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sábado, janeiro 29, 2022

Há uma década...

Tim Tim nunca saiu da Belgica, mas percebeu o português aventureiro ;)

Será desta vez?

Em 2012 apontei no blog chamado Partido Democrata os termos de uma conversa sobre a necessidade de mudar o regime. Foi, por assim, dizer, um bloco de notas que acompanhou uma série de almoços com amigos descontentes com o rumo do país.

A necessidade de enterrar o regime gasto e corrompido saído da Constituinte de 1976 era então evidente. Que fazer? Gerar as condições instelectuais e psicológicas para a emergência de novos partidos democráticos com mensagens novas e claramente indispostos para continuar a suportar os partidos parlamentares nascidos do colapso da ditadura. Desde então, estes não só não cumpriram muito do que Abril prometeu, como empurraram lentamente o país para uma democracia cada vez mais empobrecida, desigual, centrada no Estado e nos diretórios partidários, burocrática, corrupta e populista. Esta deriva autoritária foi e é ainda uma consequência da alienação patrimonial, da perda de soberania económica e financeira subsequente, do endividamento galopante do Estado e, finalmente, do colapso do nosso sistema financeiro, incapaz de acompanhar a concorrência decorrente da criação de uma moeda europeia a que aderimos sem pensar mais no assunto.

Amanhã, dia 30 de janeiro, iremos uma vez mais a votos. Mas desta vez será diferente. A importância desta eleição reside não tanto no vencedor das mesmas, precipitadas pela falência económica, financeira, política e moral da frente popular conhecida por Geringonça, mas na emergência de novas forças partidárias no parlamento como potencial de alterar a curto prazo a face da nossa democracia.

Ao contrário da histeria das esquerdas, o que aí vem não é radicalismo de direita, e muito menos fascismo. Em primeiro lugar, porque o povo conservador e iletrado que temos não gosta de revoluções, salvo se estiver com a corda na garganta. Ainda não está. Em segundo, porque tanto a Iniciativa Liberal, como o Chega, aspiram a ser governo, ou seja, querem conquistar o tal povo moderado que apenas espera, e bem, que alguém lhe resolva os problemas e o atraso que volta a aumentar. Querem salários e pensões de reforma que sejam dignas. Querem trabalho com direitos, como no resto da Europa rica e civilizada. Querem uma classe média que agite económica e culturalmente a sociedade, ajudando-a a crescer de modo simultaneamente competitivo e solidário. Não querem emigrar em massa, como nos tempos da ditadura e da guerra colonial. Não querem ser humilhados diariamente com escândalos de enriquecimento ilícito e corrupção. Não querem uma justiça, uma educação e uma saúde para ricos, e outras para pobres. Querem (coisa simples de perceber) uma democracia liberal como as que na Europa e na América continuam a atrair milhões de imigrantes fugidos de regimes nepotistas ou despóticos.

Em suma, ganhe Rio ou ganhe Costa (um perdedor traiçoeiro), quem já ganhou é a democracia que começa a sair de uma escravatura partidária de quase meio século!

PS: sobre as ideias utópicas que alimentaram a retórica das esquerdas (onde, aliás, me fiz intelectualmente) limito-me a constatar as minhas próprias dúvidas e perplexidade sobre esta espécie de implosão ideológica, e ainda um facto: o desvanecimento das ideias tradicionais da esquerda entre as gerações mais jovens, traduzido na ausência ou inconsistência pueril dos neo-marxismos que andam por aí.

segunda-feira, setembro 27, 2021

"A democracia não tem dono"


Carlos Moedas vence Autárquicas em Lisboa
Foto: ?

Moedas: “Contra tudo e contra todos”

A bipolarização criada pelo perdedor António Costa (atrelando o PS à Geringonça—uma espécie de Frente Popular pós-moderna) começou a virar, como previ a tempo, em direção à maioria sociológica do país, reafirmando, felizmente, o poder das forças empresariais, profissionais e intelectuais que nos deram a independência e a conservaram ao longo dos séculos. É tempo de manter rédea curta nas burocracias palacianas e dos novos velhos do Restelo (representados pela gerontocracia do PCP e do PS). 

Não deixa de ser uma ironia constatar como o filho dum comunista, balbuciando ainda a retórica da Política, devolve a capital do país ao espírito liberal que fez de Portugal o primeiro país burguês da história da humanidade.

Quer na liberal Porto, quer em Lisboa, onde em 1383 se fez uma revolução decisiva, vêm aí “novos tempos” (Carlos Moedas). Oxalá!

PS: o rapazola dos Porsches ficou com menos um adversário na sua corrida para colocar a nova geração ‘socialista’ aos comandos do PS.

Morte da Geringonça e sucessão de Costa

António Costa esperava francamente mais de André Ventura. Esperava, sem nunca o dizer (claro!) que o Chega socavasse ainda mais a base eleitoral d PCP, mas sobretudo a do PSD. O seu sinistro desígnio falhou. No entanto, o Chega continuará a subir nas intenções de voto, pois os estragos sociais e económicos causados ao país por décadas de corrupção, burocracia e paternalismo partidário (com responsabilidades repartidas pelo chamado arco da governação, o qual abrangeu também ao PCP) são de tal monta que o horizonte de dor social não desaparecerá tão cedo. Piorará, certamente, se a vitória de Moedas em Lisboa, a par da conquista/manutenção das principais cidades do país (Lisboa, Porto, Cascais, Oeiras, Maia Funchal, Ponta Delgada, etc.) pelas forças liberais, não se traduzir no início de uma verdadeira dinâmica revolucionária pela liberdade económica, pela racionalidade política, pela transparência dos processos e por uma real igualdade de oportunidades e justiça social.

Jerónimo!

Jerónimo de Sousa é uma espécie de Salazar comunista. Também este caiu da cadeira, metaforicamente, claro. Resta saber se na queda arrastará o PCP para o Nada! Jerónimo acredita piamente que depois dele virá o dilúvio. Compete agora aos jovens comunistas fazerem a sua prova de vida. Depois de perderem Beja, Almada, Loures e Santarém, e praticamente todo o resto do Alentejo para o PS, PSD e Chega (Évora cairá nas próximas eleições...), a vida dos comunistas não será fácil de hoje em diante. Já não existem nas ilhas. Não existem nas principais áreas urbanas do país. Em breve perderão também os seus sindicatos. É tempo de lhes retirar o excesso de microfones e holofotes da falida comunicação social que temos.

Bloco à deriva

O Bloco comprovou nestas eleições o falhanço redondo da estratégia trotskista tardia do senhor Louçã. A ideia dele (desde 1973) era convencer o PS a ser finalmente um partido socialista decente. Não deixa de ser extraordinário constatar como esta criatura conseguiu gastar toda uma vida para conseguir parir apenas o Pedro Nuno Santos e uma frente popular pós-moderna desmiolada, arrogante e sem futuro. Tempo de retirar os tachos e os postos de propaganda mediática privilegiados que foram oferecidos a esta força partidária a caminho da sua eterna condição de seita intelectual oportunista.

PS, um partido provinciano com um distribuidor de esmolas em Lisboa

O Partido Socialista tem vindo a ser expulso das principais cidades do país: Lisboa, Porto, Coimbra, Cascais, Oeiras, Braga, Viseu, Santarém, Portalegre, Faro... 

Costa diz que o PS continua a ser o maior partido autárquico. Pode dizer o que quiser. Presunção e água benta, cada um toma a que quer, costumava dizer o meu avô, anticlerical, anti-salazarista, republicano e nos poucos anos que viveu em democracia, PPD, claro.

Chega?

A proximidade ao Vox de Espanha não ajuda nada André Ventura... No eleitorado urbano das cidades grandes, médias (por exemplo, Braga) e mesmo pequenas (por exemplo, Viana) o discurso extremista não pega, como não pegou o da extrema-esquerda, a qual, apesar do re-branding (querem um país 'decente', dizem), está em declínio inexorável. Até porque o futuro PS, de Pedro Nuno Santos, agregará boa parte dos temas da agenda do Bloco e ambientalistas. A subida dos extremos será sempre sinal de que algo não vai bem no nosso país... Curiosamente, o PCP, alimentado pela sua nova Juventude Comunista, essencialmente urbana e até cosmopolita, poderá renascer das cinzas—depois da saída do Jerónimo de Sousa.


Atualização: 28/9/2021 11:33 (UTC+2)

segunda-feira, novembro 23, 2020

E depois da Geringonça?


Dividir ou unir os portugueses?

A Geringonça, uma experiência de Frente Popular pós-moderna, foi o resultado da convergência de três dinâmicas ideológicas: António Costa anuncia Urbi et Orbi que em Portugal há dois países, um de direita e outro de esquerda, e que ele prefere o segundo e não está sequer disposto a dialogar com o primeiro; a esquerda radical maoista e trosquista reunida no Bloco de Esquerda anuncia que está disposta a fazer parte de uma solução governamental de esquerda, disponibilizando-se para uma coligação com o PS; o envelhecido e decadente partido comunista português, perante a derrota eleitoral do PS de António Costa, depois de uma campanha maniqueísta, populista e divisionista como nunca se vira no PS, mas que não comoveu o eleitorado, anuncia que o seu amigo António Costa e o PS deste só não governariam se não quisessem, abrindo assim as portas a um governo oportunista, irresponsável e ideológico. 

O resultado revelou-se um fracasso redondo, não apenas por atirar outra vez o país para uma situação de endividamento extremo, nepotismo e corrupção, mas sobretudo porque a aliança de esquerda começou a ruir por dentro, à medida que o PS foi canibalizando a seu favor os frutos mais doces da Geringonça, deixando aos comunistas de inspiração estalinista, aos maoistas e aos trostsquistas a perspetiva de uma erosão inevitável dos respetivos eleitorados (o erro destes, com em 2016 sugeri, foi não terem exigido uma coligação governamental, em vez da trapalhada a que o sempre acutilante e saudoso Vasco Pulido Valente chamou uma geringonça. A emergência da Iniciativa Liberal, e sobretudo do Chega, capitalizando a falta de liderança no CDS, a passividade de Rui Rio e a incapacidade da gerontocracia comunista atrair a juventude empobrecida e radicalizada, vieram completar um quadro de alteração estrutural do sistema partidário que vigorou nos últimos quarenta e cinco anos. O modo como se deu a mudança de poder nas recentes eleições regionais nos Açores confirma a hipótese de ter começado já uma metamorfose do regime, que uma reforma profunda da Constituição a seu tempo poderia dar a devida estabilização democrática.

Quais são os cenários possíveis perante os dados e as tendências conhecidos?

1) Uma radicalização à esquerda, a qual suporia a chegada de Pedro Nuno Santos a SG do PS, e a criação de uma verdadeira frente popular de carácter nacionalista, ainda que dentro da UE, mas apoiada por algumas ditaduras bem conhecidas: Rússia, Venezuela, Coreia do Norte, China e Vietname, por exemplo.

2) Uma radicalização à direita, a qual suporia um crescimento sustentado do Chega, da Iniciativa Liberal e de uma ala mais conservadora no PSD que tomaria o poder neste partido. Esta frente populista encontraria conforto em vários países da UE (Polónia, Hungria, Itália, entre outros).

3) Uma convergência constitucional ao centro, europeísta e atlantista, com o objetivo de manter em Portugal um regime rotativista formado por dois grandes partidos moderados, rodeados por uma nuvem de pequenos partidos de direita e esquerda, com os quais os primeiros poderão formar coligações de geometria variável. Esta convergência, no entanto, teria que assentar numa revisão constitucional capaz de retirar a excessiva carga ideológica que a Constituição ainda tem (Preâmbulo, etc), favorecer claramente a representação dos grandes partidos face aos pequenos, fixar um número único de deputados à Assembleia da República (150), extinguir a ideia e o processo de regionalização em curso, mantendo o princípio da descentralização e desconcentração dos serviços públicos, reforçando, ao mesmo tempo, as competências, responsabilidades e poderes das autarquias. A efetiva independência da Justiça seria outro dos desideratos a conseguir numa futura revisão constitucional, separando claramente órgãos de soberania de funções públicas, e tornando eletivos os cargos de topo da administração da justiça. Minar as corporações herdadas do fascismo, a que o PCP tão bem se adaptou, seria outro dos objetivos essenciais a conseguir numa futura revisão constitucional.

Dos cenários possíveis, há um que claramente prefiro: o da convergência constitucional europeísta e atlantista, que supõe uma aliança reforçada com a Inglaterra, seja qual for o desfecho do Brexit. É mais civilizada, produtiva e pacífica.