Do optimismo à bancarrota?
Se os títulos do BCP, BES e BPI afundarem hoje como ontem e anteontem, um deles irá muito provavelmente à falência e Portugal caminhará provavelmente para a bancarrota. Se resistirmos até meados de Maio, talvez escapemos ao pior, por os holofotes estarem então concentrados na dívida inglesa. Mas seja como for, nada impedirá um aperto dramático no nosso estilo de vida e uma profunda depressão na nossa economia, que poderá prolongar-se até 2015. A saída do euro antes do fim deste ano será então um cenário mais plausível do que hoje parece. Quase tudo dependerá do que a Alemanha decidir fazer com esta crise. Para já, Angela Merkel quer ganhar a guerra do euro contra a libra e o dólar. No entanto, a dimensão que tiver o rebentamento da gigantesca bolha especulativa que se formou no mercado das dívidas soberanas vai ser o factor porventura decisivo.
Em dois dias os principais bancos portugueses perderam, cada um deles, mais de 10% do seu valor em bolsa. E embora os meios de comunicação social e as agências de comunicação, que dependem totalmente dos ditos bancos, tenham passado uma esponja sobre esta espectacular destruição de valor, a verdade é que se percebeu, pela primeira vez, que a Caixa Geral de Depósitos deixou de acudir ao colapso, nomeadamente do BCP. Este é o sinal mais evidente de que amanhã poderá mesmo iniciar-se a contagem decrescente para mais de um dos bancos portugueses — mal preparados para sobreviver em mar alto e sem cinto de segurança. Quando lhes falta o Estado, afinal, esfumam-se!
2006 crise mundial
A crise aguda de civilização em que estamos metidos aconselha duas coisas: estar atento e evitar o pânico. A melhor receita para a sobrevivência passa por suprir o atraso e desinformação sistemáticos dos média corporativos com informação proveniente de outras fontes, independentes ou simplesmente distintas do ópio mediático disperso pelos média convencionais. Por outro lado, aconselha-se vivamente muito cuidado na tomada de decisões de investimento de médio e longo prazo. O mais provável é que bens como a terra fértil e as zonas habitacionais próximas dos nós de comunicações se venham a valorizar tremendamente nos próximos anos. Para já, o investimento em metais preciosos (como o ouro e a prata) são bem mais seguros do que quaisquer aplicações financeiras e planos de poupança/reforma e seguros de saúde. O mesmo ocorrerá infelizmente com todos os bens e serviços associados a emergências bélicas, sanitárias e sociais decorrentes do previsível agravamento da presente crise mundial. Num cenário de catástrofe financeira mundial, é de prever a falência de centenas de bancos e sociedades de investimento, já para não falar da falência de algumas dezenas de Estados (congelamentos de salários e pensões de reforma, despedimentos nas Administrações Públicas, subidas vertiginosas de impostos, derivas nacionalistas, etc.) Se a crise vier a ocorrer, como se teme, não será fácil evitar o pânico. Mas se estivermos alerta, poderemos evitar o pior, e prepararmo-nos com coragem para uma longa e dolorosa metamorfose. — in O António Maria, 2 de Março 2006.
O Global Europe Anticipation Bulletin (GEAB) anunciou em Fevereiro de 2006 que vinha aí uma crise sistémica. Semanas antes eu tinha estado em Paris numa reunião promovida por Franck Biancheri (fundador do GEAB e impulsionador do programa Erasmus), onde se falou da crise sistémica que se perfilava já então no horizonte, e da importância da investigação prospectiva.
Desde 2 de Março de 2006 (DOIS MIL E SEIS) que comecei a alertar o meu país sobre este problema, lendo tudo o que pude agarrar de substantivo sobre a matéria, e obtendo uma crescente e preciosa ajuda de leitores, alguns dos quais são hoje meus amigos. Os economistas portugueses, no entanto, andaram quase todos a florear este assunto até 2007, 2008, ou mesmo até ao princípio deste ano, afirmando que a banca portuguesa era sólida e sofisticada, que os endividamentos público, externo e privado nacionais eram coisa de somenos, e mais recentemente, que Portugal não era a Grécia! Esta noite, finalmente, Luís Campos e Cunha estava verdadeiramente preocupado. Ora bolas! Eu sou artista e escritor, não um economista. Como foi então possível escrever neste blogue, desde 2006, que Portugal caminhava para o desastre, enquanto praticamente todos os economistas, empresários e políticos assobiavam para o ar e cantavam hinos aos grandes benefícios da nossa pertença à moeda única europeia?
A queda abrupta do PSI 20, que hoje afundou para níveis historicamente preocupantes, revela duas coisas fatais: que o banco de Estado (a CGD) já não tem capacidade para acudir aos amigos e especuladores do burgo, e que, por outro lado, controlando Portugal pouco mais do que 15-17% da sua dívida pública (prova do grau miserável da nossa poupança), deixou de poder influenciar sequer os movimentos do PSI 20! Estamos pois completamente nas mãos dos fundos de investimento, dos investidores e dos especuladores estrangeiros. Se hoje, dia 28 de Abril, a venda ao desbarato dos principais títulos nacionais prosseguir, estamos fritos! Provavelmente alguém apagará as luzes a meio da sessão!
O problema é simples: os principais bancos portugueses —CGD, BCP, BPI, BES, Montepio — e algumas das maiores empresas portuguesas —Mota-Engil, Teixeira Duarte, SONAE, Parpública (de que a TAP é um dos principais passivos!) REN e EDP, entre outras— precisam, como náufragos, de financiamento urgente e continuado, seja para aliviar os respectivos e descomunais níveis de endividamento, seja para se manterem em acção. Como tal financiamento já não pode vir de dentro, e os fundos de investimento estrangeiros estão a desertar, das duas uma: ou boa parte do tecido empresarial e financeiro nacional é objecto de operações de aquisição por parte de concorrentes de outro campeonato (como recentemente sucedeu à Cimpor), nomeadamente angolanos, brasileiros, árabes, norte-africanos e chineses, ou vai pura e simplesmente à falência.
Os ingleses preparam-se já para cortar 5% nos vencimentos da função pública. E por cá, como vai ser?
ÚLTIMA HORA: Braço de ferro entre o dólar (e libra) e o euro prossegue sem quartel. Principais bolsas mundiais afundam e euro valoriza face à moeda americana !
Banca nacional tem 6,8 mil milhões em dívida gregaPergunta: quanto deste dinheiro voou de fundos de pensões nacionais e da Caixa Geral de Depósitos para o buraco negro de Atenas?
Os bancos portugueses estão entre os que mais caem em bolsa na Europa, penalizados pela perspectiva de um aumento nos seus custos de financiamento. Um estudo divulgado ontem pelo Citigroup revela outro risco: a exposição à dívida pública da Grécia. — Jornal de Negócios Online (28 Abril 2010).
BCP afunda mais de 17% e BPI recua mais de 10% no arranque da bolsa
As acções da banca estão a ser as mais castigadas pelos investidores na abertura da bolsa em forte baixa. Logo nos primeiros minutos de negociação, o BCP chegou a cair mais de 17% e o BPI a afundar mais de 10%. O BES já esteve a perder mais de 8%. — Jornal de Negócios Online (28 Abril 2010).
PSI-20 afunda quase 6% com todas as cotadas a descer mais de 2%
A bolsa nacional está a afundar 5,96% para o nível mais baixo desde 30 de Abril, pressionada essencialmente pelo sector da banca que viu a Standard & Poor s reduzir o seu "rating", na sequência da revisão em baixa da qualidade de crédito portuguesa. — Jornal de Negócios Online (28 Abril 2010) .
Stocks Fall, Asia Default Swaps Climb on Greece, Portugal Debt
April 28 (Bloomberg) -- Stocks slid for a second day and the cost to insure against bond losses rose after credit-rating downgrades of Greece and Portugal fueled concern about sovereign defaults. Greek two-year note yields soared to 21.4 percent. The euro strengthened from a one-year low against the dollar. — Bloomberg (28/4/2010) .
REFERÊNCIAS
Republic of Portugal Ratings Lowered To 'A-/A-2' On Weak Macroeconomic Structure; Outlook Negative (Standard & Poor's)
Portugal Suffering Greek Contagion Pressures EU Bonds
- Fiscal and economic structural weaknesses in our view leave the Republic of Portugal in a comparably weak position to address the significant deterioration in its public finances and expected lackluster economic growth prospects over the medium term.
- We are lowering our long-term ratings on Portugal to 'A-' from 'A+' and the short-term ratings to 'A-2' from 'A-1'.
- The negative outlook reflects our assessment of the risk of a further downgrade should fiscal consolidation fall short of expectations or should concerns over government liquidity mount.
April 27 (Bloomberg) -- Portugal risks becoming the new Greece.
With a higher debt burden and a slower 10-year growth rate than Greece, Western Europe’s poorest country is being punished by investors as the sovereign debt crisis spreads. The risk premium on Portuguese bonds rose to more than double the past year’s average this month. Portugal’s credit default swaps show investors rank its debt as the world’s eighth-riskiest, worse than for Lebanon and Guatemala.
O caso desesperado da Letónia
In late 2008, Latvia agreed to what the IMF itself has called one of the most severe austerity programs since the 1970s. To accomplish it, Latvia has done everything from slashing public sector wages by 25 to 40 percent, increasing taxes, reducing unemployment and maternity benefits and cutting the defense budget. The crisis has already cost the Latvian prime minister his job and stoked social unrest. Despite all of that, the budget deficit has not budged much, remaining around eight percent of the GDP mark. Spending has been cut to the bone, but Latvia is simply too small of an economy to emerge from recession on its own.
Since the broader European economic recovery remains moribund at best, less government spending has translated directly to less growth. Less growth means less tax income, and less tax income means that the country' s budget deficit remains stubbornly high. Latvia has essentially become a ward of the IMF, and will remain so until either the broader European economic recovery is more robust or the Baltic state is fast-tracked into the eurozone itself. — in John F. Mauldin, "The Making of a Greek Tragedy".
Is the Euro Doomed?
The dreams of European union could die along with it.
By Christopher Hitchens (Slate)
Sometimes, sheer immodesty compels me to ask, of my long record of prescience, what did I know, and when and how did I know it? In the summer of 2005, Foreign Policy magazine asked its contributors to name one taken-for-granted thing that they thought was overrated or would not last. After a brief interval of reflection, I chose the euro.
'Nothing Justifies Kicking Greece out of the Euro Zone'
With Greece finally pleading for financial help from its European partners and the IMF, Germany is pushing to guarantee that the massive loan comes with strict preconditions. In Monday's newspapers, German commentators are divided over whether Greece's problems should force it out of the euro zone. — in Spiegel Online.
Brutal choices over British deficit
By Chris Giles, Alex Barker and Nicholas Timmins
The next government will have to cut public sector pay, freeze benefits, slash jobs, abolish a range of welfare entitlements and take the axe to programmes such as school building and road maintenance – or make a set of equally politically perilous choices, according to an analysis by the Financial Times.
An online simulator, developed by the FT using government figures, suggests a saving of that scale would require all of the following: a 5 per cent cut in public sector pay; freezing benefits for a year; means-testing child benefit; abolishing winter fuel payments and free television licences; reducing prison numbers by a quarter; axing the two planned aircraft carriers; withdrawing free bus passes for pensioners; delaying Crossrail for three years; halving roads maintenance; stopping school building; halving the spending on teaching assistants and NHS dentistry; and cutting funding to Scotland and Wales by 10 per cent. — Published: April 25 2010 22:10 | Last updated: April 25 2010 22:10, in FT.com.
OAM 690—28 Abril 2010 1:59 (última actualização: 9:59)