domingo, agosto 03, 2008

Portugal 37

O oráculo de Belém
Mota Amaral quis eliminar normas

3-08-2008. "Se porventura as minhas modestas propostas fossem atendidas tinha-se evitado que o processo de elaboração do Estatuto Político-Administrativo dos Açores tivesse ficado engatado, evitaria o acórdão do Tribunal Constitucional e a comunicação do Presidente da República ao País", diz Mota Amaral.

... As normas que o deputado do PSD queria eliminar eram precisamente as que Cavaco Silva contestou veementemente por restringirem os poderes presidenciais. São estas as que dizem respeito às consultas para dissolução da Assembleia Legislativa do Açores, à nomeação do representante da República e à competência para revisão do Estatuto da região. -- in Correio da Manhã.

A mansa e sedutora "livre administração dos Açores pelos açorianos" poderá transformar-se, em futuro nada longínquo, numa imparável caminhada para a exigência de referendos independentistas, tanto nos Açores como, bem entendido, na Madeira. Esta probabilidade histórica não decorre do maior ou menor patriotismo de Carlos César e dos restantes açorianos - que é certamente muito, indiscutível e inabalável -, mas de imprevistas circunstâncias que escapam para já aos protagonistas desta muito séria crise constitucional, aberta pela leviandade geral do actual parlamentarismo português, e pela esperada resposta de Cavaco Silva. Não tenho nenhuma dúvida de que o presidente da república dissolverá os parlamentos nacional e regionais se o braço de força persistir. Alguns falariam, se tal viesse a ocorrer (uma hipótese, apesar de tudo, pouco provável), de golpe de Estado constitucional a favor dum regime presidencialista. Outros, porém, saudariam a iniciativa como a única forma de estancar a actual hemorragia democrática, provocada sobretudo por uma classe política populista, corrupta e desmiolada, de que uma Assembleia da República a meio gás (1), composta na sua maioria por funcionários públicos e agentes comerciais da partidocracia vigente, é a mais indecorosa expressão.

Portugal caminha rapidamente, como há muito vem alertando Adriano Moreira (único estratega decente que faz ouvir a sua voz no país), para o estatuto de "Estado exíguo" e, digo eu, se não tiver cuidado, para uma versão europeia de "Estado falhado"!

Como qualquer caloiro de estudos internacionais dirá, não existe nenhuma razão de princípio que impeça os dois arquipélagos portugueses de exigirem, sobretudo no quadro de uma prolongada e grave crise económica e social, a sua independência (obviamente no quadro da actual União Europeia), à luz do precedente criado pela independência concedida levianamente ao arquipélago de Cabo Verde, ou mais recentemente, à luz dos processos em curso no Cosovo, no País Basco e na Bélgica. Quanto à dimensão territorial, está bom de ver que tanto os Açores (2.333 km²) como a Madeira (801 km²) são mais extensos do que Malta (316 km²), e o arquipélago açoriano pouco menor é do que o próspero Luxemburgo (2.586 km²). Por fim, numa Europa das Regiões os direitos à autonomia plena deixaram de ser tabu. A Macaronésia, por exemplo, é o anel natural dos arquipélagos de Cabo Verde, Canárias, Açores e Madeira. O anel merece mais autonomia real e agilidade política própria, mas no que toca aos territórios portugueses e espanhol, a gestão deste dossiê tem que ser seguida com pinças, seja por Lisboa, seja por Madrid. As dinâmicas adversativas congénitas às filosofias políticas ocidentais, sobretudo as da cada vez mais mentecapta "esquerda" estalinista e trotsquista, são contraproducentes e devem ser expeditamente substituídas por dinâmicas colaborativas e harmoniosas de gestão de interesses, territórios e conflitos. Não nos iludamos!

A transformação e consolidação da China na maior economia mundial, antes de 2015, prevendo-se que possa duplicar o PIB dos Estados Unidos em 2035, é uma dinâmica imparável salvo se: 1) houver um III Guerra Mundial, ou 2) se os países do Atlântico Norte e Sul forem capazes de, por um lado, garantir a supremacia económica e militar no Mare Nostrum atlântico e, por outro, mitigarem o desvio do poder global, actualmente em curso do Ocidente para o Oriente, através da imposição de um novo Tratado de Tordesilhas. No entanto, os avanços da China em Angola, na Nigéria, no Zimbábue, no Brasil, na Argentina, na Venezuela e... em Cabo Verde, revelam um atraso clamoroso da resposta europeia a tão extraordinário cenário, e deixam aos Estados Unidos, uma vez mais, a oportunidade, mas também os custos, de equilibrar o avanço chinês no Atlântico através, nomeadamente, da recente criação do AFRICOM, cujo porta-aviões principal será obviamente o arquipélago dos Açores (ler a este propósito o meu artigo Portugal, a Europa, a CPLP e o porta-aviões açoriano).

Ora bem, esta nova conjuntura coloca Portugal e a sua ZEE no centro de uma disputa estratégica sem precedentes (até as Ilhas Desertas poderão rapidamente regressar à agenda de Madrid, que considera as mesmas como devendo fazer parte do arquipélago das Canárias). O sinal dos novos tempos foi aliás dado pela célebre Cimeira das Lajes que precedeu a invasão do Iraque, e na qual a Espanha inaugurou uma viragem estratégica de 180 graus na sua política externa. Para todos os vizinhos do Atlântico, excepto Portugal, seria ideal que os Açores se libertassem da tutela de Lisboa. Lembram-se da Conferência de Berlim? As araras parlamentares nem devem saber o que isso é!

Eu percebo muito bem as insónias de Cavaco Silva, a interrupção súbita das suas férias e o ar grave da sua pose. O caso não é para menos. Bem gostaria de ouvir o que tem Mário Soares a dizer sobre esta crise. E bem gostaria que Durão Barroso desse seguimento acelerado à proposta de Adriano Moreira e Mário Soares relativamente à adesão de Cabo Verde à União Europeia!

Portugal iniciou um ciclo de expansão e autonomia nacionais em 1415, depois de uma gravíssima crise institucional que poderia ter conduzido ao esfumar puro e simples da nacionalidade. Seguindo um plano meticuloso, a inglesa Filipa de Lencastre, rainha de Portugal depois de casar com o limitado e mentireiro João de Aviz, preparou os seus filhos para a expansão marítima. Conquistada a decisiva praça de Ceuta, iniciou-se a expansão marítima, primeiro ao longo da costa africana, e depois em direcção à Ásia, à Oceania e às Américas. As marinhas militares e comerciais lusitana, castelhana, holandesa e inglesa definiriam assim, a pouco e pouco, o mapa e o estatuto da hegemonia europeia no mundo, por um período que curiosamente termina, para nós, portugueses, em 2013, ou seja no ano em que nos diluiremos de vez na União Europeia, deixando de imaginar o futuro em função de rendas ultramarinas ou dos subsídios de Bruxelas. A China, em 1436, decidira acabar com a sua pujante marinha de alto mar, para dar mais atenção aos mongóis que pressionavam a Norte do império. Foi um erro fatal, que a China imaginada por Deng Xiaoping não voltará a cometer.

As oito inconstitucionalidades declaradas pelo Tribunal Constitucional relativamente ao novo Estatuto Político-Administrativo dos Açores são clamorosas e testemunham bem o populismo eleitoralista da actual nomenclatura partidária. No leilão para as próximas eleições regionais, ninguém quis deixar-se para trás. Licitaram todos, muito alegremente, sem ler nada, nem pensar em nada, a não ser nas respectivas aritméticas eleitorais, 8 disposições que violam flagrantemente a Constituição da República. A simples possibilidade absurda de uma lei ordinária aprovada em parlamento retirar poderes constitucionais ao principal órgão de soberania do país diz tudo sobre o estado lamentável da choldra partidária em curso.

São estes os OS OITO ARTIGOS DECLARADOS INCONSTITUCIONAIS PELO TC (citação retirada do Correio da Manhã):

114.º n.º 3

O Presidente da República procede obrigatoriamente à audição do presidente da assembleia legislativa e do presidente da Região, previamente à declaração do estado de sítio ou de emergência no território da região.

46.º n.º 6

Fixa o número mínimo de 1500 cidadãos eleitores que podem subscrever uma iniciativa referendária popular, disposição que implica um juízo de mérito sobre os pressupostos da iniciativa que não decorre da Constituição.

49.º n.º 2

Atribui à competência legislativa própria da Região Autónoma 'O Regime de elaboração e organização do orçamento' da mesma Região -- que a Constituição prevê como reserva absoluta da Assembleia da República.

53.º n.º 2

A matéria dos regimes de licenciamento, no âmbito da utilização privativa dos bens do domínio público marítimo do Estado, respeita à esfera de competência legislativa própria da Região Autónoma.

61.º n.º 2

Inscreve na competência própria da Assembleia Legislativa da Região matérias que vertem sobre os direitos, liberdades e garantias dos trabalhadores, tendo por fim a sua regulação por acto legislativo regional.

63.º n.º 2

Compete à Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores competência para legislar em matéria de regulação do exercício da actividade dos órgãos de comunicação social na região.

66.º n.º 2

Define como matéria de competência legislativa própria da Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores a manutenção da ordem pública e da segurança de espaços públicos.

67.º n.º 2

Compete à Assembleia da Região a faculdade de legislar para o território regional, e em concretização do princípio da subsidiariedade, sobre matérias não enumeradas no estatuto e não reservadas aos órgãos de soberania.
Zeus é manhoso e sedutor. Esperemos que a lusitana princesa nascida em 1143 não se deixe seduzir pelo touro irresistível que ronda de novo as nossas praias.



NOTAS
  1. Mais de metade dos deputados já se baldou das funções para as quais pediram o nosso voto. Entretanto, há registo de 1500 faltas à função, algumas com justificação efectiva, mas várias outras sem nenhuma justificação plausível, ou então escoradas em atestados de médico fraudulentos! Ou seja, parte significativa dos deputados falta ao trabalho, como qualquer adolescente irresponsável e mentiroso. Não precisamos, pois, de um parlamento com mais de 150 deputados, em vez dos actuais 230, metade dos quais comprovadamente dispensáveis. Ora aqui está um bom tema para a próxima revisão constitucional!

OAM 402 3-08-2008 18:05 (última actualização: 4-08-2008 14:01)

sexta-feira, agosto 01, 2008

Petroleo 20


Uns dizem "eficiência energética", e pensam em macrobiótica; outros dizem "produtividade energética, e acreditam que o planeta pode voltar a ser azul e sexy!


Espanha: Plano Energético de Emergência

A Espanha reage à crise, com decisão e transparência. Podemos não estar de acordo com todas as medidas (biocarburantes de origem alimentar, por exemplo, são de banir imediatamente), mas que no país vizinho há governo, disso ninguém duvida. É aliás contrário do que se passa na praia lusitana, onde os irresponsáveis governamentais e as araras parlamentares desconhecem ou sub-avaliam criminosamente a actual crise do paradigma energético.

A exigência de uma Plano de Emergência Energética é algo por que venho clamando há mais de dois anos. Talvez agora, sob a influência do mano mais grande, os imbecis do Terreiro do Paço façam alguma coisa.

Las medidas del plan energético

MADRID, 29-07-2008.- En una comparecencia extraordinaria en el congreso, Miguel Sebastián ha presentado 31 medidas, en cuatro ámbitos, para reducir el consumo energético en España.

Medidas transversales
  1. Se impulsarán las empresas de servicios energéticos, garantizando su seguridad jurídica, facilitando la financiación y ejecutanto contratación pública.
  2. El Ministerio duplicará el presupuesto del Instituto para la Diversificación y Ahorro de la Energía, IDAE, para el apoyo de proyectos estratégicos de grandes empresas y grupos industriales. El IDAE dispondrá de 120 millones de euros, en vez de los 60 millones previstos anteriormente.
  3. Las empresas acreditadas energéticamente, es decir, empresas con certificado AENOR, tendrán ventaja en la contratación pública.
  4. Se firmará un convenio con el Consejo de Consumidores y Usuarios para llevar a cabo campañas de formación e información sobre los instrumentos y beneficios del ahorro energético.

Movilidad
  1. Realización de un proyecto piloto de introducción de vehículos eléctricos en colaboración con las Comunidades Autónomas y las Entidades Locales, con el objetivo de demostrar su viabilidad técnica, energética y económica.
  2. Dentro de los procedimientos de contratación pública, se establecerá un criterio de preferencia sobre los vehículos turismos de clase de eficiencia energética A.
  3. En las flotas de vehículos públicos se introducirá como requisito obligatorio mínimo el 20% de biocarburantes, avanzando al objetivo establecido del 38% en 2012.
  4. En relación a los biocarburantes se asegurará el cumplimiento del objetivo del 5,83% del consumo de combustibles para automoción en 2010.
  5. El Plan VIVE (Vehículo Innovador - Vehículo Ecológico) permitirá renovar cerca de 240.000 vehículos con más de 15 años de antigüedad.
  6. Se exigirá a los fabricantes de vehículos que informen a los consumidores sobre las emisiones y el consumo energético del vehículo a adquirir, mediante una etiqueta energética comparativa.
  7. Presentación de una propuesta para reducir los límites de velocidad en un 20% de media en el acceso a las grandes ciudades y su circunvalación y en las vías de gran capacidad. De esta forma se pretende fomentar una conducción eficiente en términos de consumo eléctrico.
  8. Se llevarán a cabo campañas para comunicar e informar a los ciudadanos sobre técnicas de conducción eficiente de vehículos.
  9. Movilidad urbana sostenible: se facilitará que los municipios puedan mejorar sus sistemas de transporte público, buscar rutas alternativas y comprar vehículos eficientes negociando con el Banco Europeo de Inversiones una línea específica de financiación.
  10. Se incorporarán criterios de eficiencia energética a la hora de determinar la aportación de la Administración Central en la financiación del transporte público de los Ayuntamientos.
  11. Se exigirá a los operadores de red de telefonía móvil garantizar la cobertura en la red de metro de todas las ciudades españolas.
  12. Se acordará con las Comunidades Autónomas y las Corporaciones Locales correspondientes la extensión del horario de apertura del metro durante los fines de semana.
  13. Se promoverá el transporte urbano en bicicleta, previo acuerdo con las Entidades Locales, apoyando la implantación de sistemas de bicicletas de uso público y carriles bici urbanos.
  14. En el caso de las ciudades de más de quinientos mil habitantes, se implantarán carriles reservados al transporte colectivo de viajeros, los denominados BUS-VAO.
  15. Planes de movilidad de trabajadores, para los centros con más de 100 empleados. Se establecerán rutas de autobuses para que puedan acceder a su lugar de trabajo sin utilizar el vehículo privado.
  16. Se optimizarán las rutas aéreas utilizando los pasillos del espacio aéreo del Ministerio de Defensa. Esta medida permitirá reducir la longitud de las rutas aéreas comerciales hasta un máximo del 10%.

Ahorro energético en edificios
  1. Limitación de la temperatura en el interior de los edificios climatizados de uso no residencial y otros espacios públicos, excuyendo algunos lugares como los hospitales. La temperatura no podrá bajar de 26º en verano, ni ser superior a los 21º grados en invierno.
  2. Financiación de las inversiones que promuevan el ahorro energético de las instalaciones.
  3. Se establecerá la obligación de que los edificios nuevos de la Administración General del Estado alcancen una alta calificación energética.

Medidas de ahorro eléctrico
  1. Se trabajará con la Comisión Europea para eliminar completamente del mercado las de bombillas de baja eficiencia.
  2. Se repartirán gratuitamente, y a través de vales regalo en la factura de la luz, una bombilla de bajo consumo por cada hogar en 2009 y otra en 2010. En total, se expenderán alrededor de 59 millones de unidades.
  3. Como complemento a la medida anterior se repartirán seis millones de bombillas de bajo consumo, mediante un programa 2x1 para la sustitución voluntaria de las bombillas incandescentes.
  4. En el caso del consumo eléctrico por parte de la Administración General del Estado, se establecerá el objetivo obligatorio de una reducción del 10% efectiva en la primera mitad de 2009 con respecto al mismo periodo del año 2008.
  5. Se mejorará la eficiencia energética en instalaciones de alumbrado público exterior.
  6. Se reducirá en un 50% el consumo energético de iluminación de autovías y autopistas.
  7. Se impulsará una norma que permita a las empresas ferroviarias urbanas e interurbanas compensar en su factura la electricidad recuperada por frenada.
  8. Para terminar, se disminuirán las pérdidas en transporte y distribución de energía eléctrica.

    En conjunto, estas 31 medidas tendrán un coste de 245 millones de euros que se repartirán a lo largo del periodo de duración del Plan y que estará financiado en su mayor parte por el IDAE. Con el impulso de estas medidas el ahorro total estimado en 2011 se situará entre las 5,8 y las 6,4 millones de toneladas equivalentes de petróleo, o lo que es lo mismo, el equivalente a un ahorro de entre 42,5 y 47 millones de barriles de petróleo. -- in El Mundo, 29-07-2008.

Última hora
Russia takes control of Turkmen gas
By M K Bhadrakumar

30-08-2008. From the details coming out of Ashgabat in Turkmenistan and Moscow over the weekend, it is apparent that the great game over Caspian energy has taken a dramatic turn. In the geopolitics of energy security, nothing like this has happened before. The United States has suffered a huge defeat in the race for Caspian gas. The question now is how much longer Washington could afford to keep Iran out of the energy market.

Gazprom, Russia's energy leviathan, signed two major agreements in Ashgabat on Friday outlining a new scheme for purchase of Turkmen gas. The first one elaborates the price formation principles that will be guiding the Russian gas purchase from Turkmenistan during the next 20-year period. The second agreement is a unique one, making Gazprom the donor for local Turkmen energy projects. In essence, the two agreements ensure that Russia will keep control over Turkmen gas exports.

The new pricing principle lays out that starting from next year, Russia has agreed to pay to Turkmenistan a base gas purchasing price that is a mix of the average wholesale price in Europe and Ukraine. In effect, as compared to the current price of US$140 per thousand cubic meters of Turkmen gas, from 2009 onward Russia will be paying $225-295 under the new formula. This works out to an additional annual payment of something like $9.4 billion to $12.4 billion. But the transition to market principles of pricing will take place within the framework of a long-term contract running up to the year 2028. -- in Asia Times.


OAM 401 31-07-2008 23:44 (última actualização: 01-08-2008 18:19)

quinta-feira, julho 31, 2008

Portugal 36



2009: visão, lucidez e coragem - precisam-se!


"In December 2005, the Government [of Sweden] appointed a commission to draw up a comprehensive programme to reduce Sweden's dependence on oil. There were several reasons for this. The price of oil affects Sweden's growth and employment. Oil still plays a major role for peace and security throughout the world. There is a great potential for Swedish raw materials as alternatives to oil. But, above all, the extensive burning of fossil fuels threatens the living conditions of future generations. Climate change is a fact which we politicians must face. Broad and long-term political efforts are needed. -- Stockholm, 28 June 2006. Göran Persson, prime-minister, Commission on Oil Independence (Wikipedia).

O bloco central do betão, a preguiçosa, incompetente e corrupta burguesia de Estado, e sobretudo a nomenclatura partidário-corporativa que temos, alimentados todos pela generosidade adolescente da democracia portuguesa, levaram o país à ruína e a sociedade de volta à emigração. Por mais incrível que pareça, em vez de prendermos duas dúzias destas prejudiciais criaturas, toleramos alegremente que andem por aí exibindo sem vergonha os sinais exteriores de uma riqueza injustificável, como se fossem senadores de uma Roma debochada no fim dos seus dias. E são!

Os dados económicos miseráveis de Portugal são sobejamente conhecidos e nada têm que ver com a crise internacional, ao contrário do que arengam os vendedores governamentais e a laia de falsos jornalistas que tudo escrevem e dizem para manter o emprego. A catastrófica crise financeira internacional (1), que é sobretudo um sinal evidente da subalternização dos Estados Unidos, do Reino, da Austrália, da Nova Zelândia e da Zona Euro -- ou seja, dos países de consumidores ineficientes, pouco produtivos e sem recursos -- face aos países que produzem e/ou têm recursos, apenas veio precipitar a falência do nosso desmiolado e corrupto modelo económico.

A China por si só é responsável por 40% do recente acréscimo anual do consumo mundial de petróleo (2), pelo que depois das Olimpíadas veremos o preço do crude a subir de novo. Os países emergentes não dependem criticamente das exportações para manterem os seus elevados ritmos de crescimento, ao contrário do que alguns foram levados a crer. As suas demografias são mais do que suficientes para garantir taxas de crescimento anuais na ordem dos 6-10%. Tem pois absoluta razão Manuela Ferreira Leite quando avisa os portugueses que um Estado falido, tal como uma família falida, ou uma pessoa falida, não pode continuar a encomendar marisco como se nada se passasse. José Sócrates anda literalmente de mão estendida por esse mundo fora, mendigando liquidez: liquidez para o BCP, liquidez para a TAP (3), liquidez para o QREN!

Não o critico por isso, mas apenas por tal personagem ser cada vez menos primeiro ministro de Portugal, e cada vez mais o boneco atarantado da conspiração de ventríloquos apostados apenas em salvar-se a si próprios, afundando, se preciso for, o país. Note-se que esta conspiração promovida pelo bloco central dos interesses apenas estará ao lado de José Sócrates enquanto ele cumprir o guião histriónico que diariamente lhe põem nas mãos. No dia em que o actual primeiro ministro pensar um minuto na figura triste que anda a fazer, e der um murro na mesa em nome das aspirações socialistas que diz defender, verá como a turma cobarde que hoje move as baterias assassinas contra a sua adversária, Manuela Ferreira Leite, se voltará também contra si, sem dó nem piedade.

E no entanto, a aposta na prestidigitação política, como se a função de um primeiro ministro se pudesse confundir com a de um mero mestre de cerimónias, ou de um vendedor de produtos tecnológicos de duvidosa qualidade, vai levá-lo à derrota certa nas próximas eleições, apesar das sondagens actuais. Na apresentação do "Magalhães" -- um computador low cost da Intel, embrulhado em Portugal --, José Sócrates até imitou o Steve Jobs -- repararam? Ao que isto chegou!

As eleições de 2009 irão ser disputadas num ambiente de crise económica e instabilidade social grave ou muito grave. Quem falar verdade, sem subterfúgios, explicando claramente a causa das coisas, terá vantagem sobre quem quer que tenha andado com fantasias, não tendo por isso tomado as medidas apropriadas para mitigar os efeitos da crise. Mas tão importante como falar verdade, olhos nos olhos com os portugueses, é demonstrar coragem e firmeza na estancagem das pressões egoístas que atrofiam o país, contrapondo ao mesmo tempo uma visão para Portugal nos próximos 10 a 20 anos, sem ceder às métricas eleitorais, nem aos inúteis jogos florais em que o nosso inútil parlamento se especializou.

O que estava previsto fazer há três, cinco ou seis anos atrás viu caducar o prazo de validade, por razões óbvias:
  1. Portugal tem uma dívida pública e privada insustentável que inviabiliza a possibilidade de continuar a endividar-se em pseudo Parcerias Público Privadas, de que os negócios da Ponte Vasco da Gama e autoestradas SCUT são exemplos tristemente célebres;
  2. O alargamento da União Europeia veio enfraquecer a generosidade dos Fundos Comunitários, pelo que nenhuma das grandes obras públicas de que tanto se tem falado pode esperar de Bruxelas um apoio mais do que simbólico para a sua execução (não havendo, por outro lado, liquidez nos mercados financeiros para aventuras keynesianas improvisadas);
  3. O petróleo barato acabou de vez;
  4. A transição do paradigma energético vai ser longa, cara e dolorosa;
  5. A crise financeira internacional, que afecta sobretudo o Ocidente, é uma crise profunda e duradoura (20 anos, pelo menos...), tendo por origem um longo ciclo de energia e créditos baratos, do qual resultaram várias bolhas especulativas (algumas delas ainda por rebentar) e um extraordinario endividamento de países tão influentes como os Estados Unidos, o Reino Unido, a Austrália e a Espanha;
  6. O mundo está, por causa desta gravíssima situação, à beira de uma III Guerra Mundial. Se tiver juízo, evitá-la-à in extremis, por meio (proponho eu) de um Novo Tratado de Tordesilhas, através do qual o globo terrestre será dividido em duas metades com fronteiras aduaneiras claras, e a criação de zonas francas especiais como a Suiça, o Médio Oriente e os mares.
  7. Finalmente, as alterações climáticas exigem acção imediata e uma mudança radical de comportamentos económicos, sociais e culturais. Ver neste desafio inadiável uma oportunidade é seguramente uma forma positiva de ver os imensos problemas pelas frente, e de mobilizar as consciências, os recursos e a acção (4).



NOTAS
  1. New York Region - Governor Calls For Session On Fiscal Crisis
    By DANNY HAKIM. Published: July 30, 2008

    Gov. David A. Paterson of New York called on the Legislature to return next month to grapple with a budget deficit that will grow to $26.2 billion over the next three years.

    ... In his speech, the governor said taxes collected on 16 of the state's largest banks fell 97 percent between June 2007 and June 2008, to $5 million from $173 million. -- The New York Times.

    Australia faces worse crisis than America

    By Ambrose Evans-Pritchard, International Business Editor
    Last Updated: 6:39pm BST 29/07/2008

    The world's financial storm has swept through Australia and New Zealand this week amid mounting signs of contagion across the Pacific region.

    Australia now faces a worse crisis than America
    Many fear the economic party in Australia will end badly

    Financial shares were pummelled in Sydney on Tuesday after investor flight forced National Australia Bank (NAB) to slash a £400m bond sale by two thirds.

    The retreat comes days after the Melbourne lender shocked the markets by announcing a 90pc write-down on its £550m holdings of US mortgage debt, an admission that it AAA-rated securities are virtually worthless.

    In New Zealand, Guardian Trust said it was suspending withdrawals from its mortgage fund owing to "liquidity difficulties in the market".

    ... Hanover Finance - the country' third biggest operator - last week froze repayments to investors. The company said its "industry model has collapsed" as the housing market goes into a nose dive. Some 23 finance companies have gone bankrupt in New Zealand over the last year.

    It is now clear that the Antipodes are tipping into a serious downturn. Australia's NAB business confidence index fell to its lowest level in seventeen years in June. New Zealand's central bank began to cut interest rates last week on fears that the economy may have contracted in the second quarter, and is now entering recession. Housing starts slumped 20pc in June to the lowest since 1986. -- Telegraph.co .

    Merrill shocks Wall Street with $8.5bn share sale
    By Stephen Foley in New York
    Tuesday, 29 July 2008

    Merrill Lynch, the investment banking giant that has lost more than $40bn (£20.1bn) on its mortgage investments since the start of the credit crisis, shocked Wall Street last night with plans to raise $8.5bn in new shares.

    As part of a sweeping financial restructuring, the company is dumping most of its remaining holdings in risky mortgage derivatives and tapping the Singapore government for an emergency $3.4bn cash infusion.

    ... A portfolio of mortgage derivatives known as collateralised debt obligations (CDOs) that Merrill had valued at $11.1bn as recently as a fortnight ago, were offloaded last night for $6.7bn. Before the credit crisis struck, that portfolio had been worth $30bn. -- The Independent.

    Cortefiel's LBO Loans Signal European Retail Defaults

    If there is any doubt European shoppers are following their U.S. counterparts into a recession, look no further than retailers' debt.

    Chain stores, led by Madrid-based Cortefiel SA and Fat Face Ltd. in London, are the worst performers among the region's 140 billion euros ($220 billion) of leveraged-buyout loans, according to Markit Group Ltd. and Standard & Poor's data. The Spanish company's 1.4 billion euros of loans are trading at less than half of face value, the lowest for a European company that hasn't defaulted, data from Frankfurt-based Dresdner Kleinwort show. -- Bloomberg.

    Sovereign funds cut exposure to weak dollar
    By Henny Sender in New York
    Published: July 16 2008 22:35 | Last updated: July 16 2008 23:24

    Some of the world’s largest sovereign wealth funds are seeking to scale back their exposure to the US dollar in a sign of global concern about the currency.

    One big sovereign fund in the Gulf has cut its dollar-denominated holdings from more than 80 per cent a year ago to less than 60 per cent, while China's State Administration of Foreign Exchange (SAFE) has been looking to strike deals with private equity firms in Europe as a part of a strategy to reduce its dollar holdings. -- Finantial Times.

    European Banks May Need EU90 Billion, Goldman Says
    By Alexis Xydias and Ambereen Choudhury

    July 4 (Bloomberg) -- European banks may need to raise as much as 90 billion euros ($141 billion) to restore their capital after the U.S. subprime mortgage collapse caused credit markets to seize up, according to Goldman Sachs Group Inc.

    ... The European banks Goldman tracks have lost $900 billion of their market value since the credit crisis began last year. Anshu Jain, head of global markets at Deutsche Bank AG, said this week that that contagion is "by no means over," and Europe's banks have lagged behind the U.S. in raising money from investors.

    ... Goldman's analysts said in their report that "access to liquidity, capital adequacy and post-crisis profitability are the key areas of near to medium-term uncertainty" for European banks.

    Global financial stocks have led declines that wiped about $11 trillion from equity markets worldwide this year. Credit-related losses, surging oil prices and rising inflation have also stoked concern policy makers will have to raise borrowing costs as the global economy slows.

    LBO Defaults May Rise as About $500 Billion Comes Due
    By Neil Unmack

    July 4 (Bloomberg) -- Leveraged-buyout loan defaults may be "significantly higher" than ratings companies' estimates as about $500 billion of debt used to fund the takeovers comes due, the Bank for International Settlements said.

    Companies bought by private-equity firms worldwide must repay the high-risk, high-yield loans and bonds by 2010, the Basel, Switzerland-based bank said in a report today, citing Fitch Ratings data. They may find it hard to raise the cash because of a slump in demand for collateralized debt obligations that pool the loans, BIS said.

  2. China's Cars, Accelerating A Global Demand for Fuel

    "In China, size matters," says Zhang, the 44-year-old founder of a media and graphic design company. "People want to have a car that shows off their status in society. No one wants to buy small." -- 27-07-2008, Washington Post.

  3. British Airways and Iberia bow to economic and strategic necessity

    THERE is nothing like high oil prices, it would seem, to free a European airline from protective national sentiment. Late last year British Airways (BA) backed away from a bid it had made with four private-equity firms for Iberia, Spain's flag carrier, after Caja Madrid, a Spanish bank with government connections, bought a large defensive stake. On Tuesday July 29th, with the price of oil up 25% and BA and Iberia shares down 25% and 37% respectively, the two firms said they were in talks about an all-share merger. Both companies’ boards support the deal, as does Caja Madrid.

    ... In July Martin Broughton, BA's chairman, said the firm faced "perhaps the biggest crisis the aviation industry has ever known". As well as soaring fuel costs, airlines are bracing themselves for weakening consumer demand. Cost savings and revenue gains from a merger will help BA and Iberia mitigate the pain. -- Economist.

    Comentário: a TAP não tem condições para sobreviver à crise petrolífera, sobretudo depois da inconclusiva viagem da José Sócrates a Luanda, de onde Fernando Pinto não conseguiu, ao que parece, nem emprego! A solução da TAP passará irremediavelmente por uma fusão com outras companhias de aviação. Falhada a hipótese de promover uma companhia intercontinental de média dimensão, com um perfil estratégico claramente atlantista, i.e envolvendo países como Portugal, Angola, Cabo Verde, Brasil e Venezuela, por exemplo, parece-me que a única direcção consistente a tomar é a de bater à porta da BA e da Ibéria. O timing para uma decisão vantajosa está rapidamente a esgotar-se. Não creio que possa ir além do próximo Inverno.

    Ler a propósito: "A TAP e as Low Cost", de Rui Rodrigues: "A única forma de dar vantagens competitivas à TAP seria através da utilização de uma base para as Low Cost fora da Portela; caso contrário, a situação económica da transportadora nacional agravar-se-á ainda mais, pois já teve um prejuízo de 123 milhões de euros, no primeiro semestre de 2008." -- Público.

  4. The case for investing in energy productivity
    McKinsey Global Institute, February 2008

    Unless there is a shift in world energy policies, global energy demand is set to accelerate, putting increasing strain on the world economy and the environment. Yet additional annual investments in energy productivity of $170 billion through 2020 could cut global energy demand growth by at least half--the equivalent of 64 million barrels of oil a day or almost one and a half times today's entire U.S. energy consumption.

    MGI research suggests that the economics of investing in energy productivity--the level of output we achieve from the energy we consume--are very attractive. With an average internal rate of return of 17 percent, such investments would generate energy savings ramping up to $900 billion annually by 2020. Energy productivity is also the most cost-effective way to reduce global emissions of greenhouse gases (GHG). Capturing the energy productivity opportunity could deliver up to half of the abatement of global GHG required to cap the long-term concentration of GHG in the atmosphere to 450--550 parts per million--a level experts say will be necessary to prevent the mean temperature from increasing by more than two degrees centigrade. Moreover, the opportunities to boost energy productivity use existing technologies that pay for themselves and therefore free up resources for investment or consumption elsewhere.

    ... The International Energy Agency (IEA) estimates that on average, an additional $1 spent on more efficient electrical equipment, appliances, and buildings avoids more than $2 in investment in ekectricity supply. As Chevron CEO David O'Reilly recently pointed out, energy efficiency is the cheapest form of new energy we have."


    Will Soaring Transport Costs Reverse Globalization?
    By Jeff Rubin and Benjamin Tal, CIBC World Markets Inc. (PDF)

    While there remains a strong imperative in the world economy to arbitrage wage costs, the arbitrage will increasingly take place within the constraints imposed by soaring transport costs. Instead of finding cheap labor half-way around the world, the key will be to find the cheapest labor force within reasonable shipping distance to your market.

    Compare, for example, how relative transport costs have recently changed between the Pacific Rim and Mexico. If in 2000 American importers paid 90% more to ship goods from East Asia to the US east coast, today they pay 150% more, and when oil prices reach $200 per barrel, they will pay three times the amount it costs to ship the same container from Mexico. To put things in perspective, today's extra shipping cost from East Asia is the equivalent of imposing a 9% tariff on East Asian goods entering the US. And at oil prices of $200, the tariff-equivalent rate will rise to 15%.


    CREATE3S

    Short-sea shipping volumes are expected to increase by 50% between 2000 and 2020. Since 40% of the current fleet is older than 25 years, short-sea shipping needs a new generation of innovative ships to meet this potential market. These ships need enhanced economic, safety and ecological performance, fitting into future innovative logistic chains and providing a major role for EU shipbuilders. -- Transport Research.


OAM 400 31-07-2008 03:40

domingo, julho 27, 2008

China 7

Pequim. Estádio Olímpico. Junho, 2008.
Foto@OAM
O Novo Século Chinês

A China duplicará o PIB dos EUA em 2050 (Albert Keidel)

09-07-2008. China's economy will surpass that of the United States by 2035 and be twice its size by midcentury, a new report by Albert Keidel concludes. China's rapid growth is driven by domestic demand--not exports--and will sustain high single-digit growth rates well into this century.

In China's Economic Rise--Fact and Fiction, Keidel examines China's likely economic trajectory and its implications for global commercial, institutional, and military leadership.

Key Conclusions:
  • Potential stumbling blocks to sustained Chinese growth--export concerns, domestic economic instability, inequality and poverty, pollution, social unrest, or even corruption and slow political reform--are unlikely to undermine China's long-term success.
  • China's financial system, rather than a shortcoming that compromises growth potential, is one of the strengths of what the report calls "China's money-making machine," in part because of its ability to support the financing of infrastructure and other public investments necessary for sustained rapid growth.
  • A Chinese economy that eclipses the U.S. by midcentury has both commercial and potential military implications. China will be the preeminent world commercial influence. China's military capabilities are a small fraction of the United States' today, so there is time to prepare for a very different world in fifty years, says the report.
  • American policy makers should take this opportunity to enact wide-ranging domestic reforms and rethink their concepts of global order.

"China's economic performance clearly is no flash in the pan. Its growth this decade has averaged more than 10 percent a year and is still going strong in the first half of 2008. Because its success in recent decades has not been export-led but driven by domestic demand, its rapid growth can continue well into the twenty-first century, unfettered by world market limitation. China's likely continued success will eventually bring an end to America's global economic preeminence, requiring strategic reassessment by all major economies--especially the United States, the European Union, Japan, and even China itself."

-- Carnegie Endowment for International Peace, Washington DC -- FORA.tv .


Cabo Verde será sede de la Zona Económica Especial de China en África


22-07-2008. El primer ministro de Cabo Verde, José Maria Neves, anunció, en una reunión con empresarios locales, la existencia de negociaciones con el Gobierno de China para convertir la isla caboverdiana de São Vicente en sede de la Zona Económica Especial de China en África.

Según José Maria Neves, los dos gobiernos están discutiendo la reestructuración de los astilleros de la empresa privada Cabnave para que sirvan de base para apoyar la enorme flota marítima de China en sus actuaciones con África. -- Afrol News.

O relatório do economista e alto funcionário com larga experiência asiática, Albert Keidel, apresentado pelo próprio e discutido num seminário organizado pelo Carnegie Endowment for International Peace, parece-me de uma extrema importância para se perceber como a política imperial norte-americana irá começar a mudar de forma muito significativa após a eleição de Barak Obama.

Em vésperas da abertura dos Jogos Olímpicos de Pequim, com um candidato presidencial que promete salvar o país da bancarrota, do medo paranóico artificialmente estimulado e do isolacionismo sem precedentes em que caiu, os Estados Unidos (e a Europa), estão finalmente a perceber três coisas fundamentais:
  1. que a actual crise financeira mundial atinge e atingirá ainda mais profundamente, até 2010-2012, os Estados Unidos, o Japão, a Europa e os países especialmente dependentes de recursos energéticos, alimentares e financeiros;
  2. que o estouro das bolhas imobiliárias e o buraco negro do endividamento infinito criado pela especulação dos mercados financeiros virtuais (Derivatives, Forex, LBO, etc.) afectarão menos substancialmente a China do que os seus concorrentes; pelo que a China manterá o seu PIB a crescer na casa dos 9%, enquanto a Europa e os Estados Unidos dificilmente voltarão, ao longo de presente década, aos 3-3,5% a que se habituaram;
  3. que o corolário desta conjuntura catastrófica será a ultrapassagem dos Estados Unidos e da União Europeia pela China, mais cedo do que se previa.
Entre as advertências da comunicação de Albert Keidel, disponibilizada online pela FORA.tv, e que vale a pena ouvir com atenção (assim como a discussão que se lhe segue), traduzo alguns pontos acima citados.
  • Os factores potencialmente impeditivos de um crescimento sustentado da China -- quebra do volume de exportações, instabilidade económica interna, desigualdade e pobreza, poluição, agitação social, ou até a corrupção e a lentidão das reformas políticas do sistema -- dificilmente porão em causa o sucesso chinês a longo prazo.
  • O sistema financeiro chinês é, segundo Albert Keidel, uma verdadeira "máquina de fazer dinheiro", em parte devido à sua capacidade de financiar as infraestruturas e outros investimentos públicos necessários a um crescimento rápido e sustentado do país.
  • Uma economia capaz de eclipsar os E.U.A. em meados deste século terá implicações nos planos comercial e militar. A China passará a ter uma influência decisiva no comércio mundial, e embora a sua capacidade militar seja hoje uma pequena fracção do potencial bélico dos E.U.A., haverá tempo e recursos de sobra para alterar uma tal desvantagem nos próximos 50 anos (1).
  • Os responsáveis pela política americana deveriam aproveitar esta oportunidade para desencadear profundas reformas internas e repensar os seus conceitos de 'ordem global'.
A insegurança resultante das guerras e tensões que atingem o Médio Oriente, se não for encontrada rapidamente uma forma de transformar aquela zona do globo numa espécie de Suiça do petróleo, neutral, politicamente autónoma e em paz, transformará o Atlântico numa nova zona de disputa global. É por isso que a corrida económica, política e militar em direcção a este novo Mare Nostrum já começou, e com paradas muito fortes. Dois sinais evidentes: a criação em 2007 do novo United States African Command (AFRICOM), e o anúncio este mês da criação pela China da sua Zona Económica Especial de África, com provável sede na cidade do Mindelo, ilha de São Vicente, Cabo Verde.

Como é evidente, o papel de países como o Brasil, Venezuela, Angola e Portugal (na qualidade de país especialista da área e membro da União Europeia), será crucial nas disputas que se avizinham. Se olharmos para aquela região marítima, percebemos imediatamente que há dois grandes porta-aviões naturais ali residentes, de uma importância estratégica decisiva: um é o arquipélago dos Açores, o outro é o arquipélago de Cabo Verde. Igualmente importantes, mas não decisivos, são ainda os arquipélagos das Canárias e da Madeira (de que fazem parte as famosas Ilhas Selvagens.) A Europa perdeu demasiado tempo relativamente a Cabo Verde, atrasando-se na sua natural inclusão na União Europeia -- como tem vindo a propor insistentemente Adriano Moreira, por razões obviamente históricas. No que toca aos Açores, temos que explicar aos cronistas ao serviço de Washington que os Açores se tornaram demasiado importantes para continuarem livremente ao dispor do Pentágono e da CIA.

O lógico é que os aeroportos e portos dos Açores possam servir os interesses da aliança atlântica, mas primeiro esta terá que ser reequilibrada à luz da nova repartição do mundo em curso. A China poderá cumprir o seu sonho, mesmo vendo ir por água abaixo o valor dos biliões de dólares acumulados (que por sinal chegam para comprar a General Motors e centenas de outras empresas americanas); poderá continuar a crescer apesar de uma quebra das suas exportações para os Estados Unidos e para a Europa; só não poderá superar o Ocidente se lhe forem cortados os acessos marítimos ao Golfo Pérsico e ao Atlântico: Estreito de Malaca, Estreito de Ormuz, Porto de Aden, Cabo da Boa Esperança, Canal do Panamá, Estreito de Magalhães ou a prometida Passagem do Noroeste. Se estes pontos de passagem obrigatória algum dia forem bloqueados, a China deixará de ter petróleo e muitas outras matérias primas essenciais ao seu crescimento, como deixará também de ter acesso aos produtos alimentares que hoje adquire sob contrato a países africanos e americanos e de que tanto necessitará para responder ao seu previsto crescimento demográfico. O cenário é improvável, mas adivinham-se as tensões.

As cartas estão pois lançadas, e Portugal vai ter outra vez muito que fazer!



NOTAS
  1. Este relatório --China's Economic Rise--Fact and Fiction--, em linha aliás com outras previsões, aponta para a possibilidade efectiva de a China ultrapassar o potencial militar dos Estados Unidos entre 2023 e 2024. Não se consegue, porém, prever qual será o padrão dessa superioridade. Sabe-se apenas que os recursos financeiros, tecnológicos e humanos existem e continuarão a crescer mais depressa do que em qualquer outra parte do planeta. Na China formam-se anualmente 4 vezes mais licenciados do que nos EUA. Por outro lado, os sérios problemas ambientais e de recursos naturais da China, parecem estar a fazer germinar uma verdadeira "economia do conhecimento" naquele país. Uma denominação alternativa, mas igualmente sugestiva para esta mutação genética da ideologia do crescimento e do progresso, é "scientific development".


OAM 399 27-07-2008 20:20

sexta-feira, julho 25, 2008

Madeleine McCann 4

Allgarve Killer Site

Quem cometeu o crime? E que crime?

A reconstituição da noite em que Maddy sumiu foi boicotada. Porquê?


Depois das mortes de Diana Spencer e do microbiologista David Kelly, este é o exemplo mais sórdido de aparente e inexplicável intromissão política em casos de polícia (ainda que os dois primeiros, com óbvias origens políticas). O livro escrito por Gonçalo Amaral, inspector saneado da investigação sobre o desaparecimento de Madeleine McCann, e que viria a abandonar a sua carreira profissional, para poder procurar a verdade que alguns querem sepultar sob o manto de uma fantasia construída por profissionais de propaganda, é inconclusivo. Todavia, pela indecorosa interferência de que foi alvo todo o processo policial até ao seu vergonhoso arquivamento, este é um livro de leitura obrigatória e merece que o compremos. Quanto mais não seja, para que o mistério não caia no esquecimento pretendido pelos teóricos do ataque pedófilo à Praia da Luz.
Ex-inspetor do caso Madeleine acusa os McCann em livro

Em um relato pormenorizado dos fatos e da investigação policial ao longo de 216 páginas e 8 folhas de anexos, Amaral diz que a menina morreu ao cair acidentalmente de um sofá do apartamento onde estava de férias com seus pais, imóvel no qual foram detectados vestígios de seu sangue e marcas de seu cadáver.

(...) Ao longo de seu relato, Amaral descreve a frieza e muitos detalhes aparentemente comprometedores que mostraram os pais durante a investigação, assim como as contradições entre seus testemunhos e os de seus amigos na noite do episódio.

Inclusive assegura que outro casal de médicos britânicos de seu mesmo circulo informou à Polícia britânica de um comportamento estranho, durante férias em Mallorca, do pai de Madeleine e de seu amigo David Payne em relação a Madeleine e de outra menina.

Payne, que segundo Amaral organizou também as férias do grupo no Algarve, e Jane Tanner, cujo testemunho de ter visto o suposto raptor de Madeleine considera falso, aparecem no livro como os amigos mais suspeitos dos McCann. -- Globo.com .

Madeleine: Declarações de Gonçalo Amaral merecem "reflexão", diz António Cluny

Gonçalo Amaral recusou adiantar mais pormenores sobre uma questão que levanta no livro, segundo a qual o seu afastamento da liderança operacional do inquérito teria sido moeda de troca para o Reino Unido assinar o Tratado de Lisboa, coincidindo na data a demissão do polícia e o anúncio da aceitação do documento por parte do Governo inglês. -- FC/AMN. Lusa.

Eu já tinha escrito sobre isto mesmo! Mas falta provar, claro. Seja como for, o importante é que o caso se mantenha aberto, depois de o incapaz Ministério Público que temos o ter encerrado, por manifesta falta de provas e sobretudo de tino. É essa a vontade, certamente, de Alex Woolfall, do Bell Portinger Group, de Sheree Dodd, Clarence Mitchell e John Buck, bem como, evidentemente, dos pais de Maddy. Eu sugiro mesmo que se abra uma conta nacional para apoiar o ex-inspector no seu esforço de investigação, agora privada, deste tenebroso crime. A conta dos McCann continua aberta!

PS: há uma coisa de que o Sr. Mitchell e mais alguns ingleses da mesma laia têm que começar a perceber: as ameaças só são credíveis quando têm origem em impérios que mandam, não quando escorregam languidamente de um bordel decadente e desdentado.

OAM 398 24-07-2008 23:52
<

segunda-feira, julho 21, 2008

Escolarizar 2

Ainda a polémica Matemática

Recebi este email do Professor António Brotas, que transcrevo e comento.
A educação e os críticos

O Problema da Educação em Portugal não está só nos erros e insuficiências de quem governa, mas também na quase absoluta falta de propostas (e muitas vezes ignorância) dos seus habituais e quase direi encartados críticos.

Tomemos o exemplo do crescimento anómalo este ano das notas de Matemática do Secundário, em que o Ministério quis ver o resultado das medidas que recentemente tomou para melhorar o ensino da disciplina. Um senhor permitiu-se mesmo aparecer na Televisão a dizer que os pontos tinham sido elaborados segundo critérios científicos. Contra esta risível opinião a Doutora Filomena Mónica emitiu uma violentíssima critica largamente referida na Comunicação Social, em que afirmou que para melhorar o ensino da Matemática era necessário formar professores e melhorar o ambiente das escolas.

FM teve certamente razão no que disse, mas ignorou que temos actualmente (e sempre tivemos) muitos professores capazes de ensinar bem Matemática. O problema da melhoria do nosso ensino da Matemática não é, assim, um problema a resolver a prazo. É, fundamentalmente, o problema de sermos capazes de utilizar os nossos melhores professores (do Secundário e do Superior) para definirem os programas, elaborarem os pontos, reciclarem os maus professores e, naturalmente, formarem científica e pedagogicamente os professores do futuro.

Tivemos, no início dos anos 70, uma excepcional experiência em termos europeus de ensino da Matemática: a das turmas experimentais do 11º ano orientada pelo Professor Sebastião e Silva (1), que, infelizmente, morreu pouco depois e não pôde dar continuidade a este seu trabalho, que deveria ter influenciado todo o ensino português. Da experiência dos anos 70 ficou um Compêndio policopiado que, depois do 25 de Abril, o Gabinete de Estudos e Planeamento do Ministério editou em livro, em tiragem de 20.000 exemplares, conjuntamente com um Guia para os professores. Estes livros não se encontram hoje à venda em parte alguma.

O Ministério daria um imediato e grande contributo para o ensino da Matemática se reeditasse este Guia de autoria do Professor Sebastião e Silva e o fizesse distribuir a todos os professores do Secundário. Muito em particular, podem nele encontrar conselhos muito úteis e oportunos sobre o tipo de perguntas que se devem fazer nos exames. (13/07/08)

António Brotas
Antigo Director do GEP do Ministério da Educação e Professor Jubilado do IST
Militante do PS

COMENTÁRIO

Caro Professor António Brotas,

A sua recomendação é seguramente importante. Subscrevo-a inteiramente e divulgo a sua mensagem, como pediu. Se o compêndio de Sebastião e Silva existe nalguma cave do Ministério da Educação, que o encontrem e ponham à disposição dos críticos e pedagogos!

Deixo porém e a propósito quatro observações em contra-corrente dos professores ofendidos.

Creio, como já escrevi, que há quatro problemas distintos na polémica em torno da "extrema facilidade dos exames de Matemática":

1) A necessidade político-institucional de melhorar as estatísticas nacionais em matéria de resultados escolares e grau de instrução dos portugueses, a qual justifica plenamente que os exames sejam ajustados à proficiência média expectável dos examinandos, e não provas de obstáculos potencialmente assassinas;

2) A necessidade de alterar a filosofia dos exames, os quais não passavam, e creio que não passam ainda de instrumentos de autoridade, de filtros políticos da hierarquização social, ou ainda, de intoleráveis persistências territoriais corporativas.

3) A necessidade de distinguir entre a eficiência dos sistemas pedagógicos -- na transmissão de conhecimentos, especialização e treino da memória e desenvolvimento das faculdades cognitivas -- e a abertura de vias para a selectividade intelectual e técnica por objectivos. São dois problemas distintos que merecem tratamentos separados.

4) O "darwinismo" pedagógico é tão falso e ilusório como a teoria geral de onde provem; precisamos, isso sim, de uma ideia de educação mais abrangente, menos formal e mais simbiótica, onde as escolas, mas também as famílias e as empresas joguem de novo o seu papel histórico imprescindível.

Não estou, como vê, totalmente em desacordo com a ministra socialista da educação.

Um abraço, OAM.



NOTAS
  1. Graças à sempre atenta e qualificada leitura da Maria de Fátima Biscaia recebi uma referência muito oportuna de um estudo sobre a obra pedagógica de José Sebastião e Silva -- O pensamento pedagógico de José Sebastião e Silva - uma primeira abordagem -- de que transcrevo as seguintes palavras do importante matemático português:
    "O que é preciso é não confundir cultura com erudição e sobretudo com o enciclopedismo desconexo, imensa manta de retalhos mal cerzidos, que vão desde as guerras púnicas até ao sistema nervoso da mosca. É esse, a bem dizer, o tipo de cultura que tende a produzir o ensino tradicional, baseado num sistema de exames que só permite apreciar memorizações e automatismos superficiais, mais ou menos próximos do psitacismo."

    "(...) a educação, na era científica, não pode continuar, de modo nenhum, a ser feita segundo os moldes do passado. Em todas as escolas o ensino das ciências tem que ser intensificado e remodelado desde as suas bases, não só quanto a programas mas ainda quanto a métodos. Uma vez quer a máquina vem substituir o homem progressivamente em trabalhos de rotina, não compete à escola produzir homens-máquinas mas, pelo contrário, formar seres pensantes, dotados de imaginação criadora e de capacidade de adaptação em grau cada vez mais elevado.

    "O que se pretende acima de tudo é levar o aluno a compreender o porquê dos processos matemáticos, em vez de lhe paralisar o espírito, automatizando-o desde logo. (...) No ensino tradicional o aluno é tratado, precisamente, como se fosse uma máquina, enquanto no ensino moderno se procura, por todos os meios, levá-lo a reflectir e a reencontrar por si as ideias fundamentais que estão na base da Matemática."


OAM 397 21-07-2008 00:29 (última actualização: 24-07-2008 00:23)

sábado, julho 19, 2008

Portugal 35

Portugal, a Europa, a CPLP e o porta-aviões açoriano

Ocorra o que ocorrer, teremos que nos acomodar ao New Chinese Century


Há dois factos que não me saem da cabeça: um são os mapas de acessos a este blogue, invariavelmente distribuídos, ao longo dos últimos quatro anos, entre Portugal e o Brasil, verificando-se uma ainda fraca sensibilidade das antigas colónias portuguesas africanas a qualquer referência aqui feita; o outro é a facilidade com que ucranianos, russos e moldavos aprendem a língua portuguesa, ao ponto de em dois ou três anos falarem o nosso idioma melhor que muitos de nós e sem pronúncias estranhas, uma proeza difícil de alcançar pelos vizinhos espanhóis! Mas o facto de o Sitemeter raramente assinalar acessos de Espanha ao António Maria, ou então registar quotas na ordem dos 1%-2%, em grande medida da responsabilidade da minha filha, que vive em Madrid, deixa-me estarrecido!

Estes dois factos algo insólitos fizeram entretanto faísca depois de ler duas crónicas do Expresso desta semana.

Numa delas, Luísa Meireles chama a atenção para a atracção que a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), exerce, não apenas e naturalmente sobre a Galiza, que é hoje uma comunidade autónoma da Espanha (e amanhã, quem sabe, um novo estado europeu independente), mas ainda sobre países que nem sequer falam o idioma de Pessoa: Marrocos, Ilhas Maurício, Guiné Equatorial, Ucrânia e Croácia! Por outro lado, a expansão do português brasileiro na América do Sul é crescente, especialmente no Uruguai, Argentina, Paraguai, Bolívia e Venezuela.

Na segunda crónica, assinada pelo pró-Yank Miguel Monjardino, transmite-se um recado: os americanos têm pressa na renovação do Acordo das Lajes, para lá colocar os F-22 Raptor e dar apoio firme à sua nova força de intervenção estratégica na África Ocidental, baptizada de Africom. Africom ou África Dot Com?

Para pressionar um bocadinho mais José Sócrates, o dito açoriano acrítico lá vai sugerindo que o socialista Carlos César, actual governador do arquipélago, também tem pressa e quer oferecer (ilusórias) boas-novas eleitorais em Outubro. Em suma, tudo muito bem engendrado e muito conveniente para todas as partes menos uma: Portugal!

O pensamento europeu mais lúcido defende há muito uma rápida diminuição da dependência estratégica europeia face aos Estados Unidos, e uma maior atenção ao potencial protagonismo da União Europeia como força de interposição estratégica global e veículo democrático de harmonização diplomática à escala mundial. Os Estados Unidos são claramente um império em declínio. E como todos os impérios declinantes, sofre a tentação do disparate bélico sem limites, desconhecendo que tais aventuras apenas apressam o indesejado declive.

Os sucessivos fiascos das guerras, invasões e ocupações do Afeganistão e do Iraque são a este título bem ilustrativos. Bush -- sobre quem o congressista democrata Dennis Kucinich desencadeou um processo de cassação de mandato (1) -- não ganhou nenhuma das guerras, levou o seu país à falência e está neste preciso momento a recuar atabalhoadamente do Médio Oriente, deixando a imprensa americana que o apoiou sem palavras. No fundo, a decisão vem de baixo, isto é, das empresas privadas a quem o clã Bush e o coiote Cheney encomendaram a guerra, em regime de bloody catering. Estas empresas privadas, que formam o vasto e complexo conglomerado bélico americano, aperceberam-se que o tsunami financeiro em curso se abaterá sobre elas sem piedade se não largarem o osso quanto antes. É o que estão a fazer! Daí as inesperadas e surpreendentes declarações do presidente americano. O maior fiasco americano desde a Guerra do Vietname chegou ao fim. Alguém que pague a factura! Estamos a pagar!!

As vantagens entretanto ganhas por países como a China, a Rússia e o Irão, ao oporem-se à tentativa americana de manter a todo o custo uma supremacia económica apoiada na sua evidente supremacia militar, são mais do que evidentes. O potencial produtivo do Ocidente, sobretudo o americano, emigrou para o Oriente. Depois emigraram o ouro e boa parte da liquidez mundial. Como se isso não bastasse, a China criou em 2001 uma resposta credível (cada vez mais credível) à NATO, chamada Shanghai Cooperation Organization (CSO), da qual fazem parte a China, a Rússia, o Casaquistão, o Quirguistão, o Tajaquistão e o Usbequistão. Entre os países observadores contam-se, o Irão, o Paquistão, a Índia e a Mongólia. E são ainda convidados a Commoenwealth of Independent States (CIS), a Association of Southeast Asian Nations (ASEAN) e o Afeganistão. Ou seja, nada mais nada menos do que a metade oriental do mundo, a que falta tão só aderir o Japão, compreensivelmente receoso dos efeitos que a supremacia estratégica da China terá sobre os seus próprios graus de liberdade.

Os estados petrolíferos do Médio Oriente beneficiam obviamente do crescente e subtil protagonismo do chinês adormecido que agora desperta como obstáculo intransponível para quem, como americanos e ingleses, usufruiu de uma clara hegemonia nos direitos de acesso e exploração do petróleo ao longo de todo o século 20, e aparentemente persiste na ideia de prolongar, apesar de falido, os seus hábitos e arrogância imperiais.

A China e a Rússia (que a Europa dominada pelos piratas londrinos tão mal tratou desde a queda do Muro de Berlim) têm hoje dinheiro suficiente para comprar um novo Tratado de Tordesilhas, baseado numa neutralidade mutuamente assegurada aos principais países produtores de petróleo e na determinação dos meridianos que voltarão a dividir o planeta em duas grandes zonas económicas e culturais política e militarmente protegidas.

A alternativa credível a este cenário teria sido uma confrontação militar preventiva com carácter devastador. Foi essa a intuição dos trotskystas degenerados que teorizaram a aventura fracassada do chamado New American Century. O preço a pagar por tamanha ousadia foi o colapso financeiro do Ocidente (e do Japão) a que estamos assistindo incrédulos e assustados.

O previsto ataque israelita ao Irão (que Condoleeza Rice provavelmente meteu na gaveta, a conselho de algum sábio) não mudaria nada, a não ser acelerar vertiginosamente a queda do Império Capitalista do Ocidente. Ocorra o que ocorrer, teremos que nos acomodar ao New Chinese Century.

Nesta circunstância cada vez mais óbvia não faz nenhum sentido continuar a alimentar os sonhos de grandeza da América! Europeus e americanos terão que se acomodar e colaborar na gestão inteligente e humilde do seu "novo" mundo -- começando por regressar aos bons hábitos do trabalho, responsabilidade e ética.

Apesar de Barak Obama poder vir a ser o primeiro presidente mestiço dos Estados Unidos da América, a verdade é que as ligações privilegiadas com África tem-nas sobretudo a Europa, e em particular este cantinho à beira-mar plantado chamado Portugal. O Atlântico do nosso imediato futuro não pode ser transformado numa nova presa apetecível dos Estados Unidos. É esta a mensagem que um pequeno país, na sua missão de honest broker, deve transmitir. Não foi isto mesmo que Marrocos ou a Ucrânia entenderam ao ler os astros? O Mare Nostrum Atlântico terá que ser forçosamente um lugar de cooperação e contrapeso à Nova Ásia, onde a América (toda a América!), a Europa, de Lisboa aos Urais (se não até Vladivostoque) e a África, do Mediterrâneo até à Cidade do Cabo, possam estabelecer um lugar de partilha e não mais um teatro de rapina e humilhação. Chega de vampirismo!

É por tudo isto, que Portugal deverá dizer claramente a Washington que é à Europa que compete, em primeira linha, usar o potencial estratégico dos Açores, nomeadamente no enquadramento duma NATO renovada e menos agressiva. Havendo, porém, nove ilhas (todas com aeroporto ;-) não faltarão oportunidades para renegociar de forma ponderada a presença americana nas Lajes. Até porque um dia talvez faça sentido convidar o Brasil, Angola e a Rússia a disporem de facilidades logísticas em tão estratégico porta-aviões. Então, quando esse dia chegar, será uma verdadeira lotaria para o governador de turno de tão belo e aprazível arquipélago.


ÚLTIMA HORA
Equador notifica EUA para deixar Base Militar de Manta até Novembro

Quito, 30 Jul (Lusa) - O governo do Equador notificou oficialmente os Estados Unidos de que devem desalojar a Base Militar de Manta até Novembro, revelou terça-feira o Ministério dos Negócios Estrangeiros em Quito. -- MF./Lusa.
Iraque: Primeiro-ministro defende retirada militar norte-americana em 16 meses

Berlim, Sábado, 19 de Julho de 2008 23H58m (RTP/Lusa) - O primeiro-ministro iraquiano, Nouri al-Maliki, afirmou a um jornal alemão que apoia o plano do candidato democrata Barack Obama para a retirada militar norte-americana em 16 meses.

"Julgamos que é um calendário acertado para a retirada das tropas de combate norte-americanas do Iraque, sob reserva de algumas mudanças", afirma Maliki em entrevista ao semanário Der Spiegel, cuja edição estará segunda-feira nas bancas.

As forças norte-americanas deverão deixar o Iraque "tão rápido quanto possível", acrescentou Maliki

Colômbia adere a Conselho de Defesa Sul-americano


BBC Brasil. 19 de julho, 2008 - 21h34 GMT (18h34 Brasília)

O presidente da Colômbia, Álvaro Uribe, disse neste sábado, após reunião com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que aceita ingressar no Conselho de Defesa Sul-americano.
Uribe disse que suas "dúvidas" foram esclarecidas após o encontro com Lula e um telefonema à presidente chilena, Michele Bachelet, que atualmente preside a União de Nações Sul-americana (Unasul).

Ultimatum de Washington ao Irão

WASHINGTON (Reuters) - Depois das conversas inconclusivas com o Irã, os Estados Unidos disseram no sábado que Teerã terá de escolher entre cooperação ou conflito. Washington acrescentou que as negociações só poderão começar se parte significativa do trabalho nuclear iraniano for suspenso. -- UOL, 19-07-2008 17:14




NOTAS
  1. US Congressional Panel Hears Testimony on Case for Bush Impeachment

    25-07-2008. A congressional committee has heard testimony about the case for impeachment of President Bush. VOA's Dan Robinson reports, while majority Democrats have ruled out formal impeachment efforts, they approved the public hearing to examine limitations on presidential powers and arguments about what constitute impeachable offenses.

    Critics say President Bush and Vice President Cheney should be impeached because of a range of alleged legal and constitutional abuses.

    The list includes administration justifications to Congress and Americans for the war in Iraq, authorization of secret electronic surveillance, approval of harsh interrogation techniques, and defiance of congressional subpoenas. -- Voice of America.

OAM 396 19-07-2008 19:27 (última actualização: 30-07-2008 11:53)