quinta-feira, setembro 06, 2007

Haxixe

haxixe

Legalize-se o cultivo da Cannabis
E denuncie-se a hipocrisia dos Estados


Aqui há uns anos prenderam pai e filho, creio que alemães, no Algarve (Portugal), por terem uns pés de Cannabis no quintal. Agora foi a vez de humilharem uns camponeses pobres, depenados da PAC, por causa de mais umas plantações (pé-de-meia) de erva, algures em terras perdidas de Trás-os-Montes.

Toda a gente sabe, ou deveria saber, que Marrocos produz 80% do haxixe consumido na Europa (e portanto alguém ao mais alto nível deve estar a par do assunto...). Por outro lado, são a Espanha e Portugal dos que mais lucram com a distribuição do produto na península e no resto da Europa (e portanto alguém ao mais alto nível deve estar a par do assunto....) Aliás, Espanha e Portugal são notórias plataformas de distribuição de haxixe, de cocaína e de tabaco ilegal vindo dos Estados Unidos (e portanto alguém ao mais alto nível deve estar a par do assunto...) Estes três produtos, e a lavagem de dinheiro negro proveniente de Estados falhados ou corruptos (Rússia, Angola, etc.), mais algum tráfico de carne branca, são, para quem não sabe, o segredo do milagre imobiliário espanhol e português (e portanto alguém ao mais alto nível deve estar a par do assunto...)

O negócio das iguarias é uma coutada reservada aos poderosos, independentemente de se tratar de droga, tabaco ilegal, prostituição, comércio ilegal de armas, diamantes, ou trabalho clandestino. Por isso esperam que os governos prendam de vez em quando uns pobres diabos, para dar o exemplo...

Mas se o haxixe, o tabaco ilegal e a cocaína são tão importantes fontes de rendimento negro de tantos países, que os mesmos ou outros depois reciclam, porque não legalizar o consumo destas drogas, com regulamentação apropriada, autorizando, por exemplo na Península Ibérica, o cultivo, outrora tão comum, do atractivo e útil cânhamo? Não serve a dita e maravilhosa planta para fazer boas telas e bom papel? Não servem as suas inflorescências e folhas para produzir infusões e fumos tão variados quanto irresistíveis? E não serviriam os restos de todas estas produções (o bagaço do haxixe), bem como as plantas de menor qualidade, para produzir os cada vez mais atraentes biodiesel e bioetanol, sem afectar a produção de alimentos essenciais, como o milho, a soja, a cana-de-açucar, a beterraba açucareira, o óleo de dendê e mesmo variedades especiais de trigo e de ervilhas! A mamona brasileira não se dará provavelmente muito bem na Ibéria, mas o haxixe, sim!!

Na procura de energias alternativas ao petróleo, gás natural e carvão, o segredo está no blend: algum bioetanol e biodiesel que não estupore a agricultura alimentar; ventoinhas que cheguem, bem distribuídas entre a terra e o mar, mas que não excedam os equilíbrios mecânicos da atmosfera; paineis solares onde haja chão improdutivo (pois Sol e sílica não faltam!); enfim, alguma barragem hídrica mais, se for bem demonstrada a respectiva utilidade energética e económica, devidamente indemnizadas as regiões pelas inevitáveis e dolorosas patadas ecológicas dos factos a consumar, e enfim, assegurados os adequados tratamento e transporte das matérias orgânicas que os rios levam naturalmente até ao mar; quanto ao nuclear, não obrigado!

Outrora, e há a propósito textos muito persuasivos de Thomas de Quincey --Confessions of an Opium-Eater (1821)-- e de Baudelaire --De l'Idéal artificiel, le Haschisch (1858)--, a Europa rejeitou o haxixe, basicamente por ameaçar o predomínio económico e cultural de duas outras drogas bem enraizadas e da qual os Estados ocidentais cobravam (e ainda cobram!) bons impostos: o tabaco e o álcool. Ora bem, hoje os consumos do tabaco e do álcool são cada vez mais penalizados, quer do ponto de vista legal, quer mesmo do ponto de vista cultural. Por razões de saúde, claro, mas sobretudo porque os danos por eles provocados, directa e indirectamente, começaram a ameaçar perigosamente os lucros das companhias de seguros e a sustentabilidade dos serviços públicos da saúde. It's always the economics, stupid!

Ora bem, porque não incluir o haxixe, a cocaína, a heroína, e outras drogas difundidas e largamente consumidas no Ocidente (os espanhóis estão entre os maiores consumidores de cocaína do mundo) no lote de substâncias psicoactivas de venda tolerada, ainda que fortemente regulamentada e desaconselhada? As proibições que vigoram em número crescente para o álcool e para o tabaco seriam obviamente aplicáveis ao haxixe e demais drogas culturalmente aceites na Europa. Haveria, por assim dizer, um princípio de liberdade e um princípio de responsabilidade simultaneamente aplicáveis. Será que estou a dizer uma barbaridade? Se não estou, porque é que se perseguem de forma caricata e hipócrita os desgraçados de Trás-os-Montes que vimos hoje, cheios de vergonha, nos noticiários televisivos?

Creio que a explicação é similar à que motiva as campanhas de eco-terrorismo de Estado promovidas pelos governos norte-americano e colombiano contra as plantações de coca: garantir uma fonte regular de super-lucros!

Mas disto nada se ouve da parte dos atarefados partidos políticos portugueses. Andam, como sempre, entretidos com jogos florais em volta da cantina orçamental.

Cannabislândia
Cânhamo
Cannabis
Maconha
Haxixe
Biodiesel
Bioetanol

OAM #237 07 SET 2007

segunda-feira, setembro 03, 2007

Aeroportos 35


Um novo aeroporto em Fátima? Holy Shit!

ORP vola con MISTRAL AIR
Accordo tra ORP e Mistral Air, la compagnia aerea di proprietà di Poste Italiane.

Si terrà lunedì prossimo, 27 Agosto, alle ore 10:00, presso la Sala Blu degli Aeroporti di Roma a Fiumicino (...), l'incontro con la stampa per la firma dell'accordo tra ORP e Mistral Air, la Compagnia Aerea di proprietà di Poste Italiane, in occasione del volo inaugurale diretto a Lourdes per il tradizionale pellegrinaggio della Diocesi di Roma.

L'accordo, della durata di 5 anni, prevede l'utilizzo di un Boeing 737- 300, con partenze dagli aeroporti italiani di Roma, Verona, Bari, Brindisi, Lamezia Terme, Catania, Ancona.

Fatima, Lourdes, Santiago de Compostela, la Terra Santa, Czestochowa, l'Egitto (Sinai) saranno le destinazioni che dal 2008 verranno raggiunte, si stima da circa 150 mila passeggeri all'anno. -- Opera Roamana Pellegrinaggi, Agosto 2007.

O Papa, que resolveu espevitar um forte movimento ecuménico de contraposição ao fundamentalismo islâmico, descobriu o potencial das Low Cost. E quais são os três maiores santuários católicos europeus? Lourdes, Fátima e Santiago de Compostela! E de onde vêm os peregrinos? De toda a parte, certo. Mas na sua maioria, vêm... das principais comunidades emigrantes portuguesas - França, Alemanha, Brasil, Reino Unido... Espanha -, e dos principais países católicos do mundo: Portugal, Espanha, Itália... Polónia... Brasil...

Como se este potencial fosse insuficiente para viabilizar um aeroporto Low Cost em Fátima (na realidade a pista, já em construção, situa-se em Giesteira), descobre-se a olho nu algumas evidências especialmente oportunas para o actual debate sobre a política aeroportuária portuguesa e os lóbis que se movem na sua sombra: o novo aeroporto de baixo custo de Fátima fica a 23 Km de Leiria, a 61 Km de Santarém, a 90 Km de Coimbra, a 138 de Lisboa, a 157 Km de Castelo Branco e a 207 Km do Porto...

Bastará uma pista com 2200 metros e um barracão decente para que o futuro aeroporto de Fátima, a par do novo aeroporto Sá Carneiro e da disponibilização do Funchal para as Low Cost, atrase para as calendas gregas a tão propalada, mas nunca demonstrada, saturação da Portela.

Tem a palavra o inenarrável ministro!

Post-scriptum: abordei este tema e o do aeroporto de Beja no editorial d'OAM de 02 de Setembro. Para além do destaque aqui dado ao futuro aeroporto de Fátima, segue-se o texto do referido editorial. Ao contrário do que pensa Vasco Pulido Valente, que também abordou o tema na sua divertida e acutilante coluna do Público de hoje (03-09-2007), o futuro aeroporto de Fátima não precisa de mendigar um único euro ao Orçamento de Estado. Não faltarão interessados no financiamento do empreendimento, a começar pelo próprio sector económico da Igreja Católica Portuguesa, o Vaticano e um sem número de Low Cost. A única dificuldade nesta corrida, vai ser mesmo derrotar a pandilha da construção civil e dos bancos portugueses, bem como o inevitável lóbi da Ota. Outro obstáculo a arredar do caminho é ainda a incompetente ANA e a suas escandalosas mordomias estratégicas e pecuniárias.

Beja Link


02-09-2007. O aeroporto de Beja é um campeonato distinto do de Lisboa-Montijo. Vai no fundo funcionar como uma plataforma aeroportuária (com logística) do Alentejo agro-turístico e lúdico (ouvi falar numa Las Vegas na região de Beja...), e ainda como possível base para uma Low Cost a operar no triângulo Lisboa-Beja-Faro.
Se construírem entretanto vias rápidas com 4 pistas ("autovias", ou IPs) nos trajectos assinalados no mapa, a coisa pode mesmo funcionar!

Estarei equivocado?

Última hora!

05-09-2007. Alitália liberta 150-170 slots em Malpensa! Imaginem um cenário parecido na Portela. É inevitável, depois de fracassada a compra da Varig. Tudo a bater certo! (RR dixit).

04-09-2007 11:52
MILAN (Thomson Financial) - Ryanair Holdings PLC could be interested in take-off and landing slots at Milan's Malpensa airport, which Alitalia SpA could give up, said Alessia Viviani, Ryanair sales and marketing manager for Italy.
Newspaper reports say that Alitalia plans to cut 150-170 of its daily 340 flights from Malpensa airport as part of a scaling down of this hub in a business plan to turnaround the airline. -- ABC money.co.uk

PS2 (03-09-2007 23:31) -- O escândalo silencioso da PGA
Soube que já há trabalhadores despedidos da Portugália Airlines a trabalhar no Aeroporto Madrid Sur (o que inaugurará no fim deste ano em Ciudad Real, a 100 Km de Madrid). A isto chamo ter vergonha dos imbecis que nos governam! Enquanto Zapatero anuncia que "en el 2010 vamos a ser el país con más kilómetros de tren de alta velocidad en el mundo, y el país con más kilómetros de autovías de Europa" (El País, 02-09-2007), temos a política de transportes entregue a um dromedário que fuma cachimbo e o país papagueado por um pseudo engenheiro que faz jogging e lê tele-pontos. Entretanto, os poderes fáticos vão estuporando o país alegremente. A TAP, empresa tutelada pelo Estado, depois de comprar um fruto podre a quem queria desfazer-se dele (o Grupo BES), despediu mais de 200 trabalhadores da PGA, como anunciámos a tempo e horas, e prepara-se para continuar a despedir, lá para o início de Outubro. A sucata, i.e. os aviões da PGA, serão paulatinamente encostados às boxes (por óbvia inutilidade) e as suas rotas ocupadas por aviões da TAP, cada vez mais vazios. Antes do Verão cancelaram, nos meses que controlei, uma média de 200 voos por mês. Ou muito me engano, ou vai aumentar o número de voos cancelados a partir do fim deste mês. Nessa altura, mais gente irá para a rua. Talvez venhamos a ver então algumas centenas de trabalhadores da PGA e da TAP (solidários) a ocupar as pistas da Portela. Que lhes chamará então o gongórico do Jornal das 9, da SIC Notícias? Aero-terroristas? E o horrorizado Paulo Portas, que trocadilho retardado cantará? Já ouviram falar de terrorismo pasteleiro? Talvez fosse bom para envergonhar e assustar os crápulas e as araras que nos governam!

PS1 (02-09-2007) -- Operacionalizar o aeródromo de Fátima para receber a Low Cost de Sua Santidade? Concerteza! O mundo mudou e o inenarrável drumedário das obras públicas também vai ter que mudar, ou ser removido!

OAM #236 02 SET 2007

domingo, setembro 02, 2007

ETA

Pichagem da ETA
E se ocorrer um atentado em Portugal?

As autoridades espanholas pediram colaboração ao nosso país para investigar a existência de possíveis células da ETA em Portugal (1). Para tal, querem enviar polícias e juízes para o território português, a pretexto de uma maior eficácia na perseguição de militantes daquela organização separatista basca, cuja violência é de todos conhecida.

Um longo status quo foi assim e repentinamente posto em causa, causando grande surpresa e hesitação nas autoridades portuguesas, ao mesmo tempo que apanhou o governo de José Sócrates completamente distraído e atrapalhado nos seus afazeres europeus, ou seja, de calças nas mãos.

E percebe-se porquê. A Espanha, que tem demonstrado uma teimosa incapacidade de lidar com o problema basco, e em geral com a candente questão das suas autonomias regionais, lançando sinais intermitentemente contraditórios sobre aquele que é o mais importante desafio à sua efectiva integridade política enquanto estado da União Europeia, decide meter o país irmão ao barulho sem que nada de verdadeiramente substancial aponte para a quebra da regra de não abuso da hospitalidade portuguesa (2), oferecida desde sempre a todos os que nos visitam. A ETA dispõe de bases operacionais em Portugal? Nós não sabemos de nada! O governo de Zapatero dispõe de informação privilegiada sobre o assunto? Então porque não comunicou, pelas vias adequadas, os factos que conhece às autoridades portuguesas? Não esperava francamente de José Luis Zapatero esta manobra de diversão para consumo interno e embaraço nosso! Ou será que anda por aí uma marosca mais séria e preocupante? Talvez o Saramago saiba responder...

Sejamos claros: a ETA é considerada pelos Estados Unidos, pela União Europeia e pela Espanha uma organização terrorista. A dita considera-se a si mesma uma organização nacionalista e patriótica de natureza paramilitar. Eu considero-a uma organização simultaneamente terrorista e nacionalista. Tal como nacionalistas e terroristas foram, pelo menos durante parte dos seus percursos de luta guerrilheira, os movimentos que pegaram em armas contra o colonialismo francês na Indochina e na Argélia, ou contra o que restava do império português no início da década de 1960.

O terrorismo é sempre condenável, venha de onde vier e seja em nome de que causa for. Sempre pensei assim, e por isso condeno as práticas infelizmente muito generalizadas da chamada guerra assimétrica, nomeadamente por parte da actual potência hegemónica, os Estados Unidos, que a tem difundido em todos os cantos do planeta onde não pode agir abertamente. A diferença entre o terrorismo de Estado e o terrorismo nacionalista é que o primeiro é secreto, dissimulado e emprega a vanguarda das tecnologias do horror (de primeira geração), enquanto o segundo é público, assume abertamente uma causa (boa ou má) e socorre-se de tecnologias pouco sofisticadas (ou de segunda e terceira geração.) A semelhança é que ambos são intoleráveis demonstrações de barbárie, i.e. meios que nenhum fim justifica, apesar de corresponderem a velhas fórmulas de enfrentamento humano violento. Neste sentido, sou solidário com as vítimas da ETA, sou contra a ETA e espero que a Espanha consiga encontrar uma solução equilibrada e sobretudo inteligente para um problema que se afigura, pelo menos por agora, sem fim... A ninguém interessa já uma balcanização da Espanha. Não interessa aos Estados Unidos, não interessa ao Reino Unido, não interessa à França e muito menos interessa a Portugal. Não há, por conseguinte, motivos para que Madrid continue a alimentar a síndrome da perseguição relativamente a esta questão. Está nas suas mãos prosseguir eternamente um conflito de baixa intensidade contra a ETA, ou resolver politicamente o problema a partir de uma visão mais ampla do futuro europeu. O Reino Unido da Espanha poderia muito bem ser constituído por uma federação de estados solidários. Creio que todos ganhariam.

O País Basco, como a Catalunha e a Galiza, onde existem nações fortes e bem mais antigas do que a Espanha católica e castelhana, aspiram porventura a um Estado democrático e federal. Os escoceses, os irlandeses e os kosovares não deixam de ter sonhos semelhantes. Podemos condená-los por isso? Até que ponto a ETA não acaba por ser, nesta perspectiva, a tonta útil da teimosia centralista castelhana? As recentes afirmações de Zapatero sobre a nova rede de alta velocidade ferroviária como o verdadeiro e eficaz instrumento da unidade da Espanha, não acabarão por ser contraproducentes para o seu país e indelicadas para Portugal?

Mas voltemos à inaceitável proposta de instalação, ainda que temporária, de delegações policiais e judiciárias espanholas no nosso país. As autoridades portuguesas prestarão sempre (como sempre prestaram) toda a ajuda possível às autoridades espanholas na perseguição de pessoas ou organizações que tenham cometidos crimes, nomeadamente condenáveis à luz das convenções bélicas internacionais, e que porventura se tenham refugiado no nosso país, desde que para tal sejam solicitadas. Não faz qualquer sentido que outro país nos impinja uma ajuda não solicitada! Se amanhã a ETA resolver realizar um atentado terrorista em Portugal (3), os nossos polícias e juízes não pensam instalar-se no território espanhol, mas antes solicitar às autoridades do país vizinho que localizem e extraditem para julgamento os autores do putativo atentado.

Não devemos colocar a carroça à frente dos bois. Nem deixar que outros o façam!



Notas

1) Ver notícia no El PAÍS: Link 1, Link 2

2) Portugal sempre acolheu refugiados e sempre deixou passar por cá protagonistas de guerras e trapalhadas criminais alheias. É uma espécie de Suiça dos espiões, guerrilheiros e escroques de toda a espécie (salvo a terrorista mais assanhada.) Portugal e Espanha são hoje os grandes camelôs do contrabando de tabaco e drogas para o resto da Europa (daí vem boa parte da sua inexplicável prosperidade.) A Espanha, além do mais, tornou-se numa gigantesca máquina de lavar dinheiro negro, que canaliza em grande parte para a destruição imobiliária do próprio país e daz zonas que influencia. Em suma, ambos os países têm quintas e quintais obscuros que convém não remexer demasiado. Há assuntos que não devem ser tratados na praça pública, sob pena de se perturbar um vespeiro cuja agitação pode tornar-se letal.

3) Esta suposição é meramente retórica, pois a ETA age segundo uma racionalidade clara, que obviamente não passa por provocar, nem enfrentar, quem não pertence ao seu teatro de guerra.



OAM #235 02 SET 2007

quinta-feira, agosto 30, 2007

Petroleo 8



O sabor amargo da dependência

O ministro português da economia acaba de anunciar o arranque do projecto de construção da barragem do rio Sabor (DN online 30-08-2007), após receber o livre trânsito da União Europeia e depois de um processo que se arrastou durante 10 anos e continua a não ser pacífico. Valerá a pena destruir o único rio selvagem do país, e provavelmente um dos poucos que restam na Europa, para obter menos de 1% da energia que os portugueses gastam anualmente de forma inconsciente e nada eficiente? Num país que importa 90% da energia que consome, qual a rentabilidade efectiva do anunciado investimento a cargo da EDP? Vão-se investir mais de 350 milhões de euros na desfiguração de um aprazível afluente do rio Douro. Valerá a pena? Os postos de trabalho a criar são evidentemente temporários e provavelmente recrutados em Marrocos ou no Paquistão! Pelo caminho ficarão uns milhares de hectares de mato precioso e terrenos agrícolas submergidos durante uma boa centena de anos. Já alguém contabilizou os efeitos ecológicos e económicos finais deste tipo de interferências no frágil anel biótico de que fazemos parte? Por um por cento da energia que consumimos, valerá a pena? E se, em vez de continuarmos a desperdiçar energia por todos os poros da nossa ineficiente economia, das nossas ineficientes cidades, das nossas ineficientes casas e dos nossos maus hábitos de recém chegados ao mito do consumismo, diminuíssemos a nossa factura energética em 20% até 2012? Outros, muito mais ricos do que nós, estão a fazê-lo! (2)

... e do fim de um paradigma

É certo que outras barragens e mini-hídricas estão a caminho. E é certo também que o actual governo "socialista" parece apostar na energia eólica e na energia solar, em alternativa à solução nuclear (1) desejada e proposta por alguns (Mira Amaral, etc.) Todas estas fontes renováveis virão a representar por junto, salvo erro, não mais de 20% da energia total actualmente consumida? Quer dizer, continuaremos a depender em pelo menos 80% de fontes energéticas situadas no exterior: Espanha e França, no que toca à electricidade, Argélia, Angola, Irão, Arábia Saudita, etc., no que respeita ao petróleo e gás natural. Ou seja, seremos forçados a competir com os Estados Unidos, a China, a Rússia, o Japão, a India e o resto do mundo por um recurso energético de que todos dependem criticamente, mas que entrou definitivamente na metade descendente da sua curva de existência (o célebre sino de M King Hubbert, conhecido como Peak Oil, ou Pico do Petróleo).

Existe pois um problema muito sério na segurança energética do país, na medida em que estamos gravemente dependentes do petróleo e do gás natural, ao mesmo tempo que somos um país pobre, em fase de desindustrialização acelerada, descapitalizado, improdutivo, desorganizado, envelhecido, com a demografia estagnada, e sobretudo entregue a umas elites políticas levianas e incapazes de lidar com as consequências brutais da mutação civilizacional que se aproxima a passos largos.

Três consequências potencialmente trágicas poderão decorrer da actual emergência energética: uma crise alimentar profunda, a destruição criminosa dos solos agrícolas (ver o excelente artigo Peak Soil, de Alice Friedemann) e a implosão económico-social das grandes cidades!

Neste cenário pré-catastrófico, o episódio da barragem do rio Sabor é um detalhe sem significado para o desafio que temos pela frente. Não deixa, porém, de ser sintomático do estado de sonambulismo em que vegeta o actual ministro português da economia e em geral o governo de que faz parte.


Post scriptum

Os movimentos ecologistas manifestaram uma vez mais a sua oposição à construção da barragem do rio Sabor. A União Europeia tirou-lhes a razão e autorizou o governo português a fazer o que quiser. Este episódio significa, por um lado, que a União Europeia entrou, de facto, num processo de regressão provavelmente irreversível. Como escreve Eric Le Boucher -- L'échec de l'Europe de l'énergie-- no Le Monde de 30-08-2007,
"Après le rejet de la directive Bolkestein qui devait ouvrir les marchés de services à la concurrence, voici le refus des OPA transfrontières dans l'électricité au profit de la constitution de " champions nationaux". L'Europe des services est morte, l'Europe de l'énergie aussi."

Por outro lado, e precisamente por causa desta regressão "nacionalista" da Europa, os movimentos ambientalistas terão que mudar radicalmente de estratégia, sob pena de perderem toda a autoridade e sobretudo toda a eficácia de actuação. Mais do que acampamentos negativos, o Green Peace e a sua vasta prole europeia precisam de definir, pela positiva, uma visão plausível das respostas a dar à dramática mudança de paradigma energético que toda a humanidade sofrerá ao longo deste século. Estamos a entrar numa emergência global (energética, ambiental, climatérica, social e bélica) de proporções inimagináveis. Precisamos de estudar rapidamente os seus contornos e precisamos de definir e implementar rapidamente estratégias de recuo sustentáveis (como defende James Lovelock.)


Última hora!

Um comunicado indigente, em péssimo português e pior economês...

BARRAGEM DO BAIXO SABOR. COMUNICADO DA CIP. 2007.AGO.31

"A CIP aplaude a decisão de avançar com a construção da barragem do Baixo Sabor já e de, assim, se dar um novo impulso à realização do programa de aproveitamentos hidroeléctricos. Desta forma, o Governo não só cumpre o que, em devido tempo, estabeleceu como objectivos nacionais para a promoção das energias renováveis e para o melhor aproveitamento dos recursos nacionais, como o faz no sentido certo."

A CIP não sabe que a energia hídrica tem uma presença negligenciável no consumo total de energia em Portugal?

A CIP não sabe, por outro lado, que as barragens têm servido sobretudo para a proliferação de desportos náuticos movidos a petróleo e a construção de "resorts" turísticos, que por sua vez atraem consumos energéticos intensos, produção de CO2 e metano e escandalosos gastos de água com os inevitáveis campos de "golf"?

"As vantagens desta decisão, desde sempre defendida pela CIP, já foram indicadas e são esmagadoras:

· Criação de condições técnicas necessárias para o sistema eléctrico Português acomodar, com segurança, os elevados níveis de potência eólica previstos para Portugal para os próximos anos, através do "armazenamento" de energia, por bombagem, dos excedentes de produção eólica nos períodos de menor consumo."

O que esta algaraviada pretende dizer é que o génio Pimenta convenceu a CIP (não precisava!) de que manter as eólicas a trabalhar durante a noite para trazer de volta às albufeiras a água despejada durante as descargas provenientes do funcionamento das turbinas, permitirá finalmente criar uma máquina perpétua! Mas a que preço?

Sabemos hoje que a retenção dos sedimentos orgânicos nas albufeiras, junto às barragens, que a EDP tem a obrigação de depositar regularmente nas embocaduras dos rios, mas não cumpre, preferindo vender a matéria orgânica e os detritos a empresas irresponsáveis, quebra o ciclo ecológico que há milhares de milhões de anos estabelece um importantíssimo regime de trocas entre a terra e o mar, sem o qual o planeta vivo que conhecemos nunca teria chegado a existir, e que, por causa desta evidente estupidez, poderá estar neste preciso momento a ser seriamente comprometido. As falésias caem por toda a costa portuguesa, em boa parte por causa destas e outras irreverências humanas.

E além do mais, se as ventoinhas não descansarem, o seu desgaste será maior e durarão menos, i.e. haverá uma maior rotação de capital fixo (investimentos mais frequentes, mais produção industrial, mais transportes, mais especulação bolsista, mais concentração,....) e mais subsídios públicos às empresas produtoras/fornecedoras de electricidade, como a EDP, a Iberdrola, a Fenosa, etc.

A CIP fez estas contas? Seria mais útil começar por aí, em vez de se apressar a emitir comunicados disléxicos, reverentes e obrigados.

"· Gestão energética e hídrica do Rio Douro em situações extremas de seca e melhor utilização da potência hidroeléctrica instalada a jusante deste Rio."

O que é uma gestão enérgica e hídrica do rio Douro?!
Onde fica a potência hidroeléctrica a jusante do rio Douro?! Na Bemposta? No Picote? Em Miranda do Douro? No Pocinho? No Carrapatelo? Em Crestuma? No Torrão? Em Viseu? No Douro internacional?

Tencionam a CIP, a EDP, a SOMAGUE (hoje maioritariamente espanhola) e a Teixeira Duarte promover a retenção generalizada das águas nas albufeiras (através do mecanismo de reversão das descargas) nas 43 barragens da bacia do Douro? Só em algumas? Quais? Porquê? Têm números sobre o assunto? Sabem do que falam?

"· Redução da dependência externa induzida pelas centrais de ciclo combinado a gás natural."

Mas o assunto deste comunicado não são as barragens e em particular a barragem destinada a destruir o rio Sabor?

"· A contribuição para o cumprimento das metas de emissão de CO2 a que o País se comprometeu."

Esta frase é o fruto de uma mistificação completa dos dados sobre as causas da elevada intensidade energética da nossa economia, dos elevadíssimos níveis de ineficiência energética e dos escandalosos níveis de produção de CO2. Infelizmente, a grave situação em que o país se encontra é uma consequência directa do analfabetismo endémico da CIP e dos seus associados. Digo infelizmente, porque um mal destes não se cura de um dia para o outro. A não ser que a Europa eficiente entre por aqui adentro mais depressa que o esperado...

"A CIP realça os efeitos multiplicadores para a Indústria e para a economia que resultarão da realização deste programa e que excedem, em muito, a melhoria do perfil energético e da segurança do abastecimento de electricidade."

Algaraviada sem nexo!

"A construção de vários aproveitamentos hidroeléctricos em prazo próximo será levada a cabo com uma grande incorporação nacional, quer em projectos, quer em realização de obras, potenciando o emprego e, sobretudo, a tão desejável oferta em áreas especializadas."

Onde está o famoso efeito reprodutivo do Alqueva? Não continua o Alentejo às moscas? Não chegaram à conclusão que o melhor, agora, é vender as margens da albufeira ao mercado imobiliário, para projectos turísticos, mais campos de golfe, mais motas de água, ao mesmo tempo que se vão vendendo as herdades às empresas espanholas para que elas expandam os seus agressivos negócios agro-industriais e agro-energéticos? Já viram uma imagem de satélite de Almeria? Então vejam!!

"A CIP acompanha com interesse e empenho o esforço na criação de novos clusters, de que é exemplo a nova fileira das energias renováveis mas, recorda que, para as barragens, o know-how e a capacidade de realização já existem e são internacionalmente reconhecidos como competitivos."

Balelas! Para já, as renováveis só estão a ser encaradas pelo lado do lucro fácil das empresas e dos interesses económicos que vêem neste "cluster" mais uma oportunidade se continuarem a viver à conta de subsídios e oligopólios protegidos pelo Estado, através dos partidos do Bloco Central e seus esporádicos acólitos.

"A realização deste programa terá como efeito a recuperação da actividade no sector da construção e obras públicas, e, também, um incremento dos sectores eléctrico e metalomecânico de alta tecnologia, quer para fabricos e equipamentos, quer quanto às actividades de instalação e montagem."

Voltamos ao caso do Alqueva... Provem o que dizem. Falem-nos do Alqueva!!

"Serão igualmente de referir os efeitos positivos, quer na dinamização dos serviços que acompanham sempre estas realizações, quer na criação de emprego local estável e de qualidade."

Sabe a CIP quantas pessoas são precisas para a manutenção local de uma barragem/ central eléctrica? Nunca passearam pelas barragens de Portugal? Vêem por lá muitos trabalhadores, vêem?

"A dinamização da actividade destes sectores vitais da economia portuguesa e os efeitos positivos óbvios no emprego por ela induzidos serão um passo firme no sentido da retoma económica."

Enviar comunicados vazios de conteúdo não custa nada. Mas é uma pena quando o seu autor é a organização que representa a indústria portuguesa. Na realidade, não passa do acto falhado de uma entidade virtual.

"Por estas razões, a CIP saúda este passo no sentido do pleno aproveitamento das capacidades e do conhecimento já existentes no País e, mais uma vez, insiste com o Governo para que prossiga nos rumos agora traçados dentro dos calendários previstos, e sem hesitações."

O modelo económico que comanda a política portuguesa chegou a um beco sem saída. O betão está pela hora da morte e pouco haverá a fazer neste domínio daqui para o futuro. Mas isto não significa que não haja coisas muito importantes por fazer. Pelo contrário! Basta pensar nas oportunidades económicas associadas à mudança do paradigma energético e industrial na era pós-carbónica.

Precisamos de fazer uma travagem de emergência à escala mundial. Isso significará menos consumo de petróleo e de gás natural, menos emissões, cidades mais eficientes, maior segurança alimentar, maior sustentabilidade e autonomia dos sectores produtivos, mudança drástica de comportamentos económicos, sociais e culturais, muito maior solidariedade e activismo cívico... e um Estado bem mais esclarecido e interveniente.

Como se vê, não faltam oportunidades!

- OAM



Notas e Referências

1 - A opção nuclear em Portugal equivaleria a aumentar ainda mais a nossa dependência energética (pois teríamos que importar todo o urânio, já transformado em combustível pronto a usar), a incrementar os custos de gestão da própria produção (construção de centrais, segurança, manutenção e reprocessamento ou "exportação" de resíduos), a ampliar desnecessariamente os riscos de contaminação ou mesmo de acidentes (à medida que os equipamentos forem envelhecendo), e a criar alvos potenciais num contexto de guerra internacional. Por outro lado, sinais da escassez na produção de urânio (devido aos vultuosos investimentos necessários), o seu preço e a hesitação de vários países na construção de novas centrais aconselham uma oposição frontal à introdução deste tipo de energia em Portugal. Ver também O Renascimento do nuclear?

Chegou-me entretanto às mãos esta imprescindível fonte para entender o problema energético português:

"A intensidade energética da economia portuguesa degradou-se continuamente desde 1970. Entre 1992 e 2002 Portugal teve o maior crescimento no consumo de energia primária e de energia eléctrica per capita da Europa a 25 (Eurostat).
Quanto maior a intensidade energética das actividades económicas maior a sua vulnerabilidade à flutuação dos preços da energia. Para Portugal, o problema do abastecimento em combustíveis fosseis não reside na sua eventual escassez mas sim na ausência de meios para os adquirir."

in A ENERGIA NUCLEAR É NECESSÁRIA PARA O DESENVOLVIMENTO DO PAÍS? (PDF)
J. Delgado Domingos, Prof.Cat.(jubilado) do IST, Instituto Superior Técnico, 22 Fevereiro 2006.

2 - Em 2003 a mobilidade custou a Houston (EUA) 14% do seu PIB, à capital francesa, 6% e a Singapura, 4,7% do respectivo Produto Interno Bruto. As percentagens do transporte público (relativamente aos privados) nos casos citados são sucessivamente de 1,2%; 17% e 52,75%!

Quanto nos custa a nós, portugueses, em % do PIB, a nossa desequilibrada mobilidade?

Se o transporte colectivo eléctrico regressasse a Lisboa, ao Porto e a Coimbra, e fosse introduzido em Sintra, na Margem Sul do Tejo, em Braga, Aveiro, Setúbal e Faro, quanto seria a poupança na nossa factura energética e no volume escandaloso das nossas emissões de gases com efeito de estufa? O lóbi da construção e os bancos não desistem de pressionar o governo e os partidos do Bloco Central (até lhe pagam campanhas eleitorais!) para que sejam lançadas grandes obras públicas. Ele é a Ota (agora Alcochete), o TGV Lisboa-Porto -- que é o que promete mais receitas aos construtores e à banca, mas deixando o país endividado até à medula --, e agora as barragens em catadupa.

O metro do Porto é um bom contra-exemplo de algo que se pode fazer, dando a ganhar aos construtores e à banca, e dando trabalho às pessoas, sem deixar de servir ao mesmo tempo os interesses estratégicos do país. Será que ninguém entende estas verdades comezinhas?

Ver PDF de Rui Rodrigues (26-01-2004)

OAM #234 30 AGO 2007

segunda-feira, agosto 27, 2007

Crise global

O fim da confiança no dólar

Aug. 27 (Bloomberg) -- "U.S. stocks fell after a report showed the glut of unsold homes rose to a 16-year high last month and analysts said reduced demand for mortgage securities may hurt earnings at Countrywide Financial Corp."

Aviso por e-mail, "a reter :
- Segundo a Câmara de Comércio e Industria alemã, cada vez mais empresas "Mittelstand" (as médias empresas) não conseguem fazer o "roll over" (renovação) dos créditos .

- estima-se que a Banca tenha cerca de 300 mil milhões de US Dólares de créditos subprime nos seus livros, que não conseguem vender.

- desde 1929-31 que não se via um pânico na Banca desta dimensão; a Alemanha não sofria uma crise desta dimensão desde 1931.

- 146 bancos alemães solicitaram crédito de emergência ao Bundesbank, a pagar 5% de juro (contra máximos "normais" de 3-4%).

- os analistas falam de 40% de probabilidades de uma recessão económica nos EUA, que afectará a economia europeia em função dos ajustamentos nas taxas de juro (habitação e consumo). Os efeitos far-se-ão sentir nos 2º e 3º trimestres de 2008."

Comentário:

O que não deixa de ser assustador é o facto de os americanos terem conseguido exportar largas porções do seu crédito mal-parado para o resto do planeta e em particular para a Europa (razão pela qual a crise do subprime atingiu tão duramente a banca alemã e francesa). O que não deixa de ser caricato é que a tão propalada "mão invisível" do mercado se chame afinal BCE e Fed, e que venha aflita socorrer os especuladores, criando para eles taxas de juro especialmente favoráveis, enquanto mantem em alta as taxas dos juros hipotecários das famílias cada vez mais endividadas da América, da Europa e do resto do Mundo!

Isto vai acabar mal. Basta pensar na actual corrida aos armamentos, nomeadamente nucleares, em curso desde que se tornou evidente que o dólar (USD) deixou de ser, de facto, uma moeda fiável para o mundo, e que a sua imparável desvalorização poderá levar os EUA a um golpe de estado monetário mundial.

À semelhança da exportação do crédito mal-parado americano para a Europa, Japão e outros países, os EUA podem muito bem estar neste momento a cozinhar a criação de um "novo dólar"! Há quem diga que o truque seria este: nos Estados Unidos, por cada dólar velho, os americanos receberiam um dólar novo. Mas fora da América, cada dólar novo passaria a custar 2, 3, ... 4 dólares velhos! Se este assalto tiver lugar no espaço de 2 anos, o resto do mundo ficará provavelmente sem saber o que fazer. Mas se demorar mais, é muito possível que a SCO (Shanghai Cooperation Organization) se desfaça da maioria dos dólares em carteira (na China, Rússia, Irão, etc...), indexe os preços do petróleo, gás natural e muitas outras matérias primas a um cabaz de moedas credíveis (euro, iene, franco suiço) e declare publicamente que responderá proporcionalmente a qualquer provocação militar vinda dos EUA ou de qualquer dos seus aliados.

A coisa está mesmo feia!

OAM #233 27 AGO 2007

segunda-feira, agosto 20, 2007

OGM

GloFish
GloFish, o primeiro animal doméstico geneticamente modificado.
Desenvolvido pelo Dr. Zhiyuan Gong em 1999, foi introduzido no mercado dos EUA
em Dezembro de 2003 pela Yorktown Technologies. Comercialização proibida na Europa.


Deserto transgénico

Silves (Portugal): Activistas destroem cultivo de milho transgénico

"Cerca de cem activistas contra os OGM (Organismos Geneticamente Modificados) destruíram hoje (17-08-2007) cerca de um hectare de milho transgénico cultivado numa herdade em Silves, enquanto o proprietário, em lágrimas, os tentava desmobilizar." Diário Digital

"Foi apresentada pela primeira vez prova científica irrefutável do impacto na saúde de milho transgénico. Trata-se da variedade MON 863, produzida pela Monsanto (a maior multinacional de sementes transgénicas do mundo) e que foi objecto de estudo toxicológico pela própria empresa." Plataforma Transgénicos Fora, in Resistir

A acção de Silves foi levada a cabo por uma organização chamada Movimento Eufémia Verde. O estilo é conhecido e continua a ter excelentes resultados nas acções exemplares da Green Peace. Como em Portugal os movimentos ecologistas foram em geral anestesiados pelas burocracias partidárias e universitárias, não estamos habituados a que assumam entre nós mais do que formas piedosas de contestação... e negociação. A acção de Silves vem por isso colocar-nos perante uma situação nova. De repente, o país, e em primeiro lugar os agricultores, acordaram para o problema dos Organismos Geneticamente Modificados (OGM).

Se o agricultor visado pela acção exemplar é, como parece, um pequeno empresário, e não uma média ou de preferência grande empresa agro-industrial, então a acção de Silves (que nada tem que ver com um "acto de desobediência ecológica", como eufemisticamente se lhe referiu Miguel Portas no blog Europa sem Muros) foi pouco inteligente, injusta e contraproducente relativamente aos objectivos que aparentemente pretende prosseguir. Em Portugal, como em toda a parte do mundo, não se provocam os pequenos protagonistas, mas os grandes. Ameaçar a pequena propriedade, ou o produto do trabalho legítimo, quando temos várias grandes empresas agro-industriais à mão de semear, é um erro imperdoável. Por outro lado, a complexidade dos problemas visados não se aborda já daquela maneira legalmente tão desamparada. Em democracia, temos armas mais lógicas e eficazes: a opinião, a investigação cidadã, a discussão pública e os tribunais.

Mas a questão de fundo não é esta! O que eu e todos nós queremos saber é se os OGM devem ou não ser combatidos e irradiados de vez da produção agrícola mundial. Mas aí as coisas são menos óbvias do que à primeira vista parecem...

O problema pode ser visto sob quatro ângulos distintos: o da manipulação genética, o da produção agro-alimentar e agro-energética, o da saúde pública e o da sustentabilidade ecológica das práticas industriais intensivas, frequentemente resultantes da associação oportunista entre a ciência mercenária, as tecnologias dela resultantes e a lógica do capital financeiro na actual fase de concentração e globalização.

1) A manipulação genética em si, de que a criação de OGMs é um aspecto cada vez mais corrente no actual estado de desenvolvimento das sociedades tecnológicas, não deve, na minha opinião, estar em causa, ainda que os resultados da mesma, pela sensibilidade das matérias que abrange, deva merecer uma vigilância científica, técnica, jurídica e democrática muito apertada. O que não podemos permitir é que um tão decisivo domínio da realidade social pós-contemporânea (na medida em que a sua actualidade se projecta sistematicamente no futuro) seja capturado pela esfera privada da globalização económica, nem por fundamentalismos ecológicos desinformados, meramente corporativos ou simplesmente pequeno-burgueses.

2) Quanto à produção agro-alimentar, devemos ter em conta que a mesma precisa, em primeiro lugar, do auxílio da ciência e das novas tecnologias para atingir as metas da produção alimentar exigidas pela demografia humana actual (6,6 mil milhões de pessoas) e expectável até ao fim do século 21 (9,4 mil milhões). Quando recolhia elementos para este artigo descobri um facto curioso, para não dizer macabro: o crescimento explosivo do cultivo da soja transgénica na Argentina (ajudando este país a sair da gravíssima crise económica de 1999-2002), tal como no Brasil, tem como principais mercados a Europa e a China. No primeiro caso, a Europa, as rações de soja transgénica tornaram-se cruciais para a pecuária deste continente ao substituirem as farinhas animais entretanto proibidas e que até à crise da BSE eram dadas ao gado herbívoro! No caso da China, a demografia, a melhoria da dieta alimentar de centenas de milhões de pessoas (com maior consumo de carne e peixe) e o empobrecimento crescente dos solos aráveis do país colocam-no numa situação de verdadeira dependência dos grandes produtores mundiais de proteínas.

3) O uso dos OGMs tem vindo a levantar suspeitas cada vez mais numerosas e fundamentadas sobre o potencial perigo dos mesmos para a saúde humana e de outras espécies de vida cuja destruição pode desencadear efeitos destruidores em cadeia de dimensões imprevisíveis. O mais recente argumento técnico para atacar os alimentos transgénicos teve aliás origem na demonstração realizada pela própria Monsanto de que o OGM conhecido por MON 863, um milho transgénico com propriedades insecticidas e de resistência ao herbicida glisofato, utilizado intensivamente na produção do milho transgénico para consumo humano e produção de rações, afectava a reprodutibilidade dos ratos estudados em laboratório, causando-lhes mesmo danos nos rins e fígado. Entretanto, um alerta científico sobre este tema, publicado em Março de 2007, da autoria de Mae-Wan Ho, Joe Cummins e Peter Saunders, "GM Food Nightmare Unfolding in the Regulatory Sham", ISIS Report (PDF) vem chamar a atenção para a gravidade do problema.

4) Finalmente, no que se refere aos efeitos das práticas intensivas das indústrias agro-alimentares e agro-energéticas, sabe-se que estão a provocar dois tipos de desastre imediato: por um lado, a competição entre a produção de alimentos e a produção de bio-combustíveis não só está a destruir extensas áreas florestais no Amazonas (literalmente queimadas para dar lugar à soja), como está a provocar um aumento intolerável dos preços dos cereais e leguminosas em todo o mundo, com efeitos sociais catastróficos entre as populações mais pobres do planeta; por outro lado, o uso dos pacotes tecnológicos da Monsanto, como o conhecido Roundup Ready (sementes transgénicas insecticidas resistentes ao herbicida Glifosato, por sua vez fornecido para permitir maior rentabilidade na produção da soja, milho, trigo, arroz, canola, algodão, etc....), por parte de países como o Brasil e a Argentina (mas também os EUA e o Canadá), está a provocar não apenas a esterilização e impermeabilização galopante dos solos (causando cheias onde menos se espera), mas também alterações de consequência imprevisíveis nos equilíbrios ecológicos locais e regionais. Para cúmulo, estes pacotes tecnológicos esgotam a sua eficácia ao fim de algum tempo, originando espécies resistentes ou, quando não é o caso, a emergência de novas "pragas".

Tendo presente estas quatro componentes do problema, não me parece que o assunto possa ser tratado de ânimo leve, dadas as suas envolventes económicas, sociais e sanitárias de larga escala. Estão em causa ao mesmo tempo a sobrevivência alimentar e a saúde imediata de milhares de milhões de pessoas, como está em causa toda uma cadeia de produção agrícola para fins alimentares e energéticos. Por outro lado, não parece razoável propor a eliminação pura e simples das aplicações genéticas nas indústrias agro-alimentares e agro-energéticas por causa dos sérios, mas eventualmente controláveis, problemas existentes. A gripe espanhola, conhecida entre nós por pneumónica, e causada pelo sub-tipo H1N1 da estirpe A do virus da gripe, matou durante a pandemia de 1918-1919 entre 50 e 100 milhões de pessoas em todo o planeta. As pragas de fungos (oídio) e insectos (filoxera) tiveram um efeito devastador e alteraram a distribuição da produção vinícola mundial durante mais de cinquenta anos (1863-1919), sendo ambas responsáveis entre nós, segundo alguns historiadores portugueses (Jorge Borges de Macedo e outros), pela profunda crise económica que levaria à emigração em massa para o Brasil (1881-1900 = 316 204; 1901-1930 = 754 147) e à concomitante queda do regime monárquico. Ou seja, dispensar as ciências biológicas e os sistemas organizativos e de produção tecnológica avançada no actual estado de complexidade dos eco-sistemas perturbados pela espécie humana não só é inverosímil, como teoricamente inaceitável, sendo previsivelmente catastrófica qualquer tentativa de parar, sem mais, a actual inércia industrial e pós-industrial. Isto não significa, obviamente, que o sistema não esteja a derrapar e que, portanto, não sejam necessárias medidas drásticas de monitorização, controlo e mitigação dos sérios problemas detectados. O sistema está virtualmente fora de controlo, e precisamente por isso, vai ser necessário um enorme esforço e sangue frio para dominá-lo nas décadas que se seguem.

À medida que as populações se urbanizam e o seu ciclo reprodutivo e familiar deixa de estar associado à criação de alimentos e à troca directa, passando estas tarefas para sistemas operacionais pós-humanos (ainda que transitoriamente controladas pela lógica infernal e desumana do valor capitalista), regista-se invariavelmente uma quebra da natalidade e, por efeito dos elevados níveis de segurança sanitária e médica, um envelhecimento populacional. É por isso que as sociedades industriais e pós-industriais vêem as suas tribos tradicionais desaparecerem, enquanto as sociedades agrícolas e pré-urbanas continuam jovens e numerosas (até por beneficiarem de algumas das tecnologias sanitárias e médicas contemporâneas.)

As perspectivas de crescimento demográfico mundial continuam a ser muito preocupantes, apesar da progressiva diminuição da taxa de crescimento demográfico (2,19% em 1962; 0,49% est. em 2049.) Em 2008, segundo as Nações Unidas, mais de metade da população mundial viverá em áreas urbanas, sendo que esta percentagem de urbanização chegará aos 60% por volta de 2030, correspondendo a mais de 5 mil milhões de pessoas. O mundo rural perderá para as cidades, neste mesmo período, mais de 27 milhões de pessoas. Sem percebermos todas as implicações desta alteração da demografia e da economia humanas, não será possível ter uma imagem mais nítida da complexidade dos desafios postos pela actual mutação dos respectivos processos reprodutivos, altamente socializados, tecnológicos e globalizados.

Por mera prudência, seria de limitar o uso intensivo dos processos biotecnológicos avançados das indústrias agro-alimentares e agro-energéticas a regiões demarcadas com Denominação de Origem Controlada, em vez de considerar levianamente que estes processos, largamente experimentais, são por definição inócuos e podem ter lugar indescriminadamente. Por outro lado, nenhum agricultor, nenhuma comarca ou região agrícola, e nenhum país pode ser obrigado a aceitar a introdução dos organismos transgénicos nos respectivos sistemas de produção, ou cadeias de consumo, devendo por isso ter assegurado o direito de reclamar contra a invasão, premeditada ou involuntária, das suas terras, povoações e produtos de consumo, por OGMs. Cabe à ciência provar a não-toxidade e o carácter benigno das suas invenções, bem como o ónus de corrigir os erros que eventualmente cometa. As indústrias, por sua vez, devem abster-se de usar os OGMs e os Roundup Ready como potenciais armas biológicas, pois é o que sucede sempre que tentam impôr contra a vontade das comunidades processos de produção tecnologicamente duvidosos, mal testados, ou perigosos.

Da Plataforma Transgénicos Fora! (entrevista a Gilles-Éric Séralini)

Pergunta - Em 2000, 99% dos OGM eram plantas-pesticidas, que toleram um herbicida total (71%) ou que produzem um insecticida (28%). Como estamos em 2007?

Prof. Séralini - Pior! A proporção é de 100%: 68% absorvem um herbicida sem morrer (são bombas de herbicida), 19% produzem um insecticida e 13% fazem as duas coisas simultaneamente. A verdadeira segunda geração de OGM, testada nos campos desde 1998, apresenta estas duas características. É evidente que em meio aberto os produtores de OGM se interessam sobretudo pelos pesticidas. E isso manter-se-á de aqui a cinco ou dez anos: os OGM objecto de quase todos os pedidos actuais de autorização toleram dois herbicidas, produzem dois insecticidas ou combinam estas quatro características."

"(...) - Estas plantas de um ou mais pesticidas são em grande maioria a soja e o milho?

- Sim. Os últimos números são: 57% de soja, 25% de milho, 13% de algodão, e 5% de colza. E o trigo e o arroz estão a chegar. Estes números provam que os OGM agravam os problemas da agricultura intensiva no mundo. Entre as 30 000 plantas comestíveis cultivadas, uma trintena fornece 95% da energia alimentar mundial e quatro - a soja, o milho, o arroz e o trigo - mais de 60%. Tendo cada planta pelo menos uma centena de variedades, é muito complicado e custoso assegurar uma patente sobre uma delas. Basta no entanto aos produtores de OGM escolherem as poucas que alimentam a humanidade para se apropriarem do essencial da alimentação mundial."

"(...) - Na sua opinião porque há tão poucos investigadores que partilham a sua vontade de fazer progredir a avaliação dos OGM, nomeadamente os seus efeitos sobre a saúde?

- A comunidade dos investigadores em biotecnologias não é um meio apropriado para avaliar os riscos. Ela não se destina a isso mas a produzir novos OGM em colaboração com as empresas. Dito isto, quando me pediram em 2003 que passasse em revista os trabalhos das comissões científicas que aconselharam os ministros europeus sobre os OGM relativamente aos pedidos de autorização, verifiquei que nesses trabalhos o meu ponto de vista era maioritário: numerosos cientistas têm críticas a formular em relação aos OGM de pesticidas. Simplesmente estão obrigados ao segredo."

Texto integral da Entrevista com o Prof. Séralini

Referências



Última hora!

Obrigado Mário Crespo!

(27-08-2008). O gongórico Crespo tem manifestado uma obsessão policial contra os ecologistas e a favor da indústria agro-alimentar.

Mas será realmente assim?

O "pivot" da SIC Notícias, no jornal das 9 de hoje, entrevistou o porta-voz da Verde Eufémia, procurando uma vez mais demonstrar que o néscio doutorando é uma espécie de terrorista: mais precisamente, um eco-terrorista (ou um "terrorista soft" - como o ministro da administração interna, Rui Pereira, admitiria poder-se apelidar, em última instância, este género de sujeitos.)

O rapaz lá foi respondendo como sabia ao inquisidor-mor da SIC (very sick indeed!) Para Crespo, por trás daquele eco-impreparado, se não havia um eco-terrorista, no mínimo, haveria um gajo do Bloco, ou um gajo a soldo de uma empresa qualquer (de nome francamente irrelevante), ou, pelo menos, um agente do Putin! Sim do Putin, cujo convite dirigido ao eco-radical, para ir a Moscovo, participar numa conferência internacional sobre transgénicos, o dito eco-fundamentalista suspeitamente aceitara. Nem a Judite faria uma inquirição com tal detalhe e exibição de indícios!

A "régie" berrava ao gongórico Crespo para acabar com aquela pessegada deprimente. Mas ele, qual Joana D'Arc dos embaixadores da Monsanto em terras lusitanas, insistia furiosamente na tortura mediática do imberbe doutorando.

Como eu gostaria de ver esta criatura da SIC, cuja moleira se fechou para sempre, inquirir com fúria semelhante o Senhor Vaz Guedes sobre os 200 mil euros pagos ao PSD. Como eu gostaria de ver esta caricatura do "Sixty Minutes" perguntar ao governo e ao Senhor Salgado, como foi possível fazer-se em Portugal (não em Angola) um negócio tão obscuro e completamente ruinoso para o Estado quanto o da venda da falida PGA (Portugália Airlines) à desesperada TAP. Corrupção? Fraude? Roubo? Quando se usa um colarinho branco, não são precisas máscaras!

O gongórico homúnculo do Jornal das 9 anda preocupado com a pequena propriedade privada e com o eco-terrorismo. Mas andará?

Então se anda, porque não estudou a lição de José Bové e não enquadrou, como deveria, se fosse um profissional sério, a acção de Silves no âmbito mais amplo e absolutamente actual das acções do mesmo género que ocorrem, neste preciso momento, por exemplo, em França (ver Les OGM, un choix de politique agricole, par Hervé Kempf, LE MONDE)?

Então se anda, porque não indagou os principais grupos agro-alimentares e agro-energéticos portugueses (BES, GALP, EDP, Banif,...) sobre a ingente questão dos transgénicos? Vão aplicar OGMs nas suas vastas propriedades e nos seus ambiciosos projectos bio-energéticos? À custa de quê? À custa de quem? E o governo, que pensa sobre o assunto? E o PS, se ainda existe, mudou de opinião? E o país, será que vai reagir ou ficar bovinamente indiferente até que a miséria lhe caia em cima?

O gongórico locutor, sem saber o que faz, fez bem: colocou na ordem do dia, muito para lá da acção dos mascarados de Silves (que obviamente terão que amadurecer), um tema que irá dar muito que falar. Sobretudo quando alguns dos que sustentam a SIC (e manifestamente detestam que se fale de certos assuntos) começarem realmente a queimar a pelada terra portuguesa, não em nome da segurança alimentar, mas sim da guerra energética que aí vem, e dos lucros, claro está.

(25-08-2007 01:56) Indexar o Pão Alentejano ao etanol?

Se o Alentejo, e pelos vistos o Algarve também, se transformarem em vastas plantações de milho transgénico para a produção de etanol, crescendo ao longo da Costa Vicentina, não apenas "resorts" de luxo, mas também destilarias de etanol, que sucederá ao preço do Pão Alentejano?

É isto que a poeira lançada sobre o infeliz episódio de Silves, de momento, e por manifesto interesse do governo (o PSD transformou-se num zombie), não deixa ver. Mas é fundamental lançar a discussão!

Se o debate estratégico sobre a política de transportes é fundamental para a reorganização da nossa relação com a Espanha (e foi desencadeada pela blogosfera de forma absolutamente notável); se o debate em torno das duas grandes áreas metropolitanas portuguesas (Lisboa e Porto) é decisivo no processo de adaptação da nossa sociedade ao aquecimento global e ao encarecimento irreversível da energia; a questão da segurança alimentar, no quadro entretanto criado pela indexação progressiva e de facto do preço do pão ao preço do biodiesel, pode vir a transformar-se numa crise de um dramatismo sem precedentes.

Perante a fragilidade do actual poder político e a manifesta e durável impotência das oposições, não resta outra alternativa que não passe por desejar lucidez ao actual governo do PS, ao mesmo tempo que a mobilização das energias civis do país deve seguir o seu curso próprio, redobrando a sua capacidade de observar e analisar os fenómenos, construindo os necessários alertas e propostas de solução dos problemas, num diálogo exigente com todos os poderes instalados.

A rentrée promete!

Referências:

A Challenge to Gene Theory, a Tougher Look at Biotech
By DENISE CARUSO
The New York Times
Published: July 1, 2007

THE $73.5 billion global biotech business may soon have to grapple with a discovery that calls into question the scientific principles on which it was founded.

Last month, a consortium of scientists published findings that challenge the traditional view of how genes function. The exhaustive four-year effort was organized by the United States National Human Genome Research Institute and carried out by 35 groups from 80 organizations around the world. To their surprise, researchers found that the human genome might not be a "tidy collection of independent genes" after all, with each sequence of DNA linked to a single function, such as a predisposition to diabetes or heart disease.

Instead, genes appear to operate in a complex network, and interact and overlap with one another and with other components in ways not yet fully understood. According to the institute, these findings will challenge scientists "to rethink some long-held views about what genes are and what they do."

(...)

Yet to date, every attempt to challenge safety claims for biotech products has been categorically dismissed, or derided as unscientific. A 2004 round table on the safety of biotech food, sponsored by the Pew Initiative on Food and Biotechnology, provided a typical example:

"Both theory and experience confirm the extraordinary predictability and safety of gene-splicing technology and its products," said Dr. Henry I. Miller, a fellow at the Hoover Institution who represented the pro-biotech position. Dr. Miller was the founding director of the Office of Biotechnology at the Food and Drug Administration, and presided over the approval of the first biotech food in 1992.

Now that the consortium's findings have cast the validity of that theory into question, it may be time for the biotech industry to re-examine the more subtle effects of its products, and to share what it knows about them with regulators and other scientists.

Denise Caruso is executive director of the Hybrid Vigor Institute, which studies collaborative problem-solving.

BIOFUELLED
Jun 21st 2007
From The Economist print edition
Grain prices go the way of the oil price
Economist.com

"EVERY morning millions of Americans confront the latest trend in commodities markets at their kitchen table. According to the United States Department of Agriculture, rising prices for crops—dubbed "agflation"—has begun to drive up the cost of breakfast. The price of orange juice has risen by a quarter over the past year, eggs by a fifth and milk by roughly 5%. Breakfast-cereal makers, such as Kellogg's and General Mills, have also raised their prices. Underpinning these rises is a sharp increase in the prices of grains such as corn (maize) and wheat, both of which recently hit ten-year highs. Analysts are beginning to ask, as they have of oil and metals, whether higher prices are here to stay."

BUY FEED CORN:
THEY'RE ABOUT TO STOP MAKING IT...

by F. William Engdahl, July 25, 2007

(...) "In the mid-1970's Secretary of State Henry Kissinger, a protégé of the Rockefeller family and of its institutions stated, "Control the oil and you control entire nations; control the food and you control the people." The same cast of characters who brought the world the Iraq war, the global scramble to control oil, who brought us patented genetically manipulated seeds and now Terminator suicide seeds, and who cry about the "problem of world over-population," are now backing conversion of global grain production to burn as fuel at a time of declining global grain reserves. That alone should give pause for thought. As the popular saying goes, "Just because you're paranoid doesn’t mean they aren’t out to get you."

PEAK SOIL: Why cellulosic ethanol, biofuels are unsustainable and a threat to America
Contributed by Alice Friedemann, April 10, 2007

Ethanol is an agribusiness get-rich-quick scheme that will bankrupt our topsoil.

Nineteenth century western farmers converted their corn into whiskey to make a profit (Rorabaugh 1979). Archer Daniels Midland, a large grain processor, came up with the same scheme in the 20th century. But ethanol was a product in search of a market, so ADM spent three decades relentlessly lobbying for ethanol to be used in gasoline. Today ADM makes record profits from ethanol sales and government subsidies (Barrionuevo 2006).

The Department of Energy hopes to have biomass supply 5% of the nation’s power, 20% of transportation fuels, and 25% of chemicals by 2030. These combined goals are 30% of the current petroleum consumption (DOE Biomass Plan, DOE Feedstock Roadmap).

Fuels made from biomass are a lot like the nuclear powered airplanes the Air Force tried to build from 1946 to 1961, for billions of dollars. They never got off the ground. The idea was interesting -- atomic jets could fly for months without refueling. But the lead shielding to protect the crew and several months of food and water was too heavy for the plane to take off. The weight problem, the ease of shooting this behemoth down, and the consequences of a crash landing were so obvious, it’s amazing the project was ever funded, let alone kept going for 15 years.

Biomass fuels have equally obvious and predictable reasons for failure. Odum says that time explains why renewable energy provides such low energy yields compared to non-renewable fossil fuels. The more work left to nature, the higher the energy yield, but the longer the time required. Although coal and oil took millions of years to form into dense, concentrated solar power, all we had to do was extract and transport them (Odum 1996)

With every step required to transform a fuel into energy, there is less and less energy yield.

(24-08-2007 00:30) Jaime Silva, ministro da agricultura aproveita contradições do Bloco

O gongórico Crespo (hoje estava mais cool) entrevistou o ministro da agricultura. Jaime Silva, revelando uma malícia requintada, aproveitou a oportunidade para explorar as contradições óbvias que grassam dentro do Bloco de Esquerda, entre Louçã e Portas, cujo blogue é, ao que parece, um acto falhado, entre os parlamentaristas de São Bento e o de Bruxelas, e entre os eternos bolcheviques e a extrema-esquerda chique. Por um lado, a dança de genes entre o PS e o Bloco, claramente comandada neste caso pelo aristocrático ministro, pode ser um recado a Lisboa, ao vereador Sá Fernandes, para que não pregue nenhuma partida a António Costa. Mas foi, antes de mais, uma inesperada aberta para o PS defender os pequenos e médios proprietários (e empresários) do país e exigir que o debate político se situe em patamares de clara legalidade democrática, recusando frontalmente fundamentalismos historicamente deslocados. Esta clarificação serve que nem uma luva ao PSD, por onde perpassa uma onda de populismo virulento (pré-eleitoral) que convem amainar -- nem que para tal se deixem revelar algumas verdades inconvenientes... A rentrée de Outono promete.

(23-08-2007). Para o gongórico Crespo: a primeira bio-guerra do século 21

Trivial Pursuit:

A - Há vários anos que o exército norte-americano bombardeia com Roundup Ready --fornecido pela Monsanto-- vastas zonas agrícolas da Colômbia, seguindo o famoso Plan Colombia, com particular incidência nos seus campos de coca (uma planta de cultivo tradicional, milenar naquelas paragens de altitude) a pretexto de combater a produção de cocaína, quando na realidade o que estão a fazer é garantir a manutenção dos preços altos da mesma nos mercados internacionais, e por conseguinte as escandalosas margens de lucro das máfias que se alimentam do comércio ilegal de drogas (onde se inclui invariavelmente gentuça com fortes ligações aos grandes poderes deste mundo, seja na Colômbia, em Marrocos, na Espanha, em Portugal ou nos Estados Unidos).

Como classifica este tipo de acções: eco-terrorismo, guerra biológica, eco-genocídio, qualquer uma destas opções, duas delas (quais?) ou todas elas? Estou certo que o estruturalista da SIC Notícias, com tempo, há-de chegar à resposta certa.

B - Novas pandemias de propagação rápida podem estar no horizonte próximo, alerta hoje (23-08-2007) a Organização Mundial de Saúde (BBC News online). A circulação de pessoas à escala global (2,1 mil milhões de pessoas a viajar de avião em 2006) e a enorme falta de transparência existente nas indústrias multi-milionárias da pecuária e agricultura tecnológicas (onde se fazem há anos as michórdias mais inacreditáveis e criminosas), compõem o "cocktail" explosivo denunciado pela OMS.

Pergunta: denunciar, perseguir, castigar e sobretudo impedir a multiplicação deste tipo de armadilhas biológicas é um acto democrático inadiável ou, por eventualmente ameaçar a propriedade privada, pode cheirar a terrorismo? Estou certo que o estruturalista da SIC Notícias, com tempo, há-de chegar à resposta certa.


23-08-2007. Ainda o gongórico Crespo

Não lhe pagam para ter opinião, e muito menos para fazer de polícia de costumes, mas apesar disso, insiste em vender-nos a ideia de que os eco-radicais pequeno-burgueses que atacaram em Silves são "eco-terroristas". Que saberá ele de terrorismo?! Por exemplo, o Bush é ou não um terrorista de Estado e um genocida, tendo em conta que foi e é o máximo responsável pelos 135.129 mortos do Iraque, pela execução exibicionista de Saddam Hussein e pela destruição daquele país na sequência de uma invasão ilegal? E sobre invasões e esbulhos, saberá ele alguma coisa? Por exemplo, quando os norte-americanos e ingleses tomam de assalto o Iraque e ocupam as suas zonas petrolíferas(1), preparando uma lei (Hydrocarbon Law) destinada a entregar 80% das receitas do petróleo às inocentes Chevron, Exxon, BP, e Shell, o que é isto? Invasão de propriedade alheia? Roubo? Terrorismo? O Crespo, incomodado com o "hate mail" recebido nestes últimos dias, afirmou durante a sua "performance" no Jornal das Nove de hoje, que andava a guardar as direcções IP de quem lhe escrevia. Pior do que um "pivot" gongórico, só mesmo um "pivot" estruturalista (sim, ele disse estruturalista!)

1 - Iraq Oil Bush Cheney Chevron BP Shell Exxon - A Review


21-08-2007. Deserto Transgénico: a batata azul da BASF

A Comissão Europeia, através da especializada European Food Safety Auhority (onde os lóbis da indústria química, biológica e farmacêutica europeia têm gente muito insistente e persuasiva), está em vias de aprovar uma batata geneticamente modificada da BASF para fins industriais diversos, entre eles a produção de goma (para envernizamento de capas de revista, por exemplo) e rações para animais. Para além dos genes potenciadores da percentagem de goma na nova batata (azul), o transgénico desenvolvido pela multinacional belga contem ainda sequências genéticas com marcadores resistentes aos antibióticos, os Antibiotic Resistant Marker Genes (ARGMs), cujo uso prescreveu em 2004, segundo as próprias directivas europeias!

De facto, na directiva Genetically modified organisms GMOs: deliberate release into the environment (repeal. Direct. 90/220/EEC), de 17-04-2001, foi decidida "a identificação e eliminação dos OGMs que contenham genes resistentes a antibióticos usados em tratamentos médicos e veterinários. Esta eliminação terá lugar até ao fim de 2004 no casos dos OGMs já comercializados, e antes do final de 2008 no caso da OGMs autorizados para pesquisa experimental."

A aprovação deste novo transgénico por parte da UE parece pois votado a adensar a polémica sobre a aparente leviandade com que estes assuntos têm vindo a ser abordados e regulados pelas instâncias políticas comunitárias.

A batalha cívica pela transparência, precaução e controlo apertado do uso das tecnologias genéticas vai seguramente ganhar contornos cada vez mais nítidos na arena democrática europeia e mundial. Em Portugal não começou da melhor maneira, mas irá prosseguir, estejam ou não estejam os anões da política e os reaccionários de sempre para aí virados.

Portugal preside neste momento à Comissão Europeia. Seria bom que alguém no actual governo dissesse ao primeiro ministro o que fazer.

Ref.: Euractiv

20-08-2007. O Mário Crespo, da SIC, passou-se!

No Jornal das Nove de hoje parecia um bufo furibundo, intimando o ministro da administração interna a prender toda a gente, quer dizer, os tais 100 eco-radicais que destruiram a plantação de milho de Silves. Chegou ao ponto de oferecer a reportagem da SIC como meio de prova, para que não faltasse ao ministro argumentos para prender o que insinuou serem perigosos eco-terroristas e predadores da propriedade privada. Nem queria acreditar! Salvou a SIC o bom senso e os conhecimentos de Paulo Pereira (um dos ministros mais simpáticos e competentes deste governo à deriva), que soube acalmar a fúria do gongórico locutor, já um pouco senil, diga-se de passagem. Uma coisa é condenar a acção destes esverdeados encapuçados, por mal ajustada e descontextualizada. Foi o que fiz. Agora confundir o sucedido, com terrorismo, ainda por cima pela boca do pivot de um telejornal, é virar a realidade de pernas para o ar. Oh Mário, começa a ler o Herberto Helder!

OAM #232 20 AGO 2007

sexta-feira, agosto 17, 2007

Nuclear 2

Yellowcake
Yellowcake - o precipitado sólido a partir do qual de processa o combustível nuclear.


O renascimento do nuclear?

O preço do urânio triplicou em apenas um ano.
Em 2040, 2050 como muito, este minério será uma raridade virtualmente inexplorável...

Apesar da bondade visionária de James Lovelock, a verdade é que o tão propalado renascimento do nuclear não tem pernas para andar. E não é por causa de questões de segurança, ou simples resistência dos povos que não querem re-edições revistas e ampliadas de Three Mile Islands, nem Chernobyl. O motivo porque a energia nuclear não será uma alternativa ao pico petrolífero mundial é muito mais simples e irredutível: não há urânio suficiente!

Ou melhor, o chamado EROEI (Energy Returned on Energy Invested) tornar-se-à desinteressante assim que a exploração das principais zonas mineiras de urânio (Austrália, Cazaquistão, Canada, África do Sul, Namíbia, Rússia, Brasil, EUA, Uzbequistão) se tornar demasiado cara e consumidora de água e de energia nos processos de escavação, processamento e enriquecimento do combustível nuclear.

As reservas conhecidas de urânio natural em 2006 somam 3.142.000 toneladas
O consumo anual de urânio é equivalente a 65.000 toneladas de urânio*
A extracção anual de urânio é 40 mil toneladas
Duração estimada das reservas: 48-50 anos

* -- 20 mil das quais têm origem no processamento de combustível a partir do arsenal abatido de 30 mil bombas nucleares da ex-URSS

Post scriptum: Recebi um comentário da Chantal Tremblay (e depois disso, referências oportunas sobre o assunto, compiladas pela Maria de Fátima Biscaia) chamando-me a atenção para a probabilidade de assistirmos a um prolongamento da era nuclear, seja por efeito de uma maior rentabilidade das futuras centrais (por exemplo, se utilizarem a tecnologia canadiana conhecida por CANDU), seja sobretudo pela entrada em cena das centrais alimentadas com tório (cuja tecnologia tem vindo a ser desenvolvida pela India) assim que o ciclo do urânio e do plutónio atingir o pico. As maiores reservas de tório encontram-se nos seguintes países: Brasil, Turquia, India, EUA, Noruega, Gronelândia, Canadá.

CANDU

(...) by avoiding the uranium enrichment process, overall utilization of mined uranium in CANDU reactors is significantly less than in light-water reactors (about 30-40% less, using current designs).

Compared with light water reactors, a heavy water design is "neutron rich". This makes the CANDU design suitable for "burning" a number of alternative nuclear fuels. To date, the fuel to gain the most attention is mixed oxide fuel (MOX). MOX is a mixture of natural uranium and plutonium, such as that extracted from former nuclear weapons. Currently there is a worldwide surplus of plutonium due to the various United States and Soviet agreements to dismantle many of their warheads, and the security of these supplies is a cause for concern. By burning this plutonium in a CANDU it is removed from use, turning it into energy. - in Wikipedia


THORIUM

Much development work is still required before the thorium fuel cycle can be commercialised, and the effort required seems unlikely while (or where) abundant uranium is available.

Nevertheless, the thorium fuel cycle, with its potential for breeding fuel without fast neutron reactors, holds considerable potential long-term benefits. Thorium is significantly more abundant than uranium, and is a key factor in sustainable nuclear energy. - in Wikipedia


Referências

Desperately seeking uranium
Article by Michael Petek
Wednesday 15th August 2007, 19:59

A little makes a lot?
By John Busby
Aug/07/2007

Introduction to CANDU systems and operation, Lecture Notes by Dr. George Bereznai (PDF)

Thorium fuel cycle - Potential
benefits and challenges IAEA-International Atomic Energy Agency (PDF)

Uranium Proved Reserves

17th IAEA Technical Meeting on Research Using Small Fusion Devices
22nd to 24th October 2007 Lisbon, Portugal
The 17th IAEA TM on "Research Using Small Fusion Devices" will be held in Lisbon, hosted by the Government of Portugal through the Centro de Fusão Nuclear of the Association EURATOM/Instituto Superior Técnico (EURATOM/IST).

OAM #231 17 AGO 2007