quinta-feira, agosto 30, 2018

Um poder que vem de trás...


O presidente da Câmara de Pedrógão Grande, Valdemar Alves, com o primeiro-ministro, António Costa, e o presidente da República em segundo plano.

Não são só alfaces estragadas


Em 2016, últimos dados disponíveis de acordo com a sistematização feita pela Pordata usando dados do Ministério do Trabalho, atingimos nesse ano o número mínimo de trabalhadores em greve (sete mil). O número de paralisações pode dizer-se que estabilizou – mais uma do que em 2015. 
[...] 
O que conseguimos hoje perceber melhor é que algumas elites dependentes do Estado não queriam mais o PSD de Pedro Passos Coelho a governar o país. Era preciso que o Estado voltasse a ser rapidamente o que tinha sido para todos aqueles que dependem dele. E não estamos a falar dos funcionários públicos em geral, mas sim de uma elite fundamentalmente lisboeta que vive à mesa do Orçamento – do lado da despesa ou da receita – e que inclui também empresários. 
Helena Garrido—“O poder das elites e de António Costa”
Observador, 30/8/2018, 7:04

Sobre o excelente, e como sempre corajoso texto de Helena Garrido, publicado no Observador, apetece-me comentar o seguinte:

O gráfico das greves, mencionado no artigo, não revela grande coisa sobre a Geringonça, pois até houve mais uma greve em 2016 do que em 2015; o que sim revela é uma tendência consistente para a perda de capacidade reivindicativa do setor do trabalho, incluindo a dos sindicatos do PCP: 363 greves em 1986, abrangendo 232 mil trabalhadores, com 382 mil dias de trabalho perdido; 76 greves em 2016, abrangendo 7 mil trabalhadores e 12 mil dias de trabalho perdidos—PORDATA - Greves (1986-2016).

Esta tendência é, aliás, uma consequência do fim da era de crescimento rápido da economia mundial—declínio acelerado das reservas de energia fóssil barata, e queda da procura agregada global.

Já no que toca às elites urbanas de Lisboa, eu seria mais abrangente: o ódio aos memorandos da Troika (1), impostos ao governo do PS e assinados por este, vem não apenas das elites atingidas, nomeadamente nos setores financeiro e rentista do regime, não apenas das burocracias partidárias sem exceção, mas também, e mais gravemente, dessa imensa mole que é o neo-corporativismo herdado de Salazar, cujo funcionamento em ditadura insular ainda se aguenta, mas que, numa economia aberta e em democracia vai acabar por morrer, ou dar lugar a nova ditadura, praticamente inevitável se houver um colapso da União Europeia.

Para já, a Geringonça está tão atada de pés e mãos quanto o governo de Passos Coelho. Limita-se a fazer propaganda com o orçamento de estado invariavelmente deficitário que é capaz de produzir, oferecendo torradeiras, perdão, viagens de borla na CP e descontos temporários no IRS a alguns emigrantes que regressem a tempo de votar no PS, ao povo léu, e à corte democrática, ao mesmo tempo que estupora criminosamente a infraestrutura económica, material e política do país.

Portanto, Helena, a coisa é mais grave do que pensa.


Post scriptum

A dita revolução dos cravos não matou o salazarismo. Deu-lhe uma nova face, de balbúrdia democrática, muito parecida com a da primeira República. Ou seja, há uma mole rentista, corporativista, partidocrática e burocrática, sebosa e indigente, queiroziana em suma, que não mudou e perdura na sua histórica e venal inutilidade. Prova disto mesmo são os níveis de emigração, de iliteracia funcional e de dislexia. Já viram como fala o nosso PM?

As ideologias dos partidos, de direita, de esquerda e de extrema esquerda não passam de máscaras de conveniência e demagogia. Nenhuma delas pariu, em 40 anos de pós-ditadura, uma idea nova que fosse. Ideologia? Esquerda? Direita? Nada! Limitaram-se a importar o que a social-democracia alemã, ou a ex-URSS tinham para dar e vender. Nada mais. Hoje, morta a segunda, e exangue a outra, o país, o nosso país, afunda-se como um Titanic sur Mer (excelente nome dado pelo Manuel João Vieira ao seu bar de escárnio e mal cantar ;)

Disse numa das primeiras emissões do censurado (sim!) programa semanal da RTP2, Política Sueca, que a Geringonça iria durar uma ou duas legislaturas. E afirmei também que era bom a democracia conhecer finalmente o PCP e o Bloco. Se a UE não implodir de vez na próxima década (2020-30), e não deverá implodir, apesar do que se teme, o que irá certamente mudar no nosso país é a liturgia do nosso sistema partidário. Para melhor, espera-se. O desvairado Santana Lopes é uma dessas lebres que, aos ziguezagues e caretas, ainda poderá precipitar a reação em cadeia que todos esperamos, como réplicas infinitas de Godot.


NOTAS
  1. Vale a pena recordar os factos, pois a manipulação partidária dos mesmos (fake news) é constante. Para tal recomendo este post do blogue Aventar, “Memorando da Troika – Em Português”, de que cito a introdução:

    Foi apresentado no dia 3 de Maio um Memorando de Entendimento. Esta versão foi aprovada pelo PSD e pelo CDS-PP e corresponde à tradução feita pelo Aventar que se pode ler mais abaixo.

    No entanto, no dia 17 de Maio, o governo assinou outro Memorando de Entendimento, diferente do anterior. Notar que o governo não achou necessário informar os portugueses nem sequer os próprios partidos signatários da versão do dia 3 e que muito provavelmente terão de ser eles a cumprir este “programa de governo”.

    Ler o original completo


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sexta-feira, agosto 24, 2018

Quem vai ganhar esta guerra?

Mao Zetrump by AntiGanda

China: um gigante com pés de barro a que falta democracia, estado de direito e liberdade


O problema das guerras é que sabemos como começam, mas não sabemos como acabam :(

Nesta guerra comercial e financeira entre os Estados Unidos e a China, a primeira pergunta a fazer é esta: aceitam os Estados Unidos perder esta guerra? E se não aceitarem, por quantos anos serão capazes de a manter?

E a China, acha que pode continuar a trocar trabalho barato e sem direitos por ‘know how’? Ou a manter o ‘yuan carry trade’, uma estratégia monetária e cambial agressiva que copiou dos japoneses (o ‘yen carry trade’)? Até quando? E se tiver que recuar perante as exigências do America First, que poderá ocorrer no interior desta velhíssima forma de despotismo asiático?

Os sinais de falta de liberdade e de democracia na China são cada vez mais preocupantes. Ora, sem democracia, nem estado de direito, mas sobretudo sem liberdade, a criatividade chinesa regredirá para os patamares de improdutividade burocrática ancestrais, e a subsequente migração das empresas tecnológicas ocidentais para outras paragens, além dos Estados Unidos (por exemplo, México, Brasil, Colômbia, Uruguai, Marrocos, Angola, etc.) poderá tardar menos de uma década.

Em 2028-2030, a China de hoje poderá já não existir.

A prioridade anti-russa de Hillary Clinton e dos falcões do Partido Democrata está, pois, completamente errada. Se tiver que haver uma guerra quente, esta não será entre os Estados Unidos e a Rússia, mas entre a China e os Estados Unidos. Não será no Leste europeu, mas no Pacífico e no Índico. Ou seja, Trump está a defender os interesses da Améfica de uma forma racional, apesar dos maus modos em que o faz. Quem demorar a ler este cenário terá grandes perdas no reposicionamento estratégico a que for obrigado pelos principais contentores da guerra—que já começou—pelo último poço de petróleo, e pelo último atum selvagem.

China e EUA impõem mutuamente tarifas alfandegárias de 25% a partir de hoje 
 SAPO 24  
Agosto 2018
A partir de hoje, os funcionários das alfândegas norte-americanas irão recolher taxas adicionais sobre um conjunto de 279 produtos chineses que, no ano passado, representaram 16 mil milhões de dólares (13.800 milhões de euros) nas importações dos Estados Unidos do país asiático. 
[...] 
Como medida de retaliação, a China promete retaliar com taxas semelhantes aos produtos oriundos dos EUA, incluindo produtos energéticos, como o carvão, e automóveis. 
Washington acusa ainda a China de “táticas predatórias”, que visam o desenvolvimento do seu setor tecnológico, nomeadamente forçar empresas estrangeiras a transferirem tecnologia, em troca de acesso ao mercado chinês. 
A China fabrica 90% dos telemóveis e 80% dos computadores do mundo, mas depende de tecnologia e componentes oriundos dos EUA, Europa e Japão, que ficam com a maior margem de lucro. 
Desde o início das disputas comerciais, a moeda chinesa, o yuan, desvalorizou-se mais de 8%, enquanto a bolsa de Xangai, a principal praça financeira do país, caiu mais de 12%. 
[...] 
O líder norte-americano já avisou que caso Pequim rejeite ceder às exigências norte-americanas e continue a retaliar, irá punir ainda mais produtos chineses, até um total de 550 mil milhões de dólares.
China’s Xi says internet must be “clean and righteous” 
Reuters 
August 2018
BEIJING, Aug 22 (Reuters) - The internet must be “clean and righteous” and vulgar content must be resisted in the field of culture, Chinese President Xi Jinping told a meeting of senior propaganda officials, state media said on Wednesday. 
The government has been tightening controls over internet content as part of what it says are efforts to maintain social stability, taking on “vulgar” and pornographic content as well as the unauthorised dissemination of news.
China’s yuan carry trade, an anchor and a risk for Asia 
MarketWatch 
Vidya Ranganathan 
January 2014
SINGAPORE (Reuters) - When China averted a default in its shadow banking industry last week in the midst of an emerging market meltdown, investors globally heaved a sigh of relief
Chinese yuan carry trade going gangbusters, but watch your step, warns Deutsche Bank  
MarketWatch
June, 2013 
There are few forex strategies more talked about than the \”carry\” trade, the practice of borrowing in a low-interest rate currency and investing in assets denominated in a higher-yielding currency.  Traders can enjoy steady profit by capturing the differential — or carry — between the rates.
What Is A Currency Carry Trade?
FXCM

A carry trade is a popular technique among currency traders in which a trader borrows a currency at a low-interest rate to finance the purchase of another currency earning a higher interest rate. 
[...] 
As an example, an investor could borrow money from the bank at a rate of 1% annually and invest that money in the purchase of a currency in a nation where the interest rate is 5%. The investor would make a net return of 4% annually on that investment for the period over which the trade was in effect (or loss of 4% if the rates were reversed).

A ameaça que a China representa para os Estados Unidos advém sobretudo de duas realidades:

— é hoje a maior economia do planeta em paridade do poder de compra (PPP), à frente da União Europeia e dos Estados Unidos, ainda que o seu PIB nominal ocupe a terceira posição, depois dos Estados Unidos e da União Europeia, e o PIB per capita, enfim, esteja numa posição bem mais modesta: 75 (FMI), 79 (Banco Mundial) ou 83 (CIA);

— é o país que mais energia consome e mais poluição gera no planeta.

Com uma superfície ligeiramente superior à dos Estados Unidos, alberga, porém, 1300 milhões de almas, contra os 300 milhões de americanos. Ou seja, tem uma margem de manobra face às ameaças geo-estratégicas e ambientais muitíssimo inferior à dos países desenvolvidos, nomeadamente os Estados Unidos e Canadá, e a Europa Ocidental. Alguns mitos, reforçados pela propaganda populista de Trump, não correspondem, porém, à realidade, ainda que a racionalidade subjacente ao protecionismo defendido por Donald Trump seja, repito, racional. A China é, na realidade, um elefante numa loja de porcelana!

U.S. Direct Investment Abroad: Trends and Current Issues 
James K. Jackson
Specialist in International Trade and Finance
Congressional Research Service  
June 29, 2017 
The United States is the largest direct investor abroad and the largest recipient of foreign direct investment in the world. For some Americans, the national gains attributed to investing overseas are offset by such perceived losses as offshoring facilities, displacing U.S. workers, and lowering wages. Some observers believe U.S. firms invest abroad to avoid U.S. labor unions or high U.S. wages, but 74% of the accumulated U.S. foreign direct investment is concentrated in high-income developed countries. In recent years, the share of investment going to developing countries has fallen. Most economists argue that there is no conclusive evidence that direct investment abroad as a whole leads to fewer jobs or lower incomes overall for Americans. Instead, they argue that the majority of jobs lost among U.S. manufacturing firms over the past decade reflect a broad restructuring of U.S. manufacturing industries responding primarily to domestic economic forces. 
China: Foreign Investment 
Santander Trade Portal 
August 2018 
According to the 2017 World Investment Report published by UNCTAD, China was ranked the world's third largest FDI recipient after United States and the UK. The country's economy was ranked the second most attractive to multinational companies for 2017-2019, after the U.S. The absorption of FDI is part of the policy of opening China to the outside world, aiming at creating a better business environment, structure and distribution of investment. China was ranked 78th out of 190 countries in the World Bank ranking for business climate Doing Business 2018.  
Stocks do Investimento Direto Externo na China (FDI)

News Release of National Assimilation of FDI From January to November 2016
 
Invest in China 
December 2016
Source:Information by the Foreign Investment Department of the Ministry of Commerce

From January to November this year, the top ten nations and regions with investment in China (as per the actual input of foreign capital) are as follows: Hong Kong (USD78.26b), Singapore (USD5.46b) , R.O.K.(USD4.37b), U.S.A. (USD3.64b) , Macao (USD3.42b) , Taiwan Province(USD3.15b) , Japan (USD2.85b) , Germany (USD2.65b), U.K. (USD2.07b) and Luxembourg (USD1.39b), total of which accounted for 94.3% of total actual use of foreign investment in the country.
United Nations Conference On Trade And Development 
World Investment Report — Investment And The Digital Economy 2017
In 2016, global flows of foreign direct investment fell by about 2 percent, to $1.75 trillion. Investment in developing countries declined even more, by 14 percent, and flows to LDCs and structurally weak economies remain volatile and low. Although UNCTAD predicts a modest recovery of FDI flows in 2017–2018, they are expected to remain well below their 2007 peak. 
— António Guterres
Secretary-General of the United Nations 
BRICS – the economic group comprising Brazil, the Russian Federation, India, China and South Africa – accounted for 22 percent of global GDP but received only 11 percent of global inward FDI stock in 2016. 

Última atualização: 25 agosto 2018 00:55 WET 


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quinta-feira, agosto 23, 2018

Turismo, sim, ou não?

Livraria Lello, Porto

“Há, mas são verdes. As maduras comi-as eu.”


Porto entre os paraísos que os turistas estão a destruir
O Porto está em destaque num extenso artigo da revista alemã “Der Spiegel” intitulado “Paraísos perdidos: Como os turistas estão a destruir os locais que amam”, no qual também se lê sobre cidades como Barcelona (Espanha) e Veneza (Itália). 
A “Der Spiegel” conclui que “os residentes (...) são talvez os maiores perdedores” e em algumas cidades europeias já começam a sentir-se ameaçados pela invasão de turistas e como parecem estar a controlar tudo. Em Maiorca (Espanha) ativistas escreveram “vão para casa” em muitos locais frequentados por turistas. Em Palma até lhes atiraram excrementos de cavalo. Em Barcelona empurraram ciclistas em passeio e insultaram estrangeiros nos cafés. Na cidade de Veneza (Itália), autoproclamados piratas impediram a entrada de navios de cruzeiro no porto local. 
“O turismo é um fenómeno que gera muitos lucros privados mas também muitas perdas sociais”, defende Christian Laesser, professor de turismo na Universidade de St. Gallen, na Suíça. 
— in Jornal de Notícias, “Porto entre os paraísos que os turistas estão a destruir”

O turismo de massas modifica os lugares por onde passa, mas o fenómeno é passageiro, se o medirmos na escala temporal das cidades. Tem enormes benefícios: gera economia, trabalho, civilização e cultura, agindo como um choque de energias em cidades e lugares por vezes moribundos, como era o caso das baixas de Lisboa e Porto antes de a easyJet e a Ryanair chegarem ao nosso país.

Todos ganham (os políticos da treta, em primeiro lugar), menos quem dispõe de um bem único e não soube valorizá-lo, ou não tem, agora que o boom chegou, rendimentos suficientes para pagar as rendas que naturalmente sobem, e devem subir.

O turismo, nomeadamente sénior, veio para durar talvez até 2050, ou mesmo até ao fim deste século, pois as pessoas com mais de 65 anos compõem o único segmento demográfico em expansão a nível mundial e aquele que menos gasta no dia a dia, conseguindo no entanto dispor das poupanças necessárias para comer em restaurantes baratos e viajar... antes da grande viagem :)

Em suma, não digam baboseiras sobre o único fator que nos tirou da depressão, desde 2014: o turismo e o investimento externo na reconstrução do património degradado das cidades. Os baby boomers, por outro lado, são os grandes beneficiários dos estados sociais e dos seguros de velhice onde os haja e quem mais viaja. Aprendam a a tratá-los bem.

On The Precipice Of Secular Decline...Population, Demographics, Income, & Consumption 
Many look at global population growth as a given to greater consumption... and looking at the chart below of total global population set to hit 7.8 billion by 2020, one might be forgiven for this viewpoint.  However, the reality, when one looks into the numbers, is that growth in global consumption has ended, as I recently detailed, Investing for the “Long Run”? You May Want to Consider This.

This article explains why this population growth will no longer equate to economic or consumptive growth.

Recomendo a este propósito a leitura deste texto algo gongórico,mas que mostra um fenómeno demográfico importante, sobretudo se atendermos que a taxa de crescimento da população mundial parou de crescer em 1964. A crescimento da população continua, mas está a abrandar, sobretudo na Europa, Ásia e Américas. Na realidade, o único continente em verdadeira expansão demográfica é África. Daí que Portugal, Reino Unido, França, Bélgica, Itália devam abrir rapidamente os olhos para esta realidade, assumindo as suas responsabilidades históricas, e os seus interesses futuros, não deixando à China e aos Estados Unidos à tarefa de uma neo-colonização bem mais violenta que a nossa, que os pode beneficiar, mas que prejudicará enormemente todo o continente europeu.

Authored by Chris Hamilton via Economica blog, in Zero Hedge


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quinta-feira, agosto 16, 2018

Maddy Hallquist e o lamento de uma imprensa falida

Photo: MATTHEW THORSEN, Christine and Dave

A era Trump não é  só o que parece


“Here I am, the transgender CEO of one of the most macho businesses” 
Hallquist always felt like a girl as a child attending Catholic school in suburban Syracuse, N.Y. — but it would be decades before she knew there was a word for it. 
Dave Hallquist was dressed in a maroon button-down shirt and black trousers during a tour of the Vermont Electric Cooperative headquarters last month in Johnson. The former engineer wore comfortable shoes and a black leather men’s watch while showing off a state-of-the-art control room, noting how technology has helped to shorten the length of power outages in the 74 towns VEC serves. Hallquist has brought the state’s second-largest utility back from bankruptcy, and, after a decade as its chief executive officer, has become a knowledgeable ambassador for the 107-employee co-op. 
— in “Becoming Christine: Transgender CEO Hallquist Prepares to Go to Work As a Woman “ Seven Days, November 04, 2015

A América tem recursos e reservas que não devemos menosprezar. Dois deles são fundamentais: a democracia e a liberdade de expressão, mesmo quando sabemos das contradições que desde sempre coabitaram com estas duas instituições — a prevalência do racismo em muitos estados é um facto conhecido e reconhecido.

A deliciosa história contada por Terri Hallenbeck no Seven Days, “Becoming Christine: Transgender CEO Hallquist Prepares to Go to Work As a Woman”, sobre a agora candidata a governadora do estado de Vermont (Teresa Abecasis, Plataforma, 16/8/2018), mostra até que ponto nem a erupção dum populista como Trump altera aquilo que é a natureza cultural profunda da América. Dave Hallquist, um engenheiro de sucesso especializado em energia, é hoje a engenheira Christine Hallquist, após um processo de mudança de género, complicado, doloroso, mas que safou Christine dum cancro causado por excesso de testosterona. E é também uma política determinada a combater as ideologias atávicas de Donald Trump.

O mundo está a mudar, e não é só na direção errada. Felizmente!

“Precisamos de si”


Usando as redes sociais como púlpitos de comícios globais, convencendo as pessoas de que a desintermediação as informa melhor - quando na verdade as manipula melhor -, amplificando erros de jornais, ateando ódios e criando perceções sobre mentiras, “factos alternativos” e “fake news”, políticos populistas têm o claro objetivo de aniquilar quem põe em causa o seu poder. Os jornalistas. Os editoriais de hoje marcam um movimento de força, de humildade perante os erros, de alerta e de apelo. Incluindo o apelo do New York Times de que assine jornais, para que os jornais sejam mais fortes, condição básica de independência e de capacidade de investimento em redações de investigação. Lá como cá.  
—in Pedro Santos Guerreiro, Expresso, 16 de Agosto de 2018

O problema, meu caro, Pedro Santos Guerreiro, é que a imprensa convencional de massas nunca foi totalmente livre, e pior, ultimamente, devido à sua aflitiva crise de paradigma tecnológico e social, está cada vez mais indigente e atrelada aos interesses de quem a subsidia, pois de vendas e publicidade já não vive :(

Não confundamos, pois, a nuvem (Trump), com Juno (a liberdade de comunicar e ter opinião).



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domingo, agosto 12, 2018

De Caracas a Monchique


Entrevista exclusiva com a ex-procuradora geral da Venezuela
De  Euronews  • Últimas notícias: 09/03/2018 (VIDEO
Há cerca de um ano, a ex-procuradora-geral da Venezuela, Luisa Ortega Díaz, denunciou a rutura da ordem constitucional no país. Foi expulsa do cargo pela Assembleia Nacional Constituinte e, em agosto passado, decidiu deixar a Venezuela. Agora, a partir da Colômbia, onde vive, denunciou alegados atos de corrupção e violações dos direitos humanos pelo governo de Maduro. 
Ortega apresentou uma queixa perante o Tribunal Penal Internacional (TPI) em Haia, que inclui mais de 1.000 provas. O TPI abriu uma investigação preliminar.
Que diz a isto a esquerda-caviar do Bloco e do PCP? Que dizem os socialistas do PS? Se não dizem nada, temo o que poderá acontecer no nosso país um dia destes. As ordens dadas à GNR por António Costa sobre o combate aos fogos florestais deste verão têm que ser analisadas à lupa, pois podem configurar o início de uma campanha autoritária anti-constitucional. Junte-se a este sinal a campanha iniciada por dois patetas do regime socialista sobre o regresso do serviço militar obrigatório, mais o braço dado entre Costa e Rio para substituirem a Procuradora Geral da República, Joana Marques Vidal, por um serventuário qualquer, e teremos boa parte da agenda da Oposição que falta organizar.

Uma nova forma insidiosa de autoritarismo, chantagem e censura aflora não apenas no populismo da direita e da extrema direita, mas igualmente no populismo da esquerda e da extrema esquerda. A etiqueta democrática começa a desfazer-se, deixando transparecer a agressividade de quem, afinal, já se posicionou para não largar o poder, aconteça o que acontecer.

Vêm aí tempos difíceis, desde logo para todos os que crêem nas virtudes intrínsecas da liberdade, da democracia e do estado de direito—ameaçado pela prepotência encomendada pelo Governo à GNR durante o maior incêndio deflagrado e mal combativo na Europa este ano.

Pior cego é aquele que não quer ver.





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sábado, agosto 11, 2018

Pearl Harbour 2.0?

CNN gets rare access on board a US military surveillance flight over the hotly-disputed islands in the South China Sea.

Começaram os preliminares da III Guerra Mundial


O chamado Mar do Sul da China é um dos pontos quentes da guerra entre os EUA e a China, que já entrou na sua fase preliminar: guerra comercial, guerra cambial, guerra eletrónica e uma tensão crescente no mar do sul da China pelo controlo da crucial região de passagem entre o Pacífico e o Índico. Trump precisa, no entanto, de garantir previamente um status quo não beligerante noutros pontos quentes das placas tectónicas da geopolítica global: Rússia, Irão e Turquia, por exemplo.

IMPORTANTE: Portugal tem que reequilibrar rapidamente a geometria das suas dependências externas em setores estratégicos, tais como o setor energético, o setor financeiro e os nossos principais portos. Goste-se ou não de Trump, goste-se ou não de Boris Johnson, vamos ter que regressar às velhas alianças, e também ao Atlântico Sul e Norte, às Américas e a África. Quem abastecerá a França e a Alemanha de gás natural, petróleo e cereais se as coisas ficaram muito feias no Irão, na Turquia, na Rússia, ou na coesão europeia?

‘Leave immediately’: US Navy plane warned over South China Se 
By Brad Lendon, Ivan Watson and Ben Westcott, CNN 
Above the South China Sea (CNN) — High above one of the most hotly contested regions in the world, CNN was given a rare look Friday at the Chinese government’s rapidly expanding militarization of the South China Sea. 
Aboard a US Navy P-8A Poseidon reconnaissance plane, CNN got a view from 16,500 feet of low-lying coral reefs turned into garrisons with five-story buildings, large radar installations, power plants and runways sturdy enough to carry large military aircraft.
During the flight the crew received six separate warnings from the Chinese military, telling them they were inside Chinese territory and urging them to leave. 
“Leave immediately and keep out to avoid any misunderstanding,” a voice said. 
Updated 0001 GMT (0801 HKT) August 11, 2018
Ver esta sequência de videos da CNN sobre o conflito em desenvolvimento no Mar do Sul da China

South China/ man-made Spratly islands



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quinta-feira, agosto 09, 2018

Xiiiiiiiiii....!


China suspendou a importação dos SUV da Mercedes fabricados nos EUA

Os três erros fatais de Xi


1—Não existe tal coisa a que os mentores de Xi chamam “Chinese exceptionalism”;

2—A América, mesmo ferida, é um gigante cultural, tecnológico, energético e militar;

3—A China tem o mesmo problema genético da Alemanha: não dispõe de autonomia energética, mineral e alimentar. E tem um grande problema histórico, que se agravou: uma população envelhecida que é mais do que quatro vezes a população dos Estados Unidos da América;

Recomendação aos meus queridos conterrâneos: preparem-se para reforçar as alianças com ingleses e americanos, sem deixar cair as boas relações com a China e Bruxelas, claro.

Mas a prioridade das prioridades portuguesas tem um nome: África!

Handling of U.S. trade dispute causes rift in Chinese leadership: sourcesBen Blanchard, Kevin Yao
Reuters, August 9, 2018 / 8:52 am 
“Many economists and intellectuals are upset about China’s trade war policies,” an academic at a Chinese policy think tank told Reuters, speaking on condition of anonymity due to the sensitivity of the issue. “The overarching view is that China’s current stance has been too hard-line and the leadership has clearly misjudged the situation.” 
[...] 
Under Xi, officials have become increasingly confident in proclaiming what they see as China’s rightful place as a world leader, casting off a long-held maxim of Deng Xiaoping, the former paramount leader who said the country needed to “bide its time and hide its strength”.

“The Outlook Has Become Grim”: Trump Trade War Causing “Rare Cracks” Within China’s Communist Partyby Tyler Durden
ZeroHedge, Thu, 08/09/2018 
Over the weekend, Trump claimed on Twitter that the US is winning the trade war with China for one simple reason: whereas US stocks are back to all-time highs, the Chinese market has tumbled and remains mired in a bear market. Now, another - less naive - indication has emerged suggesting that the US is indeed getting the upper hand in the ongoing trade feud: according to Reuters, the trade war with the United States is “causing rifts” within China’s Communist Party, with some critics saying that China’s overly nationalistic stance “may have hardened the U.S. position.”


Two models: Building Stuff (China) or Bombing Stuff (Us)?
In this Summer Solution episode of the Keiser Report, Max and Stacy contrast the situation with China, a perhaps emerging superpower, to the United States, a possibly declining superpower. As the US grew powerful as an empire of debt, extracting resources and equity from economies colonized by their debt rather than their military armies, what happens when China begins doing the same? Lots of complaints from U.S. officials who want American lenders to take over debt markets the U.S. has overlooked in the past few decades. They look at the case of Africa where Chinese mobile phone manufacturers and tech entrepreneurs are radically altering the telecom landscape left wide open to them after the departure of Nokia. What happens when the African consumer becomes wealthy enough to transform the Chinese global power play?


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