quinta-feira, janeiro 22, 2009

Portugal 76

Os coveiros da pátria
Estamos perante a ameaça de uma insolvência global, que atingirá fatalmente as economias mais endividadas, como a portuguesa.

S&P corta "rating" de Portugal
21-01-2009 (Jornal de Negócios) A Standard & Poor’s cortou hoje o "rating" da dívida pública da República Portuguesa, de AA- para A+, afirmando que as reformas estruturais delineadas pelo Governo são insuficientes para o país continuar a merecer a notação anterior.

E se Portugal, por incapacidade de mais e mais endividamento, um dia destes suspender os pagamentos devidos às instituições de crédito internacionais? Que sucederia? Voltaríamos ao escudo, ou simplesmente passaríamos a figurar num sub-agrupamento do Euro caracterizado por maiores dificuldades de acesso ao crédito internacional e juros bem mais elevados?
UK cannot take Iceland's soft option
21-01-2009 (Telegraph.co.uk) — Britain has foreign reserves of under $61bn dollars (£43.7bn), less than Malaysia or Thailand. The foreign liabilities of the UK banks are $4.4 trillion – or twice annual GDP – according to the Bank of England. The mismatch is perilous.

It is why sterling has crashed 10 cents from $1.49 to $1.39 against the dollar in two days. The markets have given their verdict on Gordon Brown's latest effort to "save the world".

Credit default swaps (CDS) measuring risk on British debt have reached an all-time high of 125 basis points, just below Portugal.

...

Standard & Poor's has quashed rumours that it will soon strip Britain of its AAA credit rating – an indignity averted even after the International Monetary Fund bail-out in 1976. But there was a sting yesterday as it responded to the Treasury plan for the banks. "Market confidence in the sector has eroded to such a degree that it is not clear whether these measures by themselves will bring about a material improvement," the IMF said. "As a result, full nationalisation of some banks remains a possibility in our view." — Ambrose Evans-Pritchard.

O actual governo, em particular José Sócrates e o seu ministro das finanças (o pior da Europa), não se cansam de mentir compulsivamente aos portugueses.

Quando em 2005 se explicava pacientemente neste blogue (1) que o aeroporto da Ota não passava de uma quimera arquitectada pela associação entre a indolente e corrupta burguesia burocrática que domina este país, e a família do Bloco Central; ou lançávamos avisos, em Março de 2006 (2), sobre a iminência de um colapso financeiro, fruto do pico petrolífero e de uma bolha especulativa global, as alegres araras da tríade neoliberal que sequestrou o PS martelavam em cada dia da sua incansável agenda de propaganda, a caminhada de Portugal para o pelotão da frente dos países desenvolvidos deste planeta (3).

Nem com os disparates recorrentes proferidos pela figurinha despachada pelo BES para o actual governo, o indescritível Manuel Pinho, a nossa desgraçada, falida e subserviente comunicação social, percebeu que era chegada a hora de desmontar as ilusões criadas e alimentadas incessantemente por um governo dirigido por uma personagem de opereta manifestamente mal formada e conhecida apenas por dois dos seus nomes próprios: José Sócrates.

Nem depois de aqui termos anunciado pela primeira vez que a nossa dívida externa ultrapassava os 200% do PIB, facto muito mais grave do que o défice orçamental de 3%, ou que em 2005 crescíamos apenas a 0,3% ao ano (4), estando por isso a nossa economia, de facto, estagnada, os economistas (exceptuando Medina Carreira) e os jornalistas especializados em temas económicos se decidiam a falar verdade.

Foi preciso ver cair o BCP, o BPN e o Banco Privado para que as campainhas começassem a tinir. Foi preciso ver a Caixa Geral de Depósitos passar pela vergonha de não conseguir a totalidade do empréstimo que pretendeu contrair no estrangeiro, para acordarmos para a dura realidade. Foi preciso ouvir Miguel Cadilhe denunciar num inquérito parlamentar a cumplicidade do Banco de Portugal no silenciamento do affair BPN/Sociedade Lusa de Negócios, para que todas as aves de rapina do Bloco Central tocassem a reunir, como se, agora mais do que nunca, a salvação da sua pele dependesse de uma solidariedade tipicamente mafiosa. Foi preciso regressar ao caso Freeport (5), desta vez sob a pressão impiedosa da pirata-mor inglesa e dona de alguns dos mais importantes off-shores do planeta, a rainha de Inglaterra, para que o céu da tríade de Macau começasse a cair em cima da maioria socialista, porventura de forma irremediavelmente fatal.

Manuela Ferreira Leite, ao apelidar José Sócrates de "coveiro da pátria", apesar da agressividade retórica, acabou por colocar o dedo na ferida. Numa ferida, porém, de que o seu querido PPD-PSD é cúmplice activo. O coveiro da pátria é todo o Bloco Central, e não apenas o PS, nem apenas o PPD/PSD.

Assim, quando Manuela Ferreira Leite anuncia o fim do TGV, rasgando alegremente acordos internacionais reiteradamente subscritos, mas não do novo aeroporto de Alcochete, nem das desnecessárias e criminosas barragens, nem do excesso de autoestradas anunciadas, temo bem que a sua filiação ao clube dos "coveiros da pátria" seja um caso mais sério do que parece.

A situação geral do país aproxima-se rapidamente dum ponto de ruptura. As causas do problema não são apenas endógenas, mas o endividamento galopante para que fomos levados por uma série de decisões estratégicas erradas, da responsabilidade do Bloco Central, contribuiu de modo decisivo para o colapso que ameaça lançar Portugal numa das piores crises económicas, socais e políticas da sua história.

O factor de aceleração, é certo, vem agora de fora. Tanto pior para nós!

O mundo caminha para uma crise de insolvência sem precedentes (6). Por outro lado, a travagem brutal da circulação monetária mundial tem um efeito semelhante ao de uma onda de proteccionismo (7). A verdade é que não há dinheiro para manter a economia mundial a funcionar com as assimetrias que são conhecidas, sobretudo porque não foi o dinheiro que a fez mover nas últimas três décadas, mas antes a dívida mundial! Uma descomunal dívida sistémica, em cima da qual foram sendo construídos casinos de bem estar ilusório, que agora começam a tombar sob o impacto de um imparável efeito de dominó.



NOTAS
  1. 02-07-2005 (O António Maria) — Mas poderá realmente a Portela manter-se por muito mais tempo onde está? Poderiam as pistas do Montijo e de Tires, e novas obras na Portela, configurar uma solução sustentável até 2020-2030? As opiniões dividem-se... e os estudos técnicos também. Segundo Rui Rodrigues, a queda da taxa de crescimento do número de voos e de passageiros, em consequência de novas e mais rápidas ligações ferroviárias entre Lisboa e Madrid (AV e VE), afastaria, pelo menos para já, a necessidade imperiosa de equacionar a construção de uma nova infraestrutura de raiz. O argumento parece razoável, e ainda mais se lhe acrescentarmos os efeitos expectáveis de uma alta contínua do preço do petróleo (praticamente inevitável no actual quadro mundial de aproximação do chamado Peak of Oil Production). Em todo o caso, se um dia tivermos que avançar para um novo aeroporto internacional que altere radicalmente o actual estado de coisas, então a solução mais conforme com a inadiável actualização das nossas prioridades estratégicas no novo contexto europeu estará seguramente ao Sul do Tejo (Rio Frio...) e não no beco da Ota. — in O Lobby da Ota e o velho eixo Norte-Sul.

  2. 02-03-2006 (O António Maria) Num cenário de catástrofe financeira mundial, é de prever a falência de centenas de bancos e sociedades de investimento, já para não falar da falência de algumas dezenas de Estados (congelamentos de salários e pensões de reforma, despedimentos nas Administrações Públicas, subidas vertiginosas de impostos, derivas nacionalistas, etc.) Se a crise vier a ocorrer, como se teme, não será fácil evitar o pânico. Mas se estivermos alerta, poderemos evitar o pior, e preparar-nos com coragem para uma longa e dolorosa metamorfose. — in Maomé e a próxima guerra nuclear.

  3. 05-08-2006 (O António Maria) — Segundo os valores estimados para 2005, dos 214 países considerados, mais de metade (110) crescia a valores do PIB entre 4% e 26,4%. Cresciam a 8% ao ano, ou mais, 24 destes países. A generalidade dos chamados países desenvolvidos crescia abaixo dos 4%. A União Europeia, por sua vez, crescia a uma média de 1,7% ao ano. Portugal, ocupando a posição 202 entre 214 países, crescia tão só a 0,30% ao ano...
    Dizer que este país cresce abaixo da média da União Europeia é, como se vê, uma verdade piedosa sobre a crise que efectivamente atravessa. Piores que os lusitanos apenas há 12 países: Itália, Tanzânia, Niue, Dominica, Monserrate, Saint Kitts and Nevis, Guiana, Iraque, Malawi, Seychelles, Maldivas, Zimbabwe. — in Os sete pecados mortais de um país.

  4. 27-08-2007 (O António Maria) — O que não deixa de ser assustador é o facto de os americanos terem conseguido exportar largas porções do seu crédito mal-parado para o resto do planeta e em particular para a Europa (razão pela qual a crise do subprime atingiu tão duramente a banca alemã e francesa). O que não deixa de ser caricato é que a tão propalada "mão invisível" do mercado se chame afinal BCE e Fed, e que venha aflita socorrer os especuladores, criando para eles taxas de juro especialmente favoráveis, enquanto mantem em alta as taxas dos juros hipotecários das famílias cada vez mais endividadas da América, da Europa e do resto do Mundo! — in O fim da confiança no dólar.

  5. Caso Freeport: polícia faz buscas a tio de Sócrates e ao advogado Vasco Vieira de Almeida 22.01.2009 - 14h28 Romana Borja-Santos (Público)

    O Departamento Central de Investigação e Acção Penal e a Polícia Judiciária realizaram hoje, no âmbito do caso Freeport, buscas na casa e empresas de Júlio Carvalho Monteiro, empresário e tio materno de José Sócrates, e no escritório de advogados de Vasco Vieira de Almeida, noticia a edição online do semanário “Sol”. De acordo com o jornal, em causa estão suspeitas de corrupção no processo que permitiu a construção do “outlet”, em Alcochete, e cujo inquérito criminal começou em Fevereiro de 2005.

  6. Phase IV of the systemic crisis: The sequence of global insolvency begins
    GEAB N°31 (January 16, 2009)

    In 2007, LEAP/E2020 announced that US banks and consumers were both insolvent. More than a year ago, our team estimated that USD 10,000-billion worth in « ghost-assets » would vanish in the crisis. Both announcements came in complete opposition with the common opinion of that time; however they proved perfectly justified in the months after. In the same line, LEAP/E2020 today estimates that a new sequence of the fourth phase (so-called « decanting phase ») of the unfolding global systemic crisis has began: the sequence of global insolvency.

    (...)

    Contrary to what political leaders and their central bankers seem to believe worldwide, the problem of liquidity that they are striving to solve by means of historic interest rate drops and unlimited money creation, is not a cause but a consequence of the current crisis. It is in fact a problem of solvency which is digging « black holes » where liquidities disappear, whether we call these holes bank balance sheets, household debt, corporate bankruptcies or public deficits. In consideration of the fact that a conservative estimation of these “ghost-assets” reaches already USD 30,000-billion, our team considers that the world is now facing a situation of general insolvency affecting in the first place the most indebted countries and organizations (public or private) and/or those depending most on financial services.

    (...)

    How to make the difference between a crisis of solvency and a crisis of liquidity? The difference between a crisis of liquidity and a crisis of solvency can appear rather technical and in the end not very decisive concerning the evolution of the current crisis. However it is not a simple academic dispute; indeed, according to the answer to that question, the actions taken by governments and central banks will either be useful or utterly useless, if not dangerous. A simple example can help to understand what is at stake. If you meet a temporary problem of cash, and if your bank or your family agrees to lend you the money you need to cross over that difficult path, their effort is mutually beneficial. Indeed, you can resume your activity, you can pay your employees and yourself, your bank or your family get their money back (with an interest in the case of the bank), and the economy in general benefited from a positive contribution. But if your problem is not due to a question of cash-flow but to the fact that your activity has ceased to be profitable and will never be again because of new economic conditions, then the effort made by your bank or family becomes all the more dangerous that it was substantial. Indeed, in all likelihood, your first call for funds will soon be followed by more calls, always matched with promises (honest ones we suppose) that difficult times are about to be over. The more your bank or your family has lent you (and therefore the more it would lose if your activity is stopped) the more willing they will be to continue helping you. However if the situation worsens, and it will if it comes from a problem of profitability, there is a moment when the limits are reached: on the one hand, your bank will decide that there is more to lose in keeping supporting you than in letting you down; on the other hand, your family ends up with no money left because you have siphoned its entire savings. Then it appears clearly to everyone not only that you are insolvent or bankrupt, but that you dragged down with you your family or your bank4. You have thus dealt a severe blow on the economy around you, including on your close relatives5. It is important to highlight the fact that all this could take place in all sincerity because you were not aware of the impact on your activity of a sudden change in the economic context disrupting the conditions of your profitability.

    According to LEAP/E2020, this simple example illustrates perfectly the situation prevailing today throughout the entire global financial system, a large part of the world economy and all the economic players (including States) who based their growth on debt in the past years. The crisis translates and magnifies a problem of global insolvency. The world is becoming aware of the fact that it is a lot poorer than it used to believe in the last decade. And 2009 is the year when all the economic players must try to assess their real level of solvency, knowing that many assets are still losing value. Moreover a growing number of investors no longer trust the traditional instruments and indicators of measurement. Quoting agencies have lost all credibility. The US Dollar is just a fiction of international monetary unit and many countries are striving to get away from it as quickly as possible. Thus, quite rightly, the entire financial sphere is suspected of being a giant black hole. Concerning companies, no one can tell if their order books are reliable, because in every sector customers cancel their orders, or just stop buying, even when prices are discounted, as indicated by dropping retail sales in the past few weeks. Concerning States (and municipalities), slumping fiscal revenues are likely to result in even higher deficits and then bankruptcies. As a matter of fact, Russian billionaires, Gulf oilmonarchies, Chinese commercial Eldorados, all the « golden-egg geese » of companies and financial institutions of the planet (namely European, Japanese and North-American ones) turn out to be insolvent or hardly solvent. The question of the solvency of the US federal State and federated states (as well as of Russia or the United-Kingdom) is beginning to be asked by some big international media; as well as the question of the solvency of large capital-based pension funds, major players in this past twenty years’ globalised economy.

    According to LEAP/E2020, the trend is clear: the sequence that has begun this year is a sequence of global insolvency.

  7. Where did all the money disappear? Liquid fantasies
    by Satyajit Das, December 15, 2008 (Prudent Bear)

    In recent years, money was cheap and other assets were expensive. But as each of the global economy’s credit creation engines breaks down and systemic leverage declines, money becomes scarce and expensive, triggering adjustments that are reversing the run-up in asset prices.

    In this current financial crisis, the quantum of available capital, the munificent resources of central banks and sovereign wealth funds, and the globalization of capital flows may be some of the accepted "facts" that are revealed to be grand illusions. As Mark Twain once advised: "Don’t part with you illusions. When they are gone, you may still exist, but you have ceased to live."

    ...

    It is not easy to fix the problem. Redirection of capital held in central banks and sovereign wealth funds to domestic economies affects the global capital flows needed to finance the debtor countries, such as the United States, and recapitalize the banking system. Maintenance of the cross border capital flows to finance the debtor countries budget and trade deficits slows down growth in emerging countries and also perpetuates the imbalances.

    Trade has become subordinate to and the handmaiden of capital flows. As capital flows slow down, global trade follows. Indirectly, the contraction of cross border capital flows and credit acts as a barrier to trade. In each case, deleveraging is the end result.

    This opens the way to "capital protectionism." Foreign investors may change their focus and reduce their willingness to finance the United States. Wen Jiabao, the Chinese prime minister, indicated that China’s "greatest contribution to the world" would be to keep its own economy running smoothly. This may signal a shift whereby China uses its savings to invest in the domestic economy rather than to finance U.S. needs.

    China and other emerging countries with large reserves were motivated to build surpluses in response to the Asian crisis of 1997-98. Reserves were seen as protection against the destabilizing volatility of short-term capital flows. The strategy has proved to be flawed.

    It promoted a global economy based on "vendor financing" by the exporting nations. The strategy also exposed the emerging countries to the currency and credit risk of the investments made with the reserves. Significant shifts in economic strategy are likely. Zhou Xiaochuan, governor of the Chinese central bank, commented: "Over-consumption and a high reliance on credit is the cause of the U.S. financial crisis. As the largest and most important economy in the world, the U.S. should take the initiative to adjust its policies, raise its savings ratio appropriately and reduce its trade and fiscal deficits."

    More ominously, Chinese President Hu Jintao recently noted: "From a long-term perspective, it is necessary to change those models of economic growth that are not sustainable and to address the underlying problems in member economies."

    ...

    The slowdown in the credit and liquidity processes outlined may have long-term effects on global trade flows. The volume of world traded, according to the World Bank, may contract by 2.1% in 2009. This contrasts with growth of 9.8 % 2006 and an estimated 6.2 % in 2008. The expected drop for 2009 is more severe than the last major contraction in trade volume of 1.9 % in 1975.

    ...

    The global liquidity process was multifaceted. There was traditional domestic credit creation system built on the fractional reserve system that underpins banking. The leverage in the system was pushed to extreme levels. Losses and renewed regulation are forcing this system of credit creation to shut down.

    The foreign exchange reserve system was another part of the global credit process. Dollar liquidity recirculation has also slowed as a result of reduced trade flows (driven by declines in U.S. consumption and imports), losses on dollar investments, domestic claims on reserves and the inability to readily mobilize large amount of reserves.

    Another credit process − the export of yen savings via the yen carry trade and acquisition of foreign assets by Japanese investors − has also slowed.

    ...

    Markets placed great faith in the volume of money available to support asset prices and assist in alleviating shortages of liquidity. The perceived abundance of liquidity was, in reality, merely an illusion created by high levels of debt and leverage as well as the structure of global capital flows. As the financial system deleverages, it is becoming clear, unsurprisingly, that available capital is more limited than previously estimated.

OAM 520 22-01-2009 18:05 (última actualização: 23-01-2009 12:00)

terça-feira, janeiro 20, 2009

Crise Global 57

Uma crise sistémica sem paralelo
Redefinir os critérios de riqueza, crescimento e bem-estar


Joseph Stiglitz : "Nous n'avons pas de système économique de rechange"

LEMONDE.FR | 19.01.09 | 09h29 • Mis à jour le 19.01.09 | 14h30

"Ce que nous vivons n'est pas seulement une crise du système financier, mais une crise de détérioration des richesses en général." Interrogé dans "Le Monde des livres" sur LCI, vendredi 16 janvier, à l'occasion de la réédition de son livre Un autre monde : contre le fanatisme de marché (Livre de poche, 2008), l'économiste américain Joseph E. Stiglitz, Prix Nobel d'économie (2001), professeur à l'université Columbia, a dénoncé l'hypocrisie du système financier américain qui, appuyé sur une dérégulation maximale des flux financiers, déresponsabilise les acteurs économiques, déséquilibre les rapports entre l'Etat et le secteur privé, et contribue à appauvrir plus qu'à enrichir les pays où règne le fanatisme du marché. D'où, selon lui, la nécessité d'inventer un système fondé sur de nouvelles valeurs.


OAM 519 20-01-2009 00:36

segunda-feira, janeiro 19, 2009

Portugal 75

Estado português
capturado pelos piratas do Bloco Central


O estudo do economista Eugénio Rosa que acabo de ler, e que vivamente recomendo, revela bem a dimensão do processo de destruição do actual regime democrático por efeito da sucção vampiresca da riqueza pública levada a cabo pela indolente burguesia burocrática dominante. O incrível é que esta sangria e destruição tem sido diligentemente assistida pelos piratas do Bloco Central — essa prole de sanguessugas engravatados e analfabetos funcionais de que as nossas desmioladas televisões tanto gosta.

Um dia teremos que enviar toda esta canalha para a prisão!

Estudo de Eugénio Rosa
Governo utiliza empresas públicas para reduzir o défice orçamental, endividando-as e arrastando-as para a situação de falência técnica

RESUMO DESTE ESTUDO

Os principais jornais diários portugueses divulgaram recentemente em grandes títulos, alguns deles na 1ª página, que as dividas das empresas públicas atingiam 17.500 milhões de euros. E, como é habitual em muitos media portugueses, não explicaram por que razão isso acontecia, podendo criar nos leitores a falsa ideia que isso resultava de serem empresas públicas. Está-se assim perante aquilo a que Phippe Breton designa por "enquadramento manipulatório", pois uma analise objectiva das causas de tais dividas levam a conclusões bem diferentes.

Existem impostos cuja cobrança se justifica porque são necessários precisamente para financiar as infra-estruturas dos transportes. São nomeadamente o Imposto Automóvel (IA), agora designado Imposto sobre os Veículos (ISV), e o Imposto sobre Produtos Petrolíferos (ISP). No período 2005-2009, as receitas obtidas pelo Estado, através do IA/ISV e do ISP, deverão atingir 20.051,6 milhões de euros de acordo com os dados dos Relatórios dos OE 2005-2009.

Apesar de arrecadar mais de 20.000 milhões de euros de receitas com estes dois impostos, as dotações orçamentais atribuídas por este governo às empresas públicas de transportes para o financiamento de infra-estruturas e aquisição de material circulante têm sido manifestamente insuficientes. Entre 2005 e 2009. as transferências do Orçamento do Estado para as empresas públicas de transportes (REFER, CP, Carris, Metro, etc), para financiamento de infra-estruturas e aquisição de material circulante, atingirão apenas 2.289,5 milhões de euros. Como consequência, as empresas públicas de transportes serão obrigadas a se endividarem em mais 3.773 milhões de euros (mais 63% do que o transferido do Orçamento do Estado), no período 2005-2009, só para poderem cumprir o programa de investimentos constante do PIDDAC, ou seja, o programa mais importante de investimentos do Estado.

Como consequência da insuficiência das transferências do Orçamento do Estado, as dividas aos bancos apenas de quatro empresas públicas de transportes (REFER, CP, Carris e Metro de Lisboa) atingiam, já no fim de 2007, 7.983,2 milhões de euros, e os juros pagos por estas empresas totalizaram, só em 2007, 444,7 milhões de euros. Estes elevados montantes de juros contribuíram para que estas quatro empresas tivessem tido, em 2007, 532 milhões de euros de prejuízos. Esta situação provocou que estas quatro empresas públicas apresentassem em 2007 "Situações Liquidas" e "Capitais Próprios" negativos, isto é, o seu "Activo" (aquilo que possuíam mais o que tinham a receber) já não era suficiente para pagar o seu "Passivo" (tudo o que deviam), pois o seu "Passivo"já era superior ao seu "Activo" em 3.272,5 milhões de euros, , o que significava que, já em 2007, aquelas quatro empresas estivessem tecnicamente falidas. É arrastando as empresas públicas de transportes para a situação de falência técnica, que este governo tem conseguido também reduzir o défice orçamental.


OAM 518 19-01-2009 19:18

Portugal 74

Investimento público: razão, desperdício e corrupção

O artigo que a seguir transcrevo na íntegra é um excelente contributo para a discussão sobre as prioridades que deverão nortear o urgente plano de combate à catastrófica crise que aí vem. Dada a interdependência cada vez mais forte entre a economia portuguesa e as economias espanhola, alemã, e em geral da União Europeia, todos os investimentos que ajudem ao aumento das sinergias entre o nosso país e o resto da Europa serão bons investimentos, ainda que tragam um agravamento temporário da dívida pública. A rede ferroviária ibérica e europeia de Alta Velocidade/Velocidade Elevada, a aposta corajosa no transporte público nas duas grandes áreas metropolitanas do país, a recuperação dos centros urbanos de Lisboa e Porto e a eficiência energética dos edifícios públicos, são seguramente as prioridades certas. Concedo que as autoestradas de Bragança e de Beja sejam investimentos aceitáveis, apesar da conjuntura. Já no que respeita ao resto das autoestradas previstas, barragens e novo aeroporto de Lisboa, o mínimo que se pode dizer, é que devem esperar por melhores dias.

OS BONS INVESTIMENTOS PÚBLICOS E SUAS CONSEQUÊNCIAS

12-01-2009, Rui Rodrigues (Público - Carga & Transportes) — Na imprensa, sempre que se fala de investimentos em obras públicas, geralmente só são discutidos todos aqueles que vão ser realizados no futuro. Seria muito interessante analisar os que foram executados no passado e observar os verdadeiros resultados, tendo em conta o seu custo-benefício. A introdução do comboio na Ponte 25 de Abril e o Metro do Porto foram, sem dúvida, dois dos melhores projectos de mobilidade que foram levados a efeito nos últimos anos, em Portugal. Estes dois exemplos demonstram que as populações aderem ao transporte público, sempre que estes correspondem aos seus interesses.

O tráfego rodoviário, na Ponte 25 de Abril, praticamente estagnou, nos últimos cinco anos. Os valores médios anuais, considerando a soma dos dois sentidos, foram os seguintes: 155 mil veículos no ano de 2004, 156 mil em 2005, 155 mil em 2006, 155 mil em 2007 e por fim 153 mil em 2008.

Ao contrário, o tráfego ferroviário na mesma ponte quase duplicou. Em 1999, entrou em funcionamento o comboio na Ponte 25 de Abril que permitiu criar uma nova ligação ferroviária entre as duas margens do rio Tejo, efectuando, actualmente, a conexão desde Setúbal (margem Sul da região de Lisboa) até Areeiro (margem Norte), tendo o tráfego quase duplicado de 11,6 milhões de passageiros, no ano 2000, para 21,4 milhões em 2006 (mais 84,4%). Significa isto que, se não existisse esta nova ligação, o congestionamento rodoviário, na Ponte 25 de Abril, teria sido bem pior. Este é um exemplo de como o investimento no transporte publico melhorou a situação.

Convém recordar que, quando foi inaugurada a nova Ponte Vasco da Gama, passado um ano, o tráfego na Ponte 25 de Abril teve um aumento apreciável. Ou seja, a nova travessia rodoviária não melhorou o congestionamento na antiga ponte.

Na região do Porto, antes do Metro existir, cerca de 61% das pessoas circulavam de automóvel, 30% de autocarro e 9 % de comboio. A cidade tem graves problemas de mobilidade e, com o funcionamento da nova rede do Metro, certamente se verificará uma alteração substancial no valor das percentagens referidas.

Quando estiver terminada a 1ª fase do Metro, são esperados 82,5 milhões de passageiros, cerca de 226 mil por dia. O número de clientes subiu de 9,8 milhões em 2004 para 38,6 milhões em 2006 (mais 293,8%), tendo uma média de 180 mil clientes em cada dia útil.

Tendo em conta o número de passageiros esperados diariamente, bem como a poupança nos respectivos tempos de viagem, fácil será concluir sobre o enorme impacte na qualidade de vida dos seus cidadãos e economia da Grande Área Metropolitana do Porto, que se tornará mais competitiva e atraente, a médio e longo prazo, permitindo que outras actividades económicas se realizem de forma mais eficaz e rentável.


VANTAGENS DO TRANSPORTE PÚBLICO

A cidade americana de Houston é uma referência, como um exemplo a não seguir, por ter graves problemas de mobilidade, e está a pagar muito caro por ter baseado a sua circulação apenas no automóvel.

Para se ter uma ideia da gravidade da situação, a União Internacional de Transporte Público (UITP) dá como exemplo a comparação entre as cidades de Singapura e Houston, que possuem aproximadamente a mesma população e rendimento per capita. Por ano, Singapura gasta menos 10 mil milhões de dólares para transportar os seus habitantes que a cidade de Houston, o que representa cerca de menos de 3000 dólares por habitante.

Esta diferença, em parte, também se explica devido à diferença da densidade populacional mas, mais importante, deve-se ao facto de que em Singapura 52,75% dos seus habitantes utilizam o transporte público, enquanto que, em Houston, 95,5 %, utilizam o veículo privado.

Na Europa, o transporte público consome quatro vezes menos energia que o transporte individual e, no Japão, esse valor é 10 vezes inferior. Por outro lado, segundo estudos realizados pela APTA (American Public Transport Association) o transporte público cria duas a três vezes mais postos de trabalho que o privado e é muito mais eficaz porque uma linha de Metro ou comboio suburbano pode transportar mais de 50 mil passageiros / hora.

No ano de 2006, foi divulgado um relatório do Eurostat sobre o número de automóveis, por habitante, na União Europeia (UE). Ficou a saber-se que, entre 1990 e 2004, houve um aumento de 38 por cento no número de automóveis no conjunto dos 25 países, atingindo a proporção de um carro para cada duas pessoas. Quanto a Portugal, as tabelas mostram que, em 1990, existiam 258 carros por cada mil habitantes e, passados 14 anos, esse número era de 572. Na UE, Portugal está agora na 3ª posição, tendo à sua frente a Itália e o Luxemburgo. Se considerarmos os países que faziam parte da UE desde 1990, Portugal teve o maior crescimento no número de viaturas pois o aumento foi de 135%.

Além deste forte aumento, serão investidos, nos próximos anos, mais de 15 mil milhões de Euros nas SCUTS, o que representa um enorme esforço financeiro. O modo rodoviário foi, sem dúvida, a grande aposta dos sucessivos Governos nos últimos vinte anos. Por outro lado, verificou-se que, nas mais importantes cidades do nosso País, a maioria dos cidadãos se desloca em viatura particular, sendo Lisboa um dos casos mais graves porque, em média, cada automóvel transporta só 1,2 passageiros.

Nas famílias portuguesas, os gastos em combustíveis atingem entre 76 a 125 Euros por mês, ou seja, entre 916 a 1500 Euros, por ano, o que representa uma percentagem importante do orçamento familiar, tendo em conta o rendimento médio.

Concluiu-se que, num país como o nosso, com poucos recursos económicos, dirigiu-se o maior esforço para o modo de transporte mais caro, mais poluente e que maior número de mortes, feridos e prejuízos provoca na sociedade.


OAM 517 19-01-2009 12:54

Crise Global 56

Espanha: a caminho da depressão?
La industria ingresa más de 400 millones por la venta masiva de CO2

Las empresas comercializan los derechos de emisión que recibieron gratis del Gobierno - El sistema incentiva los paros en las fábricas para obtener liquidez

RAFAEL MÉNDEZ - Madrid - 19/01/2009 (El País) — Qué ironía. Durante años la industria ha presionado contra la limitación de emisiones de dióxido de carbono que imponía el Protocolo de Kioto. Sin embargo, al cumplirse el primer año de entrada en vigor del protocolo, la industria pesada, especialmente la ligada al sector de la construcción (azulejeras, ladrilleras, cementeras...), ha vendido los derechos de emisión de entre 20 y 25 millones de toneladas, con lo que han ingresado entre 400 y 500 millones de euros, según la estimación de Ismael Romeo, director general de Sendeco2, la bolsa española de CO2.

Outros dados reveladores (El País, 17-01-2008 p.15):
  • pior recessão dos últimos 50 anos
  • desemprego: 2008 = 11,1%; 2009 = 15,9%; 2010 = 15,7%; 2011 = 14,9%
  • PIB: 2008 = 1,2%; 2009 = -1,6%; 2010 = 1,2%; 2011 = 2,6%
  • Défice público: 2009 = -5,8%; 2010 = -4,8%; 2010 = -4,8%; 2011 = -3,9%
  • redução do tráfego TIR = 30%
  • redução da produção industrial em Novembro 2008 (face a período homólogo de 2007) = 15%
  • preço da tonelada de CO2 baixou de 29 para 12 euros
  • empresas industriais vendem mais de 20 milhões de toneladas de CO2
  • plano de estímulo (plurianual): 90 mil milhões de euros
É caso para perguntar o que pensam os portugueses fazer? A discussão patética entre o governo Sócrates e a desmiolada Oposição parlamentar augura o pior! Onde está o plano de emergência até 2011? Onde ?!

A declaração da Manuela Ferreira Leite (e de mais alguns economistas ignorantes e preguiçosos) sobre a rede de Alta Velocidade é todo um tratado de estupidez política e submissão à vertente mais bronca e corrupta do Bloco Central do Betão. No fundo, a dona de casa do PSD está simplesmente à mercê do homem da mala e dos fundos negros das construtoras. Foi chão que deu uvas!


OAM 516 19-01-2009 12:19

sexta-feira, janeiro 16, 2009

Alta Velocidade 3

Ó Manuela, que desgraça!
O Bloco Central do Betão esperneia pelos terrenos da Portela e por cidades aeroportuárias

Projecto do TGV é campo de batalha entre PSD de Ferreira Leite e Governo

16-01-2009 (RTP) — Os ecos da entrevista de Manuela Ferreira Leite à RTP assumiram esta sexta-feira a forma de um duelo político entre a direcção social-democrata e o ministro das Obras Públicas, a propósito da oportunidade do projecto da rede ferroviária de alta velocidade. O PSD de Ferreira Leite promete “riscar” o TGV do mapa se vencer as legislativas, ao que Mário Lino responde com acusações de “falta de credibilidade” e “embuste”.

O governo já percebeu que a conversa dos aeroportos, TGVs e novas pontes sobre o Tejo foi chão que deu uvas e vai precisar de uma pausa para reflexão. Este cesto de fruta só voltará a estar acessível depois do ciclo eleitoral de 2009 — avaliados os estragos da crise em curso, e a nova configuração político-partidária emergente do naufrágio à vista do Bloco Central — assim faça Cavaco Silva o que tem que fazer, sob pela de, não o fazendo, acompanhar o dito bloco no afundamento geral do actual regime político.

A prova de que o PS já percebeu a situação é que nada de substancial incluiu sobre estes três dossiers no Orçamento de Estado de 2009 — com a possível excepção da anunciada privatização da ANA e venda a patacos dos terrenos da Portela a um sindicato de empresários inúteis, incapazes de vencer um único concurso internacional (nem que seja na Bulgária), ou de produzir qualquer coisa de boa para o país.

Este exército de lapas, unido pela sua congénita dependência do Estado e pela corrupção, apesar de ter estuporado meio Portugal, insiste em continuar a esburacar o país com as suas retro-escavadoras e orçamentos fraudulentos até que Portugal desapareça literalmente do mapa! A explicação é simples: estão endividados até ao tutano, tiveram mais olhos do que barriga, fartaram-se de comprar tudo e todos com dinheiro emprestado que agora não podem pagar, estão apavorados com a perspectiva mais do que certa das falência que aí vêm — em suma, imagino-os aos gritos, entupindo os telemóveis de José Sócrates, Manuela Ferreira Leite e Aníbal Cavaco Silva com gemidos do estilo:

— Mais obras!
— Mais concursos martelados!
— Mais trabalhos a mais!
— Mais avales!
— Mais dívida!
— Mais dívida infinita, por favor! — imploram perante um poder político cada vez mais borrado de medo.

Ora como toda a gente sabe, a extensão da rede de Alta Velocidade e Velocidade Elevada da Europa/Espanha até Portugal —apesar da sua óbvia importância estratégica e sustentabilidade a médio-longo prazo— não alimenta os Ferraris, os Jaguares, os Bentleys, os Porche Cayaenne e os Aston Martin dos cérebros altamente evoluídos da Mota-Engil, da Pedro Duarte, da Brisa e da vasta rede de concessionários da nossa mentalmente atrasada burguesia palaciana. Estas mioleiras não produzem aço. Não fabricam comboios. Nem sequer sistemas de sinalização e gestão avançada de tráfego ferroviário sabem fazer. Querem pois lá saber do TGV! Mesmo que este possa aproximar portugueses e produtos portugueses do resto da Europa, a velocidades e fretes muito mais competitivos, com ganhos de contexto evidentes, diminuindo substancialmente a nossa pegada ecológica, a intensidade energética da nossa economia, a dívida externa (pela óbvia diminuição de importações petrolíferas) e a propalada, embora completamente falsa, saturação dos nossos principais aeroportos. Não, o que esta gajada quer é mesmo especular com os terrenos da Portela e de Rio Frio, fazer buracos, aldrabar o betão, e construir aeroportos desnecessários, para logo erguer a Babilónia do Alto da Portela, com um jardinzinho no meio, cheio de cocó de cão, que António Costa inaugurará alegremente acompanhado pelas luminárias da Ordem dos Arquitectos. A Nova Moscavide (vulgo Zona Expo) está no fim. Que bom seria mover o parque de máquinas o mais depressa possível para a Portela!

Aeroportos e cidades aeroportuárias, especialmente se forem projectadas pelo genial criador do aeromoscas de Beja — o famoso Augusto Mateus, especialista em exportações de peixe congelado alentejano — é a quinta essência do pensamento político de Manuela Ferreira Leite (certamente inspirado pelo homem da mala Arnaut) e de José Sócrates. Ambos querem afinal o mesmo. A diferença de opiniões resulta apenas de um pormenor: José Sócrates comprometeu a palavra de Portugal relativamente à rede de bitola europeia e velocidade elevada/alta em sucessivas cimeiras ibéricas!

A ave rara da economia portuguesa chamada Augusto Mateus tem a extraordinária peculiaridade criativa de inventar nado-mortos como ninguém. Ora de nado-mortos (conhecem a estação ferroviária de Castanheira do Ribatejo?) é que a produtiva indústria betoneira nacional precisa, para poder continuar a esburacar as montanhas, planícies e rios do país. Em vez de uma solução simples de aproveitamento do fenómeno Low Cost —que teria sido a adaptação do aeroporto do Montijo às companhias aéreas de baixo custo, atraindo-as em força—, acompanhada de uma modernização com pés e cabeça da Portela (prolongamento das pistas, extensão do taxiway, colocação de mangas, ocupação da placa de Figo Maduro, substituição dos incompetentes que há anos malbaratam a principal porta de entrada no país com um serviço indigno de qualquer país europeu), o dromedário das Obras Públicas, mais a amazona que exponencialmente o acompanha na asneira, tudo têm feito para servir os superiores interesses no Bloco Central do Betão e rebentar com a possibilidade de termos uma política de transportes racional e adaptada às necessidades do país.

Manuela Ferreira Leite está pelos vistos disposta a rebentar com a Portela, assinando de cruz a futura privatização da ANA. O pacto do Bloco Central está pois assinado por baixo da mesa. O folclore da polémica não passa disso mesmo; de um folclore mediático para esconder a corrupção que prossegue ao mais alto nível!

Nota final: João Cravinho continua impávido na sua senda obtusa pela única ligação de Alta Velocidade económica e politicamente insustentável no médio prazo, e que os portugueses manifestamente não querem porque não poderão pagá-la: a linha AV Porto-Lisboa. Basta meditar no seguinte facto: o que mais cresce na ligação ferroviária Lisboa-Braga, não é o Alfa, mas sim o Intercidades. Pelo contrário, as ligações transversais do país à Europa, a começar pela Espanha, mesmo se servem os desígnios estratégicos de Madrid, não deixam de servir ainda melhor os portugueses! As únicas obras públicas de grande envergadura de que Portugal precisa urgentemente são precisamente as ligações ferroviárias em bitola europeia às Espanhas e às Europas, e a criação dum fortíssimo cluster de indústrias associadas ao mar, começando por definir uma política portuária racional, ambiciosa e desapaixonada. Tudo o resto —barragens fraudulentas, aeroportos intercontinentais, mais auto-estradas— não passa de um mau serviço ao país e da prova provada de que a burguesia burocrática que domina Portugal ainda não encontrou um político à altura, capaz de a pôr a trabalhar e nos eixos.

OAM 515 16-01-2009 18:38

Crise Global 55

Israel: um estado-hidra

O presidente da Assembleia-Geral da ONU acusa Israel de genocídio, enquanto o quase imbecil secretário-geral da mesma organização permanece nas suas inúteis e hipócritas ladainhas protocolares.

Sejam quais forem os nossos preconceitos sobre este conflito, o mais provável é estarmos mal informados sobre as suas origens e significado, e sofrermos de fortes inclinações para tolerar os crimes de guerra de Israel, submetidos que somos diariamente à propaganda pró-sionista que domina boa parte da desgraçada imprensa escrita e audiovisual portuguesa. Outra circunstância do condicionamento psicológico das nossas mentes distraídas é a chantagem emocional de que continuamos a ser objecto em torno do holocausto. O sionismo alimenta-se das vítimas do holocausto nazi como se de um maná se tratasse para a sua causa política. Ora isto sim, é um desrespeito intolerável pelas vitimas do anti-semitismo genocida do III Reich!

Não houve um holocausto, houve vários, durante a Segunda Guerra Mundial. E o ponto é este: nenhum holocausto passado autoriza os judeus de hoje a infligirem outro holocausto, seja a quem for!

O que Israel pretende e tem feito tudo para conseguir, é expulsar todos os árabes e filisteus da Palestina, transformando esta terra historicamente multi-étnica e multi-religiosa num bunker judeu governado por uma casta de fundamentalistas do judaísmo (os sionistas), cuja força advém não apenas do poderosamente armado e termonuclear Estado de Israel, mas sobretudo do verdadeiro estado-hidra em que se transformou o sionismo mundial, com particulares ramificações nos Estados Unidos e na Europa — mas já não na Rússia, nem na Ásia.

Todas as ofensivas terroristas do Estado de Israel (ditas militares) visam, em primeiro lugar, as populações civis, e só depois a desarticulação física (aliás impossível) dos povos em armas que pretende expulsar da Palestina. Gaza encontra-se submetida a um cerco medieval e a uma invasão pelo terror das bombas (nomeadamente de fragmentação!) em larga escala, completamente ilegal à luz das convenções modernas sobre a guerra. Esta barbarização da violência de Estado é um retrocesso civilizacional muito grave, e augura o pior. Em particular porque Israel não está a ganhar esta guerra, mas a perdê-la a uma velocidade só aparentemente invisível.

A Europa, na sua submissão canina aos falcões de Washington (para que muito tem contribuido o burro lusitano, José Manuel Durão Barroso), acabará por pagar um preço bem alto pela sua falta de estratégia, oportunismo e cobardia.

Na semana em que uma qualquer tenaz do petróleo ou do gás natural apertar a sério a Babélia europeia, saberemos então o preço do nosso desconhecimento sobre as causas das coisas e distracção face ao comportamento dos políticos que elegemos sem nada lhes perguntar, nem exigir. Os Estados Unidos estão a caminho de uma nova era de isolamento defensivo, pelo que deixarão em breve de servir de ama-seca dos europeus. Será o fim da omni-NATO sonhada pelos estrategas do New American Century, e até do apoio sem limites ao terrorismo de Estado israelita. O continente americano e os mares adjacentes serão, a partir de agora, a prioridade absoluta de Washington. E a Eurásia, um sonho... russo, sobre o qual Putin y Hu Jintao já celebraram discretamente os necessários acordos!

A completa imbecilidade política da Europa de Blair e Durão Barroso face ao seu mais importante vizinho estratégico, a Rússia, em matérias tão cruciais quanto a independência forçada do estado falhado do Cosovo, o apoio às operações da CIA na Georgia, que conduziram à guerra com a Rússia, a autorização de colocação de radares e mísseis americanos nas fronteiras russas, etc., vai começar a ser paga com juros. O garrote do gás, que prossegue, é uma amostra do que virá. Imagine-se o humor negro da situação quando um Irão provocado e uma OPEP mais radicalizada pelo desespero mundial em volta da escassez petrolífera, optarem por mexer também nas torneiras do gás argelino, ou impuserem uma cartelização feroz dos preços do crude no limiar, por exemplo, dos 100 euros. Que fará a Europa, lá para 2012, sujeita então aos perigos inimagináveis de uma hiperinflação, sobretudo depois de desmamada por uma América demasiado aflita com a sua própria insolvência económico-financeira? Vamos exibir o comprimento dos nossos pirilaus atómicos? Perante quem? A Rússia? Parece-me que o problema está bem exposto, não?


Referências
Immanuel Wallerstein, "Chronicle of a Suicide Foretold: The Case of Israel"


Última hora
: O Qatar, detentor das terceiras maiores reservas mundiais de gás natural, depois da Rússia e do Irão, anunciou o corte de relações com Israel, na sequência da agressão criminosa deste país à Faixa de Gaza. Sarkozy e Brown dizem que querem ampliar o Conselho de Segurança da ONU. Faltam-lhes, porém, os dentes para fazerem de anfitriões!

Qatar, Mauritania cut Israel ties

16-01-2009 (Aljazeera) — Qatar and Mauritania have suspended economic and political ties with Israel in protest against the war in Gaza, Al Jazeera has learned.

The move announced on Friday followed calls by Bashar al-Assad, the Syrian president, and Khaled Meshaal, the exiled leader of Hamas, for all Arab nations to cut ties with Israel.

Addressing leaders at an emergency Arab summit in Doha, the Qatari capital, al-Assad declared that the Arab initiative for peace with Israel was now "dead".

He said Arab countries should cut "all direct and indirect" ties with Israel in protest against its offensive in Gaza.

OAM 514 16-01-2009 00:20 (última actualização: 16-01-2009 20:21)