Há quem tenha visto máquinas destas a sair do país recentemente. |
Os números não dão para festejar
2012, janeiro-junho
— importações de bens e serviços: 28.033M€ + 5.172M€ = 33.205M€
— exportações de bens e serviços: 22.846M€ + 8.590M€ = 31.436M€
O texto que vem publicado no sítio do governo é uma autêntica contorção retórica para tentar vender o invendável, isto é, que Portugal tem vindo a colocar a sua balança comercial em ordem, com as exportações a superar as importações. Em primeiro lugar, os números do INE mostram claramente que continuamos a importar mais do que exportamos. Por outro lado, se ficamos a saber o que agravou o peso das importações —alimentação, bebidas, combustíveis e lubrificantes—, já na melhoria da performance das exportações falta esmiuçar os agregados compilados.
"Em junho de 2012, as exportações e as importações de bens e serviços registaram variações homólogas de 5,6% e de -4,6%, respetivamente, valores que comparam com variações homólogas no mês anterior de 4,6% para as exportações e de -10,2% para as importações. No mês em análise, a taxa de cobertura das importações pelas exportações de bens e serviços situou-se em 105,6%. Ainda em junho de 2012, as exportações e importações de bens registaram variações homólogas de 9,1% e de -2,1%, respetivamente. No mesmo mês, as exportações de serviços registaram uma variação homóloga de -2,2% e as importações de serviços registaram uma variação homóloga de -16,1%.
De janeiro a junho de 2012, as exportações e as importações de bens e serviços registaram variações homólogas de 6,4% e de -5,8%, respetivamente. A taxa de cobertura das importações pelas exportações de bens e serviços situou-se em 97,7%. Para o mesmo período, as exportações e importações de bens registaram variações homólogas de 9,0% e de -5,3%, respetivamente. No período em análise, as exportações de serviços registaram uma variação homóloga de 0,1% e as importações de serviços registaram uma variação homóloga de -8,7%."
In Portal do Governo (ver Boletim do BdP)
Depois deste arrazoado inútil vamos ao que interessa.
- O valor das importações de produtos alimentares e bebidas sofreram, entre janeiro e junho deste ano, uma variação de +88,2%, repito +88,2%! Este, sim, é um número que deveria preocupar o governo, em vez de o levar a filtrar fantasias demagógicas sobre o comportamento atípico das nossas importações e os efeitos depressivos da austeridade orçamental, do terrorismo fiscal e da pulhice financeira em curso. O Index Mundi mostra uma subida de preços dos Food and Beverage, entre janeiro e julho deste ano, na ordem dos 10,8%, e uma subida do preço do trigo na ordem dos 25,8%. Como explicar os +88,2%, senhor Gaspar, senhor ASP, senhor Passos de Coelho?
- A importação de combustíveis e lubrificantes, apesar do decréscimo do uso e da circulação automóvel, tiveram uma variação em valor de +16,0%. Que tal, de uma vez por todas, em vez de ler as patetices do Expresso desta semana sobre a abundância petrolífera mundial, optar por uma viragem estratégica e urgente do nosso modelo de transportes e mobilidade? Com a fiscalidade verde a pisar duro além-Pirinéus, a importação de alimentos pesará cada vez mais negativamente na balança comercial, e os TIR, depois de novas guerras no asfalto, acabarão por encostar. Já alguém pensou, nomeadamente no parlamento, que este assunto é demasiado grave para continuar cativo dos gabinetes do costume?
- A grande queda nas importações, por sua vez, dá-se no material de transporte e acessórios, presumo que e sobretudo na importação de automóveis e respetivos acessórios — um ajustamento inegável, que poderia ser ainda mais acentuado e benéfico se acabassem com o bacanal que é a importação de automóveis de luxo para a burocracia do estado e das empresas públicas e fundações que vivem exclusivamente à custa do património público e dos impostos.
- Por sua vez, o aumento de 3,5% nas exportações de material de transporte e acessórios deve-se provavelmente à saída em massa de material de transporte usado em obras públicas!
- Finalmente, a saída para fora do país de máquinas usadas nomeadamente na construção civil e em obras públicas teve, imagino, um importante impacto na subida de 23,5% das exportações de bens de capital e acessórios (que incluem, segundo o BdP, "máquinas, exceto material de transporte".)