sexta-feira, julho 17, 2009

Por Lisboa 26

Cidade morta e corrupta

Lisboa é magnífica a 500 metros de distância, mas quando chegamos aos 5 metros, é suja, corrompida e frequentada por gente paralisada numa espécie de arrogância iletrada. O mundo, ao contrário de pertencer-lhes, como chegam a acreditar, segue infelizmente noutro lugar. Lisboa afunda-se na ignorância, na corrupção e numa extraordinária falta de sensibilidade cultural. Como me dizia ontem um amigo: Portugal e a sua capital morreram, mas ninguém se deu conta!

O endividamento catastrófico do país, numa Europa que ameaça rasgar em breve o Tratado de Lisboa, ou enfiar o dito numa espécie de caixão de boas intenções, vai levar-nos inevitavelmente à tragédia.

Há 500 anos que não sabemos viver sem uma árvore das patacas à mão. Há séculos que os desgraçados lusitanos e galegos deste país fogem espavoridos da miséria e da subserviência, deixando as terras e as aldeias ao Deus dará, e deixando também entregues ao vício das rendas e do soldo público as eternas manchas gentílicas que formam esta indecorosa sociedade clientelar. Provinciana, arrogante e sempre dependente de uma qualquer brisa de felicidade imerecida, a caricata sociedade portuguesa não tem desta vez a mais pequena ideia de como safar-se. O circo de corrupção e descaramento exibicionista do bloco das rosas e das laranjas, actualmente engalfinhado numa desesperada corrida pelos restos da despensa comunitária, é a mais confrangedora prova do que escrevo. Esta país morreu e ainda ninguém nos telefonou a comunicar o óbito, nem a hora do funeral!

Tudo leva a crer que os próximos resultados eleitorais conduzirão o país a um impasse total, prelúdio de uma crise de regime para a qual não existe ainda nem discurso crítico coerente, nem utopia. Ou muito me engano, pois, ou as bombas-relógio que irão provocar o colapso do regime já estão colocadas nos sítios: Funchal, Lisboa e Porto. Resta-nos ainda alguma saída, ou esperança? Temo bem que não. Pelo menos, sem antes passarmos por uma convulsão constitucional.

Se não formos capazes nos próximos seis meses de meter na prisão uma boa dúzia de notórios ladrões e piratas do regime, este colapsará necessariamente. A dimensão do drama dependerá tão só da forma como a Europa se comportar perante a actual crise mundial — que é de natureza simultaneamente energética, ambiental, económica, financeira, estratégica e institucional. Se vingar a decisão constitucional da Alemanha de não permitir mais endividamento público nos Estados da União, das duas uma, ou a Europa desaparece (e somos invadidos pela Espanha), ou todos ganhamos juízo e pomos na prisão os especuladores e ladrões que capturaram as democracias europeias, dando início a um período de adaptação estrutural aos novos constrangimentos e paradigmas da convivência mundial.

O que eu, nem ninguém de bom senso, deve fazer, é continuar a alimentar os simulacros de democracia representativa actualmente em curso, a pretexto das próximas eleições legislativa e autárquicas. Ou o senhor Cavaco e a gente honesta dos partidos resolvem em uníssono dar um murro na mesa e endireitar a situação, ou nada melhor nos espera em 2010 do que um colapso económico-social seguido de uma mais do que provável implosão da Terceira República.

As desistências de Manuel Alegre, e agora de Helena Roseta, no que toca à gestação de uma alternativa ao degenerado Partido Socialista — de Jorge Coelho, António Vitorino, Paulo Pedroso, Vera Jardim, Vitalino Canas, Edite Estrela ou Fátima Felgueiras —, fazem-me temer o pior. E pelas bandas do partido laranja, a saída de cena de Paulo Rangel deixa Manuela Ferreira Leite entregue à mediocridade e ganância da corja de piratas que capturou e perverteu o partido fundado por Francisco Sá Carneiro.


OAM 603 17-07-2009 23:25

Por Lisboa 25

Costa prepara-se para harakiri político

Lisboa precisa de um autarca visionário, corajoso e independente. Não de um cabotino doidivanas (Santana Lopes), nem de um aparatchic tacticista (António Costa)

Com que então pode-se destruir uma das principais valias da capital — o aeroporto da Portela —, numa época em que se avizinham anos de penúria (1), e em que por isso toda e qualquer pequena vantagem competitiva numa indústria decisiva para o país, como é o turismo, pode ditar a diferença entre o seu colapso e a sua sobrevivência —com o argumento de que uma nova cidade aeroportuária a 48 Km do Campo Pequeno continua a ser uma infraestrutura da capital—, mas já não é tolerável deslocalizar o Instituto Português de Oncologia (IPO) para Oeiras, porque isso equivaleria a desfalcar Lisboa de um importante equipamento hospitalar, propondo-se pois levar o IPO para o descampado de Chelas, onde não existe vivalma, nem existirá em mais de uma década qualquer rede de transportes colectivos decentes e acessíveis. Em que ficamos, António Costa?

Falar de um novo pulmão verde na Portela é pura demagogia! Toda a gente sabe que as novas, projectadas ou em construção, estações do Metro de Lisboa, do Aeroporto e da Alta de Lisboa, foram concebidas para servir o senhor Stanley Ho e a sua Chinatown. Não é pelo facto de o empreendimento imobiliário da Alta de Lisboa e o senhor dos casinos estarem hoje meios falidos, que é menos verdade o que alguns destinaram para a Portela: eliminar o aeroporto e especular/construir um novo aeroporto na Ota. Em boa hora as redes sociais de cidadania fizeram abortar esta verdadeira conspiração de interesses.

Pelos vistos, António Costa não consegue ver as evidências, e deixa-se ir nas pregações interesseiras e obtusas do arquitecto Salgado, sobre as quais aliás, boa parte dos arquitectos da corda cor-de-rosa e alfacinha revela uma expectativa atávica.

A aeroporto da Portela vai continuar onde está até, pelo menos, 2020. Irá certamente passar por mais obras de adaptação, quer nas pistas, quer nas placas de estacionamento, quer nas mangas, estruturas técnicas e zonas de acolhimento. As redes sociais, por sua vez, encarregar-se-ão de contrariar qualquer nova tentativa de entregar aqueles preciosos terrenos à especulação imobiliária, como fonte de receita fundamental para o financiamento do chamado novo aeroporto de Lisboa (NAL). Para já, a TAP, tecnicamente falida, perde passageiros todos os dias e encerra rotas à medida que as Low Cost oferecem rotas irrecusáveis: Porto-Milão, Lisboa-Funchal, Faro-Paris, etc. Dentro em breve a TAP terá que cancelar, ou pelo menos renegociar, algumas encomendas de aeronaves, alguns leasings e mesmo devolver aviões. Dentro de meses, a TAP terá muito provavelmente que arrumar a sucata da PGA no aeromoscas de Beja! Ninguém imagina pois, e muito menos quem defende o turismo deste país, a easyJet, a Ryanair e as restantes companhias Low Cost a trocarem Lisboa por uma cidade aeroportuária em Alcochete no decurso da próxima década.

António Costa fugiu ao tema escaldante da ponte Chelas-Barreiro (Helena Roseta está contra, não está?), e disse disparates sobre o terminal de Alcântara, num lamentável exercício de subserviência ao camarada Jorge Coelho e à Mota-Engil (Helena Roseta está contra, não está?) O ex-número 2 do PS foi vago nos temas do compromisso com Helena Roseta (reabilitação urbana, transportes colectivos e mobilidade, e governança local). Não teve sequer um único rasgo de utopia, nem mesmo de realismo construtivo. Coisas simples, como limpar a cidade, rebocar e pintar os prédios degradados, tirar os carros de cima dos passeios, ou fazer renascer as colectividades de bairro, passaram-lhe completamente ao lado, vítimas de um tacticismo temeroso que irá terminar necessariamente mal para a sua candidatura. Ao contrário do que alguns pensam, uma vitória eventual de Manuela Ferreira Leite não prejudicará em nada Pedro Santana Lopes. Pelo contrário, será o tapete vermelho para o seu regresso à capital.


NOTAS
  1. After the era of excess. By Stephen S. Roach

    26 February 2009 — The world stopped in 2008—and it was a full stop for the era of excess. Belatedly, the authorities have been extraordinarily aggressive in coming to the rescue of a system in crisis. But as in the case of Humpty Dumpty, they will not be able to put all the pieces back together again. The next era will be very different from the one we have just left behind.

    ... Yes, the United States now accounts for only about 20 percent of total Chinese exports. Shipments to Europe and Japan collectively account for another 30 percent, while the bulk of the remainder shows up in the form of sharply growing intraregional Asian trade. But there is a serious problem with the notion that China or any other major economy has successfully weaned itself—or decoupled—from overreliance on US markets. Whether it is Europe, Japan, or developing countries of Asia other than China, all have one critical characteristic in common: insufficient internal private consumption and an overreliance on exports as a major and increasing source of growth. Intraregional trade has expanded sharply in developing Asia, but with internal consumption as a share of GDP continuing to fall, these economies remain hugely dependent on end-market demand in the developed world.

    As a result, there can be no mistaking the bottom line of this global recession. When the world’s dominant consumer—the United States—enjoys an extraordinary boom, so do the world’s major exporters. But when the US boom goes bust, export-led economies around the world are in serious trouble. That’s precisely the nature of the adjustment now bearing down so acutely on Japan; developing Asia; Germany; and America’s NAFTA partners, Canada and Mexico. All of these export-led economies are either decelerating sharply or in outright recession. — in McKinsey's What Matters.


    Mobius Says Derivatives, Stimulus to Spark New Crisis


    July 15 (Bloomberg) -- A new financial crisis will develop from the failure to effectively regulate derivatives and the extra global liquidity from stimulus spending, Templeton Asset Management Ltd.’s Mark Mobius said.

    “Political pressure from investment banks and all the people that make money in derivatives” will prevent adequate regulation, said Mobius, who oversees $25 billion as executive chairman of Templeton in Singapore. “Definitely we’re going to have another crisis coming down,” he said in a phone interview from Istanbul on July 13.

    Derivatives contributed to almost $1.5 trillion in writedowns and losses at the world’s biggest banks, brokers and insurers since the start of 2007, according to data compiled by Bloomberg. Global share markets lost almost half their value last year, shedding $28.7 trillion as investors became risk averse amid a global recession.

    The U.S. Justice Department is investigating the market for credit-default swaps, Markit Group Ltd., the data provider majority-owned by Wall Street’s largest banks, said July 13.

    Mobius didn’t explain what he thought was needed for effective regulation of derivatives, which are contracts used to hedge against changes in stocks, bonds, currencies, commodities, interest rates and weather. The Bank for International Settlements estimates outstanding derivatives total $592 trillion, about 10 times global gross domestic product.

    Looming Crisis

    “Banks make so much money with these things that they don’t want transparency because the spreads are so generous when there’s no transparency,” he said.

    A “very bad” crisis may emerge within five to seven years as stimulus money adds to financial volatility, Mobius said. Governments have pledged about $2 trillion in stimulus spending. — in Bloomberg.


OAM 602 17-07-2009 00:48

terça-feira, julho 14, 2009

Por Lisboa 24

Santana, a um passo da presidência da capital

Helena Roseta é melhor do que Salgado, mas chegará para levar António Costa ao colo até à renovação do mandato?

Salvo nas últimas eleições europeias, e nos anos da Revolução, quando andava entusiasmado a ler o Trotsky, creio que votei sempre no PS. Quando se trata de eleições autárquicas, porém, a coisa muda de figura: votei no Capucho contra o indecoroso Judas em quem um dia acreditei, e vou voltar a votar em António Capucho, do PSD, contra a perigosa Ana Paula Vitorino, do aparelho socratino do PS. E nas Legislativas de Outubro irei votar outra vez no Bloco, não porque acredite no respectivo programa, ou no professor Louçã, mas pela simples razão de que só um voto naquele albergue espanhol poderá fazer duas coisas:

  1. ajudar a enterrar José Sócrates e a tríade de Macau, impedindo ao mesmo tempo que Paulo Pedroso e Vera Jardim mal substituam os neoliberais que desgraçaram o PS, ao mesmo tempo que se ajuda objectivamente algum jovem ambicioso mais fiel ao ideário social-democrata, a relançar o Partido Socialista;
  2. contribuir para o amadurecimento democrático e político do Bloco, que só começará a ser menos oportunista e demagógico quando se aproximar realmente da área da governação.
Chamo a isto "voto inteligente".

No caso da cidade de Lisboa, onde não voto, mas onde poderei candidatar-me para perder e jamais ser eleito, pendo francamente para António Costa e Helena Roseta, apesar de estar cada vez mais convencido de que Pedro Santana Lopes já ganhou!

Uma vitória desta toupeira cor-de-laranja não deixa, para mim, de ser um cenário demasiado insuportável para que possa recomendar um voto no senhor UDP do Bloco. Na realidade, gostava mesmo de influenciar o bestunto do PS que actualmente anseia por uma vitória de António Costa, ajudando-o a construir um programa cor-de-rosa tingido com algumas notas de bom senso. Mas é difícil. Muito difícil! Tal como a crise, os "socialistas" ainda não bateram no fundo. E porventura precisam mesmo de bater no fundo, para acordarem!

O PS desta legislatura que chegou ao fim foi um desastre. E no entanto, continua a fazer-se rodear pela nata narcisista e bem-pensante dos artistas, dos arquitectos, dos designers, dos escritores, e dos homens de ciência. Porque será? O tema é controverso e daria para um pequeno ensaio. Não é este o lugar ideal para semelhante dissertação, mas podemos sugerir um vislumbre: ilusão apaparicada, hipocrisia, cabotinismo, oportunismo dissimulado. Na realidade, a ideia de que há uma esquerda cultural omnisciente tem sido um dos grandes obstáculos ao verdadeiro entendimento do colapso dos paradigmas da modernidade e da própria contemporaneidade. Estamos, de facto, enfiados num vórtice suicida, que continuamos a ignorar olimpicamente. É este o grande problema da Esquerda. O dado adquirido da nossa suposta superioridade intelectual é uma maldição que nos persegue e que nos arrumará de vez se não formos rapidamente capazes de parar para pensar. Claro que, no pior dos casos, a coisa é mesmo rasteira, resumindo-se às pequenas estratégias e acolitagem destinadas a garantir a proximidade do poder, as encomendas e o emprego!

Mas voltemos à previsível superioridade política de Santana Lopes nas eleições autárquicas que se avizinham.

Escutei-o na primeira entrevista que deu a Judite de Sousa, na RTP1, sobre o combate autárquico. Retemperado do passado, bem preparado, solto, olhos nos olhos, quase paternalista no modo como escalpelizou António Costa e traduziu a repescagem do Zé Ninguém e de Helena Roseta para uma espécie de coligação acagaçada, à moda do Costa! Foi demolidor. Sobretudo quando defendeu a capital e a cidade contra o governo e o centralismo. Ou quando defendeu o aeroporto da Portela... e a nova pista do Montijo, para as Low Cost. Como vai António Costa descalçar esta bota? Que pensa contestar-lhe quando Santana Lopes exibir a tentativa socratina de assassinar o rio Tejo com a putativa Terceira Travessia no corredor Chelas-Barreiro?

Aquilo que eu, o Rui Rodrigues, o Frederico Brotas, o Mendo Henriques, o Professor Jubilado do IST e militante do PS, António Brotas, mais uma data de gente minuciosa, atenta e preocupada, andam a dizer e a escrever desde 2006 (pelo menos), vai fazer toda a diferença nas próximas eleições, como já fez nas eleições europeias. O interesse público está acima das conveniências partidárias e da corrupção endémica em que o regime se deixou cair. Quem não perceber isto numa altura em que o país colapsa nas suas próprias dívidas e ilusões, ficará irremediavelmente para trás.

Não só por falta de dinheiro, mas sobretudo por clamorosos erros de visão e gula partidária, alimentados por uma burguesia burocrática cada vez menos competitiva e cada vez mais desesperadamente clientelar, o PS definiu uma estratégia de obras públicas completamente suicida. No caso de Lisboa, só a renúncia explícita às loucuras de Mário Lino, Jorge Coelho e Cª, poderia impedir a derrota de António Costa. Meter timidamente os grandes projectos de obras públicas na gaveta, sem renunciar de vez à sua execução, dará toda a margem de manobra e gozo ao gato Santana no jogo que inevitavelmente proporá ao rato governamental.

A prometida ponte Chelas-Barreiro é um crime contra o estuário do Tejo mil vezes mais monstruoso do que a barragem que o PSD num dia aziago quis construir em Foz Côa. Fechar o aeroporto da Portela é uma idiotice chapada, sobretudo quando se pode complementar, no prazo de um ano, esta infraestrutura estratégica de primeira água, com um aeroporto de apoio no Montijo, dedicado às companhias de Low Cost — principais responsáveis pelo mais recente crescimento do turismo em Portugal: Algarve, Lisboa, Porto e arquipélago da Madeira. O comboio de Alta Velocidade entre Madrid e Lisboa, que tem que chegar até ao Pinhal Novo, e não ao Poceirão (como quer o Coelho da Mota-Engil), colocará a Comunidade Autónoma de Madrid, i.e. 5 milhões de almas sedentas, a um passo de Lisboa... e do Algarve. Do "Allgarve", sim senhor! Haverá fonte de receitas mais limpa e mais rápida no ciclo depressivo em que estamos?

Lisboa precisa de um Livro Verde e precisa de uma Carta Constitucional que dê o Grito do Ipiranga pela sua autonomia enquanto cidade-região, que já existe, mas que falta consagrar. Precisa, por outro lado, dum Programa Social de Emergência, lúcido, estudado e sobretudo não demagógico. Ora para tanto, o próximo alcaide da capital tem que ter uma enorme ambição, tenacidade, sensibilidade e pragmatismo. Precisa, por outro lado, de ser verdadeiramente independente e estar rodeado de gente desinteressada e lúcida. Estará António Costa à altura do desafio? Poderá competir com Santana Lopes? Para já, na entrevista dada a Judite de Sousa esta noite, Santana Lopes saiu claramente por cima. Faites vous jeux!


OAM 601 15-07-2009 00:30

domingo, julho 12, 2009

Crise Global 69

O tempo do esquilo cinzento



E se um Estado da Zona Euro entrar em incumprimento, deixando de pagar as suas dívidas?

Tratado de Lisboa, Artigo 122.º — 2. Sempre que um Estado-Membro se encontre em dificuldades ou sob grave ameaça de dificuldades devidas a calamidades naturais ou ocorrências excepcionais que não possa controlar, o Conselho, sob proposta da Comissão, pode, sob certas condições, conceder ajuda financeira da União ao Estado-Membro em questão. O Presidente do Conselho informará o Parlamento Europeu da decisão tomada.

Eurozone Meltdown — The default of a member state, an event not at all implausible, is very frequently cited as the trigger mechanism for the euro zone to breakup. Credit Default Swaps (CDS) for euro zone government bonds have been on the rise since September 2009 as shown in the figure (...), especially for Greece and Ireland. Bond spreads rose less dramatically, but this is not necessarily a conforting sign. CDS were an early indicator for Iceland’s financial troubles well before bond spreads reflected this. A country in default is unable to raise money on the primary bond market. Investors simply refuse to finance the country’s public sector deficits, or they drive up interest rates to such horrific heights, that the country can no longer afford to raise new finance. An escalation of this situation would occur, if a country needed to refinance existing short-term loans, and was not in a position to do so because interest rates had risen to punitive levels. — in "Scenario 1: A default by a small member state", Eurozone Meltdown, Eight Scenarios how the unthinkable might happen. By Wolfgang Münchau and Susanne Mundschenk; Euro Intelligence (3-4-2009).

Ao contrário das insistentes tentativas de exibir um sorriso confiante perante a actual crise sistémica e global do Capitalismo, os dados e os estudos continuam a mostrar que não há qualquer razão para optimismo. 2010 vai ser pior do que 2009, e depois teremos muito provavelmente pela frente (refiro-me sobretudo aos Estados Unidos e à Europa) uma década, ou mesmo vinte anos, de crescimento zero, com recessões e depressões abaixo de zero, e alguns breves períodos de crescimento medíocre, entre 1 e 2%. Não vale pois a pena deixar de discutir seriamente este enorme problema económico e financeiro, cujas consequências sociais, políticas e militares tenderão a ser cada vez mais explosivas. O aviso do moribundo Fidel sobre o que pode vir a ocorrer de novo na América Latina, ou a incontrolável questão muçulmana que ameaça lançar agora a China numa espiral de fragmentação nacionalista, ou ainda as bombas-relógio do Irão, da Coreia do Norte, mas também do Japão, Reino Unido, Estados Unidos, Espanha, Portugal, etc., não são de molde a sossegar ninguém com dois neurónios activos na caixa craniana.

O aspecto mais difícil de controlar da desencadeada crise sistémica global do Capitalismo é a sincronização inesperada, ou em que ninguém queria crer, de várias crises esperadas, cada uma das quais é, por si só, potencialmente catastrófica e de muito difícil resolução:
  • a crise do modelo económico: crescimento baseado no consumo e na destruição do trabalho humano em larga escala;
  • a crise do modelo financeiro, baseado no endividamento, na monetarização da economia e na especulação bolsista tecnologicamente assistida;
  • a crise energética, pela via da exaustão das energias fósseis baratas, que possibilitaram a extraordinária expansão da espécie humana, mas para a qual não existe nenhuma alternativa efectiva (estas, ou são insuficientes —energia eólica e energia solar—, ou são ambientalmente inviáveis — nuclear e carvão);
  • a crise ambiental: aquecimento global, exaustão dos recursos hídricos, eutrofização e contaminação química das águas potáveis (com a consequente contaminação das cadeias alimentares), desflorestação galopante, destruição dos solos (pedosfera), assassínio dos rios, esgotamento das reservas alimentares marinhas e fluviais, poluição e aquecimento oceânicos, contaminação e esgotamento dos aquíferos, e last but not least, o silencioso espermicídio em curso em numerosas espécies animais, humanos incluídos, pela dispersão assassina de quantidades intoleráveis de toxinas progressivamente infiltradas na biosfera pela acção inconsciente, ou criminosa, do homem;
  • a crise geo-estratégica: por um lado, os países que mais consomem e mais prejudicam os equilíbrios gerais da biosfera já não dispõem dos recursos necessários e suficientes para a prossecução dos respectivos hábitos de vida; por outro, os países menos desenvolvidos, parte dos quais concentra o que resta dos principais recursos energéticos, minerais, agro-alimentares, laborais e até financeiros, em condições de serem explorados, deixaram de estar disponíveis para alimentar o desperdício e os maus hábitos dos chamados "países ricos", não querem ver degradar mais as suas condições de vida, em nome do "progresso" e da "modernidade" de quem há séculos explora as suas fragilidades, e têm —facto esperado, mas novo— condições estratégicas, diplomáticas, e mesmo militares, para defender um reajustamento —que vai ser dramático e violento— das placas geo-estratégicas mundiais.
Não é pois por acaso que o G8 teve que se abrir à China, à Índia, ao Brasil, ao México, à África do Sul, à Indonésia, ao Egipto, etc. Não é pois estranho que o G20 ganhe progressivamente importância face ao restrito clube dos países ricos falidos: EUA, Japão, Reino Unido, França, Itália, etc. Os ditos "países ricos" estão endividados muito para além das respectivas possibilidades, e da nossa imaginação!

Segundo Sal L. Arnuk e Joseph Saluzzi (1) 70% do volume de negócios em bolsa tem origem em sistemas de processamento informático ultra-rápidos (high-frequency program trading) — o que torna os malandros do Subprime, um pouco menos malandros, e a Goldman Sachs e quejandos, bem mais responsáveis pelo incomensurável buraco negro da economia mundial, que dá pelo nome de Derivados (Derivatives), e cujo valor facial (notional value) ronda ou ultrapassa mesmo os 600 biliões de dólares, ou seja, 10 vezes o PIB mundial, ou dito doutro modo, quase duas vezes a riqueza total do planeta!

Só nos Estados Unidos (2), os contratos de Derivados subiram 14% no último trimestre de 2008, atingindo o valor "nocional" de 200,4 biliões de dólares, i.e. 14 vezes o PIB americano! Sintomaticamente, 96% desta aterradora exposição ao risco concentra-se apenas em cinco bancos: JPMorgan, Bank of America, Citibank, Goldman Sachs e HSBC. A América de Barack Obama vai aliás ter que encontrar, por esse mundo fora e nos próximos anos, 5 biliões de dólares, ou seja 9% do PIB mundial, para financiar a sua dívida pública (3). Mas como?! Mas como vai consegui-lo, se o mundo está cheio de caloteiros?! A lista de devedores aflitos é interminável e não deixa lugar a dúvidas sobre a dimensão do problema: Japão, Itália, Reino Unido, França, Alemanha, Espanha, Holanda, Irlanda, Suíça, Bélgica,... Portugal (4).

Uma das discussões teóricas do momento incide sobre a possibilidade de um colapso da Zona Euro. Os casos irlandês, grego, belga, austríaco, português, italiano, mas sobretudo espanhol, e mesmo alemão, conferem verosimilhança ao cenário de um colapso do Euro, sobretudo se a China, o Brasil e os países Árabes avançarem para a criação de moedas de reserva regionais no decurso da próxima década. E já agora, os casos britânico, islandês e mais recentemente sueco (5), apesar das suas moedas soberanas, nem por isso deixam de poder levar o Euro à beira de um ataque de nervos. Para culminar este cenário sombrio, registe-se a recente deliberação do tribunal constitucional alemão (6) sobre a necessidade de colmatar o "défice democrático estrutural" existente na União Europeia, que o Tratado de Lisboa não acautela como devia.

O mundo não está para brincadeiras, como vem insistindo Manuela Ferreira Leite, ou o insuspeito Príncipe Carlos de Inglaterra:

Just 96 months to save world, says Prince Charles
By Robert Verkaik; The Independent.

Capitalism and consumerism have brought the world to the brink of economic and environmental collapse, the Prince of Wales has warned in a grandstand speech which set out his concerns for the future of the planet.

The heir to the throne told an audience of industrialists and environmentalists at St James's Palace last night that he had calculated that we have just 96 months left to save the world.

As fábricas e os entrepostos comerciais de automóveis têm todos os seus parques de estacionamento a abarrotar. O petróleo fica nos navios, esgotada que está a capacidade de armazenamento instalada junto às refinarias. As refinarias, por sua vez, param, como vimos há dias a Repsol fazer em Sines. Os grandes transitários, como o gigante Evergreen, acaba de anunciar a venda de navios e a entrega de barcos em leasing aos seus donos (7). Os aviões em terra da Ibéria rumam ao deserto de Ciudad Real, o grande hub aeroportuário privado recém-inaugurado... mas vazio! Os aviões parados da TAP atravancam as placas de estacionamento da Portela, e não tardarão a ser clientes inesperados do aeromoscas de Beja, um dos caricatos elefantes brancos da era socratina. Vamos ver como se sairão as companhias de aviação Low Cost na competição com a Alta Velocidade ferroviária assim que as companhia de bandeira —às moscas— deixarem os slots vazios à Ryanair, easyJet e demais companhia de voos baratos. Para já, o principal responsável pela manutenção dos fluxos turísticos no nosso país, apesar da estagnação económica em curso, não é nenhuma decisão ou iniciativa governamental, e muito menos as faraónicas obras públicas anunciadas, mas tão simplesmente a possibilidade de realizar voos baratos de e para Portugal, sobretudo na grande circunferência europeia. O Porto está cheio de turistas, tal como Lisboa, Faro menos, porque a easyJet e a Ryanair elegeram as cidades de Lisboa, Porto, Faro e Funchal como destinos rentáveis, apesar das tropelias às boas regras da livre concorrência desencadeadas pelo gaúcho da TAP e pelo inenarrável dromedário das Obras Públicas.

Não tenho nada de princípio contra a tentativa da Orey Antunes salvar o BPP (8), ainda que na minha modesta opinião, seja de evitar mais envolvimento do Estado neste caso de polícia, a não ser, precisamente, pelo lado da Justiça, contra as donas brancas do pseudo banco. Assim como até acho muito bem que a Mota-Engil tente desesperadamente atrair os chineses a Lisboa, em vez de insistir em cidades aeroportuárias e novas autoestradas. Mas já agora, uma pergunta a propósito: que lhes exigimos em troca do privilégio de desfrutarem dos nossos magníficos estuários? Nada? Mal, senhor Coelho! Muito mal, senhor Vitorino! É preciso negociar como deve ser, e não como pedintes! Eu exigiria, no mínimo, que pagassem, em troca duma posição privilegiada nos nossos portos atlânticos, a completa substituição da nossa decadente rede ferroviária de bitola ibérica, por uma ferrovia de bitola europeia, completamente electrificada. Por menos do que isto, nada!

O mundo está endividado. E num mundo sem dinheiro vivo, todos pretendem encontrar e servir-se da pouca liquidez disponível, procurando-a desesperadamente para si. Só que não é fácil. E o recurso à guerra de pilhagem, também já foi mais fácil! Assim sendo, resta-nos negociar com muito jeitinho.

Com o medo da escassez de bens e de dinheiro, vem uma natural tendência para poupar e amealhar, como fazem os esquilos antes do Inverno. Só que há dois tipos de esquilo: o vermelho, e o cinzento (10). O esquilo vermelho armazena sem cessar avelãs e bolotas no alto das árvores, onde parte dos frutos acaba por apodrecer e, pior do que isso, ameaça a reprodução das aveleiras, dos carvalhos, das azinheiras e dos sobreiros. Pelo contrário, o distraído esquilo cinzento também colecciona e armazena os seus alimentos para o Inverno, distribuindo-os pelo solo húmido (de modo a manter os frutos tenros), mas de maneira tão dispersa que se esquece onde deixou boa parte deles, a qual, por via desta distracção criativa, acaba por germinar, assegurando assim a sobrevivência do seu próprio habitat.

Tal como o esquilo faz, também todos nós temos que saber poupar e armazenar para o nosso futuro, para o futuro dos nossos filhos e para o futuro do planeta que habitamos e partilhamos com milhões de outros seres vivos, dos quais dependemos para muito mais do que imaginamos. O tempo do touro enraivecido da especulação e do gasto terminou. Mas não é caso para hibernar, como faz o urso, nem para cair em depressão. Precisamos de agir como o esquilo, ou melhor como o esquilo cinzento: coleccionar, poupar, acumular, mas de uma forma criativa e alegre, dispersando as acções e descentralizando a autoridade e a iniciativa — em nome dos nossos próprios interesses, que só serão bem defendidos quando alcançarem também, ainda que inconsciente e distraidamente, os interesses de toda a comunidade.



NOTAS
  1. Toxic Equity Trading Order Flow on Wall Street
    The Real Force Behind the Explosion in Volume and Volatility
    By Sal L. Arnuk and Joseph Saluzzi.

    Retail and institutional investors have been stunned at recent stock market volatility. The general thinking is that everything is related to the global financial crisis, starting, for the most part, in August 2007, when the Volatility Index, or VIX, started to climb. We believe, however, that there are more fundamental reasons behind the explosion in trading volume and the speed at which stock prices and indexes are changing. It has to do with the way electronic trading, the new for-profit exchanges and ECNs, the NYSE Hybrid and the SEC’s Regulation NMS have all come together in unexpected ways, starting, coincidently, in late summer of 2007. (ler PDF integral).

  2. Ler este esclarecedor PDF: "OCC's Quaterly Report on Bank Trading and Derivatives Activities, Fourth Quarter 2008".

  3. Buddy, Can You Spare $5 Trillion?
    in John Mauldin's Thoughts from the Frontline (10-07-2009).

    There is no doubt that the US is in financial trouble. Those talking of a strong recovery are just not dealing with reality. But the US is in better shape than a lot of countries. This week, we begin by looking at Japan. I have written for years about how large their debt-to-GDP ratio is, yet they keep on issuing more debt and seemingly getting away with it. But now, several factors are conspiring to create real problems for the Land of the Rising Sun. They may soon run into a very serious-sized wall. And it is not just Japan. Where will the world find $5 trillion to finance (US) government debt? We look at some very worrisome graphs. Those in the US who think that what happens in the rest of the world doesn't matter just don't get it.

    Sobre o Japão, John Mauldin escreve ainda:

    Over the last ten years, the (Japanese) government has seen the level of debt-to-GDP rise from 99% to over 170%, not including local governments. They ran those deficits to try and pull themselves out of the doldrums of their Lost Decade of the '90s, following the crash of their real estate and stock markets, starting in 1989. They built bridges and roads to nowhere, all sorts of programs, quantitative easing, etc. Sound familiar?

  4. Vale a pena comparar os valores das dívidas públicas e externas dos principais devedores no World Fact Book da CIA.

  5. The Riksbank said the economy had worsened further since its previous meeting, in April, and it expected the repo rate to remain at 0.25 percent until autumn 2010.

    ... The deposit rates are actually negative now. In some sense they are creating a money machine for banks.— in Forex Yard (3-7-2009)

    Negative Global Interest Rates, Sweden Cuts Deposit Rate to NEGATIVE .25%
    Jul 03, 2009 - 03:48 AM. By: Mike_Shedlock

    There has been a lot of ludicrous recommendations recently to combat deflation by making deposit rates negative. I did not think any central bank would be dumb enough to try it. I thought wrong.

    ... The global economy is in a mess because of the lack of savings not because of an excess of it. People spent money they did not have, pushing asset prices to ridiculous levels. Banks, in belief that asset prices would keep rising exponentially, increased leverage. Now consumers everywhere are retrenching in the wake of the collapse, a much needed phenomenon.

    In light of the above, punishing savers with negative deposit rates is the height of stupidity.

    It would be fitting if there was an immediate run on deposits. And if that happens what will Sweden do? Halt deposits? Sweden risks (and deserves) a currency collapse and bank runs for this insane effort. Look for capital flight in Sweden. — in Negative Global Interest Rates, Sweden Cuts Deposit Rate to NEGATIVE .25%; by Mike_Shedlock; The Market Oracle.

  6. O Tribunal Constitucional considera que existe “um défice democrático estrutural” a nível da União Europeia e que, por esta razão, os direitos de co-decisão do Parlamento alemão devem ser claramente inscritos numa lei, adianta a AFP. Isto para “garantir a eficácia do direito de voto” dos cidadãos alemães, e velar para que a UE “não ultrapasse as competências que lhe foram outorgadas”. — in Público (30-06-2009)

  7. Evergreen quer desfazer-se de 31 porta-contentores

    A Evergreen propõe-se devolver aos donos ou desmantelar 31 navios porta-contentores, que representam cerca de um sexto da sua frota, anunciou a companhia de Taiwan.

    ... A companhia de Taiwan é quarta no ranking mundial de transporte marítimo de contentores, com uma capacidade de 600 mil TEU, que representam 4,5% do mercado. — in Transportes & Negócios (10-07-2009).

  8. Acções da Orey Antunes sobem 15 por cento desde início de Julho

    Em termos de ilustração, refira-se que na sessão em que tocou nos mínimos do ano, a Orey Antunes só negociou 130 papéis, e que antes de anunciar o interesse no banco agora liderado por Adão da Fonseca a liquidez da empresa era muito reduzida, passando inúmeras sessões sem serem movimentados quaisquer títulos. in Público/Por Lusa (10-7-2009).

  9. Mota assina acordo com o grupo chinês Nam Kwon para Poceirão

    A Mota-Engil vai assinar amanhã com o grupo chinês Nam Kwon um acordo para a utilização da plataforma logística do Poceirão como “hub” atlântico para empresas chinesas, anunciou hoje a empresa liderada por Jorge Coelho e que está a executar este projecto.

    A assinatura, que vai decorrer durante o Fórum de Cooperação Económica e Comercial China-Portugal. “A parceria entre a Mota-Engil e o grupo Nam Kwong iniciou-se com um acordo de parceria para os estudos de uma plataforma logística atlântica em Portugal celebrado em Janeiro de 2007”, durante a visita de José Sócrates à China. — in Jornal de Negócios (10-07-2009).

  10. Squirrel invasion sows seeds of change for future forests

    WEST LAFAYETTE, Ind. - As squirrels gather nuts for winter, they also plant the seeds of future forests - but the different ways squirrel species hoard nuts, coupled with changes in squirrel populations, may significantly alter the course of forest regeneration, according to a Purdue University study. — in Science Blog.


OAM 600 12-07-2009 17:50

sexta-feira, julho 10, 2009

Portugal 114

Cavaco é o Joker da crise!

Num sistema semipresidencial e por pouco semipresidencial que seja, há muita coisa omissa. Lembro-me que os grandes constitucionalistas portugueses ficaram furibundos quando eu disse em tempos que não havia nada na Constituição que proibisse o Presidente da República de presidir ao Conselho de Ministros. Tinham -se esquecido de pôr lá um artigo a proibir isso! Mas voltando a Cavaco: caso ele pretenda e consiga intervir mais do que tem feito até aqui, o normal é que contribua sobretudo para refazer o seu partido, o PSD, obrigando assim, por dinâmica e por tabela, o PS a refazer-se. — Manuel Villaverde Cabral in i (10-07-2009)

Manuel Villaverde Cabral diz que "José Sócrates faz hoje parte integral do problema da ingovernabilidade". Estou 100% de acordo com ele. Ou será que é ele que está 100% de acordo comigo? Tanto faz. O importante é provocar o fim do Bloco Central da Corrupção e a recomposição do sistema partidário português.

Votar no Bloco de Esquerda, votar no CDS-PP, votar no PSD de Manuela Ferreira Leite e Paulo Rangel, mas sobretudo, não votar nas próximas Legislativas no PS da tríade de Macau e do Pinóquio Sócrates, é o único caminho para não perdermos mais tempo, e impedirmos colectivamente o afundamento de Portugal até ao fim deste século!

Quanto às eleições autárquicas, por razões que mais tarde abordaremos, o conto é outro.


OAM 599 10-07-2009 18:37

segunda-feira, julho 06, 2009

Portugal 113

Renacionalizem a EDP, já!
EDP encomenda lei ao PS para roubar proprietários do Alto Douro


Bragança, 06 Jun (Lusa) - O deputado do PSD por Bragança Adão Silva considerou hoje que a alteração à lei das expropriações "dá à EDP um poder discricionário que pode prejudicar milhares de proprietários de terrenos" na barragem do Baixo Sabor. -- in Expresso online.

O António Maria (7 mar 2009) — As acções perderam valor (mais de 50% no caso da EDP, e quase 8% nos oito meses que é cotada a EDP Renováveis) e a dívida da empresa ascende a uns astronómicos 13 890 milhões de euros!

Para se ter uma ideia de quão gigantesca é esta dívida da EDP, basta pensar que chegaria para pagar o novo aeroporto de Lisboa e respectivas acessibilidades, a nova ponte sobre o Tejo, e ainda todas as linhas de TGV anunciadas: Porto-Vigo, Porto-Lisboa e Lisboa-Madrid.

Eis algumas dívidas escandalosas de algumas empresas públicas, com que os neoliberais e os comentadores económicos indigentes (a maioria) costumam esgrimir para justificar a impunidade da burguesia clientelar que temos, e assegurar os seus postos de trabalho — deles, jornalistas económicos indigentes, naturalmente:

  • Refer: 5 mil milhões de euros
  • CP: 3 mil milhões de euros
  • Metro de Lisboa: 3 mil milhões de euros
  • TAP: 2,5 mil milhões de euros
TOTAL: 13,5 mil milhões de euros

Ou seja, menos que a astronómica dívida da EDP: 13 890 milhões de euros!

Pois bem, a EDP gerida pelo cabotino do PSD-PS, António Mexia, anda a gastar fortunas em publicidade, festivais e condicionamento mediático, com o intuito de nos convencer da excelência e desafogo do quase-monopólio energético nacional, quando afinal o que este senhor soube fazer ao longo da sua gerência muito yuppie foi caviar um monumental buraco financeiro, virtualmente impagável.

Vou votar no Bloco de Esquerda —uma segunda vez— por um claro motivo: porque promete controlar publicamente os monopólios estratégicos do país, como aliás o faz qualquer país civilizado deste planeta. Olhem para a França, ou para a China! Só mesmo os pacóvios sem cérebro e indigentes comentadores económicos deste país pensam o contrário e continuam a entoar litanias às virtudes do Capitalismo Chulo Lusitano (CCL)

Os países descobriram, para lá da globalização neoliberal, as vantagens inalienáveis dos recursos soberanos. Petróleo, gás natural, recursos mineiros, água, ar limpo, terra arável, emprego, etc. estão a regressar rapidamente à posse popular, i.e. ao perímetro das soberanias nacionais. Deixar o pão e a água dos povos nas mãos dos especuladores profissionais e da burguesia canina internacional foi um erro tremendo, que estamos e iremos ainda por muitos anos pagar com língua de pau.

Todavia há esperança. A Rússia, a China, o Brasil, o Irão, a Arábia Saudita, os Emiratos Árabes Unidos, o Iraque, e vários poutros países ricos em recursos naturais, em recursos humanos e em capital soberano acumulado aprenderam a lição, e o seu exemplo irá inevitavelmente contaminar o resto do mundo. Os idiotas de sempre, ou melhor os ladrões e assassinos do costume, chamam a este cenário — "o perigo do regresso ao proteccionismo"! Pois bem, não vai haver alternativa ao novo proteccionismo que se anuncia. E como sempre, quem se atrasar na corrida, ficará a ver navios.

É pois urgente refundar um sector público estratégico em Portugal, inteligentemente desenhado, administrado com transparência e competitivo à escala ibérica, europeia e global.

O Mexia, tal como o Granadeiro e outros, devem apresentar as suas cartas de demissão quanto antes. Se tivermos a lucidez de percebermos esta realidade a tempo, evitaremos males piores e dramas desnecessários.


OAM 598 06-07-2009 20:13

domingo, julho 05, 2009

Por Lisboa 23

"Carta Estratégica de Lisboa", um simulacro?

A venda de carros no Japão tem vindo a diminuir desde 1990. Hoje, menos japoneses possuem ou usam carro do que em 1984! O preço dos terrenos urbanos, por sua vez, desceu em média e paulatinamente 80% ao longo dos últimos 20 anos.

"A Carta Estratégica é um instrumento de orientação que nos permite navegar resolutamente entre 2010 —o centenário da República— e 2024 —o cinquentenário da conquista da liberdade, datas de enorme significado e importância. É para este futuro demarcado por datas simbólicas que a Carta Estratégica propõe um caminho coerente, afirmativo, de oportunidade, de descoberta." — in PEN (bloqueada!) oferecida na sessão de propaganda da dita "Carta Estratégica de Lisboa".

"A Carta Estratégica de Lisboa pretende dar resposta a um conjunto de questões com as quais a cidade de Lisboa se debate e que constituem os actuais desafios estratégicos no planeamento da Cidade, para perspectivar o futuro, planeando e concretizando aquilo que hoje, em conjunto, ambicionamos para Lisboa.

Há seis questões estratégicas que se colocam para o futuro da cidade:
  1. Como recuperar, rejuvenescer e equilibrar socialmente a população?
  2. Como tornar Lisboa uma cidade amigável, segura e inclusiva para todos?
  3. Como tornar Lisboa uma cidade ambientalmente sustentável e energeticamente eficiente?
  4. Como transformar Lisboa numa cidade inovadora, criativa e capaz de competir num contexto global, gerando riqueza e emprego?
  5. Como afirmar a identidade de Lisboa, num Mundo globalizado?
  6. Como criar um modelo de governo eficiente, participado e financeiramente sustentado?" —in sítio web do dita "Carta Estratégica de Lisboa"

Carta de Leipzig, adoptada pela União Europeia em 24-25 de Maio de 2007 (Documento integral - PDF) Principais recomendações:

I. Maior recurso a abordagens de política de desenvolvimento urbano integrado
-- Modernização das redes de infra-estruturas e melhoria da eficiência energética
-- Políticas activas em matéria de inovação e educação

II. Atenção particular aos bairros carenciados no contexto da cidade
-- Prosseguir estratégias para melhorar o ambiente físico
-- Reforçar a economia local e a política local de mercado de trabalho
-- Adoptar políticas activas em matéria de educação e de formação de crianças e jovens
-- Promover transportes urbanos eficientes e a preços razoáveis

Convidaram-me há algumas semanas atrás para integrar, na qualidade de independente e em posição inelegível, a lista de António Costa às próximas Autárquicas, pela Freguesia de Alvalade. Por respeito a quem me convidou, pela simpatia crítica que continuo a nutrir pelo hipotético sucessor de José Sócrates (embora tal virtualidade tenha vindo a ser incompreensivelmente exaurida pelo próprio), e sobretudo por uma incorrigível curiosidade, aceitei!

Claro que após a primeira reunião de estratégia local fiquei imediatamente com vontade de fugir. Não fugi, dei até a minha melhor colaboração —i.e., fiz perguntas e sugeri visões extra-terrestres aos socialistas que há anos perdem — para o PSD, claro!— as eleições em Alvalade, Campo Grande, São João de Brito e São João de Deus. Não me ligaram nenhuma. E um dos motivos da dissociação cognitiva evidente prende-se com a necessidade de atender previamente ao próprio programa eleitoral "do Costa". Creio que estavam, de facto, a referir-se à famosa Carta Estratégica de Lisboa. Convidado, lá me dirigi ao São Luís, para tomar conhecimento da inesperada arma eleitoral do PS contra Pedro Santana Lopes.

Não, não estou a fazer confusão! A proclamada Carta Estratégica de Lisboa, apesar de se apresentar como um instrumento de política municipal, é na verdade um documento partidário, projectado para esta campanha autárquica. A prova é que apenas vi funcionários e borboletas socialistas e pró-socialistas no São Luís.

Na substância, aliás, o que escrevo é verdade, pois a dita Carta começa por eleger as datas da implantação da República e da queda da ditadura Salazarista como principais marcos dum projecto estratégico para a cidade! Como se Lisboa tivesse que ser à força, ou por destino, Jacobina, Monárquica ou Demo-burocrática (como há quase 35 anos ocorre). Ora Lisboa já foi muitas outras coisas —Fenícia, Romana, Árabe, Cristã-guerreira, Cristã-aventureira, Castelhana, Cristã-fundamentalista, Cristã-assassina, Terramoto, Cristã-triste e ditatorial, Cristã revolucionária e alegre, Cristã Demo-burocrática como agora é. Lisboa será ainda tudo aquilo que o futuro reserva a este Grande Estuário. Perceber e respeitar esta natureza essencial e simbiótica é o dever de quem ama este vórtice de civilização. Não é isto, porém, que transluz da operação apressada, vaga, dissimulada e pueril a que chamaram Carta Estratégica de Lisboa.

Depois do oportunismo Jacobino irritante de quem associou esta tradução mal feita da Carta de Leibniz —aprovada pela União Europeia há mais de dois anos— às comemorações do centenário da República —pretexto evidente para renovada especulação imobiliária e enriquecimento ilícito—, o que acaba por desaguar, três meses e não sei quantos euros depois, da deliberação camarária de 8 de Abril passado, é uma proposta pífia, onde fundamentalmente se meteu debaixo do tapete o corpo declarado da acção e propósitos da actual vereação municipal, nomeadamente no que toca à prometida requalificação da Baixa Pombalina, à destruição do Porto de Lisboa, à construção assassina da Ponte Chelas-Barreiro, à idiota localização da futura estação ferroviária central de Lisboa no actual apeadeiro do Oriente, à tentativa frustrada de encerramento do Aeroporto de Lisboa e alarve transformação da Portela, e da chamada Alta de Lisboa, num Casal Ventoso cheio de Casinos, SPAs tailandeses e campos de golfe, recobrindo esta improvável estratégia de submissão política às máfias do betão e da banca, com um manto apressado de alfaces ambientais mal digerido e cabotino.

Dos três meses de pseudo-reflexão burocrática não resultou uma única ideia útil sobre os seis verdadeiros e principais problemas que afligem o presente e o futuro imediato da capital, a saber:
  1. o endividamento insustentável da cidade;
  2. os tremendos impactos económicos, sociais e urbanos da crise energética mundial provocada irremediavelmente pelo fim do petróleo barato;
  3. a atrofia burocrática do governo da cidade, resultado evidente do excesso de serviços e de pessoal com que o Bloco Central e o PCP entupiram a capacidade executiva da Câmara Municipal de Lisboa;
  4. a falta de uma rede metropolitana e citadina de transportes colectivos abrangente, eficiente e barata;
  5. a inexistência de um governo autónomo eleito para toda a região de Lisboa, como o que existe na Comunidade Autónoma de Madrid, em Londres, ou Pequim;
  6. a grande probabilidade de um terramoto semelhante ao de 1755 voltar a arrasar Lisboa, com particular gravidade nas suas zonas ribeirinhas (Parque Expo, etc.), antes de 2050.
Se compararmos estas questões com as seis perguntas escolhidas pelas luminárias contratadas para redigir a pseudo Carta Estratégica de Lisboa, dar-nos-emos facilmente conta de que há um abismo entre estas duas ordens de prioridades.

A primeira, é um rosário onírico de desejos. A segunda, delimita um quadro de verdadeira emergência municipal e regional. A primeira, pela sua vacuidade, ambiguidade e reflexo fugaz da Carta de Leipzig, deixa tudo na mesma —caso António Costa volte a ganhar as eleições — ou seja, deixa as mãos livres aos empreiteiros, banqueiros, cortesãos e burocratas do costume, para insistirem nas suas imorais e egoístas receitas, cujos resultados indecorosos estão à vista de todos. A segunda, pelo contrário, afirma que estamos numa situação muito parecida com uma guerra civil, com uma invasão estrangeira ou com um terramoto, mas sem tiros, nem, por enquanto, demasiadas casas a cair com as pessoas lá dentro!

"Lisboa terá que ser capaz de renovar a sua base de criação da riqueza orientando-a para o mercado mundial. Deverá ser capaz de desbloquear a sua mobilidade e adaptabilidade internas e externas, caminhando para o desenvolvimento de grandes redes metropolitanas, para a viabilização de plataformas de conectividade internacional." — in PEN (bloqueada!) oferecida na sessão de propaganda da dita "Carta Estratégica de Lisboa" (sublinhados meus.)

Embora o silêncio sobre o betão tenha tapado momentaneamente o discurso oficial do PS (estamos em vésperas de dois actos eleitorais de primeira importância), a verdade é que nada mudou aparentemente nas intenções, agora disfarçadas, da tríade de Macau, capitaneada por personalidades "socialistas" do quilate de Jorge Coelho (Mota-Engil, Martifer, etc.) e António Vitorino (Brisa, Banco Santander-Totta, etc.), secundada por cortesãos da laia de António Mexia, Henrique Granadeiro e Mário Lino, já para não falar do allgarve e recém apeado motorista do BES, Manuel Pinho. No relatório-síntese da proclamada Carta Estratégica de Lisboa, o que não se vê, está lá, apesar dos circunlóquios, escarrapachado! Basta ler com atenção, e ter em conta que um dos comissários de mais este projecto de Propaganda é o genial criador do aeromoscas de Beja, e recordista de estudos seja lá para o que for, Augusto Mateus. O aeromoscas de Beja, fruto da sua visionária presciência, está pronto, mas não se inaugura, pois é um fiasco monumental. Só servirá, no futuro, para estacionar as aeronaves da TAP que sobram na Portela, por falta de clientes, atrapalhando a azáfama das companhias Low Cost!

Os maiores problemas portugueses, e de Lisboa por maioria de razão, são efectivamente o endividamento criminoso da nossa economia, a predominância assassina do betão asfaltado e do automóvel individual (estimulado pelo sistemático e especulativo desordenamento do território e pela sub-urbanização das cidades), a falta de uma economia sustentável baseada na partilha de responsabilidades entre os diversos actores sociais, a falta de uma rede de transportes racional e acessível, o excesso de burocracia, a falta de transparência política e administrativa do Estado, a captura do Poder Judicial pela burguesia burocrática que há 30 anos perverte a nossa democracia, e a corrupção. Antes de atacarmos frontalmente estes problemas, nenhum outro cenário estratégico terá qualquer hipótese de vingar.

Quando José Sócrates se candidatou para substituir o governo PSD-CDS, prometeu não aumentar os impostos, e prometeu criar 150 mil novos empregos. António Costa prometeu tirar os carros de cima dos passeios e pagar as dívidas da cidade. Nenhum deles cumpriu, seja por excesso de optimismo nas promessas, seja porque a crise financeira mundial —há muito anunciada neste blogue, nomeadamente quando aqui ridicularizei incessantemente o aeroporto da Ota e outras aventuras do género— o impediu, agravando dramaticamente as expectativas para os próximos dez a vinte anos. E no entanto, teremos que mudar, e mudar muito rapidamente, de vida!

O exemplo do Japão, por muitas e diversas razões, deveria ser urgentemente estudado entre nós. No fundo, trata-se de um modelo em muitos aspectos parecido com os modelos de decisão que vigoram nos países nórdicos europeus (Dinamarca, Suécia, Noruega, Finlândia), mas com duas vantagens importantes: ter passado já por um longo período de depressão económica, ao qual se foi adaptando como pôde, e ter sabido incorporar nas soluções de mitigação da sua grave crise demográfica e económica, um verdadeiro e salvífico elemento tecnológico e cognitivo.

Quando visitei o Japão, em 2005, rendi-me àquele país em quatro aspectos que me tocaram especialmente: o sistema de transportes, a amabilidade dos funcionários públicos, municipais e das empresas privadas, a surpreendente limpeza e espectacularidade tecnológica das suas instalações sanitárias e a sofisticação culinária e estética da sua gastronomia. Lá, como na esmagadora maioria dos países civilizados, não se vêem carros estacionados em cima dos passeios, nas curvas, em dupla fila, em frente às portas das garagens, em cima das passadeiras de peões, ou esmagando logradouros e jardins onde os haja — como por cá é trivial, tolerado por polícias e autoridades municipais, e certamente bem-vindo pelo incorrigível oportunismo da nomenclatura partidária que dos nossos impostos e crescente empobrecimento se serve e vive.

Mas para lá destes sinais óbvios de civilização avançada, existe no Japão um pensamento estratégico racional cuja finalidade última é não apenas a felicidade do povo, mas também —et pour cause!— a produtividade global da sociedade japonesa, assim como a sua capacidade de competir com vantagem nos mercados internacionais. Vou dar alguns exemplos recentemente colhidos do blogue de Elaine Meinel Supkis —Culture of Life News—, para que se compreenda até que ponto o atraso de Lisboa na resolução, ou pelo menos mitigação, dos seus mais prementes e graves problemas, não é uma fatalidade, mas tão só resultado de uma entorse da democracia.

  • as autoridades japonesas de saúde pública começaram a medir regularmente o perímetro abdominal dos cidadãos, aconselhando-os, sempre que o mesmo ultrapassa os 86 centímetros, a diminuir o consumo de carne, a absorver vitamina D oriunda da exposição solar moderada, e a praticar exercício diário, nomeadamente insistindo nas caminhadas de 10mn de e para os transportes públicos;
  • todos os trabalhadores recebem das entidades empregadoras um subsídio de transporte quando optem por utilizar regularmente os transportes públicos, usando a combinação mais barata entre casa e emprego — ninguém é pois forçado a buscar uma casa cara perto do seu emprego, nem a recusar emprego por este estar demasiado longe de casa, produzindo-se por esta via um incremento sistemático das redes multi-modais de transporte público, bem como a sua crescente eficiência energética e conforto;
  • a posse de um automóvel está automaticamente indexada à demonstração pelo proprietário de que tem espaço próprio para estacionar a sua viatura no seu local de residência — se não tiver garagem, nem logradouro privado para estacionar, então terá que desistir da sua viatura particular, ou mudar de residência! O mesmo ocorre com o estacionamento junto às empresas: só em zona privada própria.
  • Como resultado destas medidas o Japão tem o melhor —quer dizer, mais amplo, rápido, eficiente, limpo e agradável—sistema de transportes do planeta. Tem uma taxa de sinistralidade rodoviária, fatal ou causadora de ferimentos graves, que é metade da dos Estados Unidos. E a sua população activa mantêm-se plenamente produtiva até aos 75 anos e vive com facilidade para lá dos 80.
  • A democratização do acesso à Banda Larga e o seu baixo preço permitiu ao governo japonês esperar que os 10% da população activa que actualmente comutam electronicamente pelo menos uma parte da sua jornada de trabalho passe já no ano que vem, para 20% — conseguindo por esta via uma importante redução dos consumos energéticos;
  • O sistema de alerta prévio de actividade sísmica intensa e terramotos, através da colocação de milhares de sensores pelo país fora, sobretudo nas cidades e redes de transportes, ligados a um computador central onde existem 100 mil cenários de abalos sísmicos, permite avisar a tempo os cidadãos, de episódios sísmicos graves ou catastróficos, ao mesmo tempo que trava automaticamente os comboios de Alta Velocidade.
  • Sempre que uma pessoa está constipada, vai a uma farmácia e compra um pacote de máscaras profilácticas, tal como nós por cá compramos lenços de papel. Não é preciso assistir ao espectáculo eleitoralista deprimente de uma ministra da saúde que nos tranquiliza pateticamente à medida que o número de casos de Gripe A se multiplica exponencialmente!

Há, como se vê, uma infinidade de coisas lucrativas, socialmente úteis e urgentes para fazer — sem precisarmos de qualquer dirigismo Jacobino. Os habitantes da Grande Lisboa, tal como do resto do país, precisam, antes de mais, de um Rendimento Pessoal Garantido (sem obrigações burocráticas paternalistas), de um sistema de transportes colectivo eficiente, universal e tendencialmente gratuito (suportado por verdadeiras e justas Parcerias Público Privadas), de um sistema de saúde preventiva, antítese do negócio escandaloso em que se transformou o direito universal à saúde, e, por fim, precisam de um plano nacional para saldar as suas dívidas.

Uma Carta Estratégica para Lisboa? Não! Do que precisamos é de um Livro Verde e de uma Carta Constitucional abrangendo a grande cidade-região de Lisboa e os grandes estuários do Tejo e do Sado. Precisamos, isso sim, de criar a Cidade Região dos Grandes Estuários, i.e., uma região autónoma, com o seu parlamento e o seu governo eleitos. Pensar Lisboa, sentado num cadeirão do teatro São Luís, não chega!



OAM 597 05-07-2009 18:00