quarta-feira, setembro 10, 2008

2008 Semana 37

Excitações da semana
8-14 setembro

Crise financeira e colapso da aviação comercial, dois efeitos previsíveis do pico petrolífero.

14-09-2009. Enquanto o furacão Ike deixa Houston, a quarta maior cidade dos Estados Unidos, sem água, sem electricidade e sob recolher obrigatório, para evitar pilhagens (City of Houston eGovernment Center), os maiores bancos e institutos financeiras americanos estão a tombar um a um, ou melhor, dois a dois! O sinal de alarme foi dado, há alguns meses atrás, pela falência do Bear Stearns. Em Setembro, começaram a cair aos pares: primeiro, Fanny Mae e Freddy Mac, hoje, domingo, Lehman Brothers e Merrill Lynch. A seguir quem virá? Goldman Sachs e J.P.Morgan?! Não, se tal acontecer será o colapso da América. E antes que isso aconteça, se o mercado de derivados implodir, alguém começará a III Guerra Mundial. Para a desencadear, as apostas dividem-se entre uma nova provocação na Geórgia e o bloqueio do Estreito de Ormuz seguido de um ataque israelita às instalações nucleares do Irão.

Mas não são só o casino das hipotecas suicidas e o monstro dos chamados mercados derivativos, que estão a rebentar à escala planetária, com epicentro em Wall Street. A Boeing está em greve, cinicamente provocada pela respectiva administração, para justificar a paragem da construção e das entregas do novo Boeing 787 Dreamliner, cujas encomendas vão abrandar face ao panorama catastrófico da aviação comercial internacional. Deixaram de voar, só no último ano, cerca de 30 companhias, mas prevê-se que outras tantas irão abrir falência antes do Natal! A Alitalia está a dar as últimas e a terceira maior companhia aérea especializada em pacotes de férias, a britânica XL, deixou hoje apeados 85 mil passageiros em vários pontos do planeta. Os acidentes da Spannair, onde parece ter sobrado negligência na área de manutenção, só vem reforçar a ideia que o transporte aéreo não pode estar sujeito a stress económico continuado. Pressões económicas prolongadas sobre um negócio tão sensível como este pode rapidamente redundar numa crise de confiança de proporções inimagináveis.

Já em 2006, a propósito dos delírios Otários do governo Sócrates, aqui se chamou abundantemente a atenção para as mudanças radicais que a combinação das crises energética, climática e alimentar, mais a rebentação inevitável do casino corrupto da economia global e das suas sucessivas e insaciáveis bolhas especulativas, iria trazer a este planeta limitado. A soberba dos políticos, porém, não permite ver nada, nem sequer um icebergue fatal, por maior que ele seja. Preferem, em toda a parte, os jogos florais, como se o dinheiro que não ganham, mas recebem, viesse de um bolso metafísico e sem fundo!

Venezuela: triângulações lusitanas

13-09-2008. Hugo Chávez, muito irritado com a actual administração norte-americana, por causa das novas conspirações que andará a promover na América Latina, num tumultuoso comício televisivo, resolveu fazer algumas variações retóricas do célebre sound bite do rei espanhol -- "Porqué no te callas!" O novo refrão, dirigido desta vez aos EUA, é este: «Vayanse al carajo yankees de mierda, que aquí hay un pueblo digno». Vejam e ouçam que vale a pena.

Entretanto...
Portugal assina nove acordos de cooperação na Venezuela

13-09-2008. Portugal e a Venezuela assinaram hoje nove novos acordos de cooperação bilateral que vão permitir a ambos países avançar com projectos nos sectores eléctrico, agro-alimentar e habitação. -- Expresso online.
Dois dias depois de Hugo Chávez dar ordem de expulsão ao embaixador americano na Venezuela, na sequência da expulsão do embaixador americano na Bolívia, responsabilizado por Evo Morales pela situação de pré-guerra civil existente naquele país andino, Manuel Pinho não mexeu um milímetro na sua agenda diplomática. Nove acordos comerciais, em troca de petróleo, já parecem cantar nas carteiras de encomendas de uma vintena de empresas portuguesas. A isto chama-se pragmatismo. Não posso estar mais de acordo com este tipo de triangulações. Por isso, a questão açoriana se tornou subitamente tão sensível!

Carlos César polemiza com Cavaco, enquanto Sócrates assobia para o ar
12-09-2008. “O PS apresentou na Assembleia da República uma série de propostas que entende que melhora esse instituto de audição no âmbito da revisão do estatuto político administrativo, se o Sr. Presidente da República entender vetar politicamente o diploma o PS sabe muito bem o que há-de fazer. Nós não entendemos muito bem que órgãos de soberania exerçam chantagem entre si, o PS não fará chantagem com o Sr. Presidente da República.” -- Carlos César, Presidente do Governo Regional dos Açores.
O termo "chantagem" serve, na realidade, para os dois lados. O problema de fundo é outro: pode ou não uma lei ordinária alterar o espírito e a letra da Constituição da República? Claro que não! Portanto, para além da questão política -- quais são afinal os limites da autonomia regional --, sobra uma questão formal que não deve, não pode, ser espezinhada, como se a democracia fosse uma mero adorno de conveniência.

Além do mais, Carlos César falou do que não devia no preciso momento em que a questão do estatuto autonómico dos Açores seguia a sua tramitação normal. Falou, sem consultar os ministros da república responsáveis pelos negócios estrangeiros e pela defesa do país, da sua vontade de satisfazer os desejos expansionistas dos Estados Unidos, como se a ampliação estratégica de um acordo de utilização de bases aéreas em território nacional por parte de um país estrangeiro fosse um mero problema de oportunidade económica.

O PS que se ponha a pau, e o resto do país também. Vêm aí tensões sobre a identidade e a dimensão territorial da soberania portuguesa. Quando forem melhor percebidas pela população, darão origem a um monumental coice nacionalista, para o qual, diga-se desde já, Cavaco Silva parece estar a preparar-se.

Associação de Cidadãos do Porto
12-09-2008. A Reunião para a Criação da Associação de Cidadãos do Porto irá realizar-se dia 12 de Setembro, às 21.30h, no Clube Literário do Porto.Sessão aberta a todos os interessados. Para mais informações contacte porto.agora@gmail.com

Nota: O Clube Literário do Porto situa-se na Rua Nova da Alfândega, n.22

Para referência, este é o post de proposta de criação:

Visto o estado de ruptura com o poder central, os exemplos diários de desprezo para com a cidade do Porto e a Região Norte, o servilismo e oportunismo das distritais dos partidos, proponho o primeiro passo para a constituição de uma associação de cidadãos, organizada, que tenha como propósito a defesa dos interesses colectivos da nossa área metropolitana, a discussão e apresentação de propostas e de acção concertada. Iniciativas como esta necessitam de encontros de carácter informal, onde os interessados se conhecerão e se ajustarão ideias, objectivos e projectos. - Alexandre Ferreira

Comentário: esta iniciativa era esperada! Não creio, porém, que o Norte (refiro-me sobretudo ao eixo litoral, que logo arrastará o resto do país entre o Mondego, o Minho e o Douro Internacional) possa defender os seus interesses convenientemente sem criar um partido claramente regionalista, minoritário talvez, mas forte e com ideias claras. Creio também que nada teremos a ganhar com a pulverização (de facto, possível) de Portugal. Os grandes países europeus e os EUA estariam certamente interessados, assim como Madrid! Mas seria mau para todos os portugueses, de Faro a Caminha, de Trancoso ao Corvo. O Norte está mais dentro de Lisboa do que se pensa! Eu costumo dizer que a Galiza, ou a influência galega, vai até onde chega a couve com o mesmo nome. E a dita emigrou, de facto, até ao Montijo, outrora Aldeia Galega! Temos pois que ler bem a história do país, e não cair em visões apressadas da realidade. Seja como for, haverá num futuro próximo novos partidos, uns populistas, outros de cariz regionalista. Se a vossa reunião vier a dar num novo partido (frente, liga, etc...) regionalista, mas não federalista, nem independentista, dará certamente um enorme contributo para a ultrapassagem do actual beco para onde todo o país, capitaneado por uma turma de imbecis corruptos, nos está a conduzir. Força Portugueses do Norte!

Cavaco Silva: posso dissolver?
"Posso vetar politicamente o Estatuto dos Açores depois de corrigido das inconstitucionalidades"

12-09-2008. e a Assembleia da República não alterar o Estatuto dos Açores de forma a acolher as dúvidas que Cavaco Silva comunicou ao país a 31 de Julho, este pode pedir a fiscalização sucessiva da constitucionalidade do diploma ou mesmo vetá-lo politicamente. Em entrevista ao PÚBLICO revela que falou várias vezes com meia dúzia de dirigentes partidários, da maioria e da oposição, e estes lhe "manifestaram uma grande compreensão", dando "a entender que alterariam o diploma". Exactamente o contrário do que sucedeu e do que pode voltar a suceder, pelo menos nalguns pontos, quando a lei regressar, este mês, à Assembleia da República para ser expurgada de várias inconstitucionalidades. (Público)

Segundo o diploma aprovado por unanimidade na Assembleia da República, o Presidente da República, para dissolver a Assembleia Regional dos Açores, teria que perguntar à mesma Assembleia Regional a sua opinião! Posso dissolver? Não levam a mal, pois não? E mais, teria também que ouvir o presidente do Governo Regional e os grupos e representações parlamentares regionais. Maior aberração política não conheço. Além do mais, trata-se de uma clara perversão constitucional. Ainda por cima, introduzida traiçoeiramente através de uma lei ordinária de São Bento! É por isso que venho insistindo: o actual sistema político-partidário está cansado e foi corroído pela tacanhez, pela estupidez e por uma corrupção endémica que ou sabemos estancar rapidamente ou este país desaparece. Não geográfica ou fisicamente, entenda-se, mas económica e politicamente.

Low Cost e os novos rituais Potlatch

11-09-2008. A TAP vai disponibilizar entre 15 de Setembro e 31 de Outubro, 300 mil bilhetes para a Europa, com tarifas one-way, de 64 euros, nas partidas de Faro, Lisboa e Porto e 71 euros à partida do Funchal, válidas para as viagens entre 1 de Outubro e 31 de Maio.

Ryanair lança 3 milhões de bilhetes a 1 euro (taxas incluídas!) para viajar em Setembro e Outubro.

E a easyJet, que irá oferecer? Erva a bordo?!

Isto está cada vez mais parecido com uma economia Potlatch
"We will dance when our laws command us to dance, and we will feast when our hearts desire to feast. Do we ask the white man, 'Do as the Indian does?' It is a strict law that bids us dance. It is a strict law that bids us distribute our property among our friends and neighbors. It is a good law. Let the white man observe his law; we shall observe ours. And now, if you come to forbid us dance, be gone. If not, you will be welcome to us." -- Chief O’wax_a_laga_lis (Kwakiutl nation.)

Paulo Pedroso (putativo pedófilo com processo judicial ainda em curso) defende aliança entre o PS e o PSD

O Partido Socialista e o Governo de José Sócrates não têm mais ninguém para realizar as suas manobras de distracção?

PSD quer ouvir ministro da Economia sobre investimento aeronáutico que trocou Évora por França

O governo tem feito abundante propaganda sobre a central foto-voltaica da Amareleja (a maior do mundo -- gritam); sobre o aeromoscas de Beja; e sobre o grande contrato aeronáutico para fabrico de aviões Skylander, em Évora. Porém, da central solar da Amareleja (Moura) convém dizer que foi entretanto adquirida a 100% pelos espanhóis da ACCIONA, com tudo o que tal alienação implica. Do aeromoscas de Beja, cujo cognome confirma o seu insucesso absoluto, convém saber que o actual governo enterrou, na aventura psicadélica do ex-ministro e militante PS, Augusto Mateus, 32 milhões de euros. Entretanto, o remodelado aeroporto de Badajoz prepara-se não só para afundar o dito aeromoscas de Beja (que, na melhor das hipóteses, será um aeródromo para jogadores de Golf e, eventualmente, um cemitério da TAP), como ainda para desviar passageiros, de Lisboa ao Algarve, para as suas previstas ofertas Low Cost. Finalmente, no que toca ao futuro radiante de Évora, ficámos a saber que o anunciado cluster aeronáutico abalou para os domínios do senhor Sarkozy. O mesmo génio do PS -- Augusto Mateus -- afirma que não se perdeu grande coisa. Eu diria que perdemos, no mínimo, os honorários desembolsados pelo erário público para sustentar burros a pão de ló.

Ryanair desiste de base no Aeroporto Sá Carneiro

A ANA é responsável por este desastre. E como se trata de uma empresa pública, deve explicações imediatas ao país! Além do mais, como venho clamando há anos, esta gentinha da ANA deve ir pura e simplesmente para o olho da rua. Por absoluta incompetência e subserviência político-partidária.

PS dá meia resposta ao Presidente sobre Estatuto dos Açores

Ou muito me engano ou os espertos do PS decidiram provocar Cavaco Silva, esperando que uma resposta mais radical do presidente da república (por exemplo, a demissão do governo, por manifesta incapacidade de manter o regular funcionamento das instituições), permita ao PS vitimizar-se no ano eleitoral que se aproxima. Ao parecer que Cavaco Silva estaria ajudando o PSD, haveria, por assim dizer, um voto piedoso no PS, que impediria, pelo menos, uma sempre possível maioria confortável de Manuela Ferreira Leite e a fuga volumosa de votos para o PCP e para o Bloco de Esquerda, sobretudo se a situação económica se agravar catastroficamente nos próximos meses, como é bem possível que aconteça.

Cavaco Silva esclarece em comunicado que o desempenho das suas obrigações constitucionais não pode servir de argumento para a ineficiência governamental

Mais um episódio da provocação "socialista" em curso. O senhor Pereira é o pião das nicas.

Santana e Passos Coelho não querem partido populista de Jardim e Menezes

Pois fazem mal. Bem poderiam formar um partido populista, como qualquer país da Europa avançada há mais de uma década dispõe: França, Itália, Suiça, Áustria, Holanda e Suécia. Na realidade, um partido pés-na-terra e que goste de couratos, água-pé e foguetório, especializado no alargamento conceptual das autonomias (insulares e urbanas), na regionalização e na descentralização, até faz falta ao país, para compensar a macrocefalia amorfa da Lapa, Quinta da Marinha e Sintra. Eu sei que Filipe Menezes odeia mais o Rui Rio do que odeia a Manuela Ferreira Leite, mas caramba, não é caso para desistir. Aposto que conseguiriam rapidamente ultrapassar o PCP, o Bloco de Esquerda e o PP juntos, tornando-se um enorme sapo vivo para qualquer dos partidos até agora maioritários (PS e PSD). Estes, ou o que deles sobrar depois da fragmentação partidária em marcha, terão que passar a engolir o sapo truculento que sem dúvida seria um novo partido protagonizado pelos senhores Alberto João Jardim, Santana Lopes e Menezes. Nada mau, não acham? Modernizem-se, pá!

Remédios, consultas e actos médicos (operações oftalmológicas, etc.) mais baratos em Espanha

Será por isto que alguns governos se apressaram a emitir os cartões europeus de saúde? Se foi, a isto chama-se dumping social. Não vai resultar!! Já repararam que está a surgir um Euro de primeira e um Euro de segunda, através de uma crescente e gravosa assimetria dos spreads bancários, que são cada vez mais elevados em Portugal e países atrasados da União, comparativamente com o preço do dinheiro nos países ricos. A boleia acabou!!

Numa coisa Luís Filipe Menezes, o instável dirigente populista do PPD-PSD, tem razão: é preciso caminhar rapidamente para uma harmonização ibérica dos preços e da fiscalidade. Temos que deixar de pagar a gasolina, a electricidade, água, os remédios, os materiais de construção, e muitos produtos de mercearia, mais caros em Lisboa, no Porto, na Guarda ou em Faro, do que em Badajoz, Vigo, Salamanca ou Huelva, sob pena de uma verdadeira hemorragia de valor e gastos de mobilidade desnecessários se agravar em Portugal para benefício da Espanha.

Helena Roseta e "Cidadãos Por Lisboa" no bolso de António Costa

Ainda não sei se o movimento Cidadãos por Lisboa já fez alguma coisa que se veja desde que obteve a confiança de uma parte promissora do eleitorado da capital. Com tanto por fazer e tanto para criticar na paralisia patente de António Costa -- que está obviamente à espera de outros voos, e portanto, disposto a fazer o mínimo de ondas --, o sinal dado por Helena Roseta tem laivos de suicídio político. Paz à sua consciência!

Fundação Respública: quem paga a tempestade mental socialista?

Quem paga? Uma fundação pressupõe, por definição, fundos próprios. De onde saíram, se é que já saíram de algum lado? Será subsidiada no futuro (imediato, claro)? Por quem? Três anomalias genéticas de mais este acto de propaganda inócua:
  1. não passa, à nascença, duma emanação do PS, e pior ainda, da nomenclatura do PS, não dos jovens socialistas que recentemente escreveram um manifesto contra a perversão burguesa do PS!
  2. surge como reacção óbvia ao facto de o PS ter sido finalmente identificado, tanto à sua esquerda, como à sua direita, como uma organização capturada por uma turma de neoliberais de onde emana um governo aparvalhado com a velha aristocracia financeira nacional, desnorteado face ao esgotamento evidente dos cofres do Estado, e exposto perante a opinião pública como uma tragédia lusitana;
  3. o truque de magia, que mereceu honras de primeira página por parte da nossa imprensa falida, é a expressão "esquerda democrática"! A putativa "Respública" está aberta a toda a "esquerda democrática". Quem são? O PCP, não é? O Bloco de Esquerda, não é? A CGTP, não é? Quem são, afinal? Ah!, é a malta do PS e os que precisarem da sua ajuda. Por exemplo, Cidadãos Por Lisboa... e os estudantes universitários que necessitarem dum escadote até ao emprego, assim que obtenham o desejado canudo. A "Respública" tem umas bolsinhas para quem se portar bem nas controladas tempestades mentais que finalmente terão o seu tanque cognitivo no umbigo do aparelho PS. Ouviram todos?!

(continua...)

OAM 430 10-09-2008 13:36 (última actualização: 18:57)

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segunda-feira, setembro 08, 2008

Portugal 45

Discurso tagarela e política responsável
"Silêncio" de Manuela Ferreira Leite marca a agenda política da rentrée.

Salvo para o pequeno grupo que caiu nas graças ou na dependência do poder socialista, para a maioria das pessoas a vida está cada vez mais difícil. - Manuela Ferreira Leite (07-09-2008)

O senhor Vítor Ramalho, "soarista" de gema, comentador televisivo conhecido, por conta da quota do PS, e distinto deputado da bancada "socialista" da Assembleia da República, decidiu abandonar o seu assento parlamentar a favor de Paulo Pedroso (1), para ir ocupar, pelo período de três anos, o cargo de presidente do Inatel, a velha organização criada por Salazar, que o PCP e o PS tanto adoram. O Inatel, com um orçamento anual de 65 milhões de euros, mais de 250 mil sócios e um património avaliado em mais de 100 milhões de euros, passou a ser, desde Julho passado, uma fundação privada de utilidade pública. A pergunta óbvia é esta: qual foi o critério da nomeação do senhor Ramalho? Houve concurso público nacional, ou até internacional (como deveria), para escolher a pessoa certa para este lugar? Não houve? Porquê? Não deveria haver, aqui como em tantos outros casos (Santa Casa da Misericórdia, REN, CTT, CP, Metro, etc.) um puro critério de competência e curriculum profissional? Não deveria haver, como prova de uma democracia adulta e preventiva dos fenómenos de corrupção, a aplicação de princípios de gestão consagrados, na selecção dos recursos humanos desde o mais modesto funcionário ao bem pago CEO? Pelos vistos, não. O critério aplicado foi meramente partidário, ou seja, de exercício menor da política. Mas se assim foi, e parece-me evidente que foi, então há algo mais grave que deve ser denunciado, e sobretudo objecto de medidas cautelares para o futuro. O senhor Ramalho foi indigitado para uma das mais lucrativas associações do país, por um período, repito, de três anos, por um governo cujo prazo de validade termina em Março de 2009, ou seja daqui a seis meses! Ora aqui está um caso para os estudiosos dos fenómenos de endogamia partidária, muito próprios dos tais países africanos e sul-americanos que tanto incomodam o estimável sub-director do Expresso, Nicolau Santos.

Este governo está de saída e como tal não deveria fazer nomeações (ou meter cunhas) partidárias (2) para cargos públicos (privados, muito menos!) que extravasem o seu próprio prazo de validade. Este governo entrou em período de balanço e avaliação pública (como referiu o PSD pela voz ponderada de Aguiar Branco), e como tal deve abster-se de prosseguir com a sua ávida agenda de apropriação do bem público. Como me sugeria um amigo esta manhã, o melhor mesmo é juntar numa só as eleições de 2009: legislativas, europeias e autárquicas. Todos os portugueses sabem jogar no Totobola, no Totoloto e no Euro Milhões, pelo que agregar os três processos eleitorais num só, faria bem à democracia e ao erário público. Evitava-se, por outro lado, ouvir os nossos indecorosos políticos repetir três vezes a mesma lengalenga.

Manuela Ferreira Leite, no seu discurso de ontem (3), não foi ao ponto de pormenorizar os meandros percorridos pelo bicho da corrupção que vem destruindo o nosso sistema partidário. Tal tarefa cabe a Paulo Rangel e outros dirigentes do PSD, que não devem, aliás, hesitar atacar frontalmente estas matérias, ainda que tamanha ousadia assuste de morte boa parte do PPD-PSD -- mais precisamente, a metade laranja do Bloco Central do Orçamento de Estado. Ao contrário do que a orquestra mediática, financiada pelo Bloco Central do Betão, vem disseminando junto da opinião pública que lê jornais e vê televisão, a maneira (alguém escrevia, "feminina") de fazer política, demonstrada por Manuela Ferreira Leite, é bem mais eficaz e inteligente do que a tagarelice de José Sócrates. Se repararmos honestamente nos factos, verificamos que os principais temas da actual agenda política foram na sua totalidade introduzidos pelo aparente silêncio da actual dirigente laranja:
  1. a necessidade de olhar para o grave problema social que a degradação estrutural da situação económica do país está a engendrar;
  2. a necessidade de abandonar as fantasias multimédia e mediáticas em volta dos grandes projectos, centrando de novo a discussão das obras públicas num enquadramento analítico e de decisão política, racional, ponderado e ajustado às nossas efectivas necessidades estratégicas e possibilidades económico-financeiras;
  3. a necessidade de olhar para o tema da segurança interna do pais, e para o tema da criminalidade organizada, de forma séria e estruturante, sem concessões à arbitrariedade casuística que tem sido a marca desastrosa do actual governo;
  4. a necessidade de expor e combater a corrupção, sobretudo a que tem origem da endogamia e no sectarismo partidários;
  5. a necessidade de dar uma prioridade estratégica ao tecido económico formado pelas pequenas e médias empresas (vejam como o governo reagiu imediatamente à voz de Ferreira Leite), em vez da actual subserviência aparvalhada da esquerda caviar -- que tomou por dentro o PS -- diante das grandes famílias económico-financeiras que sobreviveram ao fim da ditadura (sobretudo os Espírito Santo e os Mello) e comandam hoje os ventrílocos "socialistas" ao seu serviço: António Vitorino, Manuel Pinho e o propagandista-mor, José Sócrates.
  6. a absoluta oportunidade, enfim, de passarmos todos, em matéria de discussão pública, à fase de balanço de quatro anos de maioria absoluta PS, em vez de continuarmos a dar atenção à máquina de propaganda irresponsável e inconsequente que ao longo dos últimos quatro anos nos vendeu as mais extraordinárias quimeras: o aeroporto da Ota, o TGV Porto-Lisboa, 150 mil novos empregos (de trabalho temporário e precário nos tristemente famosos call centers que vêm inundando o país), o laptop "Magalhães" (que os venezuelanos legitimamente rejeitam, por não passar dum produto branco sem vestígio algum de neurónios lusitanos efectivamente acrescentados), o aeromoscas de Beja, ou o cluster aeronáutico de Évora em volta do projecto Skylander, que José Sócrates anunciou aos quatros ventos, como se fossem favas contadas, com aquele seu tão característico semblante de vendedor de cobertores de Covilhã.
Mais do que isto, só mesmo um programa eleitoral, senhores paparazzi do fait divers político. Aliás, como se tem visto, não há ideia debitada pela actual direcção do PSD, que o PS não acolha e roube imediatamente, como se tudo lhe valesse para revalidar a confiança perdida dos portugueses.

A discussão do próximo Orçamento de Estado vai ser uma prova de fogo para a actual Oposição social-democrata aos neoliberais que tomaram o PS de assalto. As verbas previstas para os famosos investimentos públicos impossíveis ou desmiolados terão que ser directamente confrontados, contrapondo-se-lhes uma visão alternativa coerente do futuro imediato do país em matéria de prioridades estratégicas, as quais deveriam passar necessariamente por estes passos:
  • adaptação do tecido produtivo e dos conceitos económico-financeiros à deterioração dos termos de troca mundial entre a Europa-América e o resto do mundo;
  • reforço simultâneo das funções essenciais do Estado e dos processos de desburocratização em curso;
  • definição e implementação de um sistema energético sustentável e participativo;
  • revisão radical da política de obras públicas e transportes do país;
  • prioridade à defesa ecológica e paisagística de Portugal;
  • definição de um quadro de autonomias e descentralização administrativa e cultural adequado à progressão mais rápida do desenvolvimento equilibrado e responsável do país, sem prejuízo do reforço das instâncias integradoras da unidade nacional;
  • desenvolvimento de uma estratégia atlântica ampliada, menos dependente dos interesses imediatos dos Estados Unidos, e mais atenta ao potencial da lusofonia.
Não tenho especial predilecção pelo PSD, nem por Manuela Ferreira Leite. Aliás, se não houver esperança de romper com o actual Bloco Central da corrupção, no âmbito do próximo processo eleitoral, não só não votarei, como apelarei militantemente a uma espécie de abstenção criativa, que a seu tempo me ocuparei de definir, se for preciso.

Há já algum tempo que defendo uma reestruturação do actual tecido partidário, pois como está, está podre e imprestável. Os socialistas deveriam correr com os neoliberais do PS, sob pena de desaparecerem eleitoralmente como força de "esquerda" em menos de uma década. Os neoliberais que hoje controlam o PS deveriam sair do partido onde se alojaram como parasitas letais, e formar um novo partido com o caloiro Passos Coelho e o resto da malta liberal do PPD-PSD. Os sociais democratas do PSD deveriam correr com os populistas do PPD para os respectivos subúrbios e regiões, formando um partido novo, apoiado nas classes médias em processo de proletarização acelerada, nos pequenos e médios empresários industriais e comerciais, e nos proprietários agrícolas, assumindo algum pendor populista evoluído e forte recorte presidencialista na sua definição programática. O PCP deveria abandonar a retórica marxista-leninista (que limita inexoravelmente a sua ambição eleitoral à fasquia dos 10%), transformando-se num partido social-democrata radical (chamem-lhe o que for preciso, menos "partido comunista"), atraindo para a sua reconhecida capacidade organizativa as esquerdas do PS e do BE. O Bloco de Esquerda (que precisa, antes de mais, de exorcizar os seus actuais demónios trotsquistas e maoistas), deveria evoluir para um partido assumidamente comprometido com as causas civilizacionais mais avançadas: ecologia, democracias cognitivas, rizomas culturais, minorias étnicas, sociais e sexuais, redes pós-urbanas, culturas alternativas e activismo tecnológico em prol de uma espécie de democracia global, deixando-se das actuais banalidades esquerdistas de base. Por fim, o PP de Paulo Portas, deveria ir à urtigas, pois não passa duma degenerescência partidária irreversível.

O pior que nos poderá acontecer é ouvirmos as mesmas litanias de sempre, assim que reabrir o parlamento.

POST SCRIPTUM -- esta noite, em entrevista intempestiva a Mário Crespo (SIC-N 21h00), Luís Filipe Menezes, num estilo populista pouco sofisticado, pré-anunciou a sua disponibilidade para colocar as suas putativas tropas ao serviço de um qualquer candidato a primeiro ministro, saído do PPD-PSD, que se apresente nos meses mais próximos, em alternativa a Manuela Ferreira Leite e seus directos apoiantes (Rui Rio, Pacheco Pereira, Paulo Rangel e António Borges). Constato que as minhas previsões sobre uma futura cisão do PPD-PSD poderão confirmar-se mais cedo do que supunha. Aparentemente, o dirigente nortenho do PSD vai infernizar a vida a Manuela Ferreira Leite, e exigir um congresso lá para Janeiro de 2009, se entretanto o debate do orçamento se revelar frouxo, e as sondagens não começarem rapidamente a deslocar-se para o lado do PSD. Alguém vai sair chamuscado, ou mesmo frito, desta guerra de cadeiras. O partido laranja na sua formação bipolar pode já estar ferido de morte sem o saber. Mais valia que a actual direcção lancetasse a ferida que supura, antes que gangrene de vez.


NOTAS
  1. Indemnização não iliba Paulo Pedroso
    05-09-2008. "A sentença que condenou o Estado Português a pagar 130 mil euros de indemnização a Paulo Pedroso por prisão preventiva ilegal não iliba o ex-deputado "socialista" dos crimes sexuais que foram imputados no processo Casa Pia.

    'Não está em causa saber se o ora autor (Paulo Pedroso) foi efectivamente agente de algum dos crimes que lhe foram imputados' [PP foi acusado pelo Ministério Público de 23 crimes de abuso sexual, não tendo porém ido a julgamento - OAM], lê-se na página 73 da sentença, onde se sublinha também que não se questiona se os jovens identificados como vítimas foram efectivamente abusados.

    Na sentença de 101 páginas, a juíza Amélia Puna Lopo, que decidiu fechar as portas do julgamento que culminou na condenação do Estado, explica que os crimes imputados ao ex-deputado não foram apreciados no processo cível, 'apreciação que cabia apenas e só à jurisdição criminal'.

    Recorde-se que Rui Teixeira, acusado de 'erro grosseiro' por ter decretado a prisão preventiva de Pedroso, foi arrolado como testemunha pelo Estado, mas o Conselho Superior da Magistratura impediu-o de explicar em tribunal o que o levou a tomar esta decisão, alegando que se mantinha o dever de reserva - previsto no Estatuto dos Juízes e que os impede de falarem dos seus processos." -- in Correio da Manhã.
  2. Há neste caso um indício de padrão comportamental do actual governo: sempre que um socialista do estado-maior PS se torna crítico ou ameaça tornar-se, o governo empurra-o gentilmente para a fama e o rendimento.

  3. Extractos do discurso de rentrée da Presidente do PSD no encerramento da Universidade de Verão [07-09-2008]
    ... Numa época em que se privilegia o sensacionalismo e o efémero, o PSD elege a Universidade de Verão como símbolo da sua vontade de estar na política de forma diferente e de apostar no futuro com seriedade e trabalho.

    ... Todos sentimos que fazer política com o recurso permanente a promessas é uma arma eficaz, mas que tem sido mortífera para a credibilidade dos políticos.

    ... O Governo gasta imensa energia e recursos a tratar da comunicação e imagem, mas o objectivo não é informar, não é esclarecer ou mobilizar. O objectivo é enganar-nos ou distrair-nos.

    ... Hoje, três anos decorridos ao longo dos quais fomos atordoados por títulos de jornais e pelo anúncio de grandes realizações, confrontamo-nos com a realidade de uma pobreza crescente e de uma clivagem acentuada com os outros países europeus.

    ... É na área da política económica que a asfixia que o actual Governo nos impõe se torna mais visível. Os sucessivos governos socialistas, que ocuparam o poder durante 10 dos últimos 13 anos, desperdiçaram recursos gigantescos e tornaram muito difícil a vida das pequenas e médias empresas, esmagando qualquer esperança de iniciativa empresarial transformadora.

    Na sua concepção centralizadora, o PS canalizou recursos para projectos sem rentabilidade ou justificação económica, e vai deixar o País endividado como nunca, e sem perspectivas de ultrapassar a estagnação, como o próprio Primeiro-Ministro confidenciou recentemente a um Presidente estrangeiro.

    O nosso programa económico será exactamente o oposto de tudo isto. A prioridade será para a competitividade da economia, para a produtividade e criatividade empresarial, removendo custos e obstáculos à eficiência das pequenas e médias empresas. É imperioso reduzir os custos operacionais, aliviar a carga burocrática, reduzir a fiscalidade ligada à criação de emprego e apoiar a exportação.

    ... Entre outros problemas complexos, o mundo atravessa hoje uma séria crise de crédito. O financiamento é mais difícil, os credores são mais exigentes, os riscos mais difíceis de aceitar.

    Como é que o Governo enfrenta esta crise? Com um endividamento externo recorde e em crescimento sem limite previsível, o que nos obriga a todos, particulares, famílias e empresas, a pagar mais pelo crédito a que recorremos. Por isso, se desiste de muitos projectos produtivos e se abandonam iniciativas que teriam o risco próprio da inovação e do progresso.

    E qual o motivo porque nos endividamos?

    Para financiar projectos megalómanos que são um extraordinário luxo para o País porque não criam riqueza, mas que implicarão muitos anos de sacrifício para serem pagos.

    O PSD propõe uma política económica diametralmente oposta, que conduza ao enriquecimento do País.

    Uma política atenta à escassez de recursos e ao seu custo, porque o pouco capital que temos não pode ser esbanjado.

    Propomos uma atenção crescente à poupança, sem a qual o crescimento não pode ser financiado. Daremos prioridade absoluta aos investimentos de grande impacto na produtividade e na inovação. Só com o reforço da nossa capacidade exportadora e de concorrência poderemos afirmar-nos, ou mesmo sobreviver, em mercados cada vez mais agressivos.

    É por este motivo que não desistiremos de conhecer e avaliar os critérios que levaram o Governo a tomar decisões sobre grandes obras públicas.

    Mas é no emprego que a política económica que defendemos melhor mostrará os seus resultados.

    O desemprego crónico que se instalou na nossa economia é a manifestação mais clara da acção do governo socialista, a consequência de políticas erradas e incapazes de reorientar a política económica para a criação de postos de trabalho. São as pequenas e médias empresas e os sectores mais expostos à concorrência que podem criar mais empregos de qualidade.

    Ao destruir a competitividade da economia, o Governo tem destruído muitos milhares de postos de trabalho e impedido a criação de muitos mais.

    Resta, assim, aos Portugueses a aceitação de salários cada vez mais distantes dos que se praticam na Europa, como única forma de assegurar os postos de trabalho que ainda existem e se vão mantendo.

    Não admira que a emigração se tenha tornado de novo a última tábua de salvação para muitos dos nossos compatriotas.

    Neste contexto, a qualidade dos serviços públicos é um dos factores mais decisivos de bem-estar dos cidadãos e uma marca diferenciadora das sociedades mais desenvolvidas e mais justas.

    É sabido que as sociedades modernas e desenvolvidas necessitam de um Estado de dimensão importante, moderno, sofisticado e eficaz.

    A reforma da Administração Pública é talvez a área onde este Governo mais prometeu e menos concretizou, por incompetência ou falta de coragem política.

    Na Administração Pública não houve só três anos desperdiçados. Houve um óbvio e grave retrocesso e o enfraquecer das instituições.

    A reestruturação dos serviços saldou-se por uma mão cheia de nada, no que se refere à eficácia e transparência.

    Pelo caminho, os serviços viveram anos de incerteza, de confusão, e desorientação.

    Serviu para adaptar a máquina aos interesses do Partido Socialista completando silenciosamente uma operação em grande escala do controlo político dos cargos da administração pública.

    A avaliação de desempenho, invocada como trave mestra de toda a mudança, saldou-se por um logro em que florescem muitas prepotências e se afundam muitas esperanças.

    É urgente libertar o País e as instituições do sectarismo partidário, que conduz à instabilidade e ao desprestígio de muitas organizações.

    A modernização do Estado implica que se valorize o profissionalismo e o mérito e se abra caminho a uma nova cultura de responsabilidade, mérito e isenção.

    Sem respeito por estes princípios, sem independência e sem solidez estrutural, o Estado é muito vulnerável à corrupção, ao tráfico de influências e ao enriquecimento ilícito, fenómenos que devem ser eficazmente combatidos na sua expressão efectiva mas que devem, sobretudo, ser prevenidos com determinação e seriedade.

    De pouco serve aprovar leis contra a corrupção quando a organização é caótica, instável e politizada.

    ... Em muitos outros sectores da vida nacional podemos encontrar claros sinais do mau Governo socialista que deixa o país sem confiança, sem alento e sem recursos.

    Há o sentimento generalizado de fracasso, ninguém duvida que Portugal está muito abaixo do que poderia e deveria estar no seu nível de desenvolvimento.

    Salvo para o pequeno grupo que caiu nas graças ou na dependência do poder socialista, para a maioria das pessoas a vida está cada vez mais difícil.

    A confiança na qualidade e exigência do sistema educativo não melhorou e a classe dos professores conheceu um ataque sem precedentes, ao seu prestígio e autoridade.

    Na saúde as políticas mudam com os ministros, ou os ministros mudam por causa das políticas e o serviço nacional de saúde vai conhecendo uma sangria de médicos e pessoal qualificado que já provocou a ruptura em serviços centrais.

    A valorização das pessoas, o estímulo ao capital humano no sector público, incluindo em áreas de elevada qualificação e investimento na formação, é pura e simplesmente ignorado.

    Na agricultura, as queixas contra o Governo, as dificuldades causadas por políticas erradas e surdas aos apelos, são caladas com o estrangulamento financeiro e premeditado das associações representativas do sector.

    Na Justiça, as promessas de maior eficácia e celeridade redundaram na confusão no sector, no beliscar do prestígio e isenção da classe e no sentimento de que também a justiça é impotente perante as injustiças.

    Por fim, o Governo falhou perigosamente no âmbito da Segurança Interna, onde é patente a falta de uma estratégia sistemática e coerente capaz de assegurar com a desejável eficácia a realização dos fins mais essenciais do Estado: a segurança, a justiça e a tranquilidade dos cidadãos.

    O aumento de certo tipo de crimes violentos, pouco habituais na sociedade portuguesa, mas muito especialmente a sensação de impunidade dos criminosos, inquieta justamente os cidadãos, comprometendo a imagem tradicional de Portugal como País seguro. Os acontecimentos dos meses de Verão tornaram patente essa falta de estratégia no que se refere à Segurança Interna.

    Não é apenas uma questão de meios, nem de número de agentes.
    É essencialmente uma questão de como esses meios estão a ser utilizados e como os recursos humanos são organizados e coordenados.
    É esta estratégia que cabe, em particular, ao Ministro da Administração Interna definir e fazer cumprir.

    Ora, é o sentimento de impunidade que intranquiliza as populações e, não se vê onde está a luta contra a criminalidade violenta.
    Não se sente que os criminosos sejam perseguidos e punidos, nem que haja uma prevenção eficaz do crime.

    Este sentimento não pode instalar-se como uma fatalidade.

    Ora, o Ministro não disse e devia ter começado por aí, como iria reforçar a capacidade de investigação, de informação e de penetração das polícias.
    O Governo confunde medidas com estratégias, confunde reacção com concepção. E confunde espectáculo com intervenção.

    Em matéria de segurança interna e de autoridade do Estado, isto é gravíssimo. Esta função de soberania não se compadece com a desorientação ou com medidas ditadas por urgências mediáticas.

    Muito menos se compadece com a escandalosa operação mediática feita pelo Governo para calar os alarmes.

    Como é possível que o Ministro da Administração Interna admita que se organize uma operação policial destinada a passar em directo na televisão, escolhendo o terreno tristemente emblemático de bairros problemáticos, sacrificando a um momento mediático a necessária pacificação e acalmia nas zonas de maior tensão?

    Para um Governo que diz ter preocupações sociais, não podia ter mostrado maior insensibilidade social.

    Mais uma vez se viu que o Governo não sabe actuar fora do espaço do espectáculo e do mediatismo, o cenário em que verdadeiramente se move bem. No entanto, uma palavra é justa. Ao desnorte do Governo, as forças de segurança têm correspondido com um sentido de missão e responsabilidade que é de salientar e que é, em si mesmo, um conforto para este momento de crise.

    ... O diagnóstico sobre a condução da vida política no nosso País está feito.

    Os resultados estão à vista de todos e são medíocres. Fraco crescimento económico, níveis de desemprego elevados e, muito especialmente, manutenção da disparidade entre os mais ricos e os mais pobres.

    Perante a mediocridade dos resultados, o PS insiste na mesma política.

    O PSD afirma que perante a mediocridade de resultados tem de se mudar de política. Não é demais recordar que o Partido Socialista desperdiçou oportunidades extraordinárias para imprimir um ritmo de desenvolvimento e progresso de que carecemos para competir na Europa e no Mundo.

    Com um Governo do PSD e uma outra política o País poderá regressar a uma via de prosperidade.

    Esse objectivo tem de incluir todos os cidadãos. Não pode ser feito à custa do agravamento da pobreza de uns para o aumento da riqueza de poucos.

    O Estado não pode criar a ilusão de que pode, por si só, resolver todos os problemas de desigualdade e pobreza.

    Mas pode fazer muito, se orientar a sua acção exclusivamente para os que dela necessitam.

    É indispensável que se descentralize a rede de apoios sociais, ao mesmo tempo que o Estado se deve concentrar na avaliação muito rigorosa dos meios e dos efeitos desta intervenção.

    ... Nós temos uma ambição para Portugal e ela não é maior nem menor do que a do PS. É diferente, profundamente diferente. Do Governo do PS não resultou qualquer benefício para o País.

    Do nosso, resultará o progresso e é essa ambição que nos move e nos motiva.

OAM 429 08-09-2008 15:36 (última actualização: 09-09-2008 00:48)

sábado, setembro 06, 2008

Angola 3

Democracia adiada?

O momento crítico das eleições angolanas começa verdadeiramente agora, ou seja, com a contagem dos votos. Se a tensão criada pelos atrasos verificados na abertura das 320 assembleias de voto de Luanda prosseguir e aumentar de tom, estarão criadas as condições para o regresso dos generais! Espero que a Oposição tenha juízo e demonstre a necessária maturidade para lidar com a casca de banana que lhe lançaram aos pés.

A derrapagem do processo eleitoral angolano, segundo testemunho directo de um dos muitos actores no terreno, que conheço bem e teve a amabilidade de me informar, teve origem nos seguintes contratempos e problemas:
  1. a credenciação dos 600 mil "agentes eleitorais", que decorreu sem problemas nas 17 províncias fora da capital angolana, foi trabalhosa e difícil em quatro dos nove municípios da província de Luanda, com especial destaque para o Cazengue, o município com maior densidade populacional do país;
  2. estes constrangimentos aumentaram exponencialmente com o volume de eleitores em Luanda (mais ou menos um terço dos eleitores do país), contribuindo para um certa confusão nas horas iniciais de funcionamento das assembleias de voto;
  3. o grande atraso na abertura das assembleias de voto parece ter sido consequência de alguns erros na distribuição dos boletins de voto;
  4. o Tribunal Constitucional não deverá, apesar do grau de desorganização verificado, considerar haver matéria suficientemente grave para impugnar as eleições, ou sequer marcar novo acto eleitoral nas assembleias de votos onde se registaram os atrasos e consequente diminuição do tempo previsto para decurso do acto eleitoral;
  5. a situação parece ter sido normalizada atempadamente, pois apenas 320 das mais de 13.000 assembleias de voto abriram hoje a fim de que os eleitores que ontem não puderam votar possam exercer em pleno o seu direito de voto;
  6. embora a UNITA tenha avançado com um pedido de repetição das eleições, os demais partidos da Oposição foram mais moderados nas suas reclamações e, em particular a Igreja manifestou uma posição de extrema moderação sobre a dimensão afinal reduzida dos problemas técnicos verificados;
  7. os erros, compreensíveis até certo ponto, não deixaram porém a melhor impressão nos observadores internacionais, pelo que Luanda poderá ser objecto de críticas e recomendações que não deixarão de pesar sobre o passeio eleitoral esperado por José Eduardo dos Santos, e pelos generais que ele, curiosamente, admoestou no principal comício eleitoral da campanha para estas eleições.

Este é o terceiro postal que escrevo sobre Angola. No primeiro, chamei a atenção para a cleptocracia instalada na antiga colónia portuguesa, sobre cujas irregularidades Portugal mantém um silêncio oportunista e cúmplice. No segundo, chamei a atenção para a necessidade de olhar para Angola numa perspectiva de longo prazo, tendo em conta a infância do novo país e os previsíveis custos da sua consolidação como uma das principais potências económicas e políticas africanas, desejando de caminho ao povo angolano que o seu segundo processo eleitoral corresse pelo melhor. Neste terceiro postal, registo as dificuldades e os perigos contidos no actual processo político, o qual poderá, se não for bem gerido por todos os actores interessados na futura democracia angolana, degenerar rapidamente em novos acertos violentos de território. O tempo internacional é, aliás, propício a este género de perversões!

O Estado angolano é demasiado novo, e portanto aquilo que essencialmente continua a estar em jogo é a formação das suas classes dominantes e das correspondentes acumulações primitivas de riqueza, poder e tradição institucional. Eu sei que dito assim, tão cruamente, pareço estar a defender a ganância insensível da família dos Santos e a voracidade cruel, por vezes sanguinária, da tropa pretoriana que o protege e à sua sombra enriquece para lá da nossa imaginação. Mas analisando friamente o problema, como se Angola fosse um mero paciente num teatro anatómico repleto de historiadores, etnólogos, sociólogos e políticos, que outro diagnóstico poderíamos fazer? Significa esta observação "científica" que não devemos criticar os estádios necessariamente duros do nascimento de uma nação? Não. Significa que temos que ser capazes de manter um olhar bifocal sobre a realidade angolana. Por um lado, devemos perceber que a constituição das classes dominantes do novo país não se deu ainda e será sempre um processo duro e prolongado. Por outro, devemos exercer uma pressão democrática firme, bem doseada, e sobretudo bem informada, sobre o regime, por forma a prestar uma ajuda solidária e responsável a uma realidade que tem muito de nós. A responsabilidade ética de Portugal nos processos de emancipação nacional das suas antigas colónias é uma herança civilizacional que deve ser cumprida com diligência, sabedoria e humildade. Teremos sempre uma vantagem comparativa sobre todos os novos amigos de Angola.

ÚLTIMA HORA

08-09-2008 00:16. Depois das excitações paternalistas do grupo Impresa e da pequena histeria matinal da deputada maoista Ana Gomes em volta das eleições angolanas, o bom-senso veio ao de cima, sobretudo depois de constatada a esmagadora vitória do MPLA e a pesadíssima derrota da UNITA (fruto mais do que provável da sua convivência governamental com o MPLA ao longo de tantos anos.)

Não creio que a UNITA acabe por impugnar as eleições, como ameaçou no calor dos incidentes logísticos nalgumas centenas de assembleias de voto na capital. O MPLA não pode fazer o trabalho dos demais partidos políticos, que terão aliás muito que trabalhar para disputar um dia o terreno ocupado pelo MPLA. Mas o MPLA poderá começar, cumprindo as promessas de José Eduardo dos Santos no principal comício da campanha eleitoral, por despartidarizar o poder e a comunicação social, dando espaço ao crescimento conveniente do peso eleitoral dos seus adversários, e sobretudo estimulando o nascimento de uma sociedade civil activa, patriótica e empenhada no desenvolvimento sustentável do país. O petróleo não durará mais de 20 a 25 anos, e quando este recurso começar a decair, Angola será ainda um país muito jovem, com uma demografia escassa e um território imenso por organizar (e apetecível), que ou poderá contar com uma sociedade economicamente articulada e dinâmica, socialmente equilibrada, politicamente adulta e culturalmente forte, ou então... ou então terá muito com que se preocupar, a sério!

O artigo do Nicolau Santos (Director-Adjunto do semanário Expresso) poderia ter sido escrito por mim, que sou um bloguista independente, que não precisa do BES, nem do MillenniumBCP, nem do Governo, para sobreviver, mas não pelo Expresso! Compreendo que todo o grupo Impresa esteja indignado por não ter sido autorizado a cobrir as eleições angolanas in situ, e que proteste veementemente. Já me parece ridículo que se entretenha com prosas moralistas sobre a filha do Edu e a corrupção angolana, citando exemplos tão fora de propósito como o caso da banca falida e mendicante portuguesa que espera desesperadamente pelos petrodólares angolanos, mas quer continuar a ser senhora da situação! O Expresso tem que começar por compreender que uma coisa é investigar casos de corrupção, para o que tem toda a legitimidade jornalística do mundo. Outra muito diferente, e inaceitável, é lançar anátemas sobre protagonistas de primeiro plano de uma ex-colónia, como se ainda estivéssemos no tempo em que dávamos lambadas nos pretos, por dá cá aquela palha. O estilo, meu caro Nicolau, é tudo. Num mundo em que a maior potência mundial é dominada por três patrões da indústria petrolífera (George W. Bush, Dick Cheney e Condoleezza Rice) que, em nome dos seus exclusivos interesses privados, dizimaram mais de 100 mil iraquianos e alguns milhares de afegãos, e acabam de colocar a Europa perante uma crise político-militar gravíssima; ou num país (Portugal) onde a corrupção, a pedofilia de Estado e a endogamia dominam a economia, a política, e fazem lei, como é que você se atreve a escrever como um bloguista, nas respeitáveis páginas do Expresso, deixando passar em claro (pior ainda, sem a devida investigação) a imensa podridão e impunidade das nossas intocáveis democracias ocidentais? Estilo! Estilo, meu caro Nicolau!

OAM 428 06-09-2008 18:57 (última actualização: 08-09-2008 00:16)

Estados Unidos, Estados Falidos

Os pobres que paguem a crise!

Governo americano inicia processo de falência vigiada dos gigantes Fannie Mae e Freddy Mac.

As duas maiores seguradoras de investimento imobiliário do mundo, Fannie Mae e Freddy Mac, faliram. Estão desde hoje sob controlo do governo dos Estados Unidos. Quem diria!

Liberalizar a economia e privatizar os lucros quando a economia capitalista e a especulação prosperam, mas socializar os prejuízos e proteger os ladrões quando o sector financeiro e especulativo rebenta como um balão cheio de nada, eis, em resumo, o que já sabíamos desde Karl Marx, mas que o caloiro do PSD (Pedro Passos Coelho), em ridículo contra-ciclo conceptual, desconhece absolutamente. Mais um ponto a favor de Manuela Ferreira Leite (PSD), e contra a tardia e mal-disfarçada moda neoliberal portuguesa, que os anafados spin-doctors do Bloco Central do Betão: António Vitorino (P"S"), Jorge Coelho (P"S"), Manuel Pinho (BES), Augusto Mateus (P"S"), Ângelo Correia (PPD), Mira Amaral (BIC), e outros, disseminam como verdades de Estado. O ano de 2009 vai reduzir a pó a manipulação mediática a que estes senhores se dedicam com zelo (pago a peso de ouro a montante dos próprios "órgãos de comunicação social"), sob os auspícios de empresas de propaganda que agem impunemente ao abrigo da dita liberdade de imprensa.

Nada de novo na declinante América. Só que desta vez os principais credores da pornográfica dívida americana conseguem disparar mísseis intercontinentais e abater satélites em órbita!

A recessão mundial (estagnação+inflação?) já começou e vai durar, pelo menos, até 2010.

A probabilidade de ocorrência de grandes guerras é elevada. Com McCaine ou com Obama, tanto faz. Não tenhamos ilusões!

Cavaco Silva deveria falar com Angela Merkel e impedir que os "socialistas" vendam alegremente os Açores por um prato de lentilhas ao bando de criminosos actualmente na Casa Branca (usando para tal todos os meios constitucionais de que dispõe.) Os Portugueses não querem ser parte da estratégia de agressão mundial e de destruição da União Europeia, há muito seguida pelo trio anglo-americano-israelita -- de que os governos georgiano, polaco, ucraniano e checo, são meros agentes provocadores



REFERÊNCIAS
Comrade Paulson, nationalised banks & socialism for the rich.

You have to admire the spin. The US Treasury Secretary, Comrade Hank Paulson, pictured here, announced today, Sunday 7th September, 2008 that the US government is natonalising two huge US banks, Fannie Mae and Freddie Mac. Which means in effect that Comrade Paulson is socialising the losses of the shareholders and investors in these banks - $5.4 trillion of guaranteed mortgage-backed securities (MBS) (mortgage backed securities) and debt outstanding. These liabilities are equal to all the publicly held debt of the United States. This in the words of Prof. Roubini is ’socialism for the rich, the well connected and Wall St.” (see below).

Only Comrade Paulson didn’t say that he was socialising losses or nationalising banks. He said they were placing them ‘in conservatorship’.

I like it. Please can we place the NHS safely in ‘conservatorship’ - conserve it for the nation, ensuring it is not privatised. And please, please can we place the railways in ‘conservatorship’……No, we’re not a bunch of communists, honest guv. We don’t want to nationalise; we simply want to conserve. That’s my party line from now on...

...

As Professor Nouriel Roubini argues:” Fannie and Freddie are insolvent and the Treasury bailout plan (the mother of all moral hazard bailout) is socialism for the rich, the well connected and Wall Street; it is the continuation of a corrupt system where profits are privatized and losses are socialized. Instead of wiping out shareholders of the two GSEs, replacing corrupt and incompetent managers and forcing a haircut on the claims of the creditors/bondholders such a plan bails out shareholders, managers and creditors at a massive cost to U.S. taxpayers.”

We know, because of Brad Setser’s sustained and diligent research, that the central bankers of Russia and China have exposed their taxpayers to losses at Fannie and Fred to the extent of about 10% of their countries respective GDPs. Those are huge potential losses. -- Ann Pettifor, in Debtonation.

U.S. Rescue Seen at Hand for 2 Mortgage Giants
By STEPHEN LABATON and ANDREW ROSS SORKIN
Published: September 5, 2008

WASHINGTON — Senior officials from the Bush administration and the Federal Reserve on Friday called in top executives of Fannie Mae and Freddie Mac, the mortgage finance giants, and told them that the government was preparing to place the two companies under federal control, officials and company executives briefed on the discussions said.

The plan, which would place the companies into a conservatorship, was outlined in separate meetings with the chief executives at the office of the companies’ new regulator. The executives were told that, under the plan, they and their boards would be replaced and shareholders would be virtually wiped out, but that the companies would be able to continue functioning with the government generally standing behind their debt, people briefed on the discussions said.

It is not possible to calculate the cost of any government bailout, but the huge potential liabilities of the companies could cost taxpayers tens of billions of dollars and make any rescue among the largest in the nation’s history.

...

Under a conservatorship, the common and preferred shares of Fannie and Freddie would be reduced to little or nothing, and any losses on mortgages they own or guarantee could be paid by taxpayers. Shareholders have already lost billions of dollars as the stocks have plunged more than 80 percent this year.

...

The declines in the housing and financial markets apparently forced the administration’s hand. With foreign governments increasingly skittish about holding billions of dollars in securities issued by the companies, no sign that their losses will abate any time soon, and the inability of the companies to raise new capital, the administration apparently decided it would be better to act now rather than closer to the presidential election in two months.

Just five weeks ago, President Bush signed a law to give the administration the authority to inject billions of dollars into the companies through investments or loans. In proposing the legislation, Treasury Secretary Henry M. Paulson Jr. said that he had no plan to provide loans or investments, and that merely giving the government the authority to backstop the companies would provide a strong shot of confidence to the markets. But the thin capital reserves that have kept the two companies afloat have continued to erode as the housing market has steadily declined and the number of foreclosures has soared.

As their problems have deepened — and the marketplace has come to expect some sort of government rescue — both companies have found it difficult to raise new capital to absorb future losses. In recent weeks, Mr. Paulson has been reaching out to foreign governments that hold billions of dollars of Fannie and Freddie securities to reassure them that the United States stands behind the companies.


Weaning the banks off the Old Lady's teat
By The London Banker

Friday, 5 September 2008. There is a warm sense of security that comes from suckling liquidity from the teat of the central bank rather than foraging for capital and earnings in a harsh world full of threats and predators. Nonetheless, there comes a time when a good mother pushes away her importunate young and forces them to fend for themselves subject to her stern guidance and supervision.

Central banks have been suckling their broods of commercial banks since the credit crunch first exploded on the scene in August 2007. Now there are signs that the Bank of England and European Central Bank, at least, are keen to push their broods toward self-sufficiency, even at the risk that not all survive independently.


OAM 427 06-09-2008 13:39 (última actualização 07-09-2008 23:57)

quarta-feira, setembro 03, 2008

Eurasia adiada - 6

Guerra fria, não, mas uma guerra a sério, talvez!

Se a União Europeia implodir -- e poderá implodir em menos de um ápice --, as suas várias nações terão que rever sem demora nem hesitação uma série de ideias novas a que se foram habituando docemente sob um regadio de "fundos de coesão comunitária". Estes, aliás, poderão deixar de fluir muito antes de 2013, até já no próximo inverno, se entretanto os vassalos europeus da América insistirem em arrancar um braço à Rússia, encurralar uma vez mais a Alemanha, e transformar a Europa num vinhedo americano (1). A dupla de ladrões e criminosos de guerra (2) que manda nos EUA -- George W. Bush e Dick Cheney -- prepara-se para colocar forças da NATO em território georgiano, radares e mísseis na República Checa e na Polónia (3). Se isso acontecer, não vejo como evitaremos uma guerra imediata no Cáucaso, que logo poderá alastrar à Polónia, República Checa, Ucrânia, ex-Jugoslávia, etc.

Os países falidos do "Ocidente" -- sobretudo os Estados Unidos da América (4) e o Reino Unido -- querem a guerra, como aliás quiseram em 1939 e em 1914. Não têm, julgam eles, nada a perder. E se ganharem, deixarão de pagar o que devem, imaginam. Sucede, porém, neste caso, que os seus maiores credores são... o Japão e a China! Ou seja, não bastará infernizar a Europa e a Rússia. Teriam que ir mais longe. É por isso que nunca terão sucesso na sinistra matança imperial que, uma vez mais, querem impor a milhões de pessoas de todo o planeta.

O ponto da nova guerra é o mesmo das duas grandes guerras que dizimaram dezenas de milhões de pessoas no século 20: controlar e explorar despudoradamente o recurso primário da modernidade: o petróleo (5). Só que desta vez a coisa é bem pior, pois trata-se de uma guerra por um recurso em vias de extinção económica. Por mais voltas que dê, não vejo como vamos sair inteiros deste covil de cascáveis.

Na eventualidade do desastre iminente conduzir a uma guerra na Europa, e portanto ao colapso imediato da União Europeia, haverá que reforçar de imediato algumas definições políticas essenciais à independência e sobrevivência do nosso país:
  1. A definição de soberania nacional (incluindo a reversão de alguns instrumentos perdidos);
  2. A definição de autoridade do Estado (incluindo uma revisão constitucional que reforce drasticamente os poderes do Presidente da República);
  3. A definição de sectores estratégicos da economia (com reversão da posse dos mesmos a favor do interesse comum);
  4. A definição do poder local (com reforço extraordinário das respectivas competências)
  5. A definição de serviço público imperativo e prioritário (com a delimitação clara daquilo que só à governação pública democrática compete realizar, libertando para a sociedade civil tudo o que não seja essencial.)
O objectivo imediato dos Estados Unidos, de Israel e do Reino Unido, é anestesiar militarmente a Rússia, actual braço armado da China (6). Mas a China é, em última instância, o alvo estratégico dos actuais senhores do mundo. O cenário é demencial e apocalíptico. Mas não irreversível. Temo, porém, que a Europa possa vir a ser uma vez mais sacrificada neste ritual macabro da avareza, ira e luxúria assassinas.


NOTAS
  1. A Ucrânia, a Polónia, a República Checa, a Geórgia, a Moldávia e o Azerbeijão não passam actualmente de estados fantoche ao serviço da estratégia imperial dos EUA, que tem no Reino Unido e em Israel os seus maiores aliados. As viagens desta semana, de Cheney à Geórgia, e de Condoleezza Rice a Lisboa, inspiram as maiores preocupações aos defensores da paz europeia e mundial. Os Açores não se devem prestar, de novo, para o desencadear de uma guerra, que será criminosa e cujo único fito é permitir a estratégia de domínio mundial, a partir dum controlo sanguinário da Eurásia, por parte do complexo industrial-militar americano e das famílias do petróleo que nele mandam. Leia-se, a propósito dos meandros desta crise, este artigo de Michel Chossudovsky:
    The Eurasian Corridor: Pipeline Geopolitics and the New Cold War, by Michel Chossudovsky

    Washington's objective is ultimately to weaken and destabilize Russia's pipeline network --including the Friendship Pipeline and the Baltic Pipeline System (BPS)-- and its various corridor links into the Western Europe energy market. -- in Global Research.

  2. Leia-se este depoimento do antigo embaixador britânico no Uzbequistão (extracto):
    Hypocrite Miliband And The Myth Of Western Moral Superiority

    David Miliband was making great show today of fulminating in Kiev against Russian disregard of international law. Yet simultaneously he is continuing the sorry British record of participation in war crimes and contravention of the UN Convention Against Torture, Article IV of which covers "complicity" in torture. Both of these are serious breaches of international law.

    Binyam Mohamed is a British resident who was the victim of illegal rendition and hideous torture in several countries.

    Miliband has declined to release further evidence about the case on grounds of national security, arguing that disclosure would harm Britain's intelligence relationship with the US (Guardian).

    Mohamed faces a "Trial" by military tribunal in Guantanamo Bay. Judges, defence and prosecution lawyers are all members of the US military. Neither Mohamed not his defence lawyers will be allowed to see much of the evidence against him. This includes evidence of participation in his torture by British security services, and details of where he was being held and interrogated over two years (Uzbekistan? Afghanistan? Poland? Diego Garcia? - Miliband is keeping it secret). By the symmetry of evil, UK evidence is being witheld on grounds it could damage security cooperation with the US, while US evidence is being witheld on the grounds it could damage security cooperation with the UK. This farce is sickening.

    It was, of course, the excuse that security cooperation with Saudi Arabia would be damaged that led to the dropping of the prosecution of the vile corrupt executives at BAE. The operations of the security services are, beyond any shade of argument, above the law both sides of the Atlantic.

    When I threw over my diplomatic career to expose the hideous UK/CIA complicity with torture in Uzbekistan, I genuinely believed that my personal sacrifice would form part of a movement which would end this abomination being carried out in our names. In fact, the Bush/Blair acolytes have pushed further to the point that poor Binyan Mohamed faces a fate that would have been beyond the pen of Kafka.

    Never mind, let's divert the public by pointing at those evil Russians! -- in Craig Murray website.
  3. Missile Defense: Washington and Poland just moved the World closer to War, by F. William Engdahl

    The signing on August 14 of an agreement between the governments of the United States and Poland to deploy on Polish soil US ‘interceptor missiles’ is the most dangerous move towards nuclear war the world has seen since the 1962 Cuba Missile crisis. Far from a defensive move to protect European NATO states from a Russian nuclear attack, as military strategists have pointed out, the US missiles in Poland pose a total existential threat to the future existence of the Russian nation. The Russian Government has repeatedly warned of this since US plans were first unveiled in early 2007. Now, despite repeated diplomatic attempts by Russia to come to an agreement with Washington, the Bush Administration, in the wake of a humiliating US defeat in Georgia, has pressured the Government of Poland to finally sign the pact. The consequences could be unthinkable for Europe and the planet.

    ... Any illusions that a Democratic Obama Presidency would mean a rollback of such provocative NATO and US military moves of recent years should be dismissed as dangerous wishful thinking. Obama’s foreign policy team in addition to father Zbigniew Brzezinski, includes Brzezinski’s son, Ian Brzezinski, current US Deputy Assistant Secretary of Defense for European and NATO Affairs. Ian Brzezinski is a devout backer of US missile defense policy, as well as Kosovo independence and NATO expansion into Ukraine and Georgia. -- in Global Research.
  4. The Great Consumer Crash of 2009, by James Quinn

    August 19, 2008. After examining these charts it is clear to me that the tremendous prosperity that began during the Reagan years of the early 1980’s has been a false prosperity built upon easy credit. Household debt reached $13.8 trillion in 2007, with $10.5 trillion of that mortgage debt. The leading edge of the baby boomers turned 30 years of age in the late 1970’s, just as the usage of debt began to accelerate. Debt took off like a rocket ship after 9/11 with the President urging Americans to spend and Alan Greenspan lowering interest rates to 1%. Only in the bizzaro world of America in the last 7 years, while in the midst of 2 foreign wars, would a President urge his citizens to show their patriotism by buying cars and TVs. When did our priorities become so warped?

    (...) We have outsourced our savings to the emerging economies, along with our manufacturing jobs. The Chinese are saving the money we’ve paid them for flat screen TVs and the Middle Eastern countries are saving the money we’ve paid them for oil. You need savings in order to increase investment. The emerging markets are making the vast majority of the investments in the world. While the U.S. endlessly debates drilling and construction of nuclear plants (none built in U.S. since 1987) and oil refineries (none built in U.S. since 1977), China brought four oil refineries online in 2008 and plans to build 30 nuclear reactors in the next twelve years. The Asian Century has begun, but the U.S. has tried to keep up by using debt. It will not work. If anything, this has accelerated the shift of power to Asia.

    (...) The pseudo-wealth that has been created in the last seven years has begun to unwind, but will increase in speed in 2009. You only know how you’ve lived your life over the last seven years. Your neighbor who has been getting their house upgraded, sending their kids to private school, driving a BMW, and taking exotic vacations may have been living the high life on debt. As usual, Warren Buffet’s wisdom comes in handy.

    Only when the tide goes out do you discover who’s been swimming naked.

    The tide is on its way out, and the naked swimmers are numbered in the millions. Mohamed El-Erian, the number two man at PIMCO, fears a negative feedback loop consuming the country. I believe we have begun the negative feedback loop and it is starting to accelerate.

    (...) Consumers have dramatically increased the use of credit cards, now that the housing ATM has run out of cash. The average American household has credit card debt of $9,840 versus $2,966 in 1990, at an average interest rate of 19%. Credit card delinquencies have increased to 4.51% in the 1st quarter. Amex just announced a major unexpected write-off because its prime customers have hit the wall and are defaulting. Consumers used their credit and debit cards to buy $51 billion of fast food in 2006 according to Carddata. According to the Federal Reserve, 40% of American families spend more than they earn.

    (...) Government unemployment figures have begun to skyrocket, while the true unadjusted unemployment figures point to a major recession. If the number of people who have given up looking for a job were included, the official 5.7% unemployment rate would jump to 14%. People without jobs can’t spend money or make mortgage payments. With the deep recession that I anticipate, the official figures will reach 7%. This will result in lower consumption. -- Prudent Bear.
  5. Sobre este tema recomendo o extraordinário seminário de Chris Martenson, e ainda o esclarecedor vídeo sobre a perturbação que o crescimento fulgurante e a voracidade energética da China vieram colocar à supremacia egoísta da imperial América. O vídeo foi realizado numa perspectiva ocidental, mas ainda assim, diz tudo!

  6. China vs the US - The Battle For Oil

    China's sky-rocketing growth and shortage of sufficient resources is forcing China to set its sights outside its borders in a frantic search for oil, but the major oil-producing countries are kept off-limits by the United States, forcing China to do business with the rogue states, African dictatorships, Iran and former Russian states - to get the oil they desperately need. Featuring field encounters, archival footage, news reports and maps to outline the latest threat in world geopolitics. -- in Critical Docs.
  7. O crescimento e a progressiva autonomia tecnológica da China, bem como a sua actual riqueza em ouro (comprado a quem dele se desfez, nomeadamente para pagar dívidas de Estado), divisas e créditos internacionais, são assustadores do ponto de vista da Europa-América -- claro! Há porém um ponto frágil na actual trajectória ascendente do Império do Meio: a China depende cada vez mais criticamente, tal como dependeram e dependem a Europa e os EUA, do acesso livre ao petróleo e outras matérias primas que não já não dispõe em quantidade suficientes. Como a principal matéria energética do mundo moderno -- o petróleo -- não chega para as encomendas, as grandes potências assemelham-se cada vez mais a uma manada de elefantes dentro de uma loja de antiguidades! Eis dois exemplos chegados ontem e hoje à minha caixa de correio sobre o tipo de acções chinesas que preocupam cada vez mais a Europa e os Estados Unidos:
    China desenvolve o combóio mais rápido do mundo, entre Pequim e Xangai

    PEQUIM (AFP) - A China pretende desenvolver, com tecnologia própria, o trem mais rápido do mundo, com velocidade máxima de 380 km/h, na linha que será criada entre Pequim e Xangai, noticiou o jornal China Daily. -- in China Daily (versão original).

    Iraq approves $3b oil deal with China

    BAGHDAD - Iraq on Tuesday cleared a plan to develop an oil field by China National Petroleum Corp. (CNPC) at a service fee of US$6 a barrel.

    Iraqi Oil Minister Hussein al-Shahristani said the cabinet had approved the three-billion-dollar deal that will see China's State-owned company developing the Al-Ahdab oil field in the central Shiite province of Wasit. -- in China Daily.

OAM 426 03-09-2008 20:21 (última actualização 15:44)

terça-feira, setembro 02, 2008

Eurasia adiada - 5

O novo império do Oriente
derrota olímpica, implosão americana e debandada europeia - explosivo!
Here are the principles, in the words which President Medvedev used in an interview with the three main Russian TV channels (translated by the BBC Monitoring Service).

1. International law

"Russia recognises the primacy of the basic principles of international law, which define relations between civilised nations. It is in the framework of these principles, of this concept of international law, that we will develop our relations with other states."

2. Multi-polar world

"The world should be multi-polar. Unipolarity is unacceptable, domination is impermissible. We cannot accept a world order in which all decisions are taken by one country, even such a serious and authoritative country as the United States of America. This kind of world is unstable and fraught with conflict."

3. No isolation

"Russia does not want confrontation with any country; Russia has no intention of isolating itself. We will develop, as far as possible, friendly relations both with Europe and with the United State of America, as well as with other countries of the world."

4. Protect citizens

"Our unquestionable priority is to protect the life and dignity of our citizens, wherever they are. We will also proceed from this in pursuing our foreign policy. We will also protect the interest of our business community abroad. And it should be clear to everyone that if someone makes aggressive forays, he will get a response."

5. Spheres of influence

"Russia, just like other countries in the world, has regions where it has its privileged interests. In these regions, there are countries with which we have traditionally had friendly cordial relations, historically special relations. We will work very attentively in these regions and develop these friendly relations with these states, with our close neighbours."

Asked if these "priority regions" were those that bordered on Russia he replied: "Certainly the regions bordering [on Russia], but not only them."

And he stated: "As regards the future, it depends not just on us. It also depends on our friends, our partners in the international community. They have a choice."

Em Atlanta, 1996, a China não figurava no pódio dos três países mais medalhados das Olimpíadas. Em Sydney, 2000, apareceu no terceiro lugar. Em Atenas, 2004, surgiu em segundo. Em Pequim, 2008, subiu ao primeiro lugar do ouro, ficando a 10 medalhas dos EUA no total de subidas ao pódio. Em 2012, na cidade de Londres, aposto 1000 Yuans que ultrapassará todos os países do mundo no ouro e no número total de medalhas.

Os chineses trabalham com objectivos e metas bem definidos. Uma dessas visões de longo prazo, descrita por Zhou Enlai, em 1975, pouco antes de morrer, e logo retomada por Deng Xiaoping, em 1978, assim que chegou aos comandos da China pós-maoista, chama-se As Quatro Modernizações (Agricultura, Indústria, Tecnologia e Defesa). O propósito declarado desta programação foi transformar a China numa grande potência económica até ao início do século 21. Objectivo atingido! Menos conhecida publicamente, mas fundamental, nomeadamente para a adaptação que o Ocidente terá que sofrer, foi a decisão de elevar a China ao primeiro lugar do pódio das grandes potências mundiais no prazo de 50 anos, i.e., até 2025. Não tenho dúvidas que o objectivo será conseguido. Falta agora aos americanos e europeus tirarem as devidas ilações desta deslocação tectónica do centro de gravidade civilizacional.

Ao contrário do que vem sucedendo nos Estados Unidos e na União Europeia, países em geral atolados numa multinacional orgia de dívidas públicas e privadas, que têm vindo a ser protegidas (pelo menos até que os russos começaram a pôr ordem no Cáucaso e no Cáspio), pelo saco azul japonês chamado carry-trade, pelas ilhas piratas que guardam todo o dinheiro negro do mundo (algumas delas sob suserania da decadente coroa britânica) e pela cada vez menos convincente hegemonia militar euro-americana, as potências emergentes do século 21 (China, Rússia, Índia, Irão, Brasil e África do Sul) apostam em três factores competitivos, virtualmente imbatíveis, para a sua meteórica ascensão económica. O efeito prático desta emergência estratégica espontânea será desfigurar muito rapidamente o actual figurino da globalização à moda da Europa-América. Ora os três factores são estes:
  1. nacionalização, ou re-nacionalização, dos seus extraordinários recursos estratégicos minerais, energéticos e alimentares;
  2. modernização tecnológica das economias e dos processos de trabalho apoiada numa quase inesgotável mina de recursos humanos cada vez mais qualificados, disciplinados, ambiciosos e relativamente baratos;
  3. imposição de um proteccionismo económico, comercial e financeiro draconiano (a não convertibilidade de muitas moedas "fracas" dos países emergentes é um truque que funciona lindamente!)
Bastou à China entender como chegou o Japão onde chegou em pouco mais de 30 anos de proteccionismo feroz, para copiar a receita e passá-la aos demais países em desenvolvimento. No fundo, a receita é simples: manter o preço do trabalho em níveis muito competitivos; vender barato; competir agressivamente nas compras de energia, matérias primas e alimentos; comprar caro, ou de preferência, não comprar, se não algumas poucas extravagâncias e luxos para os muito ricos; desvalorizar sistematicamente a moeda nacional face ao cabaz das principais moedas-fortes mundiais (USD, Euro, Libra Esterlina e Franco Suiço); emprestar dinheiro a juros muito baixos (ou mesmo sem juros!) aos exportadores nacionais e aos importadores estrangeiros; comprar dívida pública aos países ricos; aproveitar todas as oportunidades para adquirir empresas, tecnologias e recursos em saldos. Em suma, proceder paulatinamente a uma verdadeira transfusão dos chamados fundamentos da economia entre as potências decadentes e as potência emergentes. Se bem repararam, nas Quatro Modernizações da China, a Defesa vem em último lugar. É que não se pode querer pão, manteiga e armas ao mesmo, por tempo indeterminado. Quem o pretende fazer acaba por exaurir os respectivos recursos, por se tornar um vizinho agressivo e finalmente por falir. Tem sido assim a ascensão e queda de todos os impérios conhecidos. Vale a pena ler, sobre este crucial tema dos nossos dias, o extraordinário estudo de Paul Kennedy, The Rise and Fall of the Great Powers - Economic Change and Mlitary Conflict from 1500 to 2000. Acabei de o reler durante as férias.

No momento em que os Estados Unidos e o seu satélite europeu acabam de debandar do episódio funesto da Geórgia (uma operação montada e guiada no terreno pelos Estados Unidos e por Israel), perdendo assim uma importante partida no Grande Jogo da Eurásia, prosseguido até agora nos termos imperiais teorizados por Zbigniew Brzezinski (ler os seus dois fundamentais livros The Grand Chessboard e Second Chance), a União Europeia fica entalada entre duas opções, uma boa e outra suicida:
  • ou distanciar-se prudentemente do amigo da onça americano, lançando-se na defesa autónoma dos seus interesses regionais (pois é disso que se trata!), procurando assim um novo espaço de manobra e diálogo com a Rússia, o Irão e a China;
  • ou deixar-se morrer na sua dourada mas decrépita Torre de Babel, dirigida por anões e vassalos corruptos de toda a espécie, sob os efeitos mortais da conspiração permanente de algumas das mais sinistras forças do vampirismo capitalista ocidental, dispostas a lançar o mundo numa Terceira Guerra Mundial, exclusivamente em nome da sua infinita soberba e avareza.
A União Europeia, do ponto de vista estratégico, ainda não existe, como ficou provado à saciedade pelos seus comportamentos erráticos nas invasões do Afeganistão e do Iraque, na capitulação efectiva da Europa face aos ditames do Sionismo euro-americano, na provocação sem nome à Sérvia (e à Rússia) na questão do Cosovo, nos jogos de provocação anti-chineses durante a preparação dos Jogos Olímpicos, e agora, no comportamento ridículo face ao reajustamento inevitável da segurança junto às fronteiras da Rússia. A tentativa americana e sionista de bloquear os flancos da Rússia e da China fracassou estrondosamente.

Apesar da fabricação mediática constante da imprensa e das televisões dominantes (a raiar a demência deontológica no caso dos média portugueses), gostaria de sublinhar o seguinte:
  1. Quem desenhou e provocou a crise da Geórgia, medindo mal a passada (está claro!), foram os Estados Unidos e Israel -- Putin já deu a entender que pode exibir ao mundo as criaturas que andaram a treinar, dirigir operações e aterrorizar os alanos da Ossétia do Sul;
  2. Quem pretende isolar a Rússia da Europa Ocidental (e a União Europeia da Rússia) são os Estados Unidos da pandilha criminosa Bush-Cheney e Israel, acolitados pelo caniches "trabalhistas" da rainha das Ilhas Britânicas e das Ilhas piratas de Guernsey e Jersey;
  3. No que diz respeito à legitimidade da resposta russa à tentativa de limpeza étnica promovida pelos fantoches georgianos junto dos agora estados independentes da Ossétia do Sul e da Abcácia, a Rússia, assim como os novos estados do Cáucaso, têm neste momento o apoio implícito da maioria dos países com assento na ONU, pelo que ninguém ouviu nenhum país, além dos Estados Unidos, da União Europeia e de alguns polacos, ucranianos e checos, condenar o novo status quo (nem mesmo Israel!);
  4. A posição conjunta assumida pela União Europeia na reunião de ontem, 1 de Setembro, depois das habituais confusões de interesses, dependências, projectos e protagonismos narcisistas, foi uma não-posição e mais uma lamentável exposição pública da actual fraqueza política da União Europeia;
  5. Os fiascos sucessivos do imperialismo ocidental no Afeganistão, Iraque, Palestina, Líbano e Geórgia irão certamente acelerar o potencial de atracção económica, política e cultural da constelação de países da Shanghai Cooperation Organization (SCO), junto de importantes países, como a Índia, o Irão, o Iraque (daqui a três ou quatro anos), o Paquistão, a Mongólia, o Brasil, a Venezuela, Nigéria, Angola e África do Sul;
  6. Finalmente, é preciso divulgar o cerne da declaração da SCO sobre a crise na Geórgia, para bem compreender o envolvimento efectivo desta associação antitética da OCDE na decisão russa de travar de uma vez por todas o cerco descarado da NATO às principais reservas de petróleo e gás natural do planeta e a concomitante tentativa de limitar a mobilidade da Rússia, da China e em geral da Eurásia central e oriental nas suas naturais zonas de vizinhança:
    "The member states of the SCO express their deep concern in connection with the recent tension around the issue of South Ossetia, and call on the relevant parties to resolve existing problems in a peaceful way through dialogue, to make efforts for reconciliation and facilitation of negotiations.

    The member states of the SCO welcome the approval on 12 August 2008 in Moscow of the six principles of settling the conflict in South Ossetia, and support the active role of Russia in promoting peace and cooperation in the region." -- SCO.
Não é preciso ser muito esperto para perceber o significado destas palavras. A China e as repúblicas do Mar Cáspio dão total carta branca à Rússia para responder a quem iniciar hostilidades no Cáucaso, bem como para promover activamente a paz e a cooperação regional, secundarizando displicentemente a própria existência da Geórgia no seu actual formato de estado vassalo dos Estados Unidos. O taco-a-taco (tit for tat) a que temos assistido desde a derrota fulminante da provocação americana-israelita, levada a cabo pelo proxi georgiano, é a prova esclarecedora de que a China apoia totalmente a Rússia na recuperação da sua mobilidade estratégica essencial. Mas para ser totalmente claro, nas suas intenções, o grupo dos seis (Rússia, China, Cazaquistão, Quirguistão, Tajiquistão e Uzebequistão) pormenorizou o seu pensamento através do comentário informal do actual presidente do Cazaquistão, a mais rica república do Cáspio, com 25,6% de população russa:
"I am amazed that the West simply ignored the fact that Georgian armed forces attacked the peaceful city of Tskhinvali. Therefore my assessment is as follows: I think that it originally started with this. And Russia's response could either be to keep silent, or to protect their people and so on. I believe that all subsequent steps taken by Russia have been designed to stop the bloodshed of ordinary residents of this long-suffering city. Of course there are many refugees, many homeless. Guided by our bilateral agreement on friendship and cooperation between Kazakhstan and Russia we have provided humanitarian aid: 100 tonnes have already been sent. We will continue to provide assistance together with you.

Of course, there was loss of life on the Georgian side - war is war. The resolution of the conflict with Georgia has now been shifted to some indeterminate time in the future. We have always had good relations with Georgia. Kazakhstan’s companies have made substantial investments there. Of course those that have done this want stability there. The conditions of the plan that you and [President of France Nicolas] Sarkozy drew up must be implemented, but some have begun to disavow certain points in the plan. However, I think that negotiations will continue and that there will be peace -- there is no other alternative. Therefore, Kazakhstan understands all the measures that have been taken, and Kazakhstan supports them. For our part we will be ready to do everything to ensure that everyone returns to the negotiating table. -- Nurusultan Nazarbayev (Presidente do Cazaquistão), in President of Russia, Official Web Portal.

Por fim, uma nota que não deixa de ser curiosa, e que pode prenunciar uma divisão de tarefas entre a China e a Rússia na presente exploração das dificuldades cada vez maiores dos Estados Unidos e da Europa em lidar com as suas próprias decadências. Enquanto a Rússia recupera o seu lugar de super-potência militar, indisposta a aceitar por mais tempo a tagarelice imperial estado-unidense, a China vai tornando a sua voz económica cada vez mais grossa perante uma América hiper-endividada e que dá preocupantes sinais de não querer pagar aos seus credores internacionais. É o que se chama um casamento de interesses feliz e oportuno. Mesmo que não seja para sempre, que importa?
Freddie, Fannie Failure Could Be World 'Catastrophe,' Yu Says. By Kevin Hamlin.

Aug. 22 (Bloomberg) -- A failure of U.S. mortgage finance companies Fannie Mae and Freddie Mac could be a catastrophe for the global financial system, said Yu Yongding, a former adviser to China's central bank.

"If the U.S. government allows Fannie and Freddie to fail and international investors are not compensated adequately, the consequences will be catastrophic," Yu said in e-mailed answers to questions yesterday. "If it is not the end of the world, it is the end of the current international financial system."



REFERÊNCIAS

Vladímir Putin à CNN sobre a agressão georgiana:
Even during the years of the Cold War, the intense confrontation between the Soviet Union and the United States, we always avoided any direct clash between our civilians and, most certainly, between our military.

We have serious reasons to believe that there were U.S. citizens right in the combat zone. If that is the case, if that is confirmed, it is very bad. It is very dangerous; it is misguided policy

But, if that is so, these events could also have a U.S. domestic politics dimension.

If my suppositions are confirmed, then there are grounds to suspect that some people in the United States created this conflict deliberately in order to aggravate the situation and create a competitive advantage for one of the candidates for the U.S. presidency. And if that is the case, this is nothing but the use of the called administrative resource in domestic politics, in the worst possible way, one that leads to bloodshed. -- in Transcript: CNN interview with Vladimir Putin.

Russia remains a Black Sea power
"If the struggle in the Caucasus was ever over oil and the North Atlantic Treaty Organization's (NATO's) agenda towards Central Asia, the United States suffered a colossal setback this week. Kazakhstan, the Caspian energy powerhouse and a key Central Asian player, has decided to stand shoulder-to-shoulder with Russia over the conflict with Georgia, and Russia's de facto control over two major Black Sea ports has been consolidated."

"... With the independence of South Ossetia and Abkhazia, what matters critically for Moscow is that if the West now intends to erect any new Berlin Wall, such a wall will have to run zig-zag along the western coast of the Black Sea, while the Russian naval fleet will always stay put on the east coast and forever sail in and out of the Black Sea.

"The Montreal Convention assures the free passage of Russian warships through the Straits of Bosphorous. Under the circumstances, NATO's grandiose schemes to occupy the Black Sea as its private lake seem outlandish now. There must be a lot of egg on the faces of the NATO brains in Brussels and their patrons in Washington and London." -- M K Bhadrakumar, in Asia Times Online.

Punishing Russia could prove costly
By Mikhail Molchanov
South Ossetia had never been a part of Georgia until Joseph Stalin separated the Ossetian homeland into two parts and attached the northern part to Russia, while giving the South to Stalin's native Georgia. -- in Asia Times Online.

Russian pipeline to Asia

MOSCOW, Aug 31 (Reuters) - Prime Minister Vladimir Putin said on Sunday that Russia's first oil pipeline to Asia must be completed without delay, underlining Russia's energy clout just hours before European Union leaders meet to discuss Georgia. -- in Wiredispatch.

Russia's Gazprom Suspends Gas Deliveries to Europe Due to Repairs
Gas transportation through the Yamal-Europe pipeline will be suspended as of 1600 on 2 September until 2200 on 3 September due to repairs, a Gazprom report reads. -- in redOrbit.
Let's talk about World War III
By Nikolai Sokov

It is time to seriously contemplate World War III. The most important elements are already in place. Just as so many experts on the Caucasus have predicted, the region has become a power keg and the main source of great-power rivalry.

Obviously, disagreements between great powers go far beyond this region and, in fact, conflicts and war in the Caucasus are rather insignificant in their grand games and calculations. Yet the United States, the North Atlantic Treaty Organization (NATO), and Russia all have important symbolic stakes there - there are promises to local players and fears that abandoning them might hurt reputation and global standing.-- in Asia Times online.

OAM 425 02-09-2008 15:59 (última actualização: 03-09-2008 01:32)