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sábado, abril 30, 2011

A Frente Populista

PCP, Bloco e... PS apostam na bancarrota de Portugal

Álvaro Santos Pereira: votar no actual Governo “é votar na bancarrota”

"Vão haver consequências muito graves se votarmos no Governo atual. Votar no Governo atual, quando a mim é votar na bancarrota, é votar para os nossos filhos emigrarem, é votar para ter a maior taxa de desemprego dos últimos 90 anos, votar neste Governo é votar na irresponsabilidades e certamente votar na bancarrota do país", afirmou o economista durante a sua apresentação no evento final do movimento "Mais Sociedade" — in Jornal de Negócios (29-04-2011).

Sócrates e a União Europeia

Já aqui escrevemos sobre a possível vantagem negocial de, uma vez claramente falidos (situação em que efectivamente nos encontramos), negociarmos a bancarrota directamente com os nossos principais credores (Espanha, Alemanha, França e Reino Unido), em vez de negociar um resgate com o Fundo Europeu de Estabilização Financeira e o FMI. Na primeira opção, os nossos credores poderiam ser convencidos a aceitar um corte nas suas expectativas de lucro com a dívida portuguesa (o tal "hair cut"); mas na opção que Bruxelas e Frankfurt querem, Portugal fica fora dos mercados de financiamento externo enquanto durar a quarentena do resgate, e vê diminuir a margem de negociação à medida que a situação evolua num ou noutro sentido.

Em que ficamos? Quem irá esticar a corda? Sócrates? Se o fizer, terá que se socorrer de uma viragem bem nítida em direcção aos partidos à sua esquerda. O PCP já defende algo parecido com a negociação directa com os credores, fora da tutela do FMI (uma posição negocial de total realismo). Este golpe de asa, por incrível que pareça, poderia colocar toda a zona euro perante um enorme dilema: retirar a Portugal o euro, dando início a um inevitável Harakiri da moeda única; ou aceitar um grande debate político sobre o buraco negro do endividamento soberano europeu — de onde pudesse sair simultaneamente uma governação económica e financeira comunitária mais coerente e coesa, mas também mais solidária — in “O grande tuga”, O António Maria (10-04-2011).

Lendo o Expresso de hoje, 30 de abril, verifiquei que o debate sobre as alternativas para tratar da falência do país, a que dez anos de estagnação e seis de roubalheira e manipulação de massas, ao compasso diário de um tele-ponto mentiroso e obsessivo-compulsivo, nos conduziram, já está ao rubro. Inspiradas pelo Economist, multiplicam-se as opiniões que defendem uma reestruturação da nossa dívida colectiva, i.e. a assunção da bancarrota.

Que é melhor para Portugal? Assinar um contrato de resgate financeiro com a troika da Comissão Europeia, BCE e FMI, ou preparar desde já o terreno para uma reestruturação da dívida com os principais credores: Espanha, Alemanha, França e Reino Unido? O PSD, o CDS e parte do PS inclinam-se claramente para a primeira alternativa. O PCP tem vindo a defender a segunda opção. O Bloco de Esquerda, ao excluir, como o PCP, qualquer contacto com a troika, inclinar-se-à em breve para o cenário da ruptura de pagamentos e subsequente reestruturação da dívida soberana.

No primeiro caso, ainda que temperado pelo aparente bom senso do FMI, que se tem oposto à fúria liberal do BCE e do senhor Barroso, seremos forçados a adoptar um conjunto de medidas de grande austeridade, em troca do dinheiro adiantado pela troika para pagamento das dívidas inadiáveis, ao longo dos próximos três anos. Neste período, a redução do endividamento será uma prioridade absoluta, ficando a entrada de euros no país dependente do cumprimento do acordo que os credores e fiadores da nossa dívida exigem ver assinado até meados de maio pelos principais partidos do arco da governação (PS, PSD e CDS-PP). Neste período, se o acordo for mesmo conseguido, como se espera, a democracia portuguesa e o seu imprestável sistema partidário e constitucional ficarão suspensos numa espécie de quarentena, ou sanatório — como em tempos, num acto falhado premonitório, Manuela Ferreira Leite sugeriu!

Na alternativa em que o Economist, o Financial Times e em geral a frente anglo-saxónica anti-euro apostaram, mais cedo ou mais tarde, mesmo havendo um resgate inicial (que falhará, dizem, como na Grécia já falhou) é inevitável uma reestruturação das dívidas soberanas dos PIGS e, como consequência, o colapso do euro — objectivo estratégico do dólar-libra na sua guerra pela manutenção da moeda americana como principal meio de pagamento internacional.

Esta segunda opção supõe, no essencial, o seguinte: os países altamente endividados, interna e externamente, como a Grécia, a Irlanda, Portugal e Espanha —elos fracos de uma crise de endividamento especulativo mundial—  irão acabar por anunciar ao mundo que não poderão pagar parte das suas dívidas, alegando impossibilidade prática de o fazer, mas também que a responsabilidade das mesmas deve ser justamente repartida entre quem pediu e não deveria ter pedido, e quem emprestou e não deveria ter emprestado.

Será este o jogo escondido de Sócrates? Se for, precisará de fazer uma frente populista com o Bloco e com o PCP, que o senhor Cavaco terá naturalmente que empossar!

A minha convicção, porém, é que o FMI estará atento a esta deriva populista e ao consequente descarrilamento do sistema monetário europeu. Não podemos, no entanto, deixar de contar com os imponderáveis em crises como a que atravessamos. Se um país da União Europeia rejeitar o auxílio a Portugal, que acontecerá em Lisboa, e depois em Bruxelas, Paris e Berlim?

Numa perspectiva mais ampla e a mais longo prazo, porém, Portugal terá sempre que pagar a sua dívida, ou boa parte dela. E mais do que isso: terá que aprender muito rapidamente a mudar de hábitos e atitudes. A nossa Constituição terá que mudar, o nosso Estado terá que encolher, os nossos partidos terão que ser refundados, a burguesia encostada ao orçamento terá que ir à vida, e o povo terá que ser menos bovino. O velho mundo colonial morreu … acordem!!

domingo, abril 10, 2011

O grande tuga

Sócrates prepara Frente Populista

"Unidade não é unanimidade, porque isto não é o PC chinês e não é o partido da Coreia do Norte do Kim Jong II"— Ana Gomes (DN)


PR: É "crucial" que próximo Governo seja um executivo maioritário.
O Presidente da República, Aníbal Cavaco Silva, congratulou-se hoje por os partidos já terem reconhecido que o próximo Governo terá ser de um executivo com apoio maioritário na Assembleia da República (DN).

Sócrates prepara com Ferro Rodrigues e Manuel Alegre uma Frente Populista para a eventualidade de ter que subir a parada das negociações do contrato de resgate da dívida pública portuguesa que começam na próxima terça-feira em Lisboa. Se for preciso travar o ímpeto usurário de alguns bárbaros europeus, Sócrates poderá dizer "não" às condições que comprometam irremediavelmente qualquer possibilidade de crescimento económico, de criação de emprego ou de manutenção de níveis de segurança social semelhantes aos dos demais estados da União. Para já, o xeque-mate às finanças públicas, lançado pelo BCE (1), será o grande alimento de toda a campanha eleitoral, e uma tremenda prova de esforço para a moeda única europeia. Mais do que a Grécia e a Irlanda, Portugal colocará verdadeiramente à prova a seriedade do projecto franco-alemão.

Sócrates e o congresso do PS

Ouvi e vi com irritação que baste as intervenções do teleponto de José Sócrates. O mitómano anunciou, com a prosápia, lata e cinismo que se lhe conhecem, a litania da campanha PS para as eleições antecipadas do próximo dia 5 de Junho. Falou sempre e só para o seu eleitorado, pretendendo ludibriar uma vez mais a sua potencial base eleitoral de apoio — com optimismo, mentiras piedosas e promessas vãs.

A unanimidade coreana demonstrada pelos 97,2% dos votos que o reelegeram, e o calculismo dos candidatos "socialistas" à sua sucessão, estampam sem vergonha a democracia que temos: endogâmica, irresponsável, partidocrata e ligada a meia dúzia de grupos económico-financeiros que não conseguem sobreviver fora do perímetro orçamental suportado pelos nossos impostos e pelos empréstimos externos. A saída do PS da esfera governativa significará o desemprego imediato para dezenas de milhar de "famílias socialistas" e respectivos clientes ou fornecedores. A origem da unanimidade é assim natural: medo de perder um emprego pouco exigente e bem pago.

A reforma da administração do Estado, que terá como consequência a diminuição inevitável do número de funcionários públicos e equiparados, e a eliminação pura e simples de centenas, ou mesmo milhares (a prazo mais longo) de organismos e burocracias inúteis, assusta uma zona ainda mais ampla do eleitorado, que o demagogo Sócrates convoca, uma vez mais, para o ajudar a sobreviver como pináculo de uma verdadeira rede de interesses ilegítimos, de temperamento claramente mafioso, predadora e, em última instância, como se viu, ruinosa para o país.

Ou seja, a estratégia eleitoral de Sócrates é evidente: salvar a rede de empregos partidários criada ao longo das últimas décadas, salvar a tríade de Macau, e prometer aos funcionários públicos o impossível: emprego durável e regalias, privilégios e vencimentos acima dos que existem no sector privado. Estas promessas contrastarão com as imagens negras que desenharão dos adversários: o PCP e o Bloco —porque são bota-abaixo; o PSD e o CDS, porque querem privatizar tudo, e despedir todos os funcionários públicos.

Sócrates e a União Europeia

Já aqui escrevemos sobre a possível vantagem negocial de, uma vez claramente falidos (situação em que efectivamente nos encontramos), negociarmos a bancarrota directamente com os nossos principais credores (Espanha, Alemanha, França e Reino Unido), em vez de negociar um resgate com o Fundo Europeu de Estabilização Financeira e o FMI. Na primeira opção, os nossos credores poderiam ser convencidos a aceitar um corte nas suas expectativas de lucro com a dívida portuguesa (o tal "hair cut"); mas na opção que Bruxelas e Frankfurt querem, Portugal fica fora dos mercados de financiamento externo enquanto durar a quarentena do resgate, e vê diminuir a margem de negociação à medida que a situação evolua num ou noutro sentido.

Em que ficamos? Quem irá esticar a corda? Sócrates? Se o fizer, terá que se socorrer de uma viragem bem nítida em direcção aos partidos à sua esquerda. O PCP já defende algo parecido com a negociação directa com os credores, fora da tutela do FMI (uma posição negocial de total realismo). Este golpe de asa, por incrível que pareça, poderia colocar toda a zona euro perante um enorme dilema: retirar a Portugal o euro, dando início a um inevitável Harakiri da moeda única; ou aceitar um grande debate político sobre o buraco negro do endividamento soberano europeu — de onde pudesse sair simultaneamente uma governação económica e financeira comunitária mais coerente e coesa, mas também mais solidária.

A bolha do euro

Rebentou a grande bolha imobiliária do Subprime, que começou nos EUA e bateu depois em força na Europa. Estamos no meio do rebentamento em dominó das gigantescas bolhas soberanas irlandesa, grega, portuguesa, espanhola, americana, inglesa... E muito em breve teremos pela frente a grande bolha do euro!

O capital especulativo correu e afocinhou na construção civil. Depois este mesmo capital especulativo correu e afocinhou nas grandes obras públicas e na voracidade orçamental de países cada vez menos produtivos e mais consumistas, envelhecidos e socialmente protegidos pelos respectivos governos.

O capital especulativo corre agora em direcção ao euro, na expectativa das inevitáveis operações de resgate das dívidas públicas e privadas dos países da moeda única virem a ser financiadas pela China, e pelos grandes produtores de petróleo, gás natural e recursos alimentares. Ou seja, chegou a vez de a União Europeia começar a fabricar dívida soberana à escala continental, oferecendo aos grandes detentores mundiais de reservas financeiras uma alternativa mais interessante do que as depauperadas moedas americana e inglesa. Se a Europa não mudar, ou se mudar mal, esta bolha irá rebentar com um estrondo absolutamente catastrófico. É portanto o momento certo para discutir a história do euro. E se Sócrates provocar este debate, adeus Passos de Coelho!

Os PIGS não são Bárbaros, Protestantes, nem sequer Calvinistas. Nunca foram, nunca o serão, e já por cá andam a civilizar-se há mais tempo do que os moralistas que agora querem humilhar-nos. Cautela, portanto.

Quem inventou o euro à pressa e à pressa encheu o saco da Eurolândia de países e mais países, com graus de desenvolvimento económico, social, técnico e cultural muito diversos, foi a Alemanha. E se assim fez foi porque precisava de aumentar rapidamente o "seu" mercado interno. Deu euros a quem tinha marcos (numa relação de 1/1) e deu euros a quem tinha escudos (numa relação de 1/200), tornando de um dia para o outro, portugueses, espanhóis, gregos e irlandeses, que antes se deslocavam em automóveis Renault 5 e Opel Corsa, à razão de 3 a 4 indígenas por carro, em compradores deslumbrados de automóveis BMW, Mercedes, Golf e Audi, à razão de 1 a 2 novos-ricos por automóvel!

A Alemanha financiou, com a sua poupança, o alargamento do mercado europeu, forçando a emergência em catadupa de uma Eurolândia ávida de consumo conspícuo e bem estar social. O PIB nesta zona do mundo cresceu, porém, mais pela via do consumo e do endividamento do que pela via da produção, das exportações para fora do espaço comunitário, e da poupança. Quando este mercado amadureceu, isto é quando Portugal, por exemplo, passou a ter uma casa para cada duas pessoas, e 5,7 milhões de automóveis para 10,6 milhões de pessoas, e autoestradas vazias, como a A17, onde ontem, uma vez mais, percorri centena e meia de quilómetros, entre Aveiro e Alcobaça, como se estivesse num autódromo alugado, a Alemanha procurou outros mercados, entretanto aptos para os seus produtos de qualidade, ao mesmo tempo que emprestava aos novos europeus de leste dinheiro para se desenvolverem e comprar tecnologia e marcas alemãs. Em Xangai, em 1999, quem tinha automóvel (sobretudo taxistas), conduzia invariavelmente um Volkswagen Santana de lata mal batida; agora, os novos e orgulhosos urbanoides de Pequim e Xangai enchem as ruas de Mercedes, Audis e BMW.

Para a Alemanha, é hora de os PIGS pagarem as suas dívidas, em boa parte porque nestes países os mercados amadureceram, o boom consumista chegou ao fim, e as explosões das bolhas imobiliária e das dívidas soberanas obrigam a suspender os fluxos especulativos das últimas duas décadas, sob pena de os fundos de investimentos alemães, muitos deles financiados com pensões de reforma, caminharem rapidamente para o colapso.

Eu entendo o problema. Mas também me parece evidente que as responsabilidades devem ser justamente partilhadas. Maior controlo orçamental na Eurolândia? Menos burocracia? Menos clientelismo? Menos corrupção comunitária e inter-governamental? Mais transparência? Maior coerência estratégica comunitária? Mais imaginação? Melhor iniciativa privada? Menos corrupção e menos desperdício na economia social? Sim a tudo isto— e já! Mas é preciso enfrentar primeiro e com coragem o principal problema desta Europa: sem outro modelo cultural de desenvolvimento, estaremos irremediavelmente condenados ao desastre.

NOTAS
  1. "Banco de Portugal e BCE não deram indicações à banca para não comprar dívida" (A Bola, 10-04.2011). Este desmentido segue-se ao de Jean-Claude Trichet sobre o mesmo assunto. Bem me parecia que o tema, aqui abordado na semana assada, e hoje reiterado, era sensível para o Sistema Monetário Europeu.  [11-04-2011 0:43]

sexta-feira, dezembro 03, 2010

Bancarrota-8

Pausa para respirar... e agir

A guerra financeira entre o dólar (pegado à libra) e o euro prossegue, com golpes baixos e muitos sorrisos. Os analistas anglo-saxónicos pintam diariamente quadros negros sobre o continente europeu, e Trichet lá vai respondendo de forma imprevisível e por vezes surpreendente ("Europe needs budgetary federation" — EUobserver"). O BCE andou e anda a comprar dívida soberana no mercado secundário. Bastou esta notícia não confirmada directamente pelo BCE, mas que quem comprou divulgou anonimamente, para os especuladores abrandarem os seus ataques aos flancos mais frágeis da dívida soberana europeia: Grécia, Irlanda, Portugal... e Espanha.

Jean-Claude Trichet disse hoje que o BCE continuará a comprar dívida pública dos países do euro e pediu sanções automáticas para os países que falhem compromissos orçamentais.

(…) O presidente da instituição escusou-se, no entanto, a pronunciar-se directamente sobre as informações publicadas pela imprensa sobre a compra em grande quantidade de títulos de dívida portugueses e irlandeses na quinta-feira.

(…) Na mesma conferência, o presidente do BCE pediu um sistema de sanções quase automáticas para os países que não cumpram os compromissos orçamentais, insistindo que os governos devem credibilizar os programas de ajustamento e reformas estruturais. — in "Trichet pede sanções automáticas e garante que BCE vai continuar a comprar dívida", 03 Dezembro 2010 | Jornal de Negócios com Lusa.

Este recuo dos especuladores é, porém, meramente táctico, pois o problema de fundo subsiste: a dívida soberana europeia é uma bolha especulativa gigantesca (ver este gráfico de maio —Europe's Web of Debt—do NYT) e vai acabar por rebentar. Daí que seja da mais elementar prudência pagar todas as nossas dívidas quanto antes, não contrair mais empréstimos, aplicar as poupanças em bens duradouros com uma grande valorização potencial (ouro, terra fértil, casas em segunda mão bem localizadas e a bom preço, e pouco mais), evitar investimentos especulativos em produtos financeiros e seguros mal explicados e de duvidosa proveniência (1).

A perspectiva sombria de um estouro da moeda única europeia não está —muito longe disso— afastada do horizonte mais próximo. Como não estão também afastadas as probabilidade reais de uma quarentena fora do euro para alguns dos leitões da Europa (PIGS), que nada devem à fama que os suínos sempre tiveram em matéria financeira — criar um porco foi, durante milénios, uma boa forma de investimento e de poupança.

Uma coisa é certa: espera-nos uma década de contínuo empobrecimento, pois os juros anuais da nossa dívida pública (6,5 mil milhões de euros em 2010, ou seja, qualquer coisa como 6,5 pontes Vasco da Gama) já ultrapassam tudo o que gastamos com a nossa alimentação! Se não pararmos imediatamente todas as Parcerias Público Privadas no sector da saúde e dos transportes, se não adiarmos a Alta Velocidade (à excepção da ligação para passageiros e mercadorias entre o Pinhal Novo e Caia) e não afastarmos para as calendas gregas o monstro aeroportuário da Ota em Alcochete, seremos inexoravelmente expulsos da Eurolândia. É uma aposta que faço com os meus leitores.

Há, porém, sinais de esperança. A venda do diário "i" pelo Grupo Lena é um sintoma claro de que as obras públicas já pararam, por falta de objectivos sensatos, por falta de financiamento e porque os projectos anunciados revelarem todos uma rentabilidade nula fora do regaço protector do agora obviamente falido cliente Estado. Se até Junho de 2011 (2), o défice e a dívida pública não recuarem para os valores exigidos pelo BCE e pela Alemanha, as penalizações serão a matar. Ou seja, a janela de oportunidade para se fazer o que é preciso fazer é de apenas um semestre. Será este o definitivo prazo de validade de José Sócrates?

Como se a situação portuguesa não fosse suficiente para nos afligir, temos aqui ao lado uma bomba relógio que pode explodir a qualquer momento. Chama-se Espanha (3) e a ela devemos qualquer coisa como 86 mil milhões de euros!

Vivi em Espanha alguns anos e tenho vários amigos do coração por lá. Num painel sobre as televisões autonómicas para o qual fui convidado, creio que no ano 2002 ou 2003, interroguei-me sobre a origem de tanto dinheiro, e sobre a viabilidade futura das autonomias, não pelo lado da sua legitimidade, mas tão simplesmente pelo lado da despesa. Quem pagava então, e quem pagaria no futuro semelhante gasto fiscal? Outro aspecto da sociedade espanhola que me causou sempre igual apreensão foi a dimensão e ineficiência de boa parte dos seus serviços públicos, bem como a presença ostensiva dos grandes oligopólios no quotidiano dos espanhóis. Lá como cá a democracia era e é um bem recente, degustado como uma iguaria deliciosa cujo preço ninguém perguntava, nem pergunta (ou só agora começa a perguntar...) Os resultados que eu temia estão à vista e, claro está, nada pude fazer para os evitar, apesar de ter falado e escrito sobre o tema vezes sem conta.

A situação em Espanha é tanto mais dramática quanto boa parte da população continua anestesiada pelos poderes político-partidários e mediáticos. Lá como cá, os comportamentos chegam a ser de uma irracionalidade impensável. Em Portugal, por exemplo, com o anúncio antecipado da subida do IVA em 2011 (certamente para estimular o crescimento do PIB ainda este ano...), a venda de automóveis aumentou mais de 50% relativamente a 2009. Em Espanha, felizmente para todos, as medidas governamentais têm sido mais sensatas. Mas chegarão? A imprensa anglo-saxónica tem as maiores dúvidas!

— As necessidade financeiras do Estado espanhol para 2011 ascendem a 21% do respectivo PIB, ou seja a 226 mil milhões de euros! Mas os bancos, por sua vez, também precisam de refinanciar as respectivas dívidas num montante de 220 mil milhões de euros!!

(…) Should the EU really impose a 6.7pc interest charge on Ireland’s bail-out loans, it should not be surprised if the new Irish government in January walks away from the whole stinking arrangement, and pulls the plug on Europe’s banking system.

(…) Has Mr Zapatero read the IMF’s devastating Article IV report on his own country? It states that the government’s “gross financing needs” for 2011 will be €226bn, or 21pc of GDP. “Spain’s financing requirements are large and, retaining market confidence will be critical. Spain has exhausted its fiscal space. Targets should be made more credible.”

Madrid must attract €226bn of good money from Spanish savers, German pension funds, French banks, Japanese life insurers, and China’s central bank, so that an incompetent government (this one happens to be socialist, but the Greek conservatives were worse) can continue to run budget deficits of 7pc to 8pc of GDP in 2011. Why should they lend a single pfennig, having already been told by EU leaders that they will face scalping if Spain ever needs a rescue?

(…) Furthermore, Spanish banks will need to roll over €220bn in 2011 and 2012, according to Enrique Goñi, head of Banca Cívica. “We’re in the antechamber of a new liquidity crisis. We’re living through a financial pre-collapse,” he said. — in "Germany faces its awful choice as Spain wobbles", by Ambrose Evans-Pritchard, The Telegraph (29 Nov 2010).

— A Eurolândia (e sobretudo a Alemanha) está metida numa camisa de sete varas. Não pode suportar indefinidamente todas as dívidas soberanas dos membros da união monetária, sob pena de rebentar com a poupança de quem a tem, e colocar a Europa à beira da ruína. E não pode inundar as economias de liquidez, sob pena de desvalorizar perigosamente o euro, criar uma inflação potencialmente incontrolável, e acabar por destruir a moeda única.

(…) Investors’ no-confidence vote in the aid package for Ireland may force European policy makers to expand their arsenal to fight the debt crisis threatening to tear the euro apart.

Options outlined by economists at Societe Generale SA and Barclays Capital include: Boosting the 750 billion-euro ($975 billion) temporary rescue fund or turning it into an asset- buying program; cutting interest rates on bailout loans; issuing joint bonds for the 16 euro nations or flooding the economy with cash from the European Central Bank.

(…) “As the crisis deepens and threatens core countries, the future of monetary union continues to be called into question,” said Chandler. “As the situation becomes more desperate, the unthinkable has to be thought. Quantitative easing by the ECB may be one of the few ways out.”  — in "Contagion May Force EU to Expand Arsenal to Fight Debt Crisis", By Simon Kennedy and James G. Neuger, Bloomberg - Dec 1, 2010.

NOTAS
  1.  Outra opção que começa a ser interessante, e que poderá ser objecto de grande concorrência em breve, são os depósitos a prazo. Consultar esta tabela comparativa de depósitos a prazo, publicada hoje pelo Money GPS.
  2. A portinhola do BCE onde se financiam a 1% os bancos comerciais, para logo comprarem dívida soberana com rendimentos acima dos 5% (6%, 7%, e 9%), ou realizar operações de empréstimos a particulares e empresas com TAEGs acima dos 20%, deveria fechar-se no próximo dia 31 de Janeiro. Mas a necessidade de um contra-ataque do BCE contra o cerco montado pelos estrategas financeiros de Wall Street e da City londrina contra o euro, manterá a dita portinhola do easy money aberta até Junho. É por isso que os próximos seis meses vão der decisivos. E é por isso que a cidadania deverá exercer toda a sua vigilância e pressão sobre a corja político-partidária — do governo, às oposições, passando pelo senhor Cavaco. Os candidatos presidenciais que se opõem ao actual presidente da república são irrelevantes. Por patriotismo, deveriam fazer uma coisa: desistir da farsa eleitoral que aí vem, colocando assim o regime perante as suas responsabilidades. [3-12-2010; 22:40]
  3. Li, já depois de publicado este post, o artigo de Paul Krugman, O Prisioneiro Espanhol, publicado no i [4-12-2010, 1:19]

quinta-feira, abril 15, 2010

Portugal 180

Acordem Portugueses!


  • Former IMF economist says Portugal must be helped now to stop domino effect (FT, April 15 2010
  • Presidente checo ataca países com défice excessivo
    Num encontro com Cavaco Silva, o seu homólogo checo e anfitrião disse que nunca permitiria no seu país uma situação semelhante. Cavaco Silva não fugiu ao tema, mas evitou entrar em polémicas. (RR, 15 Abril 2010
  • Governo aceita parceria na gestão do aeroporto
    Norte duvida da possibilidade do "Sá Carneiro" ser gerido autonomamente (JN, 15 Abril 2010)

UMA DEMOCRACIA DE PIRATAS (A NOSSA) ESTÁ A VENDER LITERALMENTE A INDEPENDÊNCIA DE PORTUGAL AO ESTRANGEIRO - COM ESPECIAL DESTAQUE PARA ESPANHA !!!

  O Estado e a Câmara Municipal de Lisboa estão falidos. Esta é a simples realidade por trás da privatização da TAP e da venda de monopólios de Estado (REN, ANA, EDP) aos especuladores privados internacionais. A outros, como as ÁGUAS DE PORTUGAL, chegará também a vez, se nada fizermos entretanto. Isto é, se não pusermos rapidamente o PS de quarentena, e não formos capazes de eleger um novo presidente da república independente — que nem Alegre, nem Cavaco são (além de que são muitíssimo co-responsáveis pelo estado a que chegámos!)

A venda da ANA serve apenas para financiar a construção do novo aeroporto, o maior elefante branco que a tríade de piratas que nos governa insiste em levar por diante, com o seu exército de advogados e professores-economistas corruptos, para gáudio do BES e da Mota-Engil. Ou seja, entrega-se um negócio público aos especuladores privados para que estes, depois, enquanto monopólio privado, ponham e disponham no transporte aéreo de e para o nosso país!

No entanto, assim como não haverá quem pague as SCUTS, também não haverá quem pague o NAL. O que vem a querer dizer que, seremos todos nós, indiscriminadamente, que pagaremos estes assaltos à riqueza nacional através duma carga letal de impostos e do empobrecimento inexorável da sociedade portuguesa. Os partidos parlamentares são todos responsáveis!

Lembro que uma das causas da falência da Grécia foi precisamente o novo aeroporto de Atenas e a corrupção das Olimpíadas. Por cá será, se não travarmos imediatamente este assalto ao país, o NAL da Ota em Alcochete e o Mundial de Futebol a que Portugal e Espanha concorrem "juntos".

A Espanha (através da FCC), que não brinca em serviço, está a beira de ter as chaves de entrada em Lisboa através da anunciada Terceira Travessia do Tejo (TTT)

A Espanha (através da Ferrovial, que hoje controla os principais aeroportos ingleses), mais cedo ou mais tarde, terá nas mãos a futura ANA , começando obviamente por entrar no consórcio vencedor da privatização da ANA/construção do NAL.

A Espanha, através da Ibéria (que acaba de ver aprovada a sua fusão com a British Airways, indo ambas agora avançar para uma fusão com a American Airlines), fez uma aliança estratégica com o Reino Unido e com os EUA para controlar o espaço aéreo do Atlântico Norte.

Por fim, Espanha tem em marcha uma operação fortíssima para estender a sua plataforma marítima continental atlântica por cima da plataforma portuguesa!

Resumindo: a Espanha tem um plano claro de absorção pacífica de Portugal, posicionando-se como novo vértice de um triângulo estratégico com o Reino Unido e a América. Foi este o sentido profundo da Cimeira das Lajes, em cujas fotografias publicadas em Espanha, nunca apareceu a figura subserviente do cicerone Durão Barroso! Ou muito me engano, ou este gajo é mesmo um agente duplo da CIA.

Precisamos mesmo de um Vladimir Putin antes que o país desapareça!

Ou então que a Maçonaria e os militares retomem seriamente os seus deveres patrióticos.


ÚLTIMA HORA  — Grécia pede reunião com BCE, FMI e Bruxelas

Numa carta endereçada a Jean-Claude Trichet, Dominique Strauss-Kahn e a Olli Rehn, o ministro grego das Finanças, George Papaconstantinou, “solicita conversações” com os três dirigentes, referindo que o faz na sequência do acordo político alcançado neste domingo sobre uma eventual ajuda dos países da Zona Euro à Grécia. (Jornal de Negócios, 15 Abr 2010)

Com as dores da Irlanda, da Bélgica, do Reino Unido, do Japão, ou dos Estados Unidos, todos países com endividamentos descomunais, podemos nós bem! Isto é, devem preocupar-nos menos do que as nossas próprias mazelas. Agora que a Grécia resolveu, por fim, dirigir-se a Bruxelas e ao FMI para que ponham em marcha uma operação de salvamento do endividado e corrupto país onde um dia habitaram filósofos imortais, aproxima-se um fim de semana de cortar à faca! O euro já começou a cair e os detentores de dívida grega já começaram a desembaraçar-se de algo que vale cada vez menos.

Leiam-se estes dois textos —Greece Saved For Now – Is Portugal Next? By Peter Boone and Simon Johnson (The Baseline Scenario, April 11) e Greece And The Fatal Flaw In An IMF Rescue. By Peter Boone and Simon Johnson (April 6, 2010)— em vez da versão grosseira do pensamento destes dois autores publicada pelo Económico de hoje.

Seria preciso qualquer coisa como 150 mil milhões de euros para salvar a Grécia da bancarrota, isto é, os 40-45 mil milhões sugeridos a medo por Bruxelas e pelo FMI não teriam outro efeito que não fosse empurrar o problema com a barriga até ao próximo colapso. Aparentemente, o actual presidente do FMI tem ambições presidenciais em França, ou seja, o socialista Dominique Strauss-Kahn pensa suceder a Sarkozy em 2012. E por este simples motivo de carreira gostaria muito de deixar o problema grego para quem lhe suceder, algures em 2011. Claro que estes cálculos podem sair furados, e o dominó dos defaults soberanos começar muito antes do que todos esperam. Por exemplo, na próxima Segunda Feira!

Os cálculos do senhor Cavaco Silva, que hoje levou um inesperado e muito bem dado raspanete do presidente checo, podem pois estar também viciados por um erro de estimativa. A Alemanha vai tentar salvar o euro a todo o custo, mas este desiderato poderá mesmo implicar uma quarentena de 1, 2, 3, 4 anos fora do euro, para países como a Grécia, a Irlanda, Portugal... e Espanha! Seria o fim do euro? Não creio. Seria o fim dos PIIGs? Também não creio. Mas lá que vai ser um período de lágrimas e ranger de dentes, disso não tenho dúvidas há já muito tempo.


POST SCRIPTUM — O raspanete a Cavaco foi muito bem dado, objectivamente, ou não?

O calculista de trazer por casa, Aníbal Cavaco Silva, inepto presidente da nossa república, em vez de reconhecer os factos denunciados e bem pelo presidente checo, e anunciar que o seu (nosso) país irá corrigir os erros do passado e começar uma nova vida, não! Desculpou-se com o cargo: "eu desde o início vou responder como presidente da república" (não sou primeiro ministro, queria ele dizer na sua). Ora porra!

Cavaco Silva é pelo menos meio responsável pelo estado a que o país chegou. Desde logo porque nunca enviou à Assembleia da República uma mensagem formal e clara sobre o desvario orçamental e a corrupção de Estado, exigindo ao parlamento que fizesse a sua obrigação. Também não denunciou formal e claramente aos deputados a promiscuidade entre o Banco de Portugal, a banca comercial, alguns grandes grupos económico-financeiros e as redes de interesses instalados nos partidos com assento parlamentar (e que capturaram mesmo, para já, um deles — o PS).

Numa palavra (e escrevo agora directamente ao actual presidente da república do meu país):

— senhor Aníbal Cavaco Silva, não peça votos ao povo português para reeleger quem num período crucial da nossa anunciada decadência, nada fez para o impedir, salvo balbuciar algumas mensagens encriptadas que ninguém entendeu! Ou pior ainda, deixar que o seu sinistro Chefe da Casa Civil, Nunes Liberato, tivesse orquestrado a telenovela patética das escutas ao Palácio de Belém. Para quem, como eu, chegou a crer que não havia fumo sem fogo, e depois verificou que tudo se tratara afinal duma operação de contra-informação armadilhada por um aprendiz de feiticeiro ambicioso, mas burro, a confiança em si, Senhor Presidente da República, não poderia deixar de esmorecer e acabar por morrer depois de tão imbecil episódio palaciano.

Como tenho vindo a recomendar, Cavaco Silva deve anunciar quanto antes que não irá recandidatar-se ao cargo que hoje ocupa. O país não irá à falência por isso. Vai à falência, sim, porque tem sido dirigido por gente inepta, corrupta e sem coragem política.


OAM 682—15 Abril 2010 12:41 (última actualização: 16 Abril 2010 15:46)

sexta-feira, abril 02, 2010

Crise Global 74

Quem irá saldar as dívidas públicas?

Depois de os governos terem resgatado os bancos, emprestando-lhes dinheiro virtual (boa parte dele só existe nos computadores!) a custo zero, ou quase, para que depois estes estejam agora numa corrida às dívidas soberanas bem remuneradas de um número crescente de Estados falidos, com grande colaboração dos famigerados paraísos fiscais, quem irá resgatar os países atolados em contas por pagar depois deste Verão?

Irish Banks Need $43 Billion on ‘Appalling’ Lending (Update4)

March 31 (Bloomberg) -- Ireland’s banks  need $43 billion in new capital after “appalling” lending decisions left the country’s financial system on the brink of collapse.

The fund-raising requirement was announced after the National Asset Management Agency said it will apply an average discount of 47 percent on the first block of loans it is buying from lenders as part of a plan to revive the financial system. The central bank set new capital buffers for Allied Irish Banks Plc and Bank of Ireland Plc and gave them 30 days to say how they will raise the funds.

“Our worst fears have been surpassed,” Finance Minister Brian Lenihan said in the parliament in Dublin yesterday. “Irish banking made appalling lending decisions that will cost the taxpayer dearly for years to come.”

Post-Apocalyptic zombie finance

March 23 (ASIA Times Online) -- Governments averted a financial apocalypse in 2009 by bailing out the bankrupt banking system. But who will bail out the governments? The answer for the time being is that they will bail themselves out at the expense of the private economy. In the post-apocalyptic financial world, private banks have turned into flesh-eating zombies that cannibalize the private economy in order to finance government borrowing requirements not seen since World War II.

… The US Treasury has become dependent on global private banks. According to Treasury data, $108 billion of the $180 billion in net foreign purchases of US Treasury securities during the three months through January came from London and the Cayman Islands. — By Spengler


Lipsky Says Debt Challenges Face Advanced Economies (Update1)

March 21 (Bloomberg) -- Advanced economies face “acute” challenges in tackling high public debt, and unwinding existing stimulus measures will not come close to bringing deficits back to prudent levels, said John Lipsky, first deputy managing director of the International Monetary Fund.

All G7 countries, except Canada and Germany, will have debt-to-GDP ratios close to or exceeding 100 percent by 2014, Lipsky said in a speech today at the China Development Forum in Beijing. Already this year, the average ratio in advanced economies is expected to reach the levels seen in 1950, after World War II, he said. The government debt ratio in some emerging market nations had also reached a “worrisome level.” — By Joyce Koh.

O grande dilema é este:
  1. a China acaba de proibir a compra-e-venda de terrenos para construção no país, ao mesmo tempo que lança um vasto programa de habitação social nova e reparação de casas e infraestruturas degradadas (The Daily Bell). Por outro lado, diminui drasticamente as suas compras de moeda (1) e de dívida americana (2). Razões para estas duas decisões cruciais? Não pode continuar a financiar as suas exportações para o seu maior cliente, os Estados Unidos, pois de volta apenas recebe IOU sem garantias — i.e. dinheiro puramente virtual.
  2. a Alemanha ameaçou os PIIGS de expulsão da moeda única europeia (ou pelo menos de uma quarentena apertada), pois percebeu que não pode continuar a financiar as suas exportações para países que há muito esgotaram os respectivos recursos estratégicos e cujo endividamento público e privado entrou numa curva exponencial. Basta reparar no crescimento assustador do serviço da dívida em Portugal, Espanha, Irlanda, Grécia, mas também em França, Itália, Japão, Reino Unido e Estados Unidos (5 dos G7), para imaginar onde tudo isto vai acabar por levar a economia mundial.
Os maiores exportadores globais de bens transaccionáveis (União Europeia, China, Alemanha, Estados Unidos e Japão) estão numa situação potencialmente mais explosiva do que aquela em que encontram os detentores das principais reservas energéticas do planeta (Arábia Saudita, Irão, Iraque, Rússia, Brasil). Estes últimos continuarão sem grandes problemas, na medida em que o petróleo (3) e o gás natural escasseiam e a população mundial continua a expandir, precisando de quantidades crescentes de água potável e alimentos. Os exportadores de bens industriais, pelo contrário, precisam de vender bens de que não precisamos ou que não podemos comprar por estarmos demasiado endividados.

A recessão mundial está assim para durar. E a inflação galopante pode estar apenas ao virar de uma esquina. Na Irlanda, em Atenas, Madrid, Lisboa ou Londres!


NOTAS
  1. Reserves Shifting Away from the Dollar? — Mar 31, 2010 (Roubini) -- Global central banks, which managed over US$8 trillion in reserves at the end of 2009, according to IMF, estimates have been gradually diversifying their portfolios. The dollar share has inched down since 2000. The appreciation of the U.S. dollar and central bank participation in the global flight to safety slightly boosted the dollar share in 2008 to around 65% of the institutions that report their currency composition.
  2. China sells $34.2bn of US treasury bonds -- February 17, 2010 (Guardian) -- China sold $34bn (£21.5bn) worth of US government bonds in December, raising fears that ­Beijing is using its financial ­muscle to signal that it has lost confidence in American economic policy.

    US treasury figures for the period ending in December 2009 show that, following the sale, China is no longer the largest overseas holder of US treasury bonds. Beijing ended the year sitting on $755.4bn worth of US government debt, compared to Japan's $768.8bn.

    China Slows Purchases of U.S. and Other Bonds -- HONG KONG, April 12, 2009 (The New York Times) -- Reversing its role as the world’s fastest-growing buyer of United States Treasuries and other foreign bonds, the Chinese government actually sold bonds heavily in January and February before resuming purchases in March, according to data released during the weekend by China’s central bank.
  3. Energy prices rally on hopes for demand — SAN FRANCISCO, April 1, 2010(MarketWatch) -- Energy futures rallied Thursday, with oil rising for a fourth consecutive session to nearly $85 a barrel and natural gas prices rising after a smaller-than-expected increase in storage levels in the U.S.


OAM 678—2 Abril 2010 1:59 (última actualização: 11:56)

sábado, março 13, 2010

Portugal 172

Quando se revoltará a classe média?

O enviado especial das Nações Unidas para a Luta Contra a Tuberculose, Jorge Sampaio, afirmou hoje, no Porto, que "faltam quatro milhões de profissionais de saúde no mundo", principalmente nos países que mais necessitam deles.

…Jorge Sampaio disse ainda que os portugueses devem "relativizar" os problemas que estão a viver com a actual crise, porque muitos outros povos estão a enfrentar situações bastante piores. — in Público (12.03.2010)

Só faltou ao antigo presidente da república acrescentar que os actuais e futuros desempregados do Serviço Nacional de Saúde português têm um emprego à sua espera no Malawi, na Etiópia, no Ruanda, no Zimbabwe, no Haiti, e noutras paragens semelhantes. O devaneio do "enviado especial" não poderia ser mais inoportuno e sujeito às piores interpretações. Se o "enviado" acredita que a receita de sempre —expulsar os portugueses da sua terra e dos seus empregos, pondo-os a render no ultramar ou nos aviários da Irlanda— voltará a dar patacas que cheguem para alimentar o bordel lusitano, desengane-se! A nomenclatura indecorosa que depois de 35 anos de democracia populista levou Portugal à ruína, colocando-o de novo à beira de um colapso de regime, tem que começar a contar pelos dedos —já que há muito perdeu a faculdade de usar o intelecto.

Aquilo a que estamos neste momento a assistir, com a colaboração dissimulada de todas as seitas do actual sistema partidário, é a um endividamento sem precedentes do Estado, ao roubo sem limites do património nacional, e à sangria assassina da escassa poupança acumulada de milhões de portugueses, pela via fiscal directa e indirecta. As receitas da emigração fazem ainda parte desta expropriação sem precedentes da riqueza produzida por muitos de nós.

"Porque é que o Banco de Portugal vende o ouro da República?" — pergunta Jorge J. Landeiro de Vaz, Professor do ISEG/UTL, num artigo publicado pelo Expresso em 5 de Junho de 2009.

Em 1971 as reservas de ouro do Banco de Portugal ascendiam a 818,3 toneladas; em 2001, ou seja 30 anos depois, ainda eram 606,7 tons. mas em Março de 2009 já só existem à guarda do Banco de Portugal 382,5 tons. Porquê?

Será que alguém explica aos Portugueses porque é que em 38 anos a democracia fez voar 435,8 tons de ouro, herdadas do "fascismo" e do "colonialismo", ou seja  53%  daquelas  reservas.

Alguém explica aos Portugueses porque é que nos últimos 8 anos foram vendidas 224,2 tons de ouro; ou seja nos últimos 8 anos, o Portugal da zona euro vende alegremente, em média 28 tons de ouro por ano. A  este ritmo, dentro de 14 anos não haverá ouro no Banco de Portugal.

... Num contexto de empobrecimento económico e endividamento público e privado, o ouro do Banco de Portugal não pode ser visto como activo de liquidação, mas como reserva de soberania. Há uma responsabilidade intergeracional que o exige. Deixemos esse património aos nossos filhos e teremos feito alguma coisa por eles, pelo menos como penhor dos passivos que airosamente lhes vamos legar.

Ainda que admitamos que valor total das reservas de ouro sejam ligeiramente mais elevadas —407,5 toneladas— o resultado assustador não deixa de ser este: aos preços de hoje (805,72 euros a onça troy), uma tal reserva de ouro, que valerá qualquer coisa como 10 556 082 233 euros, não chega a 7% da nossa dívida pública: 164 879 600 000 (OE2010).

Resumindo a grosso modo, a situação portuguesa, que nos aproxima efectivamente da Grécia, apesar dos protestos de quem quer sacudir a água do capote (Teixeira dos Santos, Sócrates, Cavaco Silva...), é esta:
  • PIB previsto para 2010 (OE2010) = 167 367 100 000
  • endividamento das famílias em % do rendimento disponível (2001) = ~96
  • défice externo (anual) em % do PIB (2008) = -10,6
  • divida externa líquida em % do PIB = >100
  • dívida externa bruta em % do PIB (2008) = >200
  • dívida pública em % do PIB (2008) = >108
  • divida pública + divida privada em % do PIB (2007) = ~300
  • dívida externa em % das exportações = ~700
  • taxa de crescimento do PIB (previsão para 2010-2013) = <1%
  • taxa de desemprego oficial (dez. 2009) = 10,2% (567,7 mil desempregados/ procura de emprego)
  • taxa efectiva de desemprego (dez. 2009) = 12,7% (716,9 mil desempregados/ procura de emprego)
  • emigração (1992-2003) = 330 741
Entretanto, o PEC prevê alienar bens públicos —TAP, ANA, CTT, REN, seguradora da CGD, e participações accionistas minoritárias na EDP, Galp e Cahora Bassa— no valor de 6 mil milhões de euros. Se a privatização de certas actividades de exploração (CTT, TAP, CP e Metro) são no limite toleráveis, o mesmo não sucede com a privatização de monopólios e quase monopólios estratégicos, como sejam a ANA, EDP e REN. Alienar o único banco de Estado, ainda que apenas e para já o seu ramo de seguros, é de uma irresponsabilidade bestial! O que está em curso, e não vai parar, a menos que a classe média resolva revoltar-se (e tem meios para tal), é o saque sistemático e inglório da riqueza nacional pública e privada — pela via das privatizações, pela via da punção fiscal, e ainda por via da inflação que não tardará a chegar. Que seja o Partido Socialista a dar este derradeiro passo no longo e fracassado programa neoliberal de privatização do Estado, inaugurado por Reagan e Thatcher, não deixa de ser um epílogo no mínimo obsceno.

O país está falido, é certo. Mas então façamos uma desvalorização criativa da moeda! Como? É simples: reduzamos em 10% os vencimentos da Função Pública e do sector empresarial do Estado, acima dos 1000 euros, até 2013. Os salários do sector empresarial seguiriam naturalmente uma tal medida. Aliás, se tivéssemos moeda própria, a alternativa seria inevitavelmente proceder à sua desvalorização, o que teria os mesmos resultados práticos. Porém, se nada fizermos, corremos o risco de passar por uma quarentena fora do euro, o que provavelmente implicaria uma queda abrupta instantânea do nosso poder de compra na ordem dos 30%. O problema é pois mais de linguagem e de persuasão criativa, do que de substância. Até porque as duvidosas receitas de privatizações inscritas no PEC —6 mil milhões de euros— apenas taparão, se forem integralmente obtidas (o que duvido muitíssimo), quatro meses do nosso endividamento público galopante, ao mesmo tempo que reduzem a nada os poucos anéis que ainda temos no dedo mindinho.

O Capitalismo falido do Ocidente, que desde meados da década de 70 resolveu apostar na destruição das suas capacidades produtivas, exportando os respectivos negócios para as antigas colónias, e inventando ao mesmo tempo uma fórmula de crescimento económico baseada no endividamento dos estados, das empresas e das pessoas, começou agora a roer as unhas, ou pior ainda, a comer os seus próprios filhos, como Urano! Em contraponto, o capitalismo de estado de países como a China, Japão, Rússia, Arábia Saudita, etc., faz exactamente o contrário: protege as riquezas nacionais da voragem ruinosa e assassina dos especuladores individuais.

O problema de Portugal é pois muito grave, ao contrário do que a propaganda do sistema pretende fazer crer. A nossa dívida global cresce a um ritmo exponencial, correndo o sério risco de se tornar incontrolável. Vender os anéis e os dedos é como ir a uma casa de penhores dirigida por sádicos, sabendo que não recuperaremos as jóias de família. Confiar na emigração, como o discurso inconsciente de Jorge Sampaio claramente induz a pensar, é uma ilusão pura, que não compreende um facto histórico essencial: as mesadas coloniais que começaram em 1415, com a conquista de Ceuta, morreram definitivamente!

A partir de agora teremos que começar a trabalhar. Mas para isso teremos primeiro que correr com a corja que se governa em nosso nome.


OAM 699—13 Mar 2010 4:03 (última actualização 17:30)

domingo, fevereiro 14, 2010

Portugal 163

A Oposição? A Oposição não sabe de nada!


Do CDS ao Bloco, vimos assistindo aos sucessivos rituais de uma espécie de indignação hipócrita perante os gravíssimos escândalos que afundam a tríade de Macau e José Sócrates, arrastando na enxurrada o desfeito PS. Por que será?
"BNP Paribas said any rescue confined to Greece is doomed to fail. "The market would only concentrate on its next 'victim', which would be Portugal," it said. Put another way, investors will demand a similar guarantee for Iberian debt."

"French banks have $76bn of exposure to Greece, the Swiss $64bn, and the Germans $43bn. But this understates cross-border links. There are large loans between vulnerable states. The exposure of Portuguese banks to Spain and Ireland equals 19pc of Portugal's GDP. Interlocking claims within the eurozone zone are complex. Contagion can spread fast."  — in Ambrose Evans-Pritchard (Telegraph, Feb. 12, 2010)

"The fear is one of contagion. Some argue that Greece is only 2.7% of European GDP. But Bear Stearns held less than 2% of US banking assets, and look what happened."

"Whether it is Japan or Portugal or the US or (pick a country), the body of evidence clearly shows that there is a limit to the amount of debt a sovereign country can handle without a crisis developing. That limit is different for each country, but there is a limit that the bond market will impose. And there are many countries in the developed world that are approaching that limit." — in John Mauldin (Frontline Weekly Newsletter, Feb. 12, 2010)
De facto, a cada atentado ou esquema anti-democrático revelado pela imprensa, a cada prova provada da corrupção e do sonho autoritário protagonizado pela rede mafiosa que capturou o Partido Socialista, a Oposição reage com indignação, mas acrescentando logo de seguida: o governo quer precipitar uma crise antes de tempo — não pode ser! Os escândalos, no fundo, ajudam a esturricar o governo e a matar o PS. Por isso convém a todos partidos da Oposição. Só mesmo os obtusos e amedrontados políticos do PS não vêm semelhante armadilha. Por outro lado, a crise financeira não está para brincadeiras, o que naturalmente assusta toda a Oposição!

Ao contrário do que as agências de contra-informação veiculam por aí, e os patetas de todos os quadrantes repetem, o ataque especulativo às finanças nacionais não depende da maior ou menor estabilidade política do regime; depende, isso sim, da avaliação objectiva que os mercados financeiros e os especuladores fazem da qualidade do nosso endividamento.

Ora todas as evidências apontam para o rebentamento a breve prazo da grande bolha especulativa que empolou a partir do estratagema que permitiu a boa parte das economias ocidentais, nos últimos vinte anos, crescer à custa do endividamento público e privado. Este crescimento, percebeu-se tardiamente, foi puramente virtual, tendo medrado à sua sombra um verdadeiro buraco negro capaz de engolir várias vezes a economia mundial —os já famosos Derivados financeiros, de que os Credit Default Swaps (CDS) são os mais recentes "cisnes negros".

A dúvida sobre o colapso das dívidas soberanas de vários países não incide pois sobre a possibilidade da ocorrência —que é certa—, mas tão só em saber por onde vai começar, e qual o traçado da respectiva queda em dominó. A candidata melhor colocada para o desastre que muito provavelmente assinalará a segunda fase da Grande Depressão II, chama-se Grécia — um país ainda mais corrupto que o nosso, e que como nós nunca deveria ter entrado no Euro sem um exame prévio rigoroso às respectivas finanças públicas, sistemas fiscal e judicial, órgãos de estatística e qualidade da governança. A Alemanha estava com muita pressa —como sempre. Agora terá que arcar com as consequências.

De uma forma ou de outra Portugal irá passar por um aperto enorme nas suas finanças públicas, começando inevitavelmente por uma contracção forçada e muito forte da despesa do Estado. Como boa parte da economia, da banca e do emprego dependem do erário público, a inevitável austeridade que nos será imposta —directa ou indirectamente— pelos nossos credores (sobretudo a Alemanha), provocará uma recessão profunda e fará disparar o desemprego e a emigração de pessoas e... capitais! Durante tal tempestade, como se fosse possível piorá-la, veremos os governos a vender literalmente o país aos credores, e a aumentar desalmadamente os impostos e a respectiva base contributiva.

Se o caso grego se transformar numa ameaça de pandemia capaz de destruir o Euro, então não vejo como poderão a Alemanha e a França deixar de colocar em quarentena (i.e. fora do ECU) os países da União que se mostrarem comprovadamente incapazes de corrigir os respectivos défice públicos. Não apenas a Grécia, mas também Portugal e Espanha, estarão no pelotão da frente dos candidatos a uma quarentena de 4 anos parcialmente fora da moeda única europeia.
"The Maastricht Treaty’s debt-to-GDP criterion of 60% seems unrealistic within the next 10 years for many EMU countries. Even a 100% debt-to-GDP ratio in 10 years time could prove difficult for several countries. — in Research Euroland - Debt on a dangerous path." — Danske Markets, 4 January 2010. (PDF)

Se esta prospectiva faz sentido, e creio que faz, não vejo nenhuma razão para a Oposição mergulhar a cabeça na areia, como parece estar a fazer quando trata levianamente o problema da corrupção da democracia pela tríade de piratas que tomou de assalto o PS e o país. Na minha opinião, assim que estiver clarificada a substituição da actual liderança do PSD, deverá a Oposição accionar um moção de censura ao governo, exigindo a sua queda e a imediata remoção da indecorosa criatura que actualmente ocupa indevidamente o cargo de primeiro ministro. Logo após, deverão o futuro PS (já sem a matilha de Macau à perna), PSD e o CDS estabelecer as bases estratégicas para um governo de coligação capaz de levar a presente Legislatura até ao seu término. Os partidos de esquerda —Bloco e PCP— deverão, por outro lado, desenhar uma estratégia comum para a sustentabilidade social do actual regime político, estabelecendo os limites de tolerância que as classes trabalhadoras estarão dispostas a negociar no esforço colectivo de correcção da nossa vida em comum.

A alternativa a este cenário é o definhamento acelerado do PS e uma bipolarização político-partidária insustentável, cujo resultado a prazo será a falência económico-financeira do país e uma crise política de regime sem precedentes.

Post scriptum — Manuel Alegre daria um grande contributo para a resolução da presente crise se declarasse agora o seu distanciamento face a José Sócrates, apelando ao Partido Socialista para assumir as suas responsabilidades. Faria bem ao país, mas também à sua candidatura presidencial.


OAM 685— 14 Fev 2010 15:03

quinta-feira, janeiro 28, 2010

Portugal 157

Orçamento vigiado - 3, aspirina não chega!


Investimento de Iniciativa Pública e Crescimento
... As novas infra-estruturas criam a possibilidade de novos negócios por reduzirem custos de transporte, facilitarem o acesso a produtos e pessoas, ou reduzirem outros custos de contexto relevantes para as empresas.

... os investimentos públicos podem também contribuir para aumentar a competitividade e a internacionalização da economia, contribuindo, dessa forma, para aumentar a eficiência e combater o défice externo. As reduções de custos de transporte e a mais fácil circulação de pessoas, bens, energia e informação, permitem reduzir os custos das actividades exportadoras, alargam a possibilidade de atracção de clientes e turistas e geram um efeito de alargamento da escala de operação das empresas que resulta em ganhos de eficiência.

... Atendendo aos diferentes tipos de infra-estruturas, conclui-se que em casos como o das auto-estradas, Portugal apresentou uma evolução tão positiva nos últimos anos que está já próximo de níveis de stock óptimos, o que aconselha a que, nestas áreas, o ritmo de investimento seja menos acentuado no futuro. No entanto, Portugal apresenta ainda um forte atraso face aos países da UE no que se refere à qualidade e quantidade de infra-estruturas portuárias e aeroportuárias, contexto tanto mais agravado quanto o País apresenta um forte crescimento da procura de serviços de transporte aéreo e de cargas e passageiros nos portos. — in Orçamento de Estado 2010.

Se a um doente que treme por todos os lados, com 40 graus de febre, lhe é detectada uma pneumonia, e um médico decide receitar-lhe fleumaticamente uma caixa de placebos, em vez da quarentena rigorosa da praxe e uma combinação adequada de antibióticos e vitaminas, o mais provável é que o doente, se for velho, morra, e se for novo e saudável, piore de forma imprevisível o seu estado de saúde e acabe por contrair alguma doença crónica grave. A um médico que assim trate um doente deve obviamente retirar-se-lhe a carteira profissional e levá-lo a tribunal pela sua inadmissível má prática. Ora é isto que, mudando o que há a mudar, ocorre no romance de cordel a que o sem-vergonha e cada vez mais inoperante governo Sócrates chama Orçamento de Estado 2010. O merceeiro desonesto que o redigiu deveria ser obviamente expulso da Ordem!

A falta de rigor nos números (1) e de coragem nas decisões deu lugar a uma caricata tesina de economia e finanças públicas pseudo-keynesianas. É penoso lê-la. A ignorância crassa sobre o transporte ferroviário; as falácias estafadas com que as agências de comunicação ao serviço do governo, e sobretudo ao serviço das tríades financeiras que há mais de 20 anos capturaram a democracia portuguesa e ameaçam levá-la à ruína, voltam a insistir no novo aeroporto de Lisboa, i.e. o mesmo negócio da Ota, agora em Alcochete (2); a vigarice das Parcerias Público Privadas (mais autoestradas); a teimosia olímpica em construir barragens inúteis (Tua, Sabor) ou assassinas (Fridão) para ajudar a inchar a bolha da EDP —entre outras calamidades—, levam-me a uma conclusão simples: este governo não é para durar. Mais, devemos todos fazer a necessária pressão que caia o mais depressa possível!

O erro suicida do OE2010, que reflecte o figurino esgotado da nossa democracia burocrática e o grau de captura do actual regime político-partidário pela historicamente decadente, néscia e inviável burguesia latifundiária e rentista portuguesa, é que confunde PIB com endividamento! Ou seja, quando o Estado se endivida no mercado externo de capitais —pois a poupança interna há décadas que se esfumou— para estimular artificialmente a formação do PIB, nomeadamente através de Parcerias Público Privadas ou do investimento público directo em obras que o consumo interno não suporta (como está demonstrado à saciedade nos casos de polícia que são as SCUT e o aeromoscas de Beja), o que ocorre é tão somente o agravamento simultâneo do défice orçamental, da dívida pública e do serviço desta mesma dívida. Basta atentar na evolução do défice, da dívida e do serviço da dívida ao longo dos últimos 20 anos para concluir que assim é, e que portanto o exercício patético de teoria e mau jornalismo que confeccionou o romance de cordel chamado OE2010 não pode convencer ninguém. Não convenceu obviamente os mercados, nem convencerá Bruxelas, que em breve exigirá maior clareza e coragem aos Chico-espertos que insistem em levar Portugal à bancarrota.

A segunda grande falácia prende-se aos proclamados méritos do endividamento interno e externo do país como via heróica para o equilíbrio da nossa eternamente deficitária balança comercial. Basta, uma vez mais, percorrer as estatísticas para percebermos que:
  1. o endividamento para o consumo e para financiamento e sustento da burguesia rentista, da burocracia e da nomenclatura político-partidária, associado a uma moeda excessivamente forte, destrói a capacidade produtiva instalada e o potencial de exportação a benefício das importações de bens materiais e de capital, deteriorando inevitavelmente a nossa moeda sob a forma de um agravamento imparável do endividamento geral do país e de uma progressiva alienação da riqueza patrimonial historicamente acumulada — cujo impacto negativo na economia de cada um é traduzido por um terrorismo fiscal tão discricionário, quanto pesado e ineficiente;
  2. as nossas exportações, por força da valorização da moeda que temos, têm-se vindo a restringir cada vez mais à zona euro, deixando progressivamente de fora os antigos mercados coloniais, hoje economias emergentes, o que, dada a fraca sofisticação tecnológica, comercial e cultural daquilo que produzimos, acaba por atacar duramente e em tenaz a nossa capacidade de compensar o muito que compramos, com o pouco que vendemos. Nem exportamos o suficiente para a China, Brasil ou Angola, por termos uma moeda forte, nem exportamos o suficiente para Espanha, República Checa, Reino Unido ou Alemanha, e para os mesmos países emergentes, por falta de escala, qualidade, novidade e sofisticação;
  3. a importação de investimento e o endividamento nos mercados financeiros internacionais só raramente se destina a estimular o fortalecimento quantitativo e qualitativo do tecido empresarial nos decisivos sectores da agricultura, recursos marítimos e fluviais, indústrias e investigação científica e tecnológica. A maior parte deste endividamento (95%!) tem sido reiteradamente desbaratado na hipertrofia burocrática do pais, na corrupção da nomenclatura político-partidária, no enchimento especulativo, para efeitos de internacionalização, de grandes operadores estratégicos nos sectores energético e de comunicações (que acabarão por sucumbir às suas próprias dívidas, ou então à concorrência global), na mama das obras públicas, e nos casinos da especulação bolsista. Foi nisto tudo, e não no auxílio à economia real, que em 2009 se desbarataram milhares de milhões de euros pedidos emprestados em nome do povo português!
O problema de mais este Desorçamento é que se recusa teimosamente a enfrentar a crise sistémica da nossa economia. Desde Aljubarrota que a economia portuguesa depende basicamente do Estado e dos seus grandes empreendimentos: a Costa do Ouro, Malaca, Índia e China, o Brasil, a emigração e, por fim, a chuva dourada de Berlim via Bruxelas. Castela foi sempre uma inimiga, os Países Baixos serviram sobretudo de porto de abrigo para as nossas exportações e do Reino Unido só tardiamente aprendemos alguns modos empresariais e a beber chá sem por os cotovelos em cima da mesa. O que havia em comum neste longuíssimo capitalismo de Estado deixou de existir, ou deixará definitivamente em 2013-2015. Refiro-me às Patacas coloniais e à exportação de mão-de-obra barata que ao longo de seis séculos permitiram gerar um país essencialmente endogâmico, indolente e profundamente injusto. O Chico-espertismo de José Sócrates e da tríade de piratas que o criou e ampara é tão só a face novo-riquista e aparvalhada da moeda rentista dominante. Que um simulacro de socialista como António Vitorino se tenha transfigurado num sacerdote da Brisa e do Santander, diz tudo sobre a persistência genética de uma sociedade que o fim dos impérios tornará em breve obsoleta.

O tempo das vacas gordas dos Fundos de Coesão chegou ao fim. Malbaratámos esta oportunidade única de organizar as nossas vidas? Os políticos passaram o tempo a tomar conta de si mesmos? Deixaram o País de tanga e sem ideias? Vem aí um ciclo irreversível de recessões e uma imparável curva ascendente nos custos da energia e do dinheiro? — in "Manuel Alegre: o pragmatismo das causas", O António Maria, 26-09-2004.

Segundo os valores estimados para 2005, dos 214 países considerados, mais de metade (110) crescia a valores do PIB entre 4% e 26,4%. Cresciam a 8% ao ano, ou mais, 24 destes países. A generalidade dos chamados países desenvolvidos crescia abaixo dos 4%. A União Europeia, por sua vez, crescia a uma média de 1,7% ao ano. Portugal, ocupando a posição 202 entre 214 países, crescia tão só a 0,30% ao ano...
Dizer que este país cresce abaixo da média da União Europeia é, como se vê, uma verdade piedosa sobre a crise que efectivamente atravessa. Piores que os lusitanos apenas há 12 países: Itália, Tanzânia, Niue, Dominica, Monserrate, Saint Kitts and Nevis, Guiana, Iraque, Malawi, Seychelles, Maldivas, Zimbabwe.

Não fora pertencer à União Europeia, Portugal estaria hoje à beira de convulsões sociais muito sérias. A prosperidade aparente de que goza deve-se, basicamente, a cinco causas principais: as remessas dos emigrantes portugueses residentes na União Europeia (que deixaram de ser contabilizadas como receitas de emigração...), os fundos comunitários, a economia informal e clandestina, o turismo e o endividamento imparável do Estado. A balança comercial tenderá, porém, a deteriorar-se no médio e longo prazo, por causas mais ou menos óbvias: valorização do Euro contra praticamente todas as outras moedas, deslocalização crescente dos investimentos dentro e fora da zona Euro, destruição interna das actividades alimentadas por trabalho intensivo, barato e de baixa produtividade e falta de competitividade dos custos de contexto: carga fiscal, preço da energia, excentricidade geográfica, falta de transparência estratégica do país e falta de qualidade do sistema judicial. — in "Os sete pecados mortais de um país", O António Maria, 5-08-2006.

Quando José Sócrates matraqueia os média, como um qualquer boneco de feira, com o sound bite "Pusemos as contas em dia!", não diz que essa proeza apenas durou o exercício orçamental de 2007 e foi conseguido à custa de um mega-empréstimo externo de 22,5 mil milhões de euros! Nem diz que Portugal paga hoje em juros anuais pela sua dívida pública qualquer coisa como 5 mil milhões de euros, ou que para este lindo OE2010 vai ter que pedir emprestado lá fora mais 17,5 mil milhões de euros. Vamos ver quem emprestará tamanha soma de dinheiro e a que juros, depois do episódio grego e da recusa da China em socorrer possíveis candidatos a Estados falidos no interior da poderosa zona euro.

Grécia atira risco da dívida pública dos países da Zona Euro para recorde

O seguro para os investidores se protegerem contra o incumprimento no pagamento de dívida pública dos países da Zona Euro atingiu hoje o nível mais elevado de sempre. A culpa é da Grécia, com a crise nas finanças públicas helénicas a contagiar outros países, sobretudo Portugal. in Jornal de Negócios, 27-01-2010.

Fitch ameaça cortar 'rating' de Portugal

A agência de notação manteve o 'outlook' negativo para Portugal mas avisa que é agora mais provável um corte do 'rating', face à estimativa de défice para 2009 revelada ontem por Teixeira dos Santos.

"O primeiro aspecto que nos surpreendeu foi a revisão em alta do défice de 2009, o que foi bastante decepcionante. Um défice de 9,3% do PIB é significativo. São mais três pontos percentuais do que quando colocámos o ‘outlook' para a dívida portuguesa em negativo, em Setembro de 2009", afirmou Douglas Renwick, responsável da Fitch, em entrevista à 'Reuters'. — in Diário Económico, 27-01-2010.

Joining the queue for China cash

The decision of Greece, and its bankers, to ask Beijing for cash to fund its yawning fiscal deficit should come as no surprise. The Chinese capital is the first port of call for countries and companies that need money.

China has a huge stock of surplus cash, with $2,400bn (€1,702bn, £1,486bn) in foreign exchange reserves, amassed by a decade of largely fixed-exchanges rates, swelling trade surpluses and capital inflows.

... The implosion of the western financial system over two years from 2007, along with an evaporation of confidence in the US, Europe and Japan, almost overnight pushed China’s global standing several notches higher.

... Such sums might give the impression that China has been throwing its money around with abandon. But after some early loss-making forays, mainly through investments in US and European financial companies, China has become more cautious about where it places its money.

... In the case of Greece, money is not a problem. Buying up to €25bn in Greek bonds is equal to about two weeks’ worth of accumulation of foreign exchange reserves in China.

Chinese thinking is that Brussels could not let Greece fail, because the implications for the euro’s credibility are too dire. If that line of argument prevails in Beijing, then China may well be a buyer of Greek bonds. In the process, the Chinese may well be buying invaluable political capital in Brussels as well. — in Financial Times, January 26 2010.

O Financial Times sugere num artigo muito provocatório e inteligente uma solução que não anda longe da que em 2005 sugeri, ainda que sob a forma de um banco de horas. Em 2005, numa proposta desenvolvida e apresentada conjuntamente com uma equipa de arquitectos (o Grande Estuário), levantei a hipótese de se criar um banco de horas no nosso país, cujo efeito prático seria o surgimento de uma moeda de troca justa e solidária local. Em Novembro de 2009 voltei ao tema, desta vez explicitando a possibilidade se criar uma União de Crédito Solidário como instância financeira alternativa aos avarentos bancos cuja acção durante a recessão mundial tem sido basicamente a de obter empréstimos dos bancos centrais a custo zero (enfim, entre 0,5% e 1,5%) para depois mal emprestar a 2,9%, 11% ou 26%, ou não emprestar mesmo!

Em Portugal seria perfeitamente possível lançar uma rede de 50 Bancos de Crédito Solidário —abrangendo todas as capitais de distrito e concelhos das cidades-regiões de Lisboa e Porto, especializada, entre outros, nos seguintes ramos: habitação, comércio local, transportes e mobilidade, educação, saúde, solidariedade e redes profissionais. Cada um destes Bancos de Crédito Solidário teria, por exemplo, um capital público social de 5M€, e funcionariam em rede, federados por uma Organização de Comércio Social, a qual garantiria a necessária transparência e qualidade dos processos de implementação, gestão e sustentabilidade. Estamos a falar de 250M€ de investimento público inicial, a que se somaria um capital social solidário da mesma ordem, constituído por bens e serviços contabilizados numa moeda solidária de circulação restrita. Uma gota de água, quando comparada com os buracos financeiros e dívidas criadas pela máfias instaladas no sistema económico-financeiro e político-partidário português! — in Por uma União de Crédito Solidário!, O António Maria, 25-11- 2009.

No artigo de Charles Goodhart and Dimitrios Tsomocos, o ponto polémico é mesmo o da possibilidade de países como a Grécia, Portugal e Espanha escorregarem inexoravelmente para a bancarrota, por exemplo, no contexto de uma greve generalizada dos compradores de dívida soberana, como ocorreu precisamente durante as negociações gregas para salvar as finanças do país. A China rejeitou a hipótese de financiar os gregos, tal como terá já deixado saber a Victor Constâncio, ou Teixeira dos Santos, que fará o mesmo a Portugal. Se este cenário se vier a verificar, o que os colunistas do Financial Times propõem não é, nem a saída dos PIGS da zona euro, nem uma operação de resgate em larga escala por parte do Banco Central Europeu (a qual provocaria certamente uma tremenda instabilidade no Euro.) A proposta deste inteligente artigo é o do regresso temporário à moeda pré-euro, no caso português, o regresso Escudo. Pelo período de quatro anos co-existiriam no nosso país o Euro, para os pagamentos externos, e um novo Escudo, valendo menos 25% do que Euro, para os pagamentos internos.

Greece and Portugal have two severe economic problems. These are, first, a fiscal position, deficit and debt ratio verging on the unsustainable, and, second, a serious lack of competitiveness (a real exchange rate which is much too high). Italy and Spain may also soon face a similar precarious situation. These countries’ membership of the eurozone constrains the solution to this joint problem.

For example, neither Greece nor any other country in a similar position could sensibly leave the eurozone, (indeed any sniff of thinking about that would cause an immediate banking crisis). Apart from the immediate effects on wages, prices and interest rates, existing debts are denominated in euros and any attempt to renege on that would, very likely, result in seizure of Greek assets abroad and expulsion from the eurozone, in addition to a cessation of European Union net transfers.

In this respect Greece is far more constrained than Argentina was.

... When a subordinate state in a federal monetary union has severe fiscal problems and runs out of money, what does it do? It issues IOUs. Think California or the Argentine provinces before 2000. For example, in Portugal, we could coin a phrase and call such IOUs escudo. Essentially the government passes a decree that states that such escudo IOUs would be acceptable for all internal payments, except tax payments, between Portuguese residents, but not for any external payments between Portuguese residents and foreign residents. All public sector and private sector wage payments shift on to an escudo basis as do interest payments by a Portuguese resident to another resident. Portuguese residents’ deposits and borrowing with Portuguese banks shift to an escudo basis; others remain in euros. — in The Californian solution for the Club Med, By Charles Goodhart and Dimitrios Tsomocos, Financial Times, January 24 2010 20:35 | Last updated: January 24 2010 20:35.

Estou a imaginar o incómodo e mesmo o sorriso de desdém da blogosfera próxima ao ler estas palavras! Recomendo-lhe, porém, que medite seriamente no problema. Quem virá socorrer um cocainómano com mais cocaína? O OE2010 nada mais é do que o discurso spidado de um viciado em dívidas, incapaz de parar, contando histórias da Carochinha na esperança de que algum distraído o ouça. Só que nesta fase de endividamento e recessão globais, não há distraídos.

Greece’s debt crisis returned to financial markets with a vengeance as agitated investors demanded the highest premiums to buy its government bonds since the launch of European monetary union over a decade ago.

The yield spread between 10-year Greek bonds and benchmark German Bunds widened dramatically on Wednesday, by almost 0.7 percentage points at one point, in what one trader called a “capitulation” to sellers worried about Greece’s ability to refinance its debt. — in "Chinese whispers drive up Greek yields", By Tony Barber in Brussels, David Oakley in London and Kerin Hope in Athens, Published: January 26 2010 22:59 | Last updated: January 27 2010 19:43.

Há pelo menos cinco possibilidades no que toca à saída da presente crise orçamental:
  1. O governo português vê aprovada a sua estratégia de avestruz por parte da burocracia de Bruxelas e pelo BCE;
  2. BCE e Bruxelas obrigam a revisão das metas orçamentais do OE2010 e a um claro corte na despesa pública;
  3. Face à segunda hipótese, o Governo cede, arrastando atrás de si parte da Oposição (PSD e CDS), mas provoca uma grave crise no interior do Partido Socialista, ou até a cisão do mesmo;
  4. Face à segunda hipótese, o Governo não cede e prossegue a estratégia de endividamento, sobretudo a favor da burguesia palaciana de que se tornou serviçal, arriscando-se fortemente a ver bloqueados os empréstimos externos, daí resultando a rápida implosão do governo;
  5. No caso da primeira hipótese ocorrer, existirá então uma forte probabilidade até 2012 de as crises de endividamento da Grécia, Espanha e Portugal se sincronizarem, causando um colapso do Euro, do qual poderá resultar a exclusão temporária destes países da moeda única, invocando-se então que tal não será uma tragédia comunitária, pois também a Libra Esterlina, a Coroa Sueca, etc. continuam fora do Euro.
Em qualquer caso prevejo a queda para breve do governo de José Sócrates. E no seu lugar poderá vir a estar um governo de grande coligação entre o PS, PSD e CDS, com Paulo Portas a chefiar.



NOTAS
  1.  Vale a pena consultar um recente estudo do Instituto Sá Carneiro (Reflexões, PDF) sobre as contas indisfarçáveis da nossa realidade pública. Destaco apenas alguns números de arrepiar:


    • Endividamento em % do PIB (2009) = ±111,8
    • Crescimento potencial do PIB na última década = ±1% ao ano
    • Na década de 60, crescemos em média 5,8%; na de 70, 5%; na de 80, 3,7%; na de 90, 3%; e na de 2000 0,5%.
    • Peso da Exportações de Bens e Serviços no PIB (%) entre 1990 e 2009: 30,7; 28,6; 29,8; 28,5; 27,7.
    • Défice externo em 2008: 10,5% do PIB.
    • Endividamento externo líquido (em % do PIB): em 1996, 10.4; em 2000, 41,1; em 2005, 64,0; em 2008, 97,2; em 2009, 105,0.
    • População residente (Set. 2009): 10 641 000
    • População empregada (Set. 2009): 5 017 500
    • População empregada excluindo funcionários públicos (Set. 2009): 4 321 106
    • Funcionários públicos (Set. 2009): 696 394
    • Beneficiários do Rendimento Social de Inserção (Set. 2009): 382 448
    • Pensionistas activos [invalidez, velhice, sobrevivência] (Set. 2009): 2 841 789
    • Beneficiários de Subsídio de Desemprego (Set. 2009): 346 899
    • Total de "dependentes" do Estado: 4 267 530
  2. Para desmontar o logro da argumentação do governo sobre a Portela e o NAL vale a pena ler este artigo de Rui Rodrigues recentemente republicado pelo Público, de que destacamos algumas passagens.
"O Governo pretende, em 2009, privatizar a empresa ANA-Aeroportos que, no ano de 2007, gerou lucros de 48 milhões de Euros. Explorar aeroportos é um negócio fácil enquanto que gerir companhias aéreas é um negócio arriscado devido à forte concorrência do mercado."

"... A ANA, nos últimos anos, efectuou investimentos avultados no Aeroporto da Madeira e no Porto e nos próximos anos o mesmo se passará na Portela e em Faro. No Funchal investiram-se cerca de 500 milhões de Euros (fundos comunitários + verbas da ANA e ANAM e do Governo regional). No Porto, já foram gastos mais de 300 milhões de Euros (no início só estava projectado investir-se 60 milhões) e, em Lisboa, estão previstos serem gastos 400 milhões de Euros que serão perdidos com o fecho da Portela. A Portela é rentável e, actualmente, os seus lucros financiam outros aeroportos nacionais que dão prejuízo.

... Um novo aeroporto só pode ser pago pelas taxas aeroportuárias ou pelos contribuintes

O modelo de financiamento do novo aeroporto de Lisboa, em parte, é semelhante ao modelo do actual aeroporto de Atenas, na Grécia. O pagamento da nova infra-estrutura vai depender do valor das taxas aeroportuárias. No caso grego, as taxas do novo aeroporto são as mais caras da Europa, o que levou a “Olympic Airlines” à falência por ser o seu maior cliente. Recentemente, a administração desta empresa exigiu do Governo grego uma compensação financeira de 803 milhões de Euros pela "mudança obrigatória" da companhia, em 2001, para o novo aeroporto internacional de Atenas. Mais grave ainda, as ‘Low Cost’ não querem utilizar uma infra-estrutura com taxas de alto custo, o que está a obrigar à utilização de aeroportos secundários para “salvar” o turismo grego. O novo aeroporto de Atenas cobra cerca de 70 Euros de taxas a cada passageiro. São as taxas mais caras da Europa.

Em Portugal, a TAP é responsável por cerca de 50% dos voos em Lisboa, sendo as taxas aeroportuárias despesas fixas que têm um peso muito importante no seu orçamento, o que significa que, se um dia a TAP se mudar para Alcochete, onde as taxas serão elevadíssimas, vai acontecer exactamente o mesmo que ocorreu à “Olympic Airlines” e as ‘Low Cost’ irão abandonar Lisboa, o que levará ao colapso do turismo da Capital." — in Os aeroportos, a privatização da ANA e os terrenos da Portela, por Rui Rodrigues, Público online.


OAM 679 — 28 Jan 2010 16:56 (última actualização: 29 Jan 2010 00:26)