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quarta-feira, junho 19, 2013

500 anos de energia

Global Financial Data

Um gráfico muito interessante sobre o preço da energia

No que se refere à era Vitoriana (1815-1901) e ao século XX (e primeiro quartel do séc. XXI), este gráfico publicado por Ralph Dillon no Global Financial Data, confere perfeitamente com a teoria das grandes ondas de preços de David Hackett Fischer (The Great Wave - Price Revolutions and the Rhythm of History). Quando a procura agregada crescente deixa de poder ser satisfeita pela oferta agregada, seja lá por que motivo for, ocorre um colapso e alternância entre o que Fischer chama Ondas de Revolução nos Preços (inflacionárias) e Ondas de Equilíbrio (deflacionárias, num primeiro momento, de estabilidade de preços no período seguinte).

A era Vitoriana foi uma era de estabilidade de preços e grande criatividade (tal como Renascimento); a era Contemporânea foi de subida constante dos preços, e aproxima-se do fim... Seguir-se-à uma Nova Era Criativa, mas vai custar uma crise e um sofrimento enormes. Sentimentos contraditórios? Sim, são inevitáveis.

Fonte: ZeroHedge

terça-feira, janeiro 08, 2013

Hipocrisia constitucional

Marcel Duchamp, Eau & gaz à tous les étages. 1958, Paris. (1)

A Constituição não pode castrar a liberdade e o futuro

“We all know what to do, we just don’t know how to get re-elected after we have done it.” — Jean-Claude Juncker, primeiro ministro do Luxemburgo e presidente do Euro Grupo.

Basta ler o preâmbulo da nossa Constituição para percebermos que a mesma tem mais olhos que barriga. Ou seja, que promete o que não pode, em si mesma, assegurar: “...abrir caminho para uma sociedade socialista” (2).

Uma constituição consubstancia, ou deve consubstanciar, os princípios civilizacionais e culturais que um dado povo pretende assumir e fazer respeitar tendo em vista atingir determinados patamares de liberdade, bem estar, justiça e felicidade. No entanto, deve-se ter o cuidado de não forçar um texto constitucional a prometer algo cuja realização dependa mais do trabalho, da boa administração, da cooperação e dos recursos disponíveis, do que do mero respeito pelos princípios e regras morais. As constituições definem limites à prepotência e traduzem pactos de utopia, mas não podem decretar o progresso dos povos. Este depende do que estes forem capazes de realizar no dia a dia, mas também de circunstâncias que nem sempre conseguem ou podem controlar.

Vem isto a propósito da frente oportunista que de repente se ergueu para travar a inevitável austeridade decorrente da bancarrota do país. Os credores condicionam os seus empréstimos e as suas ajudas in extremis ao cumprimento de um memorando destinado a reduzir no mais curto prazo possível o excesso de endividamento público e privado, interno e externo. A dívida soberana, empresarial e doméstica dos portugueses não deveria nunca ultrapassar os 180% do PIB. Mas o facto é que está bem acima dos 300%. Logo, sob pena de termos que entregar o país aos credores, é nossa obrigação inalienável tudo fazer para corrigir no mais curto prazo possível décadas de irresponsabilidade, populismo e cleptocracia. A Constituição não o permite? Não é verdade, mas se fosse, então haveria que suspendê-la, ou suspender temporariamente a aplicação de algumas das suas normas, até que a situação excepcional em que nos encontramos fosse ultrapassada.

A Constituição prevê emergências graves cujo efeito pode ser a suspensão parcial dos direitos constitucionais (3). Em caso de guerra ou ameaça grave iminente ao regular funcionamento das instituições democráticas pode haver lugar a uma limitação de alguns dos direitos constitucionais. Ora bem, uma insolvência soberana, ou o perigo visível de deixar o país resvalar para um período de graves convulsões sociais e luta política sem quartel, são emergências mais do que evidentes desde que o governo de José Sócrates se viu sem dinheiro para pagar aos funcionários públicos e teve, em tal contingência humilhante, previsível e anunciada, que submeter o país a uma espécie de protetorado. Os argumentos da corja devorista que em fila indiana se juntou à porta do Tribunal Constitucional com o único fito de travar a extensão da austeridade aos seus próprios privilégios indecorosos não colhem, pois, para nada!


Quanto mais depressa nos livramos da canga da dívida, melhor para todos

“Since the Second Wold War, debt levels in the developed economies have continually risen, with a notable increase since 1990. According to a study by the Bank for International Settlements (BIS), the combined debt of governments, private households, and non financial companies in the 18 core countries of the OECD rose from 160 percent of GDP in 1980 to 321 percent in 2010. In real terms, after inflation is taken into account, governments have more than four times, private households more than six times, and non financial companies more than three times the debt they had in 1980.” […]
“Today the developed world looks for a “next buyer” to take over its excessive debt load. Unfortunately, there is no such buyer in sight. The Ponzi scheme will have to be unwound.”
—  Daniel Stelter, Ending the Era of Ponzi Finance. BCG, january 2013 (4).

Entre 2005 e 2010 os países da OCDE reduziram as suas importações de petróleo em 15%. Se esta tendência se mantiver, em 2020 a redução das importações chegará aos 50%. Entretanto, países que foram grandes exportadores de petróleo passaram a importar este recurso precioso: Estados Unidos, Reino Unido, Indonésia, Austrália, ou o próprio Dubai. Nos EUA, 2/3 do petróleo consumido vai para o transporte automóvel, 60% na OCDE. Por outro lado, 98% dos transportes continuam a depender do petróleo. Como se isto não bastasse, o aquecimento global é mesmo uma realidade, e os fenómenos climáticos extremos agravam-se em número e dimensão catastrófica das ocorrências. Os Estados Unidos, por exemplo, estão ainda a braços com os efeitos de duas grandes calamidades: a devastação provocada, nomeadamente no estado de Nova Iorque, pelo Furacão Sandy, e a seca extrema que tem vindo a destruir as colheitas de cereais em vários estados americanos, nomeadamente no Iowa, no Minnesota e Wisconsin. A cereja em cima deste bolo estragado é o gigantesco movimento das placas tectónicas da economia mundial...


Para onde vão as classes médias?Global Trends 2030: Alternative Worlds.

Os países industriais mais desenvolvidos (o gráfico do Economist protege os cenários sombrios do mundo anglo-saxónico) encolhem visivelmente, enquanto países e regiões emergentes sul americanos, africanos e sobretudo asiáticos atravessam momentos de euforia expansionista. No entanto, para um número crescente de investigadores, além do gravíssimo problema das alterações climáticas, a humanidade enfrenta o fim de 250 anos de um longo e porventura único período de crescimento económico e desenvolvimento tecnológico. Na realidade, desde 1956 que os avisos têm vindo a ser feitos: M. King Hubbert (Nuclear Energy and the Fossil Fuels, 1956), Donella H. Meadows, Dennis L. Meadows, Jørgen Randers, e William W. Behrens III (The Limits to Growth, 1972), David Hackett Fischer (The Great Wave—Price Revolutions and the Rhythm of History, 1996), Jared Diamond (Collapse: How Societies Choose to Fail or Succeed, 2005), Robert Hirsh (Peaking of World Oil Production: Impacts, Mitigation, and Risk Management, 2005), etc. No ano passado, um paper escrito por Robert J. Gordon —Is U.S. Economic Growth Over? Faltering Innovation Confronts the Six Headwinds; NBER Working Paper 18315, August 2012— veio reavivar a discussão sempre reprimida do declínio de um modelo de civilização e tecnologia único e porventura sem herdeiros. A civilização industrial baseia-se em três combustíveis fósseis de grande poder energético, formados ao longo de milhares ou milhões de anos, mas cuja existência a baixo custo é limitada: o carvão, o petróleo e o gás natural.

Como disse recentemente Richard Heinberg, numa palestra em Sydney (5):
“Our economy is based on a model of constant growth - growth in production, consumption and population. Economic growth has provided rising standards of living in the West and seen millions in China and India lifted out of poverty. This model has been disrupted in many countries by the global financial crisis, which is now seeing another round of casualties, particularly in Europe. Will things settle down with growth resuming, or will our economies bump up against a wall of finite resources? And if they do, what will this mean the global balance of power?”

Por sua vez, Robert J. Gordon resume assim a sua hipótese:
“This paper raises basic questions about the process of economic growth. It questions the assumption, nearly universal since Solow’s seminal contributions of the 1950s, that economic growth is a continuous process that will persist forever. There was virtually no growth before 1750, and thus there is no guarantee that growth will continue indefinitely. Rather, the paper suggests that the rapid progress made over the past 250 years could well turn out to be a unique episode in human history.”

Os desafios imediatos, ao longo de toda esta década, e depois dela, não poderiam ser mais radicais.

A crise portuguesa, apesar de localmente agravada e precipitada por quem capturou o regime para benefício de uns tantos piratas e banksters, é tão só um dos vários epifenómenos de um grande terramoto económico, social e financeiro global preste a eclodir. Daí que a nossa resposta precise urgentemente de evoluir para um outro patamar de discussão e decisão!


Gráfico do BCG sobre as alternativas de resposta à crise das dívidas

O artigo de Daniel Stelter publicado este mês por The Boston Consulting Group é uma resposta construtiva à bazuca analítica de Robert J. Gordon. Se a hipótese deste último se confirmar, em linha, embora por via diversa, com as hipóteses de M. King Hubbert, Donella Meadows, Jared M. Diamond, Robert Hirsch, e outros, a metamorfose que nos espera será muito dolorosa. Na melhor das hipóteses, entraremos num longo período de deflação, depressão económica e colapso social, ao qual se seguirá eventualmente um novo renascimento. Mas para que esta hipótese, por assim dizer, positiva, seja viável, teremos que conservar boa parte das tecnologias e sistemas energéticos conhecidos, o que implicará forçosamente, no que ao petróleo se refere, uma redução drástica do seu consumo. Bastaria talvez, para atingirmos este objetivo verdadeiramente estratégico, que metade ou mesmo 2/3 da frota automóvel mundial passasse a usar gás natural liquefeito (GPL) em vez de gasolina ou gasóleo. Que implicações logísticas envolveria uma tal operação? É bem possível que alguém anda a estudar este assunto.

Robert J. Gordon — Um gráfico que perturba muitas ideias feitas.

Há, no entanto, problemas urgentes que precisam de ser atalhados com inteligência, precisão e coragem. O primeiro destes problemas é o sobre-endividamento associado ao populismo democrático e à explosão dos casinos financeiros do Ocidente. Os contratos de derivados financeiros não transparentes e não regulados (ditos OTC—over the counter), envolvendo sobretudo a especulação com taxas de juro e com o mercado cambial, equivalem a uma bomba-relógio dez vezes maior do que PIB mundial. A somar a esta bomba temos as ações desesperadas dos governos, as quais conduziram, por exemplo, em Espanha, a enterrar 90% dos seus fundos públicos de pensões na compra de dívida governamental, boa parte da qual seria por sua vez aplicada na compra de ativos tóxicos do sobre-endividado e corrompido sistema bancário espanhol. Esta gangrena tem que ser estancada rapidamente, sob pena de lançar países como a Espanha, Portugal, Irlanda, Grécia, Chipre, etc., em um de dois cenários catastróficos: ou o colapso irreparável seguido de uma desorganização económica, social e política gravíssima, ou a estagnação — que não é menos triste.

The Wall Street Journal—Spain Drains Fund Backing Pensions Jan, 2013)

A alternativa ao colapso, segundo o artigo publicado este mês pelo BCG, passa por fazer duas coisas: pagar as dívidas —assegurando um plano credível, transparente, verificável e publicamente partilhado com os credores— e realizar, sem mais demoras, todas as reformas estruturais necessárias.

Curiosamente, as dez medidas propostas por Daniel Stelter são um mix de austeridade, proteção das camadas mais desfavorecidas e reformas estruturais que não anda muito longe do que tem sido feito em Portugal, apesar dos protestos naturais de quem está submetido a tão violento tratamento de choque. Resumindo, eis o que propõe o BCG:
  1. Atacar imediatamente o fardo da dívida, tendo em conta que há dívidas incobráveis.
  2. Reduzir compromissos que não disponham do necessário financiamento.
  3. Aumentar a eficiência da governação e diminuir a percentagem do PIB consumido pelo Estado.
  4. Mitigar a escassez progressiva de recursos humanos (atacar a recessão demográfica).
  5. Desenvolver uma política de imigração inteligente (atacar a recessão demográfica).
  6. Investir na Educação (proteger e aumentar o PIB per capita).
  7. Reinvestir na manutenção e melhoria de eficiência das infraestruturas; promover o investimento privado, nomeadamente pela via fiscal — estimulando o investimento, por um lado, penalizando a distribuição de rendimentos, por outro.
  8. Incrementar a eficiência no uso dos recursos: baixar a intensidade energética da economia; potenciar as energias renováveis; apostar na eficiência dos materiais.
  9. Cooperar, além de competir (aposta em diplomacias económicas positivas).
  10. Lançamento da próxima onda Kondratiev.

O desafio deste artigo é claro:
“...the developed world needs to prove Robert Gordon wrong. By investing in a growing and hghly productive workforce and making it easier for engineers and technologists to innovate and for entrepreneurs to start new businesses, the developed economies need to unleash a new Kondratiev wave of global economic development.”

Não tardaremos a saber quem tem razão. Na opinião de Robert J. Gordon, a instalação de água e luz nas nossas casas foi uma revolução tecnológica infinitamente mais importante e duradoura do que a invenção do iPhone, ou do Facebook (7). Em que ficamos?


NOTAS
  1. Marcel Duchamp, Water and Gas on All Floors (Eau et gaz à tous les étages), June-Sept. 1958, Paria. Imitated ready-made: white lettering on blue enamel plate (15x20cm), facsimile of the plates affixed to apartment houses in France in the early 1890s.
    in toutfait.com
  2. “A Assembleia Constituinte afirma a decisão do povo português de defender a independência nacional, de garantir os direitos fundamentais dos cidadãos, de estabelecer os princípios basilares da democracia, de assegurar o primado do Estado de Direito democrático e de abrir caminho para uma sociedade socialista, no respeito da vontade do povo português, tendo em vista a construção de um país mais livre, mais justo e mais fraterno.”
    —in Constituição da República Portuguesa, AR.
  3. “Os órgãos de soberania não podem, conjunta ou separadamente, suspender o exercício dos direitos, liberdades e garantias, salvo em caso de estado de sítio ou de estado de emergência, declarados na forma prevista na Constituição.” (Suspensão do exercício de direitos — Artigo 19.º, 1).
    —in Constituição da República Portuguesa, AR.
  4. BCG—The Boston Consulting Group
    Collateral Damage; Ending the Era of Ponzi Finance; Ten Steps Developed Economies Must Take. By Daniel Stelter, January 2013. (PDF)
  5. Richard Heinberg, The End of Growth, Festival of Dangerous Ideas, Sydney Opera House, Australia, 26/10/2012 (vídeo).
  6. Robert J. Gordon, Is U.S. Economic Growth Over? Faltering Innovation Confronts the Six Headwinds; NBER Working Paper 18315, August 2012.
  7. “A thought experiment helps to illustrate the fundamental importance of the inventions of IR #2 compared to the subset of IR #3 inventions that have occurred since 2002. You are required to make a choice between option A and option B. With option A you are allowed to keep 2002 electronic technology, including your Windows 98 laptop accessing Amazon, and you can keep running water and indoor toilets; but you can’t use anything invented since 2002.

    Option B is that you get everything invented in the past decade right up to Facebook, Twitter, and the iPad, but you have to give up running water and indoor toilets. You have to haul the water into your dwelling and carry out the waste. Even at 3am on a rainy night, your only toilet option is a wet and perhaps muddy walk to the outhouse. Which option do you choose?
    I have posed this imaginary choice to several audiences in speeches, and the usual reaction is a guffaw, a chuckle, because the preference for Option A is so obvious. The audience realizes that it has been trapped into recognition that just one of the many late 19th century inventions is more important than the portable electronic devices of the past decade on which they have become so dependent.”— in Robert J. Gordon, Is U.S. Economic Growth Over? Faltering Innovation Confronts the Six Headwinds; NBER Working Paper 18315, August 2012.

Última atualização: 12 jan 2013, 10:55 WET

terça-feira, junho 19, 2012

Depois do crescimento



O crescimento exponencial condenado, explicado de modo magistral por Albert Bartlett

Arithmetic, Population, and Energy, by Dr. Albert A. Bartlett

 Four million views for an old codger giving a lecture about arithmetic? What's going on? You'll just have to watch to see what's so damn amazing about what he (Albert Bartlett) has to say.

I introduce this video to my students as “Perhaps the most boring video you’ll ever see, and definitely the most important.” But then again, after watching it most said that if you followed along with what the presenter (a professor emeritus of Physics at University of Colorado-Boulder) is saying, it’s quite easy to pay attention, because it is so damn compelling — in YouTube.

A mundo moderno cresceu ao longo dos últimos duzentos anos à custa de incomensuráveis esforços, indescritível sofrimento e injustiças cuja escala de horror é pura e simplesmente indesculpável. Mas o mais trágico de tudo é que o formidável desenvolvimento tecnológico e social que acompanhou a revolução moderna acaba de bater numa parede matemática implacável.

Os sinais foram evidenciados, entre outros, por M. King Hubbert, em 1956, tendo então demonstrado com fundamento bastante a aproximação do pico petrolífero. A solução que anteviu como única alternativa ao fim do petróleo e do carvão economicamente útil, para dar continuidade a uma civilização humana tecnologicamente avançada, foi a do uso generalizado da energia nuclear, como novo paradigma energético da civilização. Mais tarde, em 1972, um outro relatório, igualmente fundamentado, veio chamar a nossa atenção para a inviabilidade do nosso modelo de crescimento: The Limits to Growth, de Donella H. Meadows, Dennis L. Meadows, Jørgen Randers, and William W. Behrens III.

É possível que tecnologias muito mais seguras e avançadas de energia nuclear venham a dar resposta, pelo menos parcial, ao declínio inexorável dos combustíveis fósseis. Os principais problemas relacionados com a substituição do carvão/petróleo/gás natural por outras energias diz sobretudo respeito aos problemas de armazenagem, estabilização, portabilidade, transporte e preço das unidades de energia essenciais à vida das máquinas que nos assistem, a todo o momento e em quase tudo o que fazemos, e ainda à sua neutralidade relativamente aos demais recursos que extraímos da natureza e transformamos para nosso proveito, nomeadamente a terra arável. Nenhuma das chamadas energias alternativas, baseadas no vento, no Sol, nas ondas do mar, ou em biocombustíveis —do milho, cana de açúcar e pinhão manso, ao cultivo de algas— tem a mínima hipótese de substituir o colossal consumo de energia fóssil que tem alimentado o estilo de vida humano desde o tempo das primeiras máquinas a vapor à era do iPhone.

M. King Hubbert, gráfico sobre a era do carvão e do petróleo (1956)

A recente catástrofe nuclear de Fukushima veio atrasar em pelo menos uma década os esforços de convencer a opinião pública mundial de que existem tecnologias nucleares infinitamente mais seguras do que a dos reatores que derreteram em Chernobyl e no Japão. À medida que sincronizamos as leituras de Nuclear Energy  And The Fossil Fuels, de M. King Hubbert (1956), The Limits to Growth (1972), e Peaking of World Oil Production: Impacts, Mitigation, and Risk Management, escrito por Robert Hirsch para do US Department of Energy (2005), entre outras, o ano de 2030 aparece como o da grande implosão do modelo de crescimento que nos habituámos a ver como algo natural e eterno.

Na realidade, os avisos e os sintomas começaram a ser cada vez mais frequentes e graves desde a primeira crise petrolífera (1973), para cá. O colapso financeiro global em curso desde 2008, e do qual ninguém sabe como sair, ou mesmo se é possível sair, não é mais do que uma gigantesca crise de endividamento global com origem na insustentabilidade demográfica e energética do nosso modelo de crescimento. O buraco desta implosão equivale a mais de 12x o PIB mundial! Quem, como, quando, é que semelhante fossa abissal poderá ser tapada? Até quando este verdadeiro Fukushima financeiro fará sentir os seus efeitos letais? Até 2030? Até 2130? Até 3030? Ou até daqui a cinco mil anos — para usar a escala de Hubbert? Num lapso hilariante da presente crise, o BCE aceitou obrigações do tesouro de Portugal com maturidade prevista para 9999!


POST SCRIPTUM

Motivado por algumas perguntas sobre a veracidade do Peak Oil fiz umas contas rápidas para estimular a reflexão, tendo por horizonte a demografia humana prevista pela ONU e pelo USCB para 2100 e a compilação sobre produção petrolífera de John H. Walsh.

Produção mundial de petróleo (máx.) = 80 milhões de barris/dia = 29.200.000.000 bbl/ano

População mundial (março, 2012) = 7.000.000.000

Produção mundial de petróleo per capita = 4,171 bbl/ano

Crescimento demográfico mundial, líquido, médio e anual, até 2100 : +78 milhões de pessoas/ano

Necessidade suplementar de petróleo (mantendo-se o mix energético atual): +325.338.000 bbl/ano = +1.001.040 bbl/dia

Tendo em conta a queda da taxa de crescimento demográfico mundial, para pouco mais de 1% ao ano (1,1% em 2011), pode dizer-se que para manter os atuais níveis de consumo de petróleo per capita seria necessário aumentar a produção em aproximadamente 1 milhão de barris por dia, em cada novo ano, até 2100. Nesta hipótese teórica, supõe-se que todos os poços de petróleo continuarão a produzir sem esgotar nos próximos 89 anos, ou que novos reservatórios substituirão os que entretanto secarem. Assim, se a partir de amanhã não se produzir 81 milhões de barris por dia, e no ano que vem, 82 milhões bbl/d, e em 2014, 83 milhões de bbl/d, 89 milhões bbl/d em 2020, e assim sucessivamente, o resultado é óbvio: a produção per capita começará a decrescer, as tensões pela partilha do petróleo tenderá a aumentar, e a tudo isto não há como não chamar Peak Oil!

 Última atualização: 19 junho 2011 12:48

quarta-feira, maio 02, 2012

Sete pontes Vasco da Gama

A exploração do petróleo de xisto é uma trajetória desesperada e muito perigosa. Além do mais economicamente inviável. Artigo/foto: Green Prophet.

Enquanto os piratas sonham com novos aeroportos e autoestradas, a fatura das importações de energia revela bem o beco sem saída onde nos encontramos :(

JdN: “É o valor mais alto dos últimos três anos: 7,1 mil milhões de euros foi o preço pago por Portugal em 2011 pela necessidade de importar energia do exterior. Uma factura que representa um agravamento de 27,7% face ao ano anterior, segundo os mais recentes números da Direcção Geral de Energia e Geologia (DGEG).”

Quando baixarmos a nossa circulação automóvel individual para metade ou menos de metade da atual, que farão as concessionárias das autoestradas e das SCUT? Continuarão a exigir indemnizações compensatórias aos contribuintes? Em nome de que contratos leoninos? Em nome de que negócios ruinosos para o Estado? Está na altura de levar esta gente e os seus gabinetes de advogados a tribunal.

Não há soluções milagrosas para um problema tão grave quanto o Pico do Petróleo e o sobre endividamento público e privado (que já é uma consequência invisível do dito pico) da maioria dos países não produtores líquidos de energia e de matérias primas fundamentais.

Pico do Petróleo: os cenários são todos desastrosos (The Oil Drum)

Temos que começar por algum lado a promover a transição!

Pontos cruciais:
  1. substituir o transporte privado individual pelo transporte coletivo;
  2. substituir os sistemas de transporte assentes no petróleo/gasolina por sistemas de transporte elétricos e em todo o caso menos dependentes de hidrocarbonetos;
  3. apostar na ferrovia e no transporte por mar e rio;
  4. associar a desmaterialização de uma parte dos sistemas produtivos a tecnologias avançadas de telepresença e teletrabalho, com a penalização das deslocações físicas desnecessárias (desde logo acabando com os subsídios às viagens dos executivos pagos pelo erário público);
  5. promover a transição das cidades sobreaquecidas e ineficientes do ponto de vista energético (a começar pelos edifícios e instalações públicas) para cidades mais ecológicas e libertas da captura especulativa de que foram alvo pelas lógicas de especulação e pirataria capitalistas;
  6. desconstruir o subúrbio urbano, seja recuperando os centros urbanos e as cidades, seja transformando os subúrbios em unidades urbanas auto-sustentáveis (quer dizer, com atividades produtivas próprias, e reagrupamentos democráticos de governança local)
  7. retirar o Estado de onde a sua presença não é estratégica, nem essencial (no caso português, o número de funcionários públicos terá que ser reduzido para não mais do que 1% da população, ou seja, para cerca de 110 mil funcionários, em vez dos atuais 512 mil...)
O tempo para evitar uma enorme catástrofe está a esgotar-se :(

segunda-feira, fevereiro 06, 2012

Mais barragens?

As Redes Inteligentes e o Mercado Único Europeu da Energia apostam na eficiência!

Redes Inteligentes e o Mercado Único Europeu da Energia — uma solução à vista. © Hoje Macau.

Poll reveals wide support for EU grid action
EurActiv
Published 06 February 2012

A survey of European stakeholders has found overwhelming support for giving priority, funds and planning waivers to allow the speedy construction of European grid infrastructure.

In a survey of businesses, industrial associations, NGOs and think tanks, 81% of respondents said that creating a single European electricity market, and the needed grid infrastructure, should be an EU policy priority.

“We couldn’t agree more,” said Susanne Nies of Eurelectric, an association representing major European power generators.

Rede Inteligente de Energia Pode Ser Hipótese para Macau
Hoje Macau
15 Dez 2011

Está implementada em diversos locais do planeta. A China e os EUA, os principais adeptos do conceito, já desembolsaram muitos milhões de patacas em projectos pilotos. Macau pode ser a “cidade ideal” para a sua implementação. Estamos a falar de Smart Grid, a rede inteligente de energia

O plano de construção de novas barragens hidroeléctricas foi engendrado para melhorar a intermitente produtividade dos geradores eólicos, e pelo caminho aumentar também os ativos não virtuais de empresas sobre endividadas como a EDP. No entanto, as dúvidas técnicas e ambientais sobre o acerto da decisão crescem dia a dia. Os motivos são de vária ordem:
  • O Plano Nacional de Barragens de Elevado Potencial Hidroeléctrico (PNBEPH) sofre da ausência ou de graves erros de avaliação, quer dos impactes ambientais e patrimoniais negativos das obras e barragens previstas, quer da rentabilidade a curto e médio prazo das mesmas. Esta, segundo alguns especialistas, não poderá deixar de ser nula, ou até negativa!
  • Findo o regime de monopólio partilhado pela EDP, Iberdrola e Endesa, e em particular depois de estabelecido o Mercado Comum Europeu da Energia, assente no conceito de redes energéticas inteligentes e democráticas (na medida em que a micro-geração, nomeadamente off-grid, se liberta das limitações legais conseguidas pelos cartéis energéticos), a falta de rentabilidade das barragens previstas no PNBEPH, sobretudo as dos rios Sabor, Tua e Tâmega, tornar-se-à um peso negativo no balanço geral das respetivas explorações, e uma perda de valor, nomeadamente em bolsa, para as empresas detentoras (Three Gorges, etc.) destes projetados elefantes brancos;
  • As empoladas reservas de gás natural, em África, Canadá e Estados Unidos, e as ainda mais empoladas reservas potenciais de petróleo e de gás de xisto, poderão no curto prazo tornar ruinosa, ou pouco rentável, boa parte dos investimentos em energias eólica e solar;
  • O Mercado Comum Energético Europeu, que acompanhará porventura o nascimento de uma União Europeia Fiscal e Orçamental mais equilibrada e competitiva, é uma ameaça óbvia ao cartel que hoje fornece energia cara ao país —às cidades, às empresas e às pessoas.
  • Sendo praticamente inevitável a renegociação das leoninas Parcerias Público Privadas (PPPs) que vêm arruinando de modo acelerado e catastrófico o país (1), cessará também, pelo menos em parte, a simbiose oportunista entre o cartel energético e o poder partidário instalado e, por esta via, o interesse empresarial e financeiro nas novas barragens.
  • Por fim, que fazer das renováveis já instaladas? À medida que a ilusão na imaginária abundância de gás natural e de gás de xisto se esbater contra a realidade de uma inflação crescente dos preços da energia e das matérias primas em geral, o que hoje dá prejuízo, talvez em 2015, ou 2020, comece a revelar-se uma fonte indispensável de produção própria de recursos.
Entretanto, a prioridade irá, mais cedo ou mais tarde, quer queiramos, quer não, para a adopção de políticas europeias comuns focadas na eficiência energética e na produção em rede, e fora dela, de velhas e novas formas de energia renovável que não destruam no seu caminho equilíbrios ecológicos e paisagísticos com milhões ou milhares de anos.


ÚLTIMA HORA

 6 Fev 2012, 16:15


NOTAS
  1. O grau de endividamento público de Portugal (DN, 6 fev 2012) é o segundo pior da União, logo depois da Grécia, se tivermos presente que aos 110% de dívida oficial, teremos que somar (para deixarmos de aldrabar a contabilidade) o endividamento programado e ou já contratado nas cento e vinte PPPs, cujo valor ascende a uns astronómicos 60 mil milhões de euros. Ou seja, a nossa dívida pública real é de, pelo menos, 145% do PIB! Pelo andar da bancarrota grega, a seguir seremos nós a entrar oficialmente em quarentena. Esta implicará, nomeadamente, uma dieta prolongada dos mercados de dívida soberana e o recurso condicionado ao BCE. Entre as condições que nos serão inevitavelmente impostas, e que constam aliás do Memorando da Troika, está, precisamente, a renegociação das PPPs, ou seja, a paragem e o adiamento inevitáveis de alguns projetos públicos lançados pelo anterior governo: novas autoestradas, novos aeroportos e novas barragens. Não por vontade da Troika, mas porventura por sabotagem dos piratas já infiltrados no governo do senhor Passos de Coelho, a ligação ferroviária em bitola europeia entre Lisboa e Madrid, que conta com 800 milhões de euros provenientes dos fundos comunitários, também poderá ficar no tinteiro, até novas núpcias :(

quarta-feira, outubro 26, 2011

Pagamos com Sol

Acabou-se a mama!
É preciso pegar no tema energético com uma garra implacavelmente estratégica

Amareleja, maior central solar do mundo ligada à rede (45,8MWp) pode alimentar 30 mil casas.
Solar recession signals end of 'Wild West' gold rush
“A clean-energy recession caused by massive over-capacity in the solar panel market could have unexpected benefits for the nascent renewable industry, industry insiders say.” Euractiv.
A bolha solar rebentou! Tal como a bolha dos créditos de CO2 equivalente não chegou a inchar, por oposição da China, Índia, Brasil, etc. (na Cimeira de Copenhaga, 2009), é agora a vez de uma correcção forçada do mercado especulativo e altamente subsidiado das energias renováveis. Depois da correcção em curso nas eólicas é agora a vez da fotovoltaica. E também já é tempo de acabar com os subsídios às fósseis. Leu bem sr. Sec. da Energia?

A compra em Janeiro de 2007 de 100% da central solar da Amareleja pela espanhola ACCIONA fora já um indicador do que se iria passar (Portugal então já estava de tanga). Em 2009 foi a vez da ACCIONA vender 34% da maior central solar do mundo ligada à rede aos japoneses da Mitsubishi. E agora é a vez de Portugal começar a pensar no vento, no Sol e nas ondas como activos preciosos e capazes de desempenhar um papel decisivo no pagamento das nossas dívidas. Mas para irmos por aqui, o Estado tem que tomar em mãos, sem cerimónias, a estratégia energética e mesmo boa parte do negócio energético nacional.
Brussels discusses Greek solar payback
“EU’s energy commissioner Gunther Oettinger, the director general for energy Philip Lowe, and the head of the EU’s Athens task force Horst Reichenbach have discussed the idea of enabling Greece to repay some of its debts to EU member states, such as Germany, by providing them with solar energy.” Euractiv
Toca a pagar aos espanhóis, franceses e alemães (os nossos principais credores) com transferências de energia! Por cá, as eólicas sempre poderiam começar a carregar baterias durante a noite, nomeadamente baterias de automóveis eléctricos a produzir futuramente no nosso país, em vez de continuarem a insistir na patranha das novas barragens. As barragens que existem (sobretudo depois dos reforços de potência de algumas delas) chegam perfeitamente para ocuparem durante a noite o parque eólico nacional, e este poderá mesmo, em breve, se houver imaginação, trabalho e menos ladroagem, interagir com a nova indústria de baterias solares que aí vem.
IEA top economist calls for bonfire of the fossil fuel subsidies
“The chief economist of the International Energy Agency (IEA) has urged the world to slash hundreds of billions of dollars of fossil fuel subsidies or face the prospect of a catastrophic 3.5 degrees Centigrade rise in global temperatures.” Euractiv.
E de caminho abandonemos de vez com a idiotia nuclear do senhor Patrick Monteiro de Barros, bem como com os escondidos subsídios às energias fósseis que enchem de dividendos ilegítimos a GALP e a EDP!

NOTA: dois oportunos artigos de Luís Mira Amaral, antigo ministro da energia, sobre o beco energético nacional, e ainda um gráfico em tempo real do preço da energia no mercado ibérico:
  • Luís Mira Amaral, “A sustentabilidade do défice tarifário” — DN, 22Oct2011 (pdf)
  • Luís Mira Amaral, “Os CMEC e a sustentabilidade do sistema energético” — DN, 26Set2011 (pdf)
  • Sempre que há vento, a energia eólica tem prioridade sobre as demais, ou seja, não só obriga a parar, por exemplo, as centrais de ciclo combinado (com os custos inerentes do pára-arranque), como o preço por nós pago pela energia eólica (~93,7€ por MW/h) é sempre superior ao preço mais caro da energia obtida no mercado ibérico (ver QUADRO DINÂMICO da OMIE), raramente acima dos 70€ por MW/h. Resultado: só as eólicas sobrecarregam em 750 milhões de euros a factura que pagaremos à EDP em 2011!

act.: 26-10-2011, 14:22

quinta-feira, março 24, 2011

Energia pirata

...quanto mais exportamos para Espanha, mais o consumidor português paga!” — Mira Amaral

“O INE mostra-nos que de Janeiro a Outubro de 2010, comparado com o período homólogo de 2009, houve um aumento de importações de combustíveis de 1 400 milhões de euros. As renováveis da moda não nos reduzem a dependência aflitiva do petróleo e vamos continuar a importar carvão e gás natural pois continuaremos a precisar das centrais térmicas quando não há sol ou vento! Até Novembro de 2010 houve 15,556 GWh de produção termoeléctrica contra 22,009 GWh no período homólogo de 2009, o que significará então, devido às renováveis, uma poupança de importação apenas de cerca de 174 milhões de euros em gás natural e carvão o que contrasta com um sobrecusto da Produção em Regime Especial bem superior! (...)
Em suma, com esta política centrada nas renováveis da moda, geraram-se terríveis sobrecustos para a economia e a dependência do petróleo mantém-se intacta!

Quando é que entraremos no realismo energético? Quando é que abandonaremos a mera propaganda política e começaremos a tratar da energia seriamente? Quando é que perceberemos que a eólica e a fotovoltaica só conseguem representar cerca de 3% do consumo total de energia primária? Quando é que perceberemos que discutir a Política Energética não se pode confundir com o apoio às renováveis da moda, com custos demasiados elevados para um País pobre como o nosso?” — in “Petróleo, renováveis e sobrecustos”, Luís Mira Amaral, Jornal de Negócios.

Este excelente artigo de Mira Amaral (vale a pena ler os detalhes do mecanismo perverso da formação dos preços da energia no nosso país) mostra claramente o gene que ao longo das últimas três décadas se infiltrou na estrutura económica, financeira e de poder em Portugal, transformando-o, de facto, numa democracia capturada por piratas. Admira-me muito que Mário Soares e Jorge Sampaio só agora tenham acordado deste pesadelo.

O problema que temos pela frente é, pois, gigantesco. Trata-se de corrigir um país onde tradicionalmente abundam a corrupção e a pequena corrupção, cujo sistema de poder traduz uma simbiose oportunista e familiar entre clientelas económico-financeiras, corporativas e partidárias, e que infelizmente se habituou a viver, desde 1415, de rendas coloniais, de monopólios e da emigração.

Como escrevi várias vezes, estamos no fim dum ciclo de 600 anos. E a razão deste colapso histórico é só um: as árvores das patacas já não nos pertencem.

Conclusão: o regime entrou num buraco negro de sobre endividamento de onde não sairá tão cedo, o qual induzirá inevitavelmente uma revolução social. A gente lúcida e honesta deste país (imagino que um punhado de pessoas) deve abdicar dos seus pergaminhos familiares, profissionais e partidários, juntar-se para conversar, e preparar o país para uma insurreição constitucional, da qual resulte uma nova assembleia constituinte e uma nova constituição: simples, justa, transparente e firme.

Portugal é uma língua de areia estreita com um grande e decisivo mar pela frente. Mais de 20% da sua população emigrou de 1960 para cá. Não tem como pagar o seu actual sobre endividamento — qualquer coisa como quinhentas pontes Vasco da Gama, quando só produz 170 pontes por ano, e apenas tem no banco 140. Que fazer? A nova centralidade do Atlântico Norte e Sul, bem como a crise das ditaduras do norte de África, são duas oportunidades que se avizinham a passos largos. Mas aproveitar o novo T deitado da geoestratégia da Europa Ocidental implica mudar Portugal de alto a baixo.

sábado, setembro 19, 2009

Energia Verde 2

Bolha solar rebenta em Espanha


Spain’s Solar-Power Collapse Dims Subsidy Model

By ANGEL GONZALEZ and KEITH JOHNSON (WST)

Spain’s hopes of becoming a world leader in solar power have collapsed since the Spanish government slammed the brakes on generous subsidies.

The sudden change has rippled across the global solar industry, in a warning of the problems that government-supported renewable-energy programs can encounter.

Valerá a pena insistir em projectos de microgeração subsidiada?

Não é possível rentabilizar um investimento em microgeração fotovoltaica ligada à rede em menos de 6 anos. Ora seis anos, no actual quadro de desorganização mundial da economia e sobretudo do sistema financeiro, é muito tempo! Os benefícios governamentais e fiscais estão por um fio. A recessão global e o imparável deslizamento do dólar americano fazem cair os preços reais do petróleo. O crescimento previsto dos consumos energético está posto em causa. O excessivo endividamento dos grandes fornecedores de energia eléctrica, seja na especulação bolsista, nas operações de crescimento por aquisição e fusão de empresas, ou nos investimentos colossais nas energias eólica e fotovoltaica, anuncia uma inflação dos preços da energia junto dos consumidores a curto e médio prazo. Como disse, com grande frieza, o presidente da Iberdrola, Ignacio Sánchez Galán, “a energia solar era um produto financeiro, não uma solução energética”. Numa palavra, o boom fotovoltaico acabou! — CS.


Comentário: por algum motivo Ricardo Salgado anda muito palavroso. Em suma, mais um fracasso redondo das engenharias financeiras e tecnológicas do senhor Sócrates e do ido e inenarrável Pinho. Como aqui temos vindo a repetir sem descanso, não há solução para a crise energética em perspectiva, mas tão só planos de contingência, programas de mitigação, e sobretudo uma nova atitude perante os recursos limitados da Terra, todos a começar pelos princípios que urge adoptar: eficiência energética, fim do consumismo e da especulação financeira, substituição do actual modelo de avaliação do progresso e da felicidade humana. O crescimento permanente acabou! — OAM.


OAM 622 19-09-2009 17:14

terça-feira, março 24, 2009

Energia 5

Do pinóquio irrenovável à pedrada da SHELL

As energias eólicas e solar, segundo a SHELL — que acaba de anunciar a sua retirada dos sectores eólico, solar e hídrico (1) — não são rentáveis, ou dito doutro modo, os seus preços, que continuarão a subir no futuro, prefiguram um novo paradigma energético. O tempo da energia cara chegou!

Daí que todo o plano do pinóquio Sócrates (2) não passe duma aldrabice para safar empresas que subsidiaram e subsidiam os partidos do Bloco Central. Só que o descalabro do actual Executivo é tal, que já tudo sai de pernas para o ar, mesmo quando o descaramento do favorecimento ilegal às empresas amigas salta à vista.

Os apoios estatais veiculados por um autêntico cartel energético-partidário à instalação de painéis solares térmicos, tal como o esquema de subsídios à microgeração solar térmica e fotovoltaica, são uma vigarice, além de serem pura demagogia e, por incrível que pareça, uma forma encapotada de sobre subsidiar a própria EDP, Iberdrola e quejandos! Dentro em breve, porém, países sobre endividados, como Portugal, a Espanha, o Reino Unido, etc., serão forçados a abandonar o que efectivamente não passa de um esquema leviano de especulação financeira com a escassez energética de todos nós.

Quando o petróleo voltar a disparar (já recomeçou a subir e poderá dar um salto brusco depois da presumivelmente falhada Cimeira do G20 em Londres (3), no próximo dia 2 de Abril), a falência em catadupa das empresas privadas e do sector público de boa parte dos países europeus levará inevitavelmente a uma revisão drástica das fantasias dominantes em volta das energias alternativas.

Não há alternativa aos combustíveis líquidos oriundos do petróleo capaz de evitar a tempo o COLAPSO ENERGÉTICO que aí vem. Isto é um facto.

E quem tiver contratos assinados com os piratas neoliberais que continuam a publicar decretos e leis destinados a "agarrar" os incautos aos oligopólios da energia e da água, ficará, mais cedo ou mais tarde, com a sucata dos colectores ao colo, imprestável, irreparável e por pagar, para gáudio do BES e da restante banca falida nacional.

Sócrates, Barroso, e outros que tais só tem uma alternativa: RUA!

E quanto a nós, o melhor é mesmo começarmos a confluir em esquemas efectivos de autonomia e eficiência energéticas: racionalização sustentável da intensidade energética do dia-a-dia das nossas casas, empresas e comunidades, microgeração desligada da rede e conservação comunitária da água potável. É urgente renacionalizar a EDP e impedir a todo o custo qualquer privatização dos rios, costas marítimas, portos, aeroportos e estradas. As Parcerias Público Privadas ruinosas, tal como o negócio privado das portagens concessionadas, devem cessar imediatamente!


NOTAS

  1. Shell dumps wind, solar and hydro power in favour of biofuels

    Tuesday 17 March 2009 (Guardian) — Shell will no longer invest in renewable technologies such as wind, solar and hydro power because they are not economic, the Anglo-Dutch oil company said today. It plans to invest more in biofuels which environmental groups blame for driving up food prices and deforestation.

    Executives at its annual strategy presentation said Shell, already the world's largest buyer and blender of crop-based biofuels, would also invest an unspecified amount in developing a new generat­ion of biofuels which do not use food-based crops and are less harmful to the environment.

    The company said it would concentrate on developing other cleaner ways of using fossil fuels, such as carbon capture and sequestration (CCS) technology. It hoped to use CCS to reduce emissions from Shell's controversial and energy-intensive oil sands projects in northern Canada.

    The company said that many alternative technologies did not offer attractive investment opportunities. Linda Cook, Shell's executive director of gas and power, said: "If there aren't investment opportunities which compete with other projects we won't put money into it. We are businessmen and women. If there were renewables [which made money] we would put money into it."


  2. Especialistas de energia denunciam "embuste" na visita de Sócrates e Pinho à Energie

    24.03.2009 - 08h53 (Público) — A visita de José Sócrates e de Manuel Pinho às instalações da Energie para assinalar a segunda fase de expansão da fábrica que produz o que designa por "painéis solares termodinâmicos" está a desencadear uma série de protestos por parte dos principais responsáveis pela investigação e indústria solar no país.

    "É uma empresa que assenta a sua propaganda num embuste", denuncia Eduardo Oliveira Fernandes, ex-secretário de Estado da Energia e académico que desenhou a política energética do actual Governo, no que é acompanhado por Nuno Ribeiro da Silva, presidente da Endesa Portugal e presidente da Sociedade Portuguesa de Energia Solar (SPES), e por Manuel Collares Pereira, considerado um dos principais especialistas em energia solar no país, ex-investigador do INETI e responsável pela empresa fabricante de painéis solares térmicos Ao Sol. Os três especialistas clamam que o produto da Energie, fabricado na Póvoa de Varzim, é "publicidade enganosa" - mostram tratar-se de uma bomba de calor accionada a electricidade com apoio secundário em energia solar e não de um painel solar térmico - e atribuem o incentivo político do primeiro-ministro e do ministro da Economia, com a visita efectuada, a uma possível ausência de apoio técnico adequado pelos respectivos gabinetes.

    Também a associação ambientalista Geota se associa às críticas. "A pretexto de vender energia solar, [a Energie] vende mais electricidade", diz Manuel Ferreira dos Santos, um dos responsáveis da organização, que equipara o funcionamento do sistema da Energie a um "frigorífico ao contrário" que continua a ser alimentado por energia eléctrica, não solar, restando o que diz ser uma "acção de marketing bem conseguida".


    Energia solar — Segunda polémica em dois anos à volta da Energie


    24.03.2009 - 21h30 (Público) — A polémica voltou à empresa Energie, da Póvoa de Varzim, pela segunda vez em dois anos. A empresa divulgou hoje ser detentora de um certificado de sistemas solares térmicos passado por entidades europeias, no passado dia 10 de Março, que não convence os especialistas como Oliveira Fernandes, para quem equipamentos anunciados como funcionando com sol, céu nublado, chuva e à noite “não são solares”. “Energia solar é para captar energia solar”, remata.

    ... Em comunicado emitido hoje, a empresa responde que as “acusações são falsas” e garante possuir certificações passadas pela Solar Keymark (dinamarquesa) e pela Dincertco (alemã), consideradas entidades de topo nesta área. “Estas certificações atestam o produto da Energie como sistema solar térmico”, afirma.

    ... O actual presidente da SPES e presidente da Endesa Portugal, Nuno Ribeiro da Silva, disse hoje ao PÚBLICO que reitera a posição assumida em 2007 pela SPES sobre os painéis termodinâmicos. Quanto ao certificado anunciado ontem, adianta que a “associação tomará uma posição quando souber do que se trata”.


  3. China calls for new reserve currency
    By Jamil Anderlini in Beijing
    Published: March 23 2009 12:16 | Last updated: March 24 2009 00:06 (FT.com)

    China’s central bank on Monday proposed replacing the US dollar as the international reserve currency with a new global system controlled by the International Monetary Fund.

    In an essay posted on the People’s Bank of China’s website, Zhou Xiaochuan, the central bank’s governor, said the goal would be to create a reserve currency “that is disconnected from individual nations and is able to remain stable in the long run, thus removing the inherent deficiencies caused by using credit-based national currencies”.

OAM 560 24-03-2009 13:00 (última actualização: 25-03-2009 01:36)

sexta-feira, março 13, 2009

Energia 4

Mexia para a rua, já!

Contas da EDP levam auditor a demitir-se

Público - 13.03.2009, Cristina Ferreira e Ana Brito

Vítor Franco saiu contra as regras contabilísticas utilizadas pela EDP nas contas de 2008. A CMVM está a acompanhar o assunto

Na origem da demissão, de acordo com as informações recolhidas pelo PÚBLICO, estão divergências de fundo quanto o modo como a operadora registou nas contas de 2008 os ganhos de 405 milhões de euros obtidos com a dispersão em bolsa de 25 por cento do capital das EDP Renováveis, em Junho do ano passado.

Aquele montante foi contabilizado como "ganho na alienação de activos financeiros" e, por isso, foi incorporado nos resultados líquidos do ano passado, que atingiram o montante recorde de 1091,9 milhões de euros.

Esta opção é contestada pelo facto de a EDP Renováveis ser uma empresa estratégica, onde a EDP possui o controlo do capital. Por isso, e porque a operação de dispersão em bolsa foi feita através de um aumento de capital com um prémio de emissão de acções (que foram vendidas acima do seu valor nominal), esta linha defende que aquele montante deveria ter sido contabilizado nos capitais próprios, sem reflexo nos lucros do ano. As acções da EDP Renováveis foram vendidas a oito euros cada uma, contra um valor nominal de cinco euros.

Este critério contabilístico faria descer os lucros dos 1091,9 milhões de euros apresentados para 686,9 milhões. Neste caso, Mexia teria apresentado uma queda de 24 por cento.

A EDP vende os anéis, mais concretamente, 1/4 da EDP Renováveis, e aldraba os balanços com retórica contabilística.
  • Objectivo 1: esconder o óbvio, i.e. que a rentabilidade efectiva da empresa, apesar das ventoinhas espalhadas pelo país (ou precisamente por causa delas!) é menor do que o prometido ou espectável;
  • Objectivo 2: esconder do mercado accionista a situação real da empresa, não reflectindo devidamente o significado da venda de 25% da EDP-R: nos próximos anos a receita extraordinária da dispersão em bolsa da EDP-R, já não se registará... (o esquema das receitas extraordinárias à custa do património tornou-se aliás uma tradição desde que Manuela Ferreira Leite foi ministra das finanças);
  • Objectivo 3: proporcionar lautos vencimentos aos administradores de uma empresa estratégica nacional, onde o Estado é accionista — mas onde deveria voltar a ser o principal e maioritário accionista, contra os falhados neoliberais de Bruxelas!
Eu escrevi já várias vezes sobre este tema, sem saber, claro, da engenharia financeira barata em curso. Volto a repetir: a EDP quer construir 10 novas barragens para:
  1. disfarçar o fiasco da produtividade prometida das eólicas, pondo as eólicas a trabalhar para as barragens e estas, por sua vez, a cobrir o défice produtivo das ventoinhas;
  2. confiscar paulatinamente as bacias hidrográficas do país (Douro, Tejo, Guadiana, Mondego, Vouga, etc.) e controlar o acesso à preciosa água potável dos rios!!
Este escândalo contabilístico é muito mais importante do que parece. E mereceria uma boa agitação parlamentar, se os partidos que temos e a respectiva clientela não formassem, como formam, uma burocracia indolente e corrupta. O Louçã e o Vasco Pulido Valente escandalizam-se com o cleptómano José Eduardo dos Santos, presidente de Angola, mas nunca os ouvi falar seriamente desse escândalo maior que é termos em funções um primeiro ministro suspeito das maiores trafulhices e ilegalidades que dão cadeia — apesar de o prazo de validade do pinóquio da tríade de Macau já ter terminado! O Louçã, ainda vá, que não sabe nada da história de Portugal, e sempre teve um raciocínio quadrado, agora o Vasco, caramba! Então o homem não é historiador? Ou também é daqueles que escreve história ao sabor de quem o protege?

O PSD das PME e das Autarquias tem aqui uma excelente oportunidade para mostrar o que vale. Mas tem que fazê-lo a partir da sua actual direcção, pois os autarcas das populações atingidas pelo assalto planeado pela EDP estão virtualmente todos comprados.


Referências neste blogue:


OAM 554 13-03-2009 23:06

quinta-feira, fevereiro 12, 2009

Energia 2

PIN Go!

Painéis solares térmicos terão benefício triplo para as famílias

11-02-2009 (Público) — A instalação de painéis solares térmicos em habitações particulares vai ter um “triplo benefício” para as famílias já a partir do próximo mês, anunciou hoje o primeiro-ministro, no discurso inicial do debate quinzenal, no Parlamento, dedicado à economia.

Esta medida pretende incentivar a utilização de energias renováveis, para a qual o Governo irá dispor de cem milhões de euros dirigidos à comparticipação na compra dos equipamentos e a incentivos fiscais de 30 por cento do custo do investimento. A estes dois aspectos a favor do orçamento das famílias, José Sócrates juntou ainda a previsível redução de 20 por cento da factura energética anual de um agregado familiar.

José Sócrates arengou sobre mais uma das suas inopinadas fantasias eleitorais, desta vez em torno de painéis solares e famílias. Trata-se, na realidade, de atrair os incautos para uma incógnita gerida em regime de monopólio pela irresponsável EDP. Trata-se, também, de uma tentativa de levar as já sobre endividadas famílias portuguesas a potenciarem de algum modo a velocidade do dinheiro, sob renovadas, mas nem por isso menos imprevisíveis e perigosas estratégias de endividamento.

Em vez de se propor simplesmente um programa sério, amplo e acelerado no domínio da produtividade e eficiência energéticas dos edifícios públicos —ministérios, direcções-gerais e delegações, escolas e universidades, tribunais, câmaras e juntas de freguesia—, temos mais uma engenharia financeira virtual apoiada nas proclamadas virtudes da luta europeia contra o aquecimento global, nomeadamente através do chamado mercado do CO2.

Sucede, porém, que o esquema tortuoso do mercado das emissões de CO2 (transformar uma emergência social num negócio rentável), acaba de ser desmontado como um esquema inútil e mesmo contraproducente no combate ao aquecimento global, do qual tem vindo a resultar, não uma diminuição das emissões, mas antes um jogo do empurra entre poluidores compulsivos.

Wind Turbines in Europe Do Nothing for Emissions-Reduction Goals
By Anselm Waldermann

10-02-2009 (Spiegel Online) — Despite Europe's boom in solar and wind energy, CO2 emissions haven't been reduced by even a single gram. Now, even the Green Party is taking a new look at the issue -- as shown in e-mails obtained by SPIEGEL ONLINE.
...

Building Renovations Are Better than Windmills

Experts from the Green Party are taking the problem very seriously: "We are in a veritable crisis situation, and that means we must reconsider and alter things we once took for granted," writes one contributor, adding that it's important to re-examine "whether we have set the right priorities."

Another expert begins his e-mail with a general clarification: "Dear People, I'm not fundamentally against the EEG. I only emphasize this because Manfred has repeatedly and erroneously described me as an opponent of the EEG." But here comes the big "but": "When reduction of CO2 emissions is more cheaply achieved through insulating a building than using a wind turbine, that is where we should concentrate our support." When it comes to climate change, everything else is secondary to reducing CO2 emissions.

Indeed, when it comes to climage change, investments in wind and solar energy are not very efficient. Preventing one ton of CO2 emissions requires a relatively large amount of money. Other measures, especially building renovations, cost much less -- and have the same effect.

The e-mail exchange ends with a conciliatory "What do you think?" But it is quickly followed by a bitter PS: "Do the Greens think that this problem (of climate change) will solve itself if we just screw solar panels onto our rooftops?"

Daqui até percebermos que o escandaloso plano de construção de barragens lançado pelos piratas do Bloco Central, sob a batuta do abrilhantado e arrogante CEO da EDP e da espanhola Iberdrola (comandada em Portugal por um traidor zombificado chamado Pina Moura), é uma nulidade económica, uma imbecilidade tecnológica e um crime ambiental, não tardará muito. Às comunidades atingidas pela anunciada expropriação e ruína, uma palavra de esperança: resistam com tudo o que tiverem à mão! Até porque muitas das "grandes obras" e negociatas promovidas pela tríade de Macau, por este governo neoliberal do PS, e em geral pelo Bloco Central da Corrupção, estão por um fio.

Os PIN e aldrabices do género começam a cair que nem tordos!

Novo terminal de contentores de Alcântara, plataforma logística da Maia/Trofa e aeromoscas de Beja (que voltou a adiar a sua inauguração e viu a respectiva empresa abruptamente expropriada pela ANA Aeroportos!) são as primeiras vítimas. Outras se seguirão. E o motivo é simples: enquanto durar a presente crise sistémica, que não se prevê que amaine antes de 2010-2012, ninguém no seu perfeito juízo investirá um euro que seja em projectos tecnicamente levianos e economicamente ruinosos.

O tempo em que tudo isto de fazia e ninguém ligava peva —vejam-se as escandalosas administrações do Metro de Lisboa, da Refer, da CP, da Lusoponte, das SCUD ou da RTP—, acabou. Por outro lado, o Estado português, como muitos outros, está gravemente endividado, e em breve passará para a segunda divisão do Euro, cuja criação parece inadiável. O colapso da moeda europeia —se não face ao USD, seguramente face às moedas regionais em fase de gestação no Médio Oriente e na Ásia— deixou de ser uma hipótese meramente retórica.

Nos últimos quatro meses em Lisboa pontes perdem 14 mil carros/dia
12-02-2009 - 00h30 (Correio da Manhã) — As duas pontes sobre o Tejo em Lisboa perderam diariamente mais de 14 mil veículos desde Setembro. A mais penalizada foi a 25 de Abril que, nos últimos quatro meses, perdeu mais de dez mil veículos por dia, tendo chegado ao final do ano com menos tráfego diário do quem em 2007.

Os dados de tráfego da Estradas de Portugal revelam que o número de carros a cruzar a ponte 25 de Abril e a ponte Vasco da Gama tem vindo a diminuir desde Setembro. As perdas têm sido mais evidentes na 25 de Abril, mas também a ponte Vasco da Gama tem perdido diariamente um número significativo de travessias: passou de 65 950, registadas em Setembro, para 62 318 no último mês de 2008.


Governo aconselha SOMAGUE a recorrer a parceiros privados

11.02.2009 - 21h35 (Público) — Um dia depois da SOMAGUE, promotora da Plataforma Maia/Trofa, ter abandonado o projecto por considerar que este não era rentável no panorama económico actual, a secretária de Estado dos Transportes, Ana Paula Vitorino, informou que já esteve em contacto com a empresa aconselhando-a a “procurar outros parceiros privados, que assegurem a continuidade do projecto”.

... A Plataforma Logística Maia/Trofa situa-se no denominado Vale do Coronado, abrangendo terrenos da Reserva Agrícola Nacional, o que tem gerado alguns protestos de ambientalistas locais.


Liscont desiste de classificação Potencial Interesse Nacional para alargamento do terminal de contentores

11.02.2009 - 18h47 (Lusa/ Público) — A Liscont, concessionária do terminal de contentores de Alcântara, decidiu pedir a dispensa da classificação de projecto de Potencial Interesse Nacional (PIN) da obra de alargamento do terminal, disse à Lusa o presidente da empresa.

Eduardo Pimentel afirmou que, "apesar de continuar a achar que se trata de um projecto de interesse nacional", a empresa quer que "o projecto passe por todos os crivos, para que no futuro não se ponha em causa a bondade ambiental", prescindindo assim da classificação como PIN, que permitiria ser aprovado com "mais velocidade".

"É melhor que não seja considerado PIN, que seja um processo normal, para que no futuro não subsistam dúvidas, o que não vai interferir na calendarização que tínhamos definido, que já era como se não se tratasse de um projecto PIN", disse ainda.


Carga contentorizada cresceu 10% em 2008, tonelagem caiu 1,8%

11-02-2009 (Cargo News) — Os totais revelam que os cinco principais portos nacionais movimentaram 63,34 milhões de toneladas de carga no ano findo, menos 1,8% que no ano anterior, segundo os números trazidos a público pelo Instituto Portuário e dos Transportes Marítimos (IPTM).

Antes de proceder a uma análise mais detalhada das poucas alternativas que temos pela frente, e das que se vão esvaíndo dia a dia, duas recomendações:
  1. estude-se com atenção o plano, aliás muito discutível, de Barak Obama;
  2. trave-se drasticamente o plano de "grandes obras" do actual governo, quanto mais não seja, por isto: para não desperdiçar recursos —que não existem!— em fantasias irrealizáveis no curto e médio prazo. O Novo Aeroporto de Lisboa, a Ponte Chelas-Barreiro, as barragens do Baixo Sabor e Tua (entre outras), a Alta Velocidade entre Lisboa e Porto (e todos os apeadeiros intermédios previsíveis), têm que forçosamente esperar por melhores dias, ou nem sequer verem a luz do dia.


OAM 535 13-02-2009 02:49 (última actualização 12:10)

terça-feira, agosto 19, 2008

Portugal 44

Intensidade energética e declínio

A mais completa prova estatística de que a obsessão por auto-estradas e automóveis foi a pior escolha estratégica que Portugal alguma vez poderia ter feito está nesta insuspeita página da OCDE, de 17 de Abril de 2007.

Lendo com atenção este exaustivo repositório da OCDE sobre a intensidade energética (IE) da economia portuguesa conclui-se sem margem para dúvidas que temos vindo a piorar desde 1971 relativamente a todos os países do mundo, e não apenas face aos nossos parceiros da União Europeia.

Em todo o mundo, excepto Portugal, há um esforço visível para diminuir a intensidade energética das economias -- isto é, a quantidade de energia primária necessária para produzir uma unidade de Produto Interno Bruto (PIB). Brasileiros, holandeses, mexicanos, polacos, americanos ou chineses, todos, menos nós, procuram tornar as suas economias mais eficientes, começando, claro está, por racionalizar, em nome dos respectivos interesses nacionais, os seus sistemas de transportes, as suas matrizes energéticas e as suas políticas de endividamento público e privado. O caso lusitano, porém, é dramático e ridículo ao mesmo tempo.

Sem outra alternativa que não seja importar 90% da energia que consome, nenhum governo se lembrou até agora de poupar, a não ser na população activa, que alegremente exporta para Espanha, Reino Unido, Suiça, Noruega, etc., ou nos salários dos mais pobres e remediados. A proliferação de novos bairros de exclusão social e étnica, onde a violência cresce diariamente, vem aliás mostrar os resultados previsíveis de um desenvolvimento económico que em vez de ter apostado no crescimento consolidado dos recursos, das realizações e das expectativas, preferiu promover uma economia de clientelas, especulativa, informal, corrupta e irresponsável.

Nisto se perderam exactamente 33 preciosos anos. Agora, com a recessão americana e europeia a destruir boa parte dos expectáveis efeitos favoráveis do último quadro comunitário de apoio (2007-2013), e a aproximação vertiginosa dos efeitos catastróficos do pico petrolífero e do aquecimento global, que nos resta?

Para já, uma democracia distorcida e um país desamparado, cuja classe política, incapaz de pensar ou dizer o que pensa, pouco pode oferecer. Um punhado de jovens socialistas, verificada que foi a inutilidade da esperança depositada em Manuel Alegre, publicitou no Expresso a sua manifesta oposição à escandalosa desfiguração neoliberal do PS. Alberto João Jardim ensaiou, da pacata praia de Porto Santo, lançar um Grito do Ipiranga a favor de um partido nacional federalista (ou será que disse regionalista?), depois das próximas eleições para a Assembleia da República. São sinais claros do fim de um regime, ou pelos menos de um ciclo partidário cuja recomposição se fará no quadriénio 2009-2013, se não antes. A actual crise constitucional em volta das declarações de Carlos César e do populismo parlamentar dominante pode agravar-se. Se tal ocorrer, então teremos certamente mais partidos a disputar as legislativas de 2009. No fundo, ganhar-se-ia tempo, que é o bem mais escasso em épocas de crise.

Voltemos, para já, ao problema da falta de uma visão adequada à transição de paradigma energético em curso, e à falta de um modelo de mobilidade adequado às energias do futuro.

Em Portugal, os transportes levam 36% de toda a energia consumida. Por sua vez, 90% desta energia vai direitinha para o transporte rodoviário. Ou seja, dependemos completamente da evolução dos preços do petróleo. Como o preço deste verdadeiro ouro negro deverá continuar a subir a uma média de 30% ao ano, adivinham-se consequências trágicas para o nosso país no decorrer dos próximos anos.

As tão badaladas barragens hidroeléctricas, decididas única e exclusivamente para transferir mais riqueza nacional para os bolsos de alguns conglomerados energéticos privados, ainda que sob pretextos cândidos (contribuir para a independência energética de Portugal!), acrescentarão apenas uns ridículos 3% à capacidade própria de produção de energia eléctrica, em nada contribuindo, por isso, para resolver os problemas energéticos existentes e que irão levar-nos ao colapso económico e social se não houver uma inversão de 180 graus na estratégia energética até agora promovida pelo bloco central do betão. O boicote dos camionistas foi apenas um pequeno e honesto aviso aos débeis timoneiros que afirmam governar o país.

As novas barragens hidroeléctricas ameaçam equilíbrios ecológicos, eventuais indústrias de turismo residencial de qualidade, e a paisagem, contribuindo marginalmente (3%) para o aumento da produção energética nacional. Por outro lado, além de não criarem nenhum emprego estável local, destroem as economias existentes e provocam assinaláveis perdas na biodiversidade regional. Espero sinceramente que as populações e os políticos das zonas abrangidas acordem a tempo de evitar mais este atentado histórico às suas cada vez mais preciosas autonomias económicas, sociais e culturais.

As energias eólica e solar voltaica são uma boa decisão, mas é preciso ver quem faz o quê, como, por que preço e a favor de que dono. A tão propalada maior central solar do mundo, a da Amareleja, além de não ser tal quando estiver concluída, começou por ser uma iniciativa do alcaide de Moura, mas hoje é um negócio 100% pertencente à empresa espanhola ACCIONA, que por sua vez, para conseguir fornecer os necessários painéis foto-voltaicos a tempo, teve que os importar da China! Que falhou neste negócio? A banca portuguesa? A célebre classe empresarial lusitana? Ou simplesmente a pressa de Manuel Pinho? Alguém falou com os alemães (maior produtor europeu de energia foto-voltaica) sobre o assunto? Gostaria de saber.

O programa de eficiência energética em curso é uma boa ferramenta para mitigar o sério problema energético que se avizinha. No entanto, peca por tardio e por andar embrulhado numa teia burocrática ao serviço de clientelas partidárias e empresariais indígenas, obscura, trapalhona, e cujo resultado palpável é a execução lenta do mesmo.

Os biocombustíveis roubam terra arável necessária à produção de alimentos e não resolvem o problema da extrema dependência petrolífera dos transportes rodoviários. Além do mais, andam de mão dada com o lóbi nefasto dos Organismos Geneticamente Modificados (OGM), imprescindíveis à rentabilidade das explorações agro-energéticas. Resumindo: os biocombustíveis não resolvem o problema energético de nenhum pequeno país e ameaçam a independência alimentar dos que os acolhem.

Mais auto-estradas, em vez das "autovías" que existem há muito em Espanha, apenas contribuirão para aumentar o insustentável fluxo de tráfego rodoviário existente, prejudicando decisivamente as possibilidades de o esforço orçamental do país ser reencaminhado para onde mais falta faz, menos nódoa ambiental causa, e é mais reprodutivo: o transporte ferroviário e o transporte marítimo-fluvial.

As cidades aeroportuárias e em geral a desmiolada política aeroportuária deste governo ficará bem patente quando José Sócrates inaugurar o novo aeroporto de Beja. A indústria aeronáutica está perante um verosímil cenário de colapso, do qual a TAP dificilmente se salvará. Ou seja, na dúvida, construir uma cidade aeroportuária e um novo aeroporto intercontinental em Lisboa para 2015 ou 2017, é daquelas decisões que qualquer político, mesmo idiota, adiaria para as calendas gregas. Vamos ver o que ocorre na aldeia lusitana.

Finalmente, em vez de TGVs (ou AVEs), do que precisamos é de um novo plano ferroviário urgente, pensado, desenhado e construído com pés e cabeça. O maior desafio de Portugal nos próximos 20 anos é este: FAZER A TRANSIÇÃO ENERGÉTICA DE UMA TARDIA ECONOMIA DE CONSUMO PARA UMA NOVA ECONOMIA DE PRODUÇÃO SUSTENTÁVEL.


OAM 422 20-08-2008 01:40

sexta-feira, agosto 08, 2008

Crescimento exponencial

Aritmética, população e energia

O preço do crude tem vindo a descer nos últimos dias. Mas não tenhamos ilusões! A crise energética veio para durar. Vamos mesmo mudar de vida, queiramos ou não.

A propaganda governamental, mais leviana em Portugal, nos Estados Unidos ou no Brasil, do que na Suécia ou em Espanha, não nos deve iludir. O actual paradigma energético tem os dias contados. Depois do crash course de Chris Martenson, proposto no artigo anterior, recomendo-vos a palestra do Dr. Albert Bartlett, que pode ser vista em vídeo (original), ou lida (em inglês, francês ou espanhol). Uma fascinante demonstração do impacto do crescimento exponencial na história dos organismos vivos.

Há coisas que podemos fazer por nós próprios, sem esperar pelas decisões tardias e contraproducentes de quem governa. O entendimento do que se passa e sobretudo daquilo que é preciso corrigir imediatamente, não está ao alcance dos modelos de acção político-partidária disponíveis. Teremos, aliás, que substituir as obsoletas máquinas adversativas dos actuais regimes democráticos ocidentais, cuja maneira de pensar e agir nos levará, a muito curto prazo, se não travarmos as suas decisões corruptas, demagógicas e populistas, ao desastre colectivo. A gravíssima e tripla crise energética, ambiental e financeira já começou. Algumas curvas fatais esperam por todos nós algures entre 2020 e 2030. E até lá, se não conseguirmos desenhar uma visão cultural alternativa para a civilização, haverá muita inquietação e tragédia.

Da arrepiante comunicação do reformado Professor Emérito de Física, da Universidade do Colorado (EUA), cito três magníficos exemplos de demonstração:

(...) Bacteria grow by doubling. One bacterium divides to become two, the two divide to become 4, the 4 become 8, 16 and so on. Suppose we had bacteria that doubled in number this way every minute. Suppose we put one of these bacteria into an empty bottle at 11:00 in the morning, and then observe that the bottle is full at 12:00 noon. There's our case of just ordinary steady growth: it has a doubling time of one minute, it’s in the finite environment of one bottle.

I want to ask you three questions. Number one: at what time was the bottle half full? Well, would you believe 11:59, one minute before 12:00? Because they double in number every minute.

And the second question: if you were an average bacterium in that bottle, at what time would you first realise you were running of space? Well, let’s just look at the last minutes in the bottle. At 12:00 noon, it’s full; one minute before, it’s half full; 2 minutes before, it’s a quarter full; then an 1/8th; then a 1/16th. Let me ask you, at 5 minutes before 12:00, when the bottle is only 3% full and is 97% open space just yearning for development, how many of you would realise there’s a problem?

(...) So no matter how you cut it, in your life expectancy, you are going to see the peak of world oil production. And you’ve got to ask yourself, what is life going to be like when we have a declining world production of petroleum, and we have a growing world population, and we have a growing world per capita demand for oil. Think about it.

(...) Bill Moyers interviewed Isaac Asimov. He asked Asimov, “What happens to the idea of the dignity of the human species if this population growth continues?” and Asimov says, “It’ll be completely destroyed. I like to use what I call my bathroom metaphor. If two people live in an apartment, and there are two bathrooms, then they both have freedom of the bathroom. You can go to the bathroom anytime you want, stay as long as you want, for whatever you need. And everyone believes in freedom of the bathroom. It should be right there in the constitution. But if you have twenty people in the apartment and two bathrooms, then no matter how much every person believes in freedom of the bathroom, there’s no such thing. You have to set up times for each person, you have to bang on the door, ‘Aren't you through yet?’ and so on.” And Asimov concluded with one of the most profound observations I've seen in years. He said, “In the same way, democracy cannot survive overpopulation. Human dignity cannot survive overpopulation. Convenience and decency cannot survive overpopulation. As you put more and more people into the world, the value of life not only declines, it disappears. It doesn’t matter if someone dies, the more people there are, the less one individual matters.”



OAM 410 08-08-2008 14:07 (última actualização 10-08-2008 17:45)