Guerra Mundial!


Uma nota de 1 bilião de dólares do Zimbabué

As rotativas digitais americana e inglesa retomaram a sua criação virtual de liquidez a partir do zero, isto é, a partir do nada!

Todos pressionam para que a tia Merkel faça o mesmo, para tapar o buraco negro do endividamento europeu, começando por encher os bolsos dos grandes especuladores, e expropriando depois a poupança de centenas de milhões de pessoas e empresas. A hiperinflação traduz-se nisto: em vez de o banco não pagar nada pelo dinheiro que lá depositamos (que é a situação que temos hoje, pois os juros que nos pagam são comidos pela inflação real e pelos impostos), passa a pagar juros crescentes, mas a uma velocidade infinitamente inferior à da subida brutal dos preços do que consumimos no dia a dia. A tal ponto que, em poucos meses, todo o dinheiro que temos no banco deixa de valer seja o que for, salvo se foram biliões de euros, e mesmo assim....

Quando o dinheiro perde todo o seu valor, o que passamos a querer em troca de um pacote e leite fresco, não é uma mochila cheia de notas, mas um pão alentejano, um pacote de massa, um quilo de maçãs de Alcobaça, ou uma lata de atum dos Açores. O sinal de que caminhamos para isto é este: todas as empresas do PSI20, salvo as que lidam com petróleo e mercearias, perderam mais de 64% do seu valor nos últimos quatro anos. A Rio Tinto, líder mundial da extração de metais, vai reabrir as minas de ferro de Moncorvo, enquanto a China açambarca ouro, petróleo e cereais usando as suas gigantescas reservas de dólares em contratos de futuros para aquisição de bens essenciais.

É bem possível que Berlim e Frankfurt acabem por ceder, ainda que e apenas na condição de haver uma centralização orgânica dos poderes e dos controlos financeiros, fiscais e orçamentais da União Europeia.

Em suma, depois da deflação em curso, que poderá agravar-se mais ainda até ao fim de 2013, é bem possível que o espectro da hiperinflação na Europa esteja ao virar da esquina, em 2014, ou 2015.

Tempo para ver o histórico deste tipo de calamidade!

Episódios de hiperinflação desde a Revolução Francesa (1789)


Peak Monthly Inflation In 1945 Hungary: 12,950,000,000,000,000% And Other Hyprinflationary Facts | ZeroHedge

Última atualização: 16 jun 2012 23:13

quinta-feira, janeiro 26, 2012

Corrida de lémures

Quem quer escapar ao precipício? 

Família de lémures. Foto © AFP

Recebi um elucidativo artigo sobre a matemática da crise actualmente em curso, que junto na íntegra ao meu comentário.

Concluo da sua leitura o seguinte:
  1. Tornar a Europa competitiva significa, de acordo com Thambapillai, deflação e desemprego estrutural — certo?
  2. Mas o problema é que se todos entrarem neste corrida de lémures para o abismo —depois do Japão, a China, os EUA, e agora a Europa— o que é que sobra?
  3. Talvez alguém se lembre, antes de esta década chegar ao fim, e entre os mais atingidos por este suicídio em massa —os países mais pobres, populosos e jovens do planeta— de responder com uma guerra, simultaneamente assimétrica e simétrica!
  4. Será isto que os piratas anglo-americanos andam a preparar? Quem lhes garante que se sairão oura vez impunes de mais um morticínio à escala global?
  5. É melhor começar a chamar os burros pelos nomes!

What is meant (in monetary policy) by the ‘zero lower bound problem’?
 By Ravin Thambapillai

tldr;
The zero lower bound problem is when the Central Bank wants to set the interest rate to be negative, but can't, because otherwise people would withdraw all their money from banks and just hold cash. Because the central bank can't choose its preferred interest rate, you get unemployment and disinflation, or worse, deflation.

The Zero Lower Bound problem is the problem that if the equilibrium interest rate falls below 0, the economy can fall into a self perpetuating slump, which can take an unusually long time to get out of.

Firstly:
1. The interest rate cannot go below 0 because if it did, those holding bank deposits might simply withdraw their deposits and hold the money as cash (which earns 0 nominal return, as opposed to a negative nominal return, which bank deposits would be earning).

Secondly:
2. The interest rate equilibriates inflation and unemployment. That is, if inflation is too high, raising the interest rate will bring it down. If unemployment is too high, lowering the interest rate will bring that down.

The Central Bank sets the interest rate according to a very complicated version of an equation that is effectively this (called the Taylor Rule):



i is the interest rate,
pi is the inflation rate
r is the real interest rate, or i - pi
a is just some coefficient that reflects how much you dislike excess inflation and excess unemployment (it can be any number but should be above 0, since excess is by definition too much)
the * represents "what this variable would be in the ideal economy
y is output/employment
y bar is output/employment in the ideal economy (you can have too much output, if that output starts causing unwanted inflation).
the t is basically irrelevant, but means "at time t"

(This equation says the interest rate should be set to the interest rate at equilibrium, plus some amont to adjust for unwanted inflation, minus some amount to adjust for unwanted unemployment).

Now
Imagine you have the following scenario:
Unemployment is high, so
is negative

inflation is below the target amount or equal to it (central banks tend to target about 2% inflation) so

is also negative or 0.
We can therefore conclude, that the optimal interest rate must satisfy:
now, by definition:

So:

But assuming

then you get that

 
But, we've already said this is impossible (its point 1 in this exposition), so in other words, the central bank cannot set an interest rate low enough to achieve equilibrium in the economy.

The consequence of this is that the interest rate must get set at best at 0, which is too high, and prevents the economy from achieving equilibrium employment. The economy therefore cannot achieve/restore full employment. Instead grinding disinflation or worse deflation and low employment continues, until eventually the country's prices have fallen so far that its exports look very cheap and it finds international markets for its goods.
in Quora 

Actualização: 26 jan 2012 14:16

domingo, dezembro 07, 2008

Portugal 57



Mutatis Mutandis

Ainda não tomou posse, mas os sinais dados por Barak Obama são claros: não irá permitir que a China, e muito menos a Rússia, explorem para lá dos limites do razoável o actual estado de fraqueza do seu país. A águia americana reduzirá os seus voos altivos, mas não descuidará nenhum dos seus flancos estratégicos. Decidiu finalmente cuidar das feridas. Mas decidiu também que não perderá protagonismo, nem deixará de marcar pela positiva algumas das agendas mundiais mais importantes.

O discurso dirigido este Sábado pelo presidente eleito dos Estados Unidos ao seu país e ao mundo, via YouTube, é um desses documentos preciosos da futura história política do século 21 e da resposta dada aos tremendos desafios com que se deparou e afligiu.

Na substância, o anúncio de Obama irá comprometer a mais diversificada, trabalhadora e criativa nação do planeta no inimaginável esforço de recuperar a economia real dos Estados Unidos ao longo dos próximos quatro anos.

As três prioridades não negociáveis do seu discurso —
  • eficiência energética,
  • educação tecnologicamente avançada,
  • e renovação das infraestruturas degradadas (a começar pelas escolas e estradas municipais)
— irão abrandar fortemente a suicida exportação de recursos financeiros e conhecimento para fora do país, posta em prática desde a década de 1970, em nome de uma produtividade ilusória, cujos efeitos acumulados acabariam por dar no desastre actual.

Uma mais apertada regulação dos mercados e instituições financeiras é praticamente inevitável para atingir o desiderato definido por Obama. Do controlo mais apertado destas porcas do sistema, advirá uma segunda consequência, que ainda ninguém quer discutir, mas que a seu tempo abrirá os telejornais e as cachas da nossa desmiolada "comunicação social". Refiro-me à necessidade de redesenhar os equilíbrios (ou melhor, desequilíbrios) do comércio mundial. A OMC (ou WTO) irá sofrer uma reforma inevitável. A globalização, em suma, será objecto de ajustamentos dramáticos, tendo em vista, por um lado, acomodar os impactos na economia mundial de potências emergentes onde não predominam propriamente regras de transparência e accountability, e por outro, alterar radicalmente a perspectiva neocolonialista e imperialista que tem orientado a imposição dos termos de troca à escala planetária por parte dos países industrializados do G7.

No século 15, portugueses e castelhanos negociaram um célebre Tratado de Tordesilhas para evitarem disputas desnecessárias, e sobretudo ruinosas, entre os dois países. Era o início das grandes descobertas que levariam ao mapeamento integral do mundo. Foi o tempo da novidade e da disponibilidade absoluta do Outro. Camões eternizou o momento nos Lusíadas, ao pintar a Ilha dos Amores com estas cores:

«Sigamos estas Deusas e vejamos
Se fantásticas são, se verdadeiras.»
Isto dito, veloces mais que gamos,
Se lançam a correr pelas ribeiras.
Fugindo as Ninfas vão por entre os ramos,
Mas, mais industriosas que ligeiras,
Pouco e pouco, sorrindo e gritos dando,
Se deixam ir dos galgos alcançando.

Os tempos de hoje são infelizmente muito diferentes. São tempos de desgaste, escassez, poluição, ganância sem regra e assimetrias extremas. E os protagonistas de uma nova partilha da Terra, certamente mais do que dois!

Ainda que possamos imaginar uma grande metade Ocidental, e outra Oriental, a verdade é que boa parte dos recursos naturais e tecnológicos se conservam na metade Ocidental do planeta (no continente americano, em África e na Europa). O Atlântico, o Mediterrâneo, os mares interiores da Europa e a Passagem do Noroeste alinham-se sob uma única e vasta aliança potencial. Não tardará muito que a China acabe por empurrar a Rússia para os braços da Europa Ocidental. Mas há uma realidade dramática de que não podemos fugir: 60% da população mundial vive na Ásia! E boa parte das reservas petrolíferas mundiais situam-se nas juntas entre a Ásia, a Europa e África, isto é, no explosivo Médio Oriente, onde o conflito Israel-Árabe vem desempenhando desde 1917 (Balfour Declaration) a função de uma verdadeira válvula de escape das tensões geo-estratégicas que se jogaram ao longo de todo o século 20 em volta das principais reservas mundiais de petróleo.

A haver uma nova Tordesilhas, que a sobrevivência dos Estados Unidos e da Europa a prazo exige, será seguramente um bordado bem mais complexo que a linha situada algures a 370 léguas do arquipélago de Cabo Verde. Mas duma coisa estou certo: o discurso de Obama emitido pelo YouTube este Sábado, que não entusiasmará Wall Street, vai abrir a discussão sobre o futuro imediato da globalização.

No que toca à União Europeia, que pelos vistos continua a navegar nos mares alterados do mais imbecil oportunismo, poucas alternativas haverá que não passem por ouvir e seguir Obama. O novo senhor da América tem uma visão amadurecida dos problemas, e sobretudo das soluções. Por outro lado, a sua campanha presidencial fez emergir de forma definitiva a Internet (ver o canal Change.gov) como meio insubstituível da interacção democrática na era pós televisiva. Se mantiver o rumo até agora traçado —eficiência energética, educação avançada, e renovação das infraestruturas— , a Europa não poderá se não segui-lo. Mudando o que há mudar, claro!


PS: O Blogger acaba de implementar um widget (no canto superior direito deste blogue), chamado Seguidores, o qual dá visibilidade aos meus leitores frequentes. Para fazer parte deste mini clube de fãs é no entanto necessário abrir uma conta no Gmail. A decisão é vossa. Bem-vindos ;-)


OAM 488 07-12-2008 20:22