segunda-feira, setembro 28, 2009

Portugal 131

Queijo Limiano 2 ou regresso do Bloco Central?

Para a gestão corrente, Sócrates poderá dançar com Paulo Portas de vez em quando, mas não todos os dias, e dificilmente poderá fazê-lo por ocasião da aprovação do próximo Orçamento de Estado. Os resultados eleitorais apontam, pelo contrário, para um entendimento, in extremis mas possível, entre o PS e o PSD, com o beneplácito de Cavaco Silva, que assim praticamente garante a sua reeleição. Pois é, acabámos com a maioria absoluta do PS, mas o crescimento do CDS e do BE foram para já insuficientes para desfazer a lógica dos interesses conhecida pelo nome de Bloco Central.

Basta olhar para os números:

Resultados das Eleições Legislativas 2009
  • PS: 36,6%, 96 a 98 deputados (se obtiver 2 dep. pelo círculo da Emigração)*
  • PSD: 29,1%, 78 a 80 deputados (se obtiver 2 dep. pelo círculo da Emigração)*
  • CDS: 10,5%, 21 deputados
  • BE: 9,9%, 16 deputados
  • CDU: 7,9%, 15 deputados
* — actualização (7-10-2009): PS: 97 deputados; PSD: 81 deputados

Maiorias plausíveis na Assembleia da República (mínimo 116 deputados)
  • PS+PSD = 178
  • PS+CDS = 118
  • PS+BE+PCP+PEV: 130
Combinações minoritárias
  • PS+BE = 113
  • PS+PCP+PEV: 112
Maiorias constitucionais, i.e. necessárias para mexer na Constituição (155 deputados)
  • PS+PSD = 178

Errei!

De facto, as sondagens bateram certo, e a minha vontade de ver o senhor Pinto de Sousa pelas costas traiu-me.

A verdade é que Sócrates foi mais esperto e venceu os seus adversários ao longo da campanha eleitoral, apesar da derrota das Europeias. A crise internacional, paradoxalmente, favoreceu-o. A falta de uma luz ao fundo do túnel no discurso de Manuela Ferreira, e as inconsistências sucessivas (aceitação de Santana Lopes em Lisboa, escolha de candidatos a contas com a Justiça, apoio desajeitado a Alberto João Jardim, espionagem em Belém, etc.) acabaram por desfazer a solidez do diagnóstico inicial que a secretária-geral do PSD bem fizera do país. Louçã, por sua vez, acabaria por sucumbir à sua peculiar forma de arrogância intelectual e ao seu dogmatismo, não conseguindo aquele que deveria ter sido o seu objectivo principal: chegar aos dois dígitos na percentagem da votação eleitoral nestas Legislativas. O PCP vai declinando, como se previa. Só o CDS marcou a diferença, crescendo sobretudo em Lisboa, à custa do PSD, e tornando-se o único pequeno partido capaz de formar maioria com o PS na próxima Legislatura.

Mas um casamento entre PS e CDS é impossível, salvo em votações pontuais sobre temas secundários. Nunca, por exemplo, em matéria de Orçamento de Estado. Se o fizer, aí sim teremos de novo grande instabilidade dentro do PS, e crescimento orgânico do Bloco.

Resta pois uma saída para a desejável estabilidade estrutural do futuro governo na difícil conjuntura económica, financeira e social em que nos encontramos e que irá agravar-se em 2010-2011-2012: uma aliança in extremis entre o PS e o PSD, que não bloqueará a governação nos seus momentos essenciais —aprovação dos Orçamentos de Estado e de leis objectivamente consensualizáveis—, e garantirá, por outro lado, a possibilidade de revisões constitucionais ordinárias, ou extraordinárias. O mais curioso é que Manuela Ferreira Leite deu um sinal perceptível, no seu discurso de derrota, sobre esta possibilidade (1), em nome do interesse nacional — deixando para depois das Autárquicas —que espera vencer (2)— a discussão desta saída.

Se olharmos para o que hoje o PS é —um PSD cosmopolita e profissional—, se pensarmos na natureza ideológica íntima de José Sócrates, António Vitorino, etc., veremos que um tal cenário é bem mais realista que todas as demais combinações ardentemente desejadas —mas impossíveis— pelos pequenos partidos.

Estes últimos pedalaram bem no último ano, mas falta-lhes o principal: uma agenda pós-ideológica de acção, ponderada, tecnicamente competente e realista. Até lá, seguiremos com o Pinóquio das Beiras.


NOTAS
  1. Depois de começar o seu discurso de derrota por parabenizar o PS, afirmou que o PSD permanecia o principal partido do arco da governação, conjuntamente com o PS, claro, e que assumiria essa responsabilidade na actual conjuntura, não sendo de esperar da sua parte nada que possa bloquear o país.
  2. O resultado muito fraco do PSD em Lisboa augura boas votações autárquicas para António Costa+Helena Roseta e para o... CDS. O que não deixa de ser meio caminho andado para a derrota de Santana Lopes, esvaziando-se deste modo a putativa conspiração para derrubar Manuela Ferreira Leite. A actual líder do PSD é mesmo a solução que melhor convém à estabilidade interna e recuperação a prazo do PSD, a melhor solução para o novo Sócrates e a chave de ouro de que Cavaco precisava para garantir a tempo e horas a sua reeleição. Ou seja, o travão ideal para os excessos da Tríade de Macau e o melhor estabilizador possível da governação do país num momento particularmente difícil. Os pequenos partidos cresceram, mas vão ter que penar ainda muito para se tornarem fiáveis aos olhos do eleitorado. Os bloquistas cantaram de galo antes de tempo. Não se esqueçam, estalinistas e trotsquistas tardios e empedernidos, que muitos dos que em vós votaram, fizeram-no apenas para retirar a maioria absoluta a Sócrates! Os novos eleitores, em suma, votaram com mais realismo do que se pensava. O voto inteligente, vendo bem as coisas, funcionou e foi certeiro.


OAM 629 28-09-2009 01:10 (última actualização: 08-10-2009 01:42)

sexta-feira, setembro 25, 2009

Portugal 130

A grande manipulação em curso tem uma marca: José Sócrates!

Não nos percamos em sondagens, nem sobretudo prestemos demasiada atenção às barragens de contra-informação dos jornais e televisões. A manobra em curso é exactamente a mesma que foi usada nas Europeias, só que desta vez mais descarada, com mais meios e... mais desesperada.

As agências de comunicação e empresas de sondagens (que vivem do tráfico cada vez mais sórdido da contra-informação) têm vindo a manipular de forma criminosa a actual campanha eleitoral, seguindo à risca as instruções do seu principal cliente: o PS, o Governo PS e os patrões da indústria dependentes das encomendas suicidas da tríade de piratas que tomou de assalto o PS. Daí que estejamos debaixo do mesmo fogo numérico falsificado que ocorreu durante a campanha eleitoral para as idas eleições europeias. Se não, vejamos:

Sondagens Europeias 2009
Resultados finais das Europeias
  • PSD: 31,71%
  • PS: 26,53%
  • BE: 10,72%
  • CDU: 10,64%
  • CDS-PP: 8,36%
Legislativas 2009
  • média ponderada das sondagens entre 01 e 17 de Setembro (Público)
    PS: 35,8%
    PSD: 31,9%
    BE: 11,5%
    CDU: 8,1%
    CDS-PP: 7,3%
Olhando para estes números vemos um padrão claro: o PS sempre à frente nas sondagens (salvo no exercício, curiosamente apressado, da Marktest), rondando frequentemente a percentagem mágica dos 38% — a mesma que a maioria das "sondagens" sobre as eleições deste Domingo igualmente têm vindo a papaguear. Temos pois um lindo feito para Domingo: o PS vai passar de 26,53% para 35,8%, 38% ou mesmo 40%! Ou seja, vai trepar sem nada ter feito de diferente nos últimos 3 meses (a não ser mudar o tom de voz ao Papagaio das Beiras), qualquer coisa como 9,27, 11,47 ou mesmo 13,4 pontos percentuais na sua posição eleitoral relativa. É obra! Está tudo doido ou quê?!

Alguns amigos meus aventam a hipótese de uma descida do PSD por causa de uma suposta fraca prestação de Manuela Ferreira Leite, agravada pela sua tolerância face à tropa fandanga do Pedro Santana Lopes, e ainda pelos alaridos montados em volta do TGV e das supostas escutas ao Palácio de Belém. Eu não estou de acordo.

A contra prova é muito simples: alguém sabe o que é que o PS propôs para a próxima Legislatura? Eu não. Mas sei muito bem o que é que Manuela Ferreira Leite se comprometeu a realizar, se for primeira ministra (como julgo que será): reavaliar e renegociar com Espanha o programa de Alta Velocidade/Velocidade Elevada ferroviária; apoiar de forma clara e consistente as PMEs; acabar com os pagamentos por conta de IRC; rasgar o pseudo sistema de avaliação dos professores, substituindo-o por uma nova lei; impedir a subversão da ADSE, que o actual governo se preparava para fazer; desfazer o actual clima de asfixia democrática e de manipulação sórdida dos média e do Poder Judicial.

Creio que esta mensagem passou, ao contrário do fogo-de-artifício do senhor Pinto de Sousa, onde nada vemos a não ser megafones, vendedores de banha da cobra e uma espécie de brigada do reumático socialista, apavorada como a outra, com o fim de um regime. Neste caso, o regime do Bloco Central. Com Pinto de Sousa, ou com Ferreira de Leite, o que vai acontecer, trucidando sem cerimónias a macabra coligação das sondagens e agência de comunicação no terreno, é mesmo o fim do Bloco Central. Cavaco terá que aprender rapidamente a lidar com a nova situação, onde dificilmente poderemos aturar por muito mais tempo o travesti da Madeira.

Como é de prever que nem o Bloco, nem o CDS, queiram deixar de crescer após estas eleições, e como não estamos também a ver nenhum governo PS-PCP no horizonte, a viabilidade de um futuro governo liderado por Pinto de Sousa é praticamente de excluir. Pois! O melhor mesmo é Manuela Ferreira Leite ganhar estas eleições!



Declaração pessoal de interesses

Já escrevi neste blogue mais de uma vez, e repito, que tenciono votar no Bloco de Esquerda para a Assembleia da República, no próximo dia 27 de Setembro (se Louçã não cair entretanto na tentação de apoiar José Sócrates); em António Capucho (PSD), para a Câmara Municipal de Cascais; e que me candidato pelo PS+Helena Roseta à Assembleia de Freguesia de São João de Brito. Contradição? Incoerência? Nem por isso!

Há certamente muita gente por este país fora que é capaz de fazer o mesmo. O que não é vulgar é assumir a coisa. Há um tabu, que os partidos políticos alimentam como se fossemos todos imbecis e não soubéssemos distinguir as subtilezas de uma votação com os seus contornos de classe mais ou menos oportunistas e diferenças ideológicas cada vez menos claras. Em vez de cair na armadilha do "voto útil" —suplicado pateticamente pelo PS e pelo PSD—, os portugueses estão rapidamente a adoptar a praxis alternativa do que resolvi chamar "voto inteligente". Esta é certamente uma arma poderosa para mudar positivamente o rumo da democracia portuguesa. Usemo-la, pois, com a determinação estratégica que merece.


OAM 628 25-09-2009 18:10

quinta-feira, setembro 24, 2009

Portugal 129

PS, uma vitória pírrica?

A implosão do Bloco Central vai ser prolongada, feia e dolorosa. Louçã e Portas vão no bom caminho, mas precisam de aprender a ler melhor a realidade e de limpar as borras ideológicas do século 19 que trazem agarradas às respectivas memórias consolidadas (repetitivas e acríticas, por natureza), antes de poderem desferir o golpe de misericórdia na união de facto (PS-PSD) que há 30 anos vem conduzindo Portugal para uma situação de pré-falência, colapso social e perda objectiva de independência.

"O cérebro humano está dividido em hemisfério direito (controla a percepção das relações espaciais, a formação de imagens e o pensamento concreto) e em hemisfério esquerdo (responsável pela linguagem oral e escrita, pelo pensamento lógico e pelo cálculo)." — in Exames.

"O hemisfério dominante em 98% dos humanos é o hemisfério esquerdo, é responsável pelo pensamento lógico e competência comunicativa. Enquanto o hemisfério direito, é responsável pelo pensamento simbólico e criatividade. Nos canhotos as funções estão invertidas. O hemisfério esquerdo diz-se dominante, pois nele localiza-se 2 áreas especializadas: a Área de Broca (B), o córtex responsável pela motricidade da fala, e a Área de Wernicke (W), o córtex responsável pela compreensão verbal." — in Wikipédia.

98% dos eleitores vota, por conseguinte, de acordo com os seus interesses particulares, isto é pessoais e de grupo — familiar, profissional, etc. Enquanto durou a bonança comunitária e o ouro de Salazar, enquanto as remessas dos emigrantes continuaram a afluir generosamente, os 98% de eleitores aproveitaram a boleia, crendo os mais distraídos que a prosperidade relativa, nomeadamente das classes médias, era mérito próprio, ou de quem nos foi governando.

Sabemos agora que quem nos foi governando foi, na realidade, governando-se, sem um único pensamento estruturado e responsável sobre o futuro de Portugal. Sabemos também que a bonança chegou irremediavelmente ao fim (euros de Bruxelas, recursos próprios e dentro em breve, remessas de emigrantes). Sabemos, por fim, que as classes médias caminham aceleradamente para a extinção — prevendo-se que venham a dar lugar a um neoproletariado urbano e suburbano, tecnologicamente instruído mas inculto (i.e. falho de memória histórica), sem trabalho, condicionado para o micro-consumo, e resvalando rapidamente para uma indigência social progressiva. Este neoproletartiado em formação poderá tornar-se numa desesperada e violenta rede revolucionária. De momento, envolto na ilusão fabricada de que a presente crise é meramente cíclica e ultrapassável, talvez vote no Domingo no prato de lentilhas da chamada "governabilidade" — em vez de lancetar, como devia e a direito, a ferida aberta que é o Bloco Central, libertando o país do pus fétido que corrói visivelmente a nossa democracia.

No entanto, ainda não estou convencido que o "povo português" vote no engenheiro de aviário que nos tocou na rifa há quatro anos e meio atrás, seduzidos que fomos todos então pela elegância deste inacreditável político sem apelido. As sondagens mentem!

Um das causas evidentes da pouca fiabilidade dos nossos institutos de sondagens é simples mas tem passado despercebida da maioria dos observadores. Os inquiridores fartam-se de fazer entrevistas telefónicas, mas fazem-no sempre para telefones fixos! Ora como toda agente sabe, telefones fixos são coisa do passado, que só empresas e gente reformada ou para lá caminhando ainda usa. Ou seja, se somarmos esta pelintrice dos chamados institutos de sondagens à sua óbvia dependência do grande empregador e cliente chamado Estado-Governo-Partido no Poder, a fiabilidade dos números que têm vindo a lançar na confusão da propaganda eleitoral acaba por ser duvidosa e sobretudo irrelevante, um ruído mais da própria campanha. Não confiem, pois, nas sondagens!

Quero crer que, apesar de tudo, os eleitores irão votar contra o actual governo, por algo diferente que lhe suceda. Nem que seja outro governo PS, mas desta vez minoritário e sem Sócrates Pinto de Sousa! E também acredito que o voto inteligente permaneça firme na sua intenção de modificar a configuração democrática do parlamento, dando força ao Bloco de Esquerda e ao CDS, como uma espécie de seguro anti-maiorias absolutas e anti Bloco Central.

Seja como for, com governo PS, ou com governo PSD, teremos instabilidade governativa que baste para corroer o rotativismo actual — esperemos que até à cisão de ambos os partidos! Se Manuela Ferreira Leite não ganhar estas eleições, poderá ganhar as autárquicas, e até voltar a disputar em breve novas eleições para o parlamento. E isto por uma simples ordem de causalidade: a "governabilidade socialista" que vier (se vier!), depois do dia 27 de Setembro, será tão só o epicentro de um terramoto político-social de consequências imprevisíveis. Os ingredientes de irresponsabilidade, cabotinagem, nepotismo, corrupção, autoritarismo e asfixia democrática já existem. Basta pois uma faísca.

É por tudo isto que apelo ao realismo do Bloco de Esquerda e ao realismo do CDS. Se querem crescer, como seria bom que ocorresse, restrinjam-se ao essencial, de forma concreta, suspendendo temporariamente os dossiers ideológicos. Olhem para daqui a 20 anos! Pensem na Politica como aquilo que é: por excelência, o exercício da responsabilidade e um cálculo sereno das oportunidades que tecem a história dos povos. O Bloco Central morreu. Se não são Vocês a exigir e garantir governança e viabilidade legislativa, quem poderá fazê-lo?!


ÚLTIMAS SONDAGENS PUBLICADAS (24 Setembro 2009)
  • PS (Intercampus/TVI*~38%; Católica/RTP~38%, 100 deputados, i.e. -21)
  • PSD (Intercampus/YVI~29,9%; Católica/RTP~30%, 75 deputados, i.e. -5)
  • BE (Intercampus/TVI~9,4%; Católica/RTP~11%, 22 deputados, i.e. +14)
  • PCP/PEV (Intercampus/TVI~8,4%; Católica/RTP~7%, 13 deputados, i.e. -1)
  • CDS/PP (Intercampus/TVI~7,7%; Católica/RTP~8%, 15 deputados, i.e. +3)
  • Outros partidos (Católica/RTP~2%)
  • Votos Brancos ou Nulos (Católica/RTP~4%)
  • Indecisos (Católica/RTP~12%)
  • NS/NR (Intercampus~13,2%
Total de deputados: 126
Maioria: 113 +1

* — O erro de amostragem, para um intervalo de confiança de 95%, é de mais ou menos 3,1%.


Declaração pessoal de interesses


Já escrevi neste blogue mais de uma vez, e repito, que tenciono votar no Bloco de Esquerda para a Assembleia da República, no próximo dia 27 de Setembro (se Louçã não cair entretanto na tentação de apoiar José Sócrates); em António Capucho (PSD), para a Câmara Municipal de Cascais; e que me candidato pelo PS+Helena Roseta à Assembleia de Freguesia de São João de Brito. Contradição? Incoerência? Nem por isso!

Há certamente muita gente por este país fora que é capaz de fazer o mesmo. O que não é vulgar é assumir a coisa. Há um tabu, que os partidos políticos alimentam como se fossemos todos imbecis e não soubéssemos distinguir as subtilezas de uma votação com os seus contornos de classe mais ou menos oportunistas e diferenças ideológicas cada vez menos claras. Em vez de cair na armadilha do "voto útil" —suplicado pateticamente pelo PS e pelo PSD—, os portugueses estão rapidamente a adoptar a praxis alternativa do que resolvi chamar "voto inteligente". Esta é certamente uma arma poderosa para mudar positivamente o rumo da democracia portuguesa. Usemo-la, pois, com a determinação estratégica que merece.


OAM 627 24-09-2009 18:45 (última actualização: 23:57)

quarta-feira, setembro 23, 2009

Portugal 128

Cavaco deve estar acima da cacafonia eleitoral

É pelo menos isso que todos esperam — menos as cavalarias e os rebanhos partidários; menos, está claro, as araras, os dementes e os delatores do jornalismo desgraçado que temos.

Será que o subscritor envergonhado de PPRs, Professor Francisco Louçã, se está a transformar, contra todas as previsões, no Papagaio do Pinóquio?! Se for assim, não dura até ao Natal. Este peru empertigado de voz macia precisa ainda, contra todas as expectativas, de crescer. Mas caramba, já passou dos 50, ou não?! Quando tenciona desaprender os catecismos leninistas e trotsquistas, e olhar de frente para a realidade? Tenho o receio antigo de que este rapaz seja como aqueles melões empedernidos, que nunca amadurecem. Envelhece no dogma que o viu nascer, sem graça, nem proveito. E um dia destes desaparece!

Já é evidente há muitos muitos meses que Sócrates vai perder a maioria. Só não se sabe se perde também e vergonhosamente as eleições (é provável que sim, apesar da coligação de sondagens, favorável a quem lhes tem dado de comer ultimamente).

Assim sendo, é óbvio que o Presidente da República será sempre um árbitro quase absoluto em qualquer das situações pós-eleitorais. Ou seja, para que precisaria ele de se envolver na campanha, ajudar o PSD, ou provocar o Governo com uma farsa de espiões, políticos cães de fila e jornalistas bufos? Pois para nada!

O filme foi montado à pressa e, por isso, está de pernas para o ar. Desde quando um Presidente da República tem que explicar ao país porque demite de função um dos seus cento e tal colaboradores? Ainda por cima um assessor de imprensa? Por quem se tomam os jornalistas?! Poderá alguma vez esta farsa montada à pressa ocultar a natureza tentacular e cada vez mais sinistra do poder tecido pela Tríade de Macau (que tomou de assalto o PS) e protagonizado pelo farsante-mor do reino — o "engenheiro" José Sócrates? Espero bem que não!

Sabem uma coisa? Quem vai decidir estas eleições é uma vasta mole de gente que não pode ver o Pinóquio das Beiras pela frente. E a verdade é que muitos de nós não sabemos ainda se para isso deveremos votar no Louçã, no Portas... ou na Manuela Ferreira Leite. É esta dúvida persistente que tem deixado os estados-maiores partidários a rabiar como baratas tontas. É daqui que nascem todos os disparates recentes da campanha eleitoral.

Continuo a dizer que o mais importante é mesmo substituir o Bloco Central da Corrupção por uma nova situação democrática mais equilibrada, com cinco partidos fortes, retirando a hegemonia ao casal de oportunistas que PS e PSD têm formado nos últimos 30 anos.

Votar no Bloco de Esquerda, apesar de quem por lá anda neste momento, e apesar do eterno adolescente universitário que o dirige, é porventura o meio mais expedito para desfazer a pedra siciliana que vem destruindo os rins do Partido Socialista. E por isso continuo a recomendar a quem, como eu, tem uma sensibilidade de esquerda, o voto no BE. Já para os que têm o coração mais à direita, ou receiam os abusos conhecidos das esquerdas no poder, o voto certo será seguramente em Manuela Ferreira Leite. Se a pílula for demasiado amarga de engolir, então votem no Paulo Portas, que tem feito uma excelente campanha (salvo na sua irresistível atracção por fardas e tatuagens). O importante mesmo é destruir eleitoralmente este PS. Outro virá depois se no dia 27 conseguirmos enterrar nas urnas a máfia que tem levado Portugal a uma situação de grave incúria estratégica, endividamento catastrófico, intolerável autoritarismo e, de facto, paulatina asfixia democrática.


Declaração pessoal de interesses

Já escrevi neste blogue mais de uma vez, e repito, que tenciono votar no Bloco de Esquerda para a Assembleia da República, no próximo dia 27 de Setembro (se Louçã não cair entretanto na tentação de apoiar José Sócrates); em António Capucho (PSD), para a Câmara Municipal de Cascais; e que me candidato pelo PS+Helena Roseta à Assembleia de Freguesia de São João de Brito. Contradição? Incoerência? Nem por isso!

Há certamente muita gente por este país fora que é capaz de fazer o mesmo. O que não é vulgar é assumir a coisa. Há um tabu, que os partidos políticos alimentam como se fossemos todos imbecis e não soubéssemos distinguir as subtilezas de uma votação com os seus contornos de classe mais ou menos oportunistas e diferenças ideológicas cada vez menos claras. Em vez de cair na armadilha do "voto útil" —suplicado pateticamente pelo PS e pelo PSD—, os portugueses estão rapidamente a adoptar a praxis alternativa do que resolvi chamar "voto inteligente". Esta é certamente uma arma poderosa para mudar positivamente o rumo da democracia portuguesa. Usemo-la, pois, com a determinação estratégica que merece.


OAM 626 23-09-2009 20:50 (última actualização: 24-09-2009 02:11)

terça-feira, setembro 22, 2009

Portugal 127

Que se passa?!

Está Cavaco metido num Watergate de pernas para o ar, ou é mais uma Operação Especial dos Serviços Secretos de José Sócrates?


Operações negras e tentativa de golpe palaciano sobre o Presidente da República

Na Operação das Cassetes, publicação de registos áudio violados, em Agosto de 2004, no CM, dirigido por João Marcelino, o director nacional da PJ, Dr. Adelino Salvado foi demitido e o caso usado para tentar demonstrar que as 40 (quarenta) crianças da Casa Pia que se queixaram de ter sido abusadas, e são testemunhas do processo, mentiam todas e participavam todas (com outras centenas de testemunhas) numa gigantesca conspiração contra o Partido Socialista.

Na Operação Encomenda, publicação de correspondência violada, desencadeada em 18-9-2009, a dez dias das eleições legislativas, no DN dirigido por... João Marcelino, o objectivo é a demissão... do Presidente da República e a vitimização do primeiro-ministro para provocar uma viragem no eleitorado que favoreça o Partido Socialista.

... A demissão do assessor de imprensa da Presidência da República, Dr. Fernando Lima, em 21-9-2009, é um troféu que não satisfaz a aliança PS-Bloco. A palavra de ordem da orquestra afinada é: a demissão do assessor é uma confissão de culpa de Cavaco; portanto, Cavaco deve demitir-se.

Assim, em jogo não está apenas o condicionamento do Presidente da República para não nomear Ferreira Leite primeira-ministra se esta ganhar as eleições, e o conjunto PS e Bloco tiveram mais votos do que PSD e CDS. Nesta altura, o que está em jogo é a cabeça de Cavaco Silva no prato da deriva ditatorial socialista. — Por António Balbino Caldeira, in Do Portugal Profundo (21 de Setembro de 2009.)

Francisco Louçã diz que a campanha eleitoral do PSD morreu com a demissão de um assessor de imprensa do Presidente da República denunciado pelo mesmo Francisco Louçã, como se este putativo candidato à área da governação fosse um vulgar Garganta Funda exibicionista, ou tão só camarada do informador profissional que o PS vai colocando à frente dos jornais para o trabalho sujo. Refiro-me, claro está, ao cretino Marcelino que hoje "dirige" o DN e antes "dirigiu" o Correio da Manhã.

O pânico revelado pelas sucessivas actuações desastrosas da campanha suja que acompanha o dia-a-dia bucólico e dandy do Pinóquio das Beiras, como uma espécie de contraponto desesperado dos argumentos fortes paulatinamente avançados por Manuela Ferreira Leite desde que foi eleita líder do PSD, parece grosseiramente despropositado, se é verdade o que diz a coligação de sondagens montada para reeleger José Sócrates. Se as enfezadas sondagens publicitadas (há outras, claro!) fossem tão profissionais e verosímeis quanto se apregoa, que justificação poderia haver para a guerra suja montada contra o Palácio de Belém desde a provocação e tentativa de humilhação criadas em volta da renovação do Estatuto Autonómico dos Açores? Então se Sócrates vai governar com Louçã, para quê atacar pela via baixa Cavaco Silva, acusando-o directamente, como fez o cão de fila Augusto Santos Silva, de ser a alma mater da campanha de Manuela Ferreira Leite e do "clamoroso vazio de ideias que caracteriza a actual liderança da direita" (ASS dixit)?

Francisco Louçã fez já passar para a comunicação social a notícia de que vai explicar nos próximos dias como tenciona ajudar o PS de José Sócrates se este tiver mais votos do que o PSD, ou se o PS e o Bloco juntos tiverem mais votos do que o PSD, e este, por sua vez, conjuntamente com o CDS, não formar maioria que chegue no parlamento. Vamos estar atentos, para saber, entre outras coisas, se faz ou não sentido votar neste partido emergente, ao que parece, tentado a um suicídio prematuro. Eu só voto no dia 27!

O tempo joga a favor, ou da renovação democrática do actual regime parlamentarista, com o fim do Bloco Central e a emergência de um sistema de poder a quatro ou cindo (PS, PSD, PP, CDS e PCP), onde partidos como o BE e o CDS se elevam por direito eleitoral à qualidade de protagonistas democraticamente consagrados para o exercício eventual da governação, ou então a crise do regime agrava-se subitamente e apodrece sem remédio, dando lugar ao advento muito rápido e popularmente aclamado de um regime presidencialista mais ou menos inspirado no modelo francês — democrático, mas acabando de vez com a balbúrdia sem lei e a corrupção galopante que vem marcando o fim da III República Portuguesa.

Infelizmente, ou não, a profunda e prolongada crise económica, financeira e social mundial, agravando drasticamente o definhamento de um Portugal democrático, mas corrupto, indolente e outra vez endividado até às costelas, favorecem o segundo cenário. Daí, creio bem, o desespero que tem levado à montagem de sucessivas Operações Especiais de Desestabilização do regime por parte da canalha que tomou conta do PS.



Declaração pessoal de interesses

Já escrevi neste blogue mais de uma vez, e repito, que tenciono votar no Bloco de Esquerda para a Assembleia da República, no próximo dia 27 de Setembro (se Louçã não cair entretanto na tentação de apoiar José Sócrates); em António Capucho (PSD), para a Câmara Municipal de Cascais; e que me candidato pelo PS+Helena Roseta à Assembleia de Freguesia de São João de Brito. Contradição? Incoerência? Nem por isso!

Há certamente muita gente por este país fora que é capaz de fazer o mesmo. O que não é vulgar é assumir a coisa. Há um tabu, que os partidos políticos alimentam como se fossemos todos imbecis e não soubéssemos distinguir as subtilezas de uma votação com os seus contornos de classe mais ou menos oportunistas e diferenças ideológicas cada vez menos claras. Em vez de cair na armadilha do "voto útil" —suplicado pateticamente pelo PS e pelo PSD—, os portugueses estão rapidamente a adoptar a praxis alternativa do que resolvi chamar "voto inteligente". Esta é certamente uma arma poderosa para mudar positivamente o rumo da democracia portuguesa. Usemo-la, pois, com a determinação estratégica que merece.


OAM 625 22-09-2009 11:10 (última actualização: 11:46)

segunda-feira, setembro 21, 2009

Portugal 126

Um voto inteligente contra Sócrates

Acabo de receber um oportuno artigo sobre o que é preciso fazer para derrotar de vez a caricatura socialista que fizeram do PS. O artigo leva o título Voto Útil Contra O ps De sócrates, foi escrito por Fafe, com a colaboração (presumo) de Juvenal Paio, e está publicado no blogue PrimeiroFAX.

Se quer derrotar o actual PS, traído e esventrado pela Tríade de Macau e suas marionetas e papagaios amestrados, tem que conservar a cabeça fria e prestar alguma atenção ao método de Hondt, escolhido, imposto e aplicado para favorecer os grandes partidos e os distritos mais populosos, contra os partidos pequenos e médios, e contra as regiões, zonas e localidades menos povoadas do país. É um sistema injusto, mas que temos que perceber como funciona, para assim podermos votar de acordo com os nossos objectivos finais. Se queremos derrotar este governo de cretinos e vigaristas, se queremos viabilizar uma reforma profunda do nosso caduco sistema partidário, então teremos que começar por derrotar a pandilha de José Sócrates e o próprio José Sócrates com um voto inteligente!

E para isso, aqui vai uma tabela bem mais útil que os decibéis cada vez mais agressivos e enganadores da campanha eleitoral.

Para derrotar o "PS" de Sócrates, se vive nalgum dos distritos abaixo indicados, vote nas únicas opções capazes de contribuir objectivamente para nos livramos do engenheiro de aviário que nos tocou há quatro anos e meio na rifa.

  • Beja: votar na CDU
  • Bragança: votar PSD
  • Castelo Branco: votar PSD
  • Évora: votar CDU ou PSD
  • Faro: votar PSD ou Bloco
  • Guarda: votar PSD
  • Portalegre: votar PSD
  • Viana do Castelo: votar PSD ou CDS-PP
  • Vila Real: votar PSD
  • Açores: votar PSD
  • Madeira: votar PSD
Se vive nos grandes distritos e cidades, pode seguir mais de perto as suas inclinações, interesses ou inspiração. Neste caso recomendo ainda assim, muito fortemente, a preferência pelo partidos emergentes: o Bloco e o CDS-PP, pois só uma forte subida eleitoral destes dois partidos mudará de facto o corrompido, estafado e perigoso Bloco Central.

É este o tipo de contas que os estados-maiores dos partidos não se cansam nem cansarão de fazer e refazer, dia a dia, hora a hora, e em cada minuto que passa, até ao próximo e decisivo dia 27 de Setembro. Nós também!


Declaração pessoal de interesses

Já escrevi neste blogue mais de uma vez, e repito, que tenciono votar no Bloco de Esquerda para a Assembleia da República, no próximo dia 27 de Setembro; em António Capucho (PSD), para a Câmara Municipal de Cascais; e que me candidato pelo PS+Helena Roseta à Assembleia de Freguesia de São João de Brito. Contradição? Incoerência? Nem por isso!

Há certamente muita gente por este país fora que é capaz de fazer o mesmo. O que não é vulgar é assumir a coisa. Há um tabu, que os partidos políticos alimentam como se fossemos todos imbecis e não soubéssemos distinguir as subtilezas de uma votação com os seus contornos de classe mais ou menos oportunistas e diferenças ideológicas cada vez menos claras. Em vez de cair na armadilha do "voto útil" —suplicado pateticamente pelo PS e pelo PSD—, os portugueses estão rapidamente a adoptar a praxis alternativa do que resolvi chamar "voto inteligente". Esta é certamente uma arma poderosa para mudar positivamente o rumo da democracia portuguesa. Usemo-la, pois, com a determinação estratégica que merece.


OAM 624 20-09-2009 18:42

domingo, setembro 20, 2009

Portugal 125

A governabilidade depois do Bloco Central

A alternativa ao voto útil no Bloco Central é um voto inteligente no amadurecimento partidário da democracia portuguesa, permitindo sem demora que as
representações parlamentares do PP e do Bloco de Esquerda entrem definitivamente na casa dos dois dígitos.

Apesar dos estragos provocados na Oposição pela máquina de mercar que tem levado a cabo a campanha governamental e partidária de José Sócrates, desde o início deste Verão, a verdade nua e crua é que a mensagem de Paulo Portas tem passado de forma excelente, as palavras de Louçã não param de angariar votos, e o texto de fundo da actual crise político-eleitoral foi acertadamente escrito e descrito, a tempo e horas, pela actual e futura líder do Partido Social Democrata, e provável próxima primeira-ministra, Manuela Ferreira Leite.

As sondagens realizadas pelos alfaiates do poder não chegam para contrariar um facto óbvio: a nomenclatura "socialista" está em pânico, pois teme, e com razões para isso, uma pesada derrota eleitoral, a que se seguirá um quase inevitável colapso partidário. O PSD, pelo contrário, fala de governabilidade e começa a pedir uma maioria confortável, pois teme chegar ao poder sem os votos necessários —somados aos do PP, claro está— para fazer aprovar o próximo Orçamento de Estado. E no entanto, o que está felizmente em causa é a possibilidade real de a democracia portuguesa evoluir para um patamar de maturidade onde nem as maiorias absolutas (que são sempre, nas actuais circunstâncias, absolutamente arrogantes e autoritárias), nem o rotativismo corrupto do Bloco Central, fazem qualquer falta ou sentido.

Muito dificilmente deixaremos de assistir à implosão, pelo menos parcial, e provavelmente simultânea, dos dois principais partidos do Bloco Central: PS e PSD. Se o Bloco de Esquerda chegar aos 12%-14%, e se o PP chegar aos 10%, teremos pela certa, e pela primeira vez desde o fim do período pré-revolucionário que se seguiu à rebelião de 25 de Abril de 1974, uma transformação radical do sistema partidário em que assenta a nossa democracia. Ora esta mais do que verosímil possibilidade é uma excelente notícia, que todos os democratas e patriotas devem saudar, sobretudo num momento em que as dificuldades económicas, financeiras e sociais são muito sérias e tendem, para mal da maioria de nós, piorar sem apelo nem agravo ao longo dos próximos dois ou mais anos. Só um regime democrático, capaz de melhor representar as diferenças existentes entre todos nós, será necessariamente mais responsável do que aquele que agora, exangue, busca desesperadamente evitar uma emergência presidencialista. É pois a possibilidade deste novo equilíbrio democrático que preocupa e move como nunca os eleitores portugueses. Há uma preocupação séria no ar. Como há muito não acontecia, os cidadãos querem perceber, querem fazer uma escolha certeira, querem coragem, sabedoria, equilíbrio, ponderação, justiça e... governabilidade!

Os cenários que podemos esperar depois do dia 27 de Setembro são basicamente quatro:
  1. o PSD ganha as eleições com uma maioria confortável, ficando dependente apenas do apoio de um dos partidos da Oposição;
  2. o PSD ganha as eleições com maioria escassa, i.e. sem garantias de poder fazer passar o próximo Orçamento de Estado, ficando assim na dependência quase certa do PP;
  3. o PS consegue ganhar as eleições por um voto, ficando inevitavelmente na dependência extrema das vozes e dos votos da Oposição;
  4. o PS surpreende e tem uma maioria relativa confortável, ficando pendente apenas do apoio de um dos partidos da Oposição.
O primeiro cenário, desejável, permitirá experimentar uma forte convergência estratégica entre dois políticos economistas, situados agora no topo do poder de Estado e da governança. Terão uma oportunidade única de acção, ainda mais substancial daquela que José Sócrates desbaratou em nome do fortalecimento estratégico do lóbi financeiro dos "socialistas". Porém, se Manuela e Cavaco falharem, o PSD poderá desaparecer do mapa!

O segundo cenário, muito instável, provocará agitação interna no PSD, a que se seguirá uma provável exclusão dos agitadores a soldo de Santana Lopes (que entretanto perderá Lisboa para António Costa e Helena Roseta). Esta cisão poderá espevitar uma outra cisão: a do próprio PS, então a braços com o processo de excisão de José Sócrates e da Tríade de Macau...

O terceiro cenário, muito instável (mas mais favorável ao PSD do que parece), levará o Partido Socialista a uma cisão quase imediata, com parte importante dos militantes ideologicamente mais convictos e eticamente exigentes a passarem-se com armas e bagagens (mas sem Alegre, claro!) para o Bloco e Esquerda. O governo do insuportável papagaio das Beiras sucumbirá em menos de um ano à sua própria pequenez mental e desorientação organizativa — dando então lugar a uma maioria confortável de Manuela Ferreira Leite, a qual, antes que seja tarde e por via das dúvidas, empurrará para fora do seu partido os agitadores neoliberais Pedro Passos Coelho e Miguel Relvas, capitaneados pelo desamparado teddy boy populista, Santana Lopes.

O quarto cenário, pouco provável, forçará contudo o PS de Sócrates a negociar permanentemente com um Paulo Portas absorto então numa nova grande estratégia pessoal e partidária. Apoiar-se no Bloco de Esquerda, seria o mesmo que fuzilar o partido que Francisco Louçã tão pacientemente tricotou — ou seja, uma impossibilidade teórica e prática, por mais que alguns deslumbrados bloquistas mal consigam dormir de frenesim face às expectativas sedutoras de acesso ao poder. Se o Bloco recusar, como deve, qualquer caução a José Sócrates, apressará inexoravelmente a cisão do PS a seu favor, pois um Sócrates ao colo de Portas será uma autêntica via rápida para o surgimento dum novo partido socialista, com matriz bloquista, mas expandido muito para além do previsto e num tempo fulminante, graças à afluência em massa de socialistas cansados de esperar pelo empata Alegre. Mendigar votos a Manuela Ferreira Leite está também, obviamente, fora de causa. Q.E.D.

O desejo de governabilidade é legítimo e sensato. Neste caso, porém, tal desiderato implica uma profunda alteração do nosso panorama partidário. Até que este processo de verdadeira reforma orgânica da democracia se conclua, não vejo como possa haver uma saída airosa para o bloqueio evidente do socratintismo, que não passe, desejavelmente durante toda uma legislatura, por Manuela Ferreira Leite e Paulo Portas.


Post scriptum — Francisco Louçã deveria declarar quanto antes que o BE irá promover a governabilidade dinâmica do país se os eleitores e os demais partidos com assento parlamentar assim o desejarem. Esta governabilidade dinâmica deverá, no entanto, assentar numa redistribuição mais justa e qualificada da riqueza, do trabalho disponível e das dificuldades. Esta governabilidade dinâmica exige, por outro lado, um Estado e uma Administração Pública respeitadas e com meios de acção suficientes nos domínios cruciais para a mitigação e superação da gravíssima crise em curso: Economia&Finanças, Justiça, Saúde, Segurança Social e Educação. Isto é tudo menos, claro está, um cheque em branco ao PS de Sócrates!


Declaração pessoal de interesses

Já escrevi neste blogue mais de uma vez, e repito, que tenciono votar no Bloco de Esquerda para a Assembleia da República, no próximo dia 27 de Setembro; em António Capucho (PSD), para a Câmara Municipal de Cascais; e que me candidato pelo PS+Helena Roseta à Assembleia de Freguesia de São João de Brito. Contradição? Incoerência? Nem por isso!

Há certamente muita gente por este país fora que é capaz de fazer o mesmo. O que não é vulgar é assumir a coisa. Há um tabu, que os partidos políticos alimentam como se fossemos todos imbecis e não soubéssemos distinguir as subtilezas de uma votação com os seus contornos de classe mais ou menos oportunistas e diferenças ideológicas cada vez menos claras. Em vez de cair na armadilha do "voto útil" —suplicado pateticamente pelo PS e pelo PSD—, os portugueses estão rapidamente a adoptar a praxis alternativa do que resolvi chamar "voto inteligente". Esta é certamente uma arma poderosa para mudar positivamente o rumo da democracia portuguesa. Usemo-la, pois, com a determinação estratégica que merece.


OAM 623 20-09-2009 02:08 (última actualização: 10:24)