quinta-feira, maio 24, 2012

Euros de quarentena

Não entre em pânico, mas o pânico já começou!

Para aceder ao gráfico explicado em áudio vá até ao Financial Times

Está na altura de tomar algumas medidas imediatas de precaução:
  • não ter mais de 50 mil euros em depósitos bancários, pois não acredito na garantia dos 100 mil euros prometida pelo governo se o pior acontecer —basta acompanhar o mais recente debate de surdos sobre a conveniência ou não de implementar uma garantia de depósitos única na zona euro, sobre o qual a Cimeira informal de ontem disse nim :(
  • manter uma despensa com provisões de produtos alimentares não imediatamente perecíveis para um/dois meses;
  • guardar num baú uma boa porção de euros: 1.000, 2.000, 5.000, 10.000, ... ;
  • mudar imediatamente todos débitos em conta para sistemas de cobranças convencionais: pagamentos de faturas contra recibo, nomeadamente via multibanco;
  • falar da crise e dos problemas pessoais e familiares com a família mais próxima e com os amigos;
  • não anunciar aos quatros ventos as medidas tomadas.
Atenção às dificuldades crescentes que o seu banco colocará aos levantamentos em numerário. O melhor mesmo é usar diariamente o Multibanco para este efeito: retirando o máximo autorizado.

Isto não é uma previsão, nem um conselho, mas apenas um aviso de que as coisas podem correr mal.

A decisão de enviar este sinal de alarme tem que ver com a deterioração rápida da economia mundial, nomeadamente na Europa, nos Estados Unidos e na... China, revelada nomeadamente pelo comportamento recente dos grandes investidores e especuladores.

Principais sinais de preocupação:
  1. Os bancos estão a colocar o dinheiro que obtêm emprestado do BCE em troca de títulos de dívida soberana à guarda do próprio BCE, perdendo até algum dinheiro nestas operações —de onde a conversa fiada sobre o crescimento não passar de mais uma burla mediática, pois aquilo a que assistimos neste momento é à destruição fiscal do país, que o manga de alpaca partidária António José Seguro obviamente não vê, nem quer entender;
  2. Os aforradores, investidores e especuladores estão a desfazer-se rapidamente dos Certificados de Aforro (mal por mal, o único papel que ainda vale alguma coisa é o euro!);
  3. Os grandes investidores e especuladores internacionais estão a reorientar enormes fluxos de liquidez para os títulos dos tesouros americano e alemão, ao mesmo tempo que se desfazem dos últimos títulos bolsistas das empresas e bancos a caminho da insolvência;
  4. O fracasso estrondoso do lançamento em bolsa do Facebook revela o pânico que grassa nos mercados especulativos;
  5. O endividamento público dos Estados Unidos (103% do PIB...) e o endividamento público de vários países europeus (Grécia, Portugal, Espanha, França, ...), bem como a situação financeira do Reino Unido desenham um panorama cada vez mais crítico, de onde mais cedo ou mais tarde surgirá uma crise inflacionista de grandes proporções;
  6. É muito improvável que a Alemanha aceite a criação de euro-obrigações sem obter em contrapartida um salto qualitativo na Eurolândia, isto é, sem a imediata federação financeira, fiscal e estratégica (infraestruturas, tecnologia, investigação e desenvolvimento) da União — o que só acontecerá quando países como a Espanha, Itália e... França estiverem descaradamente a caminho da situação em que hoje está a Grécia;
  7. Que resposta dará Hollande depois de ser informado pelos alemães da real situação de pré-insolvência de vários estados europeus?
  8. As medidas paliativas na Europa (e em Portugal) estão a chegar ao limite, sobretudo agora que a China anunciou que não continuará a alimentar este interminável festim de irresponsabilidade e cobardia política;
  9. Ou se dá um novo golpe de rins federal na União, ou seremos todos apanhado pelo inevitável colapso da economia grega este verão, semanas ou poucos meses depois das eleições de 17 de junho;
  10. Como tenho escrito repetidamente, a Alemanha tudo fará para manter o euro, que já é sem sombra de dúvida uma moeda de reserva mundial alternativa ao declínio inexorável do dólar;
  11. Até agora tivemos o euro-marco, que deu mau resultado. A crise sistémica em curso poderá assim forçar a Alemanha a optar por um euro menos forte (à volta dos $1.20) ou in extremis pelo estabelecimento de zonas de quarentena monetária dentro da zona euro, no interior das quais o euro circularia a par de moedas nacionais/regionais temporárias (euro-dracma, euro-escudo, euro-peseta, euro-lira, ...) A paridade entre o euro legítimo e os euros de quarentena estaria sujeita a uma banda de oscilação negocial estabelecida entre o BCE e os bancos centrais dos países em dificuldade ou de cabeça dura (a conversão automática dos depósitos e dívidas em moedas de quarentena seria uma consequência lógica deste passo —daí a minha recomendação para desviar o euro legítimo para o baú, enquanto é tempo!);
  12. Há sempre a possibilidade do regresso da Alemanha ao marco tout court, mas aí o par dólar-libra teria ganho mais uma guerra fratricida em curso entre anglicanos e protestantes —os financeiros judeus apostam, como sempre, nos dois :(
Sem nova revolução democrática este gráfico não será tão cedo invertido :(
 
Ao contrário da situação que agora temos e se vem deteriorando de forma acelerada e dramática (ver a queda expectável das receitas fiscais hoje divulgada pela DGO), em que a manutenção do euro-marco, como moeda forte cada vez mais inacessível nestes países falidos, improdutivos, indisciplinados, populistas e corruptos, apenas poderá potenciar a sua destruição, como tem ficado patente no caso grego, já com a criação de regiões de quarentena alguns países UE poderiam voltar a ter temporariamente moedas próprias, embora indexadas ao euro legítimo, ganhando desta forma uma nova possibilidade temporal de reformar as suas economias, as suas instituições, os seus sistemas de poder e os seus degenerados pactos sociais — destruindo de uma vez por todas as nomenclaturas parasitárias que deixaram de ter qualquer função nesses países e só contribuem para a inviabilidade sistémica dos mesmos.

O ciclo colonial europeu chegou ao fim, 600 anos depois da conquista de Ceuta (1415)


POST SCRIPTUM

We will start with an appetizer of Liquidity Tenders and Securities Market Program Bond Purchases, move on to a plate of Emergency Liquidity Assistance, sample a pre-entre of Pro-Growth measures and ECB Covered Bond purchases, dive into an entre of Fed Swap Lines, medium rare, with a side of Emergency Liquidity Assistance, and finally unwind with a desert plate of Firewalls. To close we will dream of tomorrow' menu which some say may feature the mythical Eurobonds and even the, gasp, legendary Europan Bank Deposit Guarantee...
Please charge it all to the taxpayer, of course — in ZeroHedge.




Uma eventual saída da Grécia do euro não será anunciada previamente! E se vier a ocorrer seria praticamente impossível evitar um contágio imediato a Portugal, Itália e Espanha, com inevitáveis corridas aos bancos nestes três países. O colapso da moeda única tornar-se-ia então iminente.

Portanto, se a Grécia acabar por ficar sem a moeda única, o mais provável é que sejam introduzidos controlos financeiros instantâneos e simultâneos em todos os PIIGS no preciso momento em que for anunciado o divórcio financeiro. Resta pois a esperança de que a Grécia do Syriza e de Alexis Tsipras acabe por empurrar a Eurolândia para um salto quântico em matéria de união financeira, fiscal e orçamental, com a Grécia a exigir uma maior e mais rápida harmonização institucional em toda a União e uma mais equilibrada e transparente repartição dos sacrifícios, apoiada por uma Alemanha que então exigirá em troca (nomeadamente de garantias de depósitos à escala europeia, das euro-obrigações e da transformação do BCE num verdadeiro banco central europeu) o reforço imediato dos instrumentos federais de gestão fiscal e orçamental da zona euro, aumentando os poderes do parlamento europeu, da comissão, do BCE e das cimeiras de chefes de estado e de governo da Eurolândia, e clarificando mais nitidamente as zonas de ação de cada uma destas instâncias de poder da UE.


Última actualização: 24 mai 2012 23:12 GMT

sábado, maio 19, 2012

Quebec: Primavera borda

Manifestação nas ruas de Montreal, 17 de maio, contra a subida prevista das propinas do ensino superior em 82 %. | AFP/Rogerio Barbosa

A crise árabe alastra ao... Canadá!

Le projet de loi spéciale déposé jeudi 17 mai au soir par le gouvernement québécois pour briser le mouvement de grève des étudiants, qui prévoit une forte restriction du droit de manifester, a été reçu comme une douche froide par les étudiants et l'opposition. Le texte instaure notamment toute une série d'amendes pour les organisateurs de piquets de grève, allant de 1 000 à 125 000 dollars (de 777 euros à 97 000 euros).

Un individu seul, par exemple, encourrait une amende de 1 000 à 5 000 dollars. Une association d'étudiants qui organiserait un tel rassemblement ou lancerait le mot d'ordre de bloquer l'accès à une université risquerait, elle, de devoir payer de 25 000 à 125 000 dollars, le double en cas de récidive — in Le Monde, Amériques.

Como diz uma amiga Québécoise que viveu muitos anos em Portugal, mas que a queda do dólar forçou a regressar ao seu belo mas frio país, o Canadá começa a estar entalado entre a anarquia e a ditadura :( Lá como cá e no resto do mundo pós-industrial e pós-moderno o estado social está sobre endividado e começa a romper pelas costuras da sua insustentabilidade financeira, motivada nomeadamente pela decadência produtiva, pelo consumismo, pelo ilusionismo orçamental, pela especulação, e pelo envelhecimento, crescimento e distorção demográficas.

Também por aquele país andam agora os chineses a cobrar em ativos materiais as vantagens da sua balança comercial. É na realidade inacreditável: o Canadá exporta matérias primas para a China, e importa da China produtos industriais, nomeadamente de alta tecnologia, não conseguindo aparentemente inverter o seu crítico défice comercial com Pequim: mais de 23 mil milhões de dólares canadianos (ver dados oficiais).

Enquanto não percebermos que a crise é global, e que deriva de um pico generalizado dos recursos disponíveis num mundo com uma demografia excessiva e de pernas para o ar, continuaremos a insistir na berraria interminável das ideologias obsoletas do século passado, como se não tivéssemos já provado os sabores amargos de ambas, e não fosse tragicamente evidente que nenhuma delas tem soluções para a tragédia que se aproxima.

É vital para a sobrevivência da espécie humana civilizada e tecnologicamente avançada perceber
  1. que a demografia humana chegou a um limiar de crescimento e de composição etária distorcida, a partir do qual não pode continuar a evoluir sem perdas insolúveis de qualidade;
  2. que os recursos são limitados, e em particular os recursos que permitiram a revolução industrial deixaram de ser facilmente acessíveis, tornando-se por isso cada vez mais caros;
  3. e que o fim do colonialismo ocidental tornou subitamente inviável a perpetuação de vantagens nacionais e regionais baseadas na simples imposição de regimes de troca e de exploração aos mais fracos.




A crise financeira em curso é um sintoma iniludível do grande colapso anunciado em 1972 por Donella Meadows et al. em The Limits to Growth. Há quem pense que o tempo para mitigar o desastre se esgotou irremediavelmente (Hirsch report). No entanto, será sempre melhor e mais produtivo procurar soluções onde aparentemente não as há, pensando fora da caixa quadrada das ideologias, do que deixarmo-nos levar pela alternativa: anarquia ou ditadura.

No Quebec milhares de estudantes saíram à rua contra as propinas. A dimensão dos protestos deu à luz a expressão Printemps Érable, num alusão simultânea à árvore nacional do Canadá (o bordo) e às manifestações da chamada Primavera Árabe. Esta sincronização aparentemente espontânea das lutas sociais, mais do que preocupante, é um sinal claro de que é urgente repensar os modelos sociais e culturais da humanidade.

sexta-feira, maio 18, 2012

O Partido da Papoila

Banner do Manifesto por uma Esquerda Livre
  
Quanto mais depressa formarem um novo partido, melhor!

O manifesto hoje apresentado em Lisboa, e que já foi subscrito por mais de 1500 pessoas, destacando-se os nomes de Rui Tavares e Daniel Oliveira (ex-Bloco de Esquerda), Ana Gomes, Ana Benavente, Alfredo Barroso, António Mega Ferreira (desempregados do PS), ou jornalistas, intelectuais e artistas vários, como José Vítor Malheiros, Francisco Belard, André Barata, Hélder Costa, Mário de Carvalho, Miguel Vale de Almeida ou Rui Zink começa assim:

“Portugal afunda-se, a Europa divide-se e a Esquerda assiste, atónita.”

E assim acaba:

“Uma União que faça do pleno emprego um objetivo central da sua política económica, que dê um presente digno aos seus cidadãos e um futuro promissor às suas gerações jovens.”

É pena que uma tão saudável iniciativa, de que aliás precisamos como de pão para a boca, comece logo por uma descarada imprecisão histórica: se algo mudou nestas últimas semanas na crise da Europa que não chegou a unir-se, a não ser para repartir conveniências e traficar oportunismos, e de que este manifesto por uma "esquerda livre" é a mais óbvia e primaveril consequência, foi precisamente a resposta da tal Esquerda — nada "atónita", e nada "assistente".

Desde logo, com a vitória de François Hollande, desde logo com subida vertiginosa do Partido Pirata alemão, e desde logo com a emergência explosiva do partido de esquerda radical grego Syriza, liderado por Alexis Tsipras, um jovem inteligente e ambicioso de quem os banqueiros e os especuladores de todo o mundo parecem estar neste preciso momento suspensos, se algo se move na Europa é precisamente a Esquerda. E a extrema direita, também!

Eu há muito que não consigo ver o mundo a duas cores, e por isso dificilmente me apanharão a assinar este manifesto algo piedoso e ensimesmado.

A ideia de pedir ao mundo uma sociedade de "pleno emprego", logo agora, parece-me de um irrealismo político e falta de rigor intelectual a toda a prova. Eu não quero "emprego", porque sou um profissional liberal; quero trabalho, clientes e amigos! E além do mais, numa sociedade tecnológica que envelhece, do que precisamos é mesmo de menos emprego, mas de mais vida, trabalho e cooperação, onde o regime das trocas materiais e simbólicas e a cooperação abundem, como na Natureza sempre abundaram. Do que precisamos neste preciso momento é de mudar a palavra, sob pena de perdermos as ideias e nos perdermos por décadas a fio numa balbúrdia mórbida de assassínios e suicídios. "Povo de Esquerda" é um populismo retardado que nada adianta. Puxem pela imaginação, por favor!

Os partidos da dita esquerda portuguesa estão há muito num beco sem saída: são velhos, oportunistas e maus! O PS, além destas doenças todas, ainda por cima, é corrupto. Ainda esperei que do interior deste saco de lémures saísse uma revolução depois do Zézito trincar a sua própria língua. Mas percebo agora que teremos que aturar nos próximos anos um travesti de François Hollande, repetindo depois do almoço o que o líder francês regurgitou depois do pequeno-almoço — ao mesmo tempo que tenta esconder diariamente as patifarias que o seu partido andou a fazer na Era Zézito.

A menos que deste manifesto enconado acabe por sair um partido, a dita Esquerda Portuguesa corre o risco de morrer de estupidez.

segunda-feira, maio 14, 2012

The debt in Spain stays mainly in the... banks!

A Espanha à beira do resgate? Ou o euro à beira do colapso?

Gráfico do ZeroHedge com base em dados do Banco de Espanha


Mais um gráfico terrível da situação financeira espanhola, criada por uma euforia irresponsável cuja responsabilidade vai inteirinha, ou quase, para os partidos e os bancos espanhois. A dívida dos bancos espanhois ao BCE duplicou de 31 de Dezembro de 2011 até Abril deste ano, correspondendo a mais do dobro do PIB português. É obra!

O subprime espanhol, tal como ocorreu nos EUA, é de tal modo gigantesco, que a única alternativa para sossegar este monstro imobiliário parece ser, de momento, tanto para os espanhóis, como para os alemães, injectar quantidades infinitas de euros sobre o buraco radioativo.

Até quando? Os rombos que começaram a abrir, no fim da semana passada, no Titanic da especulação mundial, o JP Morgan, apontam para duas certezas: o colapso financeiro do imobiliário em Espanha vai acontecer, e não vai demorar muitos meses :(

sexta-feira, maio 11, 2012

Dona Branca Europeia

 DBE quer dizer Dona Branca Europeia. Em inglês, chama-se Ponzi Patriotism™

Zero Hedge has a habit of trying to simplify that which is otherwise unnecessarily complex, convoluted and opaque. Today, we wish to explain the primary reason why Europe has still not be engulfed in fire and brimstone and collapsed straight to the 9th circle of overlevereged Hell(as). The reason, as we henceforth dub it, is Ponzi PatriotismTM.
What is Ponzi PatriotismTM you may ask? Good question - instead of providing verbal explanation we will demonstrate it visually, courtesy of the two Reuters charts below. The bottom line is that since everyone else is rushing far and away from Europe's doomed countries, it is up to the countries themselves to double, then triple, then quadruple down on their own terminal insolvency, until, finally one day, it's all over.

ZeroHedge, "Visualizing Europe's 'Ponzi Patriotism'"

 Os detentores externos de dívida pública europeia dos países sobre endividados estão a desfazer-se rapidamente dos títulos! Os detentores nacionais destes mesmos títulos (bancos, sobretudo) aumentam sem parar a sua carteira altamente tóxica de obrigações que colocam no BCE como colateral de empréstimos virtualmente sem juros, esperando um dia cobrar os ganhos desta especulação combinada com a corja burocrática que tomou de assalto os governos e a generalidade das instituições políticas, patronais, sindicais e culturais das democracias populistas europeias.

Que acontecerá? Nacionalizações em série, para não deixar falir boa parte da banca europeia? Desemprego imparável e galopante, na sequência da multiplicação das falências? Deflação suicida, ou hiperinflação criminosa?

Numa economia oportunista, virada do avesso, especuladora por natureza, capturada por uma imensa burocracia bem remunerada, que esperança podemos ter numa solução equilibrada para aquele que é já o maior desastre económico, financeiro, e em breve, social, que o chamado mundo desenvolvido conheceu desde a Grande Depressão dos anos 1930? Desta vez, nem sequer uma guerra tão criminosa e hedionda como a que terminaria com o holocauto nuclear de Hiroshima e Nagasaki seria uma solução possível. Por um lado, ainda bem! Mas por outro, falta responder à pergunta: onde tudo isto irá parar?

OLHEM E VOLTEM A OLHAR BEM PARA ESTE QUADRO PUBLICADO HOJE -- 11 DE MAIO -- PELA REUTERS :(

A tesoura assassina. Poderá Hollande travar o suicídio da Europa?


POST SCRIPTUM

Já agora, combinar este gráfico com estes dois, que ilustram o artigo "Explaining The European €2.5 Trillion Liquidity Catch 22 Closed Loop", de Tyler Durden (ZeroHedge):

Origem: Diapason


Origem: Goldman


ÚLTIMA ATUALIZAÇÃO: 11 Maio 2012 22:48

segunda-feira, maio 07, 2012

Merkollande?

Monsieur (Hulot) Hollande poderá baralhar a chancelarina alemã!

Ao lado de um homem normal...
Partido de Merkel com pior resultado desde 1950 em estado da Alemanha

"Em força esteve, segundo as sondagens, o grupo activista Partido Pirata, que conquistou 8,5% dos votos. É a primeira vez que vai conseguir ocupar assentos no parlamento da região. Os Piratas penas tinham arrecadado o voto de 1,8% dos eleitores no sufrágio de 2009." Jornal de Negócios online, 7 Maio 2012.

Salvo os países produtores primários de energia barata, matérias-primas alimentares e industriais essenciais, de trabalho sobre-explorado e sem direitos, e que não respeitam boa parte das regras internacionais sobre higiene e sustentabilidade, o resto do mundo, do Japão aos Estados Unidos e Inglaterra, passando pela União Europeia, e pelos desgraçados países africanos, asiáticos e sul-americanos que não dispõem nenhuma das vantagens competitivas dos chamados "países emergentes", está sobre endividado!

A explosão demográfica mundial, a competição por recursos limitados, a distorção dos modelos de crescimento dos países industrializados, através da produção e consumo conspícuos, destruição do trabalho produtivo, recente acumulação explosiva do desemprego e da falta de emprego, perda de competitividade comercial, expansão puramente monetária e financeira das economias, e endividamento sistémico dos governos, das empresas e das pessoas, acompanhados pela globalização especulativa dos mercados financeiros, espelha não apenas o declínio dos impérios coloniais do Ocidente, mas também a aproximação de um limiar de crescimento populacional incompatível com os recursos disponíveis. A máscara financeira que até agora escondeu a realidade de uma ecologia esgotada começou a cair de forma dramática, como os mais avisados previram. E o que vemos é assustador, nomeadamente porque ninguém sabe como sair desta situação.

Os governos caiem como dominós sob o impacto social e político do colapso financeiro, das falências e do desemprego. Em desespero de causa vota-se no desconhecido, ou no regresso do que há muito parecia andar arredado dos núcleos duros do poder. A "direita" regressa onde a "esquerda" governava, e vice versa, como vimos agora com a vitória fulminante de François Hollande em França, e a derrota do corrupto até à 5ª casa bloco central grego (atenção Jota Passos de Coelho! atenção Jota inSeguro!)

O novo presidente francês, se mantiver (e terá que manter!) as promessas do candidato, até às próximas eleições legislativas, que darão a França um novo governo, previsivelmente alinhado ou comprometido com Hollande (Bayrou no próximo elenco?), poderá ditar a morte política de Angela Merkel muito antes das próximas eleições alemãs, em 2014, e provocar um segundo terramoto político, desta vez no coração da locomotiva europeia.

As eleições de ontem no Schleswig-Holstein revelam até que ponto o efeito dominó acabará por derrubar a voluntariosa chancelarina vinda do Leste. Mas a pergunta fundamental persiste: poderá a Europa escapar à austeridade? Poderá a União Europeia entrar num novo ciclo de "crescimento duradouro", como pede Barroso ao senhor Hulot de Paris, sem reformar primeiro as suas economias, os seus sistemas financeiros, a sua fiscalidade e a sua governança?

Como já todos percebemos, o que a Alemanha não deixa que se faça, por um lado, faz-se por outro! No entanto, vai ser inevitável uma metamorfose profunda dos estados, das economias e do sistema financeiro mundiais. Estamos apenas no princípio desta dolorosa mutação.

As Férias do Senhor Hulot, de Jacques Tati (link)

Hollande, cuja figura me faz lembrar simultaneamente Mr. Chance e o Monsieur Hulot, tem um refinado bom gosto no que se refere ao sexo oposto, gosta de cozinhar e de fazer as suas compras gastronómicas — três atributos promissores e que me sensibilizam. Promete reduzir em 30% os honorários a que tem direito como presidente. Para começar, é mesmo simpático ;)


POST SCRIPTUM

Sobre este mesmo tema, o que escrevemos em Janeiro: Bem-vindo senhor Hollande!

quarta-feira, maio 02, 2012

Sete pontes Vasco da Gama

A exploração do petróleo de xisto é uma trajetória desesperada e muito perigosa. Além do mais economicamente inviável. Artigo/foto: Green Prophet.

Enquanto os piratas sonham com novos aeroportos e autoestradas, a fatura das importações de energia revela bem o beco sem saída onde nos encontramos :(

JdN: “É o valor mais alto dos últimos três anos: 7,1 mil milhões de euros foi o preço pago por Portugal em 2011 pela necessidade de importar energia do exterior. Uma factura que representa um agravamento de 27,7% face ao ano anterior, segundo os mais recentes números da Direcção Geral de Energia e Geologia (DGEG).”

Quando baixarmos a nossa circulação automóvel individual para metade ou menos de metade da atual, que farão as concessionárias das autoestradas e das SCUT? Continuarão a exigir indemnizações compensatórias aos contribuintes? Em nome de que contratos leoninos? Em nome de que negócios ruinosos para o Estado? Está na altura de levar esta gente e os seus gabinetes de advogados a tribunal.

Não há soluções milagrosas para um problema tão grave quanto o Pico do Petróleo e o sobre endividamento público e privado (que já é uma consequência invisível do dito pico) da maioria dos países não produtores líquidos de energia e de matérias primas fundamentais.

Pico do Petróleo: os cenários são todos desastrosos (The Oil Drum)

Temos que começar por algum lado a promover a transição!

Pontos cruciais:
  1. substituir o transporte privado individual pelo transporte coletivo;
  2. substituir os sistemas de transporte assentes no petróleo/gasolina por sistemas de transporte elétricos e em todo o caso menos dependentes de hidrocarbonetos;
  3. apostar na ferrovia e no transporte por mar e rio;
  4. associar a desmaterialização de uma parte dos sistemas produtivos a tecnologias avançadas de telepresença e teletrabalho, com a penalização das deslocações físicas desnecessárias (desde logo acabando com os subsídios às viagens dos executivos pagos pelo erário público);
  5. promover a transição das cidades sobreaquecidas e ineficientes do ponto de vista energético (a começar pelos edifícios e instalações públicas) para cidades mais ecológicas e libertas da captura especulativa de que foram alvo pelas lógicas de especulação e pirataria capitalistas;
  6. desconstruir o subúrbio urbano, seja recuperando os centros urbanos e as cidades, seja transformando os subúrbios em unidades urbanas auto-sustentáveis (quer dizer, com atividades produtivas próprias, e reagrupamentos democráticos de governança local)
  7. retirar o Estado de onde a sua presença não é estratégica, nem essencial (no caso português, o número de funcionários públicos terá que ser reduzido para não mais do que 1% da população, ou seja, para cerca de 110 mil funcionários, em vez dos atuais 512 mil...)
O tempo para evitar uma enorme catástrofe está a esgotar-se :(