quinta-feira, junho 23, 2011

Como privatizar a TAP?

TAP Europa | TAP Atlântica | TAP Oriente
Pretendendo encurralar o novo ministro, Álvaro Santos Pereira, com a chantagem dos despedimentos, defensores encapotados do status quo falido do país (tríade de Macau e lóbi de Alcochete) acabam de reconhecer que a TAP está falida e é comercialmente inviável. Um definitivo tiro no pé!

Só há uma maneira de salvar a TAP: privatizando-a quanto antes!

“A concorrência das companhias aéreas de baixo custo vai custar 2 mil milhões de euros à TAP. De acordo com um estudo interno da companhia, a que o jornal Público teve acesso, a transferência de passageiros e a pressão para reduzir os preços ameaçam causar prejuízos de 152 milhões de euros em apenas um ano.

Em causa está a abertura de uma base da Easyjet no aeroporto da Portela em 2012 e ainda a concorrência da irlandesa Ryanair.

A confirmarem-se os prejuízos, os despedimentos na TAP serão inevitáveis o que pode levar ao encerramento da empresa.” — SIC Notícias. (1)

Não é a concorrência, estúpido! É a incompetência de gestão e a intromissão política, estúpido!

Há anos que a Blogosfera tem vindo a chamar a atenção de quem deve estar atento, sobre o curso suicida da TAP. Mas como quem mandou até agora foram os construtores civis, os negociantes de terrenos e o comissionista partidário de turno, não há outra saída que não passe pela privatização urgente, quer da TAP, quer da SATA. Nenhuma das companhias consegue sobreviver sem fortes subsídios estatais, i.e. mais endividamento externo! Além do mais, não foi Fernando Pinto que em entrevista aos jornais saudou em tempos a concorrência das Low Cost?

O ataque mediático dos defensores do status quo falido, veiculado pelo Público de hoje, contra o que ontem mesmo escrevi, configura duas perigosas derivas por parte de poderes informais instalados: uma deriva guerrilheira contra o novo governo, usando para tal golpes baixos, como foi já o caso do despedimento colectivo nos estaleiros de Viana de Castelo, ou o anúncio aos quatro ventos de que a TAP, afinal, não é viável em ambiente de concorrência leal, ou seja, que vale pouco ou nada em sede de privatização!

Esta insinuação, e a tentativa de responsabilizar o actual governo pela inevitável redução de efectivos que o obeso grupo TAP terá que sofrer, revelam três coisas: que as actuais administrações da TAP e da ANA foram e continuam capturadas por interesses inconfessáveis, muito pouco públicos; que estão desesperadas; e que os poderes instalados (tríade de Macau e lóbi de Alcochete) parecem dispostos a sabotar sucessivamente o memorando de entendimento assinado pelo governo "socialista" de José Sócrates com a Troika, e a maioria governamental recentemente formada. É caso para dizer que o corropio em curso de entrevistas à RTP-N, por parte de grandes figurões da alucinação socratina, não passa dum branqueamento cínico de quem tem efectivamente muitas contas a prestar ao país!

Além do mais as notícias sobre a falência da TAP são antigas, pelo que o alarme do Público não passa de uma sombra feia para agitar os sindicatos e as comissões de trabalhadores, a quem aconselho vivamente que estudem detalhadamente a situação e lutem por uma solução ajustada à realidade.

TAP vai registar os maiores prejuízos de sempre desde a chegada de Fernando Pinto — 02-10-2008, Público

“A transportadora perdeu 133 milhões até Agosto e prevê-se que as contas piorem até ao final do ano. A tentativa de acordo com os sindicatos parece estar condenada.”

“Quando Fernando Pinto apresentou os resultados do primeiro semestre de operação da TAP (136 milhões de euros de prejuízos), ainda restava a esperança de que o Verão, período de pico da indústria aérea, ajudasse a recuperar a empresa. Ontem, o gestor brasileiro regressou à mesma sala para anunciar que os meses de Julho e Agosto apenas reduziram as perdas em três milhões de euros.
Os dados acumulados dos oito primeiros meses do ano mostram uma TAP a caminho dos piores resultados de sempre desde a chegada de Fernando Pinto, no ano 2000. Desde Janeiro, a companhia registou prejuízos de 133 milhões e "o mais provável é que o resultado líquido seja pior no final do ano", avançou Michael Conolly, administrador financeiro da transportadora, ao PÚBLICO.”

Prejuízos de 2008 provocam falência técnica da TAP — 16-12-2008, Presstur

“Fernando Pinto começou (...) por comentar que a falência técnica é “aspecto contabilístico”, embora admitindo que “tem que ser visto” e, “principalmente”, à luz das obrigações do Artigo 35 do Código das Sociedades Comerciais, que determina que os administradores devem propor aos accionistas o reforço do Capital Social quando os Capitais Próprios já foram inferiores a dois terços desse montante.”

“[...] Fontes financeiras disseram ao PressTUR que o facto de a TAP passar a estar em incumprimento do Artigo 35 do Código das Sociedades Comerciais coloca o risco de qualquer credor poder pedir a falência, mas, frisam, não tem sido essa a prática, desde logo por que os próprios credores querem é que a empresa continue a laborar para poder ressarcir as dívidas.”

Pode evitar-se a privatização da TAP? Não.

Mas pode o Estado continuar presente na futura companhia? Pode: com uma pequena %. O serviço público das ligações entre-ilhas, na Madeira e nos Açores, e destes arquipélagos ao continente, pode e deve ser assegurado por companhias privadas subsidiadas pelo Estado. A TAP e a SATA (depois de privatizadas), mas também outras companhias poderão disputar livremente estas oportunidades de negócio com deveres especiais associados.

Em 19 de Março último o António Maria escrevia:
  • A TAP não tem futuro, a não ser reestruturando-se radicalmente. Isto é, focando-se na única actividade que lhe dá dinheiro: voar!
  • A TAP não tem futuro, a não ser partindo-se em três companhias ponto-a-ponto: TAP Atlântica (Brasil, Venezuela, Angola, Cabo-Verde, São Tomé, etc.); TAP Europa (mais de 80% do seu movimento actual); e TAP Oriente (Turquia, Golfo, Índia, China, Japão), com parceiros regionais fortes (na Europa, a Lufhtansa, em África a TAG, na Ásia, com a Air China, etc.)
  • A TAP precisa, como do pão para a boca, da Portela, mas de uma Portela renovada a sério e bem gerida, talvez por uma ANA privada, não para engordar a burguesia palaciana, inepta e preguiçosa nacional, mas para entregar a gestão aeroportuária do país a um consórcio privado com provas dadas, subordinado a obrigações de serviço público muito claras, mas libertando de uma vez por todas a gestão desta empresa rentável dos indecorosos boys&girls do PS e do PSD.
  • A Portela precisa, como do pão para a boca de obras que aumentem a segurança das pistas e a gestão dos movimentos no ar e em terra. Para tal precisa de libertar espaço aéreo militar reservado na zona de Lisboa sem qualquer justificação e que apenas permanece como está pela estúpida e proverbial resistência dos lóbis burocráticos às decisões racionais. Num estado civil, os militares obedecem ao poder civil democraticamente eleito, ponto final! O ministério da defesa, infelizmente dirigido nas últimas décadas por amadores e aparachiques, continua a ocupar corredores aéreos de bases militares à volta de Lisboa, inúteis ou até desactivadas: Sintra e Montijo (inúteis), e Alverca (desactivada).
  • A TAP precisa dum aeroporto na cidade, porque 80% dos seus voos são para e do espaço comunitário europeu, porque apenas 9% dos aviões que demandam a Portela são da classe wide-body (i.e. adequados a viagens de longo curso, nomeadamente intercontinentais), o que afasta liminarmente a verborreia dos vendedores-ambulantes do PS e do PSD sobre o "Hub aeroportuário de Lisboa".
  • A Portela deve permanecer, pelo menos até 2020, como o único aeroporto civil de Lisboa, pois tem ainda oportunidades de ver crescer o número de passageiros que por ele transitam, sem precisar de aumentar muito mais o número de movimentos de aeronaves. Só no filet mignon dos horários prime-time, há falta de slots na Portela. Mas isso é assim em todos os aeroportos! O que mais importa saber é que os aviões da TAP andam vazios, para ser mais preciso, com taxas de ocupação muito baixas e sempre a descer desde que as Low Cost atacaram, e bem, o mercado português. Os nossos imbecis governantes ainda não perceberam que o sucesso das Low Cost, que tem vindo a encostar a TAP literalmente às boxes (em Faro, Porto, e em breve Funchal e Lisboa) se deve, em grande parte, ao enorme contingente de novos emigrantes portugueses que viajam, desde que há tarifas convenientes, não uma ou duas vezes por ano, como antes acontecia, mas de dois em dois meses, todos meses, ou até quinzenalmente (sobretudo quando têm emprego ou negócios simultaneamente em Portugal e nalgum outro país comunitário). Os irresponsáveis e incompetentes políticos agarrados à mama orçamental habituaram-se às borlas e mordomias da TAP, e como qualquer viciado em heroína, custa-lhes a deixar os maus hábitos  pagos pela nossa austeridade!
  • Finalmente o aeroporto da Portela, que tem ainda margem para crescer fisicamente (nova taxiway, afastamento dos militares do aeroporto fantasma de Figo Maduro, desalojamento de alguns serviços e empresas do perímetro mais próximo da zona operacional das pistas, etc.) precisa de importantes e urgentes obras de saneamento básico. Tudo junto: uns 100 a 200 milhões de euros de investimento útil, para prolongar a vida de um dos mais seguros, pontuais e convenientes aeroportos do mundo. Como se vê, a construção civil ainda tem muito que fazer em Portugal. Só não queremos que continue a roubar à descarada e a enterrar o país, em vez de o construir!

Como privatizar a TAP?

Não há soluções fáceis para fazer o que tem que ser feito. A pior das soluções seria encanar a perna à rã, com sucessivos planos de mitigação dos problemas e reestruturações fictícias, com os vários grupos de pressão à bulha. Por isto mesmo só vejo uma saída produtiva para o impasse da empresa que descapitalizou a Parpública: o encerramento.  Uma nova empresa com os seus principais activos intactos, aviões, pilotos e pessoal de manutenção técnica, deverá então ser criada. Os postos de trabalho redundantes deverão ser extintos, indemnizando-se de acordo com a lei os profissionais afectados. A nova empresa deve então ser colocada no mercado de privatizações, podendo o Estado português deter uma posição minoritária na nova companhia, ao mesmo tempo que desenha uma visão estratégica para a nova empresa (TAP Europa, TAP Atlântica, TAP Oriente), e que impõe contratos de concessão bem desenhados no que se refere aos serviços públicos a que a futura TAP deverá estar vinculada.

Estamos em guerra! É uma guerra contra os níveis incomportáveis do nosso endividamento, mas não deixa de ser uma guerra. E em tempos de guerra, todos temos que admitir medidas de excepção em nome do bem comum. Não vejo como poderão os sindicatos pensar doutro modo.

NOTAS
  1. Ainda sobre esta ofensiva, outra citação:
    Apoios e custos reduzidos atraem concorrência de baixo custo — 23.06.2011, Público.

    “Os incentivos dados pelas entidades públicas às companhias de aviação low cost têm servido de estímulo à entrada destas empresas no mercado nacional. E, agora, com os projectos da ANA para transformar um dos terminais da Portela numa infra-estrutura com custos reduzidos, é provável que o poder que têm aumente. Ryanair e Easyjet já são donas de 23 por cento do tráfego aéreo e continuam a investir em força.”



O que dizia o genial inventor do aeromoscas de Beja, em 2007...

ANEXO

Cronologia de um desastre anunciado
23-06-2011 19:41


Publico um longo email que recebi a propósito do que acima se escreve, pela sua grande oportunidade.

“ — Este email é para ser ter uma ideia geral da situação da TAP que está falida e que terá que ser reestruturada e privatizada por imposição do FMI.

A TAP é uma empresa que já está em dificuldades financeiras há vários anos. O Presidente da empresa, Fernando Pinto paga a uma empresa de comunicação e imagem para dar a falsa ideia que a empresa está em boa situação e que é competitiva. A maioria da imprensa participa nesta farsa.

A situação mais caricata aconteceu há pouco tempo quando apresentaram as contas de 2010 e só revelaram o valor das receitas e ninguém conheceu o valor das despesas. Sempre que o Presidente da TAP aponta o preço dos combustíveis como o grande culpado dos prejuízos não há nenhum jornalista que lhe pergunte se os aviões das outras companhias não têm o mesmo problema.

Vamos aos factos:

Em 2008, quando o petróleo atingiu os 150 dólares a TAP teve perto de 300 milhões de euros de prejuízos

No ano de 2009, surpreendentemente a TAP anunciou que só teve 3 milhões de prejuízos. Não acredito nesta recuperação espectacular.

Em 2010, dizem que só tiveram prejuízos próximos dos 58 milhões de euros quando o Petróleo já está a 130 dólares; tendo em conta o cambio do euro, o custo dos combustíveis está semelhante aos preços de 2008.

O Governo já tentou privatizar a TAP mas ninguém a quer devido ao elevado passivo e por ter milhares de trabalhadores que vão ter que ser despedidos. Por esta razão ninguém a quer.

Quem está a injectar dinheiro na TAP é a Parpública, que está interessados no novo aeroporto de Alcochete. Como ninguém quis comprar a TAP agora fala-se na possibilidade de vender a ANA e a TAP em pacote. Isto é, quem comprar a ANA que tem lucros anuais de 50 milhões de euros, teria a possibilidade de construir o Novo Aeroporto e ficaria com a TAP!

PRECISAM DA TAP PARA JUSTIFICAR ALCOCHETE

No passado, diziam que a Portela estava esgotada devido á falta de slots. Como essa mentira já caiu, agora, a nova argumentação a favor de Alcochete reside no facto, segundo a NAER, de a Portela não servir para aeroporto Hub. Para salvar a TAP, dizem que é necessário o NAL em Alcochete. Isto é falso porque só 9% dos aviões que aterram a Portela são aviões de longo curso. A esmagadora maioria dos aviões da Portela são aviões de médio curso para a U.E.

EFEITO DAS LOW COST NO MERCADO AÉREO NACIONAL

A ANAM, empresa que explora o aeroporto da Madeira, publicou um estudo sobre as consequências da entrada, há 2 anos, da Easyjet na rota Lisboa-Funchal.

O estudo da ANAM revelou as seguintes conclusões:

– A easyJet ganhou 23% de quota de mercado, tendo transportado 195 mil passageiros em 2010, num total de 848 mil pessoas.

- A tarifa média baixou dos 144 euros para 73 euros, ou seja, teve uma quebra de 50%. Em 2010, a easyJet praticou uma tarifa média de 51 euros, enquanto a da TAP e SATA foi de 70 euros.

- A TAP perdeu em dois anos quase 95 mil passageiros, tendo baixado a sua quota de mercado de 78% para 58%, o que correspondeu a 492 mil passageiros. A SATA, em compensação, ganhou 24 mil clientes.

- A taxa de ocupação dos aviões das 3 companhias é: Easyjet 83%, TAP 64% e SATA 71%.

- Em 2007 o Estado pagava 20 milhões à TAP, em compensações, para os passageiros viajarem entre a Madeira e o Continente. Em 2010, pagou 6 milhões.

Em 2008, o tráfego aéreo Lisboa-Funchal era de 763 mil passageiros, transportando a TAP 595 mil, sendo 78% do total, com uma tarifa média de 144 euros, o que correspondeu a 85 680 000 euros de receitas, somando 20 milhões de euros em compensações pagos pelo Estado. Em 2010, a TAP transportou 492 mil passageiros a um preço médio de 70 euros, o que representou 34 440 000 euros de receitas, mais 6 milhões de euros em compensações. Ou seja, a perda de receitas para a TAP, de 2008 para 2010, terá atingido um valor próximo dos 65 milhões de euros.

Conclui-se, assim, que a entrada das Low Cost nesta rota provocou uma forte quebra na tarifa média e uma perda de dezenas de milhões de euros para a TAP.

LOW COST NO PORTO

Em Fevereiro de 2010, as Low Cost já possuíam 58% do tráfego total com a Ryanair em primeiro lugar, com perto de 150 mil passageiros e a TAP com pouco mais de 103 mil. Com uma base só com 5 aeronaves, a Ryanair tem uma média de 138 passageiros por avião, enquanto na TAP tem 59 pessoas por avião.

No Aeroporto do Algarve, que é a principal região turística de Portugal, já só possui 3 voos e a empresa Grounforce teve que despedir 330 trabalhadores. Em Faro, as Low Cost têm 86% do mercado. No Porto, as Low Cost, passaram de 11% há poucos anos para 58% do mercado, em Fevereiro de 2010, o que obviamente também provocou fortes quebras nos preços dos bilhetes e redução nas receitas da TAP.

LOW COST NO TERMINAL 2 DA PORTELA

Foi anunciado, recentemente, que o pequeno Terminal 2 passaria a ser utilizado para as Low Cost e que a Ryanair e Easyjet poderiam ali fazer a sua base com um pequeno número de aviões. Convém recordar que os aviões das Low Cost nunca estão no aeroporto, porque estão sempre a voar para efectuar receita. Ou seja, o Terminal 1 que irá possuir 20 mangas passaria a ser utilizado como HUB pela TAP e outras companhias aéreas de bandeira e o Terminal 2 seria só para as Low Cost.

As consequências vão ser as mesmas do que se passou em Faro, no Porto ou no Funchal. O que provavelmente vai acontecer é que o Terminal 1 vai começar a esvaziar e o Terminal 2 vai ficar com muito mais passageiros. Muitos aviões da TAP ficarão parados por falta de passageiros.

A criação de bases na Portela da Ryanair e Easyjet vai provocar uma nova quebra das tarifas nos destinos para a U.E. e forte perda nas receitas da TAP.

TAP DIMINUIRÁ COMO A ALITALIA?

A Alitalia, quando chegou a uma situação em que o prejuízo atingia 1 milhão de euros por dia, teve que ser reestruturada, também devido à concorrência das Low Cost. A companhia italiana foi obrigada a eliminar as rotas não rentáveis e a reduzir os custos, de modo a permitir uma diminuição nos prejuízos.

O que aconteceu com a Alitalia, também poderá ocorrer com a TAP, sobretudo nas rotas Portugal-países da União Europeia (UE). Para se ter uma ideia da diferença de produtividade, basta dizer que a TAP transporta 684 passageiros por cada um dos seus trabalhadores, enquanto a Ryanair transporta 10.050 e a Easyjet, 6300.

A TAP, após ter adquirido a Portugália por 140 milhões de Euros, vai ter ainda que pagar elevadas indemnizações aos trabalhadores já despedidos.

O que ocorreu com a Alitalia é a imagem do que poderá vir a acontecer no resto da UE, pois é muito provável que o mercado seja dominado pelas Low Cost e o que está a verificar-se na rota Lisboa-Funchal é um exemplo real de como a TAP não pode competir com o modelo de gestão das companhias de baixo custo.

CONCLUSÃO

A TAP não pode competir com as Low Cost no mercado europeu.

O Novo Governo vai ter que reestruturar a TAP e privatizar a empresa por imposição do FMI. Infelizmente, milhares de trabalhadores vão para o desemprego. As únicas pessoas que ficam na empresa, serão os pilotos e pessoal de manutenção. Boa parte do pessoal de terra irá para o desemprego.

No handling, após as 330 pessoas despedidas em Faro, o mesmo se poderá passar no Porto e Funchal devido à concorrência das Low Cost que trabalham com a Portway. A Tap trabalha com a Groundforce.

A TAP vai ter que abandonar as rotas que não são rentáveis. A rota mais lucrativa é Lisboa-Luanda. As rotas para o Brasil e África são lucrativas. Na U.E., o problema é a concorrência das Low Cost que fizeram cair os preços dos bilhetes para valores muito baixos.

Se fizerem um novo aeroporto em Alcochete arriscam-se a cair numa situação caricata: ter um novo aeroporto sem a empresa de bandeira, pois entretanto a TAP faliu. Ou seja, algo parecido como o aeroporto de Beja. Alcochete seria assim uma Beja em ponto gigante” — R.

quarta-feira, junho 22, 2011

Privatizem a TAP e a SATA, já!

TAP falida encomenda aeroportos em vez de aviões!
Entretanto, a aviação comercial recupera e recebe mais encomendas do que pode satisfazer



Assim que inaugurar a estação de Metro da Portela, o aeroporto de Lisboa será uma das mais competitivas interfaces de mobilidade do mundo. Poucos aeroportos baterão a Portela em matéria de pontualidade, acessibilidade, rapidez e conforto (mas convém, apesar das boas notícias, libertar a ANA da sua actual tacanhez partidária).

Quanto à mentira da saturação do aeroporto de Lisboa (1), basta consultar as tabelas de Slots para verificar que apenas entre as 7 e as 8 da manhã os Slots se encontram, em alguns dias e épocas do ano, ocupados a 100%. O interesse da Ryanair e da easyJet pela Portela é outro sinal claro de que o argumento fabricado pela malta perigosa do NAL —novo aeroporto da Ota em Alcochete, também conhecido por Novo Aeroporto de Lisboa— é um descarado embuste. Para as Low Cost que têm vindo a comer o bolo dos lucros do transporte aéreo de e para o nosso país, no cocuruto pelado do gaúcho que dirige a TAP, este é um excelente aeroporto e deverá sê-lo durante os próximos 20 anos, pelo menos. Depois desta data duvido que o petróleo permita a euforia do transporte aéreo dos últimos 30 anos.

Como se os Slots na Portela não estivessem às moscas, antes e depois das horas sétima e oitava da manhã, a União Europeia prepara-se para atacar as obstruções e negociatas duvidosas com os tempos disponíveis de descolagem/aterragem nos aeroportos europeus. Sabe-se que, no caso da TAP, uma das causas da sua ruína foi ter andado a segurar Slots à custa do contribuinte — um exemplo claro de companhia pública falida alimentada a pão de Ló!

EC study: Slot review could result in more than €5 billion in benefits by 2025. ATW (1-6-2011)

“According to the authors, there are problems with slot coordination (e.g., some aspects of how coordinators are structured could be interpreted to limit the independence of the coordinator), slot “misuse and abuse,” and slot allocation (e.g., at some congested airports administrative mechanism has led to inefficient allocation “as scarce capacity is used for flights with small aircraft” and secondary trading is not transparent, particularly at non-London airports).

[...] The study also concludes that allowing the introduction of market-based mechanisms would help to ensure that slots can be “used by those carriers able to make the best use of them,” the EC said in a statement.”

Finalmente, a Portela tem ainda algo a fazer para expandir a sua capacidade operacional!

Por um lado, o taxiway da Portela precisa de um prolongamento para evitar cruzamentos de pista (valor estimado da obra: 50 milhões de euros); e por outro, o incremento de corredores aéreos de aproximação às pistas pode ser conseguido de um dia para o outro, terminando a farsa do chamado "aeroporto militar de Figo Maduro" e encerrando o já inútil aeródromo militar de Sintra (a guerra colonial acabou há trinta e sete anos!)

Nos primeiros seis meses deste novo governo é preciso atacar com frieza analítica e coragem política as posições irracionais ocupadas pelos lóbis corporativos — sejam estes civis, ou militares!

Sobre este tema recebi esta manhã um comentário agudo e mordaz da Blogosfera anónima, que reproduzo:
    “...a easyJet tem bem claro aquilo que sempre se disse e defendeu: a Portela é um aeroporto ideal para as Low Cost, ou seja, chega-se à conclusão de que a Portela apenas não serve para a TAP. Tirem pois a TAP do Terminal 2 e deixem o mercado funcionar. Por certo que a Ryanair irá abrir por cá uma base, onde como se espera lá irá provocar a erosão nos tráfegos da TAP. Mas afinal não há qualquer problema nestas perdas de tráfego, pois a TAP desde que aqui se escreve negoceia em aeroportos.”

Entretanto o mundo não pára, e a aviação comercial recupera!

O novo Airbus A320 NEO já só aceita encomendas para depois de 2016. O grande apetite por este avião decorre da sua extraordinária eficiência energética — a prioridade económica que já entrou nas cabeças dos executivos mais atentos e que têm mais a ganhar ou perder.

A privatização da TAP e da SATA devem avançar quanto antes!

Creio que chegou o momento de colocar a TAP nas mãos de um grande grupo aeronáutico. Por mim, aposto na Lufthansa e em ligações fortes ao Brasil e Angola, para começar. O Atlântico norte já está nas mãos da nova aliança entre a Ibéria, British Airways e American Airlines. O Atlântico sul deverá ficar noutras mãos... europeias, claro!

Airbus e Boeing aceleram em ambiente de retoma
Por Luís Pimenta/OJE (com agências); 21/06/11, 01:06

O sector da aviação civil voltou a descolar. No Salão Aeronáutico de Le Bourget, um dos mais importantes do calendário mundial, são esperadas encomendas recorde e propostas tecnológicas sem precedentes. Ironicamente, são os próprios fabricantes que poderão não conseguir dar resposta...

A velocidade sente-se em praticamente todos os segmentos de mercado: nos "narrow-body" (Boeing 737, Airbus A320), nos "wide-body" de longo curso (A350, B 787) e nos aparelhos de grande porte e alcance (A380, B747-8). Com novos modelos e um esforço pelo aumento da capacidade de produção, os fabricantes tentam dar resposta ao previsível crescimento de encomendas, fruto da descolagem que se começa a sentir na economia global e, acima de tudo, dos voos cada vez mais altos dos países emergentes.

[...] Os especialistas do mercado consideram que esta retoma volta a colocar em foco os "narrow-body" (A320/ B737): "As encomendas para as famílias A320 e B737 encontram-se em níveis recorde", refere Paul Sheridan, da empresa de consultoria aeronáutica Ascend.

“Os dois fabricantes contam com mais de 4300 encomendas destes populares modelos, contra as cerca de 1200 registadas no final de 2002", sublinhou o mesmo responsável, considerando que, "ao ritmo actual de produção, será praticamente impossível encomendar um destes aparelhos para entrega antes de 2016”.

NOTAS
  1. A capacidade da Portela é de 21 a 23 milhões de passageiros/ano, e 40 movimentos/hora (descolagens+aterragens). Em 2010 a Portela movimentou 14.108.955 passageiros. Fora das duas únicas horas de ponta do dia, o aeroporto da Portela mais parece um aeródromo de província. É o lá vem um! Para verificarmos esta realidade à lupa basta consultar o serviço da ANA, Online Coordination System. Passos da navegação no sítio online: “Runway Availability” -> Week -> “Country”: Portugal -> “Airport”: LIS -> “Week containing”: 20JUN (ou outra data qualquer) Compare a disponibilidade de Slots da Portela com, por exemplo, London-Heathrow (LHR).

Bloco à deriva

Louçã e Fazenda: ortodoxos, autoritários e sem imaginação. Que fazer?

Miguel Portas, Marisa Matias e Rui Tavares: novo Bloco ou cisão?

Rui Tavares rompe com o Bloco de Esquerda

“Rui Tavares decidiu romper politicamente com o Bloco de Esquerda, depois de Francisco Louçã não lhe ter respondido a um pedido de desculpas público exigido pelo deputado europeu eleito como independente pelo Bloco de Esquerda.

O historiador exigira um pedido de desculpas público ao líder do BE, Francisco Louçã, depois de este o apontar como tendo estado na origem de informações enganosas sobre os fundadores desta força política.

A exigência de Rui Tavares consta numa nota de imprensa do seu gabinete no Parlamento Europeu e visava responder a um texto publicado por Francisco Louçã, às 23h18 de sexta-feira passada, na página do facebook do líder do Bloco de Esquerda (BE).” — Expresso, 21-06-2011.

A derrota eleitoral do Bloco de Esquerda foi demasiado grande e grave para que dela se não tirem as devidas consequências. Recusar arrogantemente falar com a Troika deveria, no mínimo, custar os postos de direcção a Francisco Louçã e a Luís Fazenda. Mas perder metade dos votos numa única eleição merece outro desfecho bem mais radical, mas também mais ambicioso, do que um simples acto de contrição jesuíta, como aquele que Louçã fez depois de se ter visto cercado de críticas e de olhares públicos reprovadores. Merece uma cisão!

Num partido menos cheio de presunção democrática, e mais sério e pragmático, o desaire em cadeia causado pelas decisões dos fundadores mais activos do Bloco, Franciso Louçã e Luís Fazenda, deveria já ter levado este movimento partidário a uma séria reflexão ideológica e programática, da qual não poderia deixar de sair um rompimento claro com os dois cadáveres ideológicos que actualmente impedem o crescimento do projecto, e até fazem perigar a sua existência. Refiro-me ao cadáver do maoísmo, protagonizado pelo quadrado Luís Fazenda, e refiro-me ao cadáver do trotskismo revisionista, oportunista e pueril, protagonizado pelo linear Louçã.

Estes dois fósseis ideológicos podem merecer a nossa curiosidade histórica e cultural, mas não qualquer tipo de atenção, e muito menos devoção. Se as duas viúvas negras que transportam estas enteléquias ao peito fossem mais jovens, ainda se poderia esperar um arrependimento, ou uma auto-crítica consequentes — e o Bloco lá mudaria de vida e de ideias, adaptando-se aos tempos. Há tanto por onde escolher. Mas como está a coisa, parece-me improvável.

Não há mesa que resista ao leninismo organizativo de Fazenda e de Louçã. Logo, só resta uma alternativa para salvar o que resta de um projecto cuja ambição é captar um eleitorado urbano instruído: afastar Louçã e Fazenda, ou partir para outra aventura política e cultural, mais actual, séria e promissora.

A decisão de Rui Tavares não poderia ser mais clara a este respeito. Creio que aponta e bem para a necessidade de se fundar um verdadeiro partido ecológico em Portugal, centrado na crise energética, no colapso ambiental e na mudança do paradigma da felicidade. Os modelos convencionais do progresso, do crescimento económico e do trabalho não só deixaram de fazer sentido, como a simples sobrevivência dos mesmos ameaça de morte a humanidade e a própria vida na Terra. Uma nova filosofia holística sobre a sustentabilidade de Gaia precisa de inspirar rapidamente as instâncias políticas da sociedade. Para já, não se conhece método mais eficaz, limpo e instrutivo, para lá chegar, que não seja a formação de um partido político.

Oxalá a saída de Rui Tavares possa em breve ser acompanhada de ruptura na mesma direcção no grupo de deputados que o Bloco elegeu para a Assembleia da República. Há hoje dicotomias muito mais urgentes e fundamentais do que a velha dicotomia Esquerda-Direita.

POST SCRIPTUM (22-06-2011 11:20)

Nem de propósito! A entrevista a Miguel Portas —que saúdo— foi publicada esta manhã pelo i, mais de oito horas depois desta postagem. Premonição pura.
Miguel Portas “A renovação do Bloco tem de passar pela saída dos quatro fundadores”i, 22-06-2011 08:21

Seguro defende mais Europa

O PS tem agora tempo para pensar e debater. Aproveite-o!

A Europa na encruzilhada. António José Seguro (Facebook)

“Se vier a ser, como espero, secretário-geral do Partido Socialista, proporei aos demais líderes socialistas dos países da União Europeia uma reflexão e acção conjuntas com vista à saída da presente crise, nomeadamente a definição de medidas concretas para o reforço do governo político e económico no seio da União Europeia. Na minha família política existe já um acervo interessante de reflexão recente, nomeadamente as contribuições de Jacques Delors, Felipe Gonzalez, Giuliano Amato e Mário Soares. Nos momentos de crise exige-se determinação e imaginação redobradas. Chegou a altura da família socialista, trabalhista e social-democrata europeia assumir um compromisso forte dando a máxima prioridade ao crescimento económico e ao emprego. A Europa tem que agir em conjunto. Não podemos continuar com uma política monetária e várias políticas económicas. Urge articular as respostas contra a crise com as reformas de futuro que necessitamos.”

A atitude moderada de António José Seguro (AJS) agrada-me. Alinhar com a ideia de uma União Europeia com governo económico próprio (e não apenas um governo financeiro, ainda por cima subsumido aos interesses do eixo Franco-Alemão), parece-me excelente.

Um governo económico da União deve significar basicamente que os diversos estados europeus precisam de ser vistos e tratados, não apenas como países que concorrem entre si, mas também como regiões de um todo estratégico solidário, onde não pode haver assimetrias fiscais, nem laborais, nem sociais, nem educativas, nem culturais, fora de intervalos de segurança a definir. A actual crise financeira e social serve de lição: ou os estados cedem mais da sua soberania substantiva em prol da robustez e força colectivas da União, ou arriscamos todos a dar de bandeja ao dólar americano 60 anos de construção europeia!

Mas AJS tem também que compreender que não é mais possível (em nenhuma parte do planeta!) crescer à custa do endividamento estrutural das economias e das nações. E que, portanto, o Estado Social terá que sofrer necessariamente uma profunda revisão. Começar por rejeitar esta mudança vital ao bem-estar relativo dos povos, nomeadamente em sede de revisão constitucional, não é boa ideia. Vamos ter que começar a pensar na maneira de sermos felizes crescendo menos e distribuindo mais justamente!


POST SCRIPTUM

A este propósito vale a pena ler este provocador artigo de Charles Hugh Smith, que recuperei já depois do comentário que fiz no Facebook ao escrito programático de AJS:

The Death of Demand - The Post-Consumer Debt Economy.
By Charles Hugh Smith (of two minds)

The Keynesians and other economists have no ideas for confronting the reality of a post-consumerist debt economy and society. Like frenzied rats in a cage, they only have one lever to push to release the cocaine-laced pellets, and so they've been pushing it for 40 years.

Now they're hitting the bar with frantic energy, hoping the crazed and addled rats around them can dredge up some "demand" for more pellets to "consume." But the consumer-rats are bloated and lethargic; they've consumed so much debt-drug that they're near death.

Like a star which has expanded and now cannot maintain its grand state, the debt-based consumerist economy is now poised to experience a supernova implosion.

segunda-feira, junho 20, 2011

Alea jacta est

Só a recessão nos pode salvar!
Os dados da escassez energética estão lançados, e os do colapso ambiental também.
Só uma profunda, prolongada e muito dolorosa recessão global poderá evitar o pior. Mas poderá?



Agência chinesa de rating baixa notação do Reino Unido, em Maio, de AA- para A+. Alguém ouviu falar disto?
Dagong Downgraded the Sovereign Credit Rating of United Kingdom

Dagong Global Credit Rating Co., Ltd. (hereinafter referred to as “Dagong”) has downgraded the local and foreign currency sovereign credit rating of the United Kingdom of Great Britain and Northern Ireland (hereinafter referred to as the “UK”) from AA- to A+ with a negative outlook for its solvency. The downgrade reflects the true status of the deteriorating debt repayment capability of the UK and the difficulty in improving its sovereign credit level in a moderately long term in the future — Dagon Global Credit Rating.

O consumismo ocidental foi uma fuga em frente destinada a criar os famosos mercados internos baseados no endividamento progressivo das sociedades do chamado bem-estar social. As indústrias fugiram, em geral, do Ocidente para o Oriente, ao longo das últimas quatro décadas, em busca de trabalho barato e de condições de exploração agressiva, por forma a compensar basicamente uma grande perda, que hoje se tornou irreversível, e cada vez mais evidente: a perda da energia fóssil barata.

As sociedades ocidentais, induzidas pela ideologia da gratificação instantânea plasmada no consumismo e no hedonismo generalizado acabaram por empobrecer paulatinamente, ainda que sem se darem propriamente conta do fenómeno. Só agora, com o colapso do gigantesco mercado da especulação financeira em volta do endividamento doméstico, empresarial e público, começamos a dar-nos conta da tragédia.

Os Estados Unidos estão à beira de novo colapso financeiro, tão ou mais sério do que os colapsos em curso no Reino Unido e na União Europeia. Basta somar as dívidas soberanas de todos estes países, e a respectivas dívidas externas, para vermos a dimensão do problema criado. Se as dívidas são, em si mesmas, difíceis de pagar, tapar o buraco negro nuclear formado pelos activos virtuais, activos reais mas em queda abrupta de valor, e contratos de derivados financeiros, com especial destaque para os especulativos e obscuros OTC, é uma missão impossível. Insistir em virar a cara a esta tragédia anunciada convocará inexoravelmente novos holocautos sociais, revoluções e guerras destinadas a provocar uma devastação imensa. Como aterrorizado confessa Jean-Paul Trichet ao especialista da CNN, Richard Quest: “Greece is part of bigger problem”.

China: European recovery crucial (China Daily)

BEIJING – China registered new concern Friday over the fate of its top trading partner, the embattled eurozone, saying the ability of stricken countries to overcome their financial woes is of "crucial importance."

China's support in terms of buying European debt and promoting imports is beneficial to both sides, Vice Foreign Minister Fu Ying told reporters at a briefing ahead of Premier Wen Jiabao's visit next week to Hungary, Britain and Germany.

But she expressed some anxiety over the fate of the eurozone. Greece is at risk of defaulting on its debt even after a massive bailout, and European leaders fear the country's problems could hurt other struggling economies that use the euro, including bailed-out Ireland and Portugal.

A China já percebeu que se não comprar parte significativa da dívida europeia (o que está fazendo desde que, em Novembro passado, Hu Jintao visitou Portugal e Espanha) ao mesmo tempo que se desfaz de consideráveis volumes de obrigações americanas, perderá o seu maior parceiro comercial. E sem este, ao mesmo tempo que as suas exportações para os EUA rendem cada vez menos, o crescimento chinês poderá entrar rapidamente em colapso, com tudo o que tal paragem significará para a estabilidade social e política desta potência emergente.

Japan Posts Second Biggest Trade Deficit In History (Zero Hedge)

For those who may not have noticed it, the headline says "deficit" and pertains to Japan: once upon a time a booming export economy. The reason: the ongoing collapse in export trade, after May exports dropped by 10.3% from a year ago, and just better than April severe economic contraction of 12.4%. Consensus was for an 8.4% decline. The net result was a monthly deficit of 853.7 billion yen, or $10.7 billion, the second biggest inverse surplus ever. And just like in Europe, where things are going to go from insolvent to perfectly solvent any minute now... just not yet... so in Japan the economic renaissance which will cause the economy to surge (unclear how: no new monetary stimulus, and the recently announced fiscal stimulus of Y500 billion in new loans will do precisely nothing to boost anything except for some corrupt bureaucrats Swiss bank accounts) is coming any minute.... just not yet.

O Japão tem a maior dívida pública do planeta: 225,8% do PIB! Mas até agora dizia-se que a coisa era suportável, porque o povo japonês continua a ser maioritariamente composto por uma espécie de servos da nova aristocracia tecnológica, e porque o país do Sol Nascente, além de boicotar ardilosamente qualquer importação de bens manufacturados fora do país, é o quarto exportador mundial, depois da União Europeia, China, Alemanha e Estados Unidos. O tsunami e sobretudo a tragédia nuclear de Fukushima, a par da recessão mundial e da desvalorização agressiva do dólar, e da manutenção da moeda chinesa muito abaixo do seu real valor, vieram colocar em risco o grande motor das exportações nipónicas.

Temos, em suma, demasiados países, e demasiadas potências nucleares endividadas, com populações envelhecidas e dominadas por bandos de gnomos e piratas incorrigíveis. Duvido que na Europa, Rússia e Japão haja suficiente gente nova para o cometimento de verdadeiras revoluções, ou mesmo guerras civis. Mas já não direi o mesmo relativamente ao continente americano, à África, ao Médio Oriente e a uma parte da Ásia (ver mapa). Sem uma gestão demográfica mundial inovadora e corajosa, espera-nos o pior.

A Grécia, se continuar pela via do protesto oportunista, acabará pior do que está. Portugal e Espanha, por sua vez, terão que fazer os impossíveis para evitar cair na armadilha da agitação social orquestrada a partir de Wall Street. Uma revolução de esquerda é praticamente impossível, pelas seguintes razões: não há programas credíveis; não existe uma base social de apoio coerente; e não há dinheiro. Logo, o que vemos são protestos compreensíveis, mas inconsequentes. Porém, se a Esquerda burocrática de Portugal e Espanha resolver apostar no quanto pior melhor, terá que arcar mais tarde com a responsabilidade ter ajudado a entregar o euro ao dólar! É isto que Francisco Louçã quer?

POST SCRIPTUM

Les océans «dans un état critique»
La vitesse de dégénérescence des mers est bien plus rapide que ce qui avait été prévu, concluent les spécialistes de six pays (Le Devoir.com, 21-06-2011)

Por paradoxal que seja, evitar um colapso ecológico à escala planetária já só depende da nossa ruína a curto prazo, e esta, por sua vez, acabará por resultar da confluência entre duas curvas catastróficas: a do Pico do Petróleo, e a da implosão económica mundial causada pelo buraco negro em que se transformou o mercado global de derivados financeiros. Se conseguíssemos escapar a esta tenaz, morreríamos como espécie, arrastando connosco uma extinção em massa da vida, nomeadamente à superfície dos oceanos e nos continentes, por via da destruição ecológica que o nosso crescimento como espécie representa para as outras espécies e para o fenómeno da vida em geral. A humanidade tornou-se uma espécie altamente tóxica, simultaneamente assassina e suicida. Convém pois relativizar a crise financeira em curso, evitando clubismos desnecessários. Não são as suas causas próximas que importa atacar, mas as suas causas sistémicas — e estas, não sei se teremos capacidade de realizar. A inércia é colossal!

sábado, junho 18, 2011

Um governo leve

Pensando melhor: é um excelente governo!
Se a intriga do Expresso corresponde à verdade, mais parece que Passos Coelho seguiu um ritual de convites previamente orquestrado para chegar a um bom resultado final. E chegou!

Assunção Cristas (CDS-PP): uma das grandes esperanças do novo Governo.
Foto:©Pedro Elísio/Negócios
Quatro independentes lideram quatro das pastas mais importantes. Além de Álvaro Santos Pereira para Economia, Vítor Gaspar estará à frente das Finanças enquanto Nuno Crato substituirá Isabel Alçada no Ministério da Educação. Paulo Macedo assume a tutela da Saúde — Jornal de Negócios.

Há um equilíbrio surpreendente e fresco entre partidocratas, jovens políticos ambiciosos, e técnicos independentes com formação e competência comprovadas, mas sobretudo com visões (que partilho) sobre o presente que infelizmente temos e o futuro pelo qual podemos e devemos lutar. A quase ausência de caras gastas e de contrabandistas de influências e lugares são as duas grandes alegrias que esta composição governativa começa por dar ao país. Passos de Coelho acaba de ser promovido, por mim, a Passos Coelho. Oxalá não me arrependa!

A primeira impressão causada pelo novo elenco de governo, no eleitorado que despachou José Sócrates para a capital francesa, foi certamente positiva (aguardemos pela sondagem da Marktest).

A surpresa, no entanto, foi grande, tão grande que os jornalistas, as redacções e os opinocratas de serviço andaram, todo o dia de ontem, à nora: sem fotos decentes dos novos ministros, e balbuciando dúvidas pela falta do que chamaram "pesos pesados" — i.e. a malta do costume, que ou deitou este país abaixo, ou ajudou a deitar este país abaixo, ou deixou deitar este país abaixo sem nada dizer até que a bancarrota se tornou óbvia para todos. Não é só José Sócrates que deve pagar pelos tremendos erros e crimes cometidos no passado recente. Há toda uma geração de cúmplices, por acção ou omissão oportunista, que deveriam acompanhar o mitómano que nos conduziu ao abismo, na sua declarada intenção de emigrar para Paris. Atenas, aliás, seria a cidade mais indicada para os novos estudantes de filosofia. Eu próprio só acordei em 2003 para a desgraça que vinha a caminho, quando deveria ter acordado muito antes!

Um governo com onze ministros é mais do que suficiente!

Os ditos super-ministros evitam os conflitos de poder e os jogos de empurra entre pastas afins. Não nos esqueçamos que actualmente Portugal tem menos população, às vezes metade dos habitantes, do que qualquer destas vinte e uma cidades (World Atlas) — que são naturalmente governados por câmaras municipais, ou quanto muito, governos metropolitanos (a solução de que precisamos urgentemente para as cidades-região de Lisboa e Porto)
  1. Tóquio, Japão - 32 450 000
  2. Seul, Coreia do Sul - 20 550 000
  3. Ciade do México, México - 20 450 000
  4. Nova Iorque, EUA - 19 750 000
  5. Mombaim, Índia - 19 200 000
  6. Jakarta, Indonésia - 18 900 000
  7. São Paulo, Brasil - 18 850 000
  8. Deli, Índia - 18 680 000
  9. Osaka/Kobe, Japão - 17 350 000
  10. Xangai, China - 16 650 000
  11. Manila, Filipinas - 16 300 000
  12. Los Angeles, EUA - 15 250 000
  13. Calcutá, Índia - 15 100 000
  14. Moscovo, Federação Rússia - 15 000 000
  15. Cairo, Egipto - 14 450 000
  16. Lagos, Nigéria - 13 488 000
  17. Buenos Aires, Argentina - 13 170 000
  18. Londres, Reino Unido - 12 875 000
  19. Pequim, China - 12 500 000
  20. Carachi, Paquistão - 11 800 000
  21. Daka, Bangladesh - 10 979 000
Ou seja, difundir a ideia de que alguns ministros não podem suportar o peso de tantas áreas político-administrativas não passa de uma treta para perpetuar a obesidade burocrática do Estado, arranjar tachos para amigos e familiares, e facilitar as movimentações das corporações e grupos de interesses desregulados que há décadas empatam e arruínam o país.

Mas há ainda dois outros factos (como lembrei em post anterior) que arrumam esta falsa polémica num ápice. Aqui vão:
  • O Executivo do Estados Unidos, 1ª economia mundial, e 3º em população, tem 15 departamentos (equivalentes aos nossos ministérios);
  • O Executivo do Japão, 2ª economia mundial, e 10º em população, tem 11 ministérios;
  • O Executivo de Portugal, 38ª economia mundial, e 77º em população, tem 16 ministérios e 36 secretarias de Estado.
 Ou seja, um governo com onze ministros é mais do que suficiente para as encomendas, e nem sequer precisa de muitos secretários de Estado. O que sim faz falta é despartidarizar os cargos de director-geral, director de serviço, chefe de divisão e presidente e vice-presidente de instituto, lançando um concurso nacional para a renovação destes cargos, de alto a baixo, baseado não nas cores políticas ou ligações familiares, mas na apresentação de CVs e na prestação de provas nacionais para a ocupação de cada um dos lugares. São estes lugares de chefia renovados que devem ter o conhecimento, experiência e autoridade necessárias para manter a máquina do Estado a funcionar bem, sob a orientação estratégica, transparente e precisa de um governo ágil, visionário e responsável.

Claro que para termos um tal governo são precisos ministros e ministras com personalidade, conhecedores, independentes e dispostos a defender as suas convicções, discutindo-as abertamente nos lugares próprios, e não uma turma de mortos-vivos da laia do último governo de José Sócrates.

O governo é este:
  • Primeiro Ministro - Pedro Passos Coelho
  • Ministro Negócios Estrangeiros - Paulo Portas
  • Ministro das Finanças - Vítor Gaspar
  • Ministro da Economia - Álvaro Santos Pereira
  • Ministro da Educação - Nuno Crato
  • Ministro da Saúde -  Paulo Macedo
  • Ministro da Solidariedade e da Segurança Social - Pedro Mota Soares
  • Ministro da Agricultura, Ambiente e Território - Assunção Cristas
  • Ministro da Defesa - Aguiar Branco
  • Ministro da Justiça - Paula Teixeira da Cruz
  • Ministro da Administração Interna - Miguel Macedo
  • Ministro dos Assuntos Parlamentares - Miguel Relvas
  • Secretário de Estado da Presidência do Conselho de Ministros - Marques Guedes
  • Secretário de Estado adjunto do PM - Carlos Moedas
  • Secretário de Estado da Cultura - Francisco Manuel Viegas
Finalmente, quanto à suposta despromoção da área cultural, dois argumentos apenas:
  1. As principais potências culturais do planeta —Estados Unidos, Alemanha, Japão e Reino Unido— não têm ministérios da cultura. Logo, o problema não está na burocracia nem nos subsídios, mas, uma vez mais, na visão, na estratégia e no sistema de aplicação das forças e dos investimentos disponíveis;
  2. Nunca soube quem é a senhora Gabriela Canavilhas, mas sei há muito quem é o Francisco José Viegas.