segunda-feira, março 03, 2025

Mackinder ou Monroe? O dilema americano


Presidente dos Estados Unidos, James Monroe
(1758-1831)

 

"We the People of the United States, in order to form a more perfect Union, establish Justice, insure domestic Tranquility, provide for the common defence, promote the general Welfare, and secure the Blessings of Liberty to ourselves and our Posterity, do ordain and establish this Constitution for the United States of America." — in Preâmbulo da Constituição dos Estados Unidos.


Podem os Estados Unidos perder a sua atual hegemonia?

Para perceber o original comportamento dos Estados Unidos, tradicionalmente anti-colonial, messiânico, libertário, liberal, democrático, patriótico e populista, imune às modas alternativas e aos presidentes heterodoxos (incluindo Trump) é preciso considerar a importância das seguintes três referências na formação da doutrina estratégica norte-americana:

I — Doutrina Monroe (1823), James Monroe (1758-1831), Presidente dos Estados Unidos

Essencialmente uma teoria anti-colonial que barrou para sempre quaisquer veleidades de interferências pós-coloniais europeias no destino das Américas (sic).

Curiosamente, esta Doutrina serve agora para travar os ventos coloniais que sopram da China comunista, ainda que sob modalidades mais sofisticadas, de índole comercial, financeira e cultural.


Alfred Thayer Mahan (1840 – 1914)


II — Alfred Thayer Mahan (1840 – 1914)/ The Influence of Sea Power upon History, 1660–1783 (1890); The Influence of Sea Power upon the French Revolution and Empire, 1793–1812 (1892).

Os Estados Unidos substituíram a Inglaterra, ou melhor dizendo, o Império Britânico, tornando-se, depois da sua participação tardia nas duas guerras mundiais, no império mundial dominante, sobre os escombros de uma Europa destroçada. Tal como os anteriores impérios português e espanhol, também a Inglaterra e os Estados Unidos tiveram nos mares os seus principais veículos de domínio.

Este domínio americano dos mares persiste, mas poderá ser ameaçado em breve pela emergência imperial da China.

Halford Mackinder (1861-1947)


III — Halford Mackinder (1861-1947)/ "The Geographical Pivot of History" (1904)

As independências sucessivas americanas do domínio colonial europeu foram um movimento histórico sem retrocesso, nomeadamente em obediência à Doutrina Monroe imposta pela nova potência mundial hegemónica (1). 

No entanto, a ameaça soviética depois da vitória aliada contra a Alemanha nazi, ocupando uma parte do país vencido (Alemanha Oriental), e depois sucessivamente, a Estónia, Geórgia, Cazaquistão, Lituânia, Letónia, Moldávia, Ucrânia, Polónia, Checoslováquia, Hungria, Bulgária e Romênia, criou uma inesperada ameaça à Doutrina Monroe. 

Se um dia Moscovo chegasse até Londres e Lisboa, ou tal cenário ganhasse alguma verosimilhança, os Estados Unidos teriam que se preocupar seriamente com as três principais ameaças à sua originalidade e pujança mundial:

1) uma ameaça inesperada ao continente americano, às Américas (desafiando a Doutrina Monroe);

 2) uma ameaça ao domínio americano do Atlântico, cuja resposta antecipada, depois da vitória aliada contra Hitler, foi a formação da NATO;

3) a ameaça de a China vir a desafiar a supremacia americana, não apenas nos mares (Pacífico, Atlântico e ìndico), mas também através de uma eventual conquista do coração da 'ilha-mundo' (a Afro-Eurásia) imaginada por Mackinder. Este órgão vital da World-Island coincide com a vasta extensão do antigo Império Russo, do Rio Volga ao Rio Yangtzé, do Ártico aos Himalaias. Quem controlar o "Heartland", controla a Ilha-Mundo...

Who rules East Europe commands the Heartland;

who rules the Heartland commands the World-Island;

who rules the World-Island commands the world.

— Mackinder, Democratic Ideals and Reality, p. 150 (1919)

E no entanto, apesar de o império russo andar por cá há já trezentos anos, nunca procurou expandir-se,  seja em direção à Europa ocidental, seja em direção ao Oriente, seja em direção ao Sul. As guerras com a China, o Japão e a Turquia disseram sobretudo respeito à necessidade de estabelecer o seu acesso aos mares. Repeliu Napoleão e Hitler. Impôs uma barreira de estados na sua fronteira ocidental. Mas não ameaçou expandir-se em direção a Lisboa, nem em direção a Pequim e Tóquio. O acesso ao Mediterrâneo foi sempre considerado uma questão de vida e de morte, pois os acessos ao Mar do Norte e ao Atlântico estão condicionados pelo gelo, e Vladivostoque, parte da denominada Província Marítima surripiada à China depois da derrota desta nas chamadas Guerras do Ópio (1839-1842 e 1856-1860) entre ingleses e chineses, é uma aquisição muito recente que a China poderá em breve reclamar à Rússia, por ter sido obtida através do 'Tratado Desigual' de Aigun em 1858.

Diante destes factos, e tendo presente o que foi a chamada Guerra Fria, podemos aceitar a tese de que a Rússia, depenada do seu império soviético desde 1991, tem sobre si suspensa não a Espada de Dâmocles mas a de Mackinder. Os americanos temem uma aliança entre a Federação Russa e a União Europeia, pois uma tal situação daria à Europa (dos Açores até aos Urais) o controlo da Ilha-Mundo, deixando rapidamente para trás a hegemonia dos Estados Unidos, quer no plano geoestratégico, quer nos planos económico, científico, cultural e militar. Porém, empurrando a Rússia em desespero para os braços da ascendente China, fará desta e da sua Rota da Seda 2.0 o novo centro do mundo. Sem precisar sequer de hostilizar a Europa. Pelo contrário! Toda a Eurásia, com vetores económicos, financeiros e militares de peso na Europa Ocidental, na Europa de Leste e na Ásia tenderia a desenhar um status quo semelhante ao Excecionalismo Americano: quem se meter com a Eurásia, leva! Não nos esqueçamos que num cenário destes a África seria uma aliada orgânica da Eurásia (Mackinter).

Tudo visto e considerado, dir-se-ia que a saída dos Estados Unidos da NATO seria o menor dos males para Europa, sobretudo se os americanos entrarem, como parece, numa deriva messiânica neo-fascista.

Washington quer abandonar a Europa? A sério?! Pois que abandone!

O problema é que Steve Bannon e Elon Musk não querem apenas abandonar a Europa, mas destruí-la. Fazendo da Ucrânia uma espécie de nova Israel? Há que estudar e seguir este assunto de perto!

A Rússia não tem qualquer hipótese (nem vontade) de conquistar a Europa ocidental. E também já perdeu a guerra de invasão da Ucrânia. Se decidir retirar-se sem condições amanhã mesmo da Ucrânia, de todos os territórios que invadiu e ocupou, ou onde está em guerra, a paz seria imediata, mas não só. Se existe um plano para, uma vez mais, raptar a Europa, seja por parte dos Estados Unidos, seja por parte da China, ambos os planos cairiam imediatamente por terra. Numa primeira fase (2027) a Ucrânia aderiria à UE. Numa segunda fase o Brexit seria revertido (2030). E numa terceira, a Federação Russa faria um Tratado de Paz, Comércio e Amizade com União Europeia (2040), prelúdio de ligações mais fortes no futuro.... Antes de atingirmos a metade deste século o mundo poderia, finalmente, atingir um novo patamar de prosperidade e equilíbrio geral.


Post scriptum

Trump: "We have all the cards..." Vamos lá então (digo eu) provar o Putin!

Os Estados Unidos lançaram um ultimato à Ucrânia e aos não-estadounidenses da NATO. Dizem que a suspensão da ajuda militar aos ucranianos, boa parte da qual são dólares para os ucranianos alimentarem a indústria militar americana, é temporário. Não é. Veremos como reage o complexo militar-industrial yankee...

Trump está no bolso de Putin. Putin, perante esta surpreendente capitulação face ao eixo Moscovo-Pequim, nem precisa de falar. Basta-lhe esperar, e entretanto continuar a enviar ondas de desgraçados para morrerem na frente de batalha.

A América neofascista (é assim o populismo quando perde as estribeiras) quer, afinal, a destruir a Europa, não a Rússia, em nome da falta de neurónios e do fanatismo que hoje domina a Casa branca.

A resposta que as baratas tontas europeias derem a este ultimato, que também é dirigido à Europa ditará boa parte do nosso futuro nas próximas décadas. Só há uma resposta decente e inteligente a dar a Donald Trump: a Rússia de Putin deixou de ter pretexto para manter a invasão, a ocupação e a guerra na Ucrânia, pois o ogre do Kremlin sempre disse que o conflito era com os Estados Unidos, desconsiderando sempre a Ucrânia e a Europa como atores menores do conflito. Putin chegou mesmo a afirmar que pararia a dita Operação Militar Especial no momento em que os Estados Unidos deixassem de apoiar militarmente os ucranianos. Ora bem, está na hora de fazer a prova do pudim! Creio que duas semanas chegarão de sobra para saber se o Putin, perdão, o pudim, presta ou não presta.

Já agora, se os neofascistas da Casa Branca quisessem mesmo a paz na Ucrânia e na Europa, em vez de anunciar o ultimato à Ucrânia (e à Europa), deveriam ter anunciado a retirada das suas armas nucleares, os mísseis e os 100 mil militares estacionadas na Europa, pois foi a aproximação dos Estados Unidos das fronteiras russas o que provocou a ação de Putin, como consta preto no branco do aviso por este feito em Munique, em 2007.


1. Link

https://pt.wikipedia.org/wiki/Cronologia_da_descoloniza%C3%A7%C3%A3o_da_Am%C3%A9rica

sábado, fevereiro 22, 2025

Presidenciais 2026

A verdade eleitoral é esta (parece-me): não há candidatos convincentes no Bloco Central capazes de vencer  a próxima eleição presidencial. 

À esquerda do centro temos uma esquerda doutrinária, sectária, populista e vigarista incapaz de ter um candidato único. À direita, muito à direita do centro, temos um Chega que será muito uma das muitas vítimas colaterais do Elon_Trump. Ou seja, a malta votará num personagem que lhes caia bem e com serviço prestado, sem grandes buracos, vigarices e escândalos na biografia, e mais ou menos equidistante dos partidos que convergem ao centro: socialistas, social-democratas e cristão-democratas.

Ninguém espera do ex-Almirante Gouveia e Melo um salvador. Espera apenas ter um próximo presidente que não seja a anedota do país.

terça-feira, fevereiro 18, 2025

Democracy Maps


My future global human society model is Democracy Maps (1). It is a new hybrid reality built by social humans assisted by AI.

Given the United States' authoritarian drift, Europe must think quickly about developing its autonomy in cyberspace. The USA will have its own Internet, China already has its own, and Europe must create a proprietary one with original algorithms, namely developing European-based social networks and a European AI (EAI), with its ethics and culture different, as we know, from the American and Chinese ones.

As the joke goes, if China cuts off water to Macau, Macau must cut off water to China.


NOTE
1. A previous post on this: lab-D, Democracy Maps, August 2013

segunda-feira, fevereiro 17, 2025

Eu gosto de pescado fresco

Eu gosto de peixe fresco, tal como a maioria dos portugueses que nasceram antes da generalização das pizzas e dos hambúrgueres. Mas há cada vez menos peixe pescado, porque há menos peixe no mar, e porque a indústria de captura foi alienada a outros operadores europeus mais fortes e ágeis. Resultado: os preços do peixe na praça subiram vertiginosamente (em Bruxelas, onde vivo uma parte do ano, são ainda mais caros, mas aqui compreende-se), com a possível exceção do carapau e da sardinha, cujos preços subiram de forma menos empinada. A alternativa passa, cada vez mais, pelo peixe de aviário (aquacultura) e pelos congelados.

Já agora, para os populistas do Chega, não fosse a imigração, já não teríamos embarcações portuguesas no mar. Portugal deixou de poder garantir que, no mínimo, segundo a lei, 60% dos homens que trabalham na pesca são portugueses. Por sua vez, a idade média destes ultrapassa os 50 anos. A substituir progressivamente esta população declinante (os filhos dos pescadores portugueses há muito que emigraram) estão os indonésios, os vietnamitas, etc. Graças a estes imigrantes, que aprendem dos portugueses a conhecer o nosso mar, ainda há pesca portuguesa. Saibamos reconhecer os factos!

domingo, fevereiro 16, 2025

Adeus TAP!

Lockheed L-1049 Super Constellation da TAP,
Aeroporto de Lourenço Marques (Maputo), 1962

Lá se vai o NAL e o mercado intercontinental da TAP!


O que previmos há três ou quatro anos atrás será, em breve, realidade: ligações aéreas ponto-a-ponto, Low Cost, dos continentes americano e africano para Portugal. Adeus hub da TAP em Lisboa (ou mesmo em Madrid...). Adeus NAL em Alcochete, Canha, Vendas Novas, ou seja lá onde for, antes de 2050.

Pergunta: está a TAP preparada para este novo embate, depois da destruição do seu mercado europeu? Claro que não! 

Valor comercial da TAP para privatização: menos de mil milhões de euros. Mesmo dada, não sei se haverá interessados. Só se os governantes indígenas pagarem previamente todas as dívidas conhecidas e desconhecidas...

CNN—A nova aeronave comercial A321XLR pode voar mais longe do que qualquer outro avião de corredor único no mercado e está recebendo centenas de encomendas

Casa Branca, o vórtice da implosão americana?

Donald Trump.
Retrato oficial do presidente dos Estados Unidos
Foto: Daniel Torok


O movimento populista nacionalista MAGA, congeminado por Steve Bannon (o seu principal teórico e propagandista), que acolheu e elegeu Donald Trump para seu testa de ferro, nesta sua segunda interação presidencial, transformou a Casa Branca numa casa de gatos. Nos seus corredores e alas, através do sempre-em-pé Trump, degladiam-se ferozmente Steve Bannon (que lidera as tropas populistas mais reacionárias da América) e Elon Musk, o megalómano autista que ascendeu ao título de homem mais rico do mundo. Este é um embate de gigantes. Prova-o o patuá de Trump, que diz tudo e o seu contrário a cada 48 horas. Espreitando e explorando as oportunidades, J. D. Vance, Mark Rubio, Pete Hegseth, Keith Kellogg, etc. tentam segurar um regime à beira do colapso. Isto é muito mais preocupante do que a destroçada Rússia de Putin.


BREAKING NEWS: Elon Musk’s former close friend Dr. Philip Low unleashes an absolutely brutal takedown of the MAGA billionaire by airing dirty laundry about his psychology — and a bizarre incident with his naked wife.

(...)


Philip Low (on Facebook):

“I have known Elon Musk at a deep level for 14 years, well before he was a household name. We used to text frequently. He would come to my birthday party and invite me to his parties. He would tell me everything about his women problems,” Lowe wrote on Facebook.

“As sons of highly accomplished men who married venuses, were violent and lost their fortunes, and who were bullied in high school, we had a number of things in common most people cannot relate to. We would hang out together late in Los Angeles. He would visit my San Diego lab. He invested in my company.”

“Elon is not a Nazi, per se.”

“He is something much better, or much worse, depending on how you look at it.”

“Nazis believed that an entire race was above everyone else.”

“Elon believes he is above everyone else. He used to think he worked on the most important problems. When I met him, he did not presume to be a technical person — he would be the first to say that he lacked the expertise to understand certain data. That happened later. Now, he acts as if he has all the solutions.”

“All his talk about getting to Mars to ‘maintain the light of consciousness’ or about ‘free speech absolutism’ is actually BS Elon knowingly feeds people to manipulate them. Everything Elon does is about acquiring and consolidating power. That is why he likes far right parties, because they are easier to control.” 

“That is also why he gave himself $56 Billion which could have gone to the people actually doing the work and innovations he is taking credit for at Tesla (the reason he does not do patents is because he would not be listed as an inventor as putting a fake inventor on a patent would kill it and moreover it would reveal the superstars behind the work).”

“His lust for power is also why he did xAI and Neuralink, to attempt to compete with OpenAI and NeuroVigil, respectively, despite being affiliated with them,” wrote Lowe, who is himself the Chairman, Founder, and CEO of NeuroVigil.”

“Unlike Tesla and Twitter, he was unable to conquer those companies and tried to create rivals. He announced Neuralink just after I invited his ex-wife, which she and I notified him about, to a fundraising dinner for Hebrew University in London (The fact that she tried to kiss me — I immediately pushed her away — while taking a photo at that event, even if playfully, clearly may have added to the alienation and possible emasculation he may have felt when she spoke to me in a pool at a party when they were together and she was naked. To not be disrespectful to her or to him, I stayed but looked at the sky whilst talking to her).”

“I fired him with cause in December 2021 when he tried to undermine NV. It is ironic that years later, he clearly tried to undermine Twitter before buying it, and in my view, blowing it up and using it to manipulate the masses to lean to the far right in country after country, including the USA.”

Lowe went on to outline some of the specific details about the infighting that stemmed from Musk leaving NeuroVigil — including that Musk leaked false reports to the media that he had invested more in the company than he really did. The two tussled over Musk’s right to transfer stock from the company.

Soon after, Lowe sent him an email saying the two should “cut ties here” and threatened to “shove my boots so deep up your derrière, legally, that your pissing contest with Bezos will seem like it was from another life, one you want to get back to.”

“Good luck with your implants, all of them, and with building Pottersville on Mars. Seriously, don’t fuck with me,” Lowe added.

He then turned his attention to Elon’s recent Nazi salutes, stating that he did them for five main reasons:

“1. He was concerned that the “Nazi wing” of the MAGA movement, under the influence of Steve Bannon, would drive him away from Trump, somewhere in the Eisenhower Executive Office Building, rather than in the West Wing which is where he wants to be. He was already feeling raw over the fact that Trump did not follow his recommendation for Treasury Secretary and that the Senate also did not pick his first choice.”

“2. He was upset that he had had to go to Israel and Auschwitz to make up for agreeing with a Nazi sympathizer online and wanted to reclaim his ‘power’ just like when he told advertisers to ‘go fuck yourself’. This has nothing to do with Asperger’s.”

“3. There are some Jews he actually hates: Sam Altman is amongst them.” (Altman is the CEO of OpenAI and a frequent target of Musk’s ire).

“4. He enjoys a good thrill and knew exactly what he was doing.”

“5. His narcissistic self was hoping the audience would reflect his abject gesture back to him, thereby showing complete control and dominion over it, and increasing his leverage over Trump. That did not happen.”

“Bottom line: Elon is not a Nazi but he did give two Nazi Salutes, which is completely unacceptable,” wrote Lowe.

“At some point, it matters to few people if one is a Nazi or if one acts like one. My father was a Holocaust Survivor. 32 out of 35 of his family members were murdered by Nazis. My mother’s grandparents were murdered in Auschwitz,” he added.

Lowe wasn’t done there, and asserted that he himself is an “actual scientist and inventor” while Musk lies about his expertise and steals credit from his employees to pretend to be a “Supergenius.”

He mocked Musk for “paying people to play online games in his name to appear smart” and said that he’s a “so-called inventor whose greatest invention is his image.”

More bluntly, Lowe said that Musk is a “c*nt.”

He ended his post by urging people to speak up against Musk and “stop working for him and being exploited by him.”

Lowe concluded with a quote from Holocaust Survivor and Nobel Peace Prize laureate Elie Wiesel: “Silence encourages the tormentor, never the tormented.”

quinta-feira, fevereiro 13, 2025

O súbito valor estratégico de Moscovo

Trump e o seu sucessor?

Trump, Putin, Zelensky, Rutte dizem em uníssono querer a paz quando antes. Parece bom demais para ser verdade. Na prática, ambos os exércitos e economias estão exaustos. Ou seja, o que estará a ser negociado é um congelamento da invasão russa da Ucrânia. Para regressar daqui a quatro ou cinco anos? Duvido. O cálculo americano, para além dos psicodramas de Trump, é este:

1) Pequim planeia conquistar a Formosa em 2027-28, e se assim for haverá uma guerra no chamado Mar da China, no Pacífico e no Índico. Para tal, os americanos precisam urgentemente de mobilizar a sua indústria de guerra para este fim, investindo sobretudo na adaptação da sua marinha e aviação aos novos paradigmas tecnológicos testados na guerra da Ucrânia. Os investimentos serão muito pesados em quatro setores: navios de guerra de superfície e submarinos, força aérea, veículos e robôs de guerra autónomos, IA. Ou seja, para os americanos e a NATO, continuar a enterrar dólares, aço e vidas humanas na Ucrânia é um erro estratégico que lhe poderá custar a perda da sua posição dominante no mundo.

2) Por outro lado, os Estados Unidos gostariam de levar a Rússia a mudar de agulha, em direção ao Ocidente, criando com a Índia e as Filipinas uma parede contra a expansão chinesa através da sua nova Rota da Seda. Uma Rússia destroçada seria, assim, uma porta aberta à penetração chinesa em territórios que reclama historicamente à Rússia.

Neste cenário hipotético, o rearmamento da Rússia, da Ucrânia, bem como da Europa e da NATO teriam, afinal, como desiderato estratégico a contenção das ambições de Pequim.

Será isto? Será?


Lusa/ Jornal de Negócios, 13/02/2025, 10:50

Mark Rutte: "Nós vamos defender que até 5% é o investimento necessário dos países da NATO para garantir que somos capazes de enfrentar as ameaças do futuro, seja a Rússia ou uma China ascendente que também tem as suas próprias ambições", concluiu.

O Secretário da Defesa dos Estados Unidos, Pete Hegseth, defendeu hoje que a iniciativa do Presidente norte-americano, Donald Trump, de chegar a acordo com a Rússia sobre a guerra da Ucrânia "não é uma traição" a Kiev.

"Nenhum país, como o Presidente Trump salientou, assumiu um compromisso maior com a missão ucraniana do que os Estados Unidos da América. Mais de 300 mil milhões de dólares [cerca de 288 mil milhões de euros] que os Estados Unidos investiram na estabilização das linhas da frente após a agressão da Rússia, [portanto] não se trata de uma traição", disse Pete Hegseth.

"Isso exigirá que ambos os lados reconheçam coisas que não querem e é por isso que penso que o mundo tem a sorte de ter o Presidente Trump [pois] só ele, neste momento, pode reunir os poderes para trazer a paz, e isso é um sinal bem-vindo", adiantou Pete Hegseth.

Depois, também junto ao Secretário da Defesa dos Estados Unidos, o secretário-geral da NATO, Mark Rutte, falou numa "clara convergência" na Aliança Atlântica de que "é preciso haver paz na Ucrânia" e que o país esteja "numa posição de força".


Que querem realmente os americanos?

O objetivo de Trump, ou de quem pensa por ele, é cada vez mais evidente: preparar-se para enfrentar a China já, mas sobretudo em 2027-28, quando esta tentar o assalto à Formosa. Para tal, os americanos precisam da Rússia do seu lado, ou pelo menos em posição de neutralidade. Só que a Rússia não vai perder a oportunidade de tomar partido na nova divisão de mundo que se aproxima. Terá, então, que optar entre Washington e Pequim. O convite sedutor de Trump a Putin é claro. Falta só resolver o problema da Ucrânia...

A Rùssia quer garantias de acesso aos mares, e a defesa da língua russa nas regiões ucranianas onde o russo é a língua dominante. Portanto, quer a Crimeia e o regresso de Kursk à soberania russa, mas poderá abandonar a guerra perdida no Donbass em troca de garantias culturais nesta região histórica (a Nova Rússia), uma região com uma dimensão semelhante à de Portugal. 

A Ucrânia quererá, por sua vez, recuperar as suas fronteiras originais. Sendo improvável que consiga recuperar a totalidade da Península da Crimeia, poderá reivindicar a divisão desta entre os dois países, ficando a metade oeste para a Ucrânia e a metade leste para a Rússia.


Estamos todos metidos num turbilhão. 

Os americanos acordaram para a realidade chinesa, e para a sua própria grave crise política, económica, financeira, social e cultural. Querem um Tordesilhas 2.0. Resta saber por onde passará o fractal, pois meridiano não será.

Mas se for este o caminho, se houver paz negociada na Ucrânia, para que precisará a NATO-Europa de armar-se até aos dentes contra a Rússia? A única explicação é que Putin está noutra, imerso num sonho imperial impossível, e portanto irá torpedear tudo o que não contribua para um cenário de conquista da Ucrânia e do resto da antiga Cortina de Ferro estalinista. Sendo assim, será necessário tempo para eliminar Putin da equação estratégica que hoje orienta as decisões em Washington.