quarta-feira, setembro 27, 2017

Maintenant!





Em marcha, pela Europa!
Emmanuel Macron propõe a refundação da Europa, nem mais, nem menos.


Aproveitando o Brexit, a profunda crise de liderança americana, e a vitória pálida de Angela Merkel, em parte por causa do modo inábil como lidou com a crise dos refugiados das guerras e da fome, Emmanuel Macron parece ter apostado todas as suas cartas neste discurso estratégico e sem ambiguidades sobre o futuro da Europa.

Ou refundamos a Europa, assegurando os valores inalienáveis da democracia e do estado de direito, ao mesmo tempo que lançamos um programa ambicioso de recentramento estratégico e tático, ou as manobras e ameaças, visíveis e invisíveis, visando a destruição da União Europeia e da sua moeda continuarão a ganhar terreno.

Uma Europa a várias velocidades, onde cada um possa pedalar no pelotão da frente, desde que tenha bicicleta e pernas para tal, mas uma Europa onde quem se atrasou ou começou mais tarde não possa travar os que correm mais e vão à frente, dotada de um sistema fiscal equilibrado e justo, de uma política financeira coerente, de meios de defesa e segurança verdadeiramente comunitários, eis o que a França de Macron quer ver discutido a partir deste outono.

Os lugares deixados vagos pelo Reino Unido no Parlamento Europeu deverão, na proposta do presidente francês, ser ocupados por verdadeiros deputados europeus, e não por mais 73 delegados de propaganda partidária provenientes dos partidos que já se fazem representar em Estrasburgo.

Este discurso de Emmanuel Macron na Sorbonne, para começar, não está nada mal!

Estou 100% de acordo com a estratégia de Emmanuel Macron. É a única maneira de fortalecer a Europa e de impedir o ascenso do populismo (de direita, mas também de esquerda), fruto de regimes partidocratas e burocráticos corruptos e desajustados à complexidade social, ecológica, cultural e tecnológica dos nossos dias.

DN: Apoiante de metade do Parlamento Europeu ser eleito através de listas transnacionais, o presidente francês parece vir dar razão ao artigo do Politico segundo o qual Macron não só quer pôr os cidadãos europeus de vários países a debater o futuro da UE como estará a tentar criar "uma aliança de partidos europeus, ou mesmo um verdadeiro partido, que apoie a sua visão de uma Europa mais "protetora" a tempo dos próximo escrutínio" europeu. 
Segundo Pieyre-Alexandre Anglade, deputado francês e descrito pelo Politico como um dos "agentes" de Macron, a ideia é atrair pessoas de vários setores: dos liberais, dos sociais-democratas ou do Partido Popular Europeu para aquilo que seria uma espécie de En Marche! europeu.

SUBLINHADOS DO DISCURSO DE EMMANUEL MACRON

ActuTV Actualités et Vidéos

Discours complet du président français Emmanuel Macron à l'université de La Sorbonne
Ce qu’il faut retenir de l’intervention d'Emmanuel Macron à La Sorbonne
Macron espère relancer la machine européenne, dépourvue selon lui de vision de long terme depuis des années, affaiblie par une ouverture à tous vents à la mondialisation et enlisée dans la bureaucratie, la surréglementation et des décisions à l’unanimité, freinées notamment par la Grande-Bretagne. Voici ce qu’il faut retenir de son discours.

Défense.
« Ce qui manque le plus à cette Europe de la défense, c’est une structure stratégique commune », assure le président de la République. Il propose de créer une « force commune d’intervention » européenne pour 2020, un budget de défense commun et une « doctrine commune » pour agir.

Emmanuel Macron propose également une « initiative européenne d’intervention » et préconise en outre « d’accueillir dans nos armées des militaires venus » d’autres pays européens. Par ailleurs, il appelle à créer un « parquet européen » pour lutter contre le terrorisme. Ainsi, il faut selon le chef de l’Etat mettre en place au plus vite le Fonds européen de défense, la coopération structurée permanente et les compléter par une « initiative européenne d’intervention » pour intégrer les forces armées européennes.

Terrorisme et sécurité
Le président souhaite créer une académie européenne du renseignement pour « assurer le rapprochement de nos capacités de renseignement » mais également une « force commune de protection civile », notamment pour aider en cas de catastrophes naturelles.

Migrations
« Pour maîtriser efficacement nos frontières, accueillir dignement les réfugiés (…) et renvoyer rapidement ceux qui ne sont pas éligibles au droit d’asile », il faut créer un office européen de l’asile et une police européenne des frontières. L’objectif : accélérer et harmoniser les procédures migratoires ; mettre en place des fichiers interconnectés et des documents d’identité biométriques sécurisés. Mais il faut aussi installer un programme européen de formation et d’intégration pour les réfugiés.

Le carbone au juste prix
Emmanuel Macron a proposé de fixer au niveau européen un « juste prix » pour le carbone - dont les échanges permettent de pénaliser les industries polluantes - « suffisamment élevé » pour encourager la transition écologique, d’au moins 25 à 30 euros la tonne.

Il a aussi proposé de mettre en place un programme industriel de soutien aux véhicules propres et aux infrastructures nécessaires (bornes de recharge…) et de créer une « force commune de contrôle » qui assure la sécurité alimentaire des Européens.

Une Agence européenne pour l’innovation
Emmanuel Macron entend créer une Agence européenne pour l’innovation, finançant en commun des champs de recherche nouveaux, comme l’intelligence artificielle.

Il a cité pour modèle l’agence américaine de recherche militaire DARPA, agence du département de la Défense des États-Unis, chargée de la recherche et développement des nouvelles technologies, qui dans les années 1970 a été à l’origine de la création d’internet.

Emmanuel Macron a aussi rappelé sa volonté de taxer les entreprises numériques en taxant la valeur « là où elle se crée », et de réguler les grandes plateformes.

Economie et social
Le président français veut faire de la zone euro, le cœur de la puissance économique de l’Europe dans le monde. Il veut créer un budget qui permette de financer des investissements communs, avec des impôts liés à ce budget. Et assurer la convergence sociale et fiscale des pays de l’UE en fixant des critères qui rapprochent progressivement les modèles sociaux et fiscaux.

Le respect de ces critères conditionnerait l’accès aux fonds de solidarité européens.

Il faudrait définir une fourchette de taux d’impôt sur les sociétés pour 2020 ainsi qu’un salaire minimum, adapté à la réalité économique de chaque pays, encadrer la concurrence par les niveaux de cotisations sociales et créer une taxe sur les transactions financières affectées à l’aide au développement.

Culture et savoir
Que chaque jeune Européen ait passé au moins six mois dans un autre pays européen (50 % d’une classe d’âge en 2024) et que chaque étudiant parle deux langues européennes d’ici 2024.

Créer des universités européennes, réseaux d’universités qui permettent d’étudier à l’étranger et de suivre des cours dans deux langues au moins.

Démocratie
Pendant six mois, des « conventions démocratiques », soit des débats nationaux et locaux sur la base de questions communes dans toute l’UE, seront organisées en 2018 dans tous les pays de l’UE volontaires pour définir la feuille de route de demain.

Le chef de l’Etat espère ainsi renforcer le Parlement européen par des listes transnationales, dès 2019, en utilisant le quota des députés britanniques partants. Par ailleurs, il souhaite qu’en 2024, la moitié du Parlement européen soit élue sur ces listes transnationales.

Atualizado em 27/9/2017 10:04 WET

terça-feira, setembro 26, 2017

A euforia traiçoeira da Geringonça

Mário Centeno
Foto—autor: desconhecido

O lençol não estica!


“O Estado e o setor privado continuam muito endividados. Só graças às taxas de juro baixas aplicadas pelo BCE é que estes custos são suportáveis”. 
“Os problemas de Portugal não acabaram. Estão piores”, avisa Commerzbank
Observador, 21/9/2017

A euforia da Geringonça não passa de uma armadilha em que iremos cair outra vez, ou não fossemos governados, e eleitoralmente dominados, por uma minoria agarrada aos impostos e à dívida.

Não há nenhum mérito indígena nas estatísticas económico-financeiras mais recentes.

São só ventos favoráveis, mas efémeros, que sopram de leste: juros historicamente baixos, petróleo a menos de metade do seu preço mais alto de sempre (2012), turismo em fuga da Europa oriental, do Médio Oriente e norte de África, bolha da aviação LowCost, e deslocações de capitais do Brasil, Angola, França, Estados Unidos e China, para um país ameno e ainda barato chamado Portugal.

Bastará que os juros do BCE comecem a subir (1), ou que o preço do barril regresse aos 90-100 USD pb (2), ou ainda que o despesismo recomendado pelos nossos funcionários-economistas tome o lugar de Mário Centeno (mortinho por zarpar de Lisboa em direção à Europa!), para que entremos em águas agitadas.

A tendência da nomenclatura oportunista de esquerda no poder será a de compensar a subida do preço da dívida que então crescerá mais rapidamente, com novos agravamentos de impostos e expropriações de riqueza alheia, e uma ainda maior degradação das infraestruturas e do funcionamento dos serviços públicos.

O empobrecimento mais acelerado das classes médias fará depois o resto: ou teremos um novo partido de esquerda radical populista a caminho do poder, ou uma radicalização ainda mais populista do PS (venezuelização bolivariana!), ou então, acabará por aparecer um partido de direita populista a sério, capaz de ir buscar votos a todo o espetro partidário vigente.

NOTAS

  1. ECB Official interest rates 1999-2016
  2. OPEC oil prices 1960-2017

segunda-feira, setembro 25, 2017

4000 euros/ano para todos!

Ilha (pormenor), Porto (2011)

Em vez de despejar dinheiro nos bancos, governos e burocracia, porque não despejá-lo nos nossos bolsos, diretamente?


Hoje vou falar de Rendimento Básico Incondicional no ISCTE. Comigo estarão, online, Bruna Augusto e Marcus Brancaglione, dois ativistas brasileiros do RBI.

Creio que chegou o momento de promover e realizar meia dúzia de experiências em Portugal. Por exemplo, na Cova da Moura, na freguesia de Campanhã, no Porto, nas freguesias atingidas pelos trágicos incêndios deste verão, e onde os donativos chegam a conta-gotas e sob controlos institucionais e burocráticos paternalistas que nenhum doador exigiu (Pedrógão Grande, etc.), ou mesmo numa pequena cidade de 17 mil habitantes, como Montemor-o-Novo.

Numa base de 4000 euros/ano por pessoa, se o RBI fosse aplicado a toda a população residente, financiando-se numa parte do IRS, IRC e IVA do país, o esforço direto no Orçamento de Estado andaria pelos 41,3 mil milhões de euros, ou seja, pouco mais do que 29% da despesa pública. Esta reforma do orçamento implicaria naturalmente um grande corte nos custos burocráticos e rendas do chamado 'terceiro setor'. Haveria menos peso burocrático do estado neste setor, haveria menos IPSS (e mais poder institucional e capacidade financeira descentralizada nas Juntas de Freguesia e municípios eleitos), haveria menos rendas abusivas, acabariam as isenções fiscais inexplicáveis, e existiria mais transparência nesta espécie de economia paralela em que os intermediários da fome e da desgraça alheia se transformaram paulatinamente ao longo de décadas.

A despesa pública de 2017, inscrita no OE2017, foi de 141 mil milhões de euros.

Outros dois números a ter em conta são, a dívida pública portuguesa, que neste momento supera os 243 mil milhões de euros, e o PIB, que em 2016, rondou os 185 mil milhões de euros.

Será impossível pensar numa medida como o RBI que, se fosse aplicada em 2018, andaria pelos 42 mil milhões de euros, num país onde o PIB vai a caminho dos 190 mil milhões? Não creio. Ainda que uma tal reforma constituísse, na verdade, um verdadeiro ataque ao estado burocrático e corrupto que temos.

Eis, pois, uma discussão que o empobrecimento das classes médias exige desde já.


ISCTE
A esperança no Rendimento Básico Incondicional
A economia e a política do RBI

António Cerveira Pinto
Bruna Augusto
Marcus Brancaglione

Hoje 25-9-2017, 18:30-20:00
ISCTE-IUL
Auditório ONE02 - Caiano
Av das Forças Armadas, Lisboa
Organiza: movimento RBI-TTcc

Streaming aqui (começo a falar aos 27:37)

Atualizado em: 26/9/2017 08:58

terça-feira, setembro 12, 2017

Filial europeia do ICBC acusada de branquear máfias chinesas em Espanha

Sede do ICBC em Xangai (Bund)


A insuportável distração da imprensa portuguesa que ideologia tem?


O maior banco do mundo, o chinês  ICBC—Industrial and Comercial Bank of China, tinha montado em Espanha um esquema monumental de lavagem de dinheiro proveniente de tríades de piratas chineses, em colaboração com o paraíso fiscal luxemburgês—what else?!

O esquema foi descoberto e noticiado na imprensa internacional em 2016.

A acusação formal chegou agora dos tribunais espanhóis. Leram alguma coisa na imprensa portuguesa nos últimos seis meses sobre este escândalo? Eu não.

Para que conste.

La Audiencia Nacional imputa al mayor banco del mundo por blanquear fondos de mafias chinas 
El Mundo. 11 SEP. 2017 14:24 
La Audiencia Nacional ha imputado a la filial europea del ICBC (Industrial and Comercial Bank of China) por blanqueo continuado de fondos de grupos criminales chinos activos en España. Se trata del mayor banco del mundo por activos y el tercero por capitalización bursátil. El auto dictado por el juez Ismael Moreno explica que, según la investigación, el personal de la entidad ICBC España, bajo las órdenes del Consejo de Administración de la entidad ICBC Luxemburgo, puso en marcha a finales de 2010 un establecimiento bancario en España, con una única sede en aquellos días en Madrid, cuya línea de negocio casi exclusiva fue ser un instrumento de blanqueo de las ganancias ilícitas obtenidas por grupos criminales, mayoritariamente de nacionalidad china, que obtenían pingües beneficios sobre todo en exportaciones e importaciones fraudulentas con China y en la economía sumergida dentro del mercado nacional”. 
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Banco da China acusado de lavagem de dinheiro em filial da Espanha 
O Globo. Por AP, 11/09/2017 15:56 / Atualizado 11/09/2017 15:57 
MADRI — O juíz da Corte Nacional da Espanha, Ismael Moreno, acusou o braço europeu do banco estatal chinês - Commercial Bank of China Europe (ICBC) - de ajudar a lavar mais de 214 milhões de euros naquele país entre 2011 e 2014. Sete altos executivos ligados à instituição já estavam sendo investigados desde fevereiro de 2016.
Em comunicado divulgado nesta segunda-feira, Moreno afirma que a filial do banco em Madri ocultou os depósitos por meio de empréstimos a clientes no exterior, em sua maioria transferências para a China. 
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Reportaje Especial: Cómo el mayor banco de China se vio atrapado en una gran causa contra el lavado de dinero 
Por Angus Berwick y David Lague
31/7/ 2017 13:24 
MADRID (Reuters) - Pocos minutos antes de las 8 de la tarde del 8 de agosto de 2012, dos ciudadanas chinas que vivían en España - una banquera y su cliente - mantuvieron una abrupta conversación telefónica. 
Wang Jing era directiva de la sucursal madrileña del Industrial and Commercial Bank of China, controlado por el Estado. La cliente, Xu Kai, era uno de los supuestos líderes de un grupo internacional de lavado de dinero que supuestamente usó a la entidad para transferir fondos ilegales a China. La red utilizaba supuestamente varias cuentas a nombre de residentes chinos de España, en algunos casos sin su permiso, para realizar las transferencias. Pero había una pega. 
Poco antes, el mismo día, según la banquera Wang, había llegado a la sucursal una mujer para quejarse de que se estaban haciendo transferencias desde su cuenta sin su conocimiento. Wang reprendió a Xu y le dijo que se asegurara de que los titulares de la cuenta utilizados en el plan estaban al tanto. 
“Tienes que mirar por ti y asegurarte de que esas personas sean obedientes”, advirtió Wang para añadir que si había más quejas, el banco tendría “problemas”.
De hecho, el banco ya tenía problemas. Grandes problemas. La policía española estaba escuchando. 
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Maior banco do mundo, chinês ICBC, tem resultado mais fraco em uma década 
Reuters, 31/3/2017 
Os principais bancos da China estão se preparando para lançar medidas neste ano para reduzir o peso sobre correntistas endividados e a inadimplência [incumprimento], que atingiu o maior nível em uma década no ano passado diante de um crescimento do PIB mais lento em 25 anos. 
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Commercial and Industrial Bank of China to open branch in Portugal 
27 January 2012 
Lisbon, Portugal, 27 Jan – The Industrial and Commercial Bank of China (ICBC) has made a request to the Bank of Portugal (BdP) to open up a subsidiary in the Portuguese market and is already setting up its management team, Portuguese weekly newspaper Sol reported. 
The aim of the Chinese bank, which will be the first from China to establish itself directly in Portugal, is to open in Lisbon in the second half of the year, although the final schedule depends on when it receives approval from the Bank of Portugal. 
Via its subsidiary in Macau, the ICBC has already been present in the Portuguese capital for a few years, but only via a representative office and with a reduced amount of business compared with what it now plans on receiving authorisation to open up a subsidiary. 
The arrival of the ICBC in Portugal is a result of the acquisition of the Seng Heng Bank, as when the deal was made the Macau-based bank had already been authorised (in 2006) to open up a representative office in Portugal, and thus the move is “simply a legacy” of that. 
In 2009, the Chinese bank boosted its ties with Portugal by setting up cooperation protocols with Portuguese banks Banco Espírito Santo and Millennium bcp to make investment between China and Portuguese-speaking countries easier. 
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domingo, setembro 03, 2017

A terceira ameaça à Geringonça

A Autoeuropa é da Volkswagen ou do PCP? A resposta é óbvia!

Ready to T-Roc?


Pode não ter passado duma guerra entre estalinistas e trotsquistas. Mas a verdade é que não falta espaço no mundo para acomodar a Autoeuropa. Em Espanha, ao contrário de Portugal, não há cadáveres comunistas adiados, e existirá em breve uma rede ferroviária para passageiros e mercadorias interoperável com o resto da Europa. Ou seja, ou o PS controla rapidamente os danos causados pelos senhores Jerónimo de Sousa e Arménio Carlos, ou os alemães, reforçados agora pelo espírito Macron, poderão de um momento para o outro perder a paciência e convidar os esquerdistas indígenas a comerem urtigas.

O pomo aparente da discórida que levou à inusitada greve na Autoeuropa foi o trabalho ao sábado.

Mas então os telefones, a rádio e televisão e a internet, ou os hospitais, ou as esquadras, museus, teatros, cinemas, casinos, restaurantes, bares, aeroportos, comboios, autocarros, táxis, elétricos, tuc-tucs, centenas de supermercados e milhares de lojas não trabalham aos sábados? Será que as dezenas de milhar de famílias das pessoas que trabalham nestas empresas e instituições sofrem o que as famílias aristocráticas da Autoeuropa não podem sofrer? Por onde anda a lógica da dirigente máxima do Bloco? Queimaram-se-lhe os neurónios durante o incendiário mês de agosto? Até os funcionários públicos, até os políticos, ou pelo menos alguns, trabalham aos sábados!

Num texto anterior —As duas ameaças à Geringonça— chamei a atenção do PS para dois dos perigos maiores que ameaçam a frente popular pós-moderna formada pelo PS, PCP e Bloco: o preço do petróleo, que tem vindo a subir paulatinamente, e o fim do conforto monetário proporcionado pelo BCE às democracias despesistas do sul da Europa, anunciado para 2018-2019. A conjunção destas duas tendências poderá, sobretudo se houver nova crise financeira global, pulverizar o cimento frágil da presente coligação disfarçada. Mas há um terceiro perigo!

O momento Hartz de Emmanuel Macron

A expansão monetarista levada a cabo pelo BCE está a chegar ao fim. Observando os resultados nos países que mais beneficiaram deste alívio —Portugal, Irlanda, Itália, Grécia e Espanha— verificamos que foram, no mínimo, duvidosos. À exceção da Irlanda, nenhum dos restantes PIIGS conseguiu corrigir a trajetória da respetiva dívida pública, e a este grupo de países incapazes de controlar as suas contas somou-se entretanto a França.

Os valores das dívidas públicas em % do PIB nos anos 2008, 2012, e 2016 são os seguintes:

  • Portugal: 71,7—126,2—130,4
  • Irlanda: 42,4—119,5—75,4
  • Itália: 102,4—123,3—132,6
  • Grécia: 109,4—159,6—179
  • Espanha: 39,4—85,7—99,4.


É neste contexto que o modelo alemão (65,1—79,9—68,3), sobretudo após a anunciada saída do Reino Unido (50,2—85,1—89,3) da UE, e depois da derrota estrondosa dos socialistas em França, começa agora a ganhar um valor heurístico renovado junto das elites europeias mais atentas.

Macron anunciou uma reforma laboral radical em França. Insuportavelmente neoliberal? Não. O novo presidente francês, apoiado numa confortável maioria parlamentar, apenas quer implementar em França, em nome da competividade europeia ameaçada, a mesma reforma laboral que o social-democrata alemão Gerhrard Schröder, e os Verdes (imagine-se!), impuseram aos sindicatos alemães entre 2003 e 2005, através do célebre plano Hartz, e da Agenda 2010.

Alemães e franceses, livres do atrito permanente provocado pelos ingleses de sua Majestade, estão agora mais decididos que nunca a reforçar a União Europeia, criando um coração inteligente mais forte, isto é, uma verdadeira união bancária e fiscal, um sistema de segurança unificado, e uma verdadeira estratégia europeia de defesa. Quem aceitar as novas regras continua, quem não aceitar que se junte aos náufragos britânicos. A verdade é que a decadência de Washington exige este género de fórceps estratégico, e as crises no Médio Oriente e na Coreia também!

À luz desta análise vejo no incidente entre a Geringonça e a Autoeuropa o terceiro prenúncio do fim da estratégia oportunista de António Costa. O pacto que este propôs ao PSD e ao CDS não passa duma farsa populista. O único pacto lógico e necessário ao país é o que garantir simultaneamente uma reforma do estado e uma reforma laboral adequadas à sustentabilidade da nossa economia, sem o que assistiremos à emergência insidiosa de um populismo de estado apoiado numa espécie de fascismo fiscal. Mas para que este cenário se impusesse, assistiríamos primeiro a uma caça às bruxas da opinião livre. Já estivemos mais longe!


REFERÊNCIAS

The Brief: A ‘plan B’ for the grand bargain

By Jorge Valero | EURACTIV.com  1/09/2017 (updated:  1/09/2017)

Britain’s exit from the EU progressed this week in slow motion. But one collateral effect of Brexit is Angela Merkel’s resolution to push for further integration of the eurozone, as Juncker would say. Her 17-point lead in the polls ahead of the 24 September general election, and her rival Martin Schulz’ support on the issue, mean this is sure to be central to the campaign.

But Merkel is still the chancellor of Germany, where taxpayers are against giving money to profligate and uncompetitive southern member states, the argument says.

Mutti‘s brother in arms to complete the reform of the 19-member eurozone, French President Emmanuel Macron, presented yesterday his long-awaited labour market reforms.

France aims to have its ‘Hartz’ moment fifteen years after the plan was unveiled in Germany to unlock the potential of the EU’s powerhouse.

If Macron succeeds, the impact will go far beyond turning his country into Europe’s second power. It will be the stepping stone toward the ‘grand bargain’ the eurozone has been waiting for between the northern guardians of fiscal discipline and the southern champions of shared protection when the next turbulence comes.


German labour-market reform
Hartz and minds
A new and controversial law takes effect this weekend
The Economist, Dec 29th 2004 | BERLIN


TRY calling a German bureaucrat after 3pm and the chances are that you will get no answer. But the Berlin branch of the Federal Employment Agency has recently been open as late as 10pm, weekends included. A dozen employees, surrounded by brown folders, are busy typing data into computers. “We have no choice but to get this done by the end of the year,” says one. The scene is replicated in 180 job-centres across Germany: thousands of staff are working extra shifts to prepare the launch on January 1st of “Hartz IV”. This law, based on the work of a commission led by Peter Hartz, Volkswagen's personnel director, is Germany's most important labour-market reform since the war.

[...]

The stakes are high. If Hartz IV succeeds, Germany will have taken a big step towards helping its army of long-term unemployed off the dole and into work. If it fails, there will be pressure to break up the Federal Employment Agency, or privatise it. And the popularity of Chancellor Gerhard Schröder's government, which has risen, could plummet. That may be why Mr Schröder has said that, if anything goes wrong, it will be the fault of Wolfgang Clement, his economics minister.

sábado, setembro 02, 2017

É a China, estúpido!

Clique para ampliar. In Nikkei Asian Review

Renminbi convertível em ouro desafia fake money de Wall Street. Um novo Tratado de Tordesilhas nunca esteve tão perto, pois uma guerra nuclear global é impensável.


“China is expected shortly to launch a crude oil futures contract priced in yuan and convertible into gold in what analysts say could be a game-changer for the industry.” Nikkei Asian News

A Coreia do Norte não é o maior problema da América. A China é. Na realidade, aquilo a que temos assistido é à transformação da Coreia do Norte numa espécie de Israel à moda de Pequim. Senão vejamos.

O que tem sido, de facto, o estado de Israel desde que foi criado pelos ingleses, sob o comando e inteligência de Lord Balfour e do Barão Edmond de Rothschild? Pois bem, um seguro de vida para as comunidades judaicas, sobretudo Asquenazis (oriundas na sua maioria da Europa Central e Oriental), e um bastião militar da estratégia petrolífera inglesa, e depois, anglo-americana. Basta ler a famosa Balfour Declaration (1917), ou a nota de Lord Rothschild que a precedeu para termos um quadro analítico que dispensa toda a verborreia ideológica. O petróleo foi a energia fundamental da Segunda Revolução Industrial. E quem controlou as principais regiões petrolíferas do planeta dominou o mundo até hoje.

Acontece, porém, que a taxa de crescimento demográfico mundial atingiu o seu pico em meados da década de sessenta do século passado, e o pico do petróleo americano ocorreu no início da década de 1970. Ou seja, os anos dourados do Sonho Americano tinham passado, e a partir daquele momento a hegemonia americana no mundo, conseguida como troféu da sua participação na Segunda Guerra Mundial, começaria a esmorecer. O dólar passou a estar sob pressão, pois a América estava cada vez mais dependente das importações de petróleo do Médio Oriente, do Golfo do México, da Venezuela e de África.

Esta dependência significava trocar petróleo por dólares convertíveis em ouro. Ou seja, a existência da moeda americana como moeda de reserva mundial pressupunha a estabilidade do seu valor real, e não apenas fiduciário, ou seja, implicava a sua convertibilidade no único mineral capaz de garantir a fé no dólar: o ouro.

Esta convertibilidade (1 onça de ouro = 35 USD) foi entretanto destruída por um império condenado a desvalorizar paulatinamente a sua moeda, tal como o Império Romano fez durante a sua longa decadência e colapso.

Nixon, face ao crescente excesso de dólares no mercado (e a correspondente procura de ouro como garantia anti-inflacionista), face à estagflação que se seguiu à criação da OPEP (1960), e face à Guerra dos Seis Dias (1967), viria a declarar sem efeito os Acordos de Bretton Woods, pondo deste modo fim à convertibilidade do dólar.

A Guerra do Yom Kippur (1973), protagonizada pela parceria entre Israel e a aliança anglo-americana, levaria a OPEC a concertar o famoso embargo, e a provocar uma subida do preço do petróleo sem precedentes (de 3 para 12 dólares). Desde então, a hegemonia americana não parou de perder influência, e a bolha fiduciária especulativa alimentada em Wall Street e na City londrina não parou de crescer até hoje.

A Alemanha tentou escapar a esta corrida para o precipício estabelecendo uma agenda económica e diplomática própria. Por sua vez, a implosão da União Soviética e a reunificação da Alemanha forçou a França a negociar com Bona a criação efetiva da União Europeia, um sonho alimentado desde 1952 (Comunidade Europeia do Carvão e do Aço), mas sempre adiado por pressão dos americanos e dos ingleses. O Brexit foi provavelmente a última e desesperada tentativa por parte da coroa britânica e financeiros londrinos de manter um paradigma de domínico há muito insustentável.

Entretanto, a China cresceu!

Mas para crescer, sobretudo depois de também ter chegado o pico das suas reservas petrolíferas, que começaram a ser extraídas por volta de 1959-60, em Daqing, a China viria a tornar-se no terceiro maior importador de crude do planeta, depois da União Europeia e dos Estados Unidos (há quem afirme que já é o primeiro). Ou seja, a disputa estratégica global pelo ouro negro tem três grandes atores, todos eles com demografias de peso e capacidade militar de sobra para destruir o planeta.

Acontece que os americanos, ainda que por razões compreensíveis (ninguém gosta de deixar de ser império), continuam a ignorar a realidade, ao mesmo tempo que se endividam cada vez mais, assistem ao declínio imparável do dólar, e começam a perder o controlo da sua própria estabilidade económica, social, política e cultural.

Chegou, pois, o momento de deixar de depender da moeda americana, e sobretudo de permitir que esta exerça chantagem sobre os países que quer controlar, ou impedir de crescer, recorrendo sistematicamente à prepotência das sanções económicas e financeiras, só possíveis de duas formas: pela manipulação do acesso e uso do dólar, ou pelo uso da força militar.

É neste ponto que importa perceber o real significado da escalada nuclear na Coreia do Norte, na sequência, aliás, de inúmeros incidentes entre americanos e chineses em torno da territorialidade dos Mares de China.

Quer queiramos quer não, o supremo líder da Coreia do Norte, Kim Jong-un, transformou o seu país numa potência nuclear. Ou seja, num país inatacável, ao contrário, por exemplo, da Síria, do Irão, ou da própria Turquia. As consequências são óbvias: se os Estados Unidos forem, como tudo indica, incapazes de impedir o nascimento de mais um país dotado de mísseis balísticos intercontinentais, então é só uma questão de tempo para que a Turquia e o Irão atinjam desideratos semelhantes.

Neste jogo de xadrez, a China levou a melhor, e usou Pyongyang da mesma forma que Washington usou Telavive ou, como alguns preferem, como Telavive tem usado Washington.

Aqui chegados, os Estados Unidos não terão outra opção que não seja negociar uma espécie de novo Tratado de Tordesilhas com Pequim. Desta vez, os meridianos não serão geográficos, mas monetários. Haverá duas moedas. Resta saber se o dólar e o yuan, se o yuan e o euro. Tudo dependerá de quem ganhar a batalha africana.


REFERÊNCIAS

Nota de Lord Rothschild ao então MNE britânico Arthur Balfour

Baron Edmond de Rothschild & Palestine 
Edmond de Rothschild (1845-1934) was the youngest son of James and Betty de Rothschild. He bore the Hebrew name Benjamin. He was born in Paris on 19 August 1845. Edmond joined the Paris Banking House in 1868 becoming a director of the Est railway company and other family concerns, and devoting himslef to art, culture and philanthropic interests.  In 1877, he married Adelheid (1853-1935), the daughter of Wilhelm Carl Rothschild (1828-1901). 
He made journeys to Bukharu to examine the potential of the oilfields of the area. In 1895, he visited Palestine for the first time, and his most outstanding achievements were involved in responding to the threats facing the Jewish people in Europe in the late 19th century by supporting massive land purchases and underwriting Jewish settlements in Palestine and Israel. 
Until his death, 'The Benefactor', as he was known provided support for Jewish colonists, overseeing dozens of new colonies. Rishon le Zion (the First in Zion) was followed by others bearing the names of his parents. In 1923 PICA (the Palestine Jewish Colonisation Association) was formed to oversee his affairs in Palestine. When Edmond died in Paris in 1934, he left a legacy which included the reclamation of nearly 500,000 dunams of land and almost 30 settlements. In 1954 his remains and those of Adelheid were brought to Ramat Hanadiv in Zikhron Ya'akov. 
— in Rothschild Archive

China prepara alternativa ao Banco Mundial

China sees new world order with oil benchmark backed by gold 
Yuan-denominated contract will let exporters circumvent US dollar
DENPASAR, Indonesia -- China is expected shortly to launch a crude oil futures contract priced in yuan and convertible into gold in what analysts say could be a game-changer for the industry. 
The contract could become the most important Asia-based crude oil benchmark, given that China is the world's biggest oil importer. Crude oil is usually priced in relation to Brent or West Texas Intermediate futures, both denominated in U.S. dollars. 
China's move will allow exporters such as Russia and Iran to circumvent U.S. sanctions by trading in yuan. To further entice trade, China says the yuan will be fully convertible into gold on exchanges in Shanghai and Hong Kong. 
"The rules of the global oil game may begin to change enormously," said Luke Gromen, founder of U.S.-based macroeconomic research company FFTT. 
(...)
China has long wanted to reduce the dominance of the U.S. dollar in the commodities markets. Yuan-denominated gold futures have been traded on the Shanghai Gold Exchange since April 2016, and the exchange is planning to launch the product in Budapest later this year.

(...)
Saudi Arabia, a U.S. ally, is a case in point. China proposed pricing oil in yuan to Saudi Arabia in late July, according to Chinese media. It is unclear if Saudi Arabia will yield to its biggest customer, but Beijing has been reducing Saudi Arabia's share of its total imports, which fell from 25% in 2008 to 15% in 2016. 
Chinese oil imports rose 13.8% year-on-year during the first half of 2017, but supplies from Saudi Arabia inched up just 1% year-on-year. Over the same timeframe, Russian oil shipments jumped 11%, making Russia China's top supplier. Angola, which made the yuan its second legal currency in 2015, leapfrogged Saudi Arabia into second spot with an increase of 22% in oil exports to China in the same period.
—in  Nikkei Asian Review, September 1, 2017 8:56 pm JST


Atualizado em 13/9/2017, 00:56, WET

As duas ameaças à Geringonça

Clique para aumentar. In Oil Price


Petróleo e juros a subir podem ditar fim da Geringonça.


Olhando para o gráfico dos preços do petróleo de Brent entre abril de 2010 e princípios de setembro de 2017, vemos que José Sócrates sucumbiu quando o petróleo ultrapassou os 100 dólares, e António Costa subiu ao poder quando o barril de crude andava pelos 44 dólares. Entre um valor e outro Portugal foi salvo da bancarrota pelo FMI e pelo BCE com base num programa de austeridade tão violento que impediria a coligação que fora forçada a aplicá-lo de renovar a sua maioria parlamentar. Pedro Passos Coelho ainda beneficiou da inversão da tendência altista do preço petróleo que ocorreria a partir de julho de 2014, mas não teve tempo de colher completamente os frutos de tal melhoria.

Uma coisa parece, no entanto, evidente quando analisamos a sincronia entre as crises políticas e a evolução do preço da energia: é este último que dita o rotativismo político-partidário do país e não o mérito ou demérito dos seus políticos. E muito menos o Facebook.

No entanto, apesar da política monetária expansionista do BCE, e da queda abrupta do preço do petróleo, continuamos no lixo—i.e. continuamos a ser uma presa fácil de investimentos especulativos e dos abutres financeiros. Porquê? Porque temos uma divida coletiva descomunal e uma classe política, da esquerda à direita, incapaz de sair do registo populista.

Dois fenómenos começaram entretanto a prejudicar os cálculos e expetativas de António Costa, Jerónimo de Sousa e Catarina Martins, tendo ao mesmo tempo aberto a porta à intervenção de Cavaco Silva nas jornadas da Universidade de Verão do PSD.

Por um lado, a subida do preço do petróleo tem vindo a ocorrer de forma consistente embora suave: 44 dólares em novembro de 2015, quase 53 dólares neste início de setembro de 2017, e uma previsão de 53,3 de média para 2018. Como o consumo privado num país que pouco produz implica necessariamente mais importações de petróleo, gás natural e automóveis, uma pequena subida no preço do crude faz toda a diferença indesejável no valor da nossa dívida total.

Por outro, o fim ou a diminuição drástica dos estímulos ao endividamento público e à criação de zombies bancários irá provocar um aumento inevitável do preço do dinheiro, ou seja, taxas de juro mais elevadas e inflação interna, sobretudo nos produtos que não aparecem no índice de preços ao consumidor, como são, por exemplo, os preços das casas, e o preço dos impostos.

Resta, pois, saber como é que países sobre-endividados, como Portugal continua a ser cada vez mais, irão enfrentar esta anunciada superfície frontal anti-deflacionsita, ou reflacionária, com tendências ciclónicas evidentes, nomeadamente as que são originárias das crises político-militares em África, Médio Oriente e Ásia-Pacífico.