quarta-feira, março 14, 2012

300 Pontes Vasco da Gama

Em 2009 Portugal já tinha acumulado uma dívida superior a 300 mil milhões de dólares. Quem paga?

O custo exagerado da Ponte Vasco da Gama (cerca de mil milhões de euros) tornou-se na medida-base do nosso escandaloso endividamento

Custos da Ponte Vasco da Gama (1998/ valores em euros)

Fundo de Coesão da U.E.: 319.000.000,00 (35,6%)
BEI: 299.000.000,00 (33,3%)
Portagens da Ponte 25 Abril: 50.000.000,00 (5,6%)
Acionistas, etc.: 229.000.000,00 (25,5%)

Custo Total da Ponte Vasco da Gama: 897.000.000, 00   

O memorando assinado pelos representantes de Portugal e pelo BCE, União Europeia e FMI, apontou um caminho: consolidação fiscal, abertura dos mercados protegidos à concorrência, e melhor redistribuição da riqueza, nomeadamente através dos mecanismos de transparência, supervisão e aplicação da equidade próprias dos regimes democráticos.

O governo foi rápido a esfolar a maioria dos contribuintes, conseguindo até a proeza de aumentar rapidamente a taxa de mortalidade do país! Já no que se refere à segunda metade do acordo que os portugueses sufragaram em mais umas eleições, realizadas em circunstâncias de crise agravada das contas públicas e privadas do país, o governo do Jota Passos de Coelho nada fez. Promete, vagueia, ausenta-se, mas a verdade é que os acontecimentos têm vindo a mostrar que o mesmo poder (isto é, o Bloco Central da Corrupção) que nos conduziu até à desgraça, escancarada desde 2008, persiste na mesma via, só que agora agravada pela falta que em breve será evidente de qualquer colete de salvação — seja o do crédito internacional privado, seja o dos resgates financeiros promovidos pela União Europeia em claro desespero de causa. Portugal não conseguirá atingir a meta do défice, nem mesmo roubando todo o QREN para martelar uma vez mais os balanços.

Os ingleses, que anunciaram um empréstimo público obrigacionista a 100 anos de vista (coisa igual só ocorreu naquele país para pagar a Primeira Guerra Mundial), decidiram também e ao mesmo tempo rever as suas PPPs. Não consta que algum político de pacotilha tenha ido ao parlamento assustar os deputados de sua majestade com o poder dos escritórios de advogados!

Os piratas da EDP, da Mota-Engil, do BES e do Grupo Mello, entre outros, cujas rendas escandalosas deveriam já ter sido drasticamente revistas e reduzidas, são a pedra de toque da sobrevivência do atual governo (ver quadro completo das PPP: Q1, Q2, e ler o Relatório). Se o que já transparece for o que parece, não dou mais de um ano de vida a esta coligação de fracos.

O contrato da Ponte Vasco da Gama, assinado em 1995 (governo de Aníbal Cavaco Silva, com Joaquim Ferreira do Amaral no cargo de ministro das obras públicas), tendo o seu custo atingido um total de 897 milhões de Euro — é disto mesmo um verdadeiro paradigma.

Os fundos comunitários representaram cerca de 35% do seu custo, e os comentários do Tribunal de Contas sobre o financiamento desta ponte foram deste quilate:

“Só pelo facto do Estado ter prolongado a concessão 7 anos as perdas foram superiores a 1047 milhões de euros”.

Fazendo contas chegar-se-à à conclusão de que esta infra-estrutura irá custar, no total, quase o triplo do preço original. Teria sido assim muito mais proveitoso para o Estado pagar a totalidade da obra, recorrendo a um empréstimo a 30 anos, deixando a amortização por conta das receitas de portagem portagem.

O TC é lapidar:
"Na verdade, afinal, o Estado concedente tornou-se no mais importante e decisivo financiador da concessão, sem a explorar" (Relatório completo/ PDF)
Mas o mais importante, que não está a ser discutido agora, a propósito da escandalosa tentativa governamental de entregar à Lusoponte receitas indevidas, por conta das portagens do passado mês de Agosto, que foram cobradas, ao contrário da "borla" habitual (paga por quem passa e por quem não passa na ponte), é outro assunto muito mais sério!

O Estado Português concedeu à Lusoponte, até às 24 horas do dia 24 de Março de 2030, o direito de opção na construção das novas travessias rodoviárias entre Vila Franca de Xira e Algés-Trafaria. Ou seja, o Estado não só financiou uma empresa privada, como lhe atribuiu o privilégio de rendeira monopolista de todas as pontes rodoviárias desde Vila Franca até ao mar!

Joaquim Ferreira do Amaral é desde 2008 um dos administradores não-executivos da Lusoponte, a qual foi entretanto adquirida pela Mota-Engil, presidida pelo "socialista" Jorge Coelho. Palavras para quê? São artistas portugueses e usam e abusam da ingenuidade dos indígenas que exploram e gozam alegremente.

segunda-feira, março 12, 2012

Pastel de Nata

Os pasteis do Álvaro? Um déjà vu!

Um verdadeiro pastel de nata, fabrico do bb Gourmet, Porto


‎Eu comprei um pastel de nata (juro!) em plena Xangai, numa rua pedonal, onde os chineses viam futebol numa pantalha gigante, tudo isto há mais de uma década — no ano 2000!

Há muito tempo, aliás, que sugiro aos portugueses que criem um McDonalds do bacalhau, isto é, um McCod! Basta substituir a carne picada pelo bacalhau picado, obviamente criado no mar alto como o salmão — hélas, la technologie ça se voie, non

E aos meus amigos espanhóis, que são muitos, venho recomendando, desde bem antes desta malfadada crise (1), a criação de uma cadeia mundial de pequenos hotéis dedicados à sesta, essa instituição de cultura, certamente inventada pelos árabes, mas ainda hoje religiosamente praticada por galegos, bascos, castelhanos, andaluzes e valencianos, e ainda pelos alentejanos que se prezam. Até lhes ofereci o nome para esta minha ideia luminosa: Siesta House!

Finalmente, uma outra ideia minha, não menos genial, passa por aproveitar o aeromoscas de Beja, um investimento de 38 milhões de euros, deserto de clientes, no vai-e-vem da futura Las Bejas — The Great Stanley Ho Adventure in Euroland. Não é preciso explicar mais nada, creio!

O tempo da chuva de euros terminou. Agora, ou temos ideias, ou empobrecemos. É esta a história dos pasteis de nata contada pelo nosso super ministro da economia, da indústria e do emprego. Só os burocratas, a corja partidária e os rendeiros do meu país não perceberam, ou não gostaram da moral que ela obviamente contém.


ACTUALIZAÇÃO (5 jun 2012) 


O Álvaro bem tentou avisar a malta, mas a malta anda a passo de caracol e olhar bovino... atrás da bola... e então, já está: 1300 milhões de comedores de pasteis de nata potenciais já têm fornecedor: a Julia e a cadeia Lillian Cakes de Xangai, que foi quem confecionou e serviu 1700 pasteis de nata num só dia no Pavilhão de Portugal da Expo de Xangai. Continuem à espera de São Bento e depois não se queixem!


NOTAS
  1. "Economists say euro crisis may not be over" (EurActiv)

sexta-feira, março 09, 2012

Chapéus há muitos!

A Gasparinho o que é de Gasparinho, e a Álvaro o que é de Álvaro!

É mais fácil ver o Gasparinho a claudicar do que o Álvaro
(Imagem de WHKITG)

O emigrante Álvaro resistiu como desde o início anunciei em contra-mão de toda imprensa de ouvido, da méRdia indigente e ainda da que está a soldo das ratazanas da energia, dos aeroportos que cantam, e das altas de Lisboa!
"O ministro Álvaro Santos Pereira está a fazer um bom trabalho à frente do ministério da Economia e não tenciono prescindir dele" — disse hoje o primeiro-ministro — Jornal de Negócios, 9 março 2012.
Imagine-se, por um momento, que Álvaro Santos Pereira saía. Como ficaria o governo de Passos Coelho depois de perder um ministro com tantas pastas (apesar de não ter dinheiro)? Quem iria para o seu lugar, sabendo que iria ocupar um ministério aparentemente indomável, sem dinheiro, com novos secretários impostos pelo primeiro-ministro, e subordinado aos humores gagos do agora recandidato a António de Oliveira Gaspar? Como seria a coisa vista de Bruxelas? Ou de Frankfurt? Ou de Berlim?! Em que situação ficariam Passos Coelho e Vítor Gaspar depois de atirarem ao chão, por medo, ou por fraqueza diante dos lóbis que se agitam como crocodilos num charco sem água, o membro mais importante do governo, depois deles próprios? Quem seria mais tarde responsabilizado pela recessão e pela falta de novas estratégias de desenvolvimento? Quem lidaria com as empresas? Quem aturaria os sindicatos? Eu sei que o PSD está cheio de trogloditas a salivar por um tacho onde só tenham que obedecer ao chefe, que é a situação mais confortável para ir roubando ou ajudando a roubar umas coisas! Mas não saberá já Passos Coelho aonde uma tal estupidez de condução política o conduziria em menos de seis meses? Esta tarde revelou, que sim!

Eu percebo, e já escrevi, que o ministro das finanças queira, e o país precise, de maior controlo no gasto dos dinheiros públicos, sobretudo quando há eleições autárquicas pela frente e a maioria dos municípios está tão ou mais insolvente que o resto do país. E que seja bom implementar uma vigilância financeira preventiva à aplicação dos fundos comunitários do QREN, e até uma reordenação das prioridades do esforço orçamental. Mas não é para estas coisas que servem os conselhos de ministros, o tribunal de contas, a unidade técnica de apoio orçamental, o conselho de finanças públicas recentemente criado e os tribunais convencionais? Aliás, se estes últimos funcionassem nestas coisas, como deveriam imperativamente funcionar, alguém crê que teríamos casos judiciais encalhados como o Freeport, ou outros que nem chegaram ainda a ser casos de polícia, mas que têm todo o aspecto de serem, como, por exemplo, o escândalo da requalificação dos edifícios escolares?

Para se salvar do desaire total Pedro Passos Coelho lá teve que inventar um "chapéu" para supervisionar a revisão e a aplicação do QREN. É caso para dizer: chapéus há muitos!

O pior da situação económica, social e financeira não passou. Encontra-se ainda à nossa frente, como evidencia a evolução do caso grego. Para todos os efeitos, a Grécia entrou em bancarrota parcial, e muitos investidores e sobretudo especuladores ficarão a arder, incluindo os bancos portugueses que andaram a jogar com a dívida grega soberana! Quem perdeu, e cria que iria ganhar o braço de ferro com a senhora Merkel, já começou a olhar para Portugal, Espanha e Itália, e a coçar a cabeça, a pensar nos descontos!

O nosso país dificilmente escapará de uma reestruturação da dívida pública, isto é, de uma bancarrota parcial, com incumprimento de obrigações nacionais e internacionais, e a troca de uma parte da sua dívida velha, insolvente, por novas promessas de pagamento.

Até que este pesadíssimo episódio ocorra, em 2013..., 2014..., 2016? (1) a nossa situação colectiva irá piorar e muito. Talvez por saber isto mesmo, o traste presidencial que elegemos tenha já começado a revelar o que até há pouco era matéria reservada das reuniões entre ele e o primeiro-ministro. Um verdadeiro sinal de desorientação e cobardia política inimagináveis. Está na altura de começarmos a pensar colectivamente na hipótese de impugnar este presidente, se o mesmo, entretanto, não tomar a boa iniciativa de renunciar ao cargo.

Vai ser necessário derrubar alguns Távoras, sob pena de cairmos no caos. Mas para isto o governo de Passos Coelho terá que evidenciar uma liderança independente e forte, mostrando claramente o que pode dar a cada um de nós, mas também o que ainda terá que cortar, para salvar o país de uma completa perda de independência. Tem que ser claro, e deixar-se de jogos políticos que só irritam mais uma população já muito irritada!

A força de que naturalmente precisa, naturalmente virá, se não brincar com os portugueses.

NOTAS
  1. Para o diário alemão Die Welt, segundo reportou a Lusa às 17:38 (ver notícia SIC-N das 21:01), a nova seringa do resgate português pode vir a ser necessária já no próximo Outono :(

Última atualização: 10 Mar 2012 21:53

quarta-feira, março 07, 2012

António de Oliveira Gaspar (II)

O Gasparinho atacou de flanco e recuou. Espera agora nova oportunidade para roubar mais um pedaço do orçamento... ou demitir-se, em vez do Álvaro!

Wolfgang Schäuble, 2010 (Getty Images)

O fogo das ratazanas, apesar de suportado pela gigantesca operação de contra-informação montada com o apoio canino da indigente méRdia que temos, para já, falhou o Álvaro. Tiveram todos que comprar umas perdizes na mercearia para chegarem a casa com alguma história que contar. Sabemos, porém, que as perdizes de aviário não prestam.

A tentativa de colocar o ministro das finanças na posição de chefe de governo, congeminada pelas ratazanas que de renda em renda, e de roubo em roubo, arruinaram Portugal por mais de uma década, servida de mansinho pelo Paulinho das Feiras, envergando o disfarce empoado de primeiro ministro, esmurrou o nariz na parede do emigrante que nunca precisou de rendas para coisa nenhuma, que vai continuar a não precisar, e que portanto não treme como vara verde a cada telefonema do Espírito Santo.

O moço das finanças que adormece a pensar no mestre Salazar e acorda disposto a trair todos os colegas de governo em nome da sua irrisória ambição, não desmentiu o essencial, isto é, que não quer ver todo o governo a despacho no seu gabinete. Por sua vez, o jota que faz de primeiro ministro vai flutuando no mar encapelado da crise e vozeia vacuidade para encher diariamente o chouriço da comunicação social, com a única preocupação de não salpicar a ponta do sapato.

Diz o pasquim "i", seguro das suas minhocas geralmente bem informadas, que na conversa a dois entre Passos de Coelho e o ministro Álvaro Santos Pereira, este se despediu, e que o PM, ao fim de duas horas, lá convenceu o Álvaro, não só a não bater com a porta, porque tal decisão intempestiva iria levar água benta ao seminarista do PS (coitado deste), mas a esperar que, em tempo oportuno, fosse o próprio primeiro ministro a despedi-lo! Álvaro Santos Pereira teria ficado tão desorientado com as artes de sedução do jota Coelho que acabaria por abandonar a reunião de emergência, em contramão e sem prestar declarações à imprensa paga para o destruir.

Se bem me lembro, isto é o contrário do que todas as minhocas geralmente bem informadas disseram no dia anterior sobre o despedimento com justa causa do Álvaro!

O homem não tinha sido "demitido em directo" pelo jota Passos "quando o primeiro-ministro anunciou que a 'palavra' de Gaspar é que é a 'decisiva'?

Como bem lembrou um que foi ministro de Sócrates, o devaneio do jota primeiro-ministro é a própria negação do cargo que ocupa. Se um ministro das finanças, para além de fazer o que lhe compete (e não faz!), ou seja, aplicar o Memorando da Troika, não apenas no assalto aos rendimentos do trabalho, mas também à redução acordada das rendas criminosas das ratazanas que dominam económica e financeiramente este país, pretende ainda ditar o que cada colega de governo pode ou não pode fazer com a fatia orçamental que lhe foi atribuída em sede de Orçamento de Estado, depois de árduas discussões estratégicas e sindicais, o resultado de tamanho atrevimento é, tão simplesmente, a destruição do próprio Conselho de Ministros, isto é, do Governo, perante a indecisão inadmissível do primeiro-ministro face à sua óbvia desautorização institucional.

Já todos percebemos que o Gasparinho está enrascado ao défice. Mas se assim é, e é, que tal acabar com as rendas da EDP, Endesa e Ibertrola? Que tal parar a criminosa barragem do Tua? Que tal rever as rendas leoninas das PPPs? Que tal investigar o que andou a TAP manutenção a fazer estes anos todos no Brasil, para se ter tornado na principal ferida de onde escorre a hemorragia do grupo? Que tal reverter a venda inexplicável da PGA (do omnipresente BES) à TAP? Que tal levar a tribunal os geniais zarolhos que congeminaram aeroportos (Beja) e europarques (Vila da Feira) para moscas, a peso de ouro, cobrando fundos comunitários ao mesmo tempo que deixaram o vazio de iniciativas idiotas à nascença e as subsequentes dívidas para nós pagarmos agora, com reformas e salários abocanhados pelos usurários? Que tal recuperar a massa roubada do BPN? Que tal acabar com as fundações e institutos por quem aparentemente até o prosador Vasco Pulido Valente descobriu afinal morrer de amores? Que tal perguntar ao extraordinário Centro de Investigação da Fundação Champalimaud, construído graciosamente em terrenos de luxo municipais, o que fez até agora pelos doentes portugueses? Tanta coisa para investigar, suspender, poupar, e o rapaz que não convenceu (nem de perto, nem de longe!) Wolfgang Schäuble, só pensa raptar os fundos do QREN para martelar as contas do nosso trágico endividamento público!

Será que os grifos de Frankfurt irão lamber mais esta farsa grega, para melhor nos comer depois?

Se é o caso, é melhor que fique desde já claro o registo de que nem todos os portugueses querem isto. Eu não quero! Prefiro desde já que o putativo António Oliveira Gaspar se demita no fim do ano, quando ficar claro para o ministro alemão e para todos nós que não cumprimos, e que não cumprimos, em primeiro lugar, porque não cumprimos a palavra do Memorando em tudo o que pudesse incomodar as ratazanas desta cloaca à beira-mar exposta.

Dizem as pegas da comunicação social que o Gasparinho
  1. teme que o QREN vá pela sanita das autarquias abaixo, ingloriamente; 
  2. ou, numa versão igualmente de fantasia, mas diametralmente oposta, que os cinco mil milhões, metade dos quais já consignados, mas não executados, e a restante metade ainda por distribuir, não sejam bem aplicados e depressa, por forma a induzir o célebre crescimento de que as Finanças precisam para poderem ver aumentada a base tributária dos orçamentos do Estado, de 2012 e 2013;
  3. ou ainda que desejaria apenas criar mecanismos suplementares de supervisão financeira da aplicação dos fundos comunitários, de modo a travar excessos e cunhas, o que seria razoável imaginar como próprio dum ministro das finanças.
No entanto, a verdade parece esconder-se noutro lugar:

— o que este ministro das finanças dum país insolvente quer é esconder simultaneamente o défice, o desemprego e a recessão. Como? Pois fazendo o mesmo que o seu antecessor fez:
  • colocar parte dos desempregados a estudar, retirando-os das estatísticas do colapso do emprego,
  • colocar parte dos desempregados em empresas sem acesso ao crédito, retirando mais alguns milhares de desempregados das estatísticas negras, ao mesmo tempo que mitiga os colapsos gémeos do consumo e do PIB,
  • e finalmente satisfazer o Bloco Central do Betão, dando largas aos seus desvarios aeroportuários e rodoviários, trocando o necessário mas sistematicamente amaldiçoado "TGV" pelo embuste da Ota em Alcochete, mais a célebre cidade aeroportuária da Palhota, e a nova ponte entre o Barreiro e o Montijo, e as novas barragens do Tua, do Sabor, do Tâmega, e por aí adiante, e os prémios Pritzker alinhados em bicha indiana atrás do Souto Moura, e a Alta de Lisboa finalmente entregue ao Stanley Ho, e a a plataforma logística do Poceirão entregue à Mota-Engil, que também é dona da Lusoponte, a cobrar direitos de passagem entre bitolas ferroviárias, e os nuclearistas, já agora, porque não, a plantar centrais nucleares na porra de Trás-os-Montes, pois do que aquela malta gosta é de expropriações e de dirigir agências de desenvolvimento a soldo da EDP e de todos os cabotinos que os levem a viajar e comer umas lagostas, e já agora umas gajas, por aí!
Eu admiro a pachorra do Álvaro!

Bem sei que no Canadá, embora com outro estilo, as coisas também não são melhores. Mas enfim, quem teve fibra para emigrar também tem fibra para lutar. E neste caso, a luta é a de sempre: entre a honestidade intelectual e a razão estratégica, de um lado, e as ratazanas do outro. Para já, Álvaro resiste à caricatura de Salazar que se senta à mesma mesa de governo. Não se demite. O jota Coelho que o faça, e justifique depois porque deu tanto que fazer ao ministro da economia para demiti-lo à primeira contrariedade manifestada pelas ratazanas do regime!

Ou então, porque não explicar ao Gasparinho, que ele, afinal, não passa dum contabilista?


POST SCRIPTUM
Merkel preocupada com dívida portuguesa

De acordo com a Reuters, que citou participantes no encontro entre Merkel e deputados do seu partido, a CDU, a chanceler alemã deu conta de algum alívio quanto à evolução do mercado da dívida pública espanhola e italiana, apesar das preocupações com a evolução das taxas de rendibilidade ('yields') da dívida portuguesa.

"Os prémios de risco de Portugal são uma preocupação" terá dito Merkel, de acordo com os participantes na reunião, citados pela Reuters. (Negócios online, 7 mar 2012.)

Tradução dirigida ao senhor Passos de Coelho e ao senhor António de Oliveira Gaspar:

Os ativos ainda disponíveis na Lusitânia terão que ir direitinhos para a Alemanha e para a Espanha, principais credores de Portugal, como garantia do resgate em curso. Nada de mais chinesices, nem carnavais tardios, nem moambas! Ou então...

Quer dizer, ou o Álvaro consegue dar cabo do ascendente que a matilha de rendeiros que arruinou o país exerce sobre o primeiro ministro e o seu contabilista-mor, ou Portugal não se livra de uma sauna grega!

As novas redes ferroviárias têm que avançar e já, e a TAP tem que fazer parte de uma solução europeia inteligente, sem mais concessões a esquemas de drenagem financeira da poupança europeia, canalizada, por exemplo, para os prejuízo brasileiros da TAP através da indecorosa Parpública, que por sua vez chupa impostos não apenas dos indígenas lusitanos, mas também de toda a Eurolândia, a começar nos bolsos alemães! Aquele olhar infinito de Wolfgang Schauble é um manancial de significados por descobrir!

Última atualização: 7 mar 2012 16:14

segunda-feira, março 05, 2012

António de Oliveira Gaspar

E Passos de Coelho, quando é que vai a despacho com o Gasparinho?

Maquiavel, uma leitura recomendada a Álvaro Santos Pereira

O Gasparinho continua borrado de medo desde a última conversa com o todo poderoso ministro alemão das finanças. O olhar azul de Wolfgang Schäuble, buscando um inatingível kantiano qualquer, depois do Gasparinho insistir que estava a fazer os trabalhos de casa (roubando os fundos de pensões da falida banca, claro está!), não o deixa dormir. Deste pesadelo que não desaparece, até tentar a solução de Salazar, isto é, colocar todos os ministros de joelhos e a despacho seu, foi um passo.

Esqueceu-se, no entanto, dum pormenor: o primeiro ministro não é ele, ainda que o que é não passe dum jota que nunca trabalhou na vida e que dificilmente chegará ao fim do mandato. Estará o alucinado Gasparinho a preparar-se para o substituir? Mas isso só com um golpe de estado —e militar— homem!

Depois da reunião entre Ana Pastor (Espanha) e Álvaro Santos Pereira (Portugal) as ratazanas do esgoto lusitano agitaram-se como nunca e, pela mente sempre conspirativa do Paulinho das Feiras (ele lá sabe o que o seu PP deve ao BES) temos o governo do jota Passos de Coelho em pleno Carnaval fora de horas (TSF1 e TSF 2), com os bombos da méRdia indigente que temos a rufar pandeiretas de esquizofrenia xenófoba até à náusea. Uma tal Ana Sá Lopes, do pasquim "i", que confunde a encomenda com a "opinião pública", é particularmente ressabiada, para a idade que aparenta, na sua sanha contra o emigrante Álvaro, como se parte do que almoça não fosse fruto do trabalho de gente como o emigrante Álvaro.

O dilema com que o país se depara é este: não temos nenhuma possibilidade de pagar o que devemos, nem que os crápulas do actual governo matem os velhos todos, arrasem por completo a classe média, e em cima disto expulsem do país todos os Álvaros que gostam, sabem e querem trabalhar.

O contabilista Gaspar descobriu uma nova receita extraordinária (chama-se QREN) para disfarçar o que não tem disfarce possível, isto é, que sem um novo resgate europeu a insolvência declarada de Portugal ocorrerá já em 2012, ou o mais tardar, em 2013. Desta vez, nem a China, e muito menos Angola, ou o Brasil, nos salvarão de uma perigosa e catastrófica aproximação do calvário da Grécia.

É aliás neste cenário que Cavaco aposta e para o qual se vem preparando através de sucessivos avisos ao governo e do namoro descarado com o PS. No fundo, o traste de Belém pensa assim: para salvar a sua pele, e evitar um golpe de estado militar, ou uma revolução social fora dos partidos, terá que se antecipar e preparar um governo de emergência nacional, com um primeiro ministro de sua confiança e muito obediente, até que a tempestade passe. E se a tempestade não passar, ou se agravar durante o seu mandato presidencial, um tal governo resultante do colapso do vigente daria enfim substância à suspensão da democracia de que um dia falou Manuela Ferreira Leite — para escândalo de tantos...

O "povo" pedirá então o fim da pouca-vergonha e o fim do império das ratazanas (dos que drenam a poupança nacional, seja através de empresas de manutenção aeronáutica que ninguém investiga, seja através de rendas criminosas, na energia, nas autoestradas, nas pontes, nas barragens e nos hospitais público-empresariais). Cavaco, que bem sabe o que sucedeu há 120 anos atrás, quando o país entrou em bancarrota e foi humilhado até aos ossos pelos credores, tentará evitar o pior, antecipando-se. O contabilista Gasparinho tem pois um sério rival pela frente!

O cavaquismo tardio planeou a nossa euforia económica e felicidade cultural apostando num cenário macro-económico assente em futuros barris de petróleo a custarem, em 2015, 28 dólares!

Tudo assentou em Portugal no automóvel individual e na rodovia. Desta desgraça não nos livraremos enquanto não houver uma revolução de racionalidade, nem que tenha que ser autoritária.

Autoestradas, pontes e aeroportos, barragens inúteis e assassinas, estádios impagáveis e rotundas estúpidas, seriam o mato ideal para engordar as ratazanas e os populistas de serviço. Acontece que o dito ouro negro ultrapassou as 100 notas verdes e tudo indica que não só não voltará a ser barato, como será cada vez mais caro. Portugal, dada a ignara irresponsabilidade de economistas, engenheiros e políticos (e a sempre avidez das ratazanas), precisa de 120 milhões de barris de petróleo por ano para manter o seu imprevidente e inviável estilo de vida. Na previsão irrealista do último governo de Cavaco Silva e dos que lhe seguiram as pisadas, o país deveria estar a gastar em 2015 qualquer coisa como 3.360.000.000 de dólares em importações de petróleo. No entanto, a verdade dos factos em 2012 andará certamente acima dos $12.000.000.000!

Os preços, especulativos ou não, dos recursos energéticos, minerais e alimentares acompanham o Pico do Petróleo. Gráfico do BoJ - Recent Surge in Global Commodity Prices, 2011.

O impacto desta inflação imparável sobre as restantes matérias primas, energéticas, minerais e alimentares, de que dependemos, é óbvio. Café, trigo, milho, soja, alumínio, níquel, chumbo, zinco e cobre viram os seus preços subir de 34% a 564%, entre 2003 e 2008. A partir do momento em que endividamento a custo zero, obtido através do esmagamento do valor do dinheiro e das poupanças (redução sucessiva das taxas de juro) e ainda por intermédio de processos de especulação com as dívidas privadas e soberanas, chegou ao fim, o colapso das economias, mais do que do sistema financeiro (pois este não passa de uma engenharia de sonhos e pesadelos, como a gestão do Gasparinho vem evidenciando à saciedade), tornou-se inevitável. Sem refundar as economias em novos pressupostos energéticos, o que é muito diferente do que gritar pelo "crescimento", como faz o seminarista inSeguro do PS, não iremos a parte alguma.

Não é só o transporte rodoviário, dominante em Portugal, que é caro, mas também o que lá vai dentro, quase tudo importado!

Se queremos recuperar a dignidade e a independência, uma vez mais perdidas, teremos que voltar a andar a pé, de bicicleta e em transportes coletivos movidos a eletricidade: elétricos, trolleys e comboios —internacionais, interurbanos, suburbanos e urbanos. Teremos que baixar drasticamente a intensidade energética da nossa economia, que é uma das mais elevadas, se não a mais elevada da União Europeia. Teremos que voltar costas ao subúrbio erguido com base no petróleo barato, para engorda e gáudio das ratazanas. Teremos que reforçar a auto-organização democrática como nunca o fizemos, dispensando em muitos casos, sobretudo localmente, nos negócios e no trabalho do dia a dia, a presença ruinosa e corrupta dos governos e dos partidos. Temos que rejeitar em uníssono o terrorismo fiscal!

Ao contrário do que agora possamos crer, só nos livraremos da escravatura e do assassínio económico de dezenas de milhar de portugueses, se substituirmos a insolvente, desmiolada e corrupta democracia que deixámos medrar nos últimos trinta anos, por uma democracia literal, transparente, responsável e unida em volta de uma visão estratégica para Portugal.

O populismo democrático que permitiu a criação duma vasta casta de burocratas de estado e de partido, cujos direitos estão sempre em primeiro lugar, levou-nos à insolvência e à humilhação de vermos Portugal transformado num protetorado de Bruxelas e Frankfurt, mendicante e sem futuro.

Acabará o país? Não creio. A crise mundial dará algum espaço à nossa independência.

Mas como perdemos boa parte dos nossos graus de liberdade ao longo dos últimos vinte anos, é preciso voltar a conquistá-los um a um! Desde logo, e em primeiro lugar, levando por diante uma verdadeira revolução no interior do nosso regime democrático. Algo que nenhuma revisão constitucional poderá conseguir, por estar à nascença marcada pela endogamia e por uma lógica de sobrevivência do excesso de burocracia que é urgente eliminar.

Precisamos de uma democracia com menos Estado e com menos poder partidário. Outras instâncias mais democráticas terão que nascer da ruína já evidente do atual regime. Eu, se fosse o Álvaro, aproveitava para ler O Príncipe, até quinta-feira que vem, e tomaria uma posição filosófica sobre a matilha que ladra em seu redor. Demitir-se não é opção. O jota disfarçado de primeiro-ministro que assuma a liderança do governo, se quiser, ou que a entregue ao Gasparinho, se não tiver coragem para enfrentar os dias difíceis que aí vêm!


POST SCRIPTUM: a rápida sucessão de acontecimentos que congregaram uma autêntica frente golpista contra o ministro da economia ocorreu logo depois da reunião entre este e a ministra espanhola Ana Pastor, onde foi reiterada, pela terceira ou quarta vez, a decisão de construir a linha ferroviária de alta velocidade entre Lisboa e Madrid, e em geral dar seguimento à ligação estratégica de Portugal à nova rede ferroviária europeia de Alta Velocidade, para passageiros, e completa interoperabilidade no transporte de mercadorias — em linha com o PET e com a própria decisão chinesa de fazer chegar os seus comboios AV até Londres! Como há muito aqui se escreveu, esta ligação ferroviária absolutamente necessária, como as que terão que ligar o centro (Aveiro-Coimbra) e o norte (AMP) do país à Galiza, ao resto da Espanha e à Europa atlântica e mediterrânica, mata o embuste do NAL da Ota em Alcochete — uma enormidade do quilate daquele que apressou o olímpico colapso da Grécia! Ora é precisamente por conhecerem este dado incontroverso, que os lobistas do novo aeroporto e da nova cidade aeroportuária da Ota em Alcochete (SLN/Fantasia, BES, Stanley Ho, Roquete, e a rapaziada ávida de almoços -- do genial descobridor do aeromoscas de Beja, ao não menos genial bastonário dos engenheiros do betão, passando por invertebrados de menor porte) fará tudo por tudo para destruir o Álvaro. Se o conseguirem, o país apodrecerá ainda mais depressa, e o coice que daí vier será então muito mais violento. A ideia de que o Português Suave é mesmo um morcão sem emenda (estou no Porto ;) pode revelar-se uma grande mentira histórica, como tantas outras.

Última atualização: 5 mar 201222:53

terça-feira, fevereiro 28, 2012

A Berlenga ferroviária

Quatro horas a partir pedra para quê?

Portugal: ilha ferroviária do arquipélago das Berlengas

2015: ano previsto pelos governos português e espanhol para a ligação ferroviária de Portugal e Espanha à França sobre linhas de bitola europeia.

Os governos de Portugal e Espanha, pelas assinaturas de Álvaro Santos Pereira e Ana Pastor, reiteraram ontem, pela quarta ou quinta vez, o compromisso de construir uma nova rede ibérica de ferrovia em bitola "europeia" (ou "internacional" — UIC) para comboios de alta velocidade e velocidade elevada, e transporte de passageiros e mercadorias. O objetivo é responder aos desafios energéticos causados pelo pico petrolífero e ligar a península ibérica, e nomeadamente os seus importantes portos, ao resto da Europa.

Foi em 1995 que Luís Filipe Pereira, então secretário de estado de Mira Amaral, do governo de Cavaco Silva, baseou toda a estratégia portuguesa de crescimento na previsão de que o barril de petróleo custaria 28 dólares em 2015! Daí em diante foi fartar vilanagem: autoestradas, pontes, túneis, barragens e muitos, muitos automóveis e crédito desvairado ao betão sem fronteiras. Sabe-se hoje que esta foi uma das principais causas, se não a principal (1), do nosso catastrófico endividamento e da bancarrota que se aproxima a passos largos do país :(

Recomendo vivamente as conferências de António Costa Silva na Culturgest (8, 15, 22, 29 de Fevereiro) sobre os dilemas energéticos com que estamos confrontados, e sobretudo a consulta dos seus inúmeros e exaustivos gráficos sobre a insustentabilidade absoluta do modelo energético que nos conduziu ao presente desastre, de que não sairemos sem uma revisão drástica do mesmo e sem uma mudança radical no nosso protegido e inimputável regime político-económico e partidário.

O silêncio conivente e a capitulação dos meios de comunicação social em tudo o que se refere aos temas energético, ferroviário e aeroportuário brada aos céus da democracia que temos, mesmo descontando a circunstância triste de não termos ainda mais do que uma democracia fraca, corrupta e populista.

Para que não se percam, aqui ficam as notícias que ninguém consegue lobrigar na mé(r)dia lusitana que temos.

 Reunión de la ministra de Fomento y el ministro de Economía y Empleo de Portugal. Madrid, 27 de febrero de 2012 (Ministerio de Fomento).

Los gobiernos de Portugal y de España coinciden en la importancia de que los proyectos de servicios ferroviarios de altas prestaciones se ajusten a las necesidades actuales y a la situación económica de austeridad.

Ambos países apuestan por llevar a cabo los proyectos ferroviarios del Corredor Atlántico hasta la frontera francesa, y en ancho internacional. Ambos gobiernos están de acuerdo con la necesidad de invitar a Francia a participar en este Corredor Europeo.

Ou seja, os compromissos de Estado, sobretudo quando são obviamente razoáveis e lógicos, são para cumprir.

Portugal y España desean implicar a Francia en corredor ferroviario atlántico
27/02/2012 Expansión/EFE

Lisboa, 27 feb (EFE).- Los gobiernos de España y Portugal manifestaron hoy su deseo de implicar a Francia en la creación del corredor ferroviario atlántico que conectará ambos países con el centro de Europa, tanto para transporte de pasajeros como de mercancías.

[...] Pastor destacó hoy que los proyectos ferroviarios de ambos países "van a estar coordinados", de forma que "un país no de un paso sin que el otro no esté al tanto" de sus planes.

"Los proyectos ferroviarios que tenemos los dos países deben tener interoperabilidad, con los requerimientos técnicos tanto de vía, de plataforma, como de electrificación y catenaria que hagan posible llevar tanto pasajeros como mercancías desde Sines hasta norte de España y Francia", abundó.

[...] "España y Portugal decidieron en el siglo XIX tener un ancho de vía diferente al del resto de Europa. Hoy esto supone que cuando las mercancías pasan a Francia, en ese trasvase se pierde tiempo y dinero, lo que supone un factor contrario a la competitividad", recalcó.

Respecto a la conexión entre Oporto y Vigo, un proyecto que también estaba previsto realizar en Alta Velocidad y que finalmente fue cancelado por el Ejecutivo luso, los ministros informaron de la creación de un "grupo de trabajo" que elaborará "a corto plazo" una propuesta que valore "los diferentes escenarios que garantizan el servicio público". EFE

No caso vertente, a alternativa que sobra a Portugal é simples: ou se transforma numa parte do arquipélago das Berlengas, ou terá que migrar a sua rede ferroviária (toda a sua rede ferroviária —ainda que ao longo dos próximos cinquenta anos) para a chamada bitola europeia — isto é, a única distância entre carris que permite a interoperabilidade das linhas férreas dos diversos países europeus.

Ana Pastor (ministra de Fomento): "No estoy dispuesta a vender mi país ni AENA a precio de saldo"
27/02/2012 Hispanidad

Respecto a si se va a privatizar AENA, Pastor ha indicado que "Aena tiene una deuda de 14.900 millones que tiene que pagar, estaba en marcha la privatización de los aeropuertos de Barcelona y Madrid. Se vendían por valor de unos 3.000 millones cada uno y el Estado se quedaba con la deuda, y con los aeropuertos en déficit, por ello lo paramos, no iba a vender a AENA a precio de saldo". "Yo no estoy dispuesta a vender mi país a precio de saldo ni a vender AENA, que es el principal operador aeroportuario del mundo en número de pasajeros, a precio de saldo". "En este momento estamos viendo de cada aeropuerto su viabilidad y su rentabilidad económica y social".

Espanha já percebeu que a venda de ativos a preço de saldo não passa de uma transferência de soberania entre devedores e credores soberanos.

Não tem havido privatizações durante esta crise, mas alienações de soberania! E se é assim, então é preferível forçar uma resolução global das múltiplas insolvências em curso: da Irlanda aos Estados Unidos, passando pelas ilhas da rainha pirata de Inglaterra.

España admite el interés de Renfe y Aena en las privatizaciones de Portugal
27/02/2012 La Razón

"Si se ponen en marcha -las privatizaciones previstas por el Gobierno luso-, empresas públicas españolas estarían interesadas en poder participar, ya fuese en colaboración con otros entes públicos o privados de Portugal u otros países", explicó Pastor en declaraciones a los periodistas tras una reunión bilateral celebrada hoy en Lisboa.

La ministra nombró concretamente a Renfe (Red Nacional de Ferrocarriles) y a Aena (el gestor de los aeropuertos españoles), de las que subrayó que se han convertido en "operadoras de reputación internacional".

A Espanha e a Alemanha são os dois maiores credores de Portugal. Não faz pois qualquer sentido pensar que poderemos, ou se sequer que deveremos impedir qualquer dos dois países de entrar nos processos de privatização em curso. Como não vamos poder pagar tudo o que devemos, alguma da nossa carne terá quer arrancada e entregue, pelo menos temporariamente, a quem nos emprestou dinheiro, ou tem uma balança comercial excessivamente excedentária relativamente às nossas próprias exportações. Não nos podendo armar em cavaleiros sem cavalos, o ponto é este: como, por quanto e a quem entregaremos alguns dos nossos anéis?

Eu preferiria ver a Espanha a explorar durante uma vintena de anos a nossa rede de bitola europeia, a vê-la tomar conta dos nossos aeroportos, ou da TAP. Creio que a ANA e a TAP (a TAP, só depois de um inadiável spin off) deveriam ser entregues a um consórcio com portugueses, alemães, chilenos, chineses e angolanos. Neste caso particular, os brasileiros terão primeiro que explicar o buraco da TAP no Brasil (TAP Maintenance &Engineering) antes de se verem metidos noutra parceria com a companhia cujos prejuízos mais volumosos têm uma não explicada origem carioca!

Finalmente, enquanto a imprensa portuguesa esconde tudo isto, a propaganda alegre dos lobistas do embuste da Ota em Alcochete segue com o seu Carnaval de contra-informação. É preciso ter perdido a vergonha toda para encomendar à Airbus uma previsão sobre o extraordinário futuro aeroportuário português. Então a Airbus não vende aviões?!


NOTAS
  1. Quem não sente não é filho de boa gente, e Luís Mira Amaral sentiu e reagiu com a franqueza conhecida.  O argumento de LMA, depois de elogiar Luís Filipe Pereira, é este: "acertar no Totobola à segunda-feira é fácil!". Em 1995 não se antevia ainda que os BRICS iriam irromper com tanta força, não se podendo portanto estimar a pressão que esta emergência exerceria e exerce no consumo petrolífero mundial e correspondentes preços. Por outro lado, à época, o aproveitamento dos fundos comunitários para a criação de infraestruturas caras que faltavam pareceu-lhe, e ao governo de que foi ministro, uma estratégia justificada e necessária. O que veio depois, segundo LMA, foi um exagero keynesiano de matiz cor-de-rosa, cujas responsabilidades são do PS.

    Tem razão quando afirma que as previsões à época apontavam para os tais 28-29 USD pb em 2015. Tem razão quando defende o aproveitamento dos primeiros quadros comunitários de apoio (I e II) para realizar infraestruturas de que o país carecia. Tem razão quando passa parte das culpas para o colo do PS. Mas não deixa de ser um facto que a subestimação prolongada do preço da nossa dependência energética do petróleo, acentuada pela ilusão criada pela queda sucessiva das taxas de juro, foi e é o maior responsável pela crise financeira sem precedentes que o país atravessa. 28 Fev 2011, 20:07.

segunda-feira, fevereiro 27, 2012

Déjà vu

Bancarrota I (1890-1893), Bancarrota II (2010-2013)

Raphael Bordallo Pinheiro. "Exactamente como os filhos do Padre Simões", in António Maria, 1892

Enviaram-me há dias um LINK precioso para o António Maria de Raphael Bordallo Pinheiro, arquivado e já integralmente digitalizado pela Biblioteca Nacional. É absolutamente incrível a semelhança entre a corja partidária de então e a de hoje. Nada mudou!

Vale sobretudo a pena ler a prosa deliciosa da geração dos Vencidos da Vida, apesar da ortografia não ser aquella que os Sousa Tavares e Graças Mouras desta paróquia gostam.

E mais importante ainda é comparar a degradação da economia, das finanças e do sistema político de então, cuja bancarrota tinha já levado a safada Inglaterra a abocanhar sem cerimónias os portos e o ouro do Brasil, e mais tarde os territórios entre Angola e Moçambique (na sequência de um humilhante Ultimato), com a situação que hoje atravessamos. Houve então deputados que quiseram mesmo dar todos os territórios ultramarinos, menos Angola e a Índia portuguesa, à Rainha Vitória!

D. Carlos teve então um comportamento bem diverso daquele que Cavaco Silva revelou em circunstâncias muito semelhantes: enquanto a criatura de hoje se queixa do pouco que tem, e nem sequer coloca a hipótese de cortar nos gastos escandalosos da turma interminável de aves raras que habitam os corredores do Palácio de Belém, o rei D. Carlos prescindiu à época de 20% da sua dotação em nome da diminuição do défice. Não lhe valeu de muito, pois a conspiração maçónica e anarquista para o assassinar já estava em marcha. Mas fica a memória da diferença dos comportamentos.

Recolhi no Portal da história alguns dados de cronologia histórica que ilustram bem como o tempo que estamos vivendo começa a ser cada vez mais um déjà vu...

1890

Janeiro, 11  - Entrega de um Memorando do governo britânico fazendo um Ultimato a Portugal, para a retirada das forças militares existentes no território compreendido entre as colónias de Moçambique e Angola, no actual Zimbabwe, a pretexto do incidente provocado entre os portugueses e os Macololos.

Maio, 1 - O 1.º de Maio é comemorado em Lisboa pela primeira vez.

Maio, 19 - Governo apresenta propostas financeiras, em que se prevê a entrega do monopólio dos tabacos por meio de licitação.

Julho, 1 - O escritor Camilo Castelo Branco suicida-se na sua casa em São Miguel de Seide.

Agosto, 20 - O Tratado de Londres é assinado entre Portugal e a Grã-Bretanha, definindo os limites territoriasi de Angola e Moçambique.

1891

Janeiro, 31 - Revolta republicana no Porto, com proclamação da República na varanda da câmara municipal.

Fevereiro, 5 - As Câmaras reabrem para votarem as bases do monopólio do tabaco e um empréstimo de 10 milhões de libras. O Conde de Burnay emprestará 3 milhões de libras, com a condição de lhe ser concedido o monopólio do tabaco.

Abril, 1 - Adiamento da reunião do parlamento. O governo anuncia que passará a governar em ditadura.

Maio, 7 - Bancarrota do Estado português. É suspensa por 90 dias a convertibilidade das notas de banco, o que provoca uma desvalorização do papel-moeda em cerca de 10%

Junho - Congresso do Partido Socialista Português, em Coimbra.

Setembro, 11 - Antero Quental suicida-se em Ponta Delgado, nos Açores, com dois tiros de revólver.

1892

Janeiro, 15  - O presidente do conselho João Crisóstomo confirma que o ministro da fazenda Mariano de Carvalho fez adiantamentos à Companhia Real dos Caminhos de Ferro sem conhecimento do governo.

Janeiro, 21  - O deputado Ferreira de Almeida propõe novamente a venda das colónias para se fazer face ao défice orçamental de 10 mil contos, excluindo da venda apenas Angola e a Índia.

Janeiro, 29  - D. Carlos cede 20% da sua dotação para diminuir o défice.

Fevereiro, 26 - Oliveira Martins apresenta a proposta de uma Lei de Salvação Pública.

Maio 10 - Nova pauta aduaneira, que termina com o livre-cambismo.

Junho, 15 - O processo de pagamento aos credores externos do estado é regularizado.

Junho, 27 - É assinado o contrato definitivo com a Companhia de Carris de Ferro de Lisboa.

Dezembro, 19 - Detonação de uma bomba em Lisboa, despoletada por anarquistas.

Maio, 14 - Ruptura das relações diplomáticas com o Brasil.

Junho - Conferência em Badajoz dos republicanos ibéricos.

Julho - Lei que restringe o direito de reunião.

Julho, 10 - Apresentadas propostas de lei sobre os caminhos de ferro e as obras no porto de Lisboa.

Agosto, 30 - Reforma da polícia

Setembro, 30 - Decreto de Bernardino Machado para promover o povoamento do Alentejo.

Outubro, 17 - João Franco, em nome da ameaça anarquista, defende meios extraordinários de governo.

in O Portal da História