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segunda-feira, julho 25, 2016

Três leituras de verão



A temperatura política vai manter-se alta neste outono


Com mais ou menos sanções, por mais ou menos pesadas que estas venham a ser, ou mesmo sem as ditas, o que aí vem —a fatura até há pouco escondida do OE2016, e o OE2017— é mais austeridade, continuação de uma gravíssima crise no sistema financeiro, crispação político-partidária que baste, mais pobreza, mais emigração, menos crescimento e, portanto, mais nevoeiro sobre as coisas que verdadeiramente nos deveriam preocupar.

Para aproveitarmos bem as digestões deste verão tórrido, mais do que a barulheira partidária, com os escândalos que não deixarão de alimentar o imaginário da nossa deceção, recomendo três leituras: a deliciosa entrevista de Teodora Cardoso ao Expresso desta semana, um livrinho impresso, mas cheio de gráficos online, intitulado The Next Economic Disaster—Why It's Coming and How to Avoid It (2014), escrito por Richard Vague, e ainda a leitura de uma obra que vai mudar a nossa percepção dos últimos 200 anos de marxismo: The Structure of World History—From Modes of Production to Modes of Exchange (2014), escrito por um pensador japonês supreendente chamado Kojin Karatani.

Segundo Teodora Cardoso, as empresas portuguesas estavam já em 2011 demasiado endividadas para poderem responder ao Governo quando este propôs uma agenda de crescimento baseada no consumo e no investimento. “Para haver investimento tem de haver capital nacional, e o capital nacional foi praticamente todo para o imobiliário”, assestou Teodora Cardoso ao Expresso.

Apêndices do livro de Richard Vague (PDF)

Para Richard Vague e Ricahd Keen, o grande problema de uma crise que já leva uma década não começa nas dívidas públicas das grandes economias, mas na explosão das suas dívidas privadas, resultantes de maus empréstimos que acabariam por tolher o crescimento ao fazerem disparar os créditos insustentáveis das empresas, das famílias e dos especuladores, que por sua vez incharam como bolhas até rebentaram sob a forma de eventos  de crédito, falências, desemprego em massa e queda na criação de novos empregos. É a crise financeira e social daqui decorrente que induz depois —e enquanto os governos aguentarem— o incremento acelerado das dívidas públicas e a sua subsequente monetização burocrática.

Desde 2008, este atalho burocrático conduziu à destruição sucessiva das taxas de juro e às emissões imparáveis de dívida soberana. Perante esta destruição do mecanismo das taxas de juro, num ambiente económico estagnado ou mesmo recessivo, a especulação financeira acabaria por desviar-se da economia e das aplicações em derivados financeiros especulativos (OTC), apostando também ela nos instrumentos criados pelos governos assustados com mais esta crise sistémica do capitalismo.

As gigantescas bolhas soberanas têm vindo a rebentar e a fazer implodir países inteiros (Grécia, Venezuela, Angola, Brasil...). Talvez por isto Richard Vague, depois de muitos e ilustrativos gráficos, acabe por recomendar uma vigilância muito maior sobre o crédito privado, e recomende a sua restruturação, apelando à memória coletiva dos Jubileus das dívidas ao longo da História.


A reversão segundo a Síntese da Execução Orçamental, Junho 2016 (pdf)


Kojin Karatanim, por sua vez, vai bem mais fundo na análise dos problemas contemporâneos, propondo-nos uma viagem fantástica aos fundamentos históricos da nossa civilização.

O mundo e a história humana não resultam, como imaginou Karl Marx, das mutações sociais resultantes da sucessão dos modos de produção (nem muito menos da luta de classes), mas antes de uma evolução nos modos de troca de que os modos de produção, as tecnologias e as organizações humanas, entre as quais as formas de poder e a política, são epifenómenos e não causas eficientes e duradouras de tudo, como a generalidade da Esquerda ainda hoje, para mal das soluções que tardam, ainda pensa.

domingo, julho 10, 2016

Deutsche Bank, o próximo Momento Minsky




Atenção! Vai haver dinheiro do BCE para recapitalizar a Caixa


Folkerts-Landau : “A Europa está muito doente”.

Porquê? Porque o Deutsche Bank está cada vez mais próximo do Lehman Brothers... Perdeu mais de 60% do seu valor desde julho do ano passado, regista uma exposição aos derivados especulativos próxima do PIB nominal do planeta, e hoje, domingo, o seu economista chefe, David Folkerts-Landau, a pretexto da gravíssima crise bancária italiana, transmitiu ao Welt que são precisos 150 mil milhões de euros para impedir um colapso bancário e financeiro na Europa. E disse ainda que as regras da União Bancária terão que ser suspensas neste caso. Em vez de um ‘bail-in’, insuportável pelos bancos e capaz de provocar uma corrida europeia aos depósitos (o Banif foi mais uma cobaia, como agora se vê), há que avançar rapidamente para a um ‘bail-out’, ou seja, para um resgate público em larga escala da banca europeia atulhada de incobráveis, imparidades e exposição especulativa aos derivados financeiros OTC. Só não disse, o economista-chefe do Deutsche Bank, que a grande bomba pronta a explodir se chama, precisamente, Deutsche Bank. 

Ora aqui está uma notícia sumamente indigesta para Wolfgang Schauble, e em breve, para o resto dos europeus. Só António Costa terá razões para sorrir.

Por fim, segundo o mesmo Folkerts-Landau, a equação da desgraça é esta: 

fraco crescimento + endividamento elevado + deflação = crise


Já sabíamos!

ANEXO: alguns gráficos que ajudam a perceber o problema...









Minsky Moment (Wikipedia)

A Minsky moment is a sudden major collapse of asset values which is part of the credit cycle or business cycle. Such moments occur because long periods of prosperity and increasing value of investments lead to increasing speculation using borrowed money. The spiraling debt incurred in financing speculative investments leads to cash flow problems for investors. The cash generated by their assets no longer is sufficient to pay off the debt they took on to acquire them. Losses on such speculative assets prompt lenders to call in their loans. This is likely to lead to a collapse of asset values. Meanwhile, the over-indebted investors are forced to sell even their less-speculative positions to make good on their loans. However, at this point no counterparty can be found to bid at the high asking prices previously quoted. This starts a major sell-off, leading to a sudden and precipitous collapse in market-clearing asset prices, a sharp drop in market liquidity, and a severe demand for cash.

terça-feira, março 15, 2016

Querida Mariana



Há um grande problema, sim. Chama-se buraco negro dos derivados OTC. E não se resolve com mais caricaturas de Keynes


O problema é que as economias estão deprimidas pela austeridade, sobre-endividadas e sem capacidade de investimento (sobretudo público). 
[...] 
Draghi está preso àquilo a que Keynes chamava a “armadilha da liquidez”, sem admitir que a solução, mais que monetária, está na capacidade de estímulo orçamental e na reorientação estratégica do papel da Banca. 
in “É uma armadilha, Draghi”, por Mariana Mortágua (DN)

Querida Mariana, estímulo orçamental (e bolhas) foi o que não faltou desde final do século 20, e o resultado está à vista! Bolha dot.com, bolha imobiliária do Subprime, bolha estudantil nos Estados Unidos, bolha soberana na Europa, todas elas, como saberá, associadas a estímulos orçamentais e especulação financeira. Em Portugal, basta somar as faturas da EXPO '98, das PPP rodoviárias, das PPP das novas barragens, das PPP hospitalares, das PPP das águas e tratamento de resíduos, das ditas empresas municipais, do forrobodó e SWAPs no setor público dos transportes, da submissão da banca privada ao Estado crava que temos e, finalmente, da corrupção, para já todos sabermos que a receita de mais envolvimento público não só não resolve nada, como piora tudo, nomeadamente pelo fascismo fiscal e monetário que se anuncia. Que tal uma visita aos Grundrisse, do nosso amigo comum Karl Marx? É que o Capitalismo está a mudar, mas não por mérito das esquerdas.

terça-feira, maio 12, 2015

EUA: 22 estados falidos


Estados americanos com défices fiscais perigosos e ameaças pendentes de suspensão de pagamentos

Os PIIGS não passam de uma manobra de distração


Portugal, tal como os outros países visados pelo odioso acrónimo, chegaram à pré-bancarrota em grande medida por causa da fantasia de um crescimento virtual assente em dívidas públicas, empresariais e familiares exponenciais, políticas públicas neoneoneokeynesianas, e consumo conspícuo. Mas as grandes bolhas estão noutros lugares: Japão, Estados Unidos, Inglaterra. Não se vêm com a mesma acuidade porque os respetivos governos e bancos centrais mentem permanentemente sobre o que se passa. Olhando, porém, para a pobreza e instabilidade social crescentes nesses país compreendemos perfeitamente que o buraco negro criado —nomeadamente o Grande Buraco Negro dos Derivados Especulativos (OTC Derivatives)— poderá, a qualquer momento, empurrar o planeta para um colapso financeiro e económico bem pior do que o de 2008.

Quase metade dos estados dos EUA está oficialmente falida. E no entanto as agências de notação de crédito mantêm o país em AA+ (excellent) !!!

Via AP/ Zero Hedge:

An Associated Press analysis of statehouse finances around the country shows that at least 22 states project shortfalls for the coming fiscal year. The deficits recall recession-era anxiety about plunging tax revenue and deep cuts to education, social services and other government-funded programs.

The sheer number of states facing budget gaps prompted Standard & Poor’s Ratings Service to call the trend a sort of “early warning.”

“After all, if a state is grappling with a budget deficit now, with the economic expansion approaching its sixth anniversary, what will be its condition when the next slowdown strikes?” credit analyst Gabriel Petek wrote in a recent report.


[...]

The forces at work today are somewhat different than when the recession took hold in 2008. In some states, revenue growth has been stagnant, missing projections and making it difficult to keep pace with expanding populations and rising costs for health care and education. Other states have been hurt by a steep decline in oil prices or seen their efforts to promote growth through tax cuts fail to work as anticipated...

A majority of states have failed to climb back to their pre-recession status, in terms of tax revenue, financial reserves and employment rates, said Barb Rosewicz, who tracks the fiscal health of states for The Pew Charitable Trusts.

Alabama, for example, faces a $290 million shortfall after a voter-approved bailout expires at the end of the current fiscal year. If nothing is done, the courts will not have the staff to send jury notices, monitor juvenile delinquents, process protection orders and collect and distribute child support payments, he said.

“This is an insane proposition,” Hobson said. “The public would suffer.”

Nationally, total tax revenue coming to the states has been rising, but the pace has been slow as employment continues to lag pre-recession levels in more than half the states, according to the Pew Charitable Trusts. Pew also found that 30 states are collecting less revenue than at their peak.

The Census Bureau recently reported that total state government tax collections in fiscal year 2014, which in most states ended last June, increased 2.2 percent over the previous fiscal year. That represented the fourth consecutive overall increase, but 17 states reported declines in tax revenue from the previous fiscal year, according to the report. Alaska saw the biggest drop, of $1.7 billion.

In Illinois, lawmakers are trying to figure out how to close a $6 billion projected shortfall for the next fiscal year, due largely to the expiration of a temporary tax increase [and] in Kansas, the Republican governor and GOP-dominated Legislature now confront budget deficits after aggressive tax cutting that prompted them to reduce school funding this spring.


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sábado, abril 04, 2015

Transição ou barbárie

Average annual GWP growth rate from 1,000,000 BCE to 2011. 2011 GWP adjusted with CPI data. Wikipedia
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Poderemos agir sem cair em novas ilusões?


Os diagnósticos da situação estão feitos. Falta saber o que fazer....

Falta-nos uma visão para futuro. E antes de a termos, subir ao poder não chega. Veja-se o caso francês, ou pior ainda, o grego. As receitas dos sucessivos revisionistas do marxismo não têm resolvido coisa nenhuma.

Há um islandês, Frosti Sigurjonsson, que quer proibir os bancos de criarem dinheiro (que efetivamente criam sob a forma de crédito), reservando esta tarefa exclusivamente aos bancos centrais (Monetary Reform). 

Na perspetiva de termos pela frente décadas sem criação significativa de novos empregos, e declínio do emprego existente, há quem proponha a criação de uma responsabilidade fiscal coletiva a que chama Rendimento Básico Incondicional, ou Renda Básica de Cidadania.

Thomas Piketty defende a criação de uma taxa sobre as grandes fortunas, embora o jovem Matthew Rognlie (Deciphering the fall and rise in the net capital share) tenha recentemente deitado alguma água na fervura do maniqueísmo esquerda-direita. Seja como for, a taxa sobre as fortunas não chegaria para tapar, nem o buraco do desemprego, nem o buraco do endividamento astronómico, público e privado, nem a exposição da economia global e do seu sistema financeiro ao buraco negro dos derivados especulativos (OTC), cujo potencial de destruição equivale a 10x o PIB mundial!

A verdade é que entrámos numa era nova caracterizada por:

— escassez de energia e matérias primas baratas
— excesso de capacidade produtiva e pseudo-inovação
— inflação dissimulada
— rendimentos do trabalho, mesmo qualificado, em queda imparável (1)
— elevados níveis de desemprego estrutural
— diminuição da procura agregada mundial por efeito da carestia escondida e do número crescente de pessoas desempregadas e à procura do primeiro emprego
— economia especulativa e endividamento excessivo por toda a parte
— sistema financeiro em processo de implosão

Em Portugal falta assistirmos ao colapso dos sistemas de proteção social, por enquanto protegidos pelos programas de resgate financeiro da Troika, para que as condições subjetivas de um terramoto social e político ocorram. Por enquanto, os milhares de milhões de euros que saem anualmente da dívida pública e da repressão fiscal em curso, para os mais necessitados, somados às receitas da emigração e do turismo têm conseguido impedir que a pressão social rebente com o regime. Resta saber até quando.

O ponto fulcral da rotura que se aproxima chama-se segurança social.

Não há dinheiro para manter o sistema de pensões e reformas atual, nem para acudir ao desemprego e falta de emprego que não param de crescer. Para evitar uma revolução, ou uma guerra civil, será preciso encontrar uma solução estrutural para estes dois problemas gravíssimos. Renegociar as predadoras PPP que os idiotas 'socialistas' introduziram irresponsavelmente no país, e de que a redução das criminosas rendas da energia é a primeira prioridade, terá que ser obrigatoriamente feito durante a próxima Legislatura, pois a atual já praticamente terminou. Estamos em plena campanha eleitoral.

Mas há outro ponto nevrálgico que precisa de sofrer uma transformação radical: o peso insustentável do Estado, esse monstro informe, incompetente, hipertrofiado, burocrático e corrompido até à medula que, a continuar a substituir-se à democracia, acabará por liquidá-la. A tendência para o fascismo fiscal é já uma das mais perigosas evidências da sua deriva autoritária.

Que fazer?


Não tem faltado discussão sobre as causas. Chegou o momento de discutir as soluções difíceis.

Sete pilares para uma estratégia reformista necessária
  1. Distribuição das responsabilidades da sociedade relativas à saúde, ao ensino, à solidariedade e à proteção social, por três setores dotados de autonomia efetiva e transparência obrigatória: o Estado e as suas autarquias; o setor privado (não subsidiado); e o setor associativo sem fins lucrativos (parcialmente subsidiado)
  2. Criação das cidades-região de Lisboa e do Porto, com fusão total das respetivas autarquias, e racionalização dos respetivos serviços.
  3. Introdução, por fases, de um sistema cuidadosamente estudado de Renda Básica de Cidadania, eliminando automaticamente todos os embustes associados atualmente à gestão do desemprego (pseudo formação profissional, etc.) e à gestão das carências familiares e individuais extremas.
  4. Redução em 30% dos custos com o pessoal político-partidário do regime (menos deputados nacionais, regionais e autárquicos, menos fnanciamento partidário, etc.)
  5. Definição de uma política de infraestruturas, mobilidade e transportes racional, onde o estado esteja presente apenas no financiamento/posse das infraestruturas, que são públicas, entregando à concorrência privada a exploração dos serviços, que deverão ser objeto de cláusulas estritas de salvaguarda do interesse público.
  6. Convergência financeira, fiscal, estatística e da competitividade com o resto da União Europeia.
  7. Manutenção de reservas de soberania em matéria de defesa, política externa e alianças, proteção do território continental, insular e marítimo, e proteção dos recursos estratégicos próprios (a poupança e a propriedade privada, a energia, a água, a diversidade biológica, a língua e a cultura).

Como fazer?


Será preciso um novo partido? Mais partidos? As próximas eleições irão demonstrar (ao contrário do que cheguei a crer) que um molho de novos partidos não será porventura a via mais realista para encetar o inadiável processo de transição para uma sociedade mais austera, mas também mais solidária, mais transparente, mais humana e mais genuinamente criativa.

Talvez seja possível forçar uma mudança do regime sem precisarmos de destruir os atores existentes. Bastaria para tal que estes fossem capazes de adaptar-se rapidamente aos novos tempos, começando por fazer a sua própria e necessária dieta mental e física.

Por outro lado, está a nascer uma Democracia Eletrónica, em rede, multipolar, heterogénea, mas genuína, cuja capacidade de mudar os acontecimentos é cada vez mais palpável. Falta apenas descobrir as articulações pragmáticas entre estes dois mundos existenciais, material um, imaterial o outro, para que o diálogo democrático dê lugar a verdadeiros processos metamórficos de transição civilizacional e cultural.

Temos que conservar, alimentar e usar com criatividade e entusiasmo a réstea de otimismo que há em cada um de nós.

NOTAS
  1. Gigantes das telecomunicações estão a contratar em Portugal licenciados a 1000 euros por 30 dias de trabalho e oito horas por dia, ou seja, 4,17 € por hora, 7 dias por semana, e nenhum descanso semanal! Outro exemplo: a Câmara Municipal de Lisboa, gerida por 'socialistas', tem nos seus variadíssimos tentáculos pseudo-empresariais dezenas de 'voluntários' a trabalhar para si sem lhes pagar um cêntimo que seja. Nem sequer lhes fornece uma refeição diária, ou paga um passe social de transportes... Não é escravatura, mas anda perto.


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quarta-feira, fevereiro 11, 2015

Alemanha exportou demais


source: tradingeconomics.com

A Alemanha sofre de uma dependência obsessiva das exportações. Provavelmente esta dependência levou-a a cometer um erro fatal: subsidiar os seus clientes, nomeadamente através da criação do euro (uma moeda com duas caras muito diferentes, como viemos todos a constatar), e do laxismo orçamental induzido por uma política de destruição das taxas de juro e créditos de risco muito para além do razoável.

À medida que este modelo artificial de crescimento foi começando a dar de si, a Alemanha e em geral o sistema financeiro europeu, mais os indigentes governos democráticos que controla de cima abaixo, embarcaram na grande aventura dos contratos de futuros especulativos (OTC), destinados a aumentar indefinidamente a capacidade de investimento e de comércio de bens e serviços, sem cuidar se a liquidez artificial gerada e a velocidade do dinheiro traduziam uma criação efetiva de valor.

Como não correspondia, o endividamento público e privado foi crescendo sem parar, e a par deste descalabro outro houve ainda maior: a especulação financeira criminosa que nos trouxe ao colapso para que caminhamos como lémures.

Escreve a AICEP:

Embora tenha vindo a perder quota de mercado nos últimos anos, a UE27 continua sendo o principal parceiro comercial da Alemanha, tendo, em 2013, absorvido 55,5% das exportações e fornecido 55,4% das importações, destacando-se a França como principal parceiro comercial do lado das exportações (9,0% do total) e os Países Baixos do lado das importações (8,9%).

Alemanha. Ficha de Mercado.
AICEP, fevereiro de 2015

Tudo isto é verdade, mas se a Alemanha andou a subsidiar as importaçoes nos países destinatários através de estímulos financeiros aos orçamentos, nomeadamente públicos, dos seus clientes, então pode talvez afirmar-se que andou a brincar com o fogo.

Basta ver o gráfico da exposição do Deutsche Bank aos derivados especulativos.



sábado, fevereiro 07, 2015

Novos portos para quem?

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Basta reparar neste gráfico...


Talvez seja altura de deixar de considerar como hipótese realista a construção de novos portos, seja no Barreiro, ou na Trafaria.

Discutir hipoteticamente a coisa não faz mal a ninguém, até faz bem. Mas permitir que as elucubrações sejam colocadas no mercado eleitoral do próximo outono, como se fosse um saco de cenouras para catar votos, é que já não me parece idóneo. Sobretudo porque a manobra apenas serve para disfarçar a maior calinada deste governo: ter deitado ao lixo, ou melhor, ter entregue a Espanha e à França, mais de mil milhões de euros, oriundos de Bruxelas e do BEI, que estavam disponíveis para construir a ligação ferroviária de bitola europeia entre o Pinhal Novo-Poceirão e o Caia, que ligaria duas cidades-região com quase dez milhões de pessoas e uma boa parte do PIB da Península Ibéria: Lisboa e Madrid.

Ao contrário do que diz António Costa, não há nenhum ambiente favorável ao crescimento nos próximos quatros anos, e portanto a sua magia eleitoral em volta do que descreve como 'investimentos estruturantes' não passa de uma mal disfarçada tentativa de vender banha da cobra com o selo de um partido que, além de ser o principal responsável partidário pela ruína do país, ainda não deixou de ser um antro de corrupção e um enorme deserto de ideias.

O que teremos pela frente, o que o próximo governo terá que enfrentar, é a continuação, mais radical se possível, do desendividamento do país. Se no resto do planeta é este o principal problema, como poderia ser de outra forma neste cantinho de apagada e vil tristeza infestado de piratas e maus atores de telenovela?

O gráfico acima republicado, conhecido por Baltic Dry Index (BDI), com uma notação minha sobre as causas da anomalia de crescimento na procura do transporte marítimo das principais matérias da economia mundial, verificada entre 2001 e 2009, diz tudo o que é preciso saber sobre as perspetivas económicas dos próximos anos.

O colapso recente dos preços do petróleo vierem reforçar a força já de si eloquente do BDI.

A economia dos países mais ricos começou a abrandar no início deste século enquanto se assistia ao crescimento muito rápido dos chamados países emergentes, nomeadamente os BRICS. Contudo, depois de 2010-2011, o efeito nas novas economias começou a abrandar,  pois também elas estavam atoladas em dívidas.

O problema explosivo que o mundo tem entre mãos é o problema da Grécia, mas elevado a  uma potência muito elevada, difícil de precisar para além desta ideia: o valor nocional dos contratos especulativos (OTC) de derivados financeiros é, segundo o BIS, da ordem dos 691 biliões de USD, ou seja, quase nove vezes e meia o PIB mundial (72,6 a 75,5 biliões de dólares). Se apenas 10% destes contratos se perderem na bancarrota global, estaremos a falar de um buraco negro na economia e nas finanças da ordem dos $69 biliões.

Por outro lado, a dívida pública grega, na ordem dos 421 mil milhões de USD, não passa de uma pequena parte da dívida mundial: cerca de 200 biliões de dólares!

A dívida mundial calculada no estudo da McKinsey ($199E12), dividida pela população do planeta, corresponde a qualquer coisa como $27.260 por pessoa, para um PIB/capita de aproximadamente $10.178. Só para pagar a dívida mundial são necessários os rendimentos inteiros de mais de dois anos e sete meses. E aproximadamente um ano mais para ensopar 10% do buraco negro dos derivados OTC. Saber quem deve o quê e a quem é, em suma, o pomo da discórdia, a que poderíamos chamar SINDROMA GREGO!
The world economy is still built on debt
Bloomberg. By Simon Kennedy
12:01 AM WET, February 5, 2015

That's the warning today from McKinsey & Co.'s research division which estimates that since 2007, the IOUs of governments, companies, households and financial firms in 47 countries has grown by $57 trillion to $199 trillion, a rise equivalent to 17 percentage points of gross domestic product. 

É por tudo isto que devemos desconfiar das soluções milagrosa, porque, pura e simplesmente, não existem.

Atualização: 7/2/2015 18:30 WET

quinta-feira, fevereiro 05, 2015

Grexit? (2)

Quem deve o quê e a quem?

Todos ralham... mas nem gregos, nem troianos têm razão


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Does Anyone Remember 2007? The Global Debt Bubble In 3 Ominous Charts
Zero Hedge. Submitted by Tyler Durden on 02/05/2015 12:08 -0500

Seven years after the bursting of a global credit bubble resulted in the worst financial crisis since the Great Depression, debt continues to grow. In fact, as McKinsey explains in their latest report, rather than reducing indebtedness, or deleveraging, all major economies today have higher levels of borrowing relative to GDP than they did in 2007. They pinpoint three areas of emerging risk: the rise of government debt, which in some countries has reached such high levels that new ways will be needed to reduce it; the continued rise in household debt; and the quadrupling of China’s debt, fueled by real estate and shadow banking, in just seven years... that pose new risks to financial stability and may undermine global economic growth.
Keiser Report — Episode 714

In this episode of the Keiser Report back in London, Max Keiser and Stacy Herbert discuss the Greek situation and that a nation is not what it thinks it is but what others attempt to hide about that nation - like the fact that it is bankrupt. They discuss the role Goldman Sachs played in helping Greece hide its debts and, thus, strapping it to the euro and the mispricing of real risk by well-compensated bond investors lending to Greece at ultra low interest rates. They also discuss that, while deflated footballs was the main headline on the nightly news in America, a memo was delivered to Obama outlining the various ways that brokers defraud American investors of years worth of retirement income.

Keiser Report en español: La verdad sobre Grecia (E714)
Publicado: 3 feb 2015 15:17 GMT | Última actualización: 3 feb 2015 15:17 GMT

Os bancos, os fundos de pensões, o investimento financeiro de poupanças privadas, e os fundos de investimento especulativo ganharam até hoje rios de dinheiro com os governos e as suas dívidas soberanas. Foi assim até que um belo dia estes investimentos, parte dos quais pertencem a fundos de pensões, públicos e privados, de inúmeros países, começaram a dar cada vez menos retorno, nomeadamente por efeito das políticas monetárias expansionistas dos governos dos países mais ricos do mundo, por sua vez, cada vez mais ávidos de recursos financeiros.

Os estados cresceram desmesuramente depois da Segunda Guerra Mundial, em número de funcionários, em responsabilidades sociais, em despesas de capital e consumos intermédios, muito para além das receitas fiscais que é razoável extrair dos rendimentos da riqueza efetivamente produzida. Daí o endividamento sistémico que atinge hoje, como uma espécie de peste negra, cerca de cinquenta países, e algumas das maiores economias mundiais: Japão, Itália, Reino Unido, Espanha, França, Estados Unidos, Alemanha, etc. O mundo inteito tem hoje uma dívida pública na ordem dos 64%, acima, portanto, do limite estabelecido pela União Europeia para a dívida pública de cada um dos seus membros.

Como resultado desta degradação orçamental dos estados subiu o apetite soberano pelo endividamento, mas as aplicações em dívidas soberanas foram sendo, apesar desta procura maciça, remuneradas com taxas de juro cada vez menores, partindo-se do princípio que os governos não iam à falência. Este contrasenso foi o resultado de uma montagem cuidadosa das chamadas agências de notação financeira. Na realidade, à degradação orçamental dos países correspondia, de facto, um risco cada vez maior, escondido, porém, debaixo das famosas notações triplo A.

O facto de este risco, após os colapsos do Subprime, e do banco Lehman Brothers, ter passado rapidamente a ser compensado pela exigência de dividendos (yields) mais elevados, com repercussões diretas nos juros a pagar pelos devedores, não resolveu todos os problemas.

Quando os juros implícitos das dívidas soberanas disparam para valores de 7% ou mais, é o próprio sistema financeiro que entra em terra incognita.

Os principais dirigentes mundiais sabem disto, mas alimentaram o conúbio entre poder político e poder financeiro durante mais de 30 anos. Basicamente, desde 2000, ou 2006, estamos no fim dum ciclo longo de crescimento inflacionista, o qual durou mais ou menos 120 anos—desde 1886, ano do jubileu da Rainha Victoria, até 200, início da crise do Subprime.


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The Death Cross Of American Society
Zero Hedge. Submitted by Tyler Durden on 02/05/2015 15:26 -0500

As BofAML warns, if Main St. doesn’t recover this year on the back of the powerful cyclical combo of lower oil/rates/currencies then the specter of “policy failure” will haunt investors, and currency wars, debt default and deficit financing will become macro realities.

Os sintomas desta crise anunciada começaram a revelar-se claramete durante a primeira grande crise petrolífera, em 1973.

Desde o tempo de Ronald Reagan que os governos americano e europeus começaram a endividar-se, em conúbio com os bancos e as elites financeiras, garantindo desta forma que as economias cresceriam, ainda que artificialmente, nomeadamente através de várias estratégias conjugadas:

  • expansão do mercado de capitais;
  • endividamento público e privado através de crédito barato e aumento da massa monetária em circulação;
  • privatização progressiva dos setores públicos das economias;
  • controlo artifical da inflação—abaixo dos 2%, como repete até à exaustão o BCE;
  • criação de emprego não produtivo, nomeadamente nas áreas da educação e serviços;
  • assalto aos principais países produtores de matérias primas e alimentos;
  • globalização financeira e comercial;
  • informação estatística obscura, também conhecida por massagem criativa dos números!

No entanto, esta tentativa de parar a tendência inevitável para o fim de mais uma era prolongada de crescimento rápido, ou inflacionista (D H Fischer), cuja tendência subterrrânea é a incapadidade da oferta agregada global satisfazer a procura agregada global, não resultou. Ainda que tenha conseguido prolongar artificialmente a ilusão da prosperidade para todos, a verdade começa a vir ao de cima com um conhecido cortejo de desgraças: queda progressiva e consistente dos rendimentos do trabalho, mas também dos rendimentos da propriedade, da poupança e do investimento, destruição maciça de empregos, falências imparáveis de empresas, deflação, colapso social, e alterações políticas e culturais tendencialmente radicais.

As estratégias neo-keynesianas, conjugadas com o crescimento dos chamados países emergentes, boa parte dos quais havia estado sob um domínio colonial centenário, tiveram como efeito principal a criação de uma bolha especulativa global incontrolável. Só o mercado dos chamados derivados financeiros especulativos (Over The Counter—OTC), representa um potencial destrutivo na ordem de 10xPIB mundial. Se apenas 10% destes contatos especulativos derem para o torto, o buraco negro será da ordem do 1xPIB mundial.

É por isto que uma crise extrema como a da Grécia poderá ser tão explosiva e desencadear um inesperado efeito dominó.

Todos ralham, mas ninguém razão.

Mas para deixar um gosto menos amargo na boca do leitor aqui vai um remake divertido de Tom Jones ;)





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quinta-feira, janeiro 29, 2015

Não batam mais nos paraísos fiscais

A honestidade fiscal também não mora na Alemanha.

A fuga ao fisco é um problema, mas não é o maior de todos


Os paraísos fiscais em todo o mundo, e de todo o tipo, uns permitdos, outros perseguidos, incluindo as ilhas-pirata da Coroa Britânica, a City londrina, a Irlanda, a Holanda, o Luxemburgo ou a Suíça, poderão albergar entre 6 (Think Progress) e 32 (BBC) biliões de dólares—ou seja, entre 6E12 e 32E12 USD.

Para termos uma ideia da enormidade destas estimativas, basta pensar que o PIB mundial é da ordem dos 74 biliões de dólares—74E12 USD. Ou seja, a riqueza que foge, total ou parcialmente, às responsabilidades fiscais de origem, é da ordem de metade do PIB mundial.

Só em impostos não pagos por ano podemos estar a falar de 190 a 280 mil milhões de dólares. O PIB português em 2013 foi da ordem dos 220 mil milhões de dólares.

Tudo isto é verdade e deve ser denunciado e combatido. Mas não tenhamos ilusões: isto é apenas a ponta de um icebergue bem maior e mais perigoso.

Por exemplo, só a exposição do Deutsche Bank ao gigantesco mercado de derivados financeiros é da ordem dos 54,7 biliões de dólares—$54,7E12. Basta que 10% destes contratos (CDS, etc.) não sejam cumpridos, para que o DB tenha que assumir perdas na ordem dos 5,4 biliões de dólares, o dobro do PIB alemão!

Por sua vez, o 'valor nocional' do mercado mundial de derivados financeiros OTC (especulativos), era, segundo o BIS, na primeira metade de 2014, da ordem dos 691 biliões de dólares, mais de 9x o PIB mundial. Se apenas 10% destes contratos fossem ao ar, o buraco seria da ordem dos 69 biliões de dólares—próximo, portanto, do valor do PIB mundial...

Quero dizer com isto que a responsabilidade do Grande Buraco Negro que está a engolir as sociedades de consumo (e também as outras!) não é só do dinheiro que foge aos impostos, mas também do endividamento privado e público baseado em expetativas de crescimento que estão a desaparecer, e sobretudo ainda do jogo bolsista, boa parte do qual é investimento puramente especulativo.
Diria, em síntese, que é preciso menos impostos e mais repressão fiscal sobre os infratores, nomeadamente sobre os paraísos fiscais. Mas ao mesmo tempo é urgente suprimir a concorrência fiscal dentro duma mesma zona monetária, como hoje ocorre na Europa.
É mais urgente, factível e frutuoso, implementar imediatamente uma verdadeira união fiscal na Zona Euro, incluindo países associados ou com moedas atreladas à moeda única, do que insistir apenas no ataque já em curso contra os paraísos fiscais, nomeadamente por parte dos Estados Unidos, ou da China..

A denúncia cega dos paraísos fiscais pode ocultar sem querer a questão muito grave da concorrência fiscal entre países da zona euro, e a questão gravíssima da especulação financeira, nomeadamente com os célebres Credit Default Swaps, associados a PPPs, ao financiamento dos défices e das dívidas públicas, ou à especulação com taxas de juro e de câmbio.
Mas o que, do meu ponto de vista, temos que perceber de vez é que o paradigma do crescimento mundial mudou, seja porque o mix energético está em plena metamorfose, seja porque a redistribuição da riqueza mundial sofreu e continuará a sofrer um ajustamento brutal com a entrada dos países emergentes na equação de acesso e usufruto dos recursos finitos disponíveis, seja porque o modelo consumista, privado e público, morreu.
O perigo maior, neste momento, não são os paraísos fiscais, nem sequer a fuga aos impostos, mas a bolha de derivados especulativos, e o endividamento brutal, privado e público, que continuará a aumentar durante mais algum tempo.

Os maniqueísmos de que a comunicação social e os políticos gostam não são bons conselheiros.

segunda-feira, dezembro 15, 2014

Há que enxotar alguns abutres

Abutres têm função ecológica, mas não podem dominar...

A tensão financeira mundial aproxima-se de patamares explosivos


O estádio especulativo avançado do capitalismo é um sinal incontroverrso do seu rápido declínio. Tal não significa, porém, que saibamos o que vem a seguir. Socialismo utópico não será certamente.

A economia real decresce, os rendimentos reais do trabalho decrescem, o valor real dos ativos tangíveis (imobiliário, energia, matérias primas, obras de arte, etc.) decresce à medida que as bolhas em que são colocados rebentam, o valor real do dinheiro decresce (crescendo artificialmente a massa monetária virtual), a capacidade de aquisição e o consumo descrescem (apesar da deflação), mas, no meio desta implosão colossal, o valor dos ativos especulativos imateriais, como as dívidas soberanas, os balanços dos bancos, os volumes da especulação bolsista (todos financiados pelos bancos centrais americano, europeu, japonês, chinês, etc.) disparam para níveis estratosféricos.

Como é evidente, perante esta mistura explosiva, os governos, apesar de corruptos, não querem ter a mesma sorte da Maria Antonieta. Logo, a solução é mesmo subordinar a babélia do endividamento, começando por destruir as expetativas dos fundos de especulação que nas últimas décadas foram confluindo no mercado dos derivados financeiros OTC e similares à procura de rendibilidade.

É o momento de enxotar os abutres, pois não só comem carne podre, como começaram a comer também a viva!

Fundos internacionais avançam para tribunal europeu contra resolução do BES
14 Dezembro 2014, 12:41 por Jornal de Negócios com Bloomberg

Os detentores de quase metade da dívida subordinada que o BES emitiu em Novembro de 2013 e que foi colocada no "banco mau" no processo de resolução do banco, já avançaram com processos no Tribunal Geral da União Europeia.

Segundo a agência de notícias Bloomberg, são cerca de 20 os queixosos que pedem ao tribunal que anule a medida de resolução aplicada ao BES e que passou pela divisão do banco em duas instituições. No "banco mau" ficaram os 750 milhões de euros em dívida subordinada emitida em Novembro de 2013, enquanto a dívida sénior foi transferida para o Novo Banco.

São sobretudo fundos internacionais, entre eles o brasileiro BTG Pactual e o norte-americano Third Point (do conhecido investidor activista Daniel Loeb), que avançaram para o Tribunal de Justiça Europeu, numa acção intentada pela firma de advogados Shearman & Sterling LLP.

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quinta-feira, novembro 27, 2014

Dívida: a nova escravatura

Ogre demo by JSMarantz
©2011-2014 JSMarantz

Precisamos de contra-atacar os ogres de sempre e o seu apetite pela desgraça alheia


From the dawn of history, elites have always attempted to enslave humanity.  Yes, there have certainly been times when those in power have slaughtered vast numbers of people, but normally those in power find it much more beneficial to profit from the labor of those that they are able to subjugate.  If you are forced to build a pyramid, or pay a third of your crops in tribute, or hand over nearly half of your paycheck in taxes, that enriches those in power at your expense.  You become a “human resource” that is being exploited to serve the interests of others.  Today, some forms of slavery have been outlawed, but one of the most insidious forms is more pervasive than ever.  It is called debt, and virtually every major decision of our lives involves more of it.

The Federal Reserve Is At The Heart Of The Debt Enslavement System That Dominates Our Lives
By Michael Snyder, on November 24th, 2014 — The Economic Collapse.

O fascismo fiscal está em plena expansão em todo o mundo e, claro, em Portugal também, com a colaboração plena, cretina e corrupta da maioria dos partidos e políticos que operam como capatazes das elites financeiras.

O truque que nos trouxe até ao buraco negro dos derivados financeiros OTC e suas consequências nefastas chama-se endividamento, diarreia monetária (QE, WIT, etc.) e destruição maciça das taxas de juro (i.e. da poupança e da própria faculdade de poupar).

Financia-se especulativamente e com dinheiro cada vez mais virtual os governos, as empresas e as famílias até que fiquem atolados em dívidas. Depois tira-se-lhes o tapete do crédito e impõe-se a chamada consolidação orçamental aos governos, a concentração de capital ao tecido económico e financeiro, e a austeridade a quem trabalha e produz. Uma primeira consequência desta vasta manobra é a deflação resultante do colapso económico e do fim do crédito barato. O que virá depois, se olharmos para a história económica dos últimos oitenta anos (Alemanha, Hungria, Grécia, Jugoslávia, Argentina, Zimbabué, etc.), poderá mesmo ser um dominó de episódios de hiperinflação!

No fim desta deriva em direção a uma nova forma de escravatura dissimulada estaremos a perder para uma elite que conta menos de 0,1% da população mundial, uma herdade infinita onde cabe praticamente toda a riqueza produzida e todos os recursos naturais, que pinga todos os anos, meses, dias, horas, minutos, segundos e nano-segundos, nos bolsos dos novos ogres da Idade Média Tecnológica que parece aproximar-se a passos largos.

Quando é que acordamos?

sábado, novembro 15, 2014

LuxLeaks e a Caça às Raposas

Bandeira da ilha de Jersey

A União Bancária Europeia é incompatível com estados e ilhas piratas


As ilhas de Man, Jersey e Guernesey —também conhecidas por Ilhas do Canal— são Dependências da Coroa Britânica que não fazem parte do Reino Unido, nem da União Europeia. Então o que são? Bom, são paraísos fiscais!

Acontece que os Estados Unidos e agora também a China e outros estados asiáticos e da região do Pacífico, não estão dispostos a serem engolidos por revoluções sociais à conta do buraco negro da especulaçao mundial com derivados financeiros tóxicos (OTC), com os casinos a que chamam banca de investimento (hedge funds, também conhecidos por fundos de cobertura), com os esquemas de ladroagem em cascata (rehypothecation não autorizada, etc.) e outras atividades puramente predadoras (como, por exemplo, os Leverage Buyout—LBO) decidiram declarar guerra à monumental drenagaem de riqueza ilegal que tem ocorrido, nomeadamente sob a forma de fuga de capitais dos seus países em direção ao Luxemburgo, Suíça, City de Londres, ilhas piratas de sua majestade a rainha de Inglaterra, etc., etc., etc.

O capitalismo decadente e as alcateias de piratas da Europa ainda não perceberam que ou mudam rapidamente de registo, ou vão ser vítimas das revoluções que deixaram de poder exportar para os novos centros da riqueza, do trabalho, da tecnologia e do poder militar mundiais, a começar pela China, Rússia e Índia, mas também Austrália, Indonésia, Brasil, Angola e África do Sul.

Tempo de limpar a Europa da sua descarada hipocrisia.

Esperteza luxemburguesa (por Ana Gomes)

A investigação à criminalidade fiscal e financeira no universo BES/GES ainda vai no adro, mas uma auditoria da Price Waterhouse Coopers já revelou que, através de quatro offshores na ilhas britânicas Jersey e Guernsey, Ricardo Salgado desviou em poucos dias centenas de milhões do BES para o exterior, já depois de o Banco de Portugal ordenar a mudança de administração.

Público, 14/11/2014 - 03:18


China: Países da APEC comprometem-se a combater a corrupção

Pequim, - Os ministros dos Negócios Estrangeiros da Cooperação Económica Ásia-Pacífico (Apec) adoptaram neste sábado um plano de combate à corrupção na região, à imagem do que já é feito na China.
              
Pequim trabalha sobretudo pela extradição dos seus funcionários acusados de corrupção que fugiram do país, mas o sistema chinês encontra entraves na aplicação de tal medida devido à ausência de tratados e garantias judiciais dos seus sócios.
              
A resolução anti-corrupção, promovida por China e Estados Unidos, foi adoptada neste sábado durante os trabalhos preparatórios da cúpula dos 21 líderes da Apec, que começa nesta segunda-feira.

[...]

Um boletim oficial do banco central chinês elaborado em 2008 estimava que pelo menos 18.000 funcionários corruptos teriam fugido da China desde meados dos anos 1990, levando consigo o equivalente a 123 bilhões de dólares [123 mil milhões de USD]
ANGOP, 08 Novembro de 2014 | 15h53 - Actualizado em 08 Novembro de 2014 | 15h56

domingo, novembro 02, 2014

Corrupção e economia

Em Portugal a corrupção não é menor, mas continua protegida pela partidocracia

Chegámos aos picos da corrupção e do desemprego


A corrupção em Espanha está onde estão os bancos, a especulação imobiliária e o poder. Em Portugal é a mesma coisa e a pandemia tem proporcionalmente a mesma dimensão, mas continua muito protegida pela partidocracia populista e pelo neo-corporativismo empresarial e sindical que temos.  Já alguém investigou o comportamento do líder da UGT depois dos acordos secretos que terão sido negociados em volta do colapso do BES e do fundo de pensões dos seus trabalhadores? É uma suposição, claro, mas ainda não ví nenhum opinocrata perguntar-se sobre este estranho caso.

Só empurrada pelos credores externos e pelos que foram vigarizados no estrangeiro é que a pachorrenta Justiça que temos lá vai fazendo o seu trabalho. Quando lhe mexem na travessa dos privilégios exalta-se e faz umas horas extraordinárias, vai ao baú dos casos que está farta de conhecer e puxa um fio para assustar a malta. De resto, o que vemos é uma conspiração permanente para proteger os cleptocratas e vigaristas lusitanos, por mais dor que semelhante crime, cometido descaradamente pelos bonzos deste regime falido e em fim de vida (na realidade é uma plutocracia parlamentar), cause aos portugueses que empobrecem e se veem despedidos e sem emprego.

A corrupção é um mal antigo, todos o sabemos. Mas o problema recente é que se transformou numa pandemia mundial, muito pior que o Ébola! 

Numa economia global assimétrica onde as grandes regiões demográficas (China, Índia, Indonésia, Brasil, Paquistão, Nigéria, Bangladesh, Rússia, México, Filipinas, Vietname, etc.) ganham finalmente acesso a uma parte crescente do riqueza mundial, mas na qual ao mesmo tempo declina a era da energia barata oriunda do carvão, do petróleo e do gás natural (1), e se inicia a transição para um mundo baseado em energias renováveis não poluentes, necessariamente mas caras (pelo menos na sua fase inicial), e por causa deste declínio declinam as sociedades perdulárias do consumo conspícuo, do emprego burocrático não produtivo e da ineficiência energética, numa economia global que caminha nesta direção, em suma, a mudança de paradigma conduziu a uma exacerbação dos fenómenos de corrupção por efeito de um fenómeno a que poderíamos chamar encher a despensa. A maioria das pessoas começou a gastar menos e melhor, a poupar mais, ao mesmo tempo que uma certa minoria desatou a roubar o que pode, sem medo das consequêcias. Banqueiros, rendeiros, devoristas e os partidocratas estão obviamente na linha da frente desta deriva exacerbada da corrupção. Nem todos são corruptos, mas os que são lançam a vergonha sobre os demais.

Para que a tempestade fosse perfeita, e foi, só faltaria mesmo que os países começassem a quebrar por causa de uma, duas ou três décadas de sobreendividamento sucessivo, público e privado, com o qual se foi disfarçando e adiando as decisões de transição necessárias à evolução estrutural dos paradigmas energético e económico mundiais. Foi o que aconteceu. A tempestade começou nos Estados Unidos, em meados de 2006, com a crise hipotecártia conhecida por subprime, e em setembro de 2008 com o colapso do Lehman Brothers, passou depois, em outubro de 2007, à Islândia, em 2008, à Irlanda, em 2010 à Grécia, em 2011, a Portugal, em 2012, a Espanha, em 2013, a Chipre, e no mesmo ano colapsa o mais antigo banco do mundo, Monte dei Paschi, em Itália. Em 2014 a crise financeira continua a avançar com toda a sua força destruidora sobre a França e o Reino Unido. As consequências são sempre as mesmas: crise aguda do sistema financeiro, colapso orçamental dos governos, falências de milhares de empresas, milhões de desempregados, assalto fiscal seletivo aos rendimentos do capital e do trabalho, ao estado social, e às poupanças supostamente seguras: depósitos (cujas condições de resgate e taxas de rentabilidade são alteradas), fundos públicos de pensões, alguns dos quais foram obrigados a 'investir' em dívida soberana de países na pré-bancarrota, como foi o caso em Portugal, e até os fundos privados de pensões, parte dos quais foram literalmente sugados pelos buracos negros dos derivados financeiros OTC (especulativos). 

A situação começou a inverter-se lentamente entre 2009 e 2010, mas só no biénio de 2013-2014 os sinais começaram francamente a animar na direção certa. Mas a que preço? E por quanto tempo? Haverá transição, ou uma crise financeira incontrolável em França, ou na Itália, poderá ainda fazer descarrilar de novo a União Europeia?



O desemprego começou a recuar em 2013, ao contrário do que a nossa esquerda oportunista mente em uníssono, sem qualquer preocupação de cair no ridículo. Sabe-se agora que esta esquerda oportunista e populista tudo fez para derrubar na rua, recorrendo a manobras golpistas descaradas, o governo de maioria em funções. Mário Soares até falou num dead line: setembro de 2014!

Percebe-se, depois do que aconteceu ao BES, porquê

Era preciso defender o guarda-livros Ricardo e era fundamental impedir que Passos Coelho e Paulo Portas colhessem os frutos da viragem, por mais ténue que fosse. Paulo Portas, numa intervenção acutilante sobre o Orçamento de 2015, serviu a réplica ao golspismo da esquerda mostrando até que ponto esta pseudo esquerda, além de oportunista e oca de ideias, se presta a exercícios de pendor claramente anti-democrático e populista.

Basta olhar para os gráficos oficiais da evolução do emprego e do desemprego, em Portugal, Espanha e União Europeia, para se perceber que a falsa esquerda mente sem rebuço, mas também que o mérito da inversão de tendência é algo que extravasa a mera competência dos governos em funções, seja onde for. O desemprego deixou de cair, e a criação de novos empregos começa a aparecer nas estatísticas, por causas objetivas e estruturais, mas também porque a crise financeira abriu caminho ao fortalecimento da governação política, orçamental e financeira da União, com reforço de Bruxelas (Conselho Europeu e Comissão Europeia), Frankfurt (BCE) e Estrasburgo (Parlamento Europeu).

Os de cá, ou pelo menos uma parte deles, de que a desintegração do BES é o principal paradigma, já não mandam nada. Ou, pelo menos, já não podem fazer as patifarias que fizeram até atirarem o país para o lixo. Ainda bem!

Os gráficos desmentem a esquerda populista que temos


Também em Espanha o desemprego parou de aumentar
 
 
A União Europeia é mais sustentável do que dizem os eurocéticos

A taxa de desemprego tem vindo a cair desde finais de 2013
 
A criação de novos empregos é visível desde 2012


Notas
  1. O mito do fracking não passa disto mesmo, de um mito e de um embuste deletério, apesar do que irresponsavelmente diz, sem provar o que diz, o Prof. António Costa e Silva, da Partex. Consultar a este propósito vários artigos publicados em Collapse Link, também sobre o problema mais geral do Pico do Petróleo.

quinta-feira, outubro 30, 2014

Willem Buiter: "Je suis étonné de ne pas voir de sang couler dans les rues d'Europe"

Willem Buiter: "Je suis étonné de ne pas voir de sang couler dans les rues d'Europe"
Willem Buiter - economista-chefe do Citigroup

Os banksters, mais do que os povos, temem a deflação, pois esta implica a morte de centenas de bancos endividados até aos ossos e que mentem sobre os seus ativos e sobre as suas crescentes imparidades. Por outro lado, sem inflação, ou com 'reflações' que nada trazem de novo ao bem estar dos povos atacados pela austeridade (que é, afinal, a inflação dos pobres), as dívidas soberanas tornam-se mais difíceis de pagar, levando os governos a processos subtis mas inexoráveis de renegociação das dívidas públicas, que por sua vez obrigam a injetar literalmente galáxias de dinheiro virtual nos bancos insolventes, cuja situação, por sua vez, só poderá piorar perante a bolha de endividamento piramidal dos governos, oligopólios rentistas e fundos especulativos alavancados até às nuvens.

É disto que este pirata tem medo!

Curiosamente, Willem Buiter, perante a deflação anunciada, recomenda investimentos nas deterioradas infraestruturas, nomeadamente de transportes, da Alemanha e do Reino Unido, e estímulos ao consumo em Espanha, Grécia e —presumimos— Portugal.

Ora aqui está algo com que Pedro Passos Coelho não contava, mas que vai dar um jeitaço no ano eleitoral de 2015. O setor automóvel e o turismo tomaram, aliás, a dianteira nesta matéria, criando os seus próprios setores financeiros especializados de crédito ao consumo. Se Passos Coelho e o monarca do QREN (afastado que seja o motorista do BES colocado no AICEP) tiverem juízo, aproveitarão esta janela de oportunidade para lançarem, de uma vez por todas, as ligações ferroviárias, em bitola europeia, de Lisboa, Porto e Aveiro até Espanha/ resto da Europa, ao mesmo tempo que despacham rápida e favoravelmente a criação do terminal aéreo Low Cost do Montijo, acabam com o embuste do novo terminal de contentores no Barreiro e preparam estudos sobre a viabilidade do fecho da golada do Tejo, resolvendo assim o problema da erosão costeira da Costa da Caparica, ao mesmo tempo que projetam um futuro porto de águas profundas na Cova do Vapor-Trafaria. De caminho preparem-se para mais uns investimentos em material de vigilância e defesa costeira da nova Plataforma Continental, em aviões, barcos e manutenção adequada e atempada dos famigerados submarinos.

Willem Buiter: "Je suis étonné de ne pas voir de sang couler dans les rues d'Europe" - Finance - Trends-Tendances.be

Pierre-Henri Thomas 29/10/2014 à 09:53 - Mis à jour à 10:22

La déflation devrait se concrétiser l'année prochaine en Europe, pronostique Willem Buiter, l'économiste en chef du groupe américain Citigroup. Pour l'éviter, la BCE devra sortir le grand jeu et les pays devront stimuler la demande, chacun à sa manière. Sans quoi, la croissance ne sera pas au rendez-vous et l'endettement sera de plus en plus lourd à porter.

[...]

Alors, la déflation est arrivée en Europe ?

Nous n'en sommes pas loin et elle est déjà là dans certains pays du Sud. Au niveau de la zone euro, elle ne se concrétisera peut-être pas au cours des prochains mois en raison de certains effets techniques ou saisonniers, mais il n'y a pas de doute. Il y aura une inflation négative au début de l'an prochain.

Y a-t-il moyen de l'éviter ?

Il y a quelques mesures apparemment simples à prendre mais difficile du point de vue politique.

Lesquelles ?

La première est un examen sérieux des banques européennes, ce qui est en train de se passer avec les stress tests. Ces tests constituent le premiers pas de l'Union bancaire, laquelle est un élément-clé, non seulement dans le contrôle des banques et du système financier mais aussi pour une bonne transmission de la politique monétaire.

Ensuite, nous avons besoin de stimuler la demande. Il y a un excès de capacité dans la zone euro. L' "output gap" (l'écart entre le PIB réel et son niveau potentiel) grandit. Oui, la baisse de l'euro et du prix des matières premières est une bonne nouvelle pour les exportateurs, mais je le répète, nous ne sommes pas loin de la déflation en Europe.

Dans ce contexte, je crois que l'Allemagne peut se permettre de réaliser un stimulus budgétaire, qui consisterait à réaliser des dépenses dans des domaines qui soutiendront la croissance à terme. Comme par exemple renforcer les infrastructures. L'Allemagne mais aussi la Belgique et le Royaume-Uni ont sous-investis dans les infrastructures pendant des années. D'autres pays n'ont pas ces besoins (l'Espagne, la Grèce,... ont énormément dépensés dans les infrastructures) et il leur faut des stimuli budgétaires "discrétionnaires", à la carte. Dans ces pays, il convient de stimuler la demande privée.



Quem nasceu primeiro, o ovo ou a galinha?


1929-1933-1939
Quebra do anel de transferências entre os EUA e a Europa > colapso financeiro da Alemanha > II Guerra Mundial

monetarismo 1
: criação de liquidez com garantias na economia > monetarismo 2: criação de liquidez especulativa, sem garantias na economia > colapso financeiro: insolvência e falência de bancos > colapso de empresas > desemprego em massa > intervenção estatal: política de preços e rendimentos: redução de preços, redução de salários > redutação das taxas de juros > espiral deflacionária > monetarismo 3: intervenção desesperada dos governos: injeção massiva de papel-dinheiro nas mãos dos consumidores > inflação > hiperinflação > colapso geral: fascismo> nacional-socialismo...

2007-2008-2015...
Quebra do anel de transferências entre a China, Europa e Petromonarquias e os EUA > colapso dos EUA? > III Guerra Mundial, ou Tratado de Tordesilhas 2.0?

Situação: não existe um desequilíbrio tão grande entre os EUA e a Europa, China, etc., como havia entre a América e a Europa entre o fim da I e o início da II guerra mundial > há um desequilíbrio importante entre os EUA e a China, mas incomparável ao aperto alemão depois de duas derrotas militares e até à reunificação (19014-1990) > neste momento a Europa dispõe de capacidade produtiva excedentária, mas a sua balança de pagamentos é cada vez mais positiva, havendo pois um excesso de capacidade financeira que em breve descolará da Europa em direção a outras regiões do globo > por fim, há um novo dado decisivo: o pico do petróleo e em geral o encarecimento dos recursos energéticos, hidrológicos, minerais e alimentares disponíveis, com efeiros que começaram a sentir-se de modo muito claro depois de 1973, e sobretudo depois de 2005.

AGORA
: a monetização das dívidas (QE e as várias réplicas europeias) desde 2008, tem servido até agora para evitar o pior, mas a solução parece cada vez mais esgotada... ou seja, depois dos resgates e da austeridade, vai ser necessário acrescer a estas medidas excecionais medidas mais drásticas de reestruturação das dívidas públicas e privadas através de mecanismos não declarados de reestruturação, como o chamado haircut e os bail-in. Bancos e sistemas de especulação financeira —pública (bolsas) e privada (derivados OTC)— serão reestruturados com perdas crescentes, a começar nos investidores e especuladores incautos ou simplesmente mais fracos. Os estados demasiado grandes, burocráticos, ineficientes e corruptos terão que encolher, com ou sem resgates, com ou sem programas cautelares, com ou sem visitas semestrais dos credores.

É por isto tudo que a conversa sobre a deflação é sobretudo uma manobra de distração dos devedores insolventes. É que para estes só a inflação, a reflação e, no limite, a hiperinflação eliminaria de vez as suas imprudentes dívidas.

Atualização: 30 outubro 2014 09:35 WET