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sábado, junho 06, 2015

Carlos Alexandre


António Costa, o sargento-ajudante de José Sócrates Pinto de Sousa

O assunto do Recluso 44 começa a feder


Das duas uma, ou Carlos Alexandre tinha provas quando prendeu Sócrates, ou não tinha. Se não tinha, ou ainda não tem, a Justiça pouco credível que temos (corporativa, subserviente, coberta de privilégios a troco de algo...) está metida num grande sarilho. Se tinha e tem, ninguém compreende o que andou a fazer nestes últimos seis meses, enquanto manteve Sócrates na prisão. As simples hipóteses de que quis humilhar o ex-primeiro ministro, ou que o prendeu para lhe espremer uma confissão, seriam igualmente fatais para a corporação de juízes e procuradores. Por fim, se resolveu hoje, no dia da Convenção do PS, atenuar as medidas de segurança relativamente ao detido, sem outra explicação que não seja o momento político e eleitoral, então eu digo à justiça portuguesa, casta secularmente privilegiada em nome da subserviência face aos poderosos e do desprezo olímpico pela populaça: esperem um coice como nunca viram da sociedade!

Eu sou dos que está convencido de que José Sócrates é um pirata e que se rodeou da pior corja mafiosa do PS e do país enquanto governou. Mas esta minha convicção não passa disso mesmo, de uma convicção e de uma opinião. O sistema de justiça, porém, não se pode dar luxo de ter estados de alma, convicções, e muito menos opiniões.

Espero bem que, neste caso, que nunca foi, nem é trivial, saibam bem o que estão a fazer. A paciência para incompetência, a arrogância, a irresponsabildiade e a impunidade está a esgotar-se na sociedade portuguesa.


PS: comentário ao post da Porta da Loja, "PS vergonha e acossado":

As teias da corrupção que tecem o falido regime demo-populista e partidocrático que temos apresentam várias tonalidades: cor-de-rosa, cor de-laranja e azul. Sobre isto não haja nem se alimentem ilusões. Quanto ao caso do Recluso 44, a Justiça variável que temos tem que se despachar. Pois num ponto, e num ponto apenas, estou de acordo com quem afirma que não se prende um ex-primeiro ministro, não por causa da criatura, mas por respeito ao cargo, como se fosse um larápio qualquer, e se estique a prisão preventiva até ao limite, para produzir prova. E se não não for possível produzi-la, em que estado ficará a Justiça depois de tão catastrófico e patético fracasso? Esperemos bem, para que a falida e corrompida democracia que temos não colapse como um castelo de cartas, que a Justiça saiba o que anda a fazer.

Atualização: 11/06/2015 10:37

segunda-feira, janeiro 05, 2015

Vem aí uma guerra civil?

Rafael Bordalo Pinheiro. O António Maria, 29JUN1882


Anónimo:

Pelas respostas que Sócrates deu à TVI fica demonstrado que ele conhece bem o processo e os fortes indícios de que é acusado.

Aliás, já se sabia que o processo de Sócrates tem 800 páginas e quase 1 ano de escutas telefónicas.

O QUE DIZ A LEI

Em Portugal nenhuma pessoa pode ser presa preventivamente sem que o respectivo advogado tenha acesso, previamente, ao seu processo. E foi isso que precisamente aconteceu!

PRÓXIMA ESTRATÉGIA DE SÓCRATES E SEUS AMIGOS

No início, Sócrates e seus amigos montaram uma campanha para fazer crer ao povinho que a sua prisão é uma injustiça e uma ficção.

A próxima campanha vai passar por aniquilar as escutas telefónicas. O que exige bons advogados. Foi assim que a Felgueiras se safou.

Nos Estados Unidos as escutas telefónicas são sempre válidas como meio de prova. Em Portugal, os bons advogados safam os ricos e poderosos porque conseguem anular as escutas telefónicas.

EMIGRANTES, ATENÇÃO AO VOSSO DINHEIRO!

O regime está em risco de se desfazer e é óbvio que se os piratas que arruinaram o país levarem a sua por diante, resgatando Sócrates e as tríades que o pariram da punição que merecem, então a possibilidade de cairmos numa guerra civil é real.

Como noutras eras houve, também daqui a um, dois ou três anos, se a Justiça for humilhada como propõe Mário Soares, e se o psicopata de Évora sair triunfalmente da jaula mediática que entretanto montou, haverá sempre alguns euros, yuans e dólares para amarrar e queimar umas centenas ou mesmo alguns milhares de portugueses indigentes com os respetivos cachecois partidários.

De uma coisa os credores estão certos: há que pagar as dívidas. Se estas enriqueceram a nomenclatura e arruinaram um país chamado Portugal, o problema é sobretudo dos devedores.


A indigente e decadente nomenclatura partidária, tal como a corte de Luis XVI, apenas vê o seu transversal umbigo, que vai da extrema-esquerda à direita (a extrema-direita ainda dorme). O demo-populismo é a sua verborreia, o povo partidário e os dependentes do estado são a sua única clientela, o parlamento é o seu pardieiro preferido, onde abundam perdizes, pombos torquazes, cagarras e alguns porcos a cair de gordos, em suma, a captura fiscal de quem produz é o modo como se guindaram à casta dos 1% e destruiram o país por mais de meio século.

A partidocracia que reduziu a democracia aos escombros da miséria material e moral que tolhe o país a cada hora que passa, acha que tudo se resolve com umas asas de raia na Travessa, e uns charutos pelo meio. Quando acordar deste sonho doce, porém, já só verá o mundo como uma imagem turva e fugaz rodeada de um definitivo silêncio.

sexta-feira, abril 20, 2012

Bases para um novo 25A

Sem classe média não há democracia

Flor de Jasmin


A emergência de um Novo Partido Democrata seria um estímulo positivo à necessária metamorfose de um regime insolvente que só não explodiu ainda porque tem contado com o cinto de segurança da União Europeia.

Parece cada vez mais evidente que os partidos a quem temos vindo a dar reiteradamente o nosso voto ao longo das últimas três décadas não cumpriram. Pior: os que estiveram rotativamente no poder conduziram o país à bancarrota, de que apenas nos poderemos salvar se, em primeiro lugar, contarmos com um período de carência por parte dos nossos principais credores e parceiros comunitários (que aliás coincidem) e, em segundo, formos capazes de provocar uma verdadeira metamorfose na democracia que deixámos infiltrar de ervas daninhas até ao ponto de estas terem capturado e envenenado todo o sistema.

Foi preciso bater no fundo da insolvência para acordarmos. Mas será que acordámos, ou continuamos a vaguear como mortos-vivos à míngua de mais paternalismo, mais ilusões e mais indolência? Queremos mudar, ou queremos esperar pela retoma da imprestável democracia burocrática, populista e corrupta que temos escancarada diante de todos nós e do mundo?

É certo que todos os partidos com assento parlamentar estão e estarão ainda mais no futuro próximo sujeitos a tensões internas e desejos manifestos de mudança. É notória a vontade de muitos militantes socialistas expiarem as suas culpas no cartório da insolvência do país e na má memória deixada por José Sócrates e pela turma de serviçais que o acompanharam sem hesitação, dúvida, ou remorso. Mas será que vão conseguir mudar alguma coisa dentro do PS, a tempo de fazerem a diferença sonhada? Uma provável vitória de François Hollande poderá dar uma ajuda, mas também poderá levar a uma colagem imediata de António José Seguro ao "novo paradigma", deixando a hipótese de uma renovação estrutural do partido em águas de bacalhau. Em breve, diria mesmo, até ao fim deste ano, e não mais, as personalidades críticas e os jovens turcos do PS terão que decidir se avançam internamente, se hibernam, ou se partem para outra. Os partidos deixaram de ser sacos azuis de onde se retira e paga o bodo aos pobres de pão e espírito. Vão ter que provar muito mais, daqui para a frente, se quiserem merecer a atenção e o sim dos cidadãos.

No PSD as tensões são por enquanto surdas mas podem rebentar quando menos esperarmos. Marques Mendes é uma espécie de ponto deste turbilhão que acabará por fazer caminho num partido que é governo insustentável de uma situação insustentável. Nunca nenhum governo, desde 25 de Abril de 1974 —o dia em que a ditadura tombou sob o peso da demolição interna, da rejeição pública manifesta e de um golpe militar largamente alimentado por reivindicações corporativas— sobreviveu uma legislatura completa com taxas de crescimento abaixo dos 2%. Quando os portugueses perceberem que a austeridade brutal que lhes está a ser imposta de forma assimétrica veio para ficar durante muitos anos, e que pende sobre toda a classe média uma real ameaça de destruição, haverá uma revolta que varrerá o presente governo, se não mesmo o regime inteiro, do mapa!

Os privilégios da famílias de rendeiros ricos e preguiçosos, e os privilégios da nomenclatura partidária existente, continuam tão protegidos como sempre. Mas por quanto tempo mais?
A pilhagem fiscal em curso, que visa expropriar quem trabalha, poupou ou herdou, em benefício das burocracias instaladas (que por sua vez irão ser as próximas vítimas) e sobretudo para proteger e enriquecer ainda mais os bancos e os seus poucos donos, quando for percebida no seu inteiro escândalo e crime, acordará as classes médias portuguesas, das mais baixas às mais confortadas, como as indulgência denunciadas por Lutero varreram Roma de boa parte da Europa —até hoje!
A grande questão que se coloca, porém, a todos os portugueses fartos deste regime, descrentes de um sistema partidário e parlamentar corrompido até à medula e largamente imbecilizado, é a de saber que outra realidade poderá, com vantagem, substitui-lo.

Outro partido?!

Não há ainda alternativa à democracia que não seja, no fundo, melhorar a democracia!
Acontece, porém, que desta vez não bastam pequenas emendas. É preciso uma ruptura vertical, de alto a baixo, que abane e mude radicalmente os partidos existentes e porventura faça brotar na paisagem pública novos partidos e agrupamentos de governo democrático não necessariamente constituídos segundo as mesmas cartilhas institucionais, formais e procedimentais que estão na base do vigente e desgastado edifício constitucional. Precisamos de dar força e legitimidade próprias às novas formas de pensamento, deliberação democrática e acção pública dos cidadãos.

Ao contrário da desculpa idealista, que acaba por justificar a corrupção em nome de um ideal em mente, moralmente imperativo, que um dia será alcançado, mas que enquanto não for, terá que ser desculpado na sua imperfeição, em nome do relativismo e das fraquezas humanas de sempre, a exigência democrática radical, que demanda a liberdade como veículo irrenunciável, faz-se em nome do que um filósofo distinto de Platão, Aristóteles, chamou uma enteléquia — ou seja, de uma exigência interna irredutível à vulgaridade do oportunismo quotidiano. A corrupção não pode nunca ser o caminho da virtude, da cultura, ou da civilização. E é por isto que a corrupção é o inimigo número um da democracia e da liberdade!

Mas se esta é uma diferença de fundo, que justifica uma nova revolução democrática no seio das democracias que temos, outro ponto igualmente importante diz respeito ao modus operandi desta necessária revolução.

Os partidos convencionais tiveram uma génese invariavelmente conspirativa, de pequenas seitas de interesses e convicções que depois foram dando lugar a grupos de pressão e finalmente emergiram como instituições partidárias. Hoje esta forma de nascer não faz sentido. O mundo ganhou nas últimas duas décadas uma extensão de realidade aumentada a que chamamos Internet, de onde saíram coisas como o email, a Web, o Google, o Skype, o YouTube, o Linkedin, o Scribd., o MySpace, o Facebook, o Tumblr, etc.

Tal com o Partido Pirata, que nasceu na Suécia em 2006, motivado por uma revolta contra a pata pesada e corporativa dos chamados direitos de autor, e hoje conta com mais de dezanove réplicas em vários países e promete tornar-se a terceira força partidária da Alemanha já nas próximas eleições, também o Novo Partido Democrata (NPD) que poderá em breve nascer em Portugal (com esta ou com outra designação), deverá brotar do interior desta nova realidade que é a extensão virtual da cidadania desperta e militante!

O NPD poderá assim tornar-se no primeiro partido português de génese imaterial, digital, em rede, mas com o propósito de intervir e disputar os terrenos tradicionais da representação e da ação democráticas materiais.

Nascer, neste caso, não significa simplesmente proclamar uma sigla, nem o resultado de uma corrida de protagonistas. O nascimento do NPD deve começar por ser original da sua própria génese e ulterior maturação. O pdf que se segue é um diagrama do que poderia ser, a partir de hoje, um acelerador de partículas criativas associado ao lançamento das bases teóricas e práticas no novo partido que, preferencialmente, deveria estar preparado e pronto para agir na precária conjuntura política, social e cultural portuguesa, tão cedo quanto possível. No entanto, a prontidão desejável implica começar por debater este diagrama e avançar com uma estratégia inovadora de produção da nova organização disposta a servir de alternativa num país aparentemente esgotado e sem alternativas.
NPD-lab-1.1

Dez pontos resumem, nesta fase de reflexão, as bases programáticas do partido que poderá em pouco tempo configurar uma alternativa real ao desnorte, aflição e decadência em curso no nosso país:
  • mais Europa
  • mais Democracia
  • mais Responsabilidade
  • melhor Justiça
  • mais Transparência
  • mais Equilíbrio
  • mais Conhecimento
  • mais Criatividade
  • menos Burocracia
  • menos Impostos
O ponto de partida é este. Falta agora debatê-lo, desdobrar as suas possibilidades, comparar com experiências inovadoras em curso noutros países desenvolvidos, afinar conceitos, apurar estratégias, angariar pessoas, promover círculos de conversa virtual e ao vivo, ajudas materiais de diversa índole e obter recursos financeiros.
A organização ainda não existe. O objetivo desta manifestação de vontade é que comece a emergir a partir de hoje!

20 de Abril de 2012
António Cerveira Pinto
(primeiro subscritor da plataforma para o Novo Partido Democrata)

NOTA : este post foi replicado do sítio do Novo Partido Democrata

Última atualização: 22 Abril 2012 16:18

quinta-feira, janeiro 31, 2008

Portugal 17

El Toro!

A remodelação do actual governo não conseguiu abafar dois factos bem mais relevantes: a frente anti-corrupção proclamada no âmbito das cerimónias de abertura do ano judicial, e a nova investigação dos voos ilegais da CIA sobre território nacional.

Ontem a caixa de e-mail, os SMS e os telefonemas não paravam. Primeiro, por causa das mais recentes declarações de António Marinho Pinto, recém eleito bastonário da Ordem dos Advogados, sobre a epidemia de corrupção que grassa em Portugal. Depois seguiu-se a varredela para debaixo do tapete governamental de um ministro aselha e de uma ministra que nunca deveria tê-lo sido. O dia fechou com a reabertura do dossier sobre os voos ilegais da CIA em território nacional, que a covardia política do Bloco Central, apesar das excepções (Ana Gomes e Carlos Coelho), prefere ignorar.

Arrumemos rapidamente o assunto da micro remodelação governamental.

Os erros clamorosos de Correia de Campos na localização das receitas importadas para a reforma do Sistema Nacional de Saúde, a par da cupidez neoliberal do actual governo, iam transformando uma das mais importantes reformas prometidas por José Sócrates no seu caixão prematuro. Assim sendo, não havia outro remédio que não fosse despedir o ministro. Ao fazê-lo, José Sócrates Pinto de Sousa, exemplar genuíno de Chico esperto lusitano, conseguiu matar dois coelhos de uma cajadada só: viu-se livre dum ministro assassino (assassino do governo, entenda-se) e deixou aparentemente Manuel Alegre, uma vez mais, a vocalizar no deserto! Resta saber se o arrependimento de Sócrates não chegou tarde demais, e se as tropelias em curso pela tríade de piratas que o pôs onde está, não irão precipitar a queda antecipada deste prometido anjo da nossa democracia. Tudo depende, em última instância, do juízo e sentido de oportunidade de Cavaco Silva.

A minha intuição e o meu querer dizem-me que o regime precisa urgentemente de um reajustamento partidário sério. O Bloco Central já não vai a lado algum. E se a agonia política do actual sistema se prolongar por muito mais tempo, acabaremos por colocar em risco o próprio regime constitucional. O Portas e o Santana devem casar-se de uma vez por todas, e formarem um partido populista à medida das suas fantasias. O PSD deve voltar a ser um partido de empresários patriotas (e despedir rapidamente o Menezes). E quanto ao PS, tem apenas uma alternativa e uma oportunidade: parir um partido liberal-democrata (com a gente que entretanto tomou de assalto o PS e nos governa), e deixar o velho Partido Socialista assumir uma direcção social-democrata lúcida, intransigente e ancorada nas novas classes criativas. Quanto ao Bloco de Esquerda, o seu futuro há muito que deixou de fazer sentido útil. Não passa duma obtusa elite universitária às voltas com os fantasmas do trotskismo, do maoísmo e do estalinismo. O PCP, por fim, ainda que cada vez mais senil e insuportável, sobreviverá enquanto os socialistas de gema continuarem a esbracejar no pântano deixado por António Guterres.

A crise económica que temos pela frente não deixará de produzir efeitos nefastos nesta conjuntura. O espírito de colaboração e decoro entre os pares do reino está por um fio. Tal como no dilema do prisioneiro, todos parecem dispostos a trair o amigo. Rouba o mais que puderes, o mais depressa que conseguires, e foge! -- parece ser o lema instalado na classe política nacional e autárquica. Se não houver travão a este descalabro, teremos pela certa um desastre de enormes proporções e duração.

É aqui que entra a corajosa intervenção de António Marinho Pinto. Bastou-me ouvir o barão da advocacia portuguesa, José Miguel Júdice (com uma formidável dor de corno), insultar o recém eleito bastonário, na SIC Notícias, como o fez, para perceber que tínhamos um personagem incómodo à frente da Ordem dos Advogados. Fiquei satisfeito por ver que se vai formando uma fronda de gente honesta e corajosa contra o manifesto afundamento do país por uma classe de parasitas, profundamente ignorante e disposta a vender-nos por umas férias no Ilhéu das Rolas. Nomes como José Silva Lopes, Medina Carreira, Maria José Morgado, e outros, emergiram da sopa de generalidades e pessimismo vago que infelizmente ainda domina boa parte da maledicência mediática que temos, para nos avisar dos perigos reais que corremos enquanto nação independente, apontando ao mesmo tempo novos comportamentos colectivos, medidas preventivas e acções executivas inadiáveis. Não menos importante e saudável, é a coragem que têm demonstrado estes democratas nas acusações e desafios lançados às poderosas máfias e tríades que, insensíveis ao mal que causam, apenas obedecem à sua escancarada gula económica e política.

Algumas hienas aflitas uivaram que o bastonário não podia fazer acusações genéricas, que tinha que concretizar, repetindo o alarido dos autarcas contra as invectivas que lhe foram dirigidas há algum tempo por Saldanha Sanches. Pobres animais! Então não leram o discurso de posse do actual Procurador-Geral? Eu recordo-lhes:
"Compete ao Ministério Público não só dirigir a investigação criminal, ainda quando realizada por outras autoridades, como também promover e realizar a acção de prevenção criminal. Todo o crime deve ser investigado. Há, porém, crimes que pela sua especial gravidade, pela sua enorme repercussão em várias áreas da sociedade, necessitam de uma maior colaboração entre os vários órgãos do Estado, de uma maior participação dos cidadãos e também de um maior dispêndio de tempo e de meios. É o caso da corrupção.

A problemática da corrupção não é específica deste ou daquele território, de um ou outro regime político, tendo antes uma dimensão universal.

E não é um fenómeno que tenha surgido subitamente como praga dos tempos modernos. A corrupção é tão antiga como as sociedades organizadas. Platão e Aristóteles falam da corrupção e entre nós já a ela se referia o cronista Fernão Lopes.

Várias leis foram elaboradas com o fim de combater a corrupção, várias experiências foram tentadas, várias iniciativas tomadas, mas a corrupção está aí, tão viva como sempre, minando a economia, corroendo os alicerces do Estado democrático.

Independentemente de novas leis que venham a ser criadas, dos novos meios de que se passe a dispor, há um aspecto que gostaria de realçar.

Se a ordem jurídica não se pode confundir com a ordem ética, sob pena de se poder cair num qualquer fundamentalismo, a verdade, é que em cada povo e em cada época tem que existir aquele mínimo de valores éticos a respeitar, e subjacentes à feitura e aceitação das leis.

É aqui, penso, que se coloca um dos pontos chave da luta contra a corrupção em Portugal. É fundamental a criação de um juízo de censura, de um desejo de punibilidade existente na consciência moral do homem médio, que por isso deve ser sensibilizado para o problema.

Não havendo essa consciência moral e a certeza de que todos serão tratados de igual forma, existindo antes a convicção de que "todos se governam" e que a corrupção é um mal menor e inevitável, os esforços contra a corrupção serão sempre votados ao fracasso.

Havendo vários graus de corrupção, desde a pequena corrupção até à corrupção de Estados, a verdade é que a grande corrupção, arrastando grandes interesses, torna os poderosos mais poderosos e os fracos mais fracos. Até por isso, o Ministério Público, que por definição tem que proteger os mais desprotegidos, deve empenhar-se seriamente no combate à corrupção. E desde já, aproveitando os meios de que dispõe, enquanto não forem melhorados e não esperando por novas leis, antes fazendo uso das que existem.

Combate esse a travar com total respeito pelos direitos, liberdades e garantias de cada um, como é regra num Estado de Direito.

É gratificante para quem desde há muito considera a corrupção como um dos crimes mais demolidores das estruturas democráticas e esteve empenhado, num passado não muito distante, no seu combate, verificar que o senhor Presidente da República, Governo e partidos políticos estão profundamente interessados na luta contra esse crime e preocupados com os efeitos do mesmo."

in discurso de posse do Procurador-Geral da República, Fernando Pinto Monteiro.

António Marinho Pinho não faz mais do que seguir à risca as palavras sábias do mais alto representante do poder judicial. E o mais significativo da situação é a sintonia crescente entre o Presidente da República, o Procurador-Geral e o Bastonário da Ordem dos Advogados nesta essencial questão da democracia. Sem Justiça, perante a indolência interesseira do Parlamento, e perfilando-se no horizonte a tomada de assalto das principais instâncias do poder por parte de tríades e hordas de vigaristas de todos os matizes, está de facto em causa a própria segurança do Estado em áreas nevrálgicas, que a não serem acauteladas, formarão um cancro incurável, não apenas da democracia, mas da própria independência do país. A corrupção é uma peste, atingindo hoje proporções de verdadeira pandemia, que urge atacar sem dó nem piedade. Como noutros males que nos afligem, o melhor remédio é sempre a prevenção. No caso português, é urgente prevenir em lei, de forma clara e transparente, as situações de conflitos de interesses, de abuso de informação privilegiada e de pagamento de favores. Alguns exemplos inaceitáveis:
  • Joaquim Ferreira do Amaral, que presidiu enquanto ministro a um negócio ruinoso para o Estado -- esquema de financiamento da construção da Ponte Vasco da Gama (ver Relatório do Tribunal de Contas) -- veio depois a ser cooptado para Presidente do Conselho de Administração da Lusoponte, empresa que explora a Ponte Vasco da Gama, onde continua a exercer funções, pretendendo mesmo conduzir-nos a novo fiasco, com a construção da Ponte Chelas-Barreiro (uma aberração técnica e um embuste semelhante ao da Ota).
  • O caso escandaloso do Hospital Amadora-Sintra, que corre em tribunal, tendo como arguida a antiga responsável pela ARS, por ilícito praticado, com prejuízo imenso para o Estado, regressa à opinião pública porque o julgamento do caso está para muito breve, e porque a arguida e a recém-empossada Ministra da Saúde são a mesma pessoa: Ana Jorge!
  • Membros do PP, no governo de Santana Lopes, estiveram envolvidos em operações relacionadas com a compra de submarinos militares, de que teriam resultado pagamentos de luvas e tratamentos de favor ilegais em benefício do Grupo BES, no caso a declaração de "utilidade pública" de um empreendimento turístico em Benavente.
  • A TAP, uma empresa pública, comprou a PGA ao Grupo BES por 135 milhões de euros, quando se sabia que a mesma PGA era já uma empresa sem futuro, com prejuízos crescentes (por isso não apresentou as contas de 2006), excesso de recursos humanos e aviões inúteis. Em consequência deste negócio, só possível com o acordo do actual governo, a TAP apresentou em 2007 resultados operacionais distorcidos da realidade, anunciando, por um lado, mais passageiros transportados, e por outro, resultados operacionais aquém dos traçados pelo governo.
  • Armando Vara, militante de topo do PS e muito próximo do actual Primeiro-Ministro, é um dos novos vice-presidentes do BCP, mantendo porém vínculo contratual com a concorrente Caixa Geral de Depósitos, de onde transitou, numa das mais controversas operações realizadas até à data na banca portuguesa. Como é possível tamanha acumulação de interesses?
  • Vítor Constâncio, Governador do Banco de Portugal, não só aufere vencimento escandaloso, quando comparado com congéneres, por exemplo, norte-americanos (ler este minucioso quadro comparativo); não só mantem uma estrutura de pessoal desproporcionada aos reais afazeres do banco; como mal-acompanhou e mal-supervisionou as tropelias do maior banco privado português -- o BCP --, permitindo assim que o descalabro chegasse ao triste fim a que chegou.
  • Dias antes de o relatório do LNEC sobre o Novo Aeroporto de Lisboa ser entregue ao Primeiro-Ministro, a Sociedade Agrícola do Rio Frio foi vendida a uma empresa off-shore chamada Trasset Investments BV, com sede em Amesterdão, por 250 milhões de euros! Como foi possível uma operação desta envergadura sem se conhecer antecipadamente qual seria a decisão do Primeiro-Ministro?

Os exemplos poderiam multiplicar-se, mas interessa apenas sublinhar o estilo e a gravidade do que está em causa. Para que não se fique a pensar que estamos a falar de generalidades.

Para colocar um ponto final neste postal, que já vai longo, diria que o regresso do dossier das torturas e dos voos clandestinos da CIA em Portugal, vem demonstrar que não temos só um grave problema de corrupção pela frente, mas dois: o que pilha sem vergonha o erário público, e o que escancara a nossa subserviência canina diante de uma potência imperial, mesmo quando esta atropela flagrantemente o Direito Internacional, a Declaração Universal dos Direitos do Homem, e se limita a copiar, neste seu perigoso declínio, os piores métodos de qualquer ditador latino-americano da década de 70.

OAM 303 31-01-2008, 00:41 (actualização: 11:26)