segunda-feira, outubro 26, 2009

TAP 7

Ryanair:
Porto-Faro: 1 milhão de voos a €6!



Os criadores de aeromoscas deveriam meditar bem neste quadro,
que passei a manhã a desenhar. OAM.



Porto-Faro por €30! Bilhetes esgotados.
  • A TAP cobra pelo mesmo voo €179 :-(
  • O turismo algarvio está em pulgas :-)
  • Menos carros para o Algarve :-)
  • Menos emissões de CO2 :-)
  • Menos negócio para a Brisa :-(
  • Um grande empurrão para as economias regionais do Norte e do Algarve :-)
  • 30% do mercado da TAP já passou para as Low Cost :-(
  • A TAP caminha rapidamente para o precipício — como há muito a blogosfera avisou :-(
  • Um xeque-mate às ideias peregrinas da Tríade de Macau e do Bloco Central do Betão!
O aeroporto Sá Carneiro transforma-se paulatinamente no Hub Low Cost do Noroeste Peninsular. Entretanto, se os otários da Mota-Engil-BES-Stanley Ho-Governo Sócrates continuarem a confiar no gaúcho da TAP —em vez de consultarem o horóscopo do António Maria e a sua imbatível assessoria técnica e estratégica—, o mais provável é que o golpe de misericórdia que levará à quebra irreversível da TAP venha de Badajoz! Sim, da transformação do aeroporto de Badajoz, que tem uma pista com 2805 metros, num novo Hub Low Cost!

A futura Eurocidade de Elvas-Badajoz, depois de ver construída a estação ferroviária do Caia (2013? 2015?), destinada ao serviço de Alta Velocidade /Velocidade Elevada (1), que levará pessoas e mercadorias até ao Pinhal Novo, para dali seguirem para o Campo Grande (via Fertagus e Ponte 25 de Abril) ou para Sines e Setúbal (via linhas complementares em bitola europeia), poderá muito bem ser a futura base para voos de Baixo Custo que, como se compreende, deixarão Lisboa no dia em que ficarem sem a Portela e forem convidados a pagar altas taxas aeroportuárias no prometido aeromoscas intercontinental da Ota-em-Alcochete. O aeromoscas de Beja, do genial Augusto Mateus está aí para nos ensinar o preço da ignorância, da leviandade, da irresponsabilidade, da ganância e da... corrupção!

As novas prospectivas relativas ao comércio mundial, ao transporte aéreo e ao turismo aconselham o máximo de prudência (2). O endividamento do Ocidente (EUA e Europa), por sua vez, não recomenda outra coisa! Daí, não nos cansamos de insistir, que a decisão prudente em matéria de aeroportos, até que o estado crítico global da economia dê lugar a novos paradigmas, passe por:
  1. manter operacional o aeroporto da Portela, fazendo as obras que nunca foram feitas —prolongamento do taxyway, modernização radical do sistema de gestão e transporte de bagagens e utilização pela TAP das inúmeras mangas disponíveis (3);
  2. substituir os seus incompetentes gestores por gente nova, profissional e séria;
  3. melhorar o aeroporto de Tires para os voos executivos;
  4. adaptar a Base Aérea do Montijo para servir as companhias Low Cost;
  5. fechar a TAP e criar uma nova companhia, numa lógica de reforço da Star Alliance, e porventura sob administração da Lufthansa (numa lógica semelhante à que presidiu à passagem da KLM para uma companhia nova chamada Air France-KLM), ainda que previamente a TAP possa ter que engordar por via de uma fusão intercontinental qualquer (Angola+Brasil+China?)
Há coisas simples que é preciso não ignorar na hora de pensar o futuro dos aviões no nosso país:
  • 86% do mercado aeroportuário de Lisboa está circunscrito ao espaço comunitário (tal como 60-70% das nossas trocas comerciais se fazem também com a União Europeia) e esta realidade não vai mudar nas próximas décadas. Antes pelo contrário...
  • É por isso que 92% dos aviões da TAP são da classe Narrow Body — i.e. não transportam mais de 200 passageiros.
  • Não se troca de aeronaves como quem troca de camisa, até porque as da TAP estão, em boa medida, por pagar!
  • O grupo TAP tem cerca de 10 mil trabalhadores, tantos como a easyJet, a Ryanair e a Air Berlin juntas!
  • Nenhum angolano, nem mesmo brasileiro, estará na disposição de alimentar este inacreditável grau de ineficiência e desperdício a Pão de Ló.
  • Só mesmo o Estado mafioso que temos pode fazê-lo. Ou melhor, podia, até que o peso acumulado e incontrolado da dívida externa, dívida pública, défice orçamental e défice comercial chegou ao ponto a que chegou.
  • A margem de manobra da tríade de Macau e do Bloco Central da Corrupção chegou ao fim!
Acordemos, pois, para as duras realidades.


Post scriptum — ouvi, horas depois de publicar este post, o Prof. Luís Campos e Cunha no Jornal das Nove (SIC) comentando com a sua sensatez e sobriedade habituais as expectativas que rodeiam o governo Sócrates 2. Retive dois pontos que interessam ao conteúdo do que aqui escrevo. 1 — Adiar o novo aeroporto até ver foi, se bem entendi, a sua posição. Se entendi bem, aplaudo. 2 — Depois, pareceu-me ouvi-lo dizer que era contra o TGV. Assim, sem mais, invocando o péssimo exemplo norte-americano nesta matéria. Defendeu, no entanto, o comboio pendular (uma variante optimizada do "nosso" enviesado Alfa Pendular —da FIAT/Alstom, do Pendolino italiano e do muito eficiente Talgo espanhol), sobretudo por uma questão de eficiência energética e de custos, e por cumprir expectativas razoáveis de velocidade numa economia cuja performance não é propriamente supersónica.

Estou de acordo que a velocidade não precisa de ir além dos 250Km/h, que os 350Km/h deixaram de fazer qualquer sentido, quanto mais não seja porque Espanha reduziu recentemente o limite máximo da AV para 300Km/h. Mas o ponto essencial não é este! A opção não é entre comboios, mas entre manter a actual rede de bitola ibérica ou substitui-la progressivamente por uma rede de bitola internacional. O que importa ressaltar é a necessidade absoluta de meter Portugal na rede europeia de bitola internacional (dita europeia), substituindo de forma planeada e faseada toda a sua a actual rede de bitola ibérica, a qual, a partir de 2020, deixará pura e simplesmente de poder ligar-se à rede AV/VE nacional, bem como a qualquer ponto da rede ferroviária espanhola — e portanto ao resto da União Europeia!

É isto que está em causa. E se virmos bem, a dimensão gigantesca deste desafio daria para colocar a economia portuguesa num ritmo completamente diverso do actual marasmo especulativo das actividades de import/export, de subsídio-dependência canina e de assalto nepotista e partidário às Finanças Públicas. Diferente para melhor, sobretudo se regressasse a Portugal a indústria ferroviária (como propõe Gabriel Órfão Gonçalves). Uma indústria não apenas focada no hardware, mas também no software, no desenho e nas ideias!

O mais recente livro de Jeff Rubin, Why Your World Is About to Get a Whole Lot Smaller, fala de um virar da esquina energética. O petróleo acima dos 100 euros regressará em breve (2011-12), e com esse regresso, sem comboios eléctricos ficaremos muito provavelmente atolados no betão que enriqueceu os bolsos dos crápulas que nos têm governado nos últimos 30 anos.
"We will see triple digit oil prices very early into an economic recovery"

"I expect we will be there within 12 months."

"By 2012, we will either be in a world of $200 per barrel oil or we will be back in another oil-induced recession."

"West Texas Intermediate (the North American benchmark crude) is trading over $70 per barrel in the shadow of the American economy's deepest post-war recession when there is little evidence yet of a concrete economic recovery; yet only two and a half years ago, today's post-recession oil price was an all-time record high."


NOTAS
  1. AV: Governo avança com mais duas linhas

    Afinal, não serão três mas cinco as linhas de Alta Velocidade que o novo Governo se proporá concretizar. Aveiro-Vilar Formoso e Évora-Faro-Huelva também deverão avançar. [...]

    O Aveiro – Viseu – Vilar Formoso é defendido por todos quantos entendem que essa será a forma mais directa de chegar à Europa trans-pirenaica sem passar por Madrid. E também em função de ser o corredor da actual A25 a principal via para o tráfego de mercadorias à saída de Portugal. Transportes&Negócios.

    AV: Privados “obrigados” a reduzir riscos do Estado

    As propostas concorrentes à concessão do troço Poceirão-Caia da linha de AV Lisboa-Madrid implicavam demasiados riscos para o Estado, considerou a comissão de avaliação. Os privados corrigiram-nas e em meados de Novembro deverá ser confirmado o vencedor anunciado: o consórcio Elos (Brisa/Soares da Costa).

    “Medíocres” terá dito a comissão de avaliação das propostas apresentadas pelos concorrentes à primeira PPP da Alta Velocidade nacional, quanto aos riscos técnico-financeiros, avança hoje o “JdN”. Em causa condições que aumentariam “o risco do Estado de forma que o júri entende ser inaceitável na contratação da parceria, não podendo ser recomendado ao Governo que as aceite, quaisquer que sejam as circunstâncias”.

    Um exemplo: ambos os concorrentes finalistas pretenderiam que o Estado avalizasse por 20 anos o empréstimo de 300 milhões de euros que será contratado pelo futuro concessionário junto do BEI. O júri entende que essa exposição só será aceitável durante o tempo de construção, e não pelo período de manutenção da linha.

    Ao que o “JdN” avança, ambos os consórcios terão aceite emendar as suas propostas até à passada sexta-feira, último dia possível. E assim tudo se encaminha para que a concessão seja entregue ao consórcio Elos.

    O agrupamento liderado pela Brisa e Soares da Costa propõe um custo de construção de 1 359 milhões de euros e um encargo anual de manutenção de 12,2 milhões de euros. Já o consórcio Altavia, liderado pela Mota-Engil, propõe 1 334,2 milhões e 18,8 milhões de euros, respectivamente. Transportes&Negócios.

  2. Aeroportos perdem 1 milhão de passageiros em 2009

    Dados da ANA mostram que os aeroportos portugueses continuam a sentir os efeitos da crise. Nos primeiros nove meses do ano passaram por Lisboa, Faro, Porto e Açores menos 1 milhão de passageiros. Económico (26-10-2009)

  3. O não uso pela TAP das mangas disponíveis (que ligam directamente os aviões, passageiros e bagagens aos terminais) é um dos maiores e mais incompreensíveis constrangimentos à boa gestão do aeroporto da Portela. A verdadeira razão da não utilização das mangas na Portela deve-se ao conflito de interesses entre a ANA, a Groundforce e a TAP! E o grave deste bloqueio é que tem trazido água ao moinho mentiroso dos defensores da Ota em Alcochete, em nome do falacioso, ou melhor, completamente falso argumento do esgotamento da Portela. Ler a propósito este elucidativo PDF de Rui Rodrigues.


OAM 642 26-10-2009 18:33 (última actualização: 28-10-2009 11:31)

sexta-feira, outubro 23, 2009

Alta Velocidade 5

Hoje querem implodir os estádios do Euro, amanhã será a vez do aeromoscas de Beja e do elefante branco da Ota em Alcochete

Comboios

Cavaco que se prepare para o que o Rei de Espanha lhe vai dizer sobre o AVE Madrid-Lisboa. Vai ouvir das boas!

Obrigar o comboio de Alta Velocidade Madrid-Lisboa a transferir mercadorias para comboios de bitola ibérica (1) no Poceirão é como impor a Espanha uma portagem extraordinária no fluxo de mercadorias de e para os portos de Setúbal, Lisboa e Sines, ao mesmo tempo que se mata à nascença a Plataforma Logística do Caia (Elvas-Badajoz). O resultado pode ser este: a Espanha desiste de ligar a sua rede de Alta Velocidade/Velocidade Elevada a Portugal, por óbvia inviabilidade económica, apostando tudo nos seus próprios portos atlânticos: a Norte, Vigo, Corunha, Ferrol, Bilbau, e a Sul, Cádis e Huelva.

Aviões

O fiasco, aqui anunciado até à exaustão, do aeromoscas de Beja, que nunca mais inaugura..., é o mesmo fantasma que paira sobre o aeroporto da Ota em Alcochete. Despertem!!

Construir o aeroporto da Ota em Alcochete com a TAP falida é o mesmo que fazer estádios de futebol para equipas que depois falem... Hoje querem destruir os estádios de Leiria, Aveiro e Faro. Amanhã, se a Mota-Engil e o BES conseguirem —como tudo leva a crer— levar por diante a loucura da Ota em Alcochete, a Terceira Travessia Chelas-Barreiro e o encerramento do aeroporto da Portela, cá estaremos para admirar o grande fiasco da governação "socialista" — que ficará conhecida por ter parido estádios de futebol que afundam municípios e dois grandes desertos aeroportuários: o de Beja e o da Ota em Alcochete.

84% do tráfego no aeroporto de Portela tem origem no perímetro da União Europeia, cujo modelo de exploração tem vindo a evoluir para as chamadas companhias Low Cost. Não há pois alternativa à falência da TAP (o petróleo voltou a subir!) e à sua eventual substituição por uma nova companhia profundamente remodelada e necessariamente com menos 50% ou mesmo 2/3 da sua actual força de trabalho.

A miragem de uma fusão com a TAG e com a TAM, ou seja, a miragem de uma acção de salvamento in extremis da inviável TAP, com petro-euros angolanos e brasileiros, não passa disso mesmo: duma miragem gaúcha, que o lóbi da especulação financeira e do betão —verdadeiros sanguessugas da poupança nacional— aproveita para fazer avançar os dossiês e os decretos-lei que mais lhe convêm.

Dentro em breve as Low Cost terão comido literalmente o mercado europeu à TAP (i.e. 84% do mercado efectivamente disponível). Por outro lado, os voos intercontinentais estão em queda e o respectivo modelo de exploração evoluirá muito rapidamente — assim que o Dreamliner da Boeing entre em operação (2010-2012) — para ligações ponto-a-ponto, à semelhança das estratégias Low Cost. Ou seja, Lisboa não poderá ter se não um aeroporto cada vez mais orientado para as ligações ponto-a-ponto e para os voos Low Cost. O resto, isto é, as companhias de bandeira gordas e arregimentadas às nomenclaturas político-partidárias, bem como os famosos "hubs", morreram! O funeral segue dentro de meses...

Eu se fosse o Stanley Ho abandonava de vez a Alta de Lisboa e começava a pensar em licitar quanto antes o lombo da TAP, i.e. o seu qualificado pessoal de voo. O fruto está a cair de maduro!


NOTAS
  1. Algo que o novo ministro da obras do Bloco Central do Betão (MOPTC) —António Mendonça—ainda não sabe o que é! Ver tb. bitola europeia ou bitola internacional.

OAM 641 23-10-2009 14:30

quinta-feira, outubro 22, 2009

Portugal 135

Novela sórdida da TVI
Prisa nos eixos depois de adiar colapso financeiro com a venda de 35% da Media Capital.

In Illo Tempore: quem deu emprego a Fernanda Câncio no DN? Resposta: Henrique Granadeiro. Quem depois pôs o Granadeiro na PT: José Sócrates! Quem deu o primeiro passo, a pedido de Sócrates (claro!), para calar a Manuela Moura Guedes? Henrique Granadeiro. Quem deu o segundo (porque o primeiro foi em falso)? O franquista recauchutado que dirige o grupo Prisa! Quem insistiu e acaba de conseguir controlar a TVI? A PT superiormente comandada pelo boy socratino: Henrique Granadeiro. Que grande zurrapa!!

Com o estado de falência suspensa da Impresa (para se manter à tona viu-se forçada a dar o Expresso e a SIC como garantia aos bancos!), com o controlo crítico dos conteúdos da TSF e a transformação da RTP num reedição proto-fascista do Secretariado da Propaganda Nacional, só faltava mesmo à máfia que domina o PS controlar a TVI e monopolizar até ao limite a Internet e as comunicações telefónicas fixas, móveis e de dados. Estamos quase lá, ou estou enganado?!

Os meus amigos democratas já pensaram bem no que estão a tolerar?

O caldo de cultura para uma súbita desconstrução do Estado democrático está aí. De um dia para outro, deixaremos de ter democracia, e em seu lugar estará, sem que sequer disso nos tenhamos apercebido, um NOVO FASCISMO, suave como o anterior, mais corrupto do que o anterior, de seringas e tribunais fantoches em punho, capaz de nos esmagar com eficácia bem maior do que Salazar alguma vez imaginou.

Se abandonarmos os princípios, se os trocarmos pelo mísero prato de lentilhas que as eleições dá a alguns, não tenho dúvidas que o colapso acabará por ocorrer. De momento, só deposito esperança em duas coisas: no voto inteligente dos eleitores, e sobretudo no potencial de uma crítica social auto-organizativa que, com palavras e actos, denuncie sistematicamente o desastre que se prepara em múltiplos domínios, e se prepare para exercer de forma proporcional, mas sem hesitação, o seu inalienável direito à liberdade, à justiça, à democracia, à solidariedade e ao bom governo.

LER noticia no Público


OAM 640 22-10-2009 14:15

quarta-feira, outubro 21, 2009

O fim dos EUA e da Europa?

Poderia ter sido escrito por Álvaro Cunhal!

While Americans are sacrificing the future for the present, China is sacrificing the present for the future. — Patrick J. Buchanan.

Transcrevo abaixo parte de um lancinante artigo do conservador Patrick J. Buchanan, escrito em 2003, sobre as causas do colapso iminente dos Estados Unidos da América. A leviana Direita que temos devia estudar com muita atenção cada palavra desta confissão descarnada sobre o que correu muito mal na América, nomeadamente a partir da era Clinton e da sua alegre globalização. E a Esquerda lunática que temos deveria aplicar algum do seu tempo livre a pensar na realidade de chumbo que temos diante de nós — começando por fazer tábua rasa de muitas das convenções e preconceitos ideológicos e analíticos que há décadas entorpecem a sua capacidade de pensar de forma límpida e necessária.

O que está em causa e pode colocar em causa o futuro de Portugal, apesar de fazermos parte da União Europeia, é muito mais amplo e dramático do que se tem pretendido fazer crer. Trata-se de um processo de reversão e translação estrutural do Capitalismo —de facto em curso— em nome da sua sobrevivência desesperada num qualquer outro corpo capaz de o aceitar na sua incurável e descarnada bestialidade inumana, especulativa e gananciosa. A terceiro-mundialização do nosso pais, que não anda muito longe do que se passa noutros países outrora orgulhosos do seu desenvolvimento, a começar pelos Estados Unidos e a Inglaterra, é o cerne de uma súbita e possivelmente fatal doença da modernidade, que a simples administração de melhor justiça, melhor educação ou ética política será insuficiente para salvar.

Teremos, seja como for, de regressar ao trabalho. Isto é, à produção local e regional daquilo que comemos, usamos e amamos. Significa esta decisão rejeitar o Outro? O novo Outro? Não necessariamente, mesmo se tivermos que voltar a traçar uma linha divisória, uma linha de osmose, entre os competidores estratégicos do planeta. Um novo Tratado de Tordesilhas, desta vez entre a Ásia dum lado e a Euro-América do outro.


Death of Manufacturing
The rise of free trade has eroded America’s industrial base and with it our sovereignity.

By Patrick J. Buchanan (August 11, 2003) — in The American Conservative.

(...)

Thirty years have elapsed since our free-trade era began and 30 months since George W. Bush became president. It’s time to measure the promise of global free trade against the performance.

Undeniably, free trade has delivered for consumers. A trip to the mall, where the variety of suits, shoes, shirts, toys, gadgets, games, TVs, and appliances abounds, makes the case. But what has it cost our country?

Every month George Bush has been in office, America has lost manufacturing jobs. One in seven has vanished since his inauguration. In 1950, a third of our labor force was in manufacturing. Now, it is 12.5 percent. U.S. manufacturing is in a death spiral, and it is not a natural death. This is a homicide. Open-borders free trade is killing American manufacturing.

(...) In 1860, Britain abandoned its Britain First trade policy for the free-trade faith of David Ricardo, John Stuart Mill, and Richard Cobden. By World War I, Britain, which produced twice what America did in 1860, produced less than half and had been surpassed by a Germany that did not even exist in 1860.

Free trade does to a nation what alcohol does to a man: saps him first of his vitality, then his energy, then his independence, then his life.

America today exhibits the symptoms of a nation passing into late middle age. We spend more than we earn. We consume more than we produce.

(...)

Manufacturing is the key to national power. Not only does it pay more than service industries, the rates of productivity growth are higher and the potential of new industries arising is far greater. From radio came television, VCRs, and flat-panel screens. From adding machines came calculators and computers. From the electric typewriter came the word processors. Research and development follow manufacturing.

Alexander Hamilton, the architect of the U.S. economy, knew this. He had served in the Revolution as aide to Washington and lived through the British blockades. He had led the bayonet charge at Yorktown. And he had resolved that never again would his country’s survival depend upon French muskets or French ships.

(...)

For 12 decades, America followed Hamilton’s vision. On the eve of World War I, the 13 agricultural colonies on the eastern seaboard had become the richest nation on earth with the highest standard of living, a republic that produced 96 percent of all it consumed while exporting 8 percent of its GNP, an industrial colossus that manufactured more than Britain, France, and Germany combined.

The self-sufficiency and industrial power Hamiltonian policies created enabled us to rearm in security, crush the Axis in four years, rebuild Europe and Japan, and outlast the Soviet empire in a Cold War, while meeting all the needs of our people.

But in the Clinton-Bush free-trade era, Alexander Hamilton is derided as a “protectionist.” Woodrow Wilson’s free-trade dogma is gospel. Result: our trade surpluses have vanished, our deficits have exploded, our self-sufficiency has been lost, our sovereignty has been diminished, and an industrial base that was the envy of mankind has been gutted.

And for what? All that junk down at the mall? What do we have now that we did not have before we submitted to this cult of free trade?

(...)

As a former Friedmanite free trader, let me say it: free trade is a bright shining lie. Free trade is the Trojan Horse of world government. Free trade is the murderer of manufacturing and the primrose path to the loss of national sovereignty and the end of our independence.

(...)

While Americans are sacrificing the future for the present, China is sacrificing the present for the future.

Beijing’s boom began after it devalued its currency in 1994. While a blow to Chinese consumers, devaluation gave Beijing a competitive edge over the other “Asian tigers.” Beijing then invited Western companies to locate new factories there to tap its pool of low-wage labor. As the price of access, Beijing demanded that Western companies transfer technology to Chinese partners. What the companies do not transfer, the Chinese extort or steal.

By offering excellent workers at $2 a day, guaranteeing no union trouble, allowing levels of pollution we would not tolerate, and ignoring health and safety standards, China has become the factory floor of the Global Economy and surpassed the United States as the world’s first choice for foreign investment.

(...)

In 2002, China ran up its largest trade surpluses with us in electrical machinery, computers, toys, games, footwear, furniture, clothing, plastics, articles of iron and steel, vehicles, optical and photographic equipment, and other manufactures. Among the 23 items where we had a surplus with China were soybeans, corn, wheat, animal feeds, meat, cotton, metal ores, scrap, hides and skins, pulp and waste paper, cigarettes, gold, coal, mineral fuels, rice, tobacco, fertilizers, glass. Beijing uses us as George III used his Jamestown colony.

in The American Conservative.


OAM 639 21-10-2009 02:10

terça-feira, outubro 20, 2009

Linha do Tua

Pare, Escute e Olhe !
Alexandre Melo: o mercado já não é a vanguarda!



Um excepcional documentário de Jorge Pelicano. Recordou-me —num registo obviamente mais subtil e informacional, o incendiário filme de Buñuel, "Las Hurdes". Este regresso do cinema verdade e da arte militante não poderia ser mais bem-vindo.

Impedir o fecho da Linha do Tua e a construção da criminosa barragem que a EDP, o senhor Sócrates e a restante pandilha do Bloco Central da Corrupção querem levar por diante, não é uma questão apenas crítica para os habitantes daquele vale belíssimo, para os cidadãos de Mirandela, Bragança e em geral da região transmontana e alto duriense — é uma questão crítica da maior importância para todos nós, portugueses!

O que está em causa é um plano de barragens irrelevante para a produção de energia, pois as 12 barragens previstas satisfariam apenas 3% das nossas actuais ineficientes e mal-geridas necessidades. Os objectivos escondidos da EDP têm que ser revelados. E na minha opinião são dois:
  1. colocar a EDP, depois de estabilizar a sua posição hegemónica no sector da produção de energia, à cabeça do controlo privado de um bem público escasso: a água! Este objectivo estender-se-à a prazo ao completo domínio privado das bacias hidrográficas do país, dos sistemas de abastecimento público de água e dos próprios off-shores marítimos!
  2. gerar activos capazes de mitigar a extrema fragilidade financeira da empresa gerida pelo pirata António Mexia, a qual, como se sabe, tem uma dívida acumulada de mais de 13 mil milhões de euros. Ou seja, mais de que quatro vezes o custo estimado do novo aeroporto da Ota em Alcochete!
Grandes empresas de construção e energéticas, bancos e sociedades financeiras obscuras, empresas de comunicação e o próprio Estado estão endividados até aos cabelos. Enquanto os banqueiros e alguns empresários falidos insistem diariamente, com a cumplicidade neo-fascista dos canais televisisvos controlados pelo governo, na necessidade de cortar a eito na despesa pública social, gritam ao mesmo tempo, como passarinhos esfomeados, por empreitadas e subsídios estatais (i.e. mais dinheiro dos contribuintes, sobretudo pela via da destruição do Estado Social) para salvar as suas empresas. É neste contexto que devemos olhar para a Linha do Tua (353 vídeos no YouTube). O que lá deixarmos morrer poderá ser o boomerang que em breve nos atingirá fatalmente na nuca.


OAM 638 20-10-2009 13:12

segunda-feira, outubro 19, 2009

H1N1 (3)

Vacinar o vértice do poder em primeiro lugar?!

H1N1: as primeiras vacinas anti gripais vão para Sócrates, Cavaco e Jaime Gama. Será? Há quem diga que estas vacinas podem matar!

H1N1 influenza virus image
Imagem do virus H1Ni in Wikipedia.

Se as estatísticas americanas se aplicassem a Portugal (afinal, são dois países do 1º mundo), a probabilidade de contrair a gripe por acção do H1N1 seria maior em José Sócrates e Jaime Gama (~3,9%) do que em Cavaco Silva (~1,3%), assim como a probabilidade de morrer em resultado dos danos colaterais provocados pelo vírus seria também maior para o Primeiro Ministro e para o Presidente da Assembleia da República (~24%), do que para o Presidente da República (~9%).

Embora o potencial mórbido do vírus seja algo preocupante uma vez contraída a infecção, a verdade é que a probabilidade de contracção do vírus é demasiado baixa para justificar a administração de uma vacina pouco testada e com efeitos adversos (por vezes fatais) conhecidos. Esta é aliás a razão porque boa parte dos médicos informa privadamente os seus doentes que não tenciona tomar a vacina impingida pela máfia das multinacionais farmacêuticas.

Que leva então as agências de informação a lançarem a campanha de vacinação da OMS no nosso país invocando os exemplos das três principais figuras do Estado? A pergunta está feita e seria bom que a nossa depauperada e manipulada imprensa investigasse o assunto. Até porque, diga-se em abono da verdade, quer o Director-Geral de Saúde, Francisco George, quer a Ministra da Saúde, Ana Jorge, têm mantido um comportamento até agora exemplar sobre este delicado tema. Portugal tem excelentes epidemiologistas, boas unidades de investigação sobre doenças contagiosas (nomeadamente de origem tropical), mas pergunto: terá um sector científico e institucional suficientemente corajoso e independente para se opor a qualquer possibilidade de manipulação da opinião pública em matéria tão sensível e preocupante?

Se por remota hipótese a pandemia da gripe suína estiver a ser empolada e manipulada por motivações comerciais, ou pior ainda, estratégico-militares, haverá quem no nosso país consiga desmascarar o embuste a tempo de evitar uma catástrofe? Eu sugiro que se comece por investigar a fileira do lucro nesta pessegada toda. Por onde entra, quem encomenda, quem paga e quem ganha com o gigantesco negócio montado em volta do H1N1?

Quanto à vacinação das altas figuras do Estado sugiro que tal operação seja controlada directamente por uma comissão médica expressamente nomeada para o efeito, com todas as garantias de transparência e acesso público aos detalhes da operação. Só assim estaremos todos tranquilos.

O facto de a OMS ter aconselhado os Estados a deixar de contar o número de infectados a partir dum indeterminado número de casos levanta dúvidas legítimas sobre a dimensão efectiva da pandemia, ou se existe mesmo uma pandemia. Daqui até ao surgimento de inúmeras teorias da conspiração, mas também de análises fundamentadas que merecem toda a nossa atenção foi um passo. Sou dos que pensam que devemos levar a sério o H1N1. Tenho tido até agora confiança nas autoridades sanitárias do meu país, mas gostaria de ver conferidos maiores e mais claros poderes ao director-geral de saúde, Frederico George, e à ministra Ana Jorge, no que se refere à decisão de uma campanha de vacinação generalizada. Este não pode ser um assunto onde haja interferência camuflada dos Serviços Secretos e do Ministério da Administração Interna. Se o Primeiro Ministro tem nesta matéria algum motivo fundado de segurança interna deve explicá-lo ao país, antes de largar os mastins das secretas e das agências de comunicação por aí.

Para uma melhor contextualização dos problemas convocados pela anunciada pandemia gripal que deverá atingir o nosso país com os primeiro frios de Inverno, aqui ficam algumas leituras de leitura obrigatória — umas objectivas e acertivas, outras arrepiantes! Mas antes de ler esta bibliografia seleccionada, fique a saber que o principal componente do Tamiflu é a flor de anis ! Disponível em qualquer ervanária, dá uma excelente infusão e vai muito bem com caril de vitela, porco e guisados à base de feijão vermelho e preto !

  • No António Maria: Tamiflu e H5N1.
  • Novel H1N1 Flu: Facts and Figures
    ... How many people have been infected with novel H1N1 flu?

    A CDC model was developed to try to determine the true number of novel H1N1 flu cases in the United States. The model took the number of cases reported by states and adjusted the figure to account for known sources of underestimation (for example; not all people with novel H1N1 flu seek medical care, and not all people who seek medical care have specimens collected by their health care provider). Using this approach, it is estimated that more than one million people became ill with novel H1N1 flu between April and June 2009 in the United States. The details of this model and the modeling study will be submitted for publication in a peer reviewed journal. — in CDC - Centers for Disease Control and Prevention (USA).
  • Debunking False Media Claims on the 2009 H1N1 Vaccine (Flu.gov / October 14, 2009)

    Myth: Healthy people are not vulnerable to dying from the new 2009 H1N1 virus.

    Fact: Both healthy people and people with underlying conditions, such as asthma and diabetes and other chronic diseases, are vulnerable to the 2009 H1N1 flu. CDC studies have shown that about 70 percent of people who have been hospitalized with this 2009 H1N1 virus have had one or more medical conditions previously recognized as placing people at “high risk” of serious seasonal flu-related complications. That leaves 30% of those hospitalized in the previously healthy category. The 2009 H1N1 flu has especially affected young people ages 5 to 24. A recent study of by the New England Journal of Medicine of 272 hospitalized H1N1 patients showed that although 60% of the children who were hospitalized had an underlying condition, the remaining 40 percent had no underlying condition. Since April, 81 children who contracted 2009 H1N1 flu have died.
  • Vaccine creators will refuse the H1N1 vaccine !
  • Swine flu jab link to killer nerve disease: Leaked letter reveals concern of neurologists over 25 deaths in America

    By Jo Macfarlane (Last updated at 11:05 PM on 15th August 2009)

    A warning that the new swine flu jab is linked to a deadly nerve disease has been sent by the Government to senior neurologists in a confidential letter.

    The letter from the Health Protection Agency, the official body that oversees public health, has been leaked to The Mail on Sunday, leading to demands to know why the information has not been given to the public before the vaccination of millions of people, including children, begins.

    It tells the neurologists that they must be alert for an increase in a brain disorder called Guillain-Barre Syndrome (GBS), which could be triggered by the vaccine.
  • Now legal immunity for swine flu vaccine makers.
    by F. William Engdahl

    The US Secretary of Health and Human Services, Kathleen Sebelius, has just signed a decree granting vaccine makers total legal immunity from any lawsuits that result from any new “Swine Flu” vaccine. Moreover, the $7 billion US Government fast-track program to rush vaccines onto the market in time for the Autumn flu season is being done without even normal safety testing. Is there another agenda at work in the official WHO hysteria campaign to declare so-called H1N1 a pandemic virus threat?

    First and foremost, neither the WHO nor the CDC or any other scientific body has demonstrated required scientific proof for the existence of the alleged H1N1 Influenza A new virus, a proof which requires such a virus to be scientifically isolated, characterized and photographed with an electron microscope—the scientifically accepted standard procedure. Yet it is being used as the basis for declaring a global “pandemic” threat.

    The current official panic campaign over alleged Swine Flu danger is rapidly taking on the dimensions of a George Orwell science fiction novel. The document signed by Sebelius grants immunity to those making a swine flu vaccine, under the provisions of a 2006 law for public health emergencies.
  • Martial Law and the Militarization of Public Health: The Worldwide H1N1 Flu Vaccination Program. By Michel Chossudovsky

    ... There is ample evidence, documented in numerous reports, that the WHO's level 6 pandemic alert is based on fabricated evidence and a manipulation of the figures on mortality and morbidity resulting from the N1H1 swine flu. — in Global Research, 26-07-2009.
  • 2 new moms in Bay Area die from swine flu; concern raised about risk for pregnant women

    Swine-flu virus has claimed the lives of two Bay Area women who recently gave birth, adding to the growing body of evidence that pregnancy puts women at increased risk of flu-related hospitalization and death.

    News of the deaths comes as the federal Centers for Disease Control and Prevention recommends that pregnant women be among the first to receive a vaccine, when it's available. The CDC also urges that anti-viral drugs like Tamiflu or Relenza be quickly administered to pregnant women with suspected influenza. — in MercuryNews.com (31-07-2009).
  • Pregnancy likely to be swine flu shot priority

    ATLANTA — Swine flu has been hitting pregnant women unusually hard, so they are likely to be among the first group advised to get a new swine flu shot this fall.

    Pregnant women account for 6 percent of U.S. swine flu deaths since the pandemic began in April, even though they make up just 1 percent of the U.S. population.

    On Wednesday a federal vaccine advisory panel is meeting to take up the question of who should be first to get swine flu shots when there aren't enough for everyone. At the top of the list are health care workers, who would be crucial to society during a bad pandemic.

    But pregnant women may be near the top of the list because they have suffered and died from swine flu at disproportionately high rates.
  • First picture of pregnant mother flown to Sweden for emergency swine flu treatment

    A pregnant mother with swine flu was battling for her life last night after being flown to Sweden for emergency treatment.

    Sharon Pentleton developed adult respiratory distress syndrome, a rare complication of swine flu.

    She was taken to the Karolinska University Hospital in Stockholm because a specialist five-bed NHS unit in Leicester was full.

    Patients included two other swine flu victims. Her chances of recovery are put at 50-50. — DailyMail (25-07-2009)


OAM 637 19-10-2009 12:16 (última actualização: 21-10-2009 00:37)

domingo, outubro 18, 2009

Obama Nirvana

Caminhando em direcção à luz?
Será a mensagem sobre o Diwali, pelo homem mais poderoso do planeta, um sinal? Que sinal?




Os tempos que aí vêm já não se compadecem com as oratórias cansadas do cada vez mais insuportável populismo político predominante no Ocidente, venha o dito da Direita ou da Esquerda, do falso Centro ou da Extrema Esquerda quadrada e mumificada nas suas falidas ortodoxias litúrgicas. O desenrolar inicial das agendas partidárias após o recente ciclo eleitoral prenunciam infelizmente uma procissão de impasses até à grande crise que se aproxima vertiginosamente de todos nós. Quando uma situação apodrece e o caldo de hipocrisias e tensões começa a ferver lentamente, basta uma faísca qualquer para que a guerra civil estale. O milhão de espanhóis que ontem (Sábado) confluiu para Madrid (1), protestando contra o fundamentalismo anti-humanista do pensamento senil da Esquerda é tão só um aviso do que, de um dia para outro, pode fazer descarrilar de novo as democracias ibéricas.

O enigma do Prémio Nobel da Paz deste ano merece pois, neste contexto que se degrada dia a dia, uma reflexão nada leviana, mas atenta e futurista.
O Diwali [...] é uma festa religiosa hindu, conhecida também como o festival das luzes. Durante o Diwali, celebrado uma vez ao ano, as pessoas estreiam roupas novas, dividem doces e estouram rojões e fogos de artifício. Este festival celebra o assassinato de Narakasura, o que converte o Diwali num evento religioso que simboliza a destruição das forças do mal — in Wikipédia.

O MITO DO ETERNO RETORNO
Para nossos propósitos, só uma questão deve nos preocupar: como pode o "terror da história" ser tolerado a partir do ponto de vista do historicismo? A justificação de um acontecimento histórico, pelo simples fato de ele ser um acontecimento histórico, em outras palavras, pelo simples fato de ter "acontecido dessa maneira", não caminha no sentido de libertar a humanidade do terror que o acontecimento inspira. Deve-se compreender que não estamos aqui preocupados com o problema do mal, que, independente do ângulo a partir do qual possa ser visto, permanece como um problema filosófico e religioso; estamos preocupados, isto sim, com o problema da história como história, do "mal" que está limitado não pela condição do homem, mas pelo seu comportamento em relação aos outros. Deveríamos querer saber, por exemplo, como seria possível tolerar e justificar os sofrimentos e a aniquilação de tantas pessoas que sofrem e que são aniquiladas pela simples razão de que sua situação geográfica as coloca no caminho da história; por serem vizinhos de impérios que se encontram em estado de permanente expansão. Como justificar, por exemplo, o fato de o sudeste da Europa ter sofrido durante séculos — sendo portanto obrigado a renunciar a qualquer impulso no sentido de uma existência histórica mais elevada, na direção da criação espiritual no plano universal — pela única razão de que estava no caminho dos invasores asiáticos e, mais tarde, vizinho do Império Otomano? E, em nossos dias, quando as pressões históricas já não permitem mais qualquer fuga, como pode o homem tolerar as catástrofes e horrores da história — desde as deportações e massacres coletivos até os bombardeios atômicos — se, além deles, não consegue ver qualquer sinal nem significado trans-histórico; se esses acontecimentos são apenas as jogadas cegas de forças econômicas, sociais ou políticas, ou, pior ainda, unicamente o resultado das "liberdades" que uma minoria toma e exercita de modo direto sobre o cenário da história universal?

Sabemos como, no passado, a humanidade conseguia suportar os sofrimentos que já tivemos oportunidade de enumerar: eles eram considerados como uma punição aplicada por Deus, a síndrome do declínio da "era", e assim por diante. E era possível aceitar os acontecimentos precisamente porque tinham um significado meta-histórico, porque, para a maior parte da humanidade, ainda apegada ao ponto de vista tradicional, a história não tinha, e nem poderia ter, valor em si mesma. Todos os heróis repetiam o gesto arquetípico, todas as guerras ensaiavam a luta entre o bem e o mal, cada nova injustiça social era identificada com os sofrimentos do Salvador (ou, por exemplo, no mundo pré-cristão, com a paixão de um mensageiro divino ou deus da vegetação), cada novo massacre repetia o glorioso fim dos mártires. Não nos compete aqui decidir se tais motivos eram pueris ou não, nem se uma tal rejeição da história mostrava-se sempre eficaz. Em nossa opinião, só um fato importa: em virtude deste ponto de vista, dezenas de milhões de homens, século após século, foram capazes de suportar enormes pressões históricas sem se desesperar, sem cometer o suicídio nem cair naquela aridez espiritual que sempre traz consigo uma visão relativista ou niilista da história. — O Mito do Eterno Retorno (1954), Mircea Eliade (1907-1986). Ed. Mercuryo Ltda. (1992).

Ler também artigo em inglês na Wikipedia, e em particular este trecho da versão inglesa original de The Myth of the Eternal Return: Cosmos and History, de Mircea Eliade:
"In our day, when historical pressure no longer allows any escape, how can man tolerate the catastrophes and horrors of history—from collective deportations and massacres to atomic bombings—if beyond them he can glimpse no sign, no transhistorical meaning; if they are only the blind play of economic, social, or political forces, or, even worse, only the result of the 'liberties' that a minority takes and exercises directly on the stage of universal history?

"We know how, in the past, humanity has been able to endure the sufferings we have enumerated: they were regarded as a punishment inflicted by God, the syndrome of the decline of the 'age,' and so on. And it was possible to accept them precisely because they had a metahistorical meaning [...] Every war rehearsed the struggle between good and evil, every fresh social injustice was identified with the sufferings of the Saviour (or, for example, in the pre-Christian world, with the passion of a divine messenger or vegetation god), each new massacre repeated the glorious end of the martyrs. [...] By virtue of this view, tens of millions of men were able, for century after century, to endure great historical pressures without despairing, without committing suicide or falling into that spiritual aridity that always brings with it a relativistic or nihilistic view of history". — Mircea Eliade, The Myth of the Eternal Return: Cosmos and History. Princeton: Princeton UP, 1971 (1954); in Wikipedia.

NOTAS
  1. Em Espanha, como é sabido, o aborto é praticado livremente e tornou-se aliás num negócio próspero há já vários anos. Pois bem, a tonta Esquerda espanhola, certamente pensando distrair o povo do buraco negro para onde foi conduzido pelas mãos laicas e corruptas da aliança entre os armani-marxistas do PSOE e a corja mundial da especulação imobiliária e financeira, resolveu escarafunchar a legislação sobre a IVG e propor que qualquer jovem mulher com 16 anos ou mais possa decidir individualmente (no foro íntimo da sua consciência, dizem) sobre a sua gravidez até às 16 semanas de desenvolvimento do feto que eventualmente traga no útero. Quer dizer, sem necessitar de autorização dos pais, nem do namorado ou marido, caso tenha. No entanto, esta mesma jovem adulta está proibida por lei de fumar e tomar bebidas alcoólicas. A noção de livre arbítrio tem para o exibicionismo decadente da Esquerda actual, como se vê, dois pesos e duas medidas. Descriminalizar a prática do aborto é uma exigência de saúde pública e de tolerância social e humanista, liberalizar comportamentos irresponsáveis e conferir poderes absolutos à mulher em matéria de procriação é, pelo contrário, ilegítimo, contra-natura e uma insensatez cultural que pagaremos caro, mais cedo do que alguns previram.


OAM 636 18-10-2009 01:25