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quarta-feira, janeiro 28, 2009

Portugal 81

Sondagem informal

Num inquérito aos leitores do António Maria terminado a 24.12.2008 fiz uma pergunta simples:
Votaria num novo partido? As respostas foram:
Sim = 65%
Não = 20%
Talvez = 10%
Não sei = 15%
No inquérito subsequente, terminado a 28-01-2009, a pergunta foi esta:
Nas próximas eleições em quem votaria, se o panorama partidário mudasse? As respostas foram:
PS = 17%
PSD = 5%
Coligação Alegre/ BE = 23%
BE = 11%
PCP = 5%
Novo partido de centro-direita = 17%
Monárquicos = 15%

Este segundo inquérito sofreu de três omissões, que corrigirei na próxima oportunidade. Esqueci-me de mencionar o CDS-PP, e as opções: Em branco; Não votarei; Ainda não decidi.

Se descontarmos um certo empolamento do voto monárquico, e uma subestimação mais do que provável do voto no PCP, parece evidente:
  • a perda de credibilidade do PS e do PPD-PSD junto dos meus leitores;
  • e o potencial eleitoral para a emergência de novos partidos situados nas bandas centro-esquerda e centro-direita do pragmatismo eleitoral.
Embora o Bloco de Esquerda mereça uma intenção de voto muito surpreendente, a sua fusão com a aura socialista de Manuel Alegre, teria claramente hipóteses de chegar rapidamente ao poder, relegando mesmo o cadavérico PS, que a tríade de Macau sequestrou, para uma espiral de perdição.

Por fim, parece-me evidente que há lugar para um novo partido de centro-direita, que deixe para trás o saco de gatos escanzelados em que se transformou o PPD-PSD.

Na realidade, o incestuoso Bloco Central deixou cair a sua máscara, aparecendo hoje ao olhar dos portugueses mais atentos como aquilo que há muito é, e por sê-lo, levou este país à beira do abismo: um Bloco Central de Interesses, um Bloco Central do Betão, e um Bloco Central da Corrupção. O frete de Freitas do Amaral na SIC Notícias, ontem à noite, em defesa do seu antigo patrão foi penoso de ver. Na realidade, a mim, provocou-me uma grande azia!

Se houver coragem, a alteração do actual quadro partidário antes das próximas eleições poderá surgir como uma ténue luz de esperança ao fundo do túnel. Se a indolência e a cobardia políticas prevalecerem, esperam-nos tempos dramáticos, que este Cavaco ou outro qualquer acabará por aproveitará para uma correcção presidencialista drástica do actual regime de balda parlamentar, exibicionismo autoritário e corrupção.

Post scriptum — o valor científico deste inquérito é nulo. Chamo porém a atenção dos meus leitores para o facto de as sondagens dos institutos que temos serem, salvo à boca das urnas, sistematicamente manipuladas em função dos objectivos precisos de quem as encomenda.


OAM 526 28-01-2009 19:10

terça-feira, janeiro 13, 2009

Portugal 72

Contagem de corruptos

Antes de se iniciar uma guerra é usual haver uma contagem de espingardas próprias, aliadas e inimigas. No entanto, quando o confronto se avizinha num Estado exangue (que é muito pior do que o Estado exíguo de que fala Adriano Moreira), aquilo que infelizmente vemos parece ser apenas uma contagem de corruptos.
Ingleses suspeitam de corrupção de ex-ministro de Guterres no caso Freeport

10.01.2009 - 15h09 PÚBLICO, com Lusa — As autoridades judiciais inglesas, que têm em curso uma investigação criminal sobre o licenciamento da construção do Freeport de Alcochete, têm uma lista de 15 suspeitos de corrupção e fraude fiscal, encabeçada por um ex-ministro de António Guterres, noticia o semanário “Sol” na sua edição de hoje. Os outros suspeitos que terão estado na origem do desfalque à empresa de “outlets” são administradores do Freeport, autarcas portugueses, construtores e advogados.

Futuro do presidente da Lusoponte nas mãos do Ministério Público
Ferreira do Amaral é suspeito de corrupção

13 Janeiro 2009 - 02h00 (Correio da Manhã) — Não pediam um tostão que fosse a mais pela inscrição no curso e, em dia de exame, os directores das duas escolas náuticas ainda brindavam os alunos com mensagens por telemóvel a dar as respostas certas. Objectivo: garantir taxas de aprovação a roçar os cem por cento e atrair centenas de clientes de Norte a Sul do País. Arrasando a concorrência. Só que o crime foi denunciado à Polícia Judiciária e, apurou o CM, entre os 40 alunos suspeitos de corrupção está Joaquim Ferreira do Amaral – o actual presidente da Lusoponte que foi ministro de Cavaco Silva e candidato à Presidência da República.

No caso português, à medida que tomamos consciência da responsabilidade plena do Bloco Central, formado pelos dois principais partidos políticos do país: o Partido Socialista e o Partido Social Democrata, no beco sem saída em que Portugal se encontra depois de duas décadas de afluxo ininterrupto de milhares de milhões de euros comunitários, percebemos até que ponto o actual regime constitucional falhou os seus objectivos.

Temos uma dívida externa bruta superior a 200% do PIB (e não 100%, como os economistas beija-mão propagam por aí!) O défice orçamental propalado pelo actual governo não passa duma estatística martelada com engenharias orçamentais de trazer por casa, indignas de qualquer merceeiro fino que se preze. O destino deste défice mascarado é continuar a aumentar até estourar como uma bolha de corrupção e escândalo, antes de 2015.

O governo paga tardiamente às farmácias e demais fornecedores, adia o pagamento das SCUDs e exige pagamentos por conta como qualquer chulo do Cais Sodré, ao mesmo tempo que a generalidade das empresas públicas (algumas delas corroídas pela corrupção até ao tutano) camufla as suas criminosas dívidas acumuladas adiando sem qualquer penalização o pagamento de parte significativa dos impostos devidos (IVA e IRS) e a realização dos descontos para a segurança social. Como se isto fosse pouco, a intensidade energética do PIB português é três vezes (300%) mais elevada do que a média da União Europeia a 15! A propaganda governamental em volta das energias renováveis serve pois e apenas para promover a construção de dez barragens inúteis do ponto de vista energético, mas devastadoras do ponto de vista ambiental e da necessária reformulação dos nossos paradigmas de vida.
Empresas públicas devem milhões em IRS, IVA e segurança social

13-01-2009 (Diário de Notícias) — O Tribunal de Contas acusa cinco empresas públicas de reterem impostos, referentes ao exercício fiscal de 2007, que deveriam ter sido entregues aos cofres do Estado. Numa auditoria a 20 sociedades do sector empresarial do Estado, a entidade fiscalizadora refere que ANA, NAV, TAP, RTP e Metro do Mondego tinham inscritas nas suas contas dívidas referentes a impostos sobre lucros, IRS retido aos seus trabalhadores, contribuições à segurança social e IVA.

As acusações não são iguais para todas as entidades referidas e os montantes em débito são de valor diverso. No total, perfaziam 47,40 milhões de euros. O maior devedor era a TAP, com 22,62 milhões em falta, seguido da RTP (11,61 milhões) NAV (10,87 milhões) e ANA (2,3 milhões). A dívida do Metro do Mondego aos cofres públicos não está especificada, mas é negligenciável.

As dívidas não foram contestadas em sede de contraditório, ao contrário do que ocorreu com outras empresas - caso da Administração do Porto de Lisboa, por exemplo -, as quais acabaram por não constar do relatório do Tribunal. No total, os auditores apuraram que a dívida das empresas consideradas ascendia, no final de 2007, aos 17,47 mil milhões de euros, ou seja, um valor semelhante a 17% da receita do Orçamento de Estado.

O maior devedor é a Refer. A empresa que gere as infra-estruturas ferroviárias devia, no período auditado, 4,74 mil milhões de euros, dos quais 3,82 mil milhões eram respeitantes a médio e longo prazo. As empresas do sector dos transportes, aliás, seguem na linha da frente dos devedores, com o Metro de Lisboa, CP, Metro do Porto e TAP a ocuparem os lugares seguintes. Das empresas consideradas pelo Tribunal, a que apresenta melhor perfil é a Quimiparque, com uma dívida de 7,6 milhões de euros. Para além desta, só os CTT e a SIMAB-Sociedade Instaladora de Mercados Abastecedores não tinham dívidas à banca.

Baixar estes escandalosos níveis de desperdício e atraso económico, tecnológico, organizativo e cultural, causado pela utilização irresponsável da energia que não temos e importamos, para a média europeia dos 15, seria um programa suficiente para responder aos efeitos tremendos da actual crise social, que, para quem não saiba, ainda vai no adro. A banda larga e as estuporadas barragens, mais as novas auto-estradas e aeroportos, bem poderão esperar por melhores dias e sobretudo melhores argumentos! De que serve estarmos todos ligados por fibra óptica se não tivermos nada para dizer? É tolerável destruir paraísos naturais e recursos turísticos insubstituíveis sem outro propósito efectivo que não seja aumentar fraudulentamente os activos da EDP?

Há uma bomba-relógio que pode rebentar mais cedo do que anunciou Medina Carreira, por efeito da detonação da primeira crise de endividamento mundial (Ann Pettiffor). A espoleta dessa bomba-relógio chama-se juros acumulados da dívida externa e da dívida pública portuguesas. Quando aos juros compostos da dívida, somarmos tudo o resto e chegarmos aos 300% (Islândia, 2006), ou mesmo 400% (USA, 2006) do PIB, estaremos irremediavelmente fritos! Este mecanismo do juro composto é um demónio incontrolável se o deixamos à solta demasiado tempo. Vale a pena ver este excelente crash course de Chris Martenson sobre o fenómeno do crescimento exponencial, e agarrar depois os políticos pelos colarinhos para que façam alguma coisa!
The United States is Insolvent
by Dr. Chris Mortenson

December 17, 2006 (Finantial Sense University) — Despite improvement in both the fiscal year 2006 reported net operating cost and the cash-based budget deficit, the U.S. government’s total reported liabilities, net social insurance commitments, and other fiscal exposures continue to grow and now total approximately $50 trillion, representing approximately four times the Nation’s total output (GDP) in fiscal year 2006, up from about $20 trillion, or two times GDP in fiscal year 2000. As this long-term fiscal imbalance continues to grow, the retirement of the “baby boom” generation is closer to becoming a reality with the first wave of boomers eligible for early retirement under Social Security in 2008. Given these and other factors, it seems clear that the nation’s current fiscal path is unsustainable and that tough choices by the President and the Congress are necessary in order to address the nation’s large and growing long-term fiscal imbalance.

Não se pense que os nossos políticos estão avisados. Não estão, ou estão-se nas tintas, cheios de pressa em antecipar e garantir as suas reformas milionárias antes que o inverno da miséria chegue ao povo e comprometa a democracia! A actual generosidade pró-cíclica da nomenclatura partidária, e a vontade incontida do neoliberal governo Sócrates de premiar o aventureirismo, ganância e corrupção da banca portuguesa, à custa de mais responsabilidades imputáveis à dívida pública, prossegue a bom ritmo e vai porventura acelerar depois de conhecermos em toda a extensão as acrobacias programáticas de Barak de Obama. O caminho da insolvência do Estado português estará então irremediavelmente traçado e antes de o Senhor Cavaco Silva decidir se tem ou não coragem para engolir um segundo mandato presidencial, veremos o que é viver num Portugal insolvente!
Dívida pública: avisos em 2006 (onde estavam os economistas?)

"a dívida pública estabilizará dentro de dois ou três anos ligeiramente abaixo de 70% do PIB, o que representa ainda mais do dobro do nível médio dos países com rating AA", a classificação actual de Portugal. — uma previsão de 2006, da Ficht Ratings, já fora de prazo...

Standard & Poor’s coloca dívida portuguesa em vigilância negativa

13-01-2009 (Jornal de Negócios) — A agência de notação de risco colocou hoje em vigilância negativa o rating da divida República portuguesa e avisou que uma decisão de baixar o notação nos próximos dois, três meses dependerá agora da evolução da políticas orçamentais e financeiras do Governo. A mesma decisão foi tomada em relação à Espanha e à Grécia.

2009 is payback year

"...next year, 2009, there will be a massive bulge in the value of bonds issued by European companies that have to be repaid.

Or, to put it another way, about $1000bn of "old world" companies' borrowings in the form of tradable debt has to be paid back during the next 12 months - with something like $800bn of this owed by financial companies and $200bn by non-financial companies.

That would be a colossal sum to pay off at the best of times, and is equal to about five times what's been repaid in 2008." — Robert Peston, 15 Dec 08, 12:00 AM (Peston's Picks)/ BBC News.

Em face da gravidade da actual crise, resulta evidente que a burguesia portuguesa, sobretudo a grande burguesia burocrática portuguesa —que vive basicamente da proximidade do poder—, precisa mais do que nunca de sentir o norte da política!

Há treze anos que esse norte é cor-de-rosa, pois as passagens de Durão Barroso e Pedro Santana Lopes por São Bento são vistas hoje, por todos nós, e em particular por essa poderosa burguesia burocrática, como uma não ocorrência. A profunda crise e o desespero crescente do PPD-PSD —patentes no semblante patético de Filipe Menezes, na mímica zombie de Pedro Santana Lopes, no patuá imberbe de Pedro Passos Coelho e nas gargalhadas histriónicas do arguto Alberto João— são a prova de uma realidade até agora mantida em total surdina:

— a tríade de Macau (Coelho, Vitorino, Canas, Nabo, Santos Ferreira, Vara, Manuel Frasquilho, etc.) tomou de assalto o Partido Socialista, rasgou a sua cartilha social-democrata em nome de todos os panfletos sobre globalização e enriquecimento rápido que conseguiu tragar, montou uma rede de cumplicidades entre todos os sectores pesados da economia e da finança portuguesa: empresas públicas, empresas privadas de obras públicas, transportes e comunicações, e energia, e finalmente... bancos!

Se montarmos o organigrama de toda esta teia de ligações fortes entre o poder político democrático (protagonizado aqui por uma força partidária aparentemente consolidada) e a burguesia burocrática, unindo cumplicidades a deveres, deveres a patrocínios, patrocínios a cartelização, cartelização a manipulação das super-estruturas do Estado, manipulação a corrupção do regime em múltiplas e decisivas instâncias, teremos imediatamente o retrato de uma subversão em larga escala do actual regime constitucional.

A tríade de Macau não só meteu o PS no bolso —rindo-se como Judas Santos Silva se ri das suas velhas convicções de esquerda—, como ameaça neste preciso momento, e no decorrer de toda a presente crise, meter o regime político português no bolso.

A gula macaísta é tanta, e a nossa distracção tão lamentável, que ninguém reparou ainda até que ponto a Mota-Engil e a Brisa (para não falar de ANA, da Refer, da REN, na EDP, RTP, PT, etc.) ameaçam tornar-se, com bons argumentos, num Estado dentro do Estado. A primeira tomou conta da Lusoponte com dinheiro emprestado pelo semi-falido BCP (salvo com dinheiro público da Caixa Geral de Depósitos), que entretanto voltou a endividar-se, correndo os riscos por conta do contribuinte, sob a benção ignara do papagaio Sócrates. O lavar de roupa suja em volta do actual presidente da Lusoponte, Ferreira do Amaral (descendente da velha burguesia burocrática que serviu Salazar e Caetano), não poderia aliás ser mais oportuna do ponto de vista dos interesses da Mota-Engil. O objectivo da Mota-Engil parece-me claro:
  • controlo das futuras três travessias do estuário do Tejo;
  • construção-exploração do aeroporto de Alcochete;
  • gestão dos principais aeroportos nacionais;
  • construção da Terceira Travessia do estuário do Tejo;
  • controlo dos principais portos do país, começando pelo ampliado terminal de contentores de Lisboa;
  • exploração comercial dos combóios de Alta Velocidade.
Se verificarmos em que consórcios a Mota-Engil e Brisa se associam, ficaremos com o mapa completo da grande ofensiva da tríade Macau e das suas reais intenções.

Aquilo que Salazar precisou de fazer em ditadura —i.e. dar uma certa protecção às forças fáticas do regime, mantendo a independência nacional em banho-maria— talvez seja possível em democracia... desde que a democracia engula, claro está, esta transfiguração do Partido Socialista. Se o PPD-PSD continuar como está, é isto que irá suceder. Hesitar na criação dum novo partido de esquerda, conhecidos que são os dados do problema, parece-me um erro, que não irá impedir soluções mais drásticas no futuro.


Post scriptum — acabo de ouvir na SIC Notícias o diálogo entre António Bagão Félix e Luís Campos e Cunha, moderado por Ana Lourenço, sobre a actual crise e o aumento do risco de crédito que o país corre segundo um aviso publicado esta Terça-Feira pela agência de rating Srandard&Poor, divulgado pelo Finantial Times. Ambos os economistas coincidiram nas análises das causas e do estado real do país (endividamento sem apostas estratégicas de médio e longo prazo visando a sustentabilidade e produtividade do país; disfarce sistemático das contas públicas; eleitoralismo) . E não divergiram nas prescrições: apoiar o sistema financeiro, mas alterando várias das regras e prerrogativas actuais; ajudar temporariamente os que mais precisam; adiar os grandes investimentos para melhores dias; evitar o discricionarismo nas acções governamentais de apoio à crise, aplicando medidas tão universais quanto possíveis; mexidas pontuais e temporárias nas regras fiscais; descentralização das medidas de emergência em colaboração estreita com as autarquias. Nenhum deles acredita, porém, que o governo da tríade escolha o melhor caminho. Mais uma razão para se criarem novos partidos, caramba!


OAM 512 13-01-2009 20:29 (última actualização: 14-01-2009 00:10)

segunda-feira, dezembro 22, 2008

Portugal 65

Por um Partido Socialista Renovado

A blogosfera é o lugar certo e transparente das novas maçonarias!

Num rápido inquérito feito pelo António Maria, das 20 pessoas que responderam até agora ao mesmo, 65% votariam num novo partido, 20% não, 10% talvez, e 5% revelaram não saber se sim ou não votariam num novo partido. Esta rápida consulta vale o que vale, mas não deixa de ser estranho que as empresas de sondagens não tenham, que eu saiba, até agora, realizado qualquer sondagem específica destinada a apurar se há ou não lugar estatístico para um ou mais novos partidos.

Começa a ser uma evidência para a grande maioria dos portugueses que o actual sistema partidário, tal como está, não serve, foi corrompido até às entranhas e ameaça, pela sua própria inércia oportunista, desestabilizar gravemente o actual regime republicano. Todos sabemos que nada mudará pela mão das clientelas que configuram o actual sistema democrático se não lhe dermos um empurrão. E se nada mudar, na gravíssima crise económico-social que se aproxima a passos largos —Portugal, a Grécia e a Irlanda são os mais prováveis candidatos a seguir a Islândia no caminho da bancarrota—, estaremos em breve numa situação semelhante à que levou, nos idos anos 20 do século passado, ao aparecimento de imparáveis correntes nacionalistas autoritárias e ao triunfo do Salazarismo.

O pântano das dívidas especulativas e fraudulentas onde chafurdam bancos e entidades financeiras, como o BCP, o BPP, o BPN e até a Caixa Geral de Depósitos (1), entre outros, sugando para o nada das burlas piramidais, e para o buraco negro dos ditos mercados de derivados, milhares de milhões de euros da poupança nacional, levando na enxurrada fortunas pessoais, pensões, reformas e a disponibilidade de crédito à actividade económica, somado ao imparável endividamento do Estado português —mais de 200% do PIB!—, conduzirá inevitavelmente o país a uma convulsão política e social sem precedentes, se nada se fizer nos próximos três ou quatro meses.

Bastará um incidente com a população de Mirandela (2), por causa da linha férrea, ou da barragem assassina que os imbecis da EDP querem construir no Tua —apenas para engordar a coluna dos activos da empresa—, ou um pronunciamento militar mais forte, ou um bloqueio consistente de tesouraria que leve a atrasos repetidos nos pagamentos de vencimentos, pensões ou subsídios a funcionário públicos, para que o fogo se acenda e alastre pela pradaria democrática que a nomenclatura partidária do pós-25 de Abril malbaratou em trinta anos de incompetência, corrupção crescente e, finalmente, arrogância novo-riquista.

Até recentemente pensei que haveria uma hipótese em duas de o sistema partidário se auto-regenerar. Hoje, estou plenamente convencido que sem rupturas fraccionárias nos principais partidos parlamentares, sobretudo nos do arco da governação, o regime cairá a pique e abrirá as portas a formas radicais de populismo — de direita, e de esquerda. O modo como a FENPROF comunista, e o PCP, cavalgaram o descontentamento justificável dos professores, mais o que posso antever do comportamento previsível dos maoístas do Bloco de Esquerda, ou do recente triunfo da tropa populista do PPD, simbolizada pela candidatura do pirata Santana Lopes ao governo da capital, são exemplos suficientemente preocupantes do que aí vem se, entretanto, não formos capazes de ampliar e refundar o actual espectro partidário.

A ilusão de que isto pode resolver-se a golpes de blogosfera não passa disso mesmo: de uma ilusão! A blogosfera tem vindo a desempenhar um protagonismo crescente, e muito positivo, no enriquecimento da nossa democracia, mas não poderá em caso algum substituir-se às estruturas e instâncias do poder. Ora, sem que estas mudem, ou sejam alimentadas por ideias e comportamentos renovados, o país não terá solução.

O que sim a blogosfera pode e porventura deve realizar é provocar e ajudar a crescer rapidamente um novo partido simultaneamente idealista, inteligente e pragmático. Um partido que saiba socorrer-se da blogosfera e das redes sociais em geral, de forma criativa e eficaz, em prol de uma correcção urgente das nossas instituições democráticas. A blogosfera é o lugar certo e transparente das novas maçonarias! Os rituais agora televisionados das velhas e ridículas lojas maçónicas oitocentistas (caricaturas risíveis dos templos cristãos) são bem o retrato de algo que teve o seu papel histórico, mas que hoje não passa de um teatro espartilhado entre cadáveres adiados e aventais exóticos.

Têm procurado fazer chantagem emocional com Manuel Alegre a propósito dos custos simbólicos da sua previsível separação do PS. O argumento é frouxo, nas medida em que não se trata de preparar um abandono pessoal, mas sim de arrancar as partes sãs da árvore apodrecida (enquanto é tempo), para logo plantar de novo raízes, troncos, ramos e rebentos, em terra fértil, com boa exposição aos ares da democracia que respira fora do nada socialista salivado pela tríade de Macau, e abundante rega da cidadania expectante que exige alternativas de voto!

O ano de 2009 vai ser pior, muito pior, do que este que agora finda. Depois da hecatombe provocada pelo Subprime, outra, já anunciada, virá, desta vez provocada pelas bolhas imobiliárias alimentadas pelos chamados ARM loans e Alt-A Mortgages. Os gráficos desta bolha são ainda mais assustadores do que os gráficos do Subprime. Se a Banca Portuguesa, ao contrário do que mentiram reiteradamente Primeiro Ministro, Ministro das Finanças e Governador do Banco de Portugal, ficou no estado de pré-coma em que está, depois do Subprime, podemos antever sem grande margem de erro os impactos que o rebentamento da segunda grande bolha imobiliária global terá na nossa frágil e super-endividada economia.

Temos que nos preparar para o pior. E para isso, teremos que correr com actual corja que nos governa. Como não quero entregar o meu país aos espanhóis, nem aos angolanos, nem aos chineses, nem deixá-lo afogar-se pura e simplesmente no lodo da corrupção dominante, atraindo por este caminho as varejeiras do autoritarismo ditatorial, não vejo como fazê-lo sem defender uma reestruturação radical do espectro partidário que temos, e nomeadamente a formação de um novo partido socialista. Um Partido Socialista Renovado!


Post scriptum: as declarações de Pedro Silva Pereira —ministro da presidência e alter ego de José Sócrates — à SIC-N (22-12-2008), sobre o lugar de Manuel Alegre no Partido Socialista, são um sintomático sinal do que aí vem. Se alguém tinha dúvidas sobre o que esperar de quem cruamente coloniza o PS, as dúvidas esclareceram-se. Há três eleições antes das presidenciais, e até lá o caso Alegre ficará em banho-Maria. José Sócrates pressupõe assim que Manuel Alegre não fará nada até às próximas eleições europeias, autárquicas e legislativas. Terá havido um acordo neste sentido? Ou trata-se simplesmente da fanfarronice de uma clique desnorteada?
Alegre, na minha opinião, só tem um caminho e nenhum tempo a perder: afrontar sem medo a tríade de piratas que actualmente usa o PS para proveito próprio e para proveito de quem lhe assegura o futuro fora dos corredores do poder. Se por causa do questionamento directo de quem fez do Partido Socialista uma Chaimite neoliberal, houver uma cisão, paciência. É a vida! Todos beneficiaremos.

NOTAS
  1. Está por esclarecer o papel dúbio e porventura ilegítimo desempenhado pela CGD no affair BCP. Leiam-se, a propósito, estes extractos da pertinente entrevista de Fernando Ulrich (BPI) ao Público.

    Fernando Ulrich avisa que pode não haver financiamento para todas as grandes obras públicas
    22.12.2008 - 21h53 (Público)
    Por Cristina Ferreira

    Cristina Ferreira (Público) — O presidente do BPI, Fernando Ulrich, diz que nem todos os projectos anunciados pelo governo são financiáveis e que os bancos mais facilmente preferem escusar-se a financiar alguns dessas grandes obras, do que prejudicar as PME.

    Fernando Ulrich (Presidente do BPI) — O Primeiro-Ministro, José Sócrates, e o Ministro das Finanças, Teixeira dos Santos, têm razão quando acusam os bancos de não estarem a conceder crédito às empresas e ameaçam retirar o aval do Estado [de 20 mil milhões de euros] que lhes permite ir levantar fundos nos mercados internacionais?

    Neste momento o único banco a que pode tirar a garantia é à CGD, que foi o único que a utilizou. É uma questão interna entre o Governo e o seu banco.
    ...

    CF (P) —As reacções de José Sócrates e de Teixeira dos Santos podem ser explicadas pela necessidade de desviar as atenções da decisão de “salvar” o Banco Privado Português (BPP)?

    FU (BPI) — Não. Daquilo que sei o BPP não está a ser ajudado pelo Governo. Esse é um equívoco que grassa por aí pois, porventura, o Governo e o BdP não terão explicado bem o que fizeram. Porque não está a ser dada nenhuma ajuda ao BPP e na minha opinião não está excluído que desta intervenção que está a ser feita não venha a resultar a liquidação do banco.

    CF (P) Sexta-feira, no final da assembleia-geral do BPP, João Rendeiro, o ex-CEO e fundador, declarou que o banco era viável.

    FU (BPI) — Essa é a opinião dele, terá de a demonstrar. O que digo, daquilo que tenho lido e daquilo que conheço, é que não está excluído que o BPP tenha que ser liquidado e não está excluído que o BPP tenha capitais próprios negativos. Todos os comentários que têm estado a ser feitos sobre a intervenção no BPP e todas as críticas à actuação do Governo partem de uma premissa que não é verdadeira é que não há ajuda nenhuma ao banco.
    ...

    “O grande desafio do Governo é financiar o défice da BTC, um dos maiores do mundo”

    CF (P) O Governo também já acusou os bancos de usarem o dinheiro levantado com base na garantia do Estado para resolverem problemas internos. Quer comentar?

    FU (BPI) — Essa afirmação é muito infeliz. E até me custa comentá-la porque até agora, e tirando o BPP que usa uma garantia diferente, ao abrigo da garantia de 20 mil milhões só houve um banco que a utilizou e foi a CGD, que é pública. Essa afirmação nem tem correspondência à realidade actual. Mas o ponto que é importante sublinhar é que Portugal tem um défice da Balança de Transacções Correntes (BTC) muito significativo e esse défice nas nossas trocas com exterior, compramos muito mais ao exterior em bens e serviços do que vendemos, é que tem que ser financiado. E além disso ainda temos dívida que quer os bancos, quer a República Portuguesa contraíram no passado e essa dívida também tem que ser refinanciada todos os anos. E é bom que as pessoas tenham consciência que Portugal é um dos países com um dos maiores défices da BTC do mundo. Quer em percentagem do PIB, quer em valor absoluto, é uma realidade que poucos conhecem. O país com maior défice da BTC é os EUA, o segundo é a Espanha. E Portugal está nos 10 primeiros. E o desafio é este, pois financiar este défice vai ser muito mais difícil do que foi até aqui. E pode até não ser possível.

    CF (P) E se não for possível?

    FU (BPI) — Terá consequências negativas quer nos programas de investimento que queremos fazer em Portugal, quer no nível de vida dos portugueses. A questão central que todos, quer os líderes políticos, quer os empresários, quer os bancários, temos que ter consciência é que é disto que se trata: a necessidade de financiar um dos défices da BTC maiores do mundo e de refinanciar a divida que emitimos no passado. Em condições do boom financeiro dos últimos dez anos isto era facílimo, em condições de uma crise de crédito, como esta, é muito complicado. Devemo-nos concentrar nestes problemas que são muito sérios. Procuremos as soluções e depois não podemos vacilar quando estamos a executar as medidas que adoptamos. Só para lhe dar um indicador para ter consciência. Nas obrigações emitidas no mercado internacional pela República Portuguesa, que é o melhor rating que existe, para se financiar antes de começar a crise financeira, há cerca de um ano, Portugal tinha que pagar 0,2 por cento a mais do que pagava a Alemanha. Neste momento as obrigações a 10 anos emitidas pela República Portuguesa já pagam mais um por cento do que a divida alemã. Este é um sinal claríssimo do como o mercado está a fazer a selecção dos vários países. Na Grécia a situação ainda é pior pois paga mais de dois por cento a mais do que a Alemanha, quando há um ano pagava mais 0,3 por cento, enquanto a Espanha paga quase tanto como Portugal, e a Itália e a Irlanda, que há um ano pagavam o mesmo que Portugal, agora até pagam mais. Os problemas dos países do sul da Europa, Portugal, Espanha, Itália e Grécia, e agora mais a Irlanda, são muito sérios, pois todos têm em comum défices enormes. O mercado está a penalizá-los no sentido de que está a exigir um preço cada vez maior para os continuar a financiar. É um problema que está muito para além do problema dos bancos.


    “Alguns dos grandes projectos não são financiáveis”

    CF (P) — Concorda com o ex-ministro das Finanças de José Sócrates Campos e Cunha que diz que os grandes projectos do Governo vão absorver os recursos dos bancos que deveriam servir para financiar as PME e o resto da economia?

    FU (BPI) — Percebo que numa situação de crise e de recessão económica os governos queiram estimular a economia e o investimento. Mas esta atitude voluntarista pode não ser suficiente, pois alguns destes grandes projectos podem não ser financiáveis. Ninguém pode garantir que vai haver financiamento, nem mesmo o Tesouro português o pode garantir, por isso admito que alguns dos grandes projectos venham a ter que ser repensados.

    CF (P) — Está a pensar nalgum?

    FU (BPI) — Não. Estou apenas a dizer que poderá não ser possível executar todos, pois poderá não haver resposta dos mercados financeiros para financiar todos as obras que foram anunciadas. As PME são um segmento a que os bancos atribuem grande prioridade comercial. São clientes interessantes para os bancos, mesmo do ponto de vista da racionalidade económica e da própria lógica do nosso negócio. A questão colocada pelo professor Campos e Cunha tem sentido, do ponto vista económico, mas penso que os bancos não irão por aí.

    CF (P) — Os bancos estão ou não a dar crédito à economia?

    FU (BPI) — Os bancos mais facilmente preferem escusar-se a financiar alguns dos projectos, do que prejudicar as PME. Alguns dos projectos, uma vez acabado não tem mais negócio para os bancos. Repare que as PME estão cá sempre, são permanentes, tem negócio recorrente, temos o negócio do dono da PME, dos empregados. É uma actividade muito importante para os bancos.
    ...

    “CGD não pode ser o saco azul do partido que está no Governo”


    CF (P) — Como é que vê o facto de a CGD ter realizado em menos de um ano três aumentos de capital directos e um indirecto, no valor de dois mil milhões de euros, sem que o Governo tenha justificado a decisão, apenas dizendo que é para repor os rácios?

    FU (BPI) — Tenho dito, por diversas vezes, que a relação da CGD com o seu accionista deve ser um exemplo de rigor e de transparência e não tem sido. Não se percebe que a CGD no espaço de um ano faça três aumentos de capital e uma operação de venda de activo que equivale, do ponto de vista económico, a um aumento de capital. A CGD não pode ser o saco azul do partido que está no Governo ou não pode deixar que se fique com essa ideia. A CGD serve para financiar a economia? Ou é para cobrir os prejuízos que tem no financiamento de acções cujo sentido não se entende? Ou é para cobrir prejuízos de posições accionistas em empresas de sentido duvidoso? Para que as dúvidas não assolem permanentemente os contribuintes, deveria haver uma estrutura de controlo da CGD, ou no quadro do Parlamento, como agora está na moda, ou por via de uma comissão superior. A par de muita coisa bem feita, a CGD tem um conjunto de operações de que se desconhece qual o interesse público que visam satisfazer.

    Entrevista na íntegra

  2. Referendo sobre Linha do Tua vai a votos

    22-12-2008 (JN) — O referendo local sobre a manutenção ou encerramento da Linha do Tua vai a votos na Assembleia Municipal de Mirandela. No entanto, será o Tribunal Constitucional, em última instância, quem decide se o processo pode avançar.


OAM 500 22-12-2008 12:54 (última actualização: 13-12-2008, 17:21)

segunda-feira, dezembro 15, 2008

Portugal 62

Finalmente!

21:18 | Domingo, 14 de Dez de 2008 (Expresso). O deputado socialista e ex-candidato presidencial Manuel Alegre advertiu hoje que a "reconfiguração da esquerda não se fará sem os eleitores, simpatizantes e militantes do Partido Socialista".
...

Em declarações aos jornalistas após o fórum, Alegre advertiu que o movimento saído destes encontros não se cria "por decreto" e não excluiu o cenário de criação de um partido político - "nada está proibido por lei". E admitiu que "com este PS", liderado por José Sócrates, "dificilmente" será candidato nas próximas eleições legislativas.

Esqueçam o Plano Barroso-Sócrates para atacar a crise. Para já, não passa de um recuo tardio e de uma mistificação. O que vai dominar a agenda política das próximas semanas é a iminente cisão do Partido Socialista! Das duas, uma: ou Sócrates cede voluntariamente o seu lugar a um novo líder que faça regressar o PS a uma matriz claramente social-democrata, ou haverá uma nova força partidária próxima do ideário original do PS com grandes possibilidades de gerar uma força política progressista, com os pés bem assentes na terra, e sobretudo credível para governar. Uma credibilidade que nenhum dos partidos à esquerda do PS tem. Será, se as coisas correrem como espero, uma grande oportunidade de recomposição do mosaico político-partidário do país. O tempo escasseia, mas existem ainda todas as condições para que seja um êxito.

E já agora, para calar a língua viperina de Marcelo Rebelo de Sousa, sempre digo ao professor, que o PSD actual não vai a parte nenhuma, tal como está. A desajeitada Manuela Ferreira Leite, ao juntar no seu séquito um ex-director da Goldman Sachs (António Borges), um lóbista de meter medo (José Luís Arnaut) e um noctívago da política sem emenda (Santana Lopes), deixou o PSD regressar ao que tem sido nos últimos anos: um saco de gatos vadios. Corruptos, populistas e liberais, eis o cocktail por que Pacheco Pereira certamente não esperava. Pois é o que tem! E agora? Que fazer? Se o Centro-Direita ainda quiser escapar ao domínio duradouro de uma seita intragável, não tem outro caminho que não seja provocar uma clarificação dramática no interior do PPD-PSD. Se o intelectual orgânico do PSD ainda quiser dar algum sentido às suas andanças, já longas, pela Política, então leve o PSD a libertar-se, de uma vez por todas, do PPD. A Manuela já se deixou enredar pela máquina atroz do aparelho partidário. O novato candidato a Sócrates do PPD-PSD (Pedro Passos Coelho), na oposição à próxima coligação de esquerda, até poderá fazer um excelente tirocínio para quando e se o tempo das vacas gordas regressar.


OAM 494 15-12-2008 00:48

quarta-feira, dezembro 10, 2008

Portugal 59

Encolha-se o parlamento!

Os trinta e tal deputados que por sua alta recreação resolveram antecipar o fim-de-semana, já de si prolongado, demonstrando o mais completo desprezo por quem lhes paga os vencimentos, não são a excepção, mas a regra de uma casta de cidadãos que raramente cria riqueza, mas que adora apropriar-se dela.

Está na altura de encolher a Assembleia da República:
  1. menos deputados
  2. diferenciação automática dos níveis de vencimento entre deputados em regime de dedicação exclusiva e deputados em regime de acumulação com outras actividades profissionais e políticas remuneradas
  3. introdução de um sistema de avaliação da produtividade individual dos deputados
  4. gestão rigorosa dos conflitos de interesses
  5. transparência electrónica instantânea de todos os actos legislativos
  6. redução da produção legislativa e maior eficiência na regulamentação das leis
  7. descentralização da produção legislativa através de uma maior autonomia regional e municipal (que deverá chegar até ao nível da Freguesia)
E para já, devemos exigir justificações formais para as faltas dos deputados durante uma votação crucial para o País.


OAM 490 10-12-2008 11:50

sábado, novembro 08, 2008

Portugal 51

Também eu quero um Obama!

Ainda sem sabermos até que ponto Barack Obama corresponderá às expectativas nascidas em tantos lugares do mundo, interessa, para já, gozar este intervalo de esperança. Creio que o sentimento se encontra amplamente difundido entre as pessoas de bem e será seguramente estimulante para muitos de nós.

Neste enlevo, e respondendo às preocupações de uma cara amiga e excelente colaboradora desta bitagora (bit agora!), ocorreu-me escrever o que segue:

Temos que regressar à realidade!
Defender quem trabalha, quem produz, quem poupa e quem cria....

Temos que ultrapassar o impasse político do regime.
A cada vez mais caricata, corrupta e exangue democracia portuguesa é um caso sério de deterioração cultural do regime instaurado em 25 de Abril de 1974. Digo "caso sério", por ser aparentemente insusceptível de auto-reforma.

Precisamos, creio, de um novo partido político, pois não vejo nenhum Obama no PS.

Não acredito nem no PCP, nem no BE para uma saída da actual crise. São ambos partidos do sistema, mas meramente retóricos, vocacionados para um tipo de Oposição sem nenhuma vocação de projecção positiva de ideias, nem capacidade de governo.

Por outro lado, a Direita continua num limbo troglodita, sem nenhuma possibilidade de responder à crise institucional que vai ganhando paulatinamente o seu momento de ruptura. A própria MF Leite tem-se vindo a revelar uma decepção. Por um lado, porque é politicamente torpe, e por outro, porque está rodeada de gente contaminada. António Borges (ex-Goldman Sachs) e a sinistra personagem que dá pelo nome de José Luís Arnaut são suficientes para liquidar, em duas penadas, a alternativa PSD à captura do PS pela tríade de Macau.

E quanto a Cavaco.... uma incógnita que não me inspira, apesar das invectivas que lhe venho dirigindo para existir, nenhuma confiança. Estamos, pois, num aparente beco sem saída!

Vou continuar a acompanhar de perto as tendências subterrâneas da actual situação.... com a ajuda de alguns amigos atentos que me têm ajudado a ler mais rapidamente a presente situação nacional e internacional. Estamos, creio, numa corrida feia em direcção a algumas ravinas perigosas... e francamente não sei se teremos tempo de mitigar a tempo os problemas e atacar criativamente a actual crise.

Um Obama entre nós? Onde?


OAM 473 08-11-2008 11:49

terça-feira, maio 13, 2008

PPD-PSD-6

Pedro Passos Coelho, PSD
Pedro Passos Coelho, a juventude como oportunidade. Web do candidato.

Aposta com futuro

Passos Coelho apresenta-se como a melhor alternativa social-democrata a Sócrates

02.05.2008 - 20h14 Público. Pedro Passos Coelho afirmou hoje que é o candidato à liderança do PSD com melhores condições para destronar José Sócrates e defendeu que só é possível construir uma alternativa de Governo com "caras novas".

"Se em duas semanas de campanha alguém que não foi primeiro-ministro, ministro, nem secretário de Estado, consegue obter 15,5 por cento das preferências dos portugueses - não do PSD porque no PSD sou muito conhecido - e a possibilidade de impedir uma maioria absoluta, imagine o que não pode ser a progressão num ano de campanha eleitoral centrada nos portugueses e a apostar numa nova geração que traga uma política diferentes", disse.

Passos Coelho desafia adversários a revelar programas para se saber quem está próximo do PS

12.05.2008 - 20h45 Lusa/Público. Pedro Passos Coelho desafiou hoje os seus adversários à liderança do PSD a revelarem o que pensam e apresentarem os seus programas para que os militantes saibam quem está mais próximo do PS.

"Quero fazer um apelo aos outros candidatos: Seja nos debates que vão ocorrer na televisão, seja no debate que já vai ocorrendo dentro do PSD, não esperem pelas eleições para dizer o que pensam, comecem a dizer hoje para que os militantes saibam o que vão escolher", declarou Passos Coelho, na sua sede de candidatura, em Lisboa.

12.05.2008 - Lusa/SOL. Hoje de manhã, numa entrevista ao Rádio Clube, Pedro Santana Lopes defendeu que Manuela Ferreira Leite deveria abandonar a corrida por «dar a entender que não votou no PSD» numa entrevista ao Jornal de Notícias, no domingo.

A subida meteórica das expectativas no jovem candidato à liderança do PSD é um sinal dos tempos. Os portugueses, votantes ou não no partido laranja, e por maioria de razão os eleitores do PPD-PSD, não crêem mais nas virtualidades dos senadores do regime. Toleram Cavaco Silva, espécie de águia atenta e exigente sobrevoando a praia lusitana; escutam o velho Mário Soares, pela sua eterna e comovente bonomia; talvez votem uma vez mais em Manuel Alegre, sobretudo se a situação económica continuar a degradar-se e o PPD-PSD persistir em querer suicidar-se. Mas ficam por aqui. O resto do Bloco Central, espécie oportunista em vias de extinção, não tem já nada para dar. Durão Barroso percebeu o significado da coisa, e José Sócrates, devidamente lubrificado pela tríade de Macau, também! Os populismos de sinal contrário ensaiam, entretanto, as suas gargantas esganiçadas. Dispõem de probabilidades crescentes de êxito, porque, num certo sentido, os tempos mais próximos pertencem-lhes. Mas ainda assim, há quem e bem prefira acreditar que o país está preparado para uma maior sofisticação democrática. E que numa tal suposição, o sistema partidário pode e deve sofrer duas rupturas profundas (uma no PPD-PSD e outra no PS) seguidas de uma reestruturação do apodrecido xadrez político-partidário. Este xadrez precocemente envelhecido pesa sobre o futuro colectivo da espécie lusitana como um lastro de retórica vazia, quando do mesmo deveríamos poder esperar que fosse um tabuleiro criativo de canais de informação e de vontades simultaneamente competitivas e cooperantes.

Não encontro outra explicação para o inegável e persistente apelo que a juventude dos candidatos exerce sobre as sondagens, e de facto sobre todos nós. José Manuel Durão Barroso foi primeiro-ministro aos 46 anos, Sócrates aos 48 e Pedro Passos Coelho, se lá chegar, aos 46! Na realidade, a imagem do maratonista primeiro-ministro, a memória do "tuga" ambicioso e determinado que se abalança sem medo para a presidência da União Europeia, e agora a evidência de que o PSD precisa de alguém como Pedro Passos Coelho, e não de uma figura de cera gasta, nem dum comediante de reality shows fora de moda, estabelecem uma tendência geral no perfil da nossa ansiedade política colectiva, que possivelmente nada fará mudar nos tempos mais próximos. É um bom sinal!

As sociedades são cada vez mais complexas, difíceis de gerir, ávidas de transparência administrativa e informacional, interactivas, informais, ambiciosas e dispostas a enfrentar os dificílimos desafios deste século. A gestão das mesmas impõe tarefas muito duras, que exigem sprinters e maratonistas hábeis e resistentes, ambiciosos, profissionais e sobretudo dispostos a passar o testemunho ao atleta seguinte, com justiça e espírito desportivo.

Outro aspecto desta tendência democrática é o da legitimação pelo voto secreto, directo e universal. O êxito sem precedentes das "directas", primeiro no PS, e agora no PPD-PSD, vem provar que o regime precisa mesmo de uma reviravolta radical nos seus protocolos de legitimação. É verdade para os grandes partidos, mas também o é, cada vez mais, para o PCP, o Bloco de Esquerda (que, soube-se agora, nem sequer uma organização juvenil formalizada dispõe), os sindicatos (onde tem que acabar a indecorosa instrumentalização partidária de que são vítimas há décadas) e as ONGs, cuja obscuridade orgânica e processual tem dado lugar aos mais indesejáveis parasitismos. No plano mais geral da administração pública, há que caminhar urgentemente para a generalização responsável do instituto do referendo.

Marco António, um dos cérebros mais jovens e silenciosos da esperada metamorfose do PSD, afirmou há dias que, com as novas regras sobre limitação de mandatos, e o novo regime de quotas de género na constituição das listas de candidatos aos órgãos legislativos nacionais e locais, o país iria passar por uma mudança política sem precedentes. Tem absoluta razão. E o mais estimulante é que falou não apenas como observador, mas sobretudo como actor dessa importante evolução na nossa ainda muito incipiente democracia.

Sem de modo algum subscrever a detestável provocação de Santana Lopes, diria que Manuela Ferreira Leite não tem efectivamente nenhum papel histórico positivo a desempenhar na actual crise do PPD-PSD. Se quer realmente salvar o PSD, só tem uma coisa a fazer: desistir da sua candidatura a favor de Pedro Passos Coelho, assegurando deste modo uma vitória folgada ao jovem tribuno, em vez de contribuir inadvertidamente para uma fragmentação descontrolada do partido laranja, onde nunca votei, mas cujo desempenho na democracia portuguesa evidentemente estimo.

OAM 358 13-05-2008, 00:47

segunda-feira, fevereiro 11, 2008

Portugal 19

Manuel Alegre (Foto: Rui Gaudêncio/Público)
Manuel Alegre (Foto: Rui Gaudêncio/Público)

Afinal a Esquerda ainda existe!
"Não me desafiem para coisas que é perigoso desafiar-me. Não me desafiem para eleições de secretariado, ou para congressos. Eu já fui a um congresso do Partido Socialista e sei como é", afirmou Manuel Alegre, num recado à liderança da sua formação política. "Se me desafiam para combates dessa natureza, eu respondo: vou às urnas, mas no país. Irei às urnas no país", avisou. -- Público, 09-02--2008.

Gordon Brown acaba de incluir estatisticamente no sector público britânico o banco Northern Rock, cuja dívida ascende a 6,7% do PIB inglês! O G7 -- Alemanha, Estados Unidos, França, Itália, Japão, Reino Unido e Canadá --, anunciou que vai promover a venda de ouro em Abril, como forma de contrariar a imparável valorização dos metais preciosos, esperando com tal medida estimular a economia pela via do investimento e da circulação de capitais. O que na realidade irá acontecer será um ainda maior incremento das reservas de ouro acumuladas por países como a China, o Japão, a Rússia e a Índia! Por sua vez, Jean-Claude Trichet parece decidido a baixar as taxas de juro na Europa, correspondendo assim às pressões contínuas dos sectores bancário e financeiro, que por esta via de emergência esperam ganhar tempo para tapar a brutal erupção de dívidas incobráveis produzidas pela economia virtual de que foram promotores. Também aqui, o efeito da medida será contraproducente, recaindo negativamente sobre os povos europeus, na forma de uma inflação acrescida e de uma já inevitável recessão. Ao contrário do que alguns acreditam, a mais do que provável baixa da taxa de referência do Banco Central Europeu não se traduzirá num aumento do crédito disponível, excepto para aqueles que são os principais responsáveis pela brutal crise económica em que estamos metidos! Ou seja, baixar o preço do dinheiro servirá apenas para aumentar o endividamento geral do Ocidente e o próprio agravamento da actual crise de liquidez. O ouro vai-se e com ele vão também as poupanças em busca de mercados mais rentáveis. A China e os países emergentes agradecem!

Enquanto isto acontece no mundo, os portugueses sofrem já os efeitos dolorosos da globalização especulativa que marcou a desconstrução do capitalismo mundial ao longo da última década e meia. O grau de endividamento da sua economia é desastroso. O regresso da emigração é uma vergonha e o sinal mais evidente do fracasso de quem tem governado. A corrupção mete medo! Em suma, a iminente implosão do actual sistema partidário revela até que ponto sair desta crise implica uma nova visão do futuro e uma reestruturação radical do actual regime político.

A contradição gritante entre o governo que temos e os fundamentos originais do partido de onde saiu e que o suporta será porventura causadora da primeira grande ruptura partidária que fará mudar o actual sistema partidário, desde logo aumentando o número de formações partidárias com efectivas possibilidade de representação parlamentar, de modo a reflectir a diversidade ideológica actual, que em muito pouco coincide já com os velhos modelos maniqueístas do século 20.

O PS foi capturado por uma tríade de piratas entusiasmados com o catecismo da globalização e convencidos de que o socialismo e a esquerda em geral haviam sido derrotados no dia em que caira o Muro de Berlim. Enganaram-se. Se olharem bem para o mundo, verão uma América a definhar, uma Europa em dificuldades e, em sentido contrário, uma Rússia a recuperar, o capitalismo de Estado em plena efervescência no Médio Oriente e em países como Angola, Bolívia e Venezuela, e ainda a China a caminho da supremacia! Tudo, por conseguinte, ao contrário da agenda neoliberal adorada pelos bonecreiros que movem o insustentável Sócrates.

Não há nenhuma mão invisível do mercado, como ficou uma vez mais demonstrado pela actual crise financeira mundial. O que há e sempre houve no capitalismo moderno é o proteccionismo de um sistema financeiro imperial, custe o que custar. A crise provocada pelo fim da bolha imobiliária irá custar milhões de milhões de euros, durante muitas dezenas de anos, a todos nós. Mas pior do que o preço económico, será o preço humano que a humanidade poderá ter que pagar se, entretanto, a conspiração em curso para o desencadeamento de uma III Guerra Mundial triunfar. Espero que Barak Obama vença as eleições americanas. Se tal ocorrer, poderemos talvez parar os cavaleiros negros do Apocalipse.

Em Portugal, se conseguirmos travar os piratas que puseram o Senhor Sócrates no poder, refundando de caminho a democracia portuguesa -- e há gente, nomeadamente no Partido Socialista, capaz de tamanho desafio--, então nem tudo estará perdido. A coragem demonstrada pelo poeta-político Manuel Alegre enche-nos de esperança.

OAM 309 11-02-2008, 03:52

terça-feira, fevereiro 05, 2008

Portugal 18

Medina Carreira, Miguel Sousa Tavares, Garcia Leandro, António Marinho Pinto, Maria José Morgado, José Silva Lopes
Medina Carreira, Miguel Sousa Tavares, Garcia Leandro, António Marinho Pinto, Maria José
Morgado, José Silva Lopes. Uma multitude crescente de vozes contra a gangrena do regime.


Que venha a Quarta República!
O
regime encontra-se à beira de um colapso de credibilidade. É preciso salvá-lo e já!

A consenso sobre o iminente colapso de credibilidade que ameaça o actual regime político cresce dia a dia. As declarações do general Garcia Leandro, director do Observatório de Segurança, Criminalidade Organizada e Terrorismo, referindo a proximidade dramática de uma explosão social em Portugal (à semelhança das que têm vindo a ocorrer em França, Dinamarca, Alemanha, Itália...) se não forem introduzidas medidas urgentes de moralização do regime, depois das vozes quase em uníssono do Presidente Cavaco Silva, do Bastonário da Ordem dos Advogados (António Marinho Pinto) e da Procuradora Maria José Morgado, levantam uma questão muito séria a todos nós: como reverter a gangrena que alastra no corpo da nossa democracia, ameaçando-a de morte certa, se persistirem a passividade e o calculismo oportunista? O general e antigo governador de Macau adiantou que não devemos esperar que cardeais ou militares venham acudir à crise. Tem razão, pelo menos enquanto a União Europeia se aguentar.

Tenho vindo a escrever sobre este mesmo esgotamento há pelo menos dois anos. Os partidos com assento parlamentar, à excepção do PCP (onde ainda se descortina um nexo sociológico), não representam ninguém, a não ser as suas próprias cliques, burocracias e clientelas imediatas; não representam nada, a não ser as pressões dos parasitas económico-financeiros que vivem do erário público e dos fundos comunitários. Perderam, em suma, qualquer respeito eleitoral e democrático. A abstenção da geração de 60 e 70 aumenta em cada eleição que passa, e os jovens não ligam peva aos políticos que temos. A credibilidade dos partidos do arco parlamentar é, por conseguinte, nula. E fora deste arco apenas existe um folclore vago, risível e destinado à extinção.

Como se esta evidência não fosse já demasiado grave, multiplicam-se os episódios de falta de ética, de descaramento e de corrupção, fazendo sobretudo tabela nos aparelhos e personalidades do PS, do PSD e do PP. O actual primeiro ministro é protagonizado por uma personalidade lamentável. Por sua vez, o seu opositor directo não passa dum zombie vagueando entre os fantasmas do seu escavacado partido. Dada a gravidade da situação económico-financeira e social, uma tão flagrante falta de liderança conduzir-nos-à ao desastre. A menos que sejamos capazes de injectar novo ânimo na democracia portuguesa.

Tenho defendido que existem basicamente duas saídas para o bloqueio sistémico com que o actual regime democrático está confrontado: ou através do aparecimento de novas formações partidárias, oriundas de cisões e reagrupamentos envolvendo os actuais partidos com assento parlamentar, ou através duma viragem presidencialista do actual regime.

Se a primeira hipótese não ocorrer em breve, a segunda será reclamada a gritos pela maioria dos portugueses às portas de Belém, ainda antes das próximas eleições legislativas! O precedente constitucional para uma demissão do actual governo por parte do Presidente da República já existe, pelo que dependerá apenas deste último, assim que o clamor popular o exija, a decisão sobre o momento de demitir Sócrates e convidar o PS a propor novo candidato a primeiro-ministro. Se tal vier a acontecer, o Partido Socialista terá então que propor uma personalidade consentânea com os parâmetros impostos por Cavaco Silva. Passaremos então a ter um regime presidencialista europeu de tipo francês, na sua variante lusitana, sem sequer precisar de proceder a qualquer revisão constitucional.

O problema da primeira hipótese, por sua vez, reside no seu modus operandi. Como e quando poderia ocorrer uma reestruturação tão radical como a proposta e necessária no actual panorama partidário? Esperar pela formação de tendências e por congressos? Não há tempo para tal! Confiar, no caso do PS, em Manuel Alegre? Pura ilusão! Aguardar, no caso do PSD, por Durão Barroso? Tarde demais! Então como? Pois só há uma saída atempada, simples e digna: que uma ou mais figuras de referência de qualquer dos partidos com assento parlamentar, a começar pelo PS ou pelo PSD, entreguem os respectivos cartões de militantes e anunciem, em nome das ideias e da ética, a formação de novos partidos, pedindo a quem com eles se identificar, que subscreva a necessária modificação do actual espectro partidário. Parece simples e é simples. Basta decisão e coragem. O povo está à espera!

Chegou a hora da clarificação democrática do regime, por exigência ética, política e patriótica. Que venha a Quarta República!

OAM 307 05-02-2008, 03:20

sábado, novembro 10, 2007

Portugal 16

Santana Lopes
Pedro Santana Lopes, exemplar de um populista Lusitano


Que se lixe o PSD!


"O que Menezes disse na conferência de imprensa de ontem é muito mais importante e explica (...) os múltiplos silêncios do PSD dos dias de hoje. Ele anunciou a vontade de "entendimentos alargados" com o PS, numa série de sectores fundamentais da vida pública, indo mais longe do que Marques Mendes alguma vez foi com o seu modesto Pacto de Justiça.

"(...) pode ser um exercício comunicacional proposto pela sua agência para "lavar" a imagem populista e dar ar de responsável? Pode, tudo é possível. Mas há razões para se tomar a sério a sua proposta porque ela acrescenta um "entendimento alargado" sobre as Obras Públicas e isto percebe-se que é a valer. Ora esta é a única proposta que o PSD não pode de todo fazer num país como Portugal, onde esse é o terreno do verdadeiro "bloco central de interesses" que mina o estado, corrompe os partidos e a política, e que exige o maior escrutínio de uma oposição que se toma a sério. Esta é a mais preocupante proposta do PSD, numa área em que nada justifica "consensos", por muito que estes sejam pedidos pelos empreiteiros por razões que se percebem muito bem. As grandes obras públicas são política pura, nenhum partido que tenha um projecto para Portugal alternativo ao dos socialistas pode achar que esta é uma zona de "consenso", nem deixar de perceber a perigosidade da proposta." - 06-07-2007, José Pacheco Pereira, Abrupto.
No dia em que Pedro Santana Lopes votar contra Menezes, rebenta com o PSD, em nome do PPD e do que Paulo Portas sonhou mas foi incapaz de realizar: um partido português castiço, desconfiado de Castela, rejeitando o velho sonho alemão e defensor de uma renovação radical da aliança atlântica. Esta viragem passaria obviamente pelo renascimento da aliança com o Reino Unido, pelo reforço claro da aliança com os Estados Unidos... e por Sarkozi, o homem que neste momento ambiciona fazer da França um actor indispensável aos movimentos tectónicos em curso na geo-estratégia mundial, claramente distanciado da eterna mania alemã em volta do "espaço vital" (Lebensraum). No cantinho lusitano da política, o recauchutado PPD pode muito bem vir a tornar-se num partido essencialmente patriótico e de emergência institucional, obtendo vantagens da mais do que provável crise económica e política que atingirá Portugal antes de 2009. Num jogo destes, Menezes não passaria de mais um líder para queimar, podendo Durão Barroso surgir, a seu tempo, como a inesperada, necessária e fortíssima caução do projecto por ele interrompido (em nome de valores obviamente mais elevados), mas não abandonado. O actor principal deste plano seria naturalmente Santana Lopes. Na noite das próximas eleições nas Regiões Autónomas, em 2008, veremos se este cenário tem ou não pernas para andar.

Panorama diferente deste, mas com resultado semelhante, isto é, a cisão ao meio do PPD/PSD, seria Luís Filipe Menezes conseguir impor um pacto de sangue a Santana Lopes, à semelhança do que Tony Blair celebrou com Gordon Brown, dividindo entre si os acertos e as contradições de um projecto para suceder ao governo de José Sócrates. A implosão acometerá, mais cedo ou mais tarde, a maioria absoluta actual, tal como acometeu as três últimas maiorias governamentais. E nada nem ninguém afastará aquelas duas lapas políticas da possibilidade de governarem. Os sociais-democratas do PSD, intelectuais ou tecnocratas, já nada têm a dar ou fazer no partido dominado pela dupla Menezes-Santana. Melhor seria, para todos eles, e para o país, que se pusessem a conspirar para a criação de um novo partido, inovador e que refundasse o centro-direita eleitoral. Precisamos todos de inovação, e há tanto para inovar!
Além do mais, a cisão do PPD/PSD provocaria efeitos de arrasto inevitáveis no PS, no Bloco de Esquerda e até no PCP, podendo dar-se, na sequência de tal turbulência, uma saudável reestruturação do actual espectro partidário, e sobretudo, a definição em novos moldes da função dos partidos numa democracia tecnológica fazendo parte activa duma vasta união económico-político regional.

Pacheco Pereira anda muito preocupado com o Bloco Central dos Interesses...

Mas há ou houve alguma vez outro diferente?! Não se encontra o dito em pleno funcionamento em tudo o que são gabinetes de advogados com o Estado no rol dos seus clientes permanentes? Ou em qualquer empresa pública? Não o vemos escancarado nas grandes empresas privadas (Brisa, GALP, Lusoponte, etc.) envolvidas em parcerias estratégicas com o Estado? Não partilha mesmo, no seu âmago oportunista, todo o espaço político-mediático disponível, em jornais, rádios e televisões? Não vegeta, até, nas empresas de sondagens? De que se admira o social-democrata Pacheco Pereira? Porquê tanta aflição com o discurso pantanoso de Menezes sobre a conveniência de alguns consensos, nomeadamente no sumarento sector da obras públicas?

Não terá já chegado a altura de Pacheco Pereira fazer alguma coisa coerente com as ideias que tem, começando, por exemplo, por abandonar o conforto das inerências caducadas? Pois fique sabendo, caro opinador, que a ideia de um pacto para as obras públicas não me assusta nada e até seria bom que houvesse em certos domínios muito precisos. -- Por exemplo, na definição de uma política de transportes e mobilidade, estrategicamente necessária e coerente, tecnicamente bem fundamentada (ressuscitando, por exemplo, um Conselho de Obras Públicas com efectivos poderes técnicos de supervisão), economicamente viável, eficiente no plano energético, sustentável, distinguindo bem o que nela tem que ser forçosamente público e o que pode e deve ser libertado para a dinâmica da economia de mercado. -- Por exemplo, na definição de uma política energética assente na ideia de que caminhamos inexoravelmente para uma situação de emergência à escala global, que atingirá o seu pico dramático em 2030, mas que dará até lá enormes dores de cabeça ao mundo e à Europa, podendo mesmo ser a espoleta de uma III Guerra Mundial. Diante de tais perspectivas, que as novas reservas brasileiras de petróleo fino e gás natural ontem anunciadas não chegam sequer para mitigar, não acha que precisamos mesmo de alguns consensos partidários alargados (do Bloco de Esquerda ao CDS-PP), discutidos abertamente nas várias instâncias da democracia portuguesa?

Assim como o PCP e o Bloco de Esquerda, se quiserem servir para algo na democracia portuguesa, terão que abandonar a mera retórica sindicalista, a predominância machista e o caricato envelhecimento dos protagonistas (por indecorosa falta de limitação dos mandatos executivos), elevando-se a um plano superior de praxis política, centrado na análise honesta dos problemas e numa verdadeira dialéctica criativa de soluções, também os intelectuais orgânicos, como creio que Você, Pacheco Pereira, sempre foi, embora há muito não saiba de que árvore, terão que deixar de confundir o jogo nobre da política com tertúlias florais mais ou menos endogâmicas, e passar a pensar nos problemas a partir dos próprios problemas, e as soluções a partir das próprias soluções. O diletantismo é, como já todos deveríamos saber, o pior veneno do pensamento, e os maus pensamentos só podem conduzir a más ideologias e inércias comportamentais indesejáveis.

OAM 274, 10-11-2007, 04:45

quarta-feira, novembro 07, 2007

OG2008-2

Nevoeiro orçamental
... 95 por cento das despesas do Estado são salários, pensões e juros."

"O primeiro-ministro veio dizer garbosamente que a dívida pública diminuía pela primeira vez nos últimos anos. E sabe porquê? Porque há um verba muito elevada, cerca de um por cento do PIB, à volta de mil e seiscentos milhões de euros, relativos a compromissos de 2007, cuja dívida pública vai ser emitida em Janeiro de 2008." -- 2007-11-04, Bagão Félix, ex-ministro das Finanças, in Correio da Manhã.

"The world is in chaos as everyone tries to deal with the obvious: the banking system of the free-spending, debt-accumulating G7 nations is now collapsing and this is due to the direction money is now flowing: to China and the oil nations. The lies about inflation are now biting very hard." -- November 5, 2007, "More Wizards Of Finance Fall Off Cliff", Elaine Meinel Supkis, in Culture of Life News.

José Eduardo dos Santos corta com BPI e ameaça fusão com BCP

"As relações entre o Governo angolano e os bancos portugueses estão cada vez mais azedas. O episódio mais recente da tensão, que parece crescer de dia para dia, passou-se, há menos de uma semana, com o maior banco privado do país, o Banco de Fomento de Angola (BFA), controlado pelo BPI. Esta instituição, que contribui com 30% para o lucro do BPI, desistiu, à última da hora, segundo disse ao Diário Económico uma fonte do Executivo de Fernando Piedade Dias dos Santos, de ser 'co-leader' de uma emissão de dívida para o Estado angolano, o que causou um enorme mal estar e motivou "uma recomendação serena" para que as empresas de capitais públicos cortassem as suas relações bancárias com o BFA." -- 2007-11-07 00:05, in Diário Económico.


Visitei no Sábado passado o Mosteiro São João de Tarouca, no decurso de uma das minhas idas e vindas ao Douro, onde procuro reavivar as quintas deixadas pelo avô paterno, que os caseiros foram paulatinamente trocando por vidas melhores e os donos quase esqueceram entre os seus muitos afazeres urbanos e distracções cosmopolitas. Passei por Fátima para uma visita rápida à nova igreja da Santíssima Trindade. A arquitectura, a escultura e as imagens colheram-me de surpresa, pela qualidade e consistência do realizado e pelas discussões teológicas e estéticas que reavivam em quem, como eu, não crendo em Deus desde a minha adolescência filosófica, não deixa por isso de ser uma criatura de fé.

Por muito que custe a alguns, o novo conjunto monumental da Cova da Iria ultrapassa em significado e forma tudo o que de simbólico foi sendo erigido pelos poderes públicos nos trinta e três anos que se seguiram à queda da ditadura. Assim sendo, temos uma dificuldade séria na esfera da legitimação estética do actual regime democrático! Uma dificuldade, por outro lado, tristemente escancarada na ruína física, política e ética em que vi transformado um dos mais importantes e monumentais testemunhos da nossa identidade nacional: o Mosteiro S. João de Tarouca.

Sob a responsabilidade patrimonial e cultural do Ministério da Cultura, aquele lugar, outrora de saber, estratégia e tecnologia, visitado ainda assim por milhares de pessoas anualmente, encontra-se literalmente ao abandono. Não fora a igreja continuar aberta ao culto, e a paixão dum voluntário que ama o lugar e nada cobra pelo seu serviço, sobre cujos ombros repousa exclusivamente a possibilidade de visitar o local e a respectiva segurança, e não teria tido a oportunidade de me indignar com mais este exemplo de boçalidade estatal, sempre invisível na paisagem árida das estatísticas e dos imbecis jogos florais com que há décadas se entretêm os nossos bem pagos, ociosos e quase sempre inúteis parlamentares.

António Guterres e Manuel Maria Carrilho, talvez por serem beirões (o Sócrates também é, mas é ignorante), ainda tentaram fazer alguma coisa pelo mosteiro, só que depois deles, e sobretudo depois da rapaziada de Macau ter tomado conta do PS e do poder, lá colocando recentemente um falso engenheiro extraído ao PSD, a cratera cultural que hoje exibe a ruína do mosteiro de S. João de Tarouca é uma das mais gritantes metáforas da imprestabilidade de quem nos governa. No interior da igreja, podemos admirar, entre outras obras de arte, o altar de São Pedro, cuja pintura a óleo, atribuída a Gaspar Vaz, um dia viajou até à Europália (Bruxelas), tendo regressado ao seu lugar sob forte escolta policial. Só não foi roubada entretanto porque nenhum gang especializado se deu conta da situação indefesa deste e doutros insubstituíveis tesouros que decoram os vários altares barrocos da igreja.

Estas realidades contrastam tanto com o reality show da discussão parlamentar em volta do documento ficcional a que chamam pomposamente Orçamento de Estado que é difícil estabelecermos uma ponte de causa-efeito entre o extremo cada vez mais descaradamente irresponsável da decisão política e as respectivas vítimas.

Portugal tem uma dívida pública (isto é, uma Dívida Bruta Consolidada das Administrações Públicas) que come mais de 64% do que o país produz anualmente, e tem uma dívida externa acumulada que corresponde a quase 130% do que produz anualmente (a 22ª mais elevada entre 200 países avaliados). Ao mesmo tempo, o Estado gasta 95% dos recursos que lhe são postos anualmente à disposição, em vencimentos a funcionários, prestações de serviços, pensões e juros à banca.

A combinação é explosiva e insustentável, sobretudo se conjugarmos estas debilidades extremas com o facto de o país estar praticamente sem ouro, sem fundos de divisas e títulos seguros que se vejam (FOREX e SWF), sem estratégia nem estrutura industrial adequadas ao nosso efectivo potencial produtivo, sem rede nem política de transportes (apenas temos um ministro, que deveria estar preso, para não fazer mais asneiras!), e sem outros recursos naturais disponíveis para além da água dos rios e lençóis freáticos, do Sol e do mar. Os recursos humanos, por outro lado, são cada vez mais escassos e continuam mal preparados por comparação com os demais países que integram a União Europeia. Por fim, temos uma grave crise demográfica pela frente e o regresso da emigração em massa (ainda que camuflada nas estatísticas.) O envelhecimento das populações e a desertificação dos povoados, aldeias, vilas e pequenas cidades, a par da imparável e perigosa sub-urbanização das principais cidades do país, confluem para uma crise sistémica de proporções incontroláveis. É uma questão de tempo. Mas não de muito tempo.

Numa tão dramática situação (não estou a exagerar, creiam-me), o mínimo que se exige dos eleitos sentados no parlamento é que estudem seriamente os problemas e discutam publicamente, de forma clara e transparente, as efectivas soluções alternativas de que ainda dispomos. Se os deputados são burros e previsíveis ao ponto de se comportarem como ratos num labirinto de migalhas, e se os respectivos líderes ainda acham que podem continuar a brincar com quem os elegeu, então temos o caldo entornado! A crise instalada levará as indústrias, os bancos, o emprego e o consumo, a zeros, para gáudio temporário de alguns espanhóis e de todos aqueles que apostam na fragmentação política e social da Europa. Bateremos inexoravelmente no fundo. E quando tal vier a acontecer, não nos restará outra alternativa que não a reforma radical do actual regime político.

Precisamos urgentemente de uma democracia económica transparente, de um Estado fiável e de uma governança eficaz e responsável, incompatíveis com os níveis absurdos de desorganização, incompetência, irresponsabilidade, cabotinismo e corrupção actuais.

Numa democracia económica transparente será possível desenhar e discutir verdadeiros orçamentos públicos, que atendam a estratégias de Estado claras e estáveis e permitam a competição justa entre propostas legislativas e equipas de governação criativas, ágeis e eficientes. A fórmula actual das organizações partidárias está esgotada. Precisamos de encontrar novas soluções à altura das democracias tecnológicas em formação e da solidariedade global. Não é o fim da Política. É o renascimento da Política!

A extinção das Ordens Religiosas masculinas em 1834, traduzida na sua expoliação económica e patrimonial por parte do vencedores da Guerra Civil Portuguesa que se seguiu ao processo de independência do Brasil, serviu não só o propósito de reorganizar a administração pública em novos moldes, mais laicos e mais dependentes do poder político constitucional, mas sobretudo para equilibrar as debilitadas finanças públicas de um país falido duplamente, pela perda do Brasil (cujas compensações monetárias foram utilizadas no financiamento da campanha liberal) e pelo esforço de guerra.
"Em São João de Tarouca, todo o espólio deixado pelos Monges de Cister foi nacionalizado e vendido em hasta pública a particulares, à excepção da Igreja que se manteve aberta ao culto. O resultado desta situação foi a destruição quase total de um vasto e rico património. Como o principal meio de subsistência das populações locais que adquiriram todo o espólio era a agricultura, deu-se o desmantelamento de quase todas as edificações do Convento, para assim, se proceder ao alargamento dos terrenos de cultivo. A pedra retirada dos seus locais de origem, foi depois utilizada na construção de todo o tipo de habitações. A pilhagem foi também indiscriminada, levando ao desaparecimento de um grande espólio, que por ser de menores dimensões, proporcionava o seu transporte, após o furto. Da Igreja foi levado o conteúdo dos relicários de santos, pequenas peças, paramentária e mesmo ourivesaria. Todas as dependências do Mosteiro foram desmanteladas, pedra a pedra, até restar aquilo que hoje é possível observar. O que hoje está à vista, são ruínas, que apenas nos proporcionam uma ténue visão do que teria sido a riqueza deste monumento."
Ao ler este trecho do roteiro do Mosteiro de São João de Tarouca, veio-me à memória a actual situação das finanças públicas portuguesas e as ideias assassinas do actual governo para as estradas, as águas, os rios e o Sol que em cada dia nos ilumina e aquece. Querem pôr tudo a patacos, primeiro nas mãos dos nossos corruptos e anémicos banqueiros e construtores civis, depois, ao colo agradecido e finalmente triunfante de Madrid. Que pensará Cavaco desta cobardia promovida pela indecorosa e decadente maçonaria lusitana? Quer ser o Pilatos de tal traição, ou agirá a tempo, em defesa de Portugal?


OAM 273, 07-11-2007, 19:40

terça-feira, abril 24, 2007

Partido Democrata Europeu

O terceiro excluído


A crise de legitimidade do projecto europeu veio ao de cima quando os franceses, que costumam falar de política entre si, e não apenas de futebol (a conversa dominante entre os portugueses, a começar pelos políticos de serviço), disseram NÃO ao Tratado Constitucional Europeu. Desde esse momento, quando José Sócrates ainda prometia a pés juntos que iríamos votar, num instante, o referendo sobre o Tratado, que o projecto político europeu gripou, e não se sabe mesmo se haverá arranjo possível, pelo menos nos termos em que a coisa tem sido vendida aos povos de Europa: ora tomem lá o Euro, aguentem com uma inflação instantânea de 300%-500% (a bica que custava 30 escudos passou a custar 100 em poucos meses), endividem-se e trabalhem mais, se puderem, i.e. se conseguirem emprego. Quanto às empresas nacionais, sobretudo as estratégicas, as que dão dinheiro, e que por acaso são as que os Estados nacionais alimentaram, paciência... vão servir para aumentar a concentração capitalista no velho continente, em nome da inevitável competição com os Estados Unidos, e sobretudo com a China e a India. Quanto à solidariedade europeia, ou a uma nova visão do mundo, da economia, do trabalho e do consumo, nada de novo -- business as usual -- quer dizer, fim do Estado providência, desemprego estrutural, quebra progressiva do rendimento disponível dos indivíduos e das famílias (o PIB per capita é, como se sabe, uma falácia), desregulação do mercado de trabalho, imigração clandestina, transformação das praças financeiras em gigantescas máquinas de lavagem de dinheiro ilegal, promiscuidade crescente entre políticos, interesses económicos e canais mediáticos, anestesia do sistema democrático.

As eleições francesas, pela sua extraordinária mobilização, e sobretudo pelos resultados, veio demonstrar que as pessoas, felizmente, não andam a dormir, nem são idiotas, como os tarimbeiros da partidocracia dominante, e em geral os políticos corruptos (que são cada vez mais numerosos, lá, cá e em todos as famosas democracias ocidentais) crêem. A esquerda (toda a esquerda) há muito que não é de esquerda (mas situacionista), tal como a direita apenas quer o mesmo que a esquerda quer: votos suficientes para governar. O modelo da alternância ao centro, sem haver realmente um centro político-partidário, tem subsistido na maioria das democracias europeias como uma clara forma de oportunismo do chamado arco governamental, mas que o eleitorado, cada vez mais consciente de tal logro, gostaria de ver eliminado, dando para isso força à emergência de novas soluções no quadro geral da democracia representativa, obviamente.

Vamos ver como corre a segunda volta das eleições francesas. Tudo aponta para que Sarkozy ganhe à impreparada candidata socialista. Mas vai ser interessante saber que dirá François Bayrou sobre os dois candidatos que disputam efectivamente a presidência da França nos próximos e decisivos anos da Europa. Se ele apelar ao voto em Ségolène Royal, esta pode mesmo ganhar. Se nada disser, estará a dar implicitamente a vitória a Sarkozy. Dando a vitória a este favorito, fica sem grande margem de manobra para o potencial de crescimento obtido com a campanha que o levou até aos 18% da primeira volta. Mas, se pelo contrário, contribuir decisivamente para a vitória da candidata socialista, então terá uma palavra a dizer em muito do que vier depois na política francesa. A coutada marcada no território de Ségolène será um trunfo para negociar os termos do crescimento da nova força centrista que quer nascer em França.

É o centro que dá as vitórias. Pois então é preciso promover a formação de partidos de centro na Europa. Doutro modo, os eleitores sairão sempre frustrados, como se tem visto em França e em Portugal nas últimas duas décadas. A velha dicotomia esquerda-direita já não existe, mas existe no seu lugar o mais improdutivo dos oportunismos: o oportunismo dos interesses sem cor. Também existe o definhamento dos extremos, é certo, mas esse não conta para os problemas reais das pessoas, embora custe dinheiro à democracia.

OAM #196 23 ABR 07