quarta-feira, setembro 16, 2009

Portugal 124

El AVE e a questão espanhola

Isabel de Portugal
Isabel de Portugal, imperatriz da Alemanha, esposa de Carlos V.

Madrid fortalece presença no mercado de logística português


A Plataforma Logística de Madrid (MPL) reuniu-se recentemente em Lisboa com representantes da tutela, do porto de Lisboa e, ao nível de empresas, com a Mota-Engil para apresentar o plano de desenvolvimento da infraestrutura e analisar as possibilidades de colaboração. As sinergias entre as infraestruturas do Plano de Logística da Comunidade de Madrid - com um investimento estimado em nove mil milhões de euros - e as infraestruturas da Rede de Plataformas Logísticas de Portugal foi um dos temas da reunião.

O plano de colaboração entre as entidades dos dois países passa por fomentar o desenvolvimento do transporte ferroviário na ligação entre Lisboa e Madrid, criando-se um eixo intermodal de competitividade ibérica para melhorar a eficiência do transporte e distribuição de mercadorias. De concreto, foi acordada a criação de um grupo de trabalho conjunto com a Comunidade de Madrid e do Ministério dos Transportes em Portugal, a que se seguirá a criação de um grupo de interesse (público e privado), envolvendo diferentes instituições e empresas portuguesas, representando os seus interesses nas plataformas listadas no plano. — in Cargo News 605 (2009-9-16).

Parece que o fogo aqui ateado (Prisa, Rua!) a propósito dos recentes jogos de estratégia entre Madrid e Lisboa (1) fez o seu caminho. Denunciada a simbiose oportunista entre a actual cúpula socialista portuguesa e os interesses seculares dos centralistas de Madrid, desta vez, em volta de um pássaro de ferro chamado AVE (Alta Velocidad Española), e exposto o ataque espanhol, sem precedentes, contra uma empresa de comunicação, a TVI, e a liberdade de imprensa em Portugal, como exemplo de um intolerável frete eleitoralista a José Sócrates, que por sua vez garantiu nos corredores diplomáticos a prioridade da ligação ferroviária de Alta Velocidade entre Madrid e Lisboa, fez estalar uma vez mais o fino verniz das relações sempre cordiais, mas susceptíveis e instáveis, entre Castelhanos e Portugueses.

Ambos podem objectivamente aspirar a governar a península onde há muitos séculos convivem com outros povos e nações. A Ibéria dos gregos, a que os romanos chamavam Espanha, e os Árabes, Al-Andalus, tem sido ao longo dos tempos, mais do que sonho, um pesadelo intermitente. A História tem contrariado o ideal de uma unidade política estável nesta peculiar cabeça europeia. As tentativas castelhano-aragonesas e posteriores nunca perduraram pacificamente por muito tempo, e a única tentativa galaico-lusitana de fazer um gambito a Castela acabou numa tragédia que portugueses e galegos não esquecem (2). O apaziguamento desta tensão indelével parece ocorrer apenas quando a visão estratégica da Política visa horizontes mais amplos: descer a costa africana em busca do Preste João, do ouro e das especiarias asiáticas; atravessar o Atlântico; ou entregar um bela princesa ibérica a um alemão culto e apaixonado. Guardando as devidas distâncias, diria até que a reeleição de Durão Barroso faz melhor ao ego ibérico do que a retórica comprometida de São Bento e de La Moncloa em volta da Alta Velocidade.

Ninguém contesta a importância da renovação da rede ferroviária ibérica, seja pela adopção generalizada de uma bitola europeia (ao invés da medida ibérica, criada em nome dos pânicos bonapartistas que ainda ecoavam na península ao tempo do aparecimento da ferrovia), seja pela implementação de um rede de Alta Velocidade/Velocidade Elevada ligando as principais cidades ibéricas entre si, e estas ao resto da Europa.

Até aqui, sempre defendi "o TGV". E até defendi e defendo que a primeira ligação deva estabelecer-se entre Madrid e Lisboa, pelo seu significado simbólico (ligação de duas capitais de Estado), por conectar duas cidades-região da maior importância para a estabilidade ibérica, por ser a mais fácil e menos cara das quatro obras previstas (eixos Lisboa-Madrid, Porto-Vigo, Aveiro-Salamanca e Faro-Sevilha) e por ser rentável, desde que considerada na sua dupla vertente de transporte de pessoas e transporte de mercadorias, e se limite, para já, à construção de uma linha entre Madrid e o Pinhal Novo — ou seja, adiando a terceira travessia do Tejo e usando com vantagens óbvias a actual Ponte 25 de Abril (3).

Mas o que também repito há vários anos é que portugueses e espanhóis estão endividados até ao tutano, impondo-se por isso que revejam os prazos de execução dos ambiciosos planos de obras públicas que têm entre mãos — sob pena de, se o não fizerem, perderem o controlo sobre o emprego, a inflação financeira e o peso dos impostos.

Deve ser garantida, por outro lado, uma mais equilibrada ponderação dos interesses e prioridades de cada um dos países à medida que forem introduzidas as inevitáveis correcções de espaço e tempo nos respectivos programas de obras públicas. Assim, por exemplo, a prioridade do corredor Aveiro-Salamanca-Valladolid-Irún, a par da ligação Porto-Corunha, precisam certamente de um
update cronológico, por forma a garantir que o prémio a pagar pelo protagonismo dado à ligação Madrid-Lisboa não será nem comprometido, nem o seu pagamento, atrasado para lá do razoável.

Por outro lado, devemos fazer sentir aos cortesãos do Prado
que a visão de Zapatero sobre o poder de coesão territorial do AVE é politicamente incorrecta e levanta naturais suspeitas quanto à boa fé negocial de la Moncloa. Madrid quer chegar mais depressa ao mar, quer controlar as principais plataformas logísticas da península e os próprios portos atlânticos, tal como quer exportar ainda mais para os mercados portugueses, e através destes chegar ao Brasil e às antigas colónias portuguesas em África. Muito bem! E que mercados serão, em contrapartida, abertos às empresas portuguesas no hinterland de sua majestade, e na Iberoamerica que tão ciosamente continuam a controlar? Para quando o fim do nacionalismo económico promovido sistematicamente por uma Espanha que ainda se vê a si mesma como arremedo de projecto imperial? É disto, creio, que tratam os avisos bem avisados de Manuela Ferreira Leite. A prová-lo estão as reacções crescentes das novas sumidades do espanholismo pós-franquista: José Luiz Rodríguez Zapatero e Mariano Rajoy — curiosamente, os principais antagonistas da nomenclatura político-partidária do país vizinho. O senhor do El País, neste jogo, fez apenas o papel de mensageiro interessado — claro está.

A Espanha que vai de Badajoz à Catalunha, e da Andaluzia à Galiza, Astúrias, Navarra e País Basco, viveu na última década e meia uma economia largamente especulativa, assente em doses descomunais de investimento externo. O crescimento foi extraordinário, mas assentou por vezes em bases frágeis que destruíram ou ameaçam destruir alguns dos seus recursos vitais: terra arável, água, bacias hidrográficas e ouro, para mencionar apenas os mais evidentes. A euforia chegou agora ao fim, e a factura poderá revelar-se demasiado pesada para a sempre difícil estabilidade territorial (4) de um país com uma denominação oficial incorrecta e sempre um passo à frente da sua própria possibilidade. Com o
rating do reino em queda livre, e a expectativa negra de uma massa de desempregados ultrapassando os 20%, já em 2010, nada melhor —pelo lado português— do que elevar os níveis de prudência e segurança em todo o tipo de transacções e acordos. Não está em causa a amizade entre os povos da península, e menos ainda o muito afecto que tenho por dezenas de amigos castelhanos, estremenhos, galegos, canarinos, catalães, andaluzes ou asturianos, mas tão só a confiança que devemos depositar na verborreia dos políticos de ambos os lados da fronteira. Sim, continuam a existir fronteiras por essa Europa fora, e na Ibéria também. Vencê-las é uma tarefa sobretudo cultural e um exercício permanente de sabedoria.


NOTAS
  1. Quer dizer, entre os estrategas de La Moncloa e a ignara tríade de Macau —que tomou de assalto o PS depois de lá colocar provisoriamente o ingénuo Guterres, e se faz representar há quatro anos e meio pelo engenheiro de aviário e papagaio beirão, José Sócrates.

  2. Estavas, linda Inês, posta em sossego,
    De teus anos colhendo doce fruito,
    Naquele engano da alma, ledo e cego,
    Que a fortuna não deixa durar muito,
    Nos saudosos campos do Mondego,
    De teus fermosos olhos nunca enxuito,
    Aos montes insinando e às ervinhas
    O nome que no peito escrito tinhas.

    (Luís de Camões, Os Lusíadas, Canto 120)

  3. Nesta hipótese, o buraco da Feira Popular deveria ser usado para construir a Grande Estação Central de Lisboa, que assim ficaria bem situada no ponto nodal chamado Entre-Campos, bem no centro geográfico da capital, escoando e recebendo sem artifícios tráfego ferroviário de e para Sul, Norte, Leste e Oeste. Com o Aeroporto da Portela a duas ou três estações de Metro de distância, que solução mais conveniente e expedita poderíamos encontrar nos tempos de crise que começaram e tardarão a passar?

  4. Portugal é e deve manter-se rigorosamente neutral relativamente ao problema cada vez mais sério das autonomias tendencialmente independentistas que afligem de forma crescente o Reino de España. Mas daqui não decorre nenhum tabu para a discussão pública em Portugal sobre o tema. Ou pelo menos não deveria decorrer.

    A união ibérica nunca foi nem será possível se não por períodos curtos e instáveis. Ou seja, o sonho dos Reis Católicos, que apenas durou enquanto durou a expansão ultramarina e o colonialismo que uniram a Castela, Aragão e Andaluzia, o País Basco, a Catalunha, a Galiza e o resto das regiões livremente aderentes ou submetidas ao poder do eixo Sevilha-Toledo, tem vindo a desmoronar-se sem remédio desde a Guerra Hispano-Americana. Uma confederação, ou uma federação de esforços e de diplomacias aliadas, como sucede ente os estados alemães, entre os estados escandinavos, ou mesmo entre as nações helvétivas, é possível e desejável. Mas para aí chegarmos teremos que abandonar as visões iberistas convencionais, e sobretudo o olhar imperial caduco de Madrid. Por isso sou pessoalmente defensor das independências políticas das velhas e históricas nações ibéricas, entretanto submetidas a Madrid. Refiro-me, claro está, e sobretudo, à Catalunha, ao País Basco, à Galiza e mesmo à Andaluzia. A Espanha de que os romanos falavam, a Ibéria descrita pelos gregos, só tem a ganhar com a livre aliança de vontades entre os seus distintos povos, culturas e sensibilidades. Ao contrário do que pensa e teme Madrid, a coesão estratégica da Península seria muito mais sólida do que actualmente é.

    Ler ainda sobre a actualidade da questão nacional em Espanha esta notícia do El País: "Arenys vota masivamente a favor de la independencia de Cataluña" (El País.com).

REFERÊNCIAS
  1. "A vingança de Manuela Ferreira Leite" (in Público).
  2. "A política da especulação — uma introdução aos investimentos britânicos e franceses nos caminhos-de-ferro portugueses", por António Lopes Vieira.
    "Parece então que Portugal constituía um exemplo inequívoco dos investimentos especulativos ingleses nos caminhos-de-ferro. O País não valia o esforço de investimentos directos e o campo estava preparado para empreendimentos puramente especulativos e fraudulentos. Tal como já se disse, as companhias de caminhos-de-ferro inglesas pediam quer uma taxa de juro garantida sobre o capital, quer um subsídio por quilómetro. De qualquer forma, mal a garantia era paga pelo Governo Português, ou o subsídio concedido excedia o capital investido, apareciam os problemas e, inevitavelmente, ou o Governo era obrigado a comprar a linha, ou a companhia falia e o seu património era posto à venda. Ao fazerem isso, os especuladores ingleses matavam dois coelhos com uma cajadada — eram amortizados do capital inicial (mais juros) e reinvestiam-no comprando obrigações do Estado que, entretanto, haviam sido emitidas para angariar o dinheiro necessário para recuperar as linhas e acabar as obras. Se tivermos em consideração o estado crítico das finanças portuguesas nessa época, os empréstimos negociados no estrangeiro eram normalmente concedidos com um elevado desconto sobre o valor nominal e os investidores, subsequentemente, gozavam de taxas de juro muito altas sobre o capital: os dividendos dos papéis de crédito do Estado Português andavam pelos 7,2% e foram superiores a 14,5% no período de 1870-80, comparados com os 6,1% para todos os investimentos ingleses no estrangeiro66. Perante um país atrasado, com perspectivas de desenvolvimento incertas, onde havia uma ignorância completa acerca da construção de caminhos-de-ferro e do seu financiamento, administrado por um Governo fraco e por uma Administração Pública corrupta, o especulador estrangeiro, e o inglês em particular, não hesitava em alargar o controlo comercial através do domínio financeiro." (ler PDF completo).

OAM 621 18-09-2009 02:05 (última actualização: 11:43)

segunda-feira, setembro 07, 2009

Portugal 123

Voto inteligente

O "voto de protesto" é uma invenção jornalística imbecil do Pacheco Pereira e quejandos.
O voto útil, nas próximas eleições, é um voto no Bloco, no PP, ou no... PSD!
Votar no Pinóquio das Beiras é um acto irreflectido e completamente inútil.


Quem viu e ouviu o debate entre Manuela Ferreira Leite e Francisco Louçã, não pode deixar de concordar com o facto de a futura primeira ministra portuguesa ter vencido aquele diálogo histórico por um claro 4-1.

A Doutora Manuela foi melhor do que o Professor Louçã(1) na abordagem dos temas da saúde, das nacionalizações, da criação de emprego e (pasme-se!) da vida privada. Louçã só marcou pontos ao mostrar a vertente lamentável do PSD sempre que se corrompe no atoleiro do Bloco Central.

Fiquei verdadeiramente surpreendido com a sobriedade, acutilância e subtileza argumentativa da ex-ministra das Finanças do governo Durão Barroso. Ao contrário do que poderíamos esperar, Manuela Ferreira Leite não tratou Francisco Louçã com um improvável radical saído das catacumbas do Maio de 68. Não, tratou-o como possível futuro governante de Portugal. E foi esta subtileza e presciência política que deixou Francisco Louçã completamente desarmado e balbuciante. A tal ponto ficou sem fala, que se viu obrigado a fazer um comício à saída do debate. Não precisava. A dama do PSD, com extrema elegância, conferiu-lhe o status de potencial sucessor de Sócrates! Que mais quer para começar a pensar com pragmatismo, sem por isso perder nenhuma das essências socialistas que valem a pena?

Ou muito me engano, ou o que já escrevi antes e sobre as eleições europeias, vai confirmar-se: uma pesadíssima derrota do PS (que poderá vir a ter a mesma sorte do PSI de Bettino Craxi), a vitória do PSD de Manuela Ferreira Leite (que tratará rapidamente de pôr na ordem a actual manta de retalho que é o PSD) e a ciclónica transformação do Bloco de Esquerda no sucessor do esfrangalhado PS, ou seja, um partido que em breve será chamado a governar.

A crise está nas nossas mãos, i.e. na nossa vontade de eleitores. Votar contra José Sócrates é o único voto útil possível e com sentido para salvar o país da ruína, da propaganda indecorosa, da corrupção contínua, da censura pós-moderna e da vergonha cultural.

Quanto às palavras sibilinas do senhor Jaime Gama, o seguinte:

O PS não é nem dos seus barões, nem dos seus "baronetes", nem das suas cortesãs, nem sobretudo da máfia que o tomou de assalto. É de quem nele vota, muito antes e muito depois de quem nele vegeta ou dele se aproveita.

Para corrigir a entorse fatal do Partido Socialista, não são precisos cálculos de aparelho. Basta, desta vez, votar no Bloco de Esquerda, ou no PSD...

NOTAS
  1. Manuela Ferreira Leite e Francisco Louçã são mesmo economistas (a primeira, licenciada, investigadora e professora assistente, e o segundo, emérito professor universitário), ao contrário, e nunca é demais sublinhá-lo, do engenhocas de aviário que em má hora deixámos subir até São Bento.


OAM 620 07-09-2009 17:29

sábado, setembro 05, 2009

Portugal 122

Prisa? Rua!

O PS de Sócrates é contra a liberdade

Público, 04.09.2009 - 15h15 Eduardo Cintra Torres

A decisão de censurar o Jornal Nacional de 6ª (JN6ª) foi tudo menos estúpida. O núcleo político do PS-governo mediu friamente as vantagens e os custos de tomar esta medida protofascista. E terá concluído que era pior para o PS-governo a manutenção do JN6ª do que o ónus de o ter mandado censurar. Trata-se de mais um gravíssimo atentado do PS de Sócrates contra a liberdade de informar e opinar. Talvez o mais grave. O PS já ultrapassou de longe a acção de Santana Lopes, Luís Delgado e Gomes da Silva quando afastaram a direcção do DN e Marcelo da TVI.

... Intervindo na TVI, o PS-Governo atingiu objectivos fundamentais. Como disse Mário Crespo (SICN, 03.09), o essencial resume-se a isto: J.E. Moniz e M. Moura Guedes foram eliminados —e com eles as direcções de Informação e Redacção e um comentador independente como V. Pulido Valente.

O senhor Sócrates tinha um grande dilema: deixar a Manuela Moura Guedes apresentar novos dados sobre o seu envolvimento e o envolvimento da sua família no affair Freeport, voltando ainda à carga com outros temas reveladores da instrumentalização da actual maioria "socialista" por interesses económicos inconfessáveis (como seria, por exemplo, o caso do aeromoscas de Beja, pronto a inaugurar, mas sem clientes à vista, apesar de ter custado 33 milhões de euros ao bolso dos contribuintes); ou então impedi-la de o fazer, pedindo com urgência a Juan Luis Cebrián, o Maquiavel madrileno do falido Grupo Prisa, que mandasse calar Manuela Moura Guedes, encerrando o programa informativo com maior audiência em todo o panorama audiovisual português, apesar das previsíveis consequências nos resultados do PS nas eleições das próximas semanas.

O que aconteceu é público, e muito provavelmente custará ao PS um pesado e porventura longo isolamento político. Porque motivo decidiu então a tríade de piratas que manobra José Sócrates assassinar o PS? Certamente para evitar um mal maior. Resta perguntar: que mal maior é esse, e mal maior para quem?

Jose Luis Zapatero quer penetrar profundamente no território português através de uma espécie de garra de caminhos de ferro chamada TGV, Alta Velocidade, ou AVE (como preferirem). Segundo as suas próprias palavras (1), esta é a melhor forma de unificar a Espanha!

O PS da tríade de Macau é o instrumento imbecil e oportunista desta manobra. Não porque devamos rejeitar liminarmente a ligação da nossa rede ferroviária a Espanha e ao resto da Europa, mas porque devemos discutir de igual para igual os termos e o desenho dessa ligação, rejeitando desde logo a visão unilateral, centrífuga e ridiculamente imperial de Madrid sobre a configuração da nova rede ibérica de bitola europeia. Madrid quer que tudo passe por Madrid, antes de chegar a qualquer outro lugar, e quer, por outro lado, construir a nova rede ferroviária como uma teia de aranha cujo centro é a capital de um ex-império cheio de prosápia, pouca eficiência, maus modos e muita corrupção. Ora Manuela Ferreira Leite e Aníbal Cavaco Silva perceberam o alcance estratégico negativo da manobra de envolvimento lançada a partir dos palácios de La Moncloa e del Oriente, e têm vindo a dar insistentes sinais de que a mesma não passará tão cedo do papel ao teatro de operações.

Ora isto é muito preocupante para Madrid, sobretudo no enquadramento cada vez mais explosivo das reivindicações nacionalistas do País Basco e da Catalunha (2).

Chegar a Lisboa e ao Atlântico tornou-se uma obsessão espanhola desde a célebre Cimeira das Lajes, acolhida pelo actual presidente da Comissão Europeia, Durão Barroso, que então o príncipe da Prisa, e administrador do El País, Juan Luis Cebrián, mandou apagar da fotografia. O passado Franquista deste senhor e do seu querido progenitor (3) poderão explicar a pulsão autoritária que agora desagua em Lisboa da pior maneira.

O Grupo Prisa está à beira do colapso financeiro (4). A decisão de vender o Grupo Media Capital foi um recurso para salvar a jóia da manipulação jornalística espanhola. José Sócrates viu nesta ocasião, como anteriormente vira nas dificuldades do BCP, uma boa oportunidade para incluir no portefólio da máfia que tomou conta do Partido Socialista, mais um importante instrumento de controlo do poder. Meteu a Portugal Telecom ao barulho, mas Cavaco e Manuela Ferreira Leite travaram o assalto (de novo eles...) Ainda assim Cebrián está agradecido a José Sócrates. Quer dizer, disposto a ajudá-lo quando for preciso. E foi preciso! Resta apurar porquê...

Ao contrário do que a contra-informação governamental quis fazer crer, Cebrián não está em rota de colisão com a Zapatero (5), mas antes exigindo que este despeça o seu ministro da indústria, por prejudicar os negócios da Prisa. Ou seja, está a negociar! Daí que, à sua vontade de colocar a TVI ao colo da tríade de Macau, em troca, claro está, dumas preciosas centenas de milhões de euros (de preferência públicos), Zapatero acuda com mais Améns, em nome, desta vez, da sua manobra de penetração ferroviária, portuária e aeroportuária em território galaico-lusitano. Cebrián precisa de despachar a TVI, e Zapatero precisa de fazer chegar o AVE a Lisboa quanto antes. Para isso têm que impedir a vitória de Manuela Ferreira Leite e a subida do Bloco de Esquerda nos próximos actos eleitorais — nem que para tal seja preciso montar uma monumental provocação, digna das idas décadas de 1920-1930!

É por estas e por outras que é urgente impedir a continuação do senhor Sócrates e da tríade de Macau aos comandos deste país. Nem que para isso seja necessário votar em Manuela Ferreira Leite, em Paulo Portas ou em Francisco Louçã. A vitória previsível do PSD, porém, não chega. É fundamental enterrar as bases infecciosas do Bloco Central, para que o mesmo não possa ressuscitar nas próximas décadas. Mas para isso precisamos de ajudar os pequenos partidos (CDS e Bloco de Esquerda) a duplicarem (PP), ou mesmo triplicarem (BE) a sua força eleitoral já nas próximas eleições.

A Assembleia da República que resultar da eleição do próximo dia 27 de Setembro poderá e deverá legislar um conjunto de restrições à presença do capital estrangeiro nalguns sectores estratégicos da nossa economia e da nossa matriz cultural. O incidente com Cebrián serve de lição. Comunicação social; estradas, portos e aeroportos; defesa e segurança; mar; água; energia; telecomunicações e redes informáticas nacionais, por exemplo, devem passar a ser consideradas áreas de investimento protegido, onde nenhuma empresa estrangeira poderá, sob nenhum pretexto, deter maiorias de capital, nem poderes maioritários de administração.

Não sou, nem iberista, nem anti-iberista. Defendo, isso sim, uma Plataforma Ibérica de Cidadania, ou seja, uma rede ideológica alargada que, não se confundindo com o Iberismo, é porém capaz de promover a coesão estratégica, económica, social e cultural da Península Ibérica, no respeito absoluto das nações, territórios e independências políticas que a constituem, e ainda no quadro de uma União Europeia menos burocrática e mais solidária. Já é tempo de explicar aos nacionalistas madrilenos, franquistas e pós-franquistas, que o mundo mudou.


POST SCRIPTUM

Email enviado à redacção do El País, em resposta ao seu inqualificável artigo sobre a censura da Prisa ao Jornal Nacional de Manuela Moura Guedes.

Bom dia,

O vosso artigo sobre as eleições em Portugal é um exemplo triste de manipulação jornalística, bem ao estilo paternalista e arrogante que o Grupo Prisa habituou os portugueses sempre que aborda questões importantes dizendo respeito aos dois países — como foi o caso da inqualificável censura cometida pelo El País durante a Cimeira das Lajes que deu origem ao início da Guerra contra o Iraque (omitindo então, sistematicamente, em palavras e em imagens, a presença de Durão Barroso), e agora é o caso, de contar com o governo português de José Sócrates para salvar a falida Prisa, ou ainda negociar com o desprestigiado primeiro ministro português uma ajudar trapalhona ao governo espanholista de Zapatero na concretização do desenho tentacular da rede de Alta Velocidade ibérica, a qual, segundo o próprio Zapatero, é uma boa estratégia para garantir a unidade de Espanha!

Já vimos que não é, nem está a ser!!

A Prisa cometeu um acto de inqualificável censura no nosso país. Por esse acto deve ser penalizada sem hesitação. Espero bem que o novo governo de Portugal passe a tratar a Moncloa com mais firmeza, e crie legislação nacional que impeça a tentativa de assalto em curso, por parte dos estrategas madrilenos, aos sectores estratégicos do meu país. Desde logo, Portugal não é uma República das Bananas!

Aproveito ainda para recomendar ao El País a leitura do que esta madrugada escrevi no António Maria sobre o intolerável episódio de intromissão de uma empresa estratégica do socialismo espanholista nos assuntos internos de Portugal.

Atentamente,

António Cerveira Pinto

Anexo

V/ referência:

La campaña de Portugal arranca con un aluvión de debates

En esta "batalla preelectoral", una decisión empresarial se ha convertido en el tema que acapara la atención de políticos y los medios. La noticia se produjo cuando la cadena de televisión TVI, cuyo accionista mayoritario es el grupo PRISA -editor de EL PAÍS-, comunicó el cambio de formato del telediario de los viernes para homogeneizarlo con los informativos del resto de la semana. La decisión implicaba la salida de Manuela Moura Guedes como directora del Jornal Nacional de Sexta (telediario del viernes). Varios directivos del área de informativos de TVI dimitieron en solidaridad con la periodista. Se da la circunstancia de que el Jornal de Sexta se ha caracterizado por su crítica feroz al Gobierno socialista y, especialmente, a la figura del primer ministro, que llegó a calificar dicho telediario de periodismo travestido. Las reacciones de políticos, candidatos y comentaristas se produjeron en cadena y, en cuestión de horas, no sólo TVI y PRISA, sino "España" y "los españoles" se convirtieron en protagonistas involuntarios de la campaña electoral y del fuego cruzado entre los candidatos.

La utilización electoralista de un tema tan recurrente como la relación con España ha desplazado a los grandes temas de fondo de la campaña, que giran en torno a la crisis económica y a las iniciativas para salir de ella. Los programas de todos los partidos ponen el énfasis en la lucha contra el paro que, según las últimas cifras, llega al 9,3% (medio millón de portugueses). -- in El País.


ÚLTIMA HORA!

A empresa liderada pelo censor e ex-franquista Juan Luis Cebrián, PRISA, publica os manuais escolares portugueses para o ano lectivo 2009/2010, 1º ciclo, 1º ano, através da sua editora escolar Santillana!

NOTAS
  1. Zapatero dice que los AVE refuerzan la cohesión territorial al inaugurar la línea Córdoba-Antequera (Ler esta pérola do El País)

  2. El alcalde de Arenys de Munt defiende la consulta independentista y la mantiene
    Barcelona. (Agencias).-El alcalde de Arenys de Munt (Barcelona), Carles Móra explicó que la consulta, propuesta por el Moviment Arenyenc per l'Autodeterminació y aprobada en un pleno municipal con los votos favorables de AM2000, CiU, ERC y CUP y la oposición de PSC, se mantiene pese a la presentación del recurso por parte de los abogados del Estado para impedir su celebración. "Estamos dentro del marco legal. Es imposible contemplar la posibilidad de que el referéndum sea ilegal, y lo digo con todas las garantías", afirmó. "Los abogados se lo han mirado bien" y es "imposible" que no consideren válido el referéndum", agregó Móra. — La Vanguardia (03/09/2009).

  3. Su padre Vicente Cebrián fue un alto cargo de la prensa del régimen franquista y director del diario Arriba, órgano de comunicación de la Falange Española.
    (...) Con 19 años (...) entró a trabajar como redactor jefe en Pueblo, el diario vespertino del Movimiento (...)
    En 1974 fue nombrado jefe de los servicios informativos de RTVE por el último Gobierno de la dictadura, siendo Arias Navarro el jefe del gobierno, quien dio su aprobación. — in Wikipedia.

  4. Dívidas da Prisa poderão exigir venda de activos
    O grupo espanhol Prisa necessita de uma injecção de capital de pelo menos 300 milhões de euros até Outubro, para responder à pressão financeira dos bancos que concederam à empresa um adiamento nos empréstimos actuais, segundo a imprensa espanhola. Em causa poderá estar a venda de parte das empresas Digital Plus, Santillana e Media Capital (esta última, em Portugal). -- SIC.

  5. Cebrián ataca al Gobierno por la aprobación de la TDT de pago
    El consejero delegado del Grupo Prisa, Juan Luis Cebrián, ha calificado el comportamiento del Gobierno, con la reciente aprobación del decreto-ley de la TDT de Pago, de propio de una "república bananera", informa Efe. — Terra.

OAM 619 05-09-2009 02:38 (última actualização: 07-09-2009 16:45)

terça-feira, setembro 01, 2009

Rare Earth Elements


Bayan Obo, Mongolia, China — exploração de REE.
Google: 41°46'22"N , 109°57'13"E


Metais dispersos: a próxima guerra tecnológica

World faces hi-tech crunch as China eyes ban on rare metal exports
. By Ambrose Evans-Pritchard

Each Toyota Prius uses 25 pounds of rare earth elements.

Beijing is drawing up plans to prohibit or restrict exports of rare earth metals that are produced only in China and play a vital role in cutting edge technology, from hybrid cars and catalytic converters, to superconductors, and precision-guided weapons.

A draft report by China’s Ministry of Industry and Information Technology has called for a total ban on foreign shipments of terbium, dysprosium, yttrium, thulium, and lutetium. Other metals such as neodymium, europium, cerium, and lanthanum will be restricted to a combined export quota of 35,000 tonnes a year, far below global needs. — in Telegraph (24 Aug 2009).

As ligações carvão-gás-vapor, carvão-gás-electricidade e petróleo-gás-electricidade-química, caracterizam num plano decisivo e por vezes invisível ao comum dos mortais as três grandes revoluções que fizeram saltar a humanidade, ou pelo menos uma parte dela, das sociedades agrícolas e comerciais para a modernidade urbano-industrial, e desta para a pós-modernidade electrónico-consumista.

Estes paradigmas estão, porém, ameaçados pela devastação que causaram.

Por um lado, induziram uma expansão demográfica da espécie humana que compromete perigosamente os equilíbrios ecológicos e simbióticos da vida à face do planeta Terra. Por outro, estão a envelhecer de forma caricata e suicida as sociedades paradoxalmente mais ricas, tecnicamente mais evoluídas e melhor organizadas. Por fim, o prazo de validade destes paradigmas praticamente terminou, indexado que está ao esgotamento económico e físico dos principais recursos naturais que alimentaram as sociedades "modernas" e "contemporâneas" ao longo dos últimos 200 anos.

A actual crise económica e financeira global deverá prolongar-se ao longo de toda uma década, ou mais, com altos e baixos, num doloroso declinar do paradigma energético e produtivo dominante, apesar da busca frenética de saídas tecnológicas, e sobretudo especulativas. Uma das opções, insistentemente proposta, nomeadamente em Portugal, é a do chamado "choque tecnológico". Ou seja, para os optimistas da modernidade, tudo se vai resolver em breve com mais tecnologia, isto é: mais electrónica, mais "energias renováveis" (que reforçarão as anunciadas novas gerações de energia carbónica e nuclear), mais e melhor robótica, mais e mais sofisticadas e intensivas nano e bio tecnologias.

Sucede, no entanto, que este optimismo tem três inconvenientes fatais:
  1. insiste num paradigma de desenvolvimento que depende intrinsecamente da exaustão rápida do sistema de vida integrado do planeta —crescimento contínuo da produção, do consumo e do desperdício, versus destruição sistemática do trabalho, i.e. do capital humano e das relações sociais em geral, num processo de autofagia civilizacional, conduzido pela lógica suicida do Capitalismo tardio;
  2. desconhece aparentemente que a genética própria da tecnologia é a sua rápida obsolescência conduzida pelo factor de entropia chamado "informação" —quanto mais depender da novidade, mais curtos serão os ciclos de obsolescência dos produtos, das relações sociais e das formas culturais —e portanto, mais efémeros e menos intensos os esperados efeitos reprodutivos dos "choques tecnológicos" nas economias e no bem-estar das sociedades;
  3. ignora que a próxima grande revolução, i.e. aquela que desde o início deste século tem vindo a arrancar aos soluços, depende afinal dum grupo de "terras raras", assinalado na Tabela Periódica, sob a designação de actinidos e lantanídios, conhecidos no seu conjunto pelo nome de metais-terrosos raros, metais ou elementos de transição, ou na formulação inglesa, rare earth elements (1): Lantânio (La); Cério (Ce); Praseodímio (Pr); Neodímio (Nd); Promécio (Pm); Samário (Sm); Európio (Eu); Gadolínio (Gd); Térbio (Tb); Disprósio (Dy); Hólmio (Ho); Érbio (Er); Túlio (Tm); Itérbio (Yb); Lutécio (Lu); Ítrio (Y)...
O que caracteriza de facto os elementos de transição da Tabela Periódica não é tanto a sua raridade —pois alguns deles são muitíssimos abundantes na crosta terrestre—, mas a sua dispersão, que faz com que, na prática, os locais conhecidos para a sua exploração mineira e química viável sejam tão escassos:
  • Mountain Pass, Deserto Mojave, Califórnia/ Molycorp, Inc.
  • Bayan Obo, Mongólia, China, e ainda Sul da China
  • Olympic Dam, Austrália
  • Kiruna, Suécia
e que, por outro lado, mais de 95% da exploração e processamento destas matérias primas essenciais para o desenvolvimento de boa parte das novas tecnologias actuais e prometidas tenha origem num único país: a China!

Não parece assim ousado dizer que o século 21 assenta em pés de barro, algures entre a Mongólia e o Sul da China. A decisão chinesa de tornar monopólios oficiais estritamente vigiados estes recursos demasiado escassos e caros, vem na linha da perspectiva estratégica que conduziu à formação da OPEP, e mais recentemente aos monopólios de Estado que vêm aumentando de variedade, número e dimensão em países como a África do Sul, a Austrália e o Brasil, entre outros.

Caminhamos rapidamente para uma nova lógica proteccionista global, como sempre centrada no monopólio dos recursos básicos da forma produtiva do momento. Não nos iludamos! O tempo corre contra o neoliberalismo em todas as frentes. Desta vez, não vai ser fácil repetir as velhas artimanhas do pau e da cenoura, ou da butter and guns. Os principais países detentores das matérias primas e recursos necessários aos actuais modelos económicos, tecnológicos e sociais de referência (protagonizados pelo Ocidente Europeu e Norte-Americano), são simultaneamente ricos em população e mão-de-obra barata, energia fóssil, recursos minerais e alimentos, ouro, moeda e activos financeiros, capacidade industrial e... investigação e desenvolvimento.

Deste novo cenário resulta uma recomendação óbvia e imediata ao meu País: precisamos de rever urgente e drasticamente a política nacional de recursos estratégicos — começando pela defesa política, económica, social e militar da Zona Económica Exclusiva Alargada portuguesa, e avançando sem demora sobre a política de recursos hídricos, energéticos, ambientais e de segurança alimentar. O desafio é imenso. Como tal, é uma oportunidade, antes de ser uma ameaça. Deixar esta tarefa aos políticos menores que actualmente assassinam o cerne da democracia é, porém, uma perigosa irresponsabilidade. Teremos, pelo contrário, que começar desde já a erguer um poderoso Movimento de Cidadania Estratégica, se quisermos preparar de facto Portugal para os tremendos desafios que este século nos reserva.



NOTAS
  1. Rare Earth Elements—Critical Resources for High Technology

    High-technology and environmental applications of the rare earth elements (REE) have grown dramatically in diversity and importance over the past four decades. As many of these applications are highly specific, in that substitutes for the REE are inferior or unknown, the REE have acquired a level of technological significance much greater than expected from their relative obscurity. Although actually more abundant than many familiar industrial metals, the REE have much less tendency to become concentrated in exploitable ore deposits. Consequently, most of the world’s supply comes from only a few sources. The United States once was largely self-sufficient in REE, but in the past decade has become dependent upon imports from China.

    ...The diverse nuclear, metallurgical, chemical, catalytic, electrical, magnetic, and optical properties of the REE have led to an ever increasing variety of applications. These uses range from mundane (lighter flints, glass polishing) to high-tech (phosphors, lasers, magnets, batteries, magnetic refrigeration) to futuristic (high-temperature superconductivity, safe storage and transport of hydrogen for a post-hydrocarbon economy).

    Many applications of REE are characterized by high specificity and high unit value. For example, color cathode-ray tubes and liquid-crystal displays used in computer monitors and televisions employ europium as the red phosphor; no substitute is known. Owing to relatively low abundance and high demand, Eu is quite valuable—$250 to $1,700/kg (for Eu2O3) over the past decade.

    Fiber-optic telecommunication cables provide much greater bandwidth than the copper wires and cables they have largely replaced. Fiber-optic cables can transmit signals over long distances because they incorporate periodically spaced lengths of erbium-doped fiber that function as laser amplifiers. Er is used in these laser repeaters, despite its high cost (~$700/kg), because it alone possesses the required optical properties.

    Specificity is not limited to the more exotic REE, such as Eu or Er. Cerium, the most abundant and least expensive REE, has dozens of applications, some highly specific. For example, Ce oxide is uniquely suited as a polishing agent for glass. The polishing action of CeO2 depends on both its physical and chemical properties, including the two accessible oxidation states of cerium, Ce,3+ and Ce4+, in aqueous solution. Virtually all polished glass products, from ordinary mirrors and eyeglasses to precision lenses, are finished with CeO2.

    ...Environmental applications of REE have increased markedly over the past three decades. This trend will undoubtedly continue, given growing concerns about global warming and energy efficiency. Several REE are essential constituents of both petroleum fluid cracking catalysts and automotive pollution-control catalytic converters. Use of REE magnets reduces the weight of automobiles. Widespread adoption of new energy-efficient fluorescent lamps (using Y, La, Ce, Eu, Gd, and Tb) for institutional lighting could potentially achieve reductions in U.S. carbon dioxide emissions equivalent to removing one-third of the automobiles currently on the road.

    ... In 1999 and 2000, nearly all (more than 90%) of the separated REE used in the United States was imported either directly from China or from countries that imported their plant feed materials from China. The surprisingly rapid progression from self-sufficiency prior to about 1990 to nearly complete dependence on imports from a single country today involves a number of causative factors. These include much lower labor and regulatory costs in China than in the United States; continued expansion of electronics and other manufacturing in Asia; the favorable number, size, and HREE content of Chinese deposits; and the ongoing environmental and regulatory problems at Mountain Pass. China now dominates world REE markets, raising several important issues of REE supply for the United States:


    (1) The United States is in danger of losing its longstanding leadership in many areas of REE technology. Transfer of expertise in REE processing technology and REE applications from the United States and Europe to Asia has allowed China to develop a major REE industry, eclipsing all other countries in production of both ore and refined products. The Chinese Ministry of Science and Technology recently announced a new national basic research program. Among the first group of 15 high-priority projects to be funded was “Basic research in rare earth materials” (Science, Dec. 18, 1998, p. 2171).

    (2) United States dependence on imports from China comes at a time when REE have become increasingly important in defense applications, including jet fighter engines and other aircraft components, missile guidance systems, electronic countermeasures, underwater mine detection, antimissile defense, range finding, and space-based satellite power and communication systems.

    (3) Availability of Chinese REE to U.S. markets depends on continued stability in China’s internal politics and economy, and its relations to other countries.

    (4) Although the present low REE prices caused by abundant supply from China are stressing producers, particularly Mountain Pass, low prices will also stimulate development of new applications. For example, a recent chemistry text notes that “… for many years the main use of lutetium was the study of the behavior of lutetium …” Several promising applications for Lu are known, but most are precluded by high cost. If the price of Lu were to decrease from many thousand to a few thousand dollars per kilogram (fig. 3), additional high-technology applications of even this least abundant of the REE undoubtedly would follow. How large a role the United States will play in future expansion of REE technology and markets remains an important, but open, question.

    The rare earth elements are essential for a diverse and expanding array of high-technology applications, which constitute an important part of the industrial economy of the United States. Long-term shortage or unavailability of REE would force significant changes in many technological aspects of American society. Domestic REE sources, known and potential, may therefore become an increasingly important issue for scientists and policymakers in both the public and private sectors.

    -- in U.S. Geological Survey. Fact Sheet 087-02.

OAM 618 02-09-2009 19:58

domingo, agosto 30, 2009

Crise Global 70

Deixarmo-nos de fantasias



O PIB do planeta, em paridade do poder de compra, andará à volta de 69 biliões de dólares. O PIB do planeta representa assim qualquer coisa como 4,6 vezes o PIB da União Europeia (UE27) e 4,9 o PIB dos EUA. Europa e Estados Unidos somam pois 42% do PIB global. É por conseguinte ilusório pensar que uma qualquer solução para o colapso económico-financeiro, social e ambiental em curso possa vir dos emergentes BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China), os quais, no seu conjunto, pesam menos do que o PIB europeu, representando ainda pouco mais de 13% do PIB global.

A grande crise que actualmente nos aflige foi criada pelo Capitalismo americano e europeu, continua a residir sobretudo nos Estados Unidos da América e na União Europeia, e não terá solução se esta parte minoritária da humanidade continuar adormecida por ideais irrealistas cada vez mais letais, e não se libertar da gigantesca burocracia cortesã que tem vindo a transformar as democracias ocidentais em meras máquinas de ilusões e efeitos especiais.

A exposição global do mercado de derivados (por cima e por baixo da mesa) ronda os 1400 biliões de dólares, ou seja, 20 vezes o PIB mundial, 93 vezes o PIB da UE27 e 98 vezes o PIB americano! Os activos financeiros globais, por sua vez, e apesar de uma tesourada de 50 biliões de dólares ao longo de 2008 (cerca de um ano de PIB mundial), ainda deve somar qualquer coisa como 160 biliões de dólares, isto é, 2,3 vezes o valor de toda a produção mundial de bens serviços ao longo de um ano. Por fim, a dívida externa mundial, pública e privada, é de 54,6 biliões de dólares, aproximando-se tragicamente do valor do PIB global.

Em Portugal, e contrariando uma vez mais os malabarismos linguísticos dos nossos fracos videntes economistas, sublinho pela milésima vez que a dívida externa portuguesa, pública e privada, que superava em 2007 os 461 mil milhões de dólares, representa praticamente o dobro do PIB nacional, estimado para 2008, em 237,3 mil milhões de dólares.

É neste quadro, provavelmente único na história económica da humanidade, que os discursos alegres do nosso Pinóquio primo-ministerial soam a marketing de feira.

Como já escrevi, vou votar no Bloco de Esquerda, para derrotar o PS sequestrado pela tríade de Macau, e vou lutar ao lado do PS, com Helena Roseta e uma data de independentes preocupados, para evitar o regresso a Lisboa de uma nódoa chamada Pedro Santana Lopes.

Quem não conseguir digerir o indigesto Louçã, nem o esclerótico PCP, deve votar noutro partido minoritário qualquer. Até no PP de Paulo Portas! O importante mesmo é derrotar o Bloco Central. Tal como no Japão hoje, chegou a hora de desfazer a rocha de lapas sem vergonha em que se transformou a democracia portuguesa.

Manuela Ferreira Leite ganhará as próximas Legislativas com uma margem provavelmente surpreendente. Tal vitória será, como toda a gente sabe, essencial para provocar a necessária reforma do actual regime partidário. O resto não passa de conversa inócua.


REFERÊNCIAS

Antes de ler estas notas, e para esclarecimento das diferenças de designação dos números acima de 1 milhão, ler este post oportuno.
  1. PIB mundial (PPP); PIB mundial (nominal). Dívida mundial (CIA World Fact Book).

  2. Global Exposure in Financial Derivatives Surpasses One Quadrillion Dollars (Update) July 21, 2009, 3:32PM

    When I posted the lowest responsibly sourced figure for global exposure in financial derivatives, $592 trillion, published May 19, 2009 by the Bank of International Settlements, all sorts of hoodoo apologists for Obama, Geithner, Summers, and Goldman Sachs crawled out the woodwork to claim that this figure is ridiculously exaggerated, there's really nothing to worry about, it's just a few bucks, and so on.

    All the same hoodoos unfailingly claimed that it's stupid to consider worst-case scenarios when you calculate risk, because...

    They have learned absolutely nothing from the ongoing financial meltdown which annihilated some of the oldest and largest investment banks in the world, and plunged the global economy into an almost vertical downturn.

    So, since even the lowest reasonable figure for global exposure in financial derivatives attracts so much obfuscation and denial, I might as well be hanged for a sheep as a lamb, and offer up a much larger and probably more accurate estimate, which also includes the huge market in off-the-books derivatives, instead of only considering the OTC market upon which the previous calculation by the Bank of International Settlements was based, and that estimate is...

    $1.4 quadrillion.

    That's more than one million piles of money, with a billion dollars in each pile. — in TPM.

  3. Global Financial Assets Lost $50 Trillion Last Year, ADB Says

    March 9 (Bloomberg) -- The value of global financial assets including stocks, bonds and currencies probably fell by more than $50 trillion in 2008, equivalent to a year of world gross domestic product, according to an Asian Development Bank report.

  4. Can China Save the World? By Bill Powell Monday, Aug. 10, 2009 (Time).

    Beijing never signed on to what became known in the late 1990s as the Washington Consensus on global economic policy, which called for free trade, privatization, light-touch regulation, prudent fiscal policies and — at least as many interpreted the consensus — free capital flows.

  5. A Tale of Two Depressions By Barry Eichengreen and Kevin H. O’Rourke (Voxeau).
    4 June 2009

    ... The Great Depression was a global phenomenon. Even if it originated, in some sense, in the US, it was transmitted internationally by trade flows, capital flows and commodity prices. That said, different countries were affected differently. The US is not representative of their experiences.

    Our Great Recession is every bit as global, earlier hopes for decoupling in Asia and Europe notwithstanding. Increasingly there is awareness that events have taken an even uglier turn outside the US, with even larger falls in manufacturing production, exports and equity prices.

    ... To summarise: the world is currently undergoing an economic shock every bit as big as the Great Depression shock of 1929-30. Looking just at the US leads one to overlook how alarming the current situation is even in comparison with 1929-30.

    The good news, of course, is that the policy response is very different. The question now is whether that policy response will work.

  6. Why this new crisis needs a new paradigm of economic thought
    Keiichiro Kobayashi (Voxeau). 24 August 2009

    The policies being debated in the US and Europe today are almost identical to those that played out in Japan a decade or so ago. Japan experienced the collapse of its colossal property bubble in 1990 and then a series of crises as major banks and securities companies were overwhelmed by rapidly rising non-performing debts. The conventional wisdom among economists and politicians throughout the 1990s was that massive public expenditure and extraordinary monetary easing would give the necessary boost to market sentiments and prompt an economic recovery. Public opinion in the US and Europe today seems to be the same.

    And indeed, throughout the 1990s, Japan did introduce major public works projects and tax cuts, yet the economy failed to stabilise, asset prices continued to fall, and the volume of non-performing debts continued to climb. Far from being dispelled, the sense of insecurity that had permeated the markets actually increased throughout the 1990s, ultimately leading to the collapse of several major financial institutions in 1997 and sparking an outbreak of panic.
    ...
    Mainstream opinion in the US and other countries today appears to be similar to the thinking that dominated Japan during the 1990s. The general public, for the most part, have not bought into the theory that stabilising the financial system through means such as temporarily nationalising banks and rehabilitating debt-ridden borrowers is a necessary prerequisite for achieving an economic recovery. In a VoxEU column published on 1 April, I emphasised that there is a danger in expecting too much from fiscal policy. Rehabilitating the US financial system through the disposal of non-performing assets is essential for a global economic recovery. Princeton University Professor Paul Krugman commented on my column at his New York Times blog, claiming that the belief that stabilising the financial system is a necessary precondition for economic recovery is questionable. He said that if bank reform were the major factor in Japan’s economic recovery, capital investment should have increased, yet the Japanese data shows no increase in capital investment during the recovery period. My response is that stabilising the financial system alleviated the funding constraints that were making it difficult for companies to meet their working capital needs. As several recent studies show (see, for example, Chari, Kehoe and McGrattan 2007), loosening financial constraints on working capital causes productivity to rise and enables an increase in output and employment, but it does not necessarily result in higher capital investment. There is no contradiction between the Japanese data showing non-increasing capital investment and the hypothesis that stabilising the financial system was a factor behind Japan's economic recovery.

  7. "Portugal é um grande caso BPN" (Medina Carreira no Negócios da Semana)

    Em 2007, quando houve ainda crescimento económico, ficou-se a saber, através de dados do Banco de Portugal, que esse crescimento se ficou a dever ao maior empréstico que Portugal fez nos últimos anos. Em 2007, foram emprestados 22 mil milhões de euros. Foi essa verba que gerou o aumento do crescimento do PIB em 2007.

    — Ver vídeo SIC no topo deste texto.

OAM 617 31-08-2009 20:17

sábado, agosto 29, 2009

Portugal 121

Regresso a Tormes


Pousada da Juventude de Vilarinho das Furnas, Campo do Gerês.
Foto OAM (Moto U9).


"Eu possuo preciosamente um amigo (o seu nome é Jacinto), que nasceu num palácio, com quarenta contos de renda em pingues terras de pão, azeite e gado.

... Eu, três vezes, com energia, ataquei aquele caldo: foi Jacinto que rapou a sopeira. Mas já, arredando a broa, arredando a vela, o bom Zé Brás pousara na mesa uma travessa vidrada, que transbordava de arroz com favas. ora, apesar de a fava (que os Gregos chamavam «ciboria») pertencer às épocas superiores da civilização, e promover tanto a sapiência que havia em Sício, na Galácia, um templo dedicado a Minerva Ciboriana - Jacinto sempre detestara favas. Tentou todavia uma garfada tímida. De novo os seus olhos, alargados pelo assombro, procuraram os meus. Outra garfada, outra concentração... E eis que o meu dificílimo amigo exclama: «Está ótimo!» Eram os picantes ares da serra? Era a arte deliciosa daquelas mulheres que em baixo remexiam as panelas, cantando o Vira, meu bem? Não sei: mas os louvores de Jacinto a cada travessa foram ganhando em amplidão e firmeza. E diante do frango louro, assado no espeto de pau, terminou por bradar: «Está divino!» — Eça de Queiroz, in Civilização. (PDF)

Ao contrário do que o nome indica, as Pousadas da Juventude não são apenas para os adoradores imberbes do telemóvel. Sobretudo as de quatro e cinco estrelas (sim, há umas mais iguais que outras!) são cada vez mais assediadas por jovens de espírito como eu, que levam já um quarto de século em cada perna, ou mais, e também não dispensam, mas sem estarem propriamente agarrados, o iPhone, a magnífico Flip e o absolutamente indispensável TomTom, este último, depois de lhe substituirmos as terríveis vozes portuguesas, por prestações tão geniais como as de Homer Simpson, John Cleese ou Dennis Hopper. Sobretudo num momento em que o horizonte parece irremediavelmente tempestuoso, aproveitar o melhor que a tecnologia tem, para revisitar o que de adorável existe no atraso do meu país, no conforto e deleite de algumas das excelentes pousadas que a voragem neoliberal não teve tempo de privatizar, é um privilégio ímpar.

Se as pousadas de Foz Côa e Ponte de Lima deixam algo a desejar no desenho, na robustez e na climatização inconveniente, em grande medida por causa dos levianos arquitectos que as desenharam, e dos irresponsáveis empreiteiros que as construíram, outro tanto não sucede ao recém-recuperado complexo de Vilarinho das Furnas (no espectacular Chão do Gerês), ou às novas pousadas de Alijó e de Melgaço (um luxo, jovens!)

Deixar Lisboa por uns dias e respirar o que o nosso atraso felizmente poupou à voragem da modernidade é um dos mais tonificantes antídotos que posso tomar para depois suportar a guerra civil das palavras onde me meti desde que lancei este já longo "António Maria".

Desta vez, o prazer organizado pela minha adorável mulher, na companhia da minha idolatrada filha (que acaba de somar à sua raíz lisboeta a nacionalidade espanhola!), passou por terras inesquecíveis de boas, como Ponte de Lima (ah grande Queijo Limiano!), Castro Laboreiro, Monção e Melgaço. Nestas duas últimas admiráveis vilas bebi os melhores Alvarinhos do mundo inteiro (e há-os bem bons na Galiza, na Califórnia, Argentina, Austrália e Nova Zelândia). São surpreendentes e divinos os Alvarinhos Soalheiros de Melgaço, como sólidos são os Alvarinhos de Rebouça e o Quinta da Pedra, de Monção. Até o Torre de Menagem, um vinho verde branco da casa Quintas de Melgaço, e o bem amanhado tinto verde da Adega Cooperativa de Monção (difícil de encontrar em Lisboa, como os demais citados...), deixaram saudades do irresistível cabrito do monte que o restaurante Adega Regional Sabino, situado em Melgaço, sacrifica diariamente e diariamente assa, com a simplicidade que tema tão sagrado exige, para êxtase gastronómico de quem não se passou ainda definitivamente para a dieta "veg".

No regresso, visitámos a anémica, embora muito incensada Pousada de Terras do Bouro —um projecto tão pretensioso quanto pífio de Eduardo Souto de Moura. Jantámos mais tarde uma inigualável posta arouquesa n'O Meu Gatinho, em Cinfães do Douro, por dever de homenagem à terra do meu avô paterno e de uma longa linhagem de aventureiros e bons vivants. Finalmente Braga, terra da minha mulher, e Porto, antes de tomar a A1 pela madrugada fora. Na cidade dos curas e do Bacalhau à Zé do Pipo, encontrámos uma esplanada-jardim civilizada, digna dos melhores recantos da Europa do Norte, na célebre Casa dos Coimbras. O Bar dos Coimbras é um projecto dos arquitectos Amadeu Magalhães e Guilherme Sequeira, de visita e usufruto obrigatórios. Experimentem o delicioso chá de Mate gelado e perfumado com hortelã — uma salvação laica em terra de batinas, numa tarde de ananases — como diria o Eça.

Hoje, antes de começar esta crónica de regresso de férias, passei pelo mercado bio do Príncipe Real. A capital também tem coisas amáveis, inteligentes e boas. Antes de passar pelo celeiro em busca de algas e óleo de abóbora (próstata oblige!), entrei na igreja jesuíta de São Roque, ao Largo da Misericórdia. Lágrimas de amor e raiva escorreram sem travão possível sob a cortina escura dos meus óculos de Sol.

A jihad literária recomeça amanhã!


OAM 616 30-08-2009 20:41

segunda-feira, agosto 10, 2009

Por Lisboa 28

Uma cidade com dois estuários

2 Estuarios-2030

Ampliar imagem Ver projecção no Google Earth.

Frente ribeirinha da Margem Sul – um projecto perigoso

O desprezo pela reabilitação urbana, é revelado pelos seguintes números extraídos de um trabalho de Rita Calvário: “Portugal é o país da Europa que menos reabilita e onde a nova construção tem mais peso (90,5% numa média europeia de 52,5%). O investimento em reabilitação urbana é de 5,66% do total dos investimentos em construção, enquanto a média europeia é de 33%”. — in Esquerda Desalinhada.


Xangai
18 distritos
220 cidades, vilas, aldeias e povoações
7 037 Km2
população: 18 884 600

Lisboa
18 concelhos
cidades, vilas, aldeias e povoações: alguém sabe?
2 802 Km2
população: 2 808 414

O ponto de partida é sempre o mesmo: nada de útil pode ser resolvido em Portugal sem avançarmos de vez com a regionalização. A Grande Lisboa e o Grande Porto precisam de libertar-se das perversas Comissões Coordenadoras Regionais (CCRs), que não passam de correias de transmissão da nomenclatura partidária, coladas a uma burguesia basicamente indolente — burocrática, clientelar, preguiçosa e ignorante. Sem verdadeiras regiões, com órgãos próprios eleitos democraticamente e poderes alargados, o que continuaremos a ter depois das próximas eleições será mais do mesmo, i.e., um Estado centralista, injusto, corrupto e incapaz de competir na Europa.

A discussão sobre o futuro da região de Lisboa, sobre o novo aeroporto, sobre os comboios de alta velocidade e velocidade elevada, sobre novas travessias do rio Tejo, ou sobre os portos que precisamos urgentemente de renovar, está encalhada no Bloco Central do Betão, que é também um monumental Bloco Central da Corrupção. Vai ser lindo observar mais um ex-maoista (Pacheco Pereira) a gesticular sobre este navio encalhado que é Portugal, no provável governo de Manuela Ferreira Leite.

Vou de férias amanhã e não tenciono escrever durante alguns dias, apesar de levar o Kanguru comigo. Deixo aos meus fieis leitores, até ao fim deste mês, uma pequena charada sobre Lisboa, com que acordei um dia destes.

Cenários:

  1. o porto de Roterdão poderá deixar de crescer antes de 2030;
  2. os portos de Londres, Roterdão, Havre e Hamburgo poderão colapsar perante a subida do nível dos mares e a instabilidade climática, antes de 2050;
  3. a desertificação ibérica (que já é um fenómeno gravíssimo!) poderá empurrar parte da população espanhola do Levante, Castela, Aragão e Catalunha para o litoral atlântico (Norte e Oeste) antes de 2050;
  4. um grande terramoto/ maremoto poderá destruir o centro de Lisboa antes de 2050;
  5. o controlo euro-americano do oceano Atlântico —nomeadamente por causa de África e da América do Sul— vai tornar-se uma questão diplomática e militar decisiva e a única resposta possível ao avanço imperial da nova China, que em breve terá hegemonia sobre toda a Ásia e boa parte do oceano Pacífico;
  6. as novas economias do mar e dos rios, a energia solar e a água farão de Portugal, dos seus estuários e portos, bem como da sua ZEE alargada, uma das mais apetecíveis regiões europeias, muito antes de 2030.
  7. os arquipélagos dos Açores e de Cabo Verde são decisivos para o controlo do Atlântico, e para manter abertas as rotas marítimas e aéreas entre o Golfo da Guiné e a América, nomeadamente a Latina, daqui decorrendo que Portugal dificilmente poderá continuar de costas voltadas para os temas da diplomacia, da defesa e da paz — sob pena de o estandarte da soberania passar de vez para as mãos da monarquia espanhola.

Se algum destes cenários, ou uma combinação dos mesmos, vier a ocorrer, Lisboa estará no centro de um furacão diplomático, económico e social sem precedentes.

Por isso, talvez fosse bom discutir a necessidade de proteger publicamente os aquíferos, as linhas de água e canais dos estuários do Tejo e do Sado.

O reforço da capacidade portuária dos estuários do Tejo e Sado é, por outro lado, uma prioridade económica e política que exige previamente a criação de uma autoridade portuária única para toda a região de Lisboa. Esta ideia veio de boas mãos, pelo que subscrevo-a sem reservas.

Um longo canal navegável (com propósitos variados) entre os dois estuários teria qualquer coisa como 40 Km de extensão, podendo facilmente chegar, com ramificações, aos 60Km. Para termos uma ideia do que isto significa, basta pensar que o porto de Roterdão mede uns 40 Km de extensão, e o Canal do Panamá (1), 80Km. Pergunta: para que serviria um tal canal? A minha intuição diz-me que poderia ser um projecto para duas ou três gerações, capaz de salvar e recuperar todo o potencial do maior aquífero da Europa, actualmente ameaçado, como muitos outros importantes estuários do planeta, pelo assoreamento urbano e suburbano. Se permitirmos que a cobiça humana prossiga a sua cega tarefa de destruição dos dois grandes estuários portugueses, toda a região de Lisboa sofrerá um colapso muito antes do final deste século.

Finalmente, a questão do dinheiro.

Quando a oportunidade chegar, se chegar, chegará com muita força. E nessa medida, será uma aventura à qual não faltarão grandes interessados!

O importante agora é lançar a discussão e vigiar as patifarias em curso, nomeadamente aquelas que nascem das cavidades cranianas inquinados dos ministros "socialistas" das obras públicas, transportes e comunicações, da agricultura e do dito ambiente.

O governo PS tem vindo, no entanto, ainda que de forma arrastada e trapalhona, a entender as motivações estratégicas que orientaram a reflexão que em 2005 promovi sobre o Grande Estuário do Tejo. O seu mais recente anúncio eleitoralista sobre a cidade das duas margens, e sobre a recuperação da frente ribeirinha entre a Trafaria e Alcochete, não são em si mesmas más notícias — desde que o assunto seja propriamente discutido em público. Para já, o que Grazia Tanta percebeu das intenções governamentais é suficiente para deixar qualquer um preocupado. Os políticos desta falida República não aprendem!


NOTAS
  1. Big Panama Canal plan to cost half Metro North contract
    By Brendan Keenan
    Saturday July 11 2009 (Independent)

    A construction team led by Spanish contractor Sacyr Vallehermoso is the preferred bidder to design and build a third set of locks on the Panama Canal, with a bid of $3.1bn (€2.2bn).

    The bid is the biggest ever contract on the 80km (50 mile) canal which links the Atlantic and Pacific oceans, but is around half the reported cost of Dublin's Metro North line from the city centre to the airport.

    The final cost of the canal work is put at $5bn, although other bids were significantly higher. Bechtel Group, whose partners included the Japanese Mitsubishi, bid $4.2bn; while another Spanish group, working with the German Hochtief, put a cost of $6bn on the work.

    Panama Canal Awards Locks Contract
    Peter T. Leach | Jul 16, 2009 1:43PM GMT
    The Journal of Commerce Online - News Story

    Consortium Grupo Unidos por el Canal bid comes in under canal authority's target price

    The Panama Canal Authority formally awarded the contract to design and build a third set of locks to the Consortium Grupo Unidos por el Canal, which had submitted the lowest bid.

    The multinational consortium, which is composed of Sacyr Vallehermoso of Spain, Impregilo of Italy, Jan De Nul of Luxembourg, and Constructora Urbana of Panama, was one of three global engineering consortia that competed for the largest and most important contract under the canal’s expansion.

    The base price of US$3.12 billion submitted by Grupo Unidos was lower than the canal authority’s target price of $3.48 billion. (...)

    When completed in 2014, the project will allow 12,600-TEU vessels –– nearly three times the size that can fit through existing locks –– to steam through the canal providing all-water trans-Pacific services to all three U.S. coasts.

    Expanding the Panama Canal: A Wider Canal or More Governmental Payola?

OAM 615 10-08-2009 20:43