terça-feira, junho 07, 2011

Não pagamos?

Estamos no meio duma guerra financeira!
Precisamos de um sistema de forças, de definir correctamente os objectivos, de liderança, de estratégia e de aliados.

Manif. Grécia, 11 de maio, 2011

Como sair da armadilha do endividamento especulativo e da economia virtual para onde fomos arrastados ao longo das últimas duas décadas? Como impor aos credores, sobretudo aos que especularam e especulam com os mercados da dívida, uma repartição equitativa dos prejuízos?

“A UE substituiu os Estados nacionais pela planificação dos banqueiros e, por essa via, a política democrática foi substituída pela oligarquia financeira.” — inWill Greece Let EU Central Bankers Destroy Democracy? A World at Financial War” (6 de Junho de 2011), por Michael Hudson.

De leitura obrigatória, este artigo de Michael Hudson permite-nos uma reflexão mais equilibrada (ainda que deixando de fora as causa estruturais da presente crise financeira ocidental) sobre os desafios dramáticos que temos pela frente: onde estaremos depois de gastar os 78mM€ obtidos pela Troika nos mercados a que já não conseguimos aceder salvo pagando juros suicidas? O dinheiro que vai chegando, com exigências crescentes, serve para pagar facturas atrasadas aos principais credores (Espanha, Alemanha, França e Reino Unido), mas também muitas facturas recentes, provavelmente indevidas, por resultarem do ataque desencadeado pela especulação financeira contra as dívidas soberanas da periferia europeia.

Qual será o preço final do dinheiro fresco que chega, para logo sair em direcção aos credores? Pode ou não acontecer que, depois de os investidores e especuladores recuperaram o seu dinheiro, mais os juros agiotas que conseguiram impor com o auxílio do pelotão de sabotadores das agências de notação, ameaçando expropriar literalmente os nossos melhores activos, a Troika acabe por confessar que o país é insolvente e que por esta razão deverá sair do euro, ou submeter-se a uma governação directa do exterior?

Temos que discutir estas dramáticas perguntas, sem cair na tentação do pensamento linear e completamente inútil dos partidos que, apesar de pagos pelos contribuintes, se recusam a negociar com o inimigo. Na Grécia, actualmente governada por socialistas à beira de serem acusados de traição, é a direita que tem vindo a colocar as questões patrióticas que naturalmente se impõem.

Há uma guerra financeira em curso, como estou farto de sublinhar. Temos que identificar claramente o que está em causa, os teatros de operações, os adversários e os objectivos. E depois, como é óbvio, teremos que defender a integridade do nosso território, como parte indispensável do próprio processo de integração europeia. A União Europeia não pode ser trocada, sob a ameaça terrorista dos mercados especulativos, por uma espécie de feudalismo financeiro e tecnológico, como bem refere Michael Hudson. Regras, coerência e supervisão europeias, sim. Nem sequer contesto, antes pelo contrário, um governo europeu com poderes acrescidos sobre os vários estados-membros da União. Mas não podemos confundir esta trajectória em direcção a uma futura, efectiva e eficiente soberania europeia, com a submissão dos burocratas europeus ao poder cego do dinheiro. Se os dirigentes europeus pensam que podem vender a União a retalho, ou pior ainda, destruí-la em nome de um qualquer imperialismo franco-alemão de trazer por casa, preparem-se para um novo pesadelo! Sem racionalidade económica assente numa visão estratégica efectivamente europeia e solidária, a Europa caminhará inexoravelmente para uma nova guerra civil. É isso que querem os especuladores e os burocratas de Bruxelas, Paris e Frankfurt?

A condição necessária para que arranque o novo pacote “reformado” de empréstimos é que a Grécia entre numa guerra de classes aumentando os seus impostos e rebaixando os gastos sociais – incluindo as pensões do setor privado – e liquide e ponha em leilão terrenos públicos, enclaves turísticos, ilhas, portos, água e sistemas de esgoto. Isto aumentará o custo de vida e o custo de fazer negócios, atingindo a já limitada competitividade das exportações do país.

[...] E no que diz respeito às próprias classes ricas gregas, o pacote de empréstimos da União Europeia conseguiria manter o país na eurozona o tempo suficiente para que retirassem o seu dinheiro do país, antes de chegar o momento em que a Grécia seja forçada a abandonar o euro, regressando a um dracma rapidamente desvalorizado. Enquanto não chegar o momento deste regresso a uma moeda própria em queda, a Grécia terá que seguir a política báltica e irlandesa de “desvalorização interna”, isto é: de deflação salarial e corte de gastos públicos – exceto para pagar o setor financeiro – a fim de diminuir o emprego e, assim, os níveis salariais.

O que realmente se desvaloriza nos programas de austeridade ou de desvalorização monetária é o preço do trabalho. Ou seja, o principal custo interno, já que há um preço mundial comum para combustíveis e minerais, bens de consumo, alimentos e até crédito. Se os salários não puderem ser reduzidos pela via da desvalorização interna (com um desemprego que, começando pelo setor público, induza quedas salariais), a desvalorização da moeda acabará por fazer o trabalho que resta até o fim.

É assim que a guerra dos países credores contra os países devedores na Europa se torna uma guerra de classes. Mas para se impor tamanha reforma neoliberal, é preciso que a pressão externa passe ao lado dos parlamentos nacionais democraticamente eleitos. Pois não é de se esperar que os eleitores de todos os países se mostrem tão passivos como os da Letónia e da Irlanda quando se age manifestamente contra os seus interesses.

[...] As finanças são uma forma de guerra. Como na conquista militar, o seu objetivo é garantir o controle do território e das infraestruturas públicas, e impor tributos. Isso envolve ditar leis aos seus súditos e concretizar a planificação social e económica de forma centralizada. Isto é o que se está fazendo agora com meios financeiros, sem o custo, para o agressor, de ter que colocar um exército no campo de batalha. Mas as economias sob ataque podem terminar tão profundamente devastadas pelos rigores financeiros quanto seriam por investidas militares, provocando a contração demográfica, o encurtamento da esperança média de vida, emigração e fuga de capitais.

in “Golpe de estado financeiro ameaça democracia europeia”, Carta Maior.

segunda-feira, junho 06, 2011

Reservas de ouro ameaçadas

União Europeia abre portas ao assalto às reservas de ouro!



Elisa Ferreira (PS) e Nuno Melo (CDS), membros efectivos da comissão do Parlamento Europeu ECON (Economic and Monetary Affairs), votaram no passado dia 24 de Maio um relatório, aprovado por unanimidade, a favor do uso das reservas de ouro dos países europeus como colateral do endividamento soberano. Este relatório será levado ao Parlamento Europeu no próximo dia 30 de Junho para discussão e aprovação.

Apesar da opacidade do sítio do Parlamento Europeu nesta matéria, a verdade é que a informação chegou ao World Gold Council, e está a ser objecto de comentários muito ácidos por parte de alguma imprensa económica especialmente atenta e independente. Por aqui, o António Maria gostaria de conhecer o que têm a dizer os deputados portugueses citados e que aparentemente terão votado este “compromisso”.

Perguntamos também ao Governador do Banco de Portugal, Carlos Costa, o que pensa sobre a possível alienação do ouro português, acumulado em boa medida por Salazar, na fogueira imparável dos Derivados Financeiros — um buraco negro, entre 10 a 12x o PIB mundial, que ameaça estagnar o planeta num inferno de deflação e inflação sucessivas ao longo desta década.

The Economic and Monetary Affairs Committee of the European Parliament has approved gold to be used as collateral confirming its status as a high-quality liquid asset

Yesterday’s unanimous agreement by the European Parliament’s Committee on Economic and Monetary Affairs (ECON) to allow central counterparties to accept gold as collateral, under the European Market Infrastructure Regulation (EMIR), is further recognition of gold’s growing relevance as a high quality liquid asset. This vote reinforces market demand for a greater choice of assets that can be used as collateral to meet margin liabilities. World Gold Council, 25.05.2011 (PDF).

The European Gold Confiscation Scheme Unfolds: European Parliament Approves Use Of Gold As Collateral

Wonder why Europe is pressing so hard for Greece (and soon the other PIIGS) to collateralize its pre-petition loans on a Debtor in Possession basis? Here is your answer: "Yesterday’s unanimous agreement by the European Parliament’s Committee on Economic and Monetary Affairs (ECON) to allow central counterparties to accept gold as collateral, under the European Market Infrastructure Regulation (EMIR), is further recognition of gold’s growing relevance as a high quality liquid asset. This vote reinforces market demand for a greater choice of assets that can be used as collateral to meet margin liabilities." Luckily for Greece, it has 111.5 tons of gold in storage (somewhere at the New York Fed most likely). Looking down the road, Portugal has 382.5 tons, Spain 281.6, and Italy leads the pack with 2,451.8 tons. Zero Hedge.

Aparentemente confidencial:

Compromise on Article 43
Collateral requirements


1.           A CCP [Central Counterparty Clearing House] shall accept highly liquid collateral, such as cash, gold, government and high quality corporate bonds, with minimal credit and market risk to cover its initial and ongoing exposure to its clearing members. For non-financial counterparties, CCPs may accept bank guarantees taking into account such guarantees in exposure to a bank that is a clearing member. It shall apply adequate haircuts to asset values that reflect the potential for their value to decline over the interval between their last revaluation and the time by which they can reasonably be assumed to be liquidated. It shall take into account the liquidity risk following the default of a market participant and the concentration risk on certain assets that may result in establishing the acceptable collateral and the relevant haircuts. These minimum standards shall be calibrated in accordance with the risk level and shall be regularly revised to reflect market conditions and in particular in response to emergency situations where it is concluded that doing so will mitigate systemic risk. [GREENs]. (AM 111 - Langen, AM 850 - Luvigsson, AM 851 - Swinburne, AM 852 - Balz, AM 853 - Schmidt).

2.           A CCP may accept, where appropriate and sufficiently prudent the underlying of the derivative contract or the financial instrument that originate the CCP exposure as collateral to cover its margin requirements.

3.           In order to ensure consistent harmonisation of this Article, ESMA, in consultation with ESRB and EBA, shall develop draft regulatory technical standards specifying the type of collateral that can be considered highly liquid and the haircuts referred to in paragraph 1. ESMA, in consultation with the ESCB and EBA, shall submit drafts on those regulatory technical standards to the Commission by 30 June 2012. (AM 860 - Langen).

              Power is delegated to the Commission to adopt the regulatory technical standards referred to in the first subparagraph in accordance with Articles 10 to 14 of Regulation …/… [ESMA Regulation]. (AM 861 - Langen)

domingo, junho 05, 2011

A queda de um boneco

Ex-voto "socialista" não chegou a ter a sua estátua. Acaba de ser derrubado pelo sufrágio popular!

O pesadelo de uma democracia venezuelana não se concretizou.
Fotomontagem: We Have Kaos In The Garden

Dados da sondagem à boca das urnas chegados via SMS, às 18:03, e às 18:05, do interior profundo do PS:
  • PSD: 38,3 (34,9 a 41,7)
  • PS: 28,8 (25,4 a 32,2)
  • CDS: 14,6 (11,2 a 18,0)
  • CDU: 7,6 (4,2 a 11,0)
  • BE: 4,7 (2,6 a 9,4)
  • OBN: 4,7 (1,3 a 8,1)
Como era previsível, o povo e sobretudo as classes médias urbanas fartaram-se. O PSD, a menos que chegue mesmo à maioria absoluta, vai precisar do CDS para formar imediatamente um governo maioritário. Mas irá certamente reservar para si espaço de manobra para negociar um apoio parlamentar estável do PS, em 2012. Ou seja, se a coligação PSD-CDS quebrar, o PS estará pronto para o substituir. Vamos pois prever o seguinte:
  • Até ao fim deste ano: governo PSD-CDS e apoio incondicional do PS ao Memorando da Troika
  • Até ao fim do primeiro semestre de 2012: alargamento da base de apoio parlamentar ao PS, com a necessária clemência em matéria de saneamento do aparelho de estado socialista (quer dizer, em vez de uma razia completa, serão negociadas algumas posições e protecções institucionais actualmente nas mãos do PS)
  • Para salvar o PS há que afastar Sócrates quanto antes. Se não se demitir hoje, será vítima de uma conspiração interna (seguramente em marcha desde o congresso coreano de Sócrates). Francisco Assis continuará como tribuno parlamentar e chefe de bancada, António José Seguro está na calha para substituir Sócrates. Manuel Maria Carrilho poderá ser a ultima ratio socialista, se os jovens turcos falharem...
  • Possível cisão no Bloco
  • Jovens turcos do PCP iniciam profunda regeneração do partido comunista
Uma coisa ficou definitivamente clara nestas eleições: os partidos que rejeitam a possibilidade de ascender pela via democrática ao poder deixam de ter lugar no imaginário popular. A recusa das direcções do PCP e do Bloco de se reunirem com a Troika foi um verdadeiro harakiri para ambas os alienados dirigentes estalinistas, maoistas e trotskistas que ainda restam da ilusão de Abril.

5 junho 2011 19:10

O assassínio de Júlio César — para salvar a República
 Todas as sondagens coincidem numa derrota histórica do PS. Em nenhuma sondagens oficial à boca da urna, o PS chega aos 30%. Apenas a sondagem interna do PS avançou um limite superior acima dos 30%: 32,2%. Sócrates terá que anunciar hoje mesmo a sua próxima demissão de secretário-geral do PS. Se o não fizer, terá que ser empurrado.

5 junho 2011 20:16

José Sócrates Pinto de Sousa regressa à condição de militante de base do PS. O consigliere A.S. já o anunciara.

5 junho 2011 21:22

Resultados finais (falta apurar resultados dos círculos da Europa e resto do mundo)

PSD: 38,63 (105 deputados + 3 ou 4/ Europa e resto do mundo)
PS: 28,05 (73 deputados +0 ou 1)
CDS: 11,74 (24 deputados)
CDU: 7,94 (16 deputados)
BE: 5,19 (8 deputados)
Abstenção: 41,1

6 junho 2011 2:21

Comentário final desta noite eleitoral:
  1. O PSD teve, de facto, uma ampla maioria. Tem mais votos do que a Esquerda toda unida. Ou seja, a Esquerda só poderá bater o PSD com os votos do CDS.
  2. A capacidade negocial de Paulo Portas é, por conseguinte, muito menor do que o líder populista ambicionava. Vai ter mesmo que engolir o número de ministros que Passos Coelho lhe oferecer, sem piar muito, sob pena de desdizer tudo o que disse na campanha, sobre a forma pragmática, profissional e elevada de o CDS fazer política nesta hora excepcional.
  3. O PSD precisará do PS para rever a Constituição, e esta vai ter que ser revista. Ou seja, adivinha-se um novo Bloco Central em 2012, o qual começou a ser preparado esta noite, com a demissão de José Sócrates, abrindo caminho, tudo leva a crer, a António José Seguro — sobre quem tenho as maiores dúvidas. Será, provavelmente, um líder transitório, até às próximas eleições autárquicas; depois, logo se verá.
  4. O PCP recuperou basicamente os seus bastiões de sempre —Setúbal, Évora e Beja—, segurou os eleitores urbanos e suburbanos de Lisboa e Porto, e atraiu novas franjas descontentes, nomeadamente entre a população estudantil (Braga). Se não desenhar novas estratégias, mais pragmáticas, dando lugar aos jovens, o PCP ver-se-à entalado em breve entre movimentos de massas que não será capaz, nem de controlar, nem de aproveitar democraticamente, e o enfraquecimento sindical que decorrerá de uma maior flexibilidade das leis laborais, das restrições previsíveis ao exercício do direito à greve, em linha com a legislação mais comum no resto da Europa, e da fragmentação de algumas grandes empresas públicas, onde ainda encontra boa parte do seu poder de fogo reivindicativo.
  5. O Bloco, por sua vez, vai a caminho da extinção, vislumbrando-se o seu regresso à condição de seita marxista serôdia. Os seus fundadores —Louçã (ex-PSR), Fazenda (ex-UDP), Portas (ex-PCP) e Fernando Rosas (ex-PCP e ex-MRPP) — não têm emenda e sofrem, como boa parte dos da sua geração, da síndrome da cadeira. Acham-se imprescindíveis, portadores de uma missão histórica, e jamais darão lugar à renovação.
  6. Finalmente, a abstenção: mesmo descontando os mortos e os muitos milhares de novos emigrantes que não votaram, é demasiado elevada. Com a degradação da situação social que aí vem, os cerca de 40% de abstencionistas líquidos representam um preocupante potencial de apoio a inesperados fenómenos populistas. Quanto maior for o irrealismo do PCP e do Bloco, maior será a probabilidade da polarização de parte desta abstenção por variantes híbridas de demagogia.
 6 junho 2011 4:05

sexta-feira, junho 03, 2011

The Day After

Sócrates propõe aumento do Rendimento Mínimo Garantido

Um mentiroso sem emenda
Como já aqui vimos, uma das principais consequências da prolongada crise nacional relaciona-se com o extraordinário retorno em força da emigração portuguesa. E se ainda podíamos ter algumas dúvidas se esta vaga emigratória era realmente signficativa ou não, essas mesmas dúvidas começam a dissipar-se com os resultados preliminares do Censo da População, que mostram que as previsões do INE da população nacional poderão estar sobre-avaliadas entre 200 mil e 300 mil portugueses(as). Veremos se estas previsões se mantêm quando os dados definitivos estiverem disponíveis. — Álvaro Santos Pereira in Desmitos.

Se formos empurrados para uma quarentena fora do euro, curiosamente, as centenas de milhar de portugueses forçados a emigrar nos últimos dez anos serão justamente compensados por tal decisão, vendo aumentar instantaneamente o poder de investimento, crescimento e influência no país que os expulsou. Ora aqui está uma maneira de ver a saída de Portugal do euro, ainda que temporária, de uma forma positiva. Claro está que, à excepção das empresas exportadoras e da agricultura, que também beneficiarão, e muito, com esta expulsão do paraíso, o resto da economia, da burocracia, e as pessoas em geral verão as suas dívidas (a pagar em euros) disparar de um dia para o outro, sofrendo, se este colapso se der, uma catastrófica e instantânea perda do seu poder de compra. Este cenário é realmente aflitivo, mas não é totalmente inverosímil.

José Sócrates, tal como a Esquerda degenerada que simboliza —e que vai, de facto, do PS ao MRPP, passando obviamente pelo PCP e pelo saco de gatos bloquista—  defende um país que viva e consuma como se fosse rico e produtivo, mas que trabalhe e produza como qualquer país pobre e subdesenvolvido. A magia desta contradição insanável foi possível até 2010 graças ao afluxo das patacas europeias, à nossa entrada no euro e ao chamado deficit spending (ou seja, crescimento virtual através do endividamento). Acontece, porém, que um país não pode viver simultaneamente com uma moeda forte e uma economia fraca. Insistir nesta incongruência leva inexoravelmente ao sobre endividamento, e deu no nosso caso o resultado que se conhece: a Bancarrota de 2011. Só um primeiro-ministro alucinado pela sua própria ilusão narcisista poderia negar, com a lata que José Sócrates demonstrou, a tragédia anunciada a tempo e horas por dezenas de observadores independentes.

Ou muito me engano, ou 2011 marcará o início do declínio de uma certa Esquerda portuguesa, herdeira decadente de uma mitologia que apenas serviu, desde Marx, ainda que sob uma retórica populista permanente, o grande jogo do Capitalismo. A subida dos salários industriais e urbanos permitiram, numa primeira fase, esvaziar os campos e transformar paulatinamente a agricultura numa agro-indústria de base financeira intrinsecamente especulativa, colonizando depois, sucessivamente, os territórios do saber e as liberdades individuais na grande cidade. A alienação do trabalho, nomeadamente em nome da produtividade e do consumo foi, na realidade, um meticuloso processo de expropriação da autonomia laboral dos indivíduos, das suas artes, e das suas capacidades de agregação e protecção social solidária. Porém, este processo de desestruturação humana tinha e tem um limite, aliás bem identificado por Karl Marx: a lei da queda tendencial da taxa de lucro que conduz às guerras, ao colonialismo exacerbado, ao imperialismo e, por fim, ao colapso. Ora bem, o momento da decadência prevista acaba de chegar ao Ocidente.

O proletariado desapareceu, e em seu lugar ficaram telefonistas, professores, alunos, burocratas, elites palacianas e públicos culturais entregues à metafísica dos direitos adquiridos, do bem-estar e do consumo conspícuo. Enquanto a gordura colonial acumulada durou, os sindicatos e as Esquerdas foram mantendo posições. Vendidos os anéis coleccionados ao longo de séculos de exploração intensiva dos mundos que o Ocidente foi paulatinamente dominando desde o fim da Idade Média, um novo e tremendo desafio se levanta no horizonte: de que modo a nova divisão internacional do trabalho afectará a Europa, os Estados Unidos e o Canadá?

Como iremos empobrecer? De forma grácil e sustentável, redefinindo culturalmente a noção de felicidade e de bem-estar? Ou de forma convulsa e caótica? Conseguiremos livrar-nos das decadentes instâncias de poder que hoje atrofiam a nossa capacidade de reacção aos desafios? Conseguiremos despedir simultaneamente a libertinagem financeira, os cartéis e os sindicatos, em nome de uma nova instanciação do poder e de uma nova criatividade social ajustadas aos novos equilíbrios estratégicos globais que o mundo pós-colonial começa finalmente a desenhar e a impor aos antigos senhores do mundo?

Sem reconhecermos as origens e implicações profundas do capitalismo colonial que se desfaz diante de todos nós, seremos incapazes de compreender os comportamentos partidários que hoje marcam a decadência política do Ocidente, desde as fugas em frente dos piratas financeiros, à hipocrisia e populismo inacreditáveis dos herdeiros caricatos dos velhos partidos sociais-democratas e comunistas que, no seu tempo, pelo uso intensivo da teoria da luta de classes, desempenharam a importante função de válvula de segurança das sucessivas transições do capitalismo ao longo da revolução industrial e tecnológica possibilitada pelo novo paradigma energético decorrente da exploração intensiva do carvão mineral, do petróleo e do gás natural.

Portugal foi à bancarrota este ano, por causas que remetem para o fim do nosso próprio regime colonial, para o colapso das dívidas soberanas do Ocidente, mas também para a irresponsabilidade e corrupção das nossas elites económico-financeiras, profissionais e político-partidárias. José Sócrates é apenas a criatura desgraçada a quem foi dado o papel de protagonizar o epílogo desta farsa. Podemos ser tentados a sentar este boneco no banco dos réus, transformando-o no bode expiatório de uma catarse colectiva. Pão e circo? Recomendo uma saída mais produtiva: desviar as perguntas que todos lhe queremos fazer, para os próximos actores da cena política; e para nós próprios.

quarta-feira, junho 01, 2011

A miopia dos economistas

A avaliação leviana do declínio inexorável do petróleo barato é a principal causa dos erros grosseiros de governação portuguesa desde 1996



Para lá dos maniqueísmos de ocasião, convém ter presente que o colapso das economias ocidentais assenta em três factores corrosivos de ordem estrutural que, se nada for feito, conduzirão as economias afluentes de hoje, mais rapidamente do que previram M. King Hubbert (1956) e Donella Meadows (1972), ou mais recentemente, C. J. Campbell (1997), à rampa descendente da curva de Hubbert — a saber:

  • PRIMEIRO FACTOR: declínio inexorável da principal fonte energética das últimas revoluções industriais, da urbanização em massa e do bem-estar social, i.e. o petróleo (+ gás natural); 
  • SEGUNDO FACTOR: envelhecimento populacional e subsequente declínio demográfico das sociedades alimentadas a petróleo; 
  • TERCEIRO FACTOR: desaparecimento do trabalho, causado por duas consequências inevitáveis das economias liberais: tropismo dos centros produtivos em função do custo do trabalho humano e da proximidade das matérias primas; e substituição progressiva do trabalho humano, incluindo o altamente especializado, por máquinas cada vez mais inteligentes.

Vale a pena ler o último artigo de investigação de Rui Rodrigues (Público) sobre os impactos tremendos que a cegueira dos estrategas pode provocar numa economia, no caso a nossa.
Previsões sobre petróleo levaram a política de transportes errada

Nas próximas eleições, os partidos deveriam discutir e debater seriamente as 120 Parcerias Público Privadas num valor superior a 60 mil milhões de Euros, em que 41% deste valor será destinado à construção de novas auto-estradas e vias rápidas.

Neste artigo vamos recordar as conclusões de um documento governamental, publicado em Março de 1996, cujo título era “Energia 1995-2015. Estratégia para o Sector Energético” da Secretaria de Estado da Energia do Ministério da Indústria e assinado pelo então Secretário de Estado Luís Filipe Pereira. Este estudo pretendia, como se pode ler na página inicial, “apontar os grandes objectivos estratégicos, as políticas fundamentais e as medidas a desenvolver no período considerado”. No final da página V da Síntese é dito: “relativamente aos preços do petróleo, há razões plausíveis para admitir uma certa estabilização dos preços do petróleo no curto prazo e o seu aumento moderado num horizonte mais longínquo”. O que veio a verificar-se foi que, em 1995, o preço do crude era de 17 dólares. No ano de 1998 baixou para os 12 dólares e as previsões, no documento governamental publicado em 1996, eram, para o ano 2000, 23 dólares e de 2005 até 2015 o preço ficaria estabilizado nos 28 dólares!

O buraco de 20 mil milhões de euros das PPPs rodoviárias teve origem (descontando a pirataria) numa hipótese energética completamente irrealista: em 1996, o governo português estabeleceu um cenário de desenvolvimento baseado numa estimativa do preço do petróleo, entre 2005 e 2015, de 23 dólares o barril (PDF). O preço do petróleo bruto à hora que escrevo este texto oscila entre os 100,28USD (WTI) e os 114,61USD (Brent). O resultado é simples: com o actual preço do gasóleo, mais os 8 cêntimos/Km impostos pelas portagens das famosas autoestradas “Sem Custos para o Utilizador” (SCUT), a mobilidade automóvel custa 400% mais nos dias de hoje do que há 10 anos atrás, sem que os salários (salvo o dos administradores do regime) tenham subido ao mesmo ritmo — obviamente!

Em geral, os nossos políticos e burocratas, incluindo a maioria dos deputados e governantes, são uma espécie de novos-ricos para quem andar de comboio, metro ou eléctrico, é um desprestígio. Só os carros de alta cilindrada e o avião lhes dão aquele status que os faz sentir bem. Parece pueril, mas é o principal factor psicológico e cultural que concorre para a irresponsabilidade energética do nosso país.

A ideologia do automóvel e do avião esteve, por outro lado, intimamente associada às pressões dos fabricantes de automóveis e aviões, e às empresas de engenharia e betão armado, dentro e fora de portas. Só o colapso da bolha do endividamento, disfarçada durante duas décadas pelo biombo dos bancos de investimento e as falsas estatísticas, veio desnudar toda a irracionalidade que hoje aperta, como um garrote, a nossa economia, o sistema financeiro de uma ponta à outra, e a sustentabilidade do estado social.

A Mota-Engil e a Brisa, entre outras empresas, parecem ter acordado para o fim de ciclo do betão, e voltam-se finalmente para outras áreas: a ferrovia e os portos. Menos mal! Têm, no entanto, que compreender uma coisa simples: Portugal, para se ligar a Espanha e ao resto da Europa, terá que estabelecer rapidamente três corredores ferroviários —para transporte rápido de pessoas e mercadorias— em bitola europeia (UIC):
  1. Pinhal Novo-Poceirão-Caia; 
  2. Aveiro-Salamanca
  3. Porto-Vigo
Outro sector estratégico da mobilidade a médio e longo prazo abrange os transportes colectivos urbanos, suburbanos e interurbanos, sobre carris, para pessoas e mercadorias, igualmente em bitola europeia. O automóvel eléctrico é uma miragem, e a população portuguesa está a envelhecer rapidamente!

POST SCRIPTUM — O artigo de Rui Rodrigues acima citado deu origem a um debate vivo na Net. Reproduzo, pelo interesse objectivo que tem, a mais recente resposta do autor às críticas que lhe foram dirigidas.

A referência ao documento governamental, publicado em Março de 1996, cujo título era “Energia 1995-2015. Estratégia para o Sector Energético” teve como objectivo chamar a atenção [de] Portugal [para a necessidade de] mudar de política de transportes e [de] investir numa nova rede ferroviária de bitola europeia mista para mercadorias e passageiros, [para deste modo] resolver o grave problema de interoperabilidade ferroviária que o País apresenta.

Limitei-me a apresentar os factos, e pelos dados apresentados temos a certeza absoluta que o preço do Petróleo vai continuar a subir de preço. Mais uma razão para alterar a actual política de transportes e deixar de continuar a gastar dezenas de milhares de milhões de euros em novas auto-estradas.

Temos assistido frequentemente aos comentários de muitos economistas que são contra o troço Poceirão-Caia mas quase nada dizem sobre as novas auto-estradas, muito mais caras, e construídas em regiões onde nem sequer existe tráfego que as justifique. Ninguém consegue entender esta atitude, ainda por cima, quando invocam que o nosso País não tem dinheiro para investir numa nova rede ferroviária. As novas auto-estradas representam 41% dos 60 mil milhões de euros das 120 PPP.

As pessoas que são contra a nova rede ferroviária mista UIC (bitola europeia) nem sequer apresentam alternativas para reduzir os custos de transporte dos contentores de e para a UE. Chamo a atenção para o facto de 50% das nossas exportações serem efectuadas por camião TIR.
Lembro que, quando a Opel de Azambuja anunciou a sua saída de Portugal, para Saragoça, onde tinham outra fábrica, o Presidente da Opel afirmou que a saída daquela empresa tinha, como principal fundamento, os custos de logística. A empresa transferiu-se para Saragoça, onde paga salários duas vezes superiores aos de Azambuja.

A Opel de Azambuja representava, por ano, 0,6% do PIB.

A Auto-Europa também se queixa dos elevados custos de logística devidos ao transporte que tem que ser efectuado em camiões TIR desde a Alemanha até Portugal.

Portugal é um País periférico e para ter acesso aos maiores centros de consumo da Europa, a menores custos, terá que construir uma nova rede ferroviária com 3 linhas, 2 transversais e uma Norte-Sul:

Aveiro-Salamanca, que ligará os portos da Região Norte e o Porto à UE.

Pinhal-Novo-Badajoz, que ligará os portos de Setúbal e Sines e a Região de Lisboa à UE

Vigo-Porto-Lisboa-Sines-Algarve-Huelva, que permitirá conectar todos os nossos portos e principais plataformas logísticas e a nossa fachada Atlântica à rede UIC europeia.

Esta rede vai ter que ser construída de forma faseada, começando pelas vias internacionais que nos ligam à UE.

Vai ser necessário construir uma nova linha Lisboa-Porto, porque é fisicamente impossível mudar a bitola na Linha do Norte, onde circulam centenas de comboios por dia.

Esta nova rede ferroviária vai ser cara? É claro que vai, mas muito pior seria se nada fosse feito. Nesse caso, a nossa economia ficaria menos competitiva e os nossos portos iriam atrofiar. A Espanha seria a grande beneficiada porque iria ganhar receitas de logística à nossa custa.

Cumprimentos Rui Rodrigues 

ÚLTIMA ACTUALIZAÇÂO: 03.06.2011 10:20

terça-feira, maio 31, 2011

A morte de Pinóquio

Quer ganhe, quer perca, José Sócrates tem o destino marcado: a expulsão do paraíso que julgava eterno...



O PSD volta a alargar a sua vantagem para o PS. Na oitava sondagem da Intercampus para o PÚBLICO e a TVI, os sociais-democratas somam agora 37,0% da preferência dos votos, contra 32,3% dos socialistas. O CDS sobe, a CDU mantém e o BE cai. Público (30-01-2011).
Neste momento tudo leva a crer que o PS perderá as eleições do próximo domingo. Os portugueses já não suportam mais a criatura. Eu, por exemplo, mudo imediatamente de canal sempre que o nariz espetado e descarado deste Pinóquio me assalta a casa por um dos canais do MEO. Sei que vai mentir com o descaramento típico de todo o vigarista que se preze, e assim sendo, mudo de programa, ou desligo a televisão. Prefiro manter-me a par dos seus compulsivos delírios de propaganda e manobras de intoxicação mediática, recorrendo aos canais da Net. É menos intrusivo.

As opções de José Sócrates no dia 6 de Junho são apenas estas:
  • no caso improvável de o PS ganhar as eleições, José Sócrates não terá parceiro com quem governar e será por isso forçado a ceder o lugar a alguém que possa e saiba fazer a ponte entre o PS e o PSD. Hoje uma voz amiga soprou-me que estaria tudo preparado para que o socialista ex-fundador da JSD, e actual presidente do Tribunal de Contas, Guilherme d'Oliveira Martins (1), assumisse a espinhosa missão de formar um governo de maioria PS-PSD-CDS, caso o improvável cenário de uma derrota de Passos Coelho viesse a ocorrer;
  • no caso de o PSD ganhar as eleições, formando maioria absoluta com o CDS, ou mesmo precisando do PS para consagrar a estabilidade parlamentar necessária para aplicar rapidamente as medidas mais dolorosas e reformadoras do Memorando de Entendimento, a sorte de José Sócrates é a mesma: despedimento com justíssima causa! A sentença foi aliás decretada pelo consigliere Almeida Santos (primeiro está a família!)

Uma votação mais expressiva no PCP e no Bloco, que deverá, apesar das sondagens, ocorrer, tornaria as coisas ainda mais críticas para o ainda primeiro ministro que conduziu o pais à bancarrota. Se ao menos os ortodoxos do PCP e do BE percebessem quantos milhares de votos perderam pelo simples facto de terem rejeitado quaisquer conversações com a dita Troika, talvez fizessem ainda um esforço nos dias que restam da campanha para evitarem mais verborreia populista, e proporem uma ou duas ideias claras ao país. Louçã está neste momento a perder votos para o PCP, para o PS, para o PSD, para o CDS, para o Partido da Terra, e até para o partido vegetariano!

O PS precisa de uma boa derrota para acordar do estado de hipnose a que foi sujeito pela tríade de Macau e pelo ilusionista José Sócrates Pinto de Sousa. Sem um abalo até às raízes não será provável a clarificação urgente de que necessita para sobreviver ao longo da pesada década que temos pela frente.

A Esquerda está perdida no novelo do seu próprio oportunismo irresponsável. Mas só o PS tem condições de iniciar um processo de aggiornamento socialista capaz de contagiar o PCP e sobretudo o BE, ansiosos ambos por verem superados os atavismos marxistas, estalinistas e trotsquistas que os têm condenado à insignificância partidária e à incapacidade de assumirem o pragmatismo que as gerações mais jovens naturalmente reclamam.

A situação é complexa. Mas há algo cada vez mais evidente: um voto no PS é provavelmente o único voto inútil destas eleições.


NOTAS
  1. Os episódios em volta dos relatórios sobre as PPP rodoviárias podem ter algo que ver com isto. O actual presidente do T.C. aparece, em aparente sintonia com Cavaco, como protector de Sócrates, retendo o relatório que "arrasa" a gestão que a tríade de Macau fez do dossier das PPP rodoviárias do continente (um encargo escandaloso de 20 mil milhões de euros!) Por outro lado, hoje, 30 de Maio, o mesmo Guilherme d'Oliveira Martins deixou publicar, a menos de cinco dias das eleições, um relatório sobre as PPP de Alberto João Jardim na Madeira, onde o governo autónomo é severamente criticado. Link1. Link2. Link3. Link4.

segunda-feira, maio 30, 2011

BCP? What else!

As acções do BCP estão quase ao preço das cápsulas: 0,457€. George...?



Será que a Caixa vai continuar a dar uma ajudinha? Com os senhores da tríade de Bruxelas, Frankfurt e Nova Iorque aqui tão perto, será difícil :(

domingo, maio 29, 2011

Travem os agiotas!

Em vez de juros usurários, porque não exigir à tríade uma taxa média de 0,01%?


Fed Gave Banks Crisis Gains on Secretive Loans Low as 0.01%Bloomberg, 26.05.2011.

May 26 (Bloomberg) -- Credit Suisse Group AG, Goldman Sachs Group Inc. and Royal Bank of Scotland Group Plc each borrowed at least $30 billion in 2008 from a Federal Reserve emergency lending program whose details weren’t revealed to shareholders, members of Congress or the public.

(...) New York-based Goldman Sachs’s borrowing peaked at about $30 billion, the records show, as did the program’s loans to RBS, based in Edinburgh. Deutsche Bank AG, Barclays Plc and UBS AG each borrowed at least $15 billion, according to the graphs, which reflect deals made by 12 of the 20 eligible banks during the last four months of 2008.

(...) Other banks listed in the Fed charts borrowed less than their peers. New York-based Morgan Stanley and Paris-based BNP Paribas, France’s biggest bank by assets, took no more than about $10 billion. Citigroup Inc., JPMorgan Chase & Co. and Merrill Lynch & Co., which is now part of Bank of America Corp., borrowed less than $5 billion each — Bloomberg, 26.05.2011.

O cálculo do resgate da dívida soberana portuguesa está de momento avaliada em 78mM€. As organizações que integram a tríade do resgate —Mecanismo Europeu de Estabilização Financeira (MEEF), Fundo Europeu de Estabilização Financeira (FEEF) e Fundo Monetário Internacional (FMI)—, pretendem cobrar juros por esta operação na ordem dos 5,9%! São juros agiotas, mas inferiores aos mais de 10% para onde actualmente caminham as operações de colocação comercial da dívida soberana portuguesa.

Enquanto esteve aberto o guichet do BCE, através do qual os bancos comerciais pediam dinheiro emprestado à taxa de 1%, dando como colateral títulos de dívida soberana com rendimentos garantidos acima dos 4% (hoje estes rendimentos já andam muito próximos dos 10%), foi o fartar vilanagem que o mitómano Sócrates saudou alegremente como prova da sua eficácia na condução de Portugal à bancarrota.

Quando qualquer coisa cresce a 7% ao ano, significa que duplica numa década. Quando cresce a 10%, significa que duplica em apenas sete anos!

Foi conhecendo esta lei matemática, e depois de constatar que o negócio das dívidas soberanas se tinha transformado em mais uma perigosa bolha especulativa, que o BCE decidiu fechar a sua peculiar portinhola de Quantitative Easing. O ataque especulativo à moeda única europeia, por via do ataque às dívidas soberanas dos PIGS, tornara-se uma ameaça real à própria integridade do euro. Bruxelas, Berlim e Paris não tiveram outra saída que não fosse enveredar por programas de resgate dos países membros aflitos, criando estratégias de endividamento em cascata capazes de travar a espiral de pilhagem especulativa em curso.

Assim, a União Europeia passa a financiar-se junto dos mercados a juros aceitáveis, e depois empresta aos PIGS a juros inaceitáveis e sob condições draconianas. Eu até estou de acordo com todas as condições draconianas da última versão do Memorando de Entendimento da Troika (pois são essenciais à reforma da nossa degenerada democracia), mas não estou de acordo, nem com os prazos, nem com o preço do dinheiro emprestado e a emprestar. O FMI, e sobretudo os FEEF e MEEF, estão a comportar-se como agiotas, e pior do que isso, poderão afogar-se na sua própria ganância. Se os juros e os empréstimos forem impagáveis, a cobrança dos ganhos poderá revelar-se impossível, forçando os credores a aceitar um perdão parcial da dívida (o já célebre hair cut) — ou seja, a sua renegociação.

Durante a crise que levou ao colapso do Lehman Brothers, em 2008, a Reserva Federal (FED), o grande cartel bancário que nos EUA equivale aos bancos centrais de outros países, emprestou secretamente mais de 80 mil milhões de dólares a um grupo de bancos americanos e europeus, a prazos de 28 dias, cobrando juros de 0,01%, com o pretexto de evitar uma corrida aos bancos. Mais tarde, Henry Paulson, Ben Bernanke e Timothy Geithner, convenceram o Senado a realizar uma punção fiscal sem precedentes, de 700 mil milhões de dólares, para resgatar a banca de potenciais faltas de liquidez, cobrando-lhes juros de favor cada vez mais próximos do zero. Esta política de empréstimos sem juros, reservada apenas aos bancos (ZIRP), começou no Japão, mas tem feito o seu caminho. No entanto, o contraste com os juros cobrados às empresas, aos cidadãos, e agora, aos governos, é de tal modo escandaloso, que não poderá deixar de causar conflitos sociais e políticos num futuro bem próximo.

Os mais de 42 milhões de americanos que recorrem hoje às senhas alimentares (food stamps) querem saber as razões desta discriminação, e querem deixar de alimentar um sistema financeiro tão evidentemente injusto e corrupto. Os europeus, à medida que as senhas de alimentação forem entrando na sua rotina, para complementar as suas degradadas pensões de reforma, o custo crescente do seus serviços públicos de saúde e o desemprego sistémico, cada vez menos subsidiado, também!


POST SCRIPTUM (30.05.2011 9:11)

O trauma da reestruturação entrou definitivamente na ordem do dia das dívidas soberanas europeias, a começar pela Grécia, seguindo-se-lhe depois, inevitavelmente, Portugal, Irlanda, Espanha, Itália, etc.

Hipóteses em cima da mesa:
  1. estender os prazos de pagamentos;
  2. diminuir as taxas de juro abusivas;
  3. aparar a dívida (hair cut), i.e. deixar os credores (mas sobretudo os especuladores) com uma parte dos lucros esperados no tinteiro;
  4. não pagar de todo e mandar o euro às urtigas (uma hipótese radical que, na realidade, significa transformar um pesadelo de 10-20 anos, num definhamento até ao fim deste século, no mínimo!)
 Mas pode haver um passe mágico, ou seja, uma quinta hipótese que contorne estas soluções demasiado espinhosas: fazer um acerto de contas prévio entre os países que são simultaneamente devedores e credores. Esta é, pelo menos, a proposta criativa de dois professores associados da Europe Business School: Anthony J. Evans (Economics) e Terence Tse (Finance).
The idea

The idea is very simple - if Portugal owes Ireland €0.34bn of short term debt, and Ireland owes Portugal €0.17bn, we can write off Ireland's obligations and leave Portugal with a reduced debt of €0.17bn.

If you are both a debtor and a creditor you do not need money to settle claims. Rather than require additional funds to deal with choking debt, why not write it off?
The diagrams above show the before and after situation, based on analysis done by students. The simulation itself took place on May 17th 2011 and involved three separate trading rounds — inThe great EU debt write off”.

Parece um jogo vídeo. Mas não estamos todos, de facto, imersos numa economia virtual?

sábado, maio 28, 2011

Um presidente de sal

A dimensão do próximo governo será um indicador fundamental das intenções de Passos Coelho. Cavaco não existe!

Cavaco Silva continua a projectar uma sombra ambígua sobre o país
Passos admite ter que negociar dimensão do Governo
Se tiver maioria absoluta mantém os 10 ministros e insiste que será "eficaz". Se não a tiver, Passos admite "ter que negociar" a dimensão de um executivo. Portas quer 12 — Expresso.

Desde quando é que uma estátua de sal pode imiscuir-se no formato do próximo governo de Portugal? A rainha de Boliqueime fala quando devia estar calada, e não diz nada quando devia falar. Não temos presidente, temos um traste presidencial, aliás com um orçamento muito exagerado para os tempos de austeridade que aí vêm. Primeira medida do próximo governo: diminuir o peso e o custo do governo, do parlamento e... da presidência da república!

Sócrates foi logo atrás das hienas presidenciais, seguido de Portas. Todos acham, em coro, que Passos Coelho é imaturo por exigir um governo mais leve, mais eficiente e menos caro. O silêncio do PCP e do Bloco são a este propósito sintomáticos dos males de que padecem — no fundo, vivem acomodados nos respectivos nichos partidários e parlamentares, comendo lentilhas e debitando orações que já ninguém escuta.

Mas há factos que arrumam qualquer polémica num ápice. Aqui vai:
Ora digam-me lá se a estátua Cavaco Silva, o mentiroso compulsivo Sócrates e o Paulinho das feiras não perderam uma boa oportunidade para estarem calados.


ÚLTIMA HORA (28.05.2011 20:50)

Cavaco desmente crítica a Governo com 10 ministrosTVi24 (28.05.2011 19:41). Ora bem! Ainda bem!! Está na altura de Cavaco Silva por alguma ordem no seu falanstério.

ÚLTIMA ACTUALIZAÇÃO: 30.05.2011 10:11

Debitocracia

Devemos exigir uma auditoria popular à nossa dívida externa

Para além de ser imperioso, nas eleições de 5 de Junho, correr com Sócrates e a tríade que tomou de assalto o PS, o governo e o país, também deveremos exigir do próximo governo, parlamento e presidência da república, uma auditoria imediata à nossa dívida externa, com todas as consequências que daí possam advir — por exemplo, a eventual acusação e julgamento dos piratas que levaram Portugal à bancarrota, ou mesmo, a imposição de uma renegociação euro-a-euro da própria dívida, separando o trigo do joio. Se forem detectadas dívidas odiosas, deveremos estar preparados para as repudiar.

O nosso caso será certamente diverso do da Argentina, Equador, ou Grécia. Mas será assim tão diferente? Ora vejam este excepcional documentário sobre o caso, muito mal explicado, da crise soberana da Grécia.


Debtocracy International Version por BitsnBytes

OUTRO VÍDEO — mostrando um ponto de vista bem diferente, no que respeita à natureza do Capitalismo, a recém difundida (23.05.2011) produção da HBO: To Big to Fail, defende que a salvação dos bancos (cujos pormenores até agora clandestinos, uma decisão do tribunal supremo dos EUA obrigou o FED a revelar recentemente), ou melhor, o mais recente e extraordinário processo de concentração ainda curso foi a única forma de evitar um colapso financeiro mundial de proporções nunca vistas, e uma corrida aos bancos que teria provavelmente destruído a moeda americana em poucas semanas. Esperemos pela chegada deste documentário, com o toque de Midas da HBO, chegue em breve a Portugal.



ÚLTIMA ACTUALIZAÇÃO: 29.05.2011 16:57

sexta-feira, maio 27, 2011

Ao virar da esquina

O pacifismo da Geração à Rasca e do Movimento 15M pode mudar num ápice para algo mais criativo e revolucionário!



O mundo ocidental está cada vez mais endividado. Na realidade tem uma dupla dívida: aquela que contraiu consigo mesmo, nos últimos quarenta anos, substituindo progressivamente o trabalho criativo e a produção dos bens essenciais pelo consumo conspícuo, pelo hedonismo pueril, pelo egoísmo atroz, pelo esvaziamento da sensibilidade, e por uma crescente tendência para o suicídio demográfico; e aquela enorme dívida, de mais de dez gerações de europeus, ao resto do mundo, que colonizaram, parcialmente destruíram e de onde hoje os últimos herdeiros (nós!) começam, finalmente, a ouvir a voz, o clamor e a resposta. Não é só Portugal que está enredado no buraco da sua inconsciência colectiva, mas também a Espanha, a Grécia, a Itália, a Bélgica, o Reino Unido, os Estados Unidos e o Canadá, e em breve a França e a Alemanha. Pois nem a China, nem a China e todas as ditaduras do petróleo juntas poderão, mesmo que quisessem, por precisarem muito, salvar-nos do buraco infinito da nossa dívida entranhada e acumulada ao longo dos últimos seiscentos anos. Vamos empobrecer. Vamos sofrer. Mas saberemos aceitar com dignidade este destino inexorável?

Quem está no poder na Europa perde as eleições, independentemente do quadrante partidário. Foi assim na Grécia, na Irlanda, em Espanha, na Alemanha, e será assim em Portugal no próximo dia 5. O populismo rotativista, interesseiro, sem ideologia, demagogo, mediático, domina a Europa há pelo menos duas décadas. Resta saber se vai continuar a ser assim, tão pacífico e envernizado, quando cresce por todo o continente o número daqueles que não suportam mais os resultados desta hipocrisia aparentemente eterna e desta mentira diária. Um novo populismo, inorgânico, por enquanto sem líder, já despontou no horizonte do desespero colectivo.

As manifestações instantâneas que responderam ao apelo lançado pela Geração à Rasca, os acampamentos urbanos que como um enxame frenético responderam, também através das redes sociais, ao apelo do Movimento 15M, são a face pacífica de uma rejeição monumental dos actuais regimes democráticos, ou, para ser mais preciso, das suas práticas desastrosas e contaminadas por uma verdadeira pandemia de incompetência e corrupção. Passado o ciclo eleitoral, que terminará em 2013, ou mesmo em 2012, na Alemanha, veremos onde irá parar na Europa o pacifismo e a indecisão destes fluxos de inquietação e agitação sociais — pós-democráticas, se os tomarmos na perspectiva dos formatos institucionais da política; pós-contemporâneos, se os analisarmos numa perspectiva cultural mais ampla.

Há um ponto de ruptura que podemos antever com alguma precisão no pacifismo algo patético dos acampamentos de jovens e desempregados que crescem na Ibéria. Esse ponto verificar-se-à na intersecção entre um limiar de desemprego estrutural na ordem dos 15-25%, a estagnação económica, a inevitável e objectiva desvalorização fiscal, e o colapso dos sistemas de segurança social na sequência da praticamente inevitável reestruturação das dívidas soberanas actualmente alinhadas por essa Europa fora. Sem casa, as pessoas vão para a rua. Sem pão, nem leite, as pessoas revoltam-se. A violência anda por aí, contida, segregada no espaço concentracionário das subclasses sem identidade nem horizonte. Mas se a revolta colectiva explodir num voo orientado de vontades, então a violência desesperada dos egos ofendidos e humilhados dessa multitude crescentemente avisada terá encontrado um caminho de libertação psicológica e sobretudo cultural. O que será, ninguém sabe. Mas que será algo, será. Todos começámos já a pressenti-lo.

“subcomandante insurgente Marcos”, do Ejército Zapatista de Liberación Nacional
Esta manhã, quando percorria a avenida Jorge V a caminho da praia, indagava: de onde raio vieram estes novos enxames sociais carregados de energia, para já contida? Serão um mero reflexo educado do grande levantamento cultural que varre a margem sul do Mediterrâneo? E se assim for, tendo em conta o envelhecimento da Europa, conseguirão estes enxames forçar efectivamente alterações profundas nas execráveis partidocracias que temos? Que futuro se pode esperar? Que futuro podemos desejar?

Lembrei-me então do Exército Zapatista de Libertação Nacional, um movimento extraordinário de autodefesa dos índios mexicanos de Chiapas, que em 2005 decidiu renunciar à luta armada, mas que se tornou conhecido mundialmente pelos seus famosos acampamentos, nomeadamente electrónicos, e pelo seu lendário “subcomandante insurgente Marcos” — um filósofo, um esteta e um guerrilheiro que, à falta de melhor, chamaria pós-dadaísta. As semelhanças iniciáticas, sobretudo do M15M, com o mundo onírico-revolucionário dos novos Zapatistas, parecem-me óbvias.

As soluções eleitorais que teremos ou não teremos pela frente serão, não tenhamos ilusões, estádios de uma grande crise em desenvolvimento. A violência privada dos adolescentes do asfalto, e o pacifismo patético da Geração à Rasca são, também, momentos efémeros de um processo cultural que em breve sofrerá alterações bruscas, imprevisíveis e radicais. Uma recomendação aos inquietos: leiam e ouçam a prosódia humanista do “subcomandante insurgente Marcos”. É preciso reinventar e treinar uma nova narrativa sobre a metamorfose.


ÚLTIMA HORA: Barcelona: 120 feridos após confrontos entre “indignados” e polícia na Praça Catalunha. Público, 27-05-2011 15:45 



Comentário: as polícias europeias têm que aprender rapidamente novas tácticas de confronto urbano com manifestantes desarmados. O que este vídeo mostra é uma triste sobrevivência de comportamentos policiais próprios de ditaduras imbecis. O gozo sádico das bastonadas policiais tem que ser substituído por regras de contacto físico próprias de democracias adultas.

ÚLTIMA ACTUALIZAÇÃO: 27.05.2011 20:05

quarta-feira, maio 25, 2011

O devaneio de Lars von Trier

A arte também escreve direito por linhas tortas


Lars von Trier e Hitler por afpportugues

O devaneio de Lars von Trier foi bem mais oportuno do que a superficialidade patética dos organizadores de Cannes conseguiram entender. Temo bem que a próxima onda anti-judaica comece nos EUA, causada por dois fenómenos interligados:
  • o poder asfixiante e ruinoso para os EUA da mais poderosa organização sionista do mundo — a AIPAC—, sustentáculo crucial do cada vez mais ilegal e criminoso estado de Israel;
  • e o facto dos principais bancos de investimento especulativo e agências de notação financeira envolvidos no descalabro financeiro mundial estarem nas mãos, outra vez, de famílias judaicas que não aprenderam nada com a História!
Não sei bem o que se passa. Mas passa-se alguma coisa e é preocupante.

O caso Strauss-Kahn, um socialista judeu, meio Sefardita, meio Ashkenazi, que por acaso anunciara em fevereiro passado a necessidade de substituir a moeda americana por uma moeda mundial, sugere uma divisão no seio das elites financeiras judaicas mundiais cujos contornos são ainda confusos.

A decisão de Obama de exigir a Israel que regresse às suas fronteiras originais, isto é de 1948, seguida da viagem a uma das suas origens, a irlandesa, e por via desta, ao Reino Unido, sabendo-se que estes três países estão no mesmo estado de falência, crise social e cerco agiota que nós, deixa-me a cogitar.

Os episódios sintomáticos de uma nova crise anti-sionista, mas que poderá transformar-se, como sempre aconteceu ao longo da história humana dos últimos dois milénios e meio, numa nova vaga anti-judaica, sucedem-se. E a causa é, no fundo, a de sempre: povos e nações endividaram-se para além do razoável, socorrendo-se para tal dos famosos money changers. Estes não resistiram à miragem do lucro infinito, ajudando para tal os seus clientes, pobres, remediados, ricos e soberanos, a viverem muito para além das suas possibilidades, numa bolha de liquidez virtual. Acontece, porém, que as balanças desequilibradas terão um dia que regressar ao ponto inicial, de uma forma ou doutra. E aqui, para mal dos inocentes, começam os problemas!



Lembro apenas mais um caso relativamente recente, que passou incógnito entre nós, mas que é sumamente revelador. Refiro-me à demissão forçada de Helen Thomas, a mais prestigiada correspondente da Casa Branca, depois de uma conversa casual com um jovem jornalista e músico da RabbiLive.com —
Thomas retired following negative reaction to comments she had made about Israel, Jews, and Palestine during a brief interview with Rabbi David Nesenoff of RabbiLive.com.[1][41][42][43][44][45] Nesenoff was on the White House grounds for an American Jewish Heritage Celebration Day, and he questioned Thomas as she was leaving the White House via the North Lawn driveway:

    Nesenoff: Any comments on Israel? We're asking everybody today, any comments on Israel?

    Thomas: Tell them to get the hell out of Palestine.

    Nesenoff: Ooh. Any better comments on Israel?

    Thomas: Hahaha. Remember, these people are occupied and it's their land. It's not German, it's not Poland...

    Nesenoff: So where should they go, what should they do?

    Thomas: They can go home.

    Nesenoff: Where's the home?

    Thomas: Poland, Germany...

    Nesenoff: So you're saying the Jews go back to Poland and Germany?

    Thomas: And America and everywhere else. Why push people out of there who have lived there for centuries? See?

    Nesenoff: Are you familiar with the history of that region?

    Thomas: Very much. I'm of Arab background.

    Nesenoff: I see. Do you speak Arabic?

    Thomas: Very little. We were too busy Americanizing our parents... All the best to you.
   
    —May 27, 2010, RabbiLive.com

domingo, maio 22, 2011

Mar e ferrovia

Maldito "TGV": líder do PSD acerta finalmente o passo.
Os contentores não sabem voar!

Porto de Sines, Terminal XXI. Foto©: msc-irene-jose-antonio-modesto
O líder do PSD tem uma tendência para dar tiros no pé em temas irrelevantes, que vão desde a antecipação de temas polémicos para uma próxima revisão constitucional, quando é sabido que esta não pode ocorrer sem um largo consenso (maioria de 2/3 ou 4/5) negociado entre os partidos com assento parlamentar, até à redução do número de feriados, ontem avançada por Passos Coelho, sem o menor sentido de oportunidade eleitoral. Esperemos que deixe de asnear até ao fim da campanha, e se concentre na denúncia das responsabilidades de Sócrates na bancarrota do país e na degradação alarmante das condições sociais e de trabalho dos portugueses. Passos Coelho venceu claramente o líder despótico do PS no debate televisivo da passada sexta-feira. Mas tem que saber manter e alargar esta vantagem durante a campanha de caça ao voto oficialmente aberta este fim-de-semana, não dando mais tiros no pé, e concentrando-se na repetição do que é essencial para sairmos do atoleiro para onde nos levou a turma de piratas que tomou de assalto o PS:

O essencial são sete (1) ideias básicas, que todos compreendem:
  1. assumir as nossas dívidas colectivamente, sem deixar de apurar as responsabilidades de quem nos trouxe até este ponto, e pagar o que devemos disputando cêntimo a cêntimo a propensão agiota dos nossos credores (o PSD deve contar com todos os partidos neste debate, incluindo Louçã e o PCP);
  2. renegociar as 120 parcerias público privadas (PPP), em nome da austeridade e da democracia (expondo nomeadamente o escandaloso comportamento dos grandes escritórios de advogados portugueses na inconcebível captura do interesse público pela ganância de uma burguesia inculta, indolente, rentista e corrupta);
  3. descolonizar o Estado de uma ponta a outra, tornando-o mais leve, mais eficiente, mais justo, mais transparente, melhor escrutinado e muito mais independente (levando a cabo, neste particular, uma verdadeira descentralização administrativa do país, a qual deverá começar pela criação das duas cidades-região autónomas de Lisboa e Porto, e uma reforma equilibrada do restante mapa autárquico);
  4. aliviar o nosso sistema fiscal e burocrático, adequando-o à necessidade absoluta de estimular a actividade económica privada, ou seja, à criação de empresas e emprego capazes de gerarem riqueza: bens transaccionáveis e exportações (o crescimento pela via do consumo morreu no poço de dívidas onde colectivamente caímos!)
  5. definir uma plataforma de convergência democrática com os demais partidos com assento parlamentar, e com toda a sociedade civil, tendo por objectivo estabelecer uma nova visão do país: estratégica, ambiciosa, clara, justa, responsável, partilhada e calendarizada;
  6. olhar para o nosso país como uma das principais portas de entrada na Europa, maximizando para tal a nossa rede de portos, estabelecendo as necessárias e urgentes adaptações da rede ferroviária existente e prevista aos novos conceitos de interoperabilidade ferroviária europeia, e refazendo o nosso tecido industrial e de serviços em conformidade com esta prioridade.
  7. fazer deste pequeno país uma verdadeira potência diplomática mundial, e dos nossos diplomatas uma imbatível task force de mediação e negociação diplomáticas, altamente especializada nos grandes diálogos globais já em curso, sobre a nova divisão do mundo entre os países da Ásia-Pacífico e os países da Euro-América, historicamente atlânticos, e sobre as zonas críticas do Índico-Golfo Pérsico, Médio Oriente, Mar Cáspio e Mediterrâneo oriental.
No entanto, para sustentar esta ordem de prioridades, dada a debilidade das nossas finanças públicas, a desorganização da nossa economia, a enorme pressão fiscal existente, o peso da burocracia e a corrupção partidária, vai ser preciso um golpe de asa!


E se abríssemos as portas à China em 2011, como a China abriu as portas a Portugal há 454 anos atrás?

Investidores chineses interessados no BPN
Jornal de Negócios (20 maio 2011)

Segundo apurou o jornal junto de duas fontes com conhecimento do processo, existem investidores chineses a estudar o pacote de privatizações inscrito no Memorando de Entendimento entre o Governo e a troika, tendo já mostrado interesse na TAP, EDP e BPN.

No caso do banco, a oficialização de uma oferta é muito provável. "Eles estão muito interessados no BPN e é praticamente certo que farão uma oferta", adianta uma das fontes.

“Também estão a olhar com atenção para a TAP, EDP e porto de Sines.” O Memorando da troika estabelece que o novo Governo terá de "acelerar o programa de privatizações", cuja receita está estimada em 5,5 mil milhões de euros.

A China já estabeleceu uma base de operações em Cabo Verde, para vigiar e apoiar a frota marítima que mantém activa no Atlântico sul. Tem vindo a dar apoio técnico, financeiro e de mão-de-obra à reconstrução da ligação ferroviária entre o Índico e a o Atlântico, ligando o porto angolano do Lobito aos portos de Dar es salaam, na Zâmbia, e de Nacala, ou da Beira, em Moçambique. Falta-lhe um ponto de apoio privilegiado no Atlântico norte. E falta-lhe sobretudo estabelecer uma porta de entrada, pela via marítima, na Europa, mais ampla e segura do que os mares infestados de piratas do Índico, o sempre problemático mar arábico e a garganta estreita e ameaçada do Mar Vermelho. Esta necessidade é urgente se tivermos presentes dois factos: por um lado, o alargamento do Canal do Panamá estará pronto em 2014; por outro, em matéria de abastecimento petrolífero e movimento comercial entre a Ásia e a Europa, a única válvula de escape a um bloqueio do Canal do Suez, ou a uma guerra de grandes proporções no Médio Oriente, chama-se Mar Atlântico, Golfo da Guiné (Angola, Nigéria e as duas Guinés, principalmente), Brasil, Venezuela, Portugal, Espanha.

Em Portugal, mas não no Reino Unido, nem na Holanda, a China, a Índia, o Japão, a Austrália e a Indonésia poderão encontrar os portos mais próximos e amigáveis para entrega das suas mercadoria à Europa — na condição, claro, de estabelecermos rapidamente as nossas ligações ferroviárias, em bitola UIC, a Espanha e ao resto do continente europeu. Serão três os principais portos de águas profundas a poderem desempenhar este crucial papel de válvulas de segurança do comércio mundial entre o Oriente e o Ocidente, em caso de colapso do Médio Oriente: Sines, Lisboa (sobretudo a Trafaria depois do fecho da golada), Setúbal e Cádis. Todos estes portos terão que estar em breve ligados por ferrovia em bitola europeia a França, Itália, Alemanha, Reino Unido, Polónia, etc. Estas ligações, sem rupturas de carga, servirão para o transporte de mercadorias (sobretudo durante a noite) e passageiros (sobretudo durante o dia).

A China desenha as suas estratégias a pensar na sua iminente supremacia económica e financeira mundial, cuja data foi recentemente adiantada de 2020 para 2016! Assegurar acessos amigáveis ao Atlântico, ao continente africano, ao Brasil e à Europa é uma prioridade estratégica que salta à vista. Daí a importância do Canal do Panamá alargado, que duplicará a capacidade de transporte assim que os super porta-contentores da chamada classe Post-Panamax entrem em acção. Daí o interesse manifestado pela China em Portugal e Espanha como a grande porta ocidental da Europa.


O adiamento inevitável do embuste da Ota em Alcochete



O principal agente da globalização chama-se TRANSPORTE MARÍTIMO + CONTENTORES, e o alargamento do Canal do Panamá, assim como a recuperação da via férrea entre Lobito e Nacala (ou Beira) pelos chineses, mostram à evidência o que já está em marcha e que nenhum Cavaco, nem nenhum político galdério do PSD, ou do PS, irá travar. Aliás, a eventual compra do BPN pela China poderá até salvar a face de quem a perderia se soubéssemos tudo o que passou neste banco de piratas!

A agenda escondida do ataque infundado, superficial e tecnicamente desastrado ao dito "TGV" é esta: uma vez construída a linha de bitola europeia entre o Pinhal Novo-Poceirão e Caia, o embuste da Ota em Alcochete cairá imediatamente, e a Portela terá mais uma ou duas décadas de vida antes de se voltar a discutir a necessidade de um novo aeroporto. E como quem manda a partir de agora no nosso país são os nossos credores (espanhóis, alemães, franceses e ingleses — por esta ordem) e um grande investidor soberano chamado China (que além de ser o principal comprador de dívida europeia, se anuncia como comprador dos cacos do BPN, da TAP, e ainda do que houver para privatizar na EDP e no Porto de Sines), a ferrovia em bitola europeia para mercadorias e passageiros (que já une Espanha à França, ao contrário do que a santa ignorância afirma) irá mesmo avançar.


Iberia anuncia ‘drásticos’ recortes laborales en Manises al caer su actividad un 45 % por el AVE.

La dirección de Iberia tiene previsto tomar "medidas drásticas" en el aeropuerto de Valencia tras caer la actividad de la compañía un 45 % en este recinto desde el mes de abril como consecuencia de la supresión de los vuelos a Madrid, que solamente opera ahora a través de su firma franquiciada Air Nostrum. La empresa de bandera cuenta con una plantilla de 200 trabajadores en Manises, donde se incluye el personal de los distintos servicios prestados a los pasajeros desde que aterrizan y despegan los aviones ("handling"), así como los técnicos de mantenimiento de las aeronaves.

Iberia eliminó las citadas rutas con la capital de España -Ryanair también ha dado ese paso desde el arranque de la temporada de verano (finales de marzo)- ante el desplome de pasajeros por la puesta en funcionamiento del tren de alta velocidad AVE entre ambas ciudades. LEVANTE (20 maio 2011).

A AENA, ao contrário da lucrativa ANA, tem neste momento mais de 13 mil milhões de euros de prejuízos. O erro de previsão, para não dizer o dinheiro fácil, a especulação e a corrupção deram nisto:

  • Madrid - investimento na expansão do Aeroporto de Barajas: 6 mil milhões de euros.
    Objectivo: aumentar a capacidade do aeroporto para 70 milhões de passageiros.
    Resultado: diminuiu de 52 milhões, em 2007, para 48 milhões em 2009
  • Barcelona - investimento: 5,1 mil milhões de euros.
    Objectivo: aumentar a capacidade do aeroporto dos 30 milhões para os 55 milhões de passageiros.
    Resultado: diminuiu de 33 milhões, em 2007, para 27 milhões em 2009.
  • Málaga - investimento: 1,8 mil milhões de Euros
    Objectivo: aumentar a capacidade de 12 para os 30 milhões de passageiros.
    Resultado: diminuiu de 13,5 milhões, em 2007, para os 11,6 milhões, em 2007.
Foi por coisas parecidas que a Grécia foi à falência, e não sabemos se a Espanha não irá também. Por cá, dado o atraso cultural dos nossos políticos e a falta de know how dos nossos bancos e empresários, andámos entretidos a derreter a poupança que tínhamos e que não tínhamos em desnecessárias autoestradas, criminosas barragens, ventoinhas que serão comidas pela ferrugem antes de se tornarem rentáveis, hospitais PPP a que poucos terão acesso uma vez falida a nossa querida Segurança Social, rotundas, piscinas e muitos, muitos estudos e encomendas aos gabinetes de consultores e escritórios de advogados.

Já no que se refere à ferrovia, que o Bloco Central se entreteve a destruir durante as décadas de 80 e 90, para justificar as estradas e as autoestradas que não sabemos como pagar, vamos mesmo ter que regressar a ela, pelo menos nas principais ligações transversais a Espanha: eixos Lisboa-Madrid,  Aveiro Salamanca e Porto~Vigo.

E vejam só: em vez de os nossos industriais, banqueiros, engenheiros, economistas, financeiros e rapaziada partidária exultarem com a perspectiva, andam a chorar pelos cantos por um NOVO AEROPORTO EM ALCOCHETE!

Já alguém contou quantos Airbus A380 demandam por rota regular o aeroporto de Barajas? E quantos Airbus A380 tem a Iberia? Para ambas as perguntas a resposta é ZERO! 

Os grandes aviões só servirão para conectar directamente, e não saltitando aeródromos secundários, cidades-regiões com mais de 10 milhões de habitantes e milhares de empresas de grande dimensão; ou seja, Portugal não participa neste campeonato.

Finalmente, olhem para onde olham os chineses quando estes olham para o nosso país:
  • Sines: um porto estratégico a ser ligado por ferrovia de bitola europeia a toda a Península Ibérica, e a Paris, Londres, Milão, Berlim, etc.
  • BPN: um banco falido que pode bem servir para estabelecer uma base financeira na península;
  • TAP: outra empresa falida, mas com boas ligações aéreas entre a Europa e o Brasil, que poderá ser melhor aproveitada se não depender do governo de turno e definir uma estratégia clara e racional. Aposto que os chineses, se acabarem por comprar a empresa, irão subdividi-la em TAP Europa (Low Cost), TAP Atlântico e TAP Ásia, transformando-a numa extensão da sua rede de aviões e aeroportos amigos. Como é óbvio, a Portela chega-lhes bem, porque é rentável, ao contrário do embuste da Ota em Alcochete. Ou seja, o que os nossos economistas, engenheiros e comentadores julgam ou deixam de julgar tem cada menos impacto nas decisões.
Esta não é uma recessão qualquer. E os 13 mil milhões do buraco orçamental da AENA (a ANA espanhola) vão ter que ser pagos por alguém. Para já os espanhóis ocupam mais de 60 praças em outras tantas 60 cidades.... Ou seja, o Cairo aqui tão perto!

POST SCRIPTUM — um leitor amigo chamou-me a atenção para o facto de não ter referido o turismo. Tem razão: o turismo continua a ser fundamental na economia portuguesa, e há todavia muito para melhorar nesta actividade. Apesar de tudo, é um dos poucos que progride e aumentou significativamente, a partir do momento em que as companhias aéreas Low Cost começaram a operar em força nas cidades de Faro, Lisboa, Porto e Funchal. Temo, no entanto, que a profundidade da crise das dívidas soberanas no Ocidente, a par da crise energética, venham a reduzir em breve as expectativas de crescimento do turismo mundial, e sobretudo europeu. As taxas médias de crescimento do turismo mundial baixaram dos famosos 8%, em 2005, para os 4% a 5% previstos para este ano, ou seja, sensivelmente metade. Não depende de nós inverter esta situação. Daí não lhe ter dado a prioridade estratégica que dei a outras matérias.

Última actualização: 24.05.2011 11:59

sexta-feira, maio 20, 2011

Fukushima: a grande mentira nuclear

Central nuclear finlandesa em construção. Um desastre semelhante ao de Fukushima será um desatre imediato para a Finlândia, Suécia, Noruega, Dinamarca, Rússia, Alemanha, Polónia, Estónia, Letónia e Lituânia.
Os demónios atómicos da energia nuclear pacífica saíram da garrafa de mentiras em que a ciência comprada se transformou  
Reactor totalmente fundido desde primeiro dia do desastre
 DN, 20 maio 2011

Milhares de documentos tornados públicos pela empresa que gere a central nuclear de Fukushima mostram que alguns dos factos conhecidos desde o início do desastre eram mentira. As instalações ficaram fortemente danificadas logo após o sismo de Março e o reactor número um está totalmente fundido desde o primeiro dia. Os reactores dois e três estarão em situação idêntica.

Fukushima: a imprensa portuguesa acorda finalmente para as notícias alarmantes que começaram a sair a 16 de maio. Mais vale tarde...

Os reactores EPR (que franceses e alemães querem impingir ao resto do mundo), e as centrais nucleares em geral, vão seguramente passar por um escrutínio público sem precedentes depois da tragédia em curso, cuja extensão e cuja gravidade têm vindo a ser escondidas do grande público.

Tal como em Fukushima, se um dia houver um grande terramoto na Finlândia, que cause o mesmo tipo de estrago (fundição dos reactores atómicos) que o terramoto do Japão causou à central nuclear supostamente preparada para todas as eventualidades, a central de Olkiluoto, em construção, derramará também, por imposição política dos países alvo das nuvens de partículas radioactivas, a inundação dos compartimentos onde se encontram os reactores, e a expulsão da água radioactiva para o mar. A própria Alemanha, e a Rússia, perante dilema tão terrível, poderão ter que deixar contaminar todo o Báltico, em vez de permitir que a nuvem radioactiva invade ambos os países! A alternativa a este dilema será, à menor percepção de um desastre de semelhantes proporções, cobrir imediatamente as instalações nucleares com cimento — à semelhança do que tem vindo ser feito em Chernobyl.

Hillary Clinton exigiu (tanto quanto se consegue perceber agora da sequência dos eventos conhecidos) às autoridades japonesas o desvio da radioactividade para o mar. Estas não tiveram outra alternativa senão envenenar as suas próprias águas territoriais! Mesmo assim, EUA e Canadá não evitaram a invasão dos respectivos territórios por nuvens radioactivas muito preocupantes.

Isto é o mais parecido que pode haver com uma guerra nuclear involuntária. O debate sobre o uso pacífico da energia atómica vai ganhar uma dimensão inteiramente nova a partir de Fukushima.


ACTUALIZAÇÃO (30.05.2011 8:51)

Como previmos, Fukushima foi mesmo um tiro no porta-aviões nuclear

Atendendo a que tanto a indústria petrolífera, como a nuclear, foram, são e serão (a última, na fase de desmantelamento das centrais e armazenamento do lixo nuclear) pesadamente subsidiadas pelos governos, parte deste dinheiro público irá agora para as renováveis: biocombustíveis em África, Ásia e América do Sul; eólicas e solar na Europa e África (sobretudo no Mediterrâneo). Big time para a I&D no sector energético!

Germany will shut all its nuclear reactors by 2022, parties in Chancellor Angela Merkel's coalition government agreed today (30 May), in a reaction to Japan's Fukushima disaster that marks a drastic policy reversal.

As expected, the coalition wants to keep the eight oldest of Germany's 17 nuclear reactors permanently shut. Seven were closed temporarily in March, just after the earthquake and tsunami hit Fukushima. One has been off the grid for years.

Another six will be taken offline by 2021, Environment Minister Norbert Roettgen said early on Monday after late-night talks in the chancellor's office between leaders of the centre-right coalition.

The remaining three reactors, Germany's newest, will stay open for another year until 2022 as a safety buffer to ensure no disruption to power supply, he said. — EurActiv (30 May 2011)

quinta-feira, maio 19, 2011

Fukushima: cada vez mais perigoso

Fukushima: reactor, unidade 3 (à direita) e unidade 4 (à esquerda) a 16 de março de 2011.

Desastre nuclear de Fukushima agrava-se rapidamente
  • A publicação de mapas meteorológicos norueguesas foi suspensa depois de verificada a extensão alarmante das nuvens radioactivas sobre os Estados Unidos e Canadá!
  • Em menores concentrações, atingiram já a costa portuguesa!!
  • Onde está a imprensa portuguesa!!!
  • Façam o favor de perguntar...

CINCO FACTOS:
  1. enquanto os europeus andavam entretidos com a Líbia, e Portugal com Sócrates e o FMI, Hillary Clinton fez uma visita de emergência ao Japão, sob o pretexto da solidariedade, depois de conhecido o impacto do terramoto na central de Fukushima (não foi o maremoto, mas o terramoto, que destruiu os reactores);
  2. desta visita, presume-se agora, resultou a instrução de inundar de água os reactores por forma a evacuar a radioactividade para o mar do Japão, que por acaso também é o Mar da China;
  3. os japoneses terão cumprido a exigência por um motivo simples: a alternativa a este desvio da radioactividade para o mar seria uma invasão ou ameaça de invasão nuclear dos Estados Unidos com nuvens de radioactividade, o que aliás aconteceu — ou seja, uma ameaça à segurança americana;
  4. entretanto, o NILU (Noruega) deixou de publicar, desde 12 de maio, os mapas metereológicos que acompanhavam a deslocação das partículas radioactivas provenientes de Fukushima, ao tornarem-se evidentes as grandes nuvens de radioactividade sobre os Estados Unidos e Canadá.
  5. a situação continua fora de controle, como revelam os últimos acontecimentos, de que a imprensa portuguesa só dará conta tarde e a más horas!




ÚLTIMAS NOTÍCIAS SOBRE O DESASTRE NUCLEAR EM CURSO

TEPCO says it’s “difficult” to start injecting nitrogen needed to prevent blast at Reactor No. 3
May 19th, 2011 at 12:56 AM (ENENEWS)

Radiation level at No.3 reactor water intake rises

The operator of the damaged nuclear power plant in Fukushima has reported a sharp rise in the concentration of a radioactive material in samples of seawater near the Number 3 reactor.

Tokyo Electric Power Company says it detected 110 becquerels of radioactive cesium-134 per cubic centimeters in seawater samples taken on Wednesday morning.

The level is 1,800 times the national legal limit, compared to 550 times, which was reported the previous day.

The utility also found 120 becquerels of cesium-137, 1,300 times higher than the limit.

Last Wednesday at the same location near the water intake of the Number 3 reactor, water contaminated with highly radioactive substances was found flowing into the sea from a pit. TEPCO says it detected cesium-134 at 32,000 times the legal limit.

In its latest announcement, TEPCO said the concentration of radioactive iodine in seawater samples from the same location fell from 1,900 times the limit on Monday to 630 times on Tuesday.

The utility also said it detected radioactive materials at levels higher than the national limit at 2 of the 4 survey points along the shoreline near the plant.

It says cesium-134 with a concentration level 1.8 times the limit was found at a point 330 meters south of the water drainage gates of the Number 1 to 4 reactors.

Thursday, May 19, 2011 02:57 +0900 (JST)

NILU ends public forecasts as map shows large radiation clouds now over US, Canada (VIDEOS)
May 12th, 2011 at 12:54 PM (ENENEWS)

quarta-feira, maio 18, 2011

Geração à Rasca alastra a Espanha

Um nova revolução mundial a caminho?
Cidadania activa espanhola exige uma democracia real, contra o bipartidismo e a corrupção. ¡Democracia Real Ya!



As democracias europeias são hoje democracias degeneradas. Por um lado, são populistas (à esquerda e à direita); por outro, são corporativas e plutocráticas; e para culminar tamanho entorse, estão infectadas por uma verdadeira pandemia de corrupção. Os resultados estão à vista: empobrecimento, crescimento das desigualdades, insustentabilidade social, e uma grande inércia intelectual. É que os intelectuais crescidos ao longo dos últimos trinta anos estão, na sua maioria, enfiados nos bolsos da plutocracia, ou aninhados no conforto burocrático de um imenso Estado, e sob a protecção de uma verdadeira biopolítica partidocrática.

Os sinais da crise social não poderiam ser mais óbvios. Por enquanto, são pacíficos. Mas a violência pode surgir de um momento para o outro, e alastrar. Diz-nos a história dos movimentos sociais que a provocação vem quase sempre dos nervosos aparelhos policiais quando, como agora, estão à beira de perder o comando político.

Está na hora de criar uma República Electrónica Europeia. A sua missão é simples de definir: substituir as actuais democracias degeneradas, burocráticas e partidocráticas, por democracias reais. Deve ser um processo inteligente, pacífico, em rede, e massivo. Não temos muito tempo para evitar o pior.