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quinta-feira, novembro 08, 2012

Totó inSeguro acordou

António José Seguro acordou!
Imagem: WHKITG

A dita Esquerda só tem um passo seguro a dar: exigir uma distribuição mais justa da austeridade, como aliás a Troika propõe, e insiste que seja levada a cabo!

Seguro prepara socialistas para a queda prematura do Governo

Económico, Márcia Galrão
07/11/12 00:05

Comissão Política pressionou líder para que o PS apresente propostas concretas.

A reunião da Comissão Política do PS da última segunda-feira serviu para António José Seguro deixar duas mensagens: é preciso preparar o partido para a hipótese cada vez mais alargada de a legislatura não chegar ao fim e assumir perante os portugueses que muitas das coisas que lhes têm sido retiradas não poderão ser restituídas mesmo que os socialistas assumam o poder.

Segundo várias fontes presentes na reunião, o secretário-geral do PS reconheceu que a situação do país tem mudado muito nos últimos meses e que, se quando foi eleito pensou que estaria na oposição até 2015, o "alarmismo social" e a fase crítica que o país vive sugere que essa ideia seja "revista". No entanto, Seguro também terá dito que não sabe se o PS já está preparado para fazer esta análise.

Numa reunião muito participada, com muitas intervenções das várias alas do partido, terá ainda sido unânime a pressão para que o PS assuma propostas concretas na praça pública e tome a dianteira do debate inevitável que tem que ser feito de renegociação da dívida e do próprio memorando de entendimento com a ‘troika'.

A partir do momento em que António José Seguro aceitou retomar o diálogo institucional com o Governo, os socialistas consideram que é preciso ser agora consequente e participar activamente nas próximas avaliações da ‘troika' com propostas concretas. Da ala mais à direita, coube a Ricardo Gonçalves pressionar a direcção nacional para sugerir reformas profundas, tal como tem sido assumido por vozes como Manuela Ferreira Leite ou Miguel Cadilhe. Do lado oposto, Pedro Nuno Santos considerou que o PS tem que liderar o debate de renegociação do memorando e dizer o que propõe que se altere. Resumindo: as duas alas pediram uma "clarificação", como assumiu fonte presente na reunião ao Diário Económico. [...]

Apesar de questionado sobre o conteúdo da carta que o primeiro-ministro lhe enviou, Seguro manteve firme a decisão de não revelar o seu teor. Quanto às pressões de que foi alvo, lembrou que este não é o momento de olhar para o PS, mas para o país, e que é preciso manter um relacionamento institucional sério com o Governo.

Fonte socialista adiantou, ainda, que grande parte da intervenção do líder foi dedicada à situação do país, com exemplos de situações dramáticas de famílias e de empresas nacionais - casos de todo o país que disse chegarem ao seu conhecimento diariamente.

Quem andou a comprar dívida portuguesa não foi a Alemanha, foi a banca portuguesa e a Caixa (que se sobre endividaram junto do BCE, e a quem deixaram umas cautelas de risco elevado), assim como —pasme-se— o principal fundo de pensões do estado... português!

Desafio, pois, o PS do inseguro Seguro, o PCP do megafone Jerónimo, e o Bloco do reciclado Mao, a desfazerem este nó! Quem pagará a reestruturação que defendem para a gigantesca dívida pública portuguesa? Se a dita dívida está em boa parte sentada ao colo dos bancos indígenas à beira da falência, do banco público, igualmente insolvente, e do fundo de pensões do tal estado social, cuja liquidez dá para oito meses, a quem servirão as vossas desmioladas alternativas ao memorando da Troika assinado pelos três partidos do arco da desgovernação?

Se quiserem não pagar, ou pagar menos, já sabem quem ficará com o calote ao colo, não é? E então?

A Autoeuropa, a SAP e a Simens são algumas das empresas que funcionam bem em Portugal há décadas, ao contrário de tudo o que vem dos piratas do PS, dos piratas do PSD, dos piratas do BES, da Mota-Engil, do Grupo Mello e do resto da corja de imbecis e de ladrões que levaram o país à bancarrota e insistem em roubar o que resta.

Usar a Alemanha, a tia Merkel, e a Troika, como bodes expiatórios da pirataria local é mais uma prova de demência de uma parte dos indígenas da Tugolândia, que assim bem merece a má sorte que lhes caiu em cima.

Há uns séculos atrás a mesma corja de então expulsou sucessiva e alegremente os judeus, culpando-os da bancarrota do país. Expulsou os Jesuítas da Lusitânia do oeste e do Brasil. E, algumas décadas depois, extinguiu as ordens religiosas, para depois vender a pataco conventos e igrejas, cujas pedras foram usadas para fazer muros, casotas e tanques de água, deixando à vista até hoje cicatrizes escandalosas na paisagem de ruínas de pedra que abunda pelo país. Em todos estes casos citados o objetivo foi o mesmo: obter liquidez para tapar as finanças públicas arruinadas. Os criminosos de então são os mesmos de hoje: a corja dos rendeiros e dos burros com poder a soldo dos primeiros.

Ou seja, expulsámos, sucessivamente, gente que sabia fazer dinheiro, mas sobretudo gente culta e que sabia pensar. Ficaram, já então, a maltratar este pobre país, os burros do poder, os cretinos assessores, os rendeiros de sempre e os putos e putas da corte. A comandar ficaram e estão, lançando milho à populaça estupidamente agradecida — como galinhas.

Uma vez mais, a mesma corja de burros dominantes, incultos e criminosos, lança o povo contra os credores, no preciso momento em que estes enviam o dinheiro que paga mensalmente os vencimentos da função pública, dos governantes, e os lucros usurários dos banqueiros e dos rendeiros protegidos desta cloaca da Europa.

Há porém uma diferença: desta vez, não conseguirão expropriar os credores externos. Apenas podem roubar a Previdência Social e rebentar de vez com o estado social — o que têm estado a fazer nas costas dos eleitores.

E assim, não pagar é assunto muito sério também, cujo preço só poderá ser o fim deste imprestável regime, desta democracia populista, desta partidocracia sem concerto nem conserto, de mais uma cleptocracia disfarçada.

Espero bem que, desta vez, esta bancarrota arruíne boa parte da corja que matou, uma vez mais, Portugal. Os portugueses pobres e remediados estão a ser arruinados diariamente, pelo que nada têm que temer da ruína dos ricos que assaltam o país cantando e rindo.

domingo, julho 22, 2012

Depois do colapso


Ouçam-na! 

Carlota Perez defende que uma nova Idade do Ouro pode estar ao virar da esquina. Depende de nós, de uma boa teoria económica, de revisitar a história das crises dos últimos duzentos anos, e de passar da ajuda intensiva aos bancos e ao capital (já chega!), para o lado da economia e das pessoas.




As notícias de Espanha e de Itália confirmam os cenários previstos e anunciados por vários analistas sobre o colapso financeiro e social em curso desde 2007, dos Estados Unidos à Europa. Depois da deflação, que continua, e das bolhas imobiliárias, assistimos desde finais de 2011 à formação de uma monumental bolha de dívidas soberanas, de momento e aparentemente fora de controlo.

Os governos precisam de cada vez mais dinheiro, para pagar aos funcionários públicos, acudir ao crescente exército de desempregados e de trabalhadores precários, assegurar a manutenção do estado social, e remunerar os custos cada vez mais pesados dos serviços das suas dívidas públicas. No entanto, o dinheiro esfumou-se! As suas fontes principais têm sido, desde há pelo menos vinte anos a esta parte, a expropriação da poupança do trabalho e da indústria pela via da destruição das taxas de juro e da inflação escondida,  e o casino financeiro da globalização. Ambas, porém, secaram ou sucumbiram perante a impossibilidade objetiva de viver muito mais tempo com juros negativos, com moedas que disputam entre si o carry-trade da desvalorização competitiva, ou de poder fechar o abismo que entretanto separa a riqueza criada pelo mundo e o valor nocional do mercado altamente especulativo dos chamados derivados OTC — criado, sem rei nem roque, pelo chamado shadow banking (hedge funds, etc.)

Este buraco negro, onde produtos como os Collateralized debt obligations (CDOs), os Credit default swaps (CDS), ou os Interest rate swaps, etc., supostamente defendem as arriscadas operações de financiamento especulativo de investidores públicos e privados, ultrapassa já os 700 biliões de dólares (7x10E12 USD), ou seja, qualquer coisa como doze vezes o PIB mundial. Haverá um momento, em breve, certamente explosivo, em que os governos corruptos e demo-populistas acabarão por ter que romper o cordão umbilical que os liga às tetas bancárias e aos banksters de quem há demasiado tempo dependem e a quem há uma eternidade servem!

A especulação bolsista entrou em derrapagem, os bancos comerciais caíram rapidamente na armadilha da insolvência publicamente assistida, deixou de haver confiança, até nas transações interbancárias, em suma, o crédito morreu — excepto, durante um breve período, que ainda decorre, para os governos que, ou escrituram mais moeda a partir do nada, gerando desta forma mais dívida pública insustentável, ou, como tem vindo a suceder na União Europeia, servem-se dos bancos privados para substituir os mercados que deixaram de responder às emissões obrigacionistas, induzindo-os a comprarem eles próprios dívida pública a juros e rentabilidades cada vez mais especulativas, com dinheiro que, por sua vez, o BCE empresta aos bancos praticamente sem juros, pedindo aos ditos bancos comerciais apenas duas coisas: colaterais soberanos, que são cada vez mais débeis, ou mesmo surrealistas, e a recapitalização daqueles bancos desfalcados de reservas minimamente suficientes e confiáveis face ao ambiente imprevisível e caótico que é hoje a finança mundial.

Alguém terá em breve que dar um grande murro na mesa, ou então a insolvência dos bancos, dos governos e das pessoas conduzirá o mundo para um beco sem saída. Da última vez que tal ocorreu, refiro-me à Grande Depressão que se seguiu ao colapso bolsista de 1929, a Europa acabaria por mergulhar nos terrores e horrores do Fascismo e de uma Guerra Mundial que ainda hoje, mais de meio século depois, não deixa dormir muita gente.

Carlota Perez (sítio web) mostra a saída para mais esta grande crise do Capitalismo moderno.

Tal como Steve Keen (sítio web), acredita que há soluções para superar o inacreditável atavismo dos poderes instituídos nas falsas respostas que têm vindo a dar a esta crise sistémica. Seguindo as ideias originais destes dois autores, cito e recrio livremente algumas das suas principais propostas.

  • É preciso afastar a viciada finança dos casinos montados pelo shadow banking. Para aqui chegarmos, é necessário ter a coragem de começar por impor um custo fiscal aos ganhos de capital, com taxas comparáveis às que se impõem aos rendimentos das empresas produtivas e aos rendimentos do trabalho, e uma aplicação universal, quer dizer, à escala do próprio mercado globalizado dos mercados financeiros (uma solução, portanto, oposta ao proteccionismo e às guerras financeiras entre países).
  • É preciso desenhar e aplicar um esquema inteligente de perdão sustentado das dívidas das pessoas e das empresas produtivas, a par do refinanciamento da economia real, de quem investe e de quem trabalha.
  • É preciso estudar, desenhar e lançar uma reforma inovadora das instituições públicas e governamentais de modo a livrá-las da presente captura por parte de burocracias partidárias indesejáveis, e das máfias financeiras, adequando-as aos paradigmas de uma nova era dourada — assente na eficiência energética e uso reciclável dos recursos limitados à nossa disposição, na ecologia e numa cultura espiritual alargada, fundada no enorme potencial das novas tecnologias de representação e transporte virtual da realidade.
  • É preciso levar a cabo uma redefinição e uma reorientação estratégica da função dos estados e dos governos, tendo por objetivo um aumento radical da sua eficiência cognitiva, organizativa, energética e tecnológica.

Esperamos, no entanto, as mais fortes e destrutivas resistências da parte dos poderes instalados, sejam eles oriundos da instituição financeira, dos monopólios rendeiros, das burocracias paralisadas pelo medo, ou dos próprios partidos políticos — das esquerdas às direitas parlamentares.

As ONGs e a Blogosfera têm desempenhado um importante papel na denúncia do que é obsoleto e corrupto, mas também no anúncio das oportunidades que um novo ciclo civilizacional nascido da presente crise sistémica poderá trazer à humanidade. O seu contributo passado, presente e futuro é inestimável. No entanto, creio que o surgimento de novos partidos políticos, tecnicamente bem apetrechados e com critérios de exigência deontológica e ética de outro calibre, e sobretudo sem os vícios burocráticos que os privilégios induziram na generalidade das forças partidárias que se eternizaram de modo descaradamente imobilista nos regimes demo populistas europeus e americanos, poderá fazer toda a diferença!

sábado, junho 02, 2012

Portugal, pagar até morrer


Só podemos saldar a dívida e crescer, com trabalho, poupança e equidade

Sem renegociar as PPP, sem privatizar a TAP e a exploração dos transportes ferroviários, e sem uma reforma profunda da administração pública e do Estado ficaremos escravos da dívida e da indecorosa nomenclatura que levou o país à ruína, pelo menos, até 2020!

Portugal é neste momento atravessado por três grandes dilemas:
  1. O nosso insustentável endividamento fechou as portas ao investimento externo e interno, forçando o Estado a submeter-se a um programa de resgate, sem o qual há muito teria deixado de pagar aos seus funcionários, não sendo por esta razão possível crescer significativamente, na medida em que tal crescimento, pedido pela retórica populista da Oposição (1), implicaria agravar o sobre-endividamento público e privado do país, por sua vez um cenário inaceitável para o único credor ainda disposto a ajudar-nos a sair desta situação: a Troika.
  2. Só uma parte, 50% a 62%, da dívida total do país, é passível de um PSI, também conhecido por haircut; e para piorar as coisas, dado que boa parte da dívida pública reestruturável está nas mãos dos principais bancos portugueses, nomeadamente a colossal dívida das PPP, uma renegociação da mesma, com vista a um desconto privado, corre o risco de rebentar simultaneamente com os principais bancos e grupos económicos portugueses, dada a exposição destes às tetas orçamentais da escanzelada República que uma nomenclatura de piratas sem freio conduziu à posição de refém indefesa dos credores de última instância;
  3. Não conseguiremos libertar-nos da colossal dívida acumulada, sem impormos uma racionalização drástica e urgente do aparelho de estado, das instituições democráticas e do setor empresarial público, exigindo frontalmente o fim da apropriação parasitária do bem comum pela nomenclatura financeira e partidária, e sem causar por outro lado uma redução dramática dos recursos humanos que constam da folha de pagamentos da administração pública.
Estes dilemas terão no entanto e de uma forma ou doutra que ser resolvidos, sob pena de o país inteiro ficar numa situação sem saída, caminhando rapidamente para a alienação progressiva da sua riqueza, e para o advento de uma instabilidade social de consequências imprevisíveis.

Cabe aos partidos em primeiro lugar (para isso vos pagamos) estudar e encontrar com urgência as soluções mais justas e equilibradas para estes dilemas. E cabe ao resto da sociedade participar neste debate. Caímos no poço da dívida. Teremos que saber e conseguir sair dele quanto antes!

Os recentes números da execução orçamental e do desemprego são dramáticos. Veremos o que nos espera na próxima Segunda Feira, ao tomarmos conhecimento do mais recente relatório da Troika.

Até lá será muito instrutivo ler três artigos recentes e interligados sobre Portugal, escritos sucessivamente por Dimitris Drakopoulos e Lefteris Farmakis, do Nomura's Research, Joseph Cotterill, do FT Alphaville, e Claus Vistesen, do Alpha.Sources.CV.

“The math here is very clear. With only about 50 to 62 percent of the debt outstanding liable to restructuring the idea that Portugal may return to the market under “normal” conditions is ridiculous, especially if we assume that this includes the prospect of international creditors doing the bid.

However, there is an important difference between Portugal and Greece. Where Greece had a substantial part of its debt outstanding held by foreign creditors the restructurable debt in Portugal is mainly held by domestic corporates and banks. This is due to the increasing re-nationalisation of sovereign risk on the back of the crisis and specifically the ECB’s LTROs which have incited banks to buy their respective sovereign’s debt. This adds another layer to the Portuguese case in the sense that if the private sector gets hosed, it will mean domestic banking and corporate defaults. The ensuing re-capitalisation would be impossible for Portugal to deal with without EU/IMF help.”

— in Alpha.Sources.CV, “Time Unlikely to be a Healer for Portugal’s Economy”, April 2, 2012

“If you don’t see what Nomura are getting at here, Portugal could burn bondholders, but increasingly those are its own banks. On the Greek pattern, it would then need a eurozone loan to recap those banks, making any debt relief a mirage. And any private bondholders remaining, all the more subordinated.”

— in “If you thought Greek bondholders were subordinated…”, Joseph Cotterill, FT Alphaville, Mar 29 2012 09:03

“In this report we discuss whether a PSI operation similar to that undertaken in Greece will be repeated in Portugal in the near future. Our view is that in the short term momentum has shifted towards the extension of a new financing package to Portugal for a few years (potentially covering its financing needs until 2015) without a PSI operation being set as a prerequisite. Over the medium term, however, we see a fairly high probability of a debt management operation going ahead in Portugal given the country’s significant macroeconomic imbalances and fiscal risks that are likely to significantly delay its return to financial markets.”

— in “Portugal: To PSI or not to PSI?”, by Dimitris Drakopoulos and Lefteris Farmakis, Nomura, 27 march 2012.

NOTAS
  1. A sustentabilidade da economia portuguesa sofre de quatro constrangimentos fatais: a sua aflitiva dependência do petróleo/gás natural; a sua escandalosa intensidade e concomitante ineficiência energética; a sua inaceitável dependência de capital, o qual financia basicamente o consumo mas não o trabalho propriamente produtivo, nem a suficiente produção de bens transacionáveis; e, finalmente, o envelhecimento e encolhimento demográficos que destruirão inexoravelmente a sustentabilidade do estado social que conhecemos nos últimos trinta anos, ficando o setor das exportações, o turismo e, uma vez mais, a emigração, como únicos travões ao empobrecimento em espiral do país. Os quadros e gráficos do estudo promovido pelo banco japonês Nomura são a este título elucidativos.

Última atualização: 2 jun 2012 10:52

quarta-feira, março 21, 2012

A sombra de Lutero

Alemanha preparada para abandonar o euro

Lucas Cranach, o Velho — retrato de Martinho Lutero e esposa (1529)

Uma pilha de papel em branco aguarda eventual regresso da Alemanha ao marco se entretanto a insolvência dos PIIGS se revelar irreversível e insuportável para os cofres do Bundesbank.

Quanto à viagem de António Mexia a Pequim imagino que o cabotino foi chamado a despacho pelo governo chinês, com o objectivo expresso de o mandarem calar e ser portador de um presente qualquer para Passos de Coelho. Já no que se refere à misteriosa viagem do nosso contabilista-mor a Washington, estranho sobretudo a falta de especulação da nossa imprensa. Então não acham extraordinário que o ministro das finanças de uma província minúscula do império se desloque assim de repente à América para falar com Geithner e Bernanke? Eu só vejo uma ou duas explicações para tão inusitado episódio da crise financeira em curso:

  • Os americanos querem, e têm argumentos suficientes para, moderar a aproximação sino-lusitana;
  • Portugal está em pânico com a possibilidade de Berlim exigir a devolução do que resta do ouro nazi que Portugal obteve em troca do volfrâmio exportado para o III Reich durante a Segunda Guerra Mundial, e que foram em larga medida alienadas durante os mais de trinta e sete anos de democracia populista que se sucederam à ditadura. Estas reservas de ouro, depositadas em Fort Knox (suponho), serviriam agora para cobrir parcialmente os colossais empréstimos em curso, contra os quais Portugal já não pode oferecer garantias sólidas, pois os Bilhetes do Tesouro vendidos pelo Estado português aos bancos, que por sua vez os depositam no BCE (como colateral) em troca de empréstimos a 1%, são demasiado fungíveis. Quando estes papeis tiverem que ser trocados por novos títulos de dívida, por ocasião do inevitável incumprimento e subsequente reestruturação da gigantesca dívida portuguesa, a economia portuguesa estará então provavelmente em pior estado do que está hoje — seja porque os políticos não fizeram as reformas prometidas à Troika e ao eleitorado que correu com Sócrates, seja porque a austeridade excessiva, continuada e mal distribuída acabará por destruir ao mesmo tempo a receita fiscal e a capacidade produtiva do país!

O bom humor de Vítor Gaspar contrasta escandalosamente com as últimas informações sobre a execução orçamental de 2012. Ou será que a saída da Alemanha do euro já está nos planos da Comissão Europeia, da América, do Reino Unido, da China e... de Portugal?!

Vivemos tempos de grande volatilidade, como bem demonstram os últimos despachos de John Ward/The Slog sobre o nervosismo, mas também sobre as precauções da Alemanha. Chamo, a propósito deste post montado pelas toupeiras do Slog, uma especial atenção para a crucial entrevista dada por Markus Kerber a James Turk em Setembro de 2011, e que Ward expressamente menciona.


Markus Kerber talks to James Turk

REVEALED: HOW BERLIN HAS BEEN PLANNING A EURO-EXIT SINCE 2009, The Slog.

… Berlin is sitting on a huge stock of unprinted banknote quality paper….and has reduced the amount of its existing euros in circulation. That second fact is particularly surprising given that, since the euro’s launch, Germany has led the circulation growth every year: it has one of the lowest credit/bank card usage rates in the EU, and easily the highest consumption of cash for transactions.

[…] One thing the euronote production market as a whole reveals is how little real control the ECB has on a day-to-day basis. It prints just under 8% of all the banknotes  in circulation: over four notes in five are produced by the EU member State’s own suppliers – and in most cases, they are nationalised. What ties all the ‘peripherals’ together is that none of them produce euros for anyone else – and each country’s output has a different serial prefix to identify it. So it is relatively easy for the ECB to spot when unauthorised printing is taking place. Ergo, Mario Draghi must know that the Bank of Greece has been printing without permission. But he has chosen to do nothing about it.

[…] As an EU citizen (thankfully uninvolved in the eurozone) I find all the things emerging from this very brief initial delve into euro production most disturbing. Last November the Max Keiser site focused on ECB reform as the thing most likely to evoke a German departure from the ezone. Since then, ECB boss Mario Draghi has manoeuvred Board membership at the bank skilfully to reduce German influence still further.

[…] In the same month, Chancellor  Merkel’s Christian Democratic Union party voted to allow euro states to quit the currency area, endorsing the prospect of a move not permitted under euro rules. That was a statement of intent, not the passing of a law – but it does show pretty clearly that the option is there should Berlin feel the need.

Now we learn that Berlin has a banknote paper stockpile, full control over a printer based in Berlin, is running down its euro supplies, and is ken to make euro-exit easier. As The Slog’s Bankfurt Maulwurf has always maintained, Germany has every angle covered. Yet again, digging into the facts behind the spin proves him right.
[…] Earlier in the week, The Slog led with the revelation that Germany’s banking community had told Angela Merkel, “Either Greece must be amputated, or we must leave the eurozone”. I am rapidly coming to the conclusion that both possibilities are still in play….and as always, the Fuhrerine in Berlin is waiting for events to present a clearer picture. As I noted in the earlier post this week, opinion is moving away from the German exit solution: but a post-election repudiation of the Brussels Accord in Greece, and a collapse in Spain and Portugal, would make it the hot favourite.

terça-feira, março 20, 2012

Depois do banquete

O tempo trágico por vir, chegou...

Marco Ferreri — La Grande Bouffe (1973) Na imagem: Michel Piccoli e ?

Em 1972 Donella H. Meadows, Dennis L. Meadows, Jørgen Randers publicaram The Limits to Growth. Um ano antes, a produção petrolífera americana atingira o seu pico e Nixon anunciara unilateralmente o fim do Acordo de Bretton Woods. Um ano depois dar-se-ia a primeira grande crise petrolífera e a Guerra de Yom Kippur. Neste mesmo ano a alegoria escatológica de Marco Ferreri, La Grande Bouffe, ganhou o prémio da crítica do Festival de Cinema de Cannes. Quase quarenta anos depois, a sociedade do consumo começa francamente a desfazer-se, sem descortinarmos que outra lhe poderá suceder.

A humanidade, tal com previra Donella Meadows, pode já ter passado para lá do limite de segurança da sua própria sustentabilidade, restando-lhe agora esperar pelas consequências de um desastre inevitável. Os limites de crescimento potencial do modelo económico e demográfico baseado no uso intensivo de formas de energia barata foi atingido. E nem mesmo a China parece em condições de resistir ao que aí vem, pois já deixou de poder exportar para as economias falidas do Ocidente o suficiente para continuar a recuperar a ritmo galopante o seu atraso económico, tecnológico, social e cultural face à Europa, Japão, Estados Unidos e Canadá. Uma coisa é vermos o PIB da China aproximar-se rapidamente do PIB americano, ou do da União Europeia, outra bem diferente é compararmos o PIB per capita chinês com os correspondentes níveis de produção per capita no Ocidente industrializado. A China não consegue, nem creio que conseguirá alguma vez, gerar internamente a escala e a qualidade de consumos que permitam seguir o conselho algo cínico dado por Christine Lagarde aos políticos e homens de negócios chineses: deixem de depender tão criticamente das exportações e do investimento!

O sonho americano e o sonho europeu, assentes na ilusão de uma sociedade de consumo, prazer e bem-estar social sem limites, alimentada por energias baratas, pela exploração colonial e finalmente pelo endividamento compulsivo, acabou em pesadelo. O pesadelo da destruição sistémica do emprego, o pesadelo da insolvência e da austeridade sem fim, e o pesadelo do colapso irreversível do estado social, inicialmente criado por Bismarck, no século 19, para travar a emigração germânica para a América, onde se pagavam, e pagaram até ao fim do século 20, melhores salários do que no resto do planeta. O reajustamento acabará por se dar, só não sabemos quanto vai custar e quantas vítimas irá causar.




Em Portugal os analistas despertaram tardiamente para a gravidade destes problemas. A busca desesperada de bodes expiatórios arrancou em força depois de se perceber duas coisas simples: que uma parte da sociedade tem sido sangrada e sugada paulatinamente desde os tempos de Manuela Ferreira Leite, e de forma brutal desde que assinámos o Memorando com a Troika, mas que uma outra, composta por uma difusa e algo tenebrosa elite e excepções indecorosas, tenta descaradamente escapar às suas responsabilidades. Os casos da TAP, da RTP, da Caixa Geral de Depósitos, ou do Banco de Portugal, já para não falar das mordomias parlamentares e partidárias, são um insulto intolerável à inteligência e ao que resta da democracia!

O governo já aumentou impostos e vai continuar a aumentá-los, já reduziu benefícios fiscais e despesa pública e vai ter que continuar a reduzi-los, continua, em suma, a leiloar Bilhetes do Tesouro. Só não imprimiu moeda, porque não pode!

Parte da liquidez que nos chega da Troika regressa à origem sob a forma de juros. Pelo caminho vão-se saldando parte das dívidas e impede-se o incumprimento (bancarrota), permitindo ao mesmo preparar devedores e credores para uma reestruturação mais ou menos próxima da dívida.

Os bancos não emprestam, e então o dinheiro foge dos bancos!

São as duas faces de uma mesma moeda: a moeda da deflação monetária. Mais cedo ou mais tarde terá que haver alguma reflação, sob pena de as economias europeias entrarem num ciclo depressivo semelhante ao do Japão: juros negativos, estagnação económica, regresso ao endividamento público para acudir à emergência social e para manter o sistema financeiro numa qualquer unidade de cuidados intensivos, desemprego endémico, crise política permanente...

A tosquia grega, ao contrário do que boa parte das Cassandras inglesas e de Wall Street previram aos quatro ventos, não fez ruir o dominó do euro. Temos, pois, um caso de estudo pela frente!

…as anticipated by LEAP/E2020, the handling of the “Greek crisis” (9) has quickly caused the disappearance of the so-called “Euro crisis” from the media headlines and market participants’ concerns. The mass hysteria maintained by the Anglo-Saxon media and the Eurosceptics during the second half of 2011 on this subject hasn’t lasted long: Euroland is increasingly asserting itself as a sustainable structure (10); once again the Euro is in vogue in the markets and for emerging countries’ central banks (11), the Eurogroup/ECB functioned effectively and private investors will have to accept a haircut of up to 70% on their Greek assets, thus confirming LEAP/E2020’s 2010 anticipation which then spoke of a 50% haircut when almost no-one imagined such a possibility without a “catastrophe” signalling the end of the Euro (12). Ultimately, markets always yield to the law of the strongest… and the fear of losing more, whatever the students of ultra-liberalism may say. GEAB Nº63.

Na realidade, nem todos os analistas anglo-saxónicos estão a soldo da propaganda de Wall Street e Washington. Continua a haver cabeças pensantes e que pensam bem e com honestidade sobre os problemas. Dois exemplos: a análise recente da Bridgewater sobre alguns casos históricos de reestruturação de economias excessivamente endividadas, e sobretudo o muito estudado relatório publicado em 2011 pelo The Boston Consulting Group:

Collateral Damage
Back to Mesopotamia?
The Looming Threat of Debt Restructuring

David Rhodes and Daniel Stelter
September 2011 (PDF)

Primeiro, vamos ao resumo do ZeroHedge sobre a investigação da Bridgewater, da autoria de Ray Dalio —An In-Depth Look At Deleveragings (PDF):

Last month, the world's biggest hedge fund, Bridgewater, issued a fascinating analysis of deleveraging case studies through the history of the world, grouped by final outcome (good, bad and ugly). As Dalio's analysts note: "the differences between deleveragings depend on the amounts and paces of 1) debt reduction, 2) austerity, 3) transferring wealth from the haves to the have-nots, and 4) debt  monetization. Each one of these four paths reduces debt/income ratios, but they have different effects on inflation and growth. Debt reduction (i.e., defaults and restructurings) and austerity are both deflationary and depressing while debt monetization is inflationary and stimulative. Ugly deleveragings get these out of balance while beautiful ones properly balance them. In other words, the key is in getting the mix right." Of these the most interesting one always has been that of the Weimar republic, as it certainly got the mix wrong.

[…]  as BCG showed last year [2011], the global debt overhang (on a net blended basis) to reduce global Debt to GDP to a "sustainable" 180%, would require the elimination of $21 trillion in debt, one way or another, with the excess debt concentrated primarily in the US ($8.2 trillion) and the Eurozone ($6.1 trillion).

in ZeroHedge, Presenting Bridgewater's Weimar Hyperinflationary Case Study (LINK)
E agora vamos ao resumo do ZeroHedge sobre o já famoso Back to Mesopotamia:
Boston Consulting Group confirms, the "muddle through" is dead. And now it is time to face the facts. What facts? The facts which state that between household, corporate and government debt, the developed world has $20 trillion in debt over and above the  sustainable threshold by the definition of "stable" debt to GDP of 180%. The facts according to which all attempts to eliminate the excess debt have failed, and for now even the Fed's relentless pursuit of inflating our way out this insurmountable debt load have been for nothing. The facts which state that the only way to resolve the massive debt load is through a global coordinated debt restructuring (which would, among other things, push all global banks into bankruptcy) which, when all is said and done, will have to be funded by the world's financial asset holders: the middle-and upper-class, which, if BCS is right, have a ~30% one-time tax on all their assets to look forward to as the great mean reversion finally arrives and the world is set back on a viable path.

in ZeroHedge, The "Muddle Through" Has Failed: BCG Says "There May Be Only Painful Ways Out Of The Crisis" (LINK)

Clicar para ampliar o gráfico

Se repararmos no caso portugês, ficamos a conhecer algumas cifras aterradoras:
  • Em 2009 a nossa dívida total (pública, empresarial e doméstica) já rondava os 312% do PIB
  • Ou seja, para regressar aos limites de sustentabilidade teórica (180% do PIB) seria preciso, considerando os números de 2009, uma redução do nosso endividamento na ordem dos 221 mil milhões de dólares!
Em 2009 o endividamento das empresas não financeiras (139%) estava bem acima das dívidas pública (76%) e doméstica (97%). A avaliação confere, aliás, com o que vamos sabendo das escandalosas dívidas acumuladas pelas empresas do setor empresarial do Estado que se colocaram artificialmente fora do perímetro orçamental público, das PPPs e do setor imobiliário.

Sabe-se, entretanto, que medidas de austeridade que impliquem cortes orçamentais anuais acima dos 3% do PIB redundam rapidamente em agitação social. Ou seja, e no caso português, o limite da austeridade poderá andar pelos cinco mil milhões de euros anuais, ou seja, para regressar aos 180% de endividamento global teríamos que aguentar mais de quatro décadas de empobrecimento contínuo!

Como está bem de ver, é impossível, e portanto o discurso otimista de Vitor Gaspar aposta numa má notícia externa (a da própria insustentabilidade do sobre endividamento europeu e americano) para desdizer o que vem afirmando à boca cheia neste últimos dias. Portugal não poderá evitar a reestruturação, isto é o repúdio de uma parte da sua colossal dívida. Tal como na Grécia, quem tiver Bilhetes do Tesouro de Portugal será forçado, mais cedo ou mais tarde, a trocá-los por outros, valendo substancialmente menos.

Hu Jieming, Raft of the Medusa, 2002, Photo

Em 2002 o artista chinês Hu Jieming, de Xangai, que eu convidara a expor em Portugal, no já longínquo ano de 1999, realizou uma foto-montagem digital quase tão profética quanto o filme de Marco Ferreri. Parodiando a famosa pintura histórica de Théodore Géricault, Le Radeau de la Méduse, Jieming anuncia o impossível sonho da sociedade de consumo chinesa. Xangai crescia então exponencialmente. Desde 2008, porém, que a China tem alimentado uma bolha imobiliária gigantesca, na expectativa de conter o alastramento dramático do seu contingente de mais de quarenta milhões de desempregados. Quando rebentar, e já começou a rebentar, o sonho americano da China esfumar-se-à, deixando atrás de si cidades abandonadas e muitos náufragos :(

segunda-feira, fevereiro 20, 2012

Depois da Grécia, nós :(

Não sei porque nos chamam porcos. Porco é sinal de riqueza e poupança. O que voltámos a ser é um cão pele e osso! Da última vez (1891-1910-1926) semelhante colapso económico e financeiro deu no assassínio de um regime e em ditaduras.

Raphael Bordallo Pinheiro - Cavallo D'Estado... insaciável. O António Maria, 1891.

Para todos os efeitos, estamos falidos! Só ainda não fomos forçados a declarar bancarrota porque pertencemos a uma zona monetária muito jovem e insegura. O medo de contágio e do efeito de dominó potencialmente resultante do incumprimento financeiro de qualquer dos países mais endividados da União Europeia é tal que a Alemanha (1) tudo fará para evitar um "incidente de crédito" soberano, seja na Grécia, ou em Portugal — as democracias populistas e partidocratas porventura mais corruptas, falidas e desnorteadas de toda a Europa.

Portugal tem de renegociar metade da dívida pública. DN, 18 Fev 2012.

Mesmo crescendo 2% ou 4% ao ano, não dá. Portugal está numa "situação crítica" e vai ter de renegociar com os credores um desconto de "33% a 50%" da sua dívida pública, diz um estudo do Instituto Kiel para a Economia Mundial, um conceituado centro de investigação da Alemanha.

Vale a pena ler o original e ver as tabelas...

How Does the Debt Barometer Work? David Bencek, Henning Klodt. The Kiel Institute Barometer of Public Debt. Jan. 2012.

Our empirical assessment of historical developments in numerous countries leads to the conclusion that it is extremely difficult for a country to prevent its debt from increasing infinitely when the necessary primary surplus ratio reaches a critical level of more than 5%. When this level is exceeded for some time, it is almost impossible for a country to service its debt without receiving outside help.

Radical Greek and Portuguese Haircut Will Be Unavoidable

The data used by the debt barometer make it possible to calculate what size of haircut would be necessary to enable the countries hit by the crisis to shoulder their debt again on their own (…). Greece is close to be being completely bankrupt. Portugal would need a haircut to the tune of one-third to one-half. Ireland, Italy, and Hungary can only avoid a haircut if they can achieve high growth rates, whereby the outlook is relatively good for Ireland.

Tal como a Grécia, de uma maneira ou doutra, com mais ou menos inovação retórica, Portugal só evitará a declaração de bancarrota se aceitar sucessivos pacotes de resgate, ou seja e na prática, percorrendo o suplício de uma longa, humilhante e violenta reestruturação das suas finanças públicas, com a concessão a estrangeiros dos poucos ativos estratégicos que ainda lhe restam: energia, água, transportes, portos, aeroportos e, se não houver uma réstia de vergonha nos políticos que temos, nem mais alma popular, a alienação das trezentas e pico toneladas de ouro poupadas durante a ditadura de Salazar!

Não podemos crescer sem investimento de capital humano, mas também financeiro. E se não crescermos será impossível poupar para pagar as dívidas. Ou seja, porque o que tivemos desde 2001 foi estagnação, e porque o que temos agora é recessão, não há forma de evitarmos um perdão parcial das nossas dívidas, ou seja uma reestruturação. Chamem-lhe o que quiserem.

Famílias, Estado e empresas devem mais de nove vezes o empréstimo da troika (act.) Negócios on-line, 20 fev 2012.

Estas são algumas das conclusões que se retiram do boletim estatístico do Banco de Portugal que foi hoje divulgado e que passou a incluir um capítulo dedicado ao "endividamento do sector não financeiro".

"No final de 2011, o valor da dívida na consolidada do sector não financeiro ascendia a 715 mil milhões de euros, correspondendo a 418% do PIB (402% em 2010, escreve o Banco de Portugal numa nota explicativa.

A já célebre conversa de Vítor Gaspar com o ministro das finanças alemão, Wolgang Schäuble, captada informalmente por um repórter da TVI, explica quase tudo: se as coisas correrem menos mal com a Grécia, isto é, se a Grécia se mantiver dentro da zona euro, então poder-se-à ajustar uma solução mais confortável para Portugal. Mas o problema, acrescenta Schäuble, "é que o parlamento alemão e a opinião pública não acreditam que as nossas decisões sejam sérias; não acreditam nas nossas decisões sobre a Grécia...". Ao que Gaspar responde: "Nós fizemos um programa bastante apreciável no enquadramento europeu...". Schauble, olha para o lado, e depois responde a Gaspar: "Sim, fizeram" (ficando implícita o resto da frase: e depois?) Gaspar percebe as reticências implícitas no "Sim, sim" do ministro alemão e insiste: Sim, fizemos!" Schäuble abana afirmativamente a cabeça duas vezes sem proferir palavra.

Não foi preciso mais para Passos Coelho, depois dos apupos deste Domingo em Gouveia, já na Guarda, reconhecer que afinal "nós não sabemos se precisaremos disso ou não", isto é, se precisaremos ou não da ajuda da Alemanha para um reajustamento do Memorando.

De uma maneira ou doutra vamos precisar, e portanto, será melhor reservar algum dos lombinhos que ainda restam e teremos forçosamente que alienar, pelo menos durante umas largas décadas, para a Alemanha. Eu faço uma sugestão: entreguem a exploração da nossa rede ferroviária de nova geração (bitola europeia) aos nossos dois maiores credores: a Espanha e a Alemanha. E reformem, de uma vez por todas, a máquina avariada do Estado!


ÚLTIMA HORA!
Eurogroup - conferência de imprensa (6 idiomas)
Terça, Fev. 21, 2012 5:00

Comentário:
A solução negociada é mais um paliativo... A tempestade vem a caminho de Portugal :(

Deve ser o atual governo eleito, e não uma qualquer caldeirada a três a enfrentar a situação.
O seminarista (in)Seguro deverá ter ouvido que poderá ter que se sentar num governo presidido por um tecnocrata qualquer, da confiança do imprestável Cavaco. É tempo de Passos de Coelho cortar as amarras com as máfias e as tríades que o pressionam e começar a cumprir a parte essencial do Memorando: reformar o Estado, e criar condições de concorrência real na nossa economia (acabando com os privilégios indecentes e ruinosos da burguesia rendeira que temos).


NOTAS
  1. A guerra financeira em curso, entre o par dólar-libra, por um lado, e o euro (coadjuvado pela China, e agora Japão, por outro) tem atingidos picos de verdadeira guerra psicológica. Vale a pena ler alguns dos artigos desde Sexta Feira sobre as apostas a favor e contra a bancarrota da Grécia.

    Twitter/PIMCO/ Gross (19 Fev 2012): #ECB subordinates all #Greek debt holders & in so doing subordinates all holders of Euroland sovereign debt.

    Greek Rescue Close as Ministers Meet. Bloomberg, 20 Fev 2012. “A euro exit by one member could fundamentally change the nature of the euro as an irreversible currency and spark an unprecedented run on banks and sovereigns,” Joachim Fels, chief economist at Morgan Stanley, wrote in a note to clients yesterday.

    GREEK ‘DEAL’: It might be ‘agreed’ today, but it won’t be done. The Slog, 20 Fev 2012. (…) big hitters on Wall Street are heading for Lisbon this week. The pavanne continues.

    Greece must default if it wants democracy. Wolfgang Münchau. FT.com, 19 Fev 2012. A senior German official has told me that his preference is to force Greece into an immediate default. I can therefore only make sense of Mr Schäuble’s proposal to postpone elections as a targeted provocation intended to illicit an extreme reaction from Athens. If that was the goal, it seems to be working.

    Greek D-Day: Slog US source conforms Wall St plans as secret Berlin timetable emerges. The Slog, 19 Fev 2012. (…) for well over a month now, the Obama Administration’s conclusion has been a dead cert Greek default. The job of the President, the security services, the Reserve and the Treasury is to protect the United States from the consequences of that, and that’s just what they’ve been doing.”

    Drawing up plans for Greece to leave the euro. Bruno Waterfield. Telegraph, 18 Fev 2012. Plans for Greece to default, potentially leaving the euro, have been drafted in Germany as the European Union begins to face up to the fact that Greek debt is spiralling out of control - with or without a second bailout.

domingo, outubro 16, 2011

Dívida odiosa!

Poderemos mesmo não pagar?

As manifestações de ontem em Portugal foram menos expressivas do que a convocada pela chamada Geração à Rasca. Foto: Roma, 15/10/2011

Os especuladores privados, os governantes aventureiros e os grupos de interesses instalados nos parlamentos podem e devem ser económica e criminalmente penalizados pelas suas responsabilidades directas na crise das dívidas soberanas europeias. Mas para além deste apuramento de responsabilidades, exigível em qualquer democracia, podem os povos, nomeadamente o português, renunciar às dívidas públicas e privadas que contraíram e que estão desde 2007 a conduzi-los ao colapso financeiro, económico e social? Foram estas dívidas resultado apenas da especulação financeira per se, ou também traduzem uma fuga em frente de economias encalhadas e o fim de uma ilusão colectiva de prosperidade alimentada ao longo das últimas três décadas por governos e regimes parlamentares cada vez mais populistas e irresponsáveis? Serão mesmo odiosas as actuais dívidas americana, inglesa, belga, francesa, italiana, espanhola, portuguesa ou grega? Creio que não. Nem sequer podemos compará-las aos casos irlandês e islandês — onde os colapsos ocorreram sobretudo por efeito de bolhas especulativas recentes, exclusivamente financeiras e claramente indexadas à ganância individual e colectiva.
“Quando um regime déspota contrai uma dívida, não para as necessidades ou interesses dum estado, mas em vez disso para reforço pessoal, para suprimir a insurreição popular, etc, esta dívida é odiosa para o povo e todo o estado. Esta dívida não obriga a nação; é uma dívida do regime, uma dívida pessoal contraída pelo governante, e consequentemente ela cai com o regime. A razão pela qual estas dívidas odiosas não podem ser ligadas ao território do estado reside no incumprimento de uma das condições que determina a legalidade das dívidas do Estado, nomeadamente que estas dívidas devem ser incorridas, e os dividendos usados, para satisfação das necessidades e interesses do Estado. As dívidas odiosas, contraídas e utilizadas para fins que, com o conhecimento do emprestador, são contrários aos interesses da nação, não obrigam a nação – quando sucede que o governo que as contraiu é derrubado – excepto quando a dívida está nos limites das reais vantagens que estas dívidas possam ser suportadas. Os emprestadores cometeram um acto hostil contra o povo, e não podem esperar que a nação que se libertou de um regime déspota assuma tais dívidas odiosas, que são dívidas pessoais do antigo governante.” — in Wikipéia, “Dívida odiosa”.
Este texto publicado na Wikipédia resume a posição do jurista russo, Alexander Sack, que formalizou pela primeira vez, em 1927, a ideia de que os Estados e os povos não são obrigados a pagar as dívidas odiosas, isto é, dívidas contraídas por regimes ilegais ou despóticos contra o interesse dos próprios povos. Não foi isto, porém, que aconteceu na Grécia, em Espanha, ou em Portugal.

Édouard Manet (1832-1883) — Exécution de l'Empereur Maximilien du Mexique (1868)

Benito Juárez, considerado o Lincoln mexicano, opôs-se e derrotou o imperador de pacotilha imposto militarmente ao país por Napoleão III, restaurando a soberania mexicana legítima e dando lugar à consolidação dos modernos Estados Unidos Mexicanos. O império ilegítimo de Maximiliano durou escassos três anos, mas contraiu enormes dívidas. Com o regresso da república, o governo de Juárez, com o apoio dos Estados Unidos da América, repudiou a dívida acumulada por Maximiliano.

Também a junta militar que viria a governar Cuba após a sua independência repudiou a dívida colonial, recusando-se apagar as dívidas contraídas nomeadamente durante a guerra de independência que culminaria na derrota espanhola em 1898.

Casos recentes de dívidas consideradas odiosas atingem os credores de países como o Iraque de Saddam Hussein. Em todos os casos, porém, o repúdio das dívidas não tem sido nunca um acto isolado do devedor, mas o resultado de alianças diplomáticas envolvidas na disputa de influências e territórios, quase sempre enquadradas por movimentos geoestratégicos regionais. A justificação para o repúdio de uma dívida odiosa pressupõe a demonstração da ilegitimidade do poder que a contraiu. Não há nenhum caso de repúdio de uma dívida soberana por parte de um estado de direito democrático.

Talvez por esta razão, o argumento do repúdio da dívida odiosa tenha vindo a ser substituído pela ideia da chamada reestruturação das dívidas soberanas, nomeadamente europeias, ou seja, por um repúdio parcial das dívidas, envolvendo os credores numa redução forçada dos dividendos e juros especulativos esperados — o chamado haircut.

Mas uma vez que o repúdio é parcial, parte muito substancial das dívidas terá mesmo que ser paga!

E o pagamento destas é induzido sob a forma de uma suspensão parcial do crédito ao devedor, de uma subida do preço do dinheiro disponível, de uma desvalorização dos activos do devedor e da correspondente venda ao desbarato dos mesmos, do assalto fiscal à poupança privada, de uma dramática destruição de empresas e de empregos, da diminuição brutal da despesa pública (com especial incidência na prestação dos serviços educativos, sociais e nas pensões), de uma diminuição duradoura dos salários, vencimentos e subsídios, e, em suma, da acentuada e prolongada perda de poder de compra da esmagadora maioria da população. Ou seja, o empobrecimento real dos países com dívidas soberanas exageradas, como o nosso, é uma inevitabilidade. O mais parecido com esta situação, é a que decorre de uma guerra perdida.

Mas assim como a Alemanha, por duas vezes em bancarrota, e por duas vezes vencida na guerra, teve que sofrer os espinhos de colossais dívidas por pagar, mas exigiu um plano de pagamentos exequível (ler este oportuno artigo de Avelino de Jesus sobre o Acordo de Londres de 1953 —Negócios online), também agora, por maioria de razão, a resolução da crise do endividamento privado e soberano europeu terá que passar por uma difícil mas imprescindível negociação.



Indignados buscam identidade e projecto

A menor aderência à manifestação de ontem, promovida pelo Indignados, faz-me supor que começa a haver no país uma interiorização não maniqueísta do grave problema em que estamos metidos. As responsabilidades, nem são só recentes, nem são só "socialistas", nem são só dos banqueiros, nem podem ser resolvidas sem uma responsabilização partilhada, activa e exigente, e uma enorme vontade colectiva de ultrapassar a ameaça de radical empobrecimento que pesa sobre nós e sobre os nossos filhos e netos.

Nesta fase da crise devemos manter um espírito aberto às opiniões e até ao experimentalismo social. O pior que nos poderia acontecer seria continuarmos a alimentar a passividade colectiva com o pretexto de que há quem pense por nós. Não há! Não podemos mesmo confiar mais nas burocracias partidárias, sindicais e corporativas que nos conduziram alegremente até ao fosso em que estamos. O grau de paralisia oportunista da nomenclatura que conduziu a quase democracia portuguesa à bancarrota é a pior conselheira a que neste momento podemos recorrer. Daí a importância dos movimentos cívicos independentes, não apenas aqueles que se manifestam (e devem manifestar-se!) na rua, mas também, e talvez sobretudo, aqueles que começam a organizar-se nos mais modestos e invisíveis organismos sociais, desde logo em casa, no trabalho e nos bairros.

A primeira coisa a exigir do poder não são férias pagas, nem subsídios de natal, nem viagens de borla, nem universidades gratuitas, mas sim trabalho! O governo é responsável, não só por impedir o colapso bancário do país, mas também pela criação directa de emprego produtivo para os mais de 500 mil desempregados actuais. Só o que pagamos a mais nas facturas da EDP daria para criar mais de 200 mil empregos produtivos! O Estado português já não pode ser um lender of last resort, pois está falido, mas pode, se gerir melhor o que tem, e negociar seriamente com os credores, ser um empregador de último recurso (não confundir com manter ou aumentar o funcionalismo público actual), desde que assuma as suas responsabilidades democráticas.

Para tal terá que imaginar o futuro, evidentemente, em vez de se perder no atendimento dos telefonemas das ratazanas atarantadas que não largam as tetas orçamentais.

Diminuir a intensidade energética da nossa economia, aumentar drasticamente a eficiência energética dos nossos edifícios (a começar pelos públicos), requalificar as cidades, criar uma nova rede ferroviária de bitola europeia para mercadorias e passageiros, requalificar os portos e relançar a indústria naval (navios de cabotagem, navios de recreio, acessórios náuticos, etc.), desenvolver o turismo residencial e sustentável, lançar um programa de defesa e valorização responsável da floresta portuguesa (com especial incidência no pinheiro e nas espécies de grande valor económico, como o sobreiro e a azinheira, o castanheiro, etc.), ou apostar na recuperação da agricultura em minifúndio, pela via das fileiras ecológica e dinâmica, são caminhos que, ao contrário dos modelos burocráticos, clientelares e especulativos da macro-economia ainda vigor, poderão fazer rapidamente a diferença e tirar o país da fossa para onde a irresponsabilidade, corrupção e cobardia de uma nomenclatura egoísta e populista atirou o país.


quarta-feira, junho 15, 2011

A crise das democracias: Grécia, Espanha e Portugal

Em 1976 o marxista grego Nicos Poulantzas, escreveu A Crise das Ditaduras: Portugal, Grécia e Espanha. Hoje, se fosse vivo, teria que escrever A Crise das Democracias: Grécia, Espanha e Portugal.


LIVE STREAMING: Η Αγανάκτηση των Ελλήνων por News247

China’s central bank used its annual financial stability report to sound one of its starkest warnings yet about Europe’s debt mire, saying a series of rescue measures had helped stabilise the situation but not tackled the root causes.

The report stated: "There is a possibility that the sovereign debt crisis will spread and deteriorate." Read more: Irish Examiner (15-06-2011)

O impasse na reunião de emergência entre os ministros das finanças da zona euro, atirando para o princípio de Julho a tomada de decisão sobre a reestruturação da dívida grega, poderá conduzir este país a uma nova revolução, só que desta vez, contra a democracia degenerada e falida a que os partidos locais conduziram o regime saído da queda ditadura militar há mais de trinta e cinco anos.

Tal como em 1974-1976, poderemos voltar a assistir ao efeito Dominó que Nicos Poulantzas então analisou na perspectiva dos colapsos das mais duradouras ditaduras europeias do pós-guerra —Portugal, Grécia e Espanha. O plano de austeridade imposto pelos credores ao parlamento ateniense (onde hoje parece ter-se instalado o Campus da próxima revolução), e sem o qual não haverá mais empréstimos externos, implica o despedimento imediato de 140 mil funcionários públicos e/ou equiparados, e o corte de milhares de subvenções de que hoje vivem dezenas ou centenas de milhar de gregos. O horizonte imediato não poderia ser mais sombrio —ver este gráfico do Índice de Miséria grego.

O BCE de Jean-Claude Trichet não quer que os ricos paguem a crise (na linguagem da Esquerda), ou seja, opõe-se a que os credores privados levem uma tesourada nos juros (o já famoso haircut) a que acham ter direito integralmente — como se não houvesse uma crise financeira que ameaça destruir o euro, e uma crise social e política que pode resvalar de forma incontrolável para um dominó de revoluções populistas por toda a Europa, ou como se o negócio das dívidas soberanas não tivesse evoluído, como todas as bolhas especulativas deste Capitalismo tardio e sem futuro à vista, para taxas de juro e dividendos esperados na zona perigosa da pura agiotagem financeira! Tudo isto é verdade e sério, mas o BCE tem razão em dois pontos:
  1. se os credores da dívida soberana grega forem forçados a um desconto nos juros esperados, na ordem dos 25-30%, trocando os títulos actuais por novos títulos, com juros mais baixos e/ou prazos de maturidade mais alargados, os governos e os partidos populistas, imprudentes e irresponsáveis, mais os insaciáveis devoradores de poupança privada (pela via do saque fiscal) e do endividamento público, tomarão a generosidade por fraqueza e assumirão que o crime compensa — ou seja, quando as novas maturidades caírem, terão levado de vez a Grécia, e os países que seguirem a mesma receita demagógica, ao fundo;
  2. se houver, por parte dos credores, uma partilha solidária da despesa do endividamento orgiástico das democracias populistas que hoje abundam por essa  Europa fora, o BCE, que recebeu resmas e resmas de papel soberano como garantia das centenas de milhar de milhões de euros que já emprestou aos bancos privados (a 1%) para comprarem dívida europeia (com rendimentos esperados no mercado secundário que já atingiram, nalguns casos, os 28%!), ficará com um enorme vazio nos seus cofres, e verá a sua notação financeira cair a pique! Alguém já pensou nas consequências que uma tal depreciação do BCE poderá ter na integridade do projecto europeu?
Vários governos europeus (Áustria, Alemanha, Holanda, Finlândia, Bélgica), pelo contrário, defendem que os credores sejam parte da solução e não uma parte mais do problema. Uma tesourada nos lucros esperados pelos especuladores da bolha soberana europeia, feita a tempo, com parcimónia, poderá evitar o pior, isto é, poderá impedir o rebentamento descontrolado da bolha soberana grega, à qual se seguirá, se efectivamente explodir este mês ou em Julho, um dominó de explosões descontroladas, em Espanha, Portugal, etc. Seria preferível que este tipo de explosões muito perigosas, a terem que ocorrer, começassem nos EUA, ou no Reino Unido, e não em Atenas! Mas será realista um tal cenário, ou vamos mesmo assistir a uma matança de porcos no Sul da Europa antes da época própria?

A Reserva Federal americana canalizou 600 mil milhões de dólares para bancos europeus, canadianos e japoneses, sendo que a maior fatia foi mesmo parar à Europa!

And one wonders why suddenly German banks are so willing to take haircuts on Greek bonds: it is simply because courtesy of their US based branches which have been getting the bulk of the Fed's dollars in 1 and 0 format, they suddenly find themselves willing and ready to face the mark to market on Greek debt from par to 50 cents on the dollar. And not only Greek, but all other PIIGS, which will inevitably happen once Greece goes bankrupt, either volutnarily or otherwise. In fact, the $600 billion in cash that was repatriated to Europe will mean that European banks likely are fully covered to face the capitalization shortfall that will occur once Portugal, Ireland, Greece, Spain and possibly Italy are forced to face the inevitable Event of Default that will see their bonds marked down anywhere between 20% and 60% — in Zero Hedge.

A hipótese da tesourada ganha pois força entre os bancos recentemente confortados pelo afluxo de liquidez virtual oriundo das suas sucursais americanas —BNP Paribas, Barclays, Credit Suisse, Deutsche Bank, HSBC, UBS. Estes gigantes financeiros, e o seus aliados, esperam apenas o momento oportuno para desencadear um voo de rapina e de concentração financeira sem precedentes na zona euro; ainda por cima, com o apoio de um número crescente de governos e partidos de esquerda. Trata-se, afinal, de levar os ricos a pagar, pelo menos, uma parte da crise, em nome de um estado de bem estar social atolado de dívidas, maus hábitos e contradições irresolúveis. No entanto, uma coisa é certa: se esta opção vingar, as grandes empresas e bancos portugueses cairão paulatinamente na rede de unificação económico-financeira europeia acabada de montar.

A posição mais suave e contemporizadora do futuro director do BCE, Mario Draghi, fará provavelmente caminho, ainda que um caminho tendencialmente favorável à teoria da tesourada, por contraposição à teoria da dívida odiosa, que começa a ganhar cada vez mais adeptos!

Por agora, ninguém sabe exactamente onde a revolução grega irá parar...

O governo supostamente socialista está praticamente demissionário e suplica uma coligação com a Direita parlamentar (ler notícia no Público). Em Portugal, o Partido Socialista lusitano terá mesmo que acelerar o passo na substituição da ainda vigente, mas completamente inútil e execrável, direcção socratina — pois a actual coligação de centro-direita poderá não ser suficiente para as encomendas. O perigo de uma restauração anti-democrática pode espreitar ao virar da esquina... antes mesmo de o frio propício à matança do porco chegar.

É cada vez mais difícil ler as folhas de chá. Mas tentarei fazê-lo nos dias e meses cada vez mais difíceis que se aproximam.

terça-feira, junho 07, 2011

Não pagamos?

Estamos no meio duma guerra financeira!
Precisamos de um sistema de forças, de definir correctamente os objectivos, de liderança, de estratégia e de aliados.

Manif. Grécia, 11 de maio, 2011

Como sair da armadilha do endividamento especulativo e da economia virtual para onde fomos arrastados ao longo das últimas duas décadas? Como impor aos credores, sobretudo aos que especularam e especulam com os mercados da dívida, uma repartição equitativa dos prejuízos?

“A UE substituiu os Estados nacionais pela planificação dos banqueiros e, por essa via, a política democrática foi substituída pela oligarquia financeira.” — inWill Greece Let EU Central Bankers Destroy Democracy? A World at Financial War” (6 de Junho de 2011), por Michael Hudson.

De leitura obrigatória, este artigo de Michael Hudson permite-nos uma reflexão mais equilibrada (ainda que deixando de fora as causa estruturais da presente crise financeira ocidental) sobre os desafios dramáticos que temos pela frente: onde estaremos depois de gastar os 78mM€ obtidos pela Troika nos mercados a que já não conseguimos aceder salvo pagando juros suicidas? O dinheiro que vai chegando, com exigências crescentes, serve para pagar facturas atrasadas aos principais credores (Espanha, Alemanha, França e Reino Unido), mas também muitas facturas recentes, provavelmente indevidas, por resultarem do ataque desencadeado pela especulação financeira contra as dívidas soberanas da periferia europeia.

Qual será o preço final do dinheiro fresco que chega, para logo sair em direcção aos credores? Pode ou não acontecer que, depois de os investidores e especuladores recuperaram o seu dinheiro, mais os juros agiotas que conseguiram impor com o auxílio do pelotão de sabotadores das agências de notação, ameaçando expropriar literalmente os nossos melhores activos, a Troika acabe por confessar que o país é insolvente e que por esta razão deverá sair do euro, ou submeter-se a uma governação directa do exterior?

Temos que discutir estas dramáticas perguntas, sem cair na tentação do pensamento linear e completamente inútil dos partidos que, apesar de pagos pelos contribuintes, se recusam a negociar com o inimigo. Na Grécia, actualmente governada por socialistas à beira de serem acusados de traição, é a direita que tem vindo a colocar as questões patrióticas que naturalmente se impõem.

Há uma guerra financeira em curso, como estou farto de sublinhar. Temos que identificar claramente o que está em causa, os teatros de operações, os adversários e os objectivos. E depois, como é óbvio, teremos que defender a integridade do nosso território, como parte indispensável do próprio processo de integração europeia. A União Europeia não pode ser trocada, sob a ameaça terrorista dos mercados especulativos, por uma espécie de feudalismo financeiro e tecnológico, como bem refere Michael Hudson. Regras, coerência e supervisão europeias, sim. Nem sequer contesto, antes pelo contrário, um governo europeu com poderes acrescidos sobre os vários estados-membros da União. Mas não podemos confundir esta trajectória em direcção a uma futura, efectiva e eficiente soberania europeia, com a submissão dos burocratas europeus ao poder cego do dinheiro. Se os dirigentes europeus pensam que podem vender a União a retalho, ou pior ainda, destruí-la em nome de um qualquer imperialismo franco-alemão de trazer por casa, preparem-se para um novo pesadelo! Sem racionalidade económica assente numa visão estratégica efectivamente europeia e solidária, a Europa caminhará inexoravelmente para uma nova guerra civil. É isso que querem os especuladores e os burocratas de Bruxelas, Paris e Frankfurt?

A condição necessária para que arranque o novo pacote “reformado” de empréstimos é que a Grécia entre numa guerra de classes aumentando os seus impostos e rebaixando os gastos sociais – incluindo as pensões do setor privado – e liquide e ponha em leilão terrenos públicos, enclaves turísticos, ilhas, portos, água e sistemas de esgoto. Isto aumentará o custo de vida e o custo de fazer negócios, atingindo a já limitada competitividade das exportações do país.

[...] E no que diz respeito às próprias classes ricas gregas, o pacote de empréstimos da União Europeia conseguiria manter o país na eurozona o tempo suficiente para que retirassem o seu dinheiro do país, antes de chegar o momento em que a Grécia seja forçada a abandonar o euro, regressando a um dracma rapidamente desvalorizado. Enquanto não chegar o momento deste regresso a uma moeda própria em queda, a Grécia terá que seguir a política báltica e irlandesa de “desvalorização interna”, isto é: de deflação salarial e corte de gastos públicos – exceto para pagar o setor financeiro – a fim de diminuir o emprego e, assim, os níveis salariais.

O que realmente se desvaloriza nos programas de austeridade ou de desvalorização monetária é o preço do trabalho. Ou seja, o principal custo interno, já que há um preço mundial comum para combustíveis e minerais, bens de consumo, alimentos e até crédito. Se os salários não puderem ser reduzidos pela via da desvalorização interna (com um desemprego que, começando pelo setor público, induza quedas salariais), a desvalorização da moeda acabará por fazer o trabalho que resta até o fim.

É assim que a guerra dos países credores contra os países devedores na Europa se torna uma guerra de classes. Mas para se impor tamanha reforma neoliberal, é preciso que a pressão externa passe ao lado dos parlamentos nacionais democraticamente eleitos. Pois não é de se esperar que os eleitores de todos os países se mostrem tão passivos como os da Letónia e da Irlanda quando se age manifestamente contra os seus interesses.

[...] As finanças são uma forma de guerra. Como na conquista militar, o seu objetivo é garantir o controle do território e das infraestruturas públicas, e impor tributos. Isso envolve ditar leis aos seus súditos e concretizar a planificação social e económica de forma centralizada. Isto é o que se está fazendo agora com meios financeiros, sem o custo, para o agressor, de ter que colocar um exército no campo de batalha. Mas as economias sob ataque podem terminar tão profundamente devastadas pelos rigores financeiros quanto seriam por investidas militares, provocando a contração demográfica, o encurtamento da esperança média de vida, emigração e fuga de capitais.

in “Golpe de estado financeiro ameaça democracia europeia”, Carta Maior.