domingo, novembro 23, 2014

Bloco de nada

Mariana Mortágua, deputada do Bloco de Esquerda
Foto©Paulete Matos

O que falta ao Bloco que o Podemos tem?


Miguel Portas “A renovação do Bloco tem de passar pela saída dos quatro fundadores”
i, 22-06-2011 08:21

Em 2009 cheguei a acreditar que o Bloco de Esquerda num vaipe de inteligência estratégica iria crescer com a energia da juventude de parte substancial dos seus entusiastas e o abandono dos esqueletos leninistas, estalinistas e trotskistas dos seus fundadores. Pensei mesmo que os bloquistas, aproveitando o desastre da governação pirata de José Sócrates, iriam ameaçar a hegemonia rentista e devorista do Bloco Central alargado (PS, PSD, CDS/PP), atraindo o eleitorado sincero e honesto do Partido Socialista nas eleições que se seguiram à queda ruinosa do governo Sócrates. Enganei-me.

Em 2011, a falta de credibilidade escancarada pelo Bloco de Esquerda na sequência da sua atuação desastrosa relativamente ao Programa de Assistência Económica e Financeira (PAEF), recusando-se liminarmente a sentar-se à mesa com a Troika, daí resultando uma pesada derrota eleitoral e a subsequente fragmentação partidária, que prossegue a toda a velocidade, fez-me regressar à análise anterior sobre o bloqueio genético deste armário de cadáveres adiados do marxismo-leninismo: enquanto os seus fundadores e acólitos não se reformarem, dando lugar ao que o Bloco tem de melhor —a sua juventude— este pequeno partido, tal  como o PCP tem sido, continuará a ser parte do lastro burocrático que tem vindo a afundar o país, independetemente das suas hipócritas e cada vez mais lunáticas profissões de fé ideológica.

Só há lugar para mais liberdade, para mais democracia, para mais transparência, para a defesa intransigente do estado de direito, para a soberania social sobre os recursos naturais estratégicos, e os não renováveis, e para menos burocracia de qualquer espécie. Tudo o resto deve ficar em segundo plano diante destas exigências cruciais. Sobretudo as ortodoxias, quase todas reprovadas pela História e por milhões de vítimas inocentes.

A ideologia marxista orginal nasceu no início da Revolução Industrial, uma revolução alimentada por sucessivas vagas de energia barata (carvão, petróleo e gás natural) que permitiu duzentos anos de crescimento rápido e inflação, mas que está a chegar ao fim. Não serão, pois, os cadáveres revisionistas de Marx que poderão inspirar-nos!

Miguel Portas colocou o dedo na ferida quando disse que os fundadores do Bloco deveriam afastar-se e dar lugar aos novos. Pelo que vemos, esta simples medida de higiene ideológica continua por aplicar, e a gangrena do estalinismo espalha-se corroendo o sonho de muitos.

O Bloco, tal como o espanhol Podemos, é um movimento de juventude. Mas, ao contrário do Podemos, está há demasiado tempo sentado no parlamento burguês sem nada fazer de fundamental. O resultado está à vista. Pablo Iglesias terá certamente sentido um calafrio depois de observar mais de perto o que acontece a um partido que não sabe ultrapassar o dogmatismo ideológico e o irrealismo político e ao mesmo tempo permanece sentado nos mesmos sofás da nomenclatura, participando, ainda que micrologicamente, nos processos de poder, respirando os aromas que os privilégios deste sempre exalam.

A implosão do Bloco abriu entretanto espaço político e eleitoral a novas propostas eleitorais, sobretudo assentes na denúncia da corrupção do regime e na rejeição dos irrealismos demagógicos que há décadas apanham a boleia dos privilégios e dos impostos, mas nada produzem que se veja.

Movimentos recentes, tais como o Partido Democrático Republicano, ou o Nós-Cidadãos, ocuparão inexoravelmente o vazio criado por todo um regime neocorporativo, populista e partidocrata que traiu as expetativas e já nada tem para oferecer, além de mais austeridade, corrupção e demagogia barata.

Será que a gente nova do Bloco, como a Mariana Mortágua ou a Catarina Martins, e outros que entretanto já abandonaram as coutadas do maoista Fazenda, do trotskista Louçã, e dos ex-PCP, serão ainda capazes de salvar uma jangada claramente à deriva?

Este regime acabou



Sem uma terceira força parlamentar a gangrena continuará a crescer


Este regime, na realidade, já morreu. Falta tão só abrir os caixões e preparar o funeral. Serão as próximas eleições o momento certo do enterro, ou por urgência de higiene pública é forçoso acelerar os preparativos?

Esta deve ser a pergunta que Cavaco Silva, neste momento, faz a si próprio:
—se quero um novo Bloco Central (Passos Coelho-António Costa) para me salvar e salvar a honra do convento, então esta prisão do Sócrates veio atrapalhar tudo e quase todos. Antecipar eleições nestas circunstâncias poderia originar uma dinâmica explosiva de tumultos urbanos, dando por esta via razão aos milhões de portugueses que deixaram de votar no regime, mas que poderão estar disponíveis para eleger uma espécie de Podemos lusitano, o qual, na ocorrência, só poderá chamar-se António Marinho e Pinto e Partido Democrático Republicano (1);
— se, por outro lado, decido manter a data prevista das próximas Legislativas, dando cumprimento ao que diz a Constituição e as leis aplicáveis, não sei quem estará ainda de pé e livre para disputar as próximas eleições. O mais provável é que tanto o PSD, como o PS, já para não falar do PCP e do Bloco, percam no conjunto mais de um milhão de votos, e que o mar de abstenção se transforme num maremoto capaz de varrer de vez este regime. A menos que... apareça mesmo uma terceira força parlamentar com dimensão e jeito para compor o brinquedo da democracia num país a que escasseiam cada vez mais recursos económicos, financeiros e sobretudo morais para a manter.

O processo judicial abertamente escancarado com a prisão do ex-primeiro ministro José Sócrates, num país clubista, indigente, mal formado, corporativo e corrupto como o nosso é, ainda por cima falido, isto é, sem possibilidades objetivas de continuar a alimentar uma mole imensa de criaturas que nada produz e há décadas vive da redistribuição burocrática e partidária da riqueza confiscada a quem trabalha ou simplesmente juntou alguma poupança, ou que tem sido emprestada por credores externos, corre o risco sério de precipitar um súbito colapso do regime, em vez da sua metamorfose ordenada, na qual teriam que estar forçosamente previstas, por um lado, a substituição das gerações no poder político, económico e financeiro do país e, por outro, a alteração do xadrez parlamentar há muito acantonado entre a endogamia corrupta do Bloco Central (PS-PSD-CDS/PP) e a impotência sectária dos estalinistas e trotskistas que compõem o PCP e o dito Bloco de Esquerda.

Eu preferiria ver os movimentos da nova cidadania digital amadurecerem ao ponto de serem capazes de precipitar a criação de um novo Partido Democrata, lúcido, criativo, ponderado e decidido a mudar de alto a baixo a nossa democracia, preservando e aprofundando o seu legado positivo —a liberdade, a democracia e o estado de direito—, mas avançando rapidamente para um regime mais participativo, transparente e responsável.

Haverá tempo para uma reestruturação ordenada do regime?

O perigo de nos estamparmos numa curva apertada, que pode ser o modo como o caso de polícia com o antigo PM for conduzido, ou a crise instalada no Partido Socialista, ou as próximas Legislativas, é real.

A gangrena que atinge a nomenclatura do regime, a corja de rendeiros e devoristas que o conduziram à pré-bancarrota, é incurável. Só mesmo uma terceira força, que queremos mais democrática e transparente, poderá reconduzir as águas revoltas da nossa democracia a uma nova tranquilidade. Isto, claro, se os monstros corporativos da direita, que não deixaram de povoar o imaginário lusitano, não voltarem a despertar, uma vez mais, em desespero de causa.


POST SCRIPTUM

António Marinho e Pinto perdeu uma boa oportunidade para estar calado quando se pronunciou sobre a detenção de José Sócrates, arremetendo, como se ainda fosse Bastonário, contra Procuradores e Juízes. Quem decide, afinal, se os magistrados podem ou não ser 'humilhados' como José Sócrates? Não são os magistrados, pois não?

NOTAS
  1. Um partido em fase de legalização que tem sido reprimido pela imprensa indigente e desmiolada que temos, bem como pela corrupta indústria das sondagens que por aí anda e mente estatisticamente.

Atualização: 24 nov 2014, 20:56 WET

José Sócrates e as tentações de Santo Antão

Lovis Corinth. Tentações de Santo Antão (1908)

A maldição de Santo Antão da Barca


Consta que há uma lenda em Santo Antão da Barca segundo a qual quem afronta o princípio filosófico da pobreza do Anacoreta egípcio e pai de todos os santos, Antão do Deserto, é severamente punido, sobretudo se o pecado for a soberba e a luxúria.

A verdade é que desde que José Sócrates, António Mexia, Manuel Pinho e o então presidente da câmara de Torre de Moncorvo, Aires Ferreira, confraternizaram em nome da destruição do Rio Sabor, para nele mandarem edificar uma barragem inútil (ver vídeo), o referido autarca do PS matou a mulher e suicidou-se, Manuel Pinho viu a sua vida andar para trás desde a cena dos chifres na AR até ao humilhante downsizing do seu vencimento no ex-BES, e José Sócrates foi preso no dia 21 de novembro de 2014 sob suspeita de vários crimes de corrupção. Só falta a Mexia ter que explicar a trapalhada das barragens e a compra das ventoinhas à Goldman Sachs para ser severamente atingido pela maldição do Eremita cuja imagem foi roubada do sítio onde esteve mais de duzentos anos, e a capela em sua homenagem removida do lugar e do caminho histórico de Santiago.

Só há corrupção se a política deixar

As pessoas têm que perceber uma realidade simples: não há corrupção, pelo menos na escala pandémica que atingiu o nosso país, que não seja fruto da própria política.

Nas ditaduras a corrupção é controlada policialmente pelos corruptos que são poder, determinando quem pode e quem não pode partilhar o saque dos cidadãos.

Em democracia, porém, a corrupção em larga escala só funciona sem problemas se houver muita riqueza para distribuir, ou seja, se houver riqueza suficiente para alimentar ao mesmo tempo a pequena corrupção que alastra a 25% ou mais da população, e a grande corrupção promovida por menos de 0,1% da população, normalmente distribuida por três setores: políticos, banqueiros e empresas piratas. Quando, porém, a economia entra num ciclo recessivo prolongado, a lógica da corrupção em democracia colapsa, pois deixa de haver margem para tal. A austeridade e o desemprego fustigam progressivamente mais de 90% da população, as classes médias são ameaçadas de extinção ou metamorfose dolorosa e, por fim, as próprias elites vêm-se envolvidas numa guerra fratricida incontrolável. É o que está neste momento a acontecer.

Ciclicamente a história parece repetir-se, com laivos bíblicos e até mitológicos.

Santo Antão da Barca foi levado por ladrões

Santo Antão da Barca foi roubado do seu altar onde se encontrava há pelo menos duzentos anos.

[...]

O Santuário de Santo Antão da Barca ainda nos dias de hoje possui um grande significado religioso, etnográfico e cultural, mas é nos finais do século XIX e durante quase todo o século XX que o sítio granjeia um significado especial entre a população que vive nas aldeias implantadas nas imediações do vale do Baixo Sabor.

Esta importância cultural, etnográfica, religiosa e social foi mesmo invocada pelos ambientalista e todos aqueles que se opõem à construção de uma barragem no rio Sabor, como mais um argumento para ajudar a obstar a sua construção.

O santo foi roubado após o arrombamento das portas, que tudo indica, foram forçadas com um pé de cabra.

As autoridades policiais já estão a investigar o furto.

Notícias do Nordeste, 13/6/2007
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Obras da EDP impedem festividades de Santo Antão da Barca junto ao rio Sabor

Alfândega da Fé, 14 jun (Lusa) - A presidente da Câmara de Alfândega da Fé anunciou hoje que o atraso na trasladação do santuário de Santo Antão da Barca levará a que as tradicionais festas de setembro não tenham lugar naquele templo.

O santuário situado na margem direita do rio Sabor, está a ser transferido para nova localização pela EDP, dado que o seu local tradicional vai ficar submerso após a conclusão da barragem do Baixo Sabor.

Visão, 10:06 Sexta feira, 14 de Junho de 2013
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Memorial perpetuará Santuário de Santo Antão da Barca

D. José Cordeiro presidiu esta tarde à bênção do memorial - uma cruz aberta, em granito - que perpetuará a memória do espaço que acolheu, ao longo de mais de 200 anos, uma das maiores romarias da região transmontana – o santuário de Santo Antão da Barca, espaço que vai ficar submerso pela barragem do Sabor.

RR, 17-01-2014 18:18
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sábado, novembro 22, 2014

Tiro no porta-aviões 'socialista'

José Sócrates à saída do DCIAP - 22 nov 2014 01:19 WET.
Foto: câmara CMTV

E agora Costa? 


Por algo Soares tinha tanta pressa no derrube de Seguro e deste governo!

Havia demasiados indícios para que a Justiça nada fizesse. As tropelias dentro do PS cheiravam mal desde que Mário Soares traçara como objetivo principal derrubar o Tozé e derrubar este governo de qualquer maneira. O colapso do GES/BES foi a porta do grande dique da corrupção que se abriu.

Esperamos notícias sobre o cabotino Mexia e sobre o negócio aqui descrito e várias vezes denunciado do financiamento das novas barragens no tempo de José Sócrates. A EDP comprou em 2007 uma grande empresa americana de energia eólica à Goldman Sachs (a Horizon Wind), em troca, supomos, de uma grande operação de financiamento 'facilitada' pela própria Goldman Sachs, da qual resultou o endividamento catastrófico da EDP, que hoje anda pelos 17-18 mil milhões de euros (daria para ter financiado 17 pontes Vasco da Gama), mas também um adiatamento de várias centenas de milhões de euros ao governo de José Sócrates (ver vídeo 1; ver vídeo 2 ; ver vídeo 3). As escandalosas e corruptas rendas da energia traduzem-se nos altos preços pagos pelas famílias e empresas portuguesas pela energia elétrica, o que, entre outros obstáculos artificiais, impedem qualquer sonho de crescimento.

Comentário em atualização...

Histórico de um pirata
  • Sócrates: Fortuna regularizada nos RERT. Felicia Cabrita, Sol
    — Pergunta: quais são as responsabilidades de Teixeira dos Santos nos RERT I e II
  • A culpa não é de Sócrates. É nossa. Helena Matos, Observador, 22/11/2014, 17:38 WET
  • PGR: "Inquérito teve origem numa comunicação bancária", Jornal de Negócios, 22 Novembro 2014, 13:55
Processo judicial em curso
  • Apontamento vídeo e declaração do juiz Carlos Alexandre, responsável por vários processos judiciais que questionam a corrupção indecorosa da classe política e económico-financeira portguesa. Data da publicação do vídeo: 7 de abril de 2012 (Youtube).

Última atualização: 23-11-2014 10:07 WET

A menina Isabel

 
Deputada portuguesa, 2014


A menina do papá é muito bem comportada!


O pai da menina Isabel chama-se Adriano Moreira e foi ex-ministro do Ultramar de Salazar entre 1961-1963, e Deputado da Assembleia da República entre 1979 e 1991, pelo CDS-PP. 


Não sabemos se o pai de Isabel Moreira é ou não um dos 257 políticos (Observador) a quem foram atribuídas, e que auferiam ainda em finais de 2013, as famosas subvenções vitalícias generosamente legisladas em casa própria pelo famoso parlamento das perdizes que é o nosso. Mas lá que parece, parece. Seria bom esclarecer a dúvida pública existente.

A putativa defesa da Constituição invocada pela estouvada deputada socratina do PS e por tantos outros cabotinos da casta partidária deste país falido até à medula transformou os funcionários públicos em párias sociais que o estado pode despedir a seu belo prazer sem sequer indemnizar, colocando-os aos milhares no limbo da chamada REQUALIFICAÇÃO, numa situação humilhante que não existe em parte alguma do sistema laboral português.

Mas isso é o povo, não é, menina Isabel?

Votem nesta corja (PS, PSD, CDS) mas depois não se queixem!


PS: a estouvada socratina confunde direitos adquiridos com legislação pirata em causa própria, a qual, por definição e justiça, há muito deveria ter sido expurgada do corpo legislativo desenhado pela cleptocracia instalada. A arrogância desta deputadazinha é proporcional à sua ignorância jurídica.

Isabel Moreira pondera enviar para o TC norma que suspende as subvenções - Expresso

Quem são os ex-políticos com subvenção vitalícia - Observador

sexta-feira, novembro 21, 2014

BES e a treta da comissão de inquérito

Mariana Mortágua, deputada do Bloco não faz os TPC.
Foto © Jose Sérgio/ Sol

A casta deixou de servir a democracia. Serve-se a si mesma e sem qualquer vergonha na cara


Mariana Mortágua | Embalos semânticos
Expresso, 7:00 Sexta feira, 21 de novembro de 2014

A partir do momento em que se tornou pública a necessidade de uma intervenção estatal no BES, o Governo, na voz de Maria Luís Albuquerque (MLA), apressou-se a construir duas teorias. A primeira: "aconteça o que acontecer, não haverá prejuízos para os contribuintes" (MLA, 8 Out, AR). A segunda: "O Governo teve conhecimento da decisão da resolução do BES na tarde do dia 1 de agosto (MLA, 8 Out, AR), logo, a responsabilidade da mesma cabe ao Banco de Portugal.

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Apesar de pertencerem à casta dos 1% com maior rendimento coletável do país, os nossos deputados da treta nem sequer se dão ao trabalho de ler o Jornal Oficial da União Europeia, e as resoluções do Parlamento Europeu, nomeadamente aquela que deu lugar ao Mecanismto Único de Resolução (MUR ou SRM). Se o fizessem não andariam a pulverizar os indígenas com a falsa discussão sobre as responsabilidades do governo e de Maria Luís Albuquerque no colapso do banco do regime, onde tantos beberam, mais ou menos, privilégios corruptos. Assim que governo e BCE perceberam que o BES ia colapsar, começou uma corrida contra o tempo para antecipar a redação, aprovação e implementação do MUR. Houve, pois, uma triangulação entre o nosso governo e Banco de Portugal e o Parlamento Europeu e o BCE, nas medidas, nas provisões e no timming da entrada do grupo financeiro GES e banco BES no Mecanismo Único de Resolução. Tudo o resto é conversa de jornalistas e deputados que não fazem o trabalho de casa... e mais do mesmo, ou seja, a manipulação diária dos bovinos contribuintes que continuam a alimentar a corja que arruinou o país — com impostos, taxas e votos!

Quando as ações do BES e do BCP cairam 25% numa só semana de maio deste ano, o destino do grupo BES estava traçado, e só quem anda a milhas destes temas, ou queira escondê-los, não sabia o que iria acontecer. Quem especulou e perdeu, não tem nada que arrastar-se pelos gabinetes e redações vertendo lágrimas crocodilo.

Neste blogue foram escritos vários textos esclarecendo sem ambiguidades o que iria acontecer e porquê.

Ricardo Salgado chegou a convocar um Conselho de Estado para anunciar o que aí vinha se não o acudissem. Queria dinheiro do estado, mas sem mostrar os livros; queria, através do BCP e da meretriz Caixa Geral de Depósitos, a massa da Troika, mas sem mostrar os livros. Como levou tampa, telefonou aos afilhados da PT e sacou-lhes 900 milhões de euros. Como levou tampa do governo, do BdP e dos outros bancos, convenceu a Goldman a fazer uma entrada/saída relâmpago, obviamente especulativa, no capital do BES, por um lado, para ver entrar liquidez num navio que batera no gelo e que afundava à vista de todos os ceguinhos do país (que por isso viam outras coisas e dançavam...). A imprensa económica anunciava a operação de tomada de posição qualificada no BES por parte de dois fundos abutre (um deles, a Goldman Sachs) no mesmo dia em que estes mesmos especuladores já vendiam as ações que entretanto 'valorizavam' na lógica do sobe-e-desce do Casino do PSI20. Pretender que o governo poderia ter feito outra coisa, ou sequer agir autonomamente quando o país não passa de um protetorado da União Europeia, é atirar areia aos olhos de quem não vê ou não quer ver.

O inquérito ao colapso do GES/BES é uma farsa. Já agora quanto ganham os senhores deputados e as senhoras deputadas por esta farsa? Quanto vai custar mais um inquérito inútil aos contribuintes? Onde estão os tribunais? Onde está a Polícia?!

quinta-feira, novembro 20, 2014

A Ota fluvial do Barreiro

Europort, Roterdão: navios de carga empilhados...

A Ota (fluvial) deste governo chama-se porto de contentores do Barreiro


O tam-tam sobre o novo porto de contentores do Barreiro é mais uma manobra de distração do ministro Sérgio, para abafar os assuntos graves e iminentes: colapso do banqueiro do regime, rendas excessivas da energia, PPP, TAP, etc.

João Carvalho: "Grande parte do comércio com os EUA vai passar por Portugal"
20 Novembro 2014, 00:01 Jornal de Negócios

O presidente do Instituto da Mobilidade e dos Transportes não compreende os ataques ao terminal no Barreiro e aponta o dedo a “forças ocultas”. Para o presidente do IMT, o país tem de estar preparado para o espaço económico de 900 milhões de consumidores.
Quem pagará as dragagens constantes necessárias a um hipotético porto de contentores nos lodos do Barreiro? Os armadores, os transitários e em geral as empresas envolvidas no trânsito das mercadorias, ou o Zé Povinho, em mais impostos, taxas e velhos atirados para a sarjeta, com salários, pensões e rendimentos sociais de inserção assassinos?

Este lunático que putativamente preside ao Instituto da Mobilidade e Transportes, que se disponha a uma discussão pública aberta sobre as imbecilidades que propala, e logo calaremos os seus argumentos de propaganda barata em menos de três minutos.

Os portos de contentores vocacionadados para os grandes navios, nomeadamente os post-Panamax, estes só marginalmente descarregam mercadorias para seguirem por estrada, ou mesmo por caminho de ferro, e neste caso, só se houver bitola europeia que ligue diretamente, i.e. sem roturas de carga, os Post-Panamax à rede europeia de comboios UIC (a chamada bitola europeia), pois a sua principal utilidade estratégica é o transhipment, ou seja, passar contentores de grandes barcos para barcos menos grandes e navios de cabotagem.

Sines tem capacidade de expansão e já reúne todas as condições para ser o grande porto de transhipment do país, faltando-lhe, porém, ligações ferroviárias UIC (sem mudanças de bitola pelo meio!) a Espanha, a Setúbal e ao Poceirão. Para navios de menor dimensão, mais a norte, temos o porto de Leixões, que é estratégico, está a ser melhorado e continuará a beneficiar de sinergias económicas e políticas imparáveis.

Baltic Dry Index - 1985-2013 (Wikipedia)

Mas se, por acaso, a economia ocidental voltar a crescer acima dos 3%, e o Baltic Dry Index voltar a superar as cifras de... 1985 (!), então poderão estudar-se outras hipóteses. Mas neste caso, a única que faz sentido e foi há muito estudada chama-se porto de águas profundas da Trafaria.

Este porto permitirá um dia libertar o Tejo em frente a Lisboa para uma navegação mais intensiva entre margens e para a navegação desportiva e turística, criando um novo e potentíssimo foco de crescimento turístico na cidade-região de Lisboa.

Permitirá também travar a erosão galopante da Costa da Caparica.

E pelo efeito de escala que comporta, uma tal obra tornaria inevitável a terceira travessia do Tejo onde também há muito foi prevista, isto é, no corredor Algés-Trafaria, permitindo enfim fechar verdadeiramente a CRIL, ligando mais rapidamente e com menores custos de tempo e combustível os concelhos da cidade-região e Lisboa com maior crescimento demográfico na década de 2001-2011: Sintra, Cascais, Loures, Almada, Alcochete e Mafra.

Instalar um porto de contentores no Barreiro seria o mesmo que enfiar o Rossio na Rua da Betesga e sujeitar o estuário do Tejo a um aumento exponencial das probabilidades de acidentes graves com navios. Seria, por outro lado, mais um buraco financeiro a suportar pelos contribuintes.

Conhecem a Rua da Betesga? Liga o Rossio à Praça da Figueira e tem menos de 15 metros de largura, e menos 30 metros de comprido!


POST SCRIPTUM

Recebemos, entretanto, um comentário a este post, do nosso Garganta Funda, que passamos a transcrever.

O problema é outro!

Qualquer rotura de carga tem custos enormes. Nestes casos, as margens de lucro são rapidamente comidas.

Tenho trabalhado activamente nessa questão.

Por exemplo: no comércio de cereais a granel, os navios de 60.000-100.000ton vindos do Brasil descarregam em frente a Santa Apolónia para batelões de baixo calado (3 metros) de só 3000 ton.
Estas operações acarretam um custo adicional de $11 por tonelada.

Em Leixões, a falta de uma correia tarnsportadora entre o cais e os silos, de apenas 1500 metros (11.000.000 euros de investimento) agrava numa só operação o custo da ton de cereal —soja, ou seja o que for— em cerca de $15.

A competitividade dos grandes volumes de transporte mede-se aos cêntimos.

Um erro estratégico e eles mudam para outro porto.

Setúbal está limitado em 60% pois os ambientalistas reduziram a chamada sonda reduzida do canal de 14m para 10 ou 12 metros.

A decisão de um palerma incompetente pode estragar toda uma economia regional, ou mesmo nacional.

O Napoleão dizia que pouco se importava com os corruptos e os ladrões, só não admitia incompetentes.

Garganta Funda