quarta-feira, julho 22, 2009

Israel

Um bom pretexto

A intensificação da guerra no Afeganistão —uma armadilha que tem atraído o envolvimento crescente dos Estados Unidos e da Europa Ocidental—, somada ao agravamento da crise "interna" iraniana, está a transformar o Médio Oriente num barril de petróleo prestes a explodir. As consequências de um tal desenlace são imprevisíveis e seriam certamente catastróficas. Basta um fósforo chamado Jerusalém para que o pior ocorra.

A recente decisão dos sionistas radicais de expulsarem milhares de palestinos de Jerusalém Oriental, é o género de provocação à paz mundial que poderá facilmente abrir o caminho a uma III guerra mundial. Obama, Putín (Medvedev) e Hu Jintao conhecem perfeitamente o perigo de uma tal situação, caso fique fora de controlo. Ora os racistas que hoje dominam Israel são capazes de quase tudo. Na realidade, parecem-se cada vez mais com aqueles que mais dizem odiar: os nazis!

Playing with fire, by Haaretz Editorial

The controversy surrounding the plan to create a Jewish enclave in the heart of the Palestinian neighborhood of Sheikh Jarrah in East Jerusalem is not another routine expression of the U.S.-Israel dispute over the settlements. The timing of the decision to build dozens of housing units in the Shepherd Hotel complex, at the height of efforts to reach an agreement on limited construction in the settlements, casts doubt over Prime Minister Benjamin Netanyahu's willingness to enter serious negotiations on a final-status agreement. The support he granted the construction project yesterday, despite the vehement condemnations of America and Britain, show he is prepared to endanger Israel's most essential foreign relations for a provocative initiative led by Irving Moskowitz, the patron of right-wing organizations in East Jerusalem.

U.S. President Barack Obama's opposition should not have surprised Netanyahu. The day after Jerusalem Day, when the prime minister declared the city is "Israel's united capital" and would remain forever under Israeli sovereignty, Washington clarified that authority over East Jerusalem would be resolved only through negotiations on a final-status agreement.

... Since 1967 Israel has expropriated 35 percent of East Jerusalem in order to construct 50,000 housing units in neighborhoods intended primarily for Jews. During the same period, fewer than 600 housing units were built for Palestinian residents with government support. — in Haaretz.com (20-07-2009).

De momento parece haver unanimidade mundial na condenação do comportamento provocatório dos sionistas radicais chefiados por Benjamin Netanyahu. Mas se houver uma provocação que force a Rússia, ou os Árabes a reagir, quem controlará a situação?


OAM 607 22-07-2009 01:05

terça-feira, julho 21, 2009

Portugal 115

Jessica!

O Governo acaba de agarrar-se a uma estratégia lançada pela UE em 2005, chamada Jessica. Very sexy indeed!


Jessica

Digam-me lá se os conselheiros do Obama não começaram já a fazer estragos nas Oposições a Sócrates. Têm reparado na mudança radical de estilo do nosso elegante primeiro-ministro? O contraste com a pose de Politburo dos demais líderes partidários começa efectivamente a fazer estragos no PSD, no PCP e no CDS-PP. O Bloco de Esquerda parece, por enquanto, aguentar, ou não fosse a indumentária de Louçã, por natureza, mais descontraída, e os seus simpatizantes, gente mais desperta e decidida.

Nos meus mini-inquéritos (ver coluna da direita) nota-se uma clara recuperação do voto socialista. As causas são evidentes: o PSD tarda em apresentar o seu programa e afunda-se no escândalo BPN; o CDS-PP e o PCP não contam; e José Sócrates tem-se revelado um verdadeiro camaleão disciplinado. Ouviu o que a gente de Obama lhe disse e age em conformidade, com inexcedível perícia e naturalidade. Resta saber se os eleitores se deixarão seduzir, sem antes haver uma verdadeira prova de vida, i.e. uma lipo-aspiração séria no PS e na turma de crápulas que o colonizam (como colonizam, noutra bancada, o PSD).

O senhor Coelho da Mota-Engil já não quer o Terminal de Alcântara alargado para coisa nenhuma, e mandou o recado através do expedito vereador de António Costa, o arquitecto Manuel Salgado. Mas ainda quer os terrenos de Alcochete, que comprou a meias com... o BPN (disfarçado de SLN). Ora bem, desfaça-se mais esta negociata e definam-se de uma vez por todas coisas simples e algumas prioridades:
  1. ligação do LAVE (Linha de Alta Velocidade) entre a estação da Atocha, em Madrid, e a futura estação alargada do Campo Grande, que na minha modesta opinião deveria ser construída nos terrenos da Feira Popular (sim, o LAVE pode atravessar o Tejo pela Ponte 25 de Abril!);
  2. expansão do terminal de águas profundas da Trafaria até à Cova do Vapor, para o que seria necessário proceder ao fecho da Golada (1);
  3. ligação ferroviária em Velocidade Elevada entre o Porto e Vigo;
  4. ligação ferroviária em Velocidade Elevada entre Aveiro e Salamanca;
  5. finalização das obras na Linha do Norte e alteração radical da respectiva gestão;
  6. electrificação e modernização da Linha do Douro: substituição da bitola, para "bitola europeia", novos comboios e sistema de sinalização, reabilitação cuidadosa dos apeadeiros existentes; (2)
  7. suspensão do processo de construção do Novo Aeroporto de Lisboa até 2015;
  8. melhoria imediata das condições de operação em terra no aeroporto da Portela;
  9. transformação imediata da Base Aérea do Montijo numa base para as companhias Low Cost;
  10. criação imediata de um corredor taxiway decente no aeroporto Francisco Sá Carneiro;
  11. lançamento de um plano para a modernização e expansão do transporte ferroviário em Portugal, com adopção generalizada da chamada bitola standard ou bitola europeia, por forma a aumentar a interoperacionalidade interna e internacional dos vários meios de transporte ferroviário;
  12. lançar um vasto programa de obras públicas de proximidade, aproveitando assim da maneira mais eficaz e ajustada à duradoura crise económico-financeira onde estaremos durante toda a presente década, o QREN e a Jessica!

Fundo de participações Jessica vai criar fundos de desenvolvimento urbano

2009-07-20. Ministério do Ambiente, do Ordenamento do Território e do Desenvolvimento Regional

Gabinete do Ministro

Constituição do Fundo de Participações Jessica para criação de fundos de desenvolvimento urbano

O Ministro de Estado e das Finanças, Fernando Teixeira dos Santos, acompanhado pelo Ministro do Ambiente, do Ordenamento do Território e do Desenvolvimento Regional, Francisco Nunes Correia, e pelo Ministro das Obras Públicas, Transportes e Comunicações, Mário Lino, preside no próximo dia 20 de Julho, segunda-feira, às 16h00, no Salão Nobre do Ministério do Ambiente, do Ordenamento do Território e do Desenvolvimento Regional (Rua de O Século, 51) à cerimónia da constituição do Fundo de Participações Jessica.

Nessa ocasião será celebrado um contrato com o Banco Europeu de Investimento, que atribui àquela entidade a gestão de um montante de 130 milhões de euros do Fundo de Participações Jessica que, nesta data, será constituído com recursos dos Programas Operacionais do QREN e da Direcção-Geral do Tesouro e Finanças.

A Iniciativa Jessica (Joint European Support for Sustainable Investment in City Areas), lançada conjuntamente pela Comissão Europeia e pelo Banco Europeu de Investimento, visa apoiar os Estados-membros na utilização de mecanismos de engenharia financeira para aplicação dos fundos estruturais destinados ao financiamento de investimentos de regeneração urbana, no quadro da política de coesão.

A Iniciativa Jessica:

* Faculta a mobilização de recursos adicionais, através da combinação de recursos públicos e capitais privados;
* Estimula as medidas da Política de Cidades, permitindo aumentar o leque de mecanismos financeiros disponíveis para a sua prossecução;
* Garante a sustentabilidade futura do financiamento através da recuperação do capital que é afecto a fundos especializados: os Fundos de Desenvolvimento Urbano;
* Beneficia da experiência de instituições financeiras especializadas.

A criação de um sistema de Fundos de Desenvolvimento Urbano em Portugal irá permitir inovar na aplicação dos fundos estruturais em intervenções integradas que contribuam para tornar as nossas cidades mais competitivas, socialmente mais inclusivas e ambientalmente mais qualificadas, configurando-se como um veículo crucial para a promoção do desenvolvimento urbano sustentável. — Link.


Mas a Jessica já vem de longe...


The Communication of the European Commission on "Cohesion policy and cities: The urban contribution to growth and jobs in the regions" COM (2006)385 final, has insisted in the need of an increase of the leverage of public resources through the involvement of the private sector, which can bring "not just money but complementary skills and resources". This approach requires a new mindset for local authorities when dealing with JESSICA, as "An effective public-private partnership requires both a strategic and long term vision and technical and management competences on the part of local authorities".

JESSICA will offer the managing authorities of Structural Funds programmes the possibility to take advantage of outside expertise and to have greater access to loan capital for the purpose of promoting urban development, including loans for social housing where appropriate. Where a managing authority wishes to participate under the JESSICA framework, it would contribute resources from the programme, while the EIB, other international financial institutions, private banks and investors would contribute additional loan or equity capital as appropriate. Since projects will not be supported through grants, programme contributions to urban development funds will be revolving and help to enhance the sustainability of the investment effort. The programme contributions will be used to finance loans provided by the urban development funds to the final beneficiaries, backed by guarantee schemes established by the funds and the participating banks themselves. No State guarantee for these loans is involved, hence they would not aggravate public finance and debt. — Link.


NOTAS
  1. O Plano Estratégico do Porto de Lisboa previa em 2006 que na zona da Trafaria e Cova do Vapor — onde se encontra o melhor local de todo o estuário do Tejo para instalações portuárias modernas — o "fecho da golada” ou seja, reconstruir a ligação de areia entre essa zona e o farol do Bugio, uma obra de 30 milhões de euros, resolveria a expansão da capacidade portuária de Lisboa, recuperando e estabilizando ao mesmo tempo, com carácter permanente, a praia da Caparica, que de há anos a esta parte consome recursos infinitos em brincadeiras de areia contra o mar que nada resolvem. O caminho, defendido aliás por um autorizado professor jubilado do Técnico e militante do PS (António Brotas), deve ser retomado sem demora, cortando a direito a sombra omnipresente do senhor Coelho.
  2. Erro estratégico do Governo na Alta Velocidade ferroviária
    O Governo está a cometer um erro estratégico ao propor uma rede que não vai permitir transportar directamente os contentores do nosso território e portos para à União Europeia. Por Rui Rodrigues, in Público/ Carga&Transportes (20-07-2009).

OAM 606 21-07-2009 12:09 (última actualização: 00:00)

segunda-feira, julho 20, 2009

Mare nostrum

A caminho de um novo Tratado de Tordesilhas

CPLP: «Estratégia para o Mar» é hoje aprovada

Os ministros dos Negócios Estrangeiros e do Mar da CPLP vão aprovar hoje na Cidade da Praia a «Estratégia para o Mar» numa reunião parcialmente conjunta entre os chefes da diplomacia dos «oito» e os ministros do sector. — in Diário Digital (segunda-feira, 20 de Julho de 2009 | 06:10)

Tudo vai mal no governo Sócrates, menos a sua política externa. Luís Amado daria um bom futuro primeiro-ministro de Portugal. Quando a maré regressar ao PS, claro!

Os países da CPLP —Brasil, Portugal, Angola, Moçambique, Cabo-Verde, Guiné, São Tomé e Príncipe e Timor (mais a observadora Galiza)—, por razões que adiante resumimos, voltam a ser decisivos no jogo de equilíbrios mundial, podendo mesmo —ou melhor, devendo mesmo— preparar-se desde já para um forte papel de mediação diplomática e comercial no embate de titãs que se aproxima entre uma Ásia crescentemente protagonizada pela China, e o ainda dominante Ocidente euro-americano com os seus aliados, nomeadamente em África.

O interesse crescente da China e da Índia pelo Atlântico é óbvio e claramente explicável: sem uma navegação amigável por este oceano, não haverá energia, nem matérias primas, nem alimentos que cheguem para suportar as actuais taxas de crescimento daqueles dois gigantes emergentes. As importantes delegações, chinesa e indiana, que recentemente nos visitaram, sugerindo um papel mais activo de Portugal na cena internacional, são a prova provada do que venho escrevendo há mais de três anos (ler aqui) sobre este tema: vai ser preciso um novo Tratado de Tordesilhas para garantir a paz mundial e o ajustamento harmónico das placas tectónicas das geo-estratégias planetárias — actualmente em rota de colisão.

A passagem do Médio Oriente está infestada de conflitos militares (1) e até de "piratas" (2). As regiões de contacto terrestre entre a China e o resto do planeta —Rússia, Cazaquistão, Quirguistão, Tajiquistão, Paquistão, Índia, Birmânia (Myanmar)— estão a ser bloqueadas pelo Ocidente através da aliança judaico-cristã protagonizada pela NATO e por Israel, em nome, claro está, da luta contra o terrorismo fundamentalista. Primeiro foi a desestabilização do Tibete nas vésperas dos Jogos Olímpicos; agora é a "revolução" nacionalista em Xinjiang. A Turquia, que é um estado predominantemente islâmico, mas pró-Ocidental e que quer entrar na União Europeia, avisou a China de que não poderia tratar o Turquistão Chinês, i.e. a região autónoma chinesa de Xinjiang, palco recente de grandes conflitos étnicos e religiosos, como vem tratando da questão tibetana. Em suma, o cerco terrestre à China está em marcha!

Resta, pois, ao país dos pandas, uma de duas soluções: ou antecipar um conflito militar em larga escala (para o que não está preparado), ou criar uma grande armada comercial e militar, em nome das regras internacionais da livre-circulação marítima — que é o que vem fazendo, com sucesso. A visão interrompida, em 1433, de um súbdito de três imperadores chineses, o eunuco muçulmano e mítico almirante da então maior armada militar do planeta —Zheng He—, regressa agora como uma inevitabilidade, curiosamente, cinco séculos depois de Filipa de Lencastre ter estimulado os seus bem educados filhos a conquistar Ceuta e descer a costa ocidental de África, em busca de ouro e do lendário Preste João das Índias.

Os nossos grandes empresários escusam pois de teimaram na betonagem do país à custa da sangria fiscal e da destruição dos direitos sociais dos seus concidadãos. A China e a Índia, já para não mencionar o Brasil, Angola e Moçambique, precisam da vossa versatilidade, dos vossos conhecimentos técnicos, da vossa experiência de gestão e dos vossos capatazes, mas sobretudo, precisam do vosso idioma! Portugal, se calhar não morreu ainda. Teve um colapso. Desmaiou. Dêem-lhe umas bofetadas, para acordar!



NOTAS
  1. The Pentagon and its NATO allies have launched the largest combat offensive to date in their nearly eight-year war in South Asia - Operation Khanjar (Strike of the Sword) with 4,000 US Marines, attack helicopters and tanks and Operation Panchai Palang (Panther's Claw) with several hundred British engaged in airborne assaults - in the Afghan province of Helmand.

    The American effort is the largest ground combat operation conducted by Washington in Asia since the Vietnam War.

    Other NATO and allied nations have also boosted or intend to increase their troop strength in Afghanistan, with German forces to exceed 4,000 for the first time, Romanian troops to top 1,000 and contingents to be augmented from dozens of other NATO member and partner states, including formerly neutral Finland and Sweden.

    The US, NATO, NATO's Partnership for Peace and Contact Countries and other allied nations - states as diverse as Australia, New Zealand, Ireland, the United Arab Emirates and Macedonia - have some 90,000 troops in Afghanistan, all under the command of America's General Stanley A. McChrystal, former head of the Joint Special Operations Command in Iraq and a counterinsurgency master hand. The Afghan-Pakistani war theater resembles the Vietnam War in more than one manner.

    The US troop contingent has nearly doubled since last year, more than quintupled in five years, and will be in the neighborhood of 70,000 soldiers by year's end.

    Concurrent with the ongoing offensive the US has fired missiles from aerial drones into Pakistan in the two deadliest strikes of the type ever in that country, killing 65 and 50 people in two recent attacks.

    Large-scale government military operations on the Pakistani side of the border, coordinated with the Pentagon through its new Pakistan Afghanistan Coordination Cell and with NATO through the Trilateral Afghanistan-Pakistan-NATO Military Commission, have uprooted and displaced well in excess of two million civilians, the largest population dislocation in Pakistan since the 1947 partition of British India. — in "Military Escalation: From Afghanistan To the Caspian Sea and Central Asia Largest ground combat operation since the Vietnam War", by Rick Rozoff, Global Research, July 10, 2009.

  2. Na realidade, os propagandeados "piratas" do Índico não passam duns pobres diabos esfarrapados, a quem não resta outro remédio que não seja pilhar quem passa ao largo das suas costas, normalmente navios atulhados de petróleo e outras mercadorias, depois de as suas águas e territórios terem sido e continuarem a ser literalmente pilhados pelos verdadeiros e grandes piratas da humanidade que somos nós, Ocidentais alegres e sempre cheios de razão, devoradores insaciáveis de recursos, que com a nossa tecnologia superior varremos, por exemplo, os bancos de peixe das costas da Somália.

    Somali pirates are in the news once again, capturing ten shipping vessels in the Indian Ocean this week. That is a total of 66 vessels on the year, with 16 still in the hands of pirates. This time there were no off-colored remarks about parrots and scallywags, treasure chests or Captain Jack Sparrow in the American media. This time an American was taken hostage. — in "To Deal With Pirates, Look To The Land" (Olive & Arrow).
  3. After the tragic events of July 5 in Xinjiang Uyghur Autonomous Region in China, it would be useful to look more closely into the actual role of the US Government’s ”independent“ NGO, the National Endowment for Democracy (NED). All indications are that the US Government, once more acting through its “private” Non-Governmental Organization, the NED, is massively intervening into the internal politics of China.

    The reasons for Washington’s intervention into Xinjiang affairs seems to have little to do with concerns over alleged human rights abuses by Beijing authorities against Uyghur people. It seems rather to have very much to do with the strategic geopolitical location of Xinjiang on the Eurasian landmass and its strategic importance for China’s future economic and energy cooperation with Russia, Kazakhastan and other Central Asia states of the Shanghai Cooperation Organization.

    The major organization internationally calling for protests in front of Chinese embassies around the world is the Washington, D.C.-based World Uyghur Congress (WUC). — in Global Research, July 11, 2009. — Washington is Playing a Deeper Game with China, by F. William Engdahl (Global Research).


OAM 605 20-07-2009 12:14

sábado, julho 18, 2009

Por Lisboa 27

Região Autónoma de Lisboa, já!
Transformar uma manta de retalhos na porta ocidental da Europa.


Obras na minha rua — Carcavelos. Foto: OAM.

O desenho não está ainda bem definido, mas andará numa geometria a meio caminho entre a antiga Região de Lisboa e Vale do Tejo (cerca de 3,5 milhões de habitantes) e a actual Região de Lisboa (2,8 milhões de habitantes). O importante mesmo é exigi-la quanto antes. E sabem que mais? António Capucho daria um bom presidente da nova região!

Fui ontem de manhã, 18 de Julho, passear pelo rio Tejo num Galeão do Sal do início do século 20, entretanto reconvertido para viagens de recreio. Tem o sugestivo nome Estou para Ver.

Há 36 anos que vim parar a Carcavelos. Sem querer, fui-me tornando num "menino da Linha", pendulando entre o areal se São Julião da Barra e o Bairro Alto, Alvalade, Alfama, Cinfães do Douro, Porto, Matosinhos, Pico, Corunha, Badajoz, Madrid, Barcelona, Paris, Florença, Nova Iorque, Tóquio, Xangai, Pequim... Cascais! Até hoje, depois de cada escapadela, acabei sempre por retornar à minha praia de todo o ano, a uma das mais belas linhas de comboio do planeta, à irresistível Marginal de curvas rápidas e sensuais, aos melhores gelados do mundo (velho Santini, que já partiste, obrigado!), e aos inesquecíveis besugos do Cantinho da Belinha. No elBulli, de Adrian Ferrá, poderão fazê-los tão bem, pingando-os com azeite estereficado e decorando cada um destes peixes frescos com batata liofilizada e espuma de boletos, mas nunca melhor do que os pescadores que ainda pescam ao largo da Baía de Cascais e assam pimentos verdes como ninguém. Não será fácil tirarem-me daqui!

A China, porque vim de lá, porque de lá herdei o meu cosmopolitismo indestrutível e porque gosto de lá voltar quando posso; o estuário do Tejo, do labirinto que o Eléctrico 28 percorre, ao Miradouro de Nossa Senhora do Monte, do Cais do Ginjal ao Cabo da Roca; e o Douro a perder de vista que me oferece a Quinta da Vinha Velha, em Cinfães do Douro, fazem parte de um eco-sistema alargado pessoal que amo e me faz amar o resto deste planeta ameaçado.

Voltando à região dos grandes estuários, de onde nasceram as cidades de Lisboa, Santarém, Setúbal, Montijo, Almada e Barreiro, entre muitos outros povoados ribeirinhos, activamente frequentados e trabalhados ao longo dos séculos por Fenícios, Romanos, Mouros, Lusitanos, Galegos, Judeus e Africanos, a questão política da sua escala e organização volta a estar na ordem do dia. Faz sentido, e a União Europeia não quer outra coisa. A malha densa de interdependências várias que de há duas décadas para cá se vem intensificando entre a Lisboa antiga e as cidades e vilas que a rodeiam, desde Sintra, Mafra, Torres Vedras e Santarém, por um lado, a Setúbal, Montijo, Seixal, Barreiro e Almada, por outro, urge que elevemos esta cidade-região e esta grande comunidade humana, ao estatuto de região autónoma, tal como são os Açores e a Madeira, ou a Comunidade de Madrid. Menos do que isto é desconversar sobre os verdadeiros desafios estratégicos que temos pela frente, se quisermos, como deveremos querer, fazer a região dos grandes estuários uma das primeiras e grandes cidades verdes da Europa, e a sua principal e magnífica porta ocidental.

A Lisboa da Baixa Pombalina e do Largo do Município está encalhada, e mesmo em risco de soçobrar perante a mediocridade partidária local e o peso paquidérmico da burocracia municipal. Nem Santana, nem Costa, estão à altura de promover uma visão ampla da cidade metropolitana de Lisboa que todos precisamos. O primeiro é cabotino, e o segundo quer ser Primeiro Ministro, e não o alcaide lúcido e respeitado de que a região precisa para ter finalmente um verdadeiro ordenamento do território, uma lógica de governança democraticamente ancorada e um autoridade política realmente metropolitana. Mas a cidadania não pode parar diante deste escolho. Pelo contrário, deve procurar activamente alternativas e exigir a criação imediata da Região Autónoma de Lisboa. Mobilizemos pois a blogosfera para tal!

Ontem visitei a exposição sobre a obra feita e os projectos de Cascais. Fiquei muito bem impressionado, confirmando o acerto do meu voto autárquico em António Capucho, um político laranja, mas antes de mais, um homem que sempre me pareceu honesto, e sobretudo demonstra saber que a política hoje necessita absolutamente de transparência, qualidade técnica e criatividade. Porque não começar a pensar neste homem para governar toda uma região?

Votar de forma inteligente, não é votar em partidos, mas em pessoas e soluções.

Para os meus exigentes leitores do Norte do país, um conselho que há muito venho dando: o Porto deve ser a cabeça de uma cidade-região metropolitana, que deve ser uma Região Autónoma, mantendo ligações fortes com Lisboa, mas criando e desenvolvendo as suas próprias ligações estratégicas à Europa e ao resto do mundo, ultrapassando para tal e previamente as pequenas divisões provincianas e caciqueiras que os centralistas de São Bento e Belém sistematicamente alimentam.


OAM 604 19-07-2009 13:06

sexta-feira, julho 17, 2009

Por Lisboa 26

Cidade morta e corrupta

Lisboa é magnífica a 500 metros de distância, mas quando chegamos aos 5 metros, é suja, corrompida e frequentada por gente paralisada numa espécie de arrogância iletrada. O mundo, ao contrário de pertencer-lhes, como chegam a acreditar, segue infelizmente noutro lugar. Lisboa afunda-se na ignorância, na corrupção e numa extraordinária falta de sensibilidade cultural. Como me dizia ontem um amigo: Portugal e a sua capital morreram, mas ninguém se deu conta!

O endividamento catastrófico do país, numa Europa que ameaça rasgar em breve o Tratado de Lisboa, ou enfiar o dito numa espécie de caixão de boas intenções, vai levar-nos inevitavelmente à tragédia.

Há 500 anos que não sabemos viver sem uma árvore das patacas à mão. Há séculos que os desgraçados lusitanos e galegos deste país fogem espavoridos da miséria e da subserviência, deixando as terras e as aldeias ao Deus dará, e deixando também entregues ao vício das rendas e do soldo público as eternas manchas gentílicas que formam esta indecorosa sociedade clientelar. Provinciana, arrogante e sempre dependente de uma qualquer brisa de felicidade imerecida, a caricata sociedade portuguesa não tem desta vez a mais pequena ideia de como safar-se. O circo de corrupção e descaramento exibicionista do bloco das rosas e das laranjas, actualmente engalfinhado numa desesperada corrida pelos restos da despensa comunitária, é a mais confrangedora prova do que escrevo. Esta país morreu e ainda ninguém nos telefonou a comunicar o óbito, nem a hora do funeral!

Tudo leva a crer que os próximos resultados eleitorais conduzirão o país a um impasse total, prelúdio de uma crise de regime para a qual não existe ainda nem discurso crítico coerente, nem utopia. Ou muito me engano, pois, ou as bombas-relógio que irão provocar o colapso do regime já estão colocadas nos sítios: Funchal, Lisboa e Porto. Resta-nos ainda alguma saída, ou esperança? Temo bem que não. Pelo menos, sem antes passarmos por uma convulsão constitucional.

Se não formos capazes nos próximos seis meses de meter na prisão uma boa dúzia de notórios ladrões e piratas do regime, este colapsará necessariamente. A dimensão do drama dependerá tão só da forma como a Europa se comportar perante a actual crise mundial — que é de natureza simultaneamente energética, ambiental, económica, financeira, estratégica e institucional. Se vingar a decisão constitucional da Alemanha de não permitir mais endividamento público nos Estados da União, das duas uma, ou a Europa desaparece (e somos invadidos pela Espanha), ou todos ganhamos juízo e pomos na prisão os especuladores e ladrões que capturaram as democracias europeias, dando início a um período de adaptação estrutural aos novos constrangimentos e paradigmas da convivência mundial.

O que eu, nem ninguém de bom senso, deve fazer, é continuar a alimentar os simulacros de democracia representativa actualmente em curso, a pretexto das próximas eleições legislativa e autárquicas. Ou o senhor Cavaco e a gente honesta dos partidos resolvem em uníssono dar um murro na mesa e endireitar a situação, ou nada melhor nos espera em 2010 do que um colapso económico-social seguido de uma mais do que provável implosão da Terceira República.

As desistências de Manuel Alegre, e agora de Helena Roseta, no que toca à gestação de uma alternativa ao degenerado Partido Socialista — de Jorge Coelho, António Vitorino, Paulo Pedroso, Vera Jardim, Vitalino Canas, Edite Estrela ou Fátima Felgueiras —, fazem-me temer o pior. E pelas bandas do partido laranja, a saída de cena de Paulo Rangel deixa Manuela Ferreira Leite entregue à mediocridade e ganância da corja de piratas que capturou e perverteu o partido fundado por Francisco Sá Carneiro.


OAM 603 17-07-2009 23:25

Por Lisboa 25

Costa prepara-se para harakiri político

Lisboa precisa de um autarca visionário, corajoso e independente. Não de um cabotino doidivanas (Santana Lopes), nem de um aparatchic tacticista (António Costa)

Com que então pode-se destruir uma das principais valias da capital — o aeroporto da Portela —, numa época em que se avizinham anos de penúria (1), e em que por isso toda e qualquer pequena vantagem competitiva numa indústria decisiva para o país, como é o turismo, pode ditar a diferença entre o seu colapso e a sua sobrevivência —com o argumento de que uma nova cidade aeroportuária a 48 Km do Campo Pequeno continua a ser uma infraestrutura da capital—, mas já não é tolerável deslocalizar o Instituto Português de Oncologia (IPO) para Oeiras, porque isso equivaleria a desfalcar Lisboa de um importante equipamento hospitalar, propondo-se pois levar o IPO para o descampado de Chelas, onde não existe vivalma, nem existirá em mais de uma década qualquer rede de transportes colectivos decentes e acessíveis. Em que ficamos, António Costa?

Falar de um novo pulmão verde na Portela é pura demagogia! Toda a gente sabe que as novas, projectadas ou em construção, estações do Metro de Lisboa, do Aeroporto e da Alta de Lisboa, foram concebidas para servir o senhor Stanley Ho e a sua Chinatown. Não é pelo facto de o empreendimento imobiliário da Alta de Lisboa e o senhor dos casinos estarem hoje meios falidos, que é menos verdade o que alguns destinaram para a Portela: eliminar o aeroporto e especular/construir um novo aeroporto na Ota. Em boa hora as redes sociais de cidadania fizeram abortar esta verdadeira conspiração de interesses.

Pelos vistos, António Costa não consegue ver as evidências, e deixa-se ir nas pregações interesseiras e obtusas do arquitecto Salgado, sobre as quais aliás, boa parte dos arquitectos da corda cor-de-rosa e alfacinha revela uma expectativa atávica.

A aeroporto da Portela vai continuar onde está até, pelo menos, 2020. Irá certamente passar por mais obras de adaptação, quer nas pistas, quer nas placas de estacionamento, quer nas mangas, estruturas técnicas e zonas de acolhimento. As redes sociais, por sua vez, encarregar-se-ão de contrariar qualquer nova tentativa de entregar aqueles preciosos terrenos à especulação imobiliária, como fonte de receita fundamental para o financiamento do chamado novo aeroporto de Lisboa (NAL). Para já, a TAP, tecnicamente falida, perde passageiros todos os dias e encerra rotas à medida que as Low Cost oferecem rotas irrecusáveis: Porto-Milão, Lisboa-Funchal, Faro-Paris, etc. Dentro em breve a TAP terá que cancelar, ou pelo menos renegociar, algumas encomendas de aeronaves, alguns leasings e mesmo devolver aviões. Dentro de meses, a TAP terá muito provavelmente que arrumar a sucata da PGA no aeromoscas de Beja! Ninguém imagina pois, e muito menos quem defende o turismo deste país, a easyJet, a Ryanair e as restantes companhias Low Cost a trocarem Lisboa por uma cidade aeroportuária em Alcochete no decurso da próxima década.

António Costa fugiu ao tema escaldante da ponte Chelas-Barreiro (Helena Roseta está contra, não está?), e disse disparates sobre o terminal de Alcântara, num lamentável exercício de subserviência ao camarada Jorge Coelho e à Mota-Engil (Helena Roseta está contra, não está?) O ex-número 2 do PS foi vago nos temas do compromisso com Helena Roseta (reabilitação urbana, transportes colectivos e mobilidade, e governança local). Não teve sequer um único rasgo de utopia, nem mesmo de realismo construtivo. Coisas simples, como limpar a cidade, rebocar e pintar os prédios degradados, tirar os carros de cima dos passeios, ou fazer renascer as colectividades de bairro, passaram-lhe completamente ao lado, vítimas de um tacticismo temeroso que irá terminar necessariamente mal para a sua candidatura. Ao contrário do que alguns pensam, uma vitória eventual de Manuela Ferreira Leite não prejudicará em nada Pedro Santana Lopes. Pelo contrário, será o tapete vermelho para o seu regresso à capital.


NOTAS
  1. After the era of excess. By Stephen S. Roach

    26 February 2009 — The world stopped in 2008—and it was a full stop for the era of excess. Belatedly, the authorities have been extraordinarily aggressive in coming to the rescue of a system in crisis. But as in the case of Humpty Dumpty, they will not be able to put all the pieces back together again. The next era will be very different from the one we have just left behind.

    ... Yes, the United States now accounts for only about 20 percent of total Chinese exports. Shipments to Europe and Japan collectively account for another 30 percent, while the bulk of the remainder shows up in the form of sharply growing intraregional Asian trade. But there is a serious problem with the notion that China or any other major economy has successfully weaned itself—or decoupled—from overreliance on US markets. Whether it is Europe, Japan, or developing countries of Asia other than China, all have one critical characteristic in common: insufficient internal private consumption and an overreliance on exports as a major and increasing source of growth. Intraregional trade has expanded sharply in developing Asia, but with internal consumption as a share of GDP continuing to fall, these economies remain hugely dependent on end-market demand in the developed world.

    As a result, there can be no mistaking the bottom line of this global recession. When the world’s dominant consumer—the United States—enjoys an extraordinary boom, so do the world’s major exporters. But when the US boom goes bust, export-led economies around the world are in serious trouble. That’s precisely the nature of the adjustment now bearing down so acutely on Japan; developing Asia; Germany; and America’s NAFTA partners, Canada and Mexico. All of these export-led economies are either decelerating sharply or in outright recession. — in McKinsey's What Matters.


    Mobius Says Derivatives, Stimulus to Spark New Crisis


    July 15 (Bloomberg) -- A new financial crisis will develop from the failure to effectively regulate derivatives and the extra global liquidity from stimulus spending, Templeton Asset Management Ltd.’s Mark Mobius said.

    “Political pressure from investment banks and all the people that make money in derivatives” will prevent adequate regulation, said Mobius, who oversees $25 billion as executive chairman of Templeton in Singapore. “Definitely we’re going to have another crisis coming down,” he said in a phone interview from Istanbul on July 13.

    Derivatives contributed to almost $1.5 trillion in writedowns and losses at the world’s biggest banks, brokers and insurers since the start of 2007, according to data compiled by Bloomberg. Global share markets lost almost half their value last year, shedding $28.7 trillion as investors became risk averse amid a global recession.

    The U.S. Justice Department is investigating the market for credit-default swaps, Markit Group Ltd., the data provider majority-owned by Wall Street’s largest banks, said July 13.

    Mobius didn’t explain what he thought was needed for effective regulation of derivatives, which are contracts used to hedge against changes in stocks, bonds, currencies, commodities, interest rates and weather. The Bank for International Settlements estimates outstanding derivatives total $592 trillion, about 10 times global gross domestic product.

    Looming Crisis

    “Banks make so much money with these things that they don’t want transparency because the spreads are so generous when there’s no transparency,” he said.

    A “very bad” crisis may emerge within five to seven years as stimulus money adds to financial volatility, Mobius said. Governments have pledged about $2 trillion in stimulus spending. — in Bloomberg.


OAM 602 17-07-2009 00:48

terça-feira, julho 14, 2009

Por Lisboa 24

Santana, a um passo da presidência da capital

Helena Roseta é melhor do que Salgado, mas chegará para levar António Costa ao colo até à renovação do mandato?

Salvo nas últimas eleições europeias, e nos anos da Revolução, quando andava entusiasmado a ler o Trotsky, creio que votei sempre no PS. Quando se trata de eleições autárquicas, porém, a coisa muda de figura: votei no Capucho contra o indecoroso Judas em quem um dia acreditei, e vou voltar a votar em António Capucho, do PSD, contra a perigosa Ana Paula Vitorino, do aparelho socratino do PS. E nas Legislativas de Outubro irei votar outra vez no Bloco, não porque acredite no respectivo programa, ou no professor Louçã, mas pela simples razão de que só um voto naquele albergue espanhol poderá fazer duas coisas:

  1. ajudar a enterrar José Sócrates e a tríade de Macau, impedindo ao mesmo tempo que Paulo Pedroso e Vera Jardim mal substituam os neoliberais que desgraçaram o PS, ao mesmo tempo que se ajuda objectivamente algum jovem ambicioso mais fiel ao ideário social-democrata, a relançar o Partido Socialista;
  2. contribuir para o amadurecimento democrático e político do Bloco, que só começará a ser menos oportunista e demagógico quando se aproximar realmente da área da governação.
Chamo a isto "voto inteligente".

No caso da cidade de Lisboa, onde não voto, mas onde poderei candidatar-me para perder e jamais ser eleito, pendo francamente para António Costa e Helena Roseta, apesar de estar cada vez mais convencido de que Pedro Santana Lopes já ganhou!

Uma vitória desta toupeira cor-de-laranja não deixa, para mim, de ser um cenário demasiado insuportável para que possa recomendar um voto no senhor UDP do Bloco. Na realidade, gostava mesmo de influenciar o bestunto do PS que actualmente anseia por uma vitória de António Costa, ajudando-o a construir um programa cor-de-rosa tingido com algumas notas de bom senso. Mas é difícil. Muito difícil! Tal como a crise, os "socialistas" ainda não bateram no fundo. E porventura precisam mesmo de bater no fundo, para acordarem!

O PS desta legislatura que chegou ao fim foi um desastre. E no entanto, continua a fazer-se rodear pela nata narcisista e bem-pensante dos artistas, dos arquitectos, dos designers, dos escritores, e dos homens de ciência. Porque será? O tema é controverso e daria para um pequeno ensaio. Não é este o lugar ideal para semelhante dissertação, mas podemos sugerir um vislumbre: ilusão apaparicada, hipocrisia, cabotinismo, oportunismo dissimulado. Na realidade, a ideia de que há uma esquerda cultural omnisciente tem sido um dos grandes obstáculos ao verdadeiro entendimento do colapso dos paradigmas da modernidade e da própria contemporaneidade. Estamos, de facto, enfiados num vórtice suicida, que continuamos a ignorar olimpicamente. É este o grande problema da Esquerda. O dado adquirido da nossa suposta superioridade intelectual é uma maldição que nos persegue e que nos arrumará de vez se não formos rapidamente capazes de parar para pensar. Claro que, no pior dos casos, a coisa é mesmo rasteira, resumindo-se às pequenas estratégias e acolitagem destinadas a garantir a proximidade do poder, as encomendas e o emprego!

Mas voltemos à previsível superioridade política de Santana Lopes nas eleições autárquicas que se avizinham.

Escutei-o na primeira entrevista que deu a Judite de Sousa, na RTP1, sobre o combate autárquico. Retemperado do passado, bem preparado, solto, olhos nos olhos, quase paternalista no modo como escalpelizou António Costa e traduziu a repescagem do Zé Ninguém e de Helena Roseta para uma espécie de coligação acagaçada, à moda do Costa! Foi demolidor. Sobretudo quando defendeu a capital e a cidade contra o governo e o centralismo. Ou quando defendeu o aeroporto da Portela... e a nova pista do Montijo, para as Low Cost. Como vai António Costa descalçar esta bota? Que pensa contestar-lhe quando Santana Lopes exibir a tentativa socratina de assassinar o rio Tejo com a putativa Terceira Travessia no corredor Chelas-Barreiro?

Aquilo que eu, o Rui Rodrigues, o Frederico Brotas, o Mendo Henriques, o Professor Jubilado do IST e militante do PS, António Brotas, mais uma data de gente minuciosa, atenta e preocupada, andam a dizer e a escrever desde 2006 (pelo menos), vai fazer toda a diferença nas próximas eleições, como já fez nas eleições europeias. O interesse público está acima das conveniências partidárias e da corrupção endémica em que o regime se deixou cair. Quem não perceber isto numa altura em que o país colapsa nas suas próprias dívidas e ilusões, ficará irremediavelmente para trás.

Não só por falta de dinheiro, mas sobretudo por clamorosos erros de visão e gula partidária, alimentados por uma burguesia burocrática cada vez menos competitiva e cada vez mais desesperadamente clientelar, o PS definiu uma estratégia de obras públicas completamente suicida. No caso de Lisboa, só a renúncia explícita às loucuras de Mário Lino, Jorge Coelho e Cª, poderia impedir a derrota de António Costa. Meter timidamente os grandes projectos de obras públicas na gaveta, sem renunciar de vez à sua execução, dará toda a margem de manobra e gozo ao gato Santana no jogo que inevitavelmente proporá ao rato governamental.

A prometida ponte Chelas-Barreiro é um crime contra o estuário do Tejo mil vezes mais monstruoso do que a barragem que o PSD num dia aziago quis construir em Foz Côa. Fechar o aeroporto da Portela é uma idiotice chapada, sobretudo quando se pode complementar, no prazo de um ano, esta infraestrutura estratégica de primeira água, com um aeroporto de apoio no Montijo, dedicado às companhias de Low Cost — principais responsáveis pelo mais recente crescimento do turismo em Portugal: Algarve, Lisboa, Porto e arquipélago da Madeira. O comboio de Alta Velocidade entre Madrid e Lisboa, que tem que chegar até ao Pinhal Novo, e não ao Poceirão (como quer o Coelho da Mota-Engil), colocará a Comunidade Autónoma de Madrid, i.e. 5 milhões de almas sedentas, a um passo de Lisboa... e do Algarve. Do "Allgarve", sim senhor! Haverá fonte de receitas mais limpa e mais rápida no ciclo depressivo em que estamos?

Lisboa precisa de um Livro Verde e precisa de uma Carta Constitucional que dê o Grito do Ipiranga pela sua autonomia enquanto cidade-região, que já existe, mas que falta consagrar. Precisa, por outro lado, dum Programa Social de Emergência, lúcido, estudado e sobretudo não demagógico. Ora para tanto, o próximo alcaide da capital tem que ter uma enorme ambição, tenacidade, sensibilidade e pragmatismo. Precisa, por outro lado, de ser verdadeiramente independente e estar rodeado de gente desinteressada e lúcida. Estará António Costa à altura do desafio? Poderá competir com Santana Lopes? Para já, na entrevista dada a Judite de Sousa esta noite, Santana Lopes saiu claramente por cima. Faites vous jeux!


OAM 601 15-07-2009 00:30