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terça-feira, outubro 21, 2008

2008 Semana 43

Excitações da semana
20-26 outubro

Quarta Travessia do Tejo - AlgésTrafaria - negociada com Lusoponte
24-10-2008 (Diário de Notícias/ Leonor Matias) Quarta ponte. A travessia entre Algés e a Trafaria pode estar a ser negociada entre a Lusoponte e o Governo como contrapartida para a quebra no tráfego na Ponte Vasco da Gama, com a construção da terceira travessia, entre Chelas e o Barreiro.
A ADFER (Associação Portuguesa para o desenvolvimento Ferroviário) realiza hoje, dia 24, na Sociedade de Geografia, em Lisboa -- Rua das Portas de Santo Antão, 100 -- um encontro sobre a travessia Algés - Trafaria, e no dia 27 um outro, em conjunto com a Sociedade de Geografia, sobre a Crise Financeira e as Grandes Obras Públicas. Ambos às 18 horas.

Entretanto, esclarece-me um SMS do Rui Rodrigues que...
  1. o tráfego automóvel estagnou na Ponte 25 de Abril nos últimos cinco anos!
  2. o tráfego ferroviário na mesma ponte duplicou, encontrando-se actualmente esgotada a sua capacidade de resposta, já que a irresponsável que vem substituindo ultimamente o Grande Dromedário do MOPTC, não previu, nem prevê, adquirir mais comboios, nem ajudar a Fertagus a comprá-los, apesar de ela própria, quando ainda não sonhava ser governanta, ter afirmado haver “muitas insuficiências no funcionamento do comboio da ponte”, nomeadamente em relação à “pouca frequência de comboios face aos horários escolhidos”, o que torna as horas de ponta “caóticas”. Disse ainda, que o conforto também “não corresponde ao que foi anunciado à população” (in Setúbal na Rede, 19-11-2004).
  3. a próxima subida, dos actuais 5% para 20%, no IVA das travessias da Ponte 25A, determinada pela União Europeia, irá objectivamente aumentar o custo das portagens.
Se, como anunciou o dromedário, o governo resolver subsidiar este acerto do IVA, pagando indemnizações suplementares à Lusoponte, bem pode esperar por boicotes gerais nas portagens do resto das pontes e autoestradas do país! Como é possível andarmos a pensar em novas travessias sobre o Tejo, em cidades aeroportuárias, na transformação do apeadeiro do Oriente em mais um crime público (à semelhança do Metro no Terreiro do Paço), ou no TGV entre Lisboa e Porto que nem sequer poderia parar em Coimbra (nem depois em Braga), que custaria um horror de dinheiro, que rebentaria com dezenas de povoações ao longo do traçado, tudo isto para ganhar 20 minutos ao Alfa cuja optimização está longe de ser atingida por causa dos erros e irresponsabilidade do Bloco Central e do cancro de corrupção partidária que é a Refer?

Como escreve e bem Rui Rodrigues: Comprem mais comboios para a Ponte 25 de Abril!

Portugal irá atravessar uma recessão certa e grave nos próximos dois anos.

A Europa entrou já num período longo de estagnação, que poderá durar uma década. Em resultado deste colapso da economia virtual e especulativa em que temos vivido nos últimos 30 anos, as pensões de reforma europeias serão muito afectadas, o desemprego atingirá proporções trágicas, a produção e sobretudo o consumo cairão de forma dramática, e o efeito disto tudo em Portugal (com a Espanha à beira do precipício financeiro) será inevitável: diminuição drástica do turismo, quebra brutal das exportações e do poder de compra, desemprego maciço e duradouro, falência de milhares de empresas, deslocalização de alguns colossos empresariais para o Leste da União Europeia (com o previsível colapso da indústria automóvel sediada em Palmela), em suma, bancos e Estado falidos! O Aeroporto da Portela ficará então às moscas, como previ, caindo finalmente por terra toda a histeria especulativa em volta do NAL.

Seria preciso conhecer mais algum dado para percebermos todos que estamos diante de uma emergência mundial e nacional, de ordem financeira, económica, social, energética e institucional gravíssima? Há mais de um ano que venho escrevendo sobre os efeitos extremos da actual crise. Era um tempo em que a generalidade da imprensa portuguesa ignorava os sinais da tempestade e estimulava a inconsciência geral.

O buraco negro do chamado mercado de Derivados é suficientemente profundo para engolir toda a poupança mundial. Os biliões de dólares e de euros dos cofres públicos, até agora dados aos cartéis e sindicatos criminosos da banca mundial, derreteram-se num ápice, como se não passassem de gotas de água caindo num telhado de zinco quente! E assim vai continuar, a menos que alguém decida fazer o óbvio, i.e. nacionalizar pelo período de um ou dois anos toda a banca europeia e americana, todos os fundos de investimento e ainda invadir literalmente todos os paraísos fiscais, da Suíça ao Luxemburgo, passando pelas ilhas piratas da Avó Isabel de Inglaterra! Não seria suficiente para afastar o Buraco Negro dos Derivados da Economia Real, mas pelo menos, permitira evitar a actual tentação dos Estados de expropriarem literalmente os bens e as vidas de milhões de cidadãos em todo o planeta.

Comecemos pois por calar as notícias e as discussões idiotas sobre os grandes investimentos do Estado. Ou de atribuir a responsabilidade do actual colapso financeiro do Capitalismo às pessoas que deixaram de honrar os seus compromissos hipotecários. O prejuízo causado pelo crédito mal parado do imobiliários em Portugal é insignificante face ao monumental buraco financeiro gerado pelo comportamento especulativo dos banqueiros e políticos que nos governam.


Super-bomba ameaça explodir nas Furnas, São Miguel, Açores

O caso da bomba de gasolina das Furnas (vídeo RTP), em vias de implantação numa zona vulcânica activa com temperaturas subterrâneas de 90 a 100 graus centígrados, denunciado pelo geólogo e vulcanólogo Victor Hugo Forjaz -- o homem que chefiou a construção da primeira central geotérmica do país, literalmente alimentada por um vulcão! --, bradaria apenas aos céus, se não fosse uma grave ameaça aos humanos, e não traduzisse, por outro lado, o grau de entorse e desespero para que caminha o sistema de financiamento dos poderes locais.

A economia das autarquias terá que mudar radicalmente nos próximos anos -- e quando digo "próximos", digo já! --, sob pena de assistirmos a uma delapidação criminosa galopante do capital natural do país. Temos que regressar ao trabalho, à produção, à poupança e sobretudo à defesa estratégica do património existente e acumulado. Os municípios, por exemplo, terão que redefinir drasticamente os seus suportes de vida. E não conseguirão fazê-lo sem uma predisposição democrática efectiva que abra os espaços de diálogo e decisão a uma nova ideologia participativa cidadã, responsável e de pleno direito.

A formação profissional dos gestores públicos -- os de confiança partidária e os eleitos pelo país -- seria um bom primeiro passo. Não custava muito montar uma plataforma de e-learning acoplada a um pelotão de missionários evangelistas (1) que treinasse quem utiliza dinheiro dos contribuintes a guiar-se pelo bom senso, regras elementares de boa mediação e estratégias participativas de gestão e exercício do poder.

Com tanto dinheiro comunitário deitado à rua -- e capturado pelo célebre polvo da corrupção, que tanto admiramos -- seria uma oportunidade perdida não usar 1% desse maná de Bruxelas na educação de quem decide, e sobretudo na preparação do país para o ajustamento dramático dos seus recentes hábitos de vida. O fim da economia assente no consumo e no endividamento endémico, como alavanca única do crescimento, vai obrigar-nos a um doloroso ajustamento. Temos que atacar imediatamente o problema. Não se duvide que terá uma dimensão bem maior e dramática do que o Terramoto de 1755. E Sócrates não será seguramente um novo Marquês de Pombal.

NOTAS
  1. "Os mercados vão colapsar porque têm sido geridos sem princípios"

    2008-10-24 09:30 (Diário Económico) Stephen Covey é um dos mais aclamados oradores sobre liderança. Percorre o mundo aconselhando chefes de Estado, líderes políticos e empresariais. Conferencista caro e muito solicitado, esteve esta semana em Portugal, pela primeira vez no Fórum Mundial de Alta Performance, envolvendo uma audiência de meio milhar de gestores nas teses que reúne nos seus livros.

Financiamento partidário pela porta do cavalo... orçamental.

22-10-2008. O Diário Económico abriu o dia com a notícia bomba: Teixeira dos Santos, ministro das finanças, usou a lei do Orçamento de Estado para modificar a lei de financiamento dos partidos políticos. Pouca coisa? Nada disso!

Os deputados da Assembleia da República, que não repararam no excesso de protagonismo legislativo da lei do Orçamento de Estado, não fora a atenção jornalística do Diário Económico, são por acaso os mesmos que, por motivos óbvios (a criação do "círculo regional" dos Açores), conspiraram para mudar o Estatuto daquela região autónoma, passando por cima da Constituição. A moda de mudar as leis do país por portas travessas revela-se, como se vê, não apenas como uma marca distintiva do governo, mas também como sinal patente da ruína ética que ameaça o próprio parlamentarismo da 3ª república.

A subversão da lei que rege o financiamento partidário -- permitindo o regresso às doações em dinheiro anónimo, e ainda a venda de bens partidários a valores especulativos (como forma escondida de financiamento eleitoral) -- esteve claramente na intenção do autor da proposta de lei do orçamento. O silêncio do PCP e do PP sobre a matéria augura o pior em matéria de acordos por debaixo da mesa. As toupeiras jornalísticas que cavem esta verdadeira mina noticiosa, pois só por aqui será possível forçar um debate público efectivo sobre uma melhor e mais eficaz metodologia de financiamento dos partidos, contra a qual nada tenho, obviamente.

Não há nenhuma razão objectiva para que as doações aos partidos não sejam feitas via cheque, transferência bancária ou cartão de débito ou crédito. O uso de metal é perfeitamente dispensável, ao contrário do que sussurram alguns. Mas mais: é preciso definir regras inteligentes sobre esta doações, por forma, por exemplo, a que, por efeito da clareza conseguida, se possam agilizar e modernizar as vias de financiamento partidário.

Basta estudar o caso paradigmático do financiamento da campanha de Barak Obama, para se perceber a necessidade e oportunidade de inscrever a Net e a Blogosfera no leque de canais opcionais para a angariação de apoios económicos aos processos eleitorais. Obama rejeitou o subsídio do Governo americano a que tinha direito, em nome do apoio directo dos seus apoiantes. O êxito foi estrondoso!

Ora bem, para melhorar os processos de apoio financeiro aos partidos, nomeadamente em períodos eleitorais, é fundamental estabelecer regras claras: limites máximos de financiamento, identificação dos doadores, etc. Vejam-se, por exemplo, as regras que constam da própria página web de Barak Obama:
To comply with Federal law, we must use best efforts to obtain, maintain, and submit the name, mailing address, occupation and name of employer of individuals whose contributions exceed $200 per calendar year.

Check this box to confirm that the following statements are true and accurate:
  1. I am a United States citizen or a lawfully-admitted permanent resident.
  2. I am at least 16 years old.
  3. This contribution is not made from the general treasury funds of a corporation, labor organization or national bank.
  4. This contribution is not made from the funds of a political action committee.
  5. This contribution is not made from the treasury of an entity or person who is a federal contractor.
  6. This contribution is not made from the funds of an individual registered as a federal lobbyist or a foreign agent, or an entity that is a federally registered lobbying firm or foreign agent.
  7. The funds I am donating are not being provided to me by another person or entity for the purpose of making this contribution.
Na América, o limite para as doações por eleição é de 2300 dólares. Em Portugal, é preciso fazer algo parecido: limitar e identificar claramente a origem das doações. Mas ao mesmo tempo, dar asas à imaginação e renovar radicalmente os canais de angariação dos apoios.



Açores: abstenção e deputados a mais (um mal nacional)

22-10-2008. Os partidos que disputaram as eleições açorianas ficaram todos muito satisfeitos (enfim, o PSD já sabia o que esperar.) Razão da satisfação: o PS renovou a maioria absoluta, o PSD espera o render da guarda de Carlos César para daqui a quatro anos, e os pequenos partidos (PCP, Bloco de Esquerda, CDS e monárquicos) passaram a estar representados no parlamento regional.

Como alguém escreveu, só o maior partido não disse coisa alguma sobre o evento. A razão é simples de entender: não teve direito a nenhuma representação! Refiro-me, claro está, aos 53,24% de abstencionistas. Nos arquipélagos, como no continente, esta é uma tendência que deveria preocupar a democracia, já que não preocupa a nomenclatura político-partidária que empobrece o país.

No entanto, sobre isto queria aclarar dois pontos que me parecem relevantes:
  1. Não contesto a existência do "círculo regional" de 5 deputados, gizado expressamente para aumentar a diversidade partidária do parlamento regional. É uma boa ideia, e deveria ter tradução no continente, por forma a potenciar o efeito Bloco de Esquerda na Assembleia da República, criando-se assim condições para erradicar a ditadura do Bloco Central, que, como hoje se faz prova, colocou Portugal à beira do precipício da dívida acumulada, da destruição do sector produtivo, do consumismo desmiolado, do regresso à emigração e da corrupção endémica. Tudo o que contribua para o crescimento dos pequenos partidos, e sobretudo para estancar a gangrena partidária dominante é bem-vindo!

  2. Contesto sim o número de deputados totais que compõem a assembleia legislativa dos Açores, como contesto o número igualmente excessivo de deputados da Assembleia da República.

    Não vale a pena brincar com estatísticas, como fazem os demagogos avençados. Temos deputados a mais, no continente e nas ilhas. A Assembleia da República deveria baixar dos seus actuais 230 deputados (boa parte deles, ociosos e arranjistas) para 150 eleitos, trabalhando pelo país a tempo inteiro. Proponho pois que se baixe para 150 a própria fasquia mínima dos 180 deputados prevista constitucionalmente, actualmente preferida pelo PSD, contra o PS, que deseja manter o máximo de 230 obedientes previstos na lei.

    Quando comparados com os países semelhantes ao nosso em área e população, mas muito mais prósperos, Portugal tem mais deputados (230) do que a Holanda (150), Bélgica (150), Irlanda (166) ou Dinamarca (179). E no caso dos parlamentos regionais, a disparidade e o disparate é ainda mais gritante. A Província da Corunha, por exemplo, tem apenas 31 deputados eleitos para 1 126 707 habitantes, quer dizer, 1 deputado por cada 36.345 habitantes. A região autónoma da Galiza, por sua vez, elege apenas 75 deputados para uma população de 2.762.198 de habitantes, ou seja 1 deputado por cada 36.829 habitantes. E o arquipélago das Canárias, que tem uma população de 2 070 465 habitantes, elege apenas 60 deputados, i.e. 1 deputado por cada 34 507 residentes. Os Açores (com uma população de 243 101 habitantes elegem 1 deputado por cada 4 264 habitantes -- ou seja, 57! A Assembleia Regional dos Açores nunca deveria comportar mais do que 28 lugares: Santa Maria 1; Graciosa 1; Flores 1; Corvo 1; Faial 2; Pico 2; São Jorge 2; Terceira 6; São Miguel 12. Os partidos da nomenclatura, demagógicos, gastadores e irresponsáveis, aplaudem o status quo que lhes é mais favorável, até ao dia em que o festim acabar.

O contra-ataque de Manuela

Parece que me enganei no vaticínio de ontem sobre a actual Secretária-Geral do PSD. Apesar de estar rodeada de araras e animais políticos, a verdade é que esta noite deu uma grande entrevista a Constança Cunha e Sá, na TVI. Reafirmou o que aqui sempre escrevi: que a agenda política de Sócrates é escrita por ela, desde o momento em que assumiu a liderança da Oposição.

Mas foi mais longe: placou certeiramente o bispo das Finanças. Afinal, a contenção do défice orçamental nos 2,2% (mais papista que o Papado de Bruxelas) consegue-se à custa dos pagamentos tardios das facturas devidas às PMEs. Ou seja, ai de quem se atrase no pagamento dos IVA! Mas o Estado e as autarquias podem levar meses e anos a pagar o que devem, chegando a provocar a falência de empresas desprevenidas. A contenção e diminuição do défice não se faz, pois, tornando o estado mais poupado e eficiente, mas destruindo a economia. É uma velha ideologia da "Esquerda" que nunca partilhei e abomino cada vez mais.

Outro ângulo do contra-ataque, que provavelmente feriu de morte a credibilidade do OE2009, foi sublinhar a previsão anedótica do crescimento.

As taxas de crescimento real do PIB caiem consistentemente desde 1960 -- como refere Medina Carreira em O Dever da Verdade. E divergem da média europeia há uma década (desde 1999), com uma imperceptível inflexão em sentido contrário no ano de 2004. Pois bem, para o ano em que previsivelmente a maior crise financeira desde a Grande Depressão (1929-33) causará os seus maiores estragos, sobretudo nos EUA e na Europa, lançando os países em severas recessões económicas e na estagnação, o governo PS estima alegremente um crescimento do PIB português (0,6%) três vezes mais elevado do que o da União Europeia (0,2%). É de doidos!

Como disse Manuela Ferreira Leite, o Governo PS começou por negar a crise; depois descobriu que só afectaria os outros; e agora, perante a dramática evidência, concede que os bancos portugueses precisam de 20 mil milhões de euros -- 11,5% do PIB (!) -- para enfrentar a "anormalmente elevada incerteza" provocada pela "crise dos mercados financeiros internacionais" (Sumário Executivo, OE2009.)

Sobre as "grandes obras", Ferreira Leite disse tudo: o governo PS não tem nada para apresentar, a não ser intenções e ideias vagas irremediavelmente fora de prazo.

Os compromissos assumidos e reiterados com Espanha obrigam-nos a levar o AVE de Badajoz ao Poceirão, e de Vigo ao Porto, o que nem é mau, apesar da crise. Mas mais do que isto seria afundar de vez o país no mar de dívidas que ameaça a todo o momento colocá-lo no patamar islandês. Para que este cenário horrível ocorra basta tão só que o colapso financeiro mundial continue imparável, como até agora.

As autoestradas, o NAL da Ota em Alcochete, a Terceira Travessia do Tejo e boa parte das barragens, digo eu, vão ter que esperar. Em primeiro lugar, porque "não há dinheiro para nada!", e em segundo, porque não precisamos de mais autoestradas -- vias rápidas, como as "autovías" espanholas, chegam muito bem para tirar Bragança e Beja do isolamento --; nem de destruir o Aeroporto da Portela (cada vez melhor complementado por Tires, no que respeita aos Corporate Jets...); nem de rebentar com o capital natural do país, construindo barragens que nada podem fazer para remediar o nosso criminoso défice energético, fruto da imbecilidade e corrupção da nomenclatura política que nos governa. A intensidade energética de Portugal é elevadíssima e o rácio entre a importação de petróleo e o nosso PIB é três vezes superior ao da União Europeia a 15. Do que precisamos é de Produtividade Energética e de Eficiência -- i.e. NegaWatts!

Numa palavra, em vez de continuarmos a alimentar burros (consultores e advogados do Bloco Central) a Pão de Ló, atirando literalmente para o esgoto da História, milhares de milhões de euros, o que devemos fazer é simples: regressar à poupança e ao trabalho produtivo. Vai ser doloroso, depois de tanta facilidade e ilusão, mas não há outra saída!

O que mais gostei na prestação de esta noite da mulher que dirige o PSD, foi a espontaneidade com que atacou o cerne das questões económicas estruturais que afligem qualquer pessoa informada dotada de um mínimo de bom senso e patriotismo. Claro que a Manuela tem ainda a casa laranja muito desarrumada. Mas como os principais terroristas que a provocam diariamente não passam de figuras em crise de andropausa, a sua experiência de mãe servirá para algo, suponho.


OAM 462 21-10-2008 01:45

quarta-feira, outubro 01, 2008

Crise Global 30

O colapso da América XI

Europa pode afogar-se nos resgates cada vez mais frequentes de instituições financeiras falidas


Dear Marcy Kaptur, please come to Lisbon!

Manuel Pinho diz que acabou o mundo tal como conhecíamos

30-09-2008 (Diário Económico). "Hoje é o dia que marca o princípio de uma nova era". Foi assim que o ministro da Economia, Manuel Pinho, reagiu ontem, no encerramento da cerimónia de entrega dos prémios da revista Exame às melhores e maiores empresas nacionais, ao chumbo do "Plano Paulson", o plano de emergência da administração Bush que previa injectar no sistema financeiro norte-americano 700 mil milhões de dólares.

Para Manuel Pinho, o mundo tal como conhecíamos até agora acabou. "Durante 10 a 15 anos vivemos num mundo de prosperidade assente em quatro motores: num sistema de financiamento eficiente; na inovação; na expansão do comércio, o que trouxe para a nossa área de influência países como a China, Índia ou Rússia; e na energia barata para todos. Pois bem, esse mundo acabou", disse o ministro, mas alertando que este era um cenário que já se previa.

"Quando os cinco maiores bancos norte-americanos dão 12 mil milhões de dólares em prémios aos seus funcionários isso não é saudável. Quando se exporta mais para a Suiça do que para a China, já se estava a prever o que ia acontecer", comentou.

Sócrates assegura que famílias portuguesas com poupanças podem estar tranquilas

30.09.2008 - 15h40 Lusa/ Público. O primeiro-ministro, José Sócrates, afirmou hoje que as famílias portuguesas com poupanças podem estar tranquilas apesar do actual quadro de crise – cuja responsabilidade atribui a Washington – e elogiou a capacidade de resistência das instituições financeiras nacionais.

... Em contraste com as críticas que fez às autoridades de Washington, Sócrates defendeu que "os governos europeus mostraram já uma determinação total para dar confiança aos seus cidadãos". "As poupanças dos europeus estão garantidas. É por isso essencial que os Estados Unidos aprovem rapidamente uma solução para acabar com uma desconfiança que mina a confiança no sistema financeiro internacional", reforçou.

No actual quadro de crise, Sócrates advogou que "a Europa já pagou um preço".
"Há um ano que estamos a pagar esse preço, com restrições no crédito e com o crédito mais caro. É altura para os Estados Unidos intervirem", acrescentou. Numa mensagem ideológica, o chefe do Governo português sustentou que a presente crise "também demonstrou que o sistema europeu de regulação dá mais garantias" do que "os comportamentos pouco prudentes" dos Estados Unidos.

Ferreira Leite diz que palavras de serenidade de Sócrates vieram tarde

30.09.2008 - 20h37 (Lusa/ Público). A presidente do PSD, Manuela Ferreira Leite, lamenta que o primeiro-ministro não tenha vindo mais cedo deixar uma palavra de serenidade perante a crise nos mercados internacionais e criticou declarações de responsáveis do Governo que “diabolizaram” o sistema financeiro.

Em conferência de imprensa, na sede nacional do PSD, em Lisboa, Manuela Ferreira Leite defendeu que “o sistema financeiro é essencial para o progresso económico e não pode ser posto em causa” e que “a primeira prioridade das autoridades deve ser o restaurar da confiança”.

A presidente do PSD disse subscrever, por isso, a ideia transmitida hoje pelo primeiro-ministro de que os portugueses podem estar tranquilos em relação aos seus depósitos bancários. O discurso do primeiro-ministro só “podia ir nesse sentido, só que veio tarde”.

A gesticulação retórica do Governo e da Oposição portugueses, no rescaldo da hecatombe financeira de anteontem em Wall Street, era o mínimo que poderíamos esperar dos zombies que deambulam pelo círculo estreito e gorduroso da gamela orçamental lusitana. Ainda por cima numa altura em que, lá como cá, cheira a eleições. Era o que faltava se nada dissessem! Disseram, como seria de esperar, o previsível. Por um lado, a clique governamental aproveitou para imputar subtilmente as dificuldades dos portugueses aos desvarios "liberais" da América, como se Clinton e os Democratas estivessem isentos de culpa. Há uma mudança de paradigma, balbucia o motorista do BES (Manuel Pinho.) Já demos! -- repete socratintas. Do lado da Oposição, Manuela Ferreira Leite, pelos vistos atada às ignorâncias profundas dos sound bites emitidos pelo spin doctor do Abrupto (Pacheco Pereira), meteu os pés pelas mãos e veio a terreiro defender-se da tentativa governamental de colar as convicções do PSD à praxis desvairada dos piratas de Wall Street e da Casa Branca. Ou seja, caiu na esparrela! Em vez de ler os clássicos da teoria económica (Malthus, Adam Smith, Ricardo, Marx, Polanyi, Keynes, Schumacher, ...), ou alguns economistas actuais muito recomendáveis, como Stiglitz ou Ann Pettifor, ou ainda as palavras sábias do senador republicano Ron Paul sobre o declínio da América e a ruína do US dólar, leu infelizmente as prosas intragáveis de João Carlos Espada. Porque não lê Sarkozy, MFL?

Já toda a gente, menos alguns jornalistas e os corretores do PSI20, começou a perceber que a crise americana não é apenas uma crise americana, nem sobretudo se esgota na verborreia ilusória sobre o famigerado Subprime, segundo a qual o colapso do modelo económico-financeiro da Euro-América se teria ficado a dever a uns desgraçados sem dinheiro que se puseram a comprar vivendas com créditos temerários 100% financiados por uma turma de vigaristas sem lei nem ordem.

A ponta do icebergue que irrompeu com a famosa crise do Subprime é isso mesmo: a ponta de um icebergue que ameaça rebentar com o modelo económico parasitário que foi sendo paulatinamente montado nos Estados Unidos e na Europa, ao longo dos últimos 30 anos, e que pode ser resumido assim:
  • deslocalização da produção industrial para o Oriente;
  • terciarização descompensada das economias ocidentais;
  • atomização e precarização dos saberes profissionais;
  • obsolescência programada dos produtos;
  • alienação ideológica das massas através da reificação do consumo;
  • dependência e intensificação energéticas das economias ocidentais;
  • envelhecimento populacional e crises demográficas;
  • destruição das células familiares como unidades de resistência social;
  • deterioração dos termos de troca entre os países ocidentais desenvolvidos e os países produtores de energia e de matérias primas;
  • endividamento estrutural da Euro-América face ao Japão e às economias industriais emergentes;
  • transformação suicida dos processos de endividamento em economias virtuais e veículos de especulação financeira (muito semelhantes aos velhos e ilegais esquemas piramidais de enriquecimento ilícito.)
  • transferência maciça da liquidez soberana dos grandes países consumidores para os grandes países produtores.
O momento que a América e a Europa estão neste momento a atravessar pode ser resumido desta forma: os países ricos, quer dizer, que possuem gigantescas capacidades produtivas instaladas e em operação, ao mesmo tempo que detêm as maiores reservas de ouro e monetárias do planeta, exibindo ainda excedentes comerciais e financeiros, deixaram de querer subsidiar o colapso financeiro da América, e mostram-se aparentemente dispostos a descolar das velhas economias imperiais. Nesta circunstância a Europa não tem outra saída que não seja segurar a moeda americana e nacionalizar, se for preciso, todo o sistema bancário europeu! Nisso estamos, perante o ar aparvalhado dos adeptos fanáticos da "mão invisível" do mercado. Pelo vistos, trata-se de uma mão completamente imprevisível!


Les banques européennes très exposées

30-09-2008 (Courrier International). La presse européenne s'inquiète de voir les banques du Vieux Continent fragilisées à leur tour. Mais le pire n'est pas à venir, si l'on en croit l'économiste italien Mario Deaglio.

... Selon le quotidien britannique, la situation est d'autant plus inquiétante que les banques européennes, très exposées aux actifs "toxiques" liés aux crédits immobiliers américains, possèdent également "des montagnes de créances douteuses liées aux marchés de l'immobilier britannique, espagnol, français, néerlandais, scandinave et est-européen". Et, pour ne rien arranger, "les marchés européens du crédit [interbancaire] sont pratiquement paralysés".

"Si les Etats européens ont pu jusqu'à présent éviter que la faillite d'un établissement ne se transforme en risque systémique, les appels en faveur d'un plan de sauvetage concerté se font de plus en plus nombreux", constate Le Temps. Le quotidien suisse rappelle que Nicolas Sarkozy a réitéré, le 29 septembre, son projet d'un sommet pour la refondation du système financier international.

Esta citação mereceu um comentário muito instrutivo, que me foi enviado na tarde de 30 de Outubro, por uma economista, antiga diplomata e querida amiga canadiana, que reproduzo com a devida vénia:
Este artigo do Courrier International contextualiza bem o problema. Mas o que mais me chama a atenção são as noticias que a seguir destaco, no dia em que o Euro passou de 1,60$ há 3 meses atrás, para 1,40$ à hora que escrevo, sendo a maior queda desde 2001. Creio que esta queda brutal se ficou dever à injecção de 2 mil milhões de YEN pelo Banco do Japão, mas também aos apelos da Comissão Europeia, e de Angela Merkl, para que os Estados Unidos assumam um "global stewardship in the economic crisis".

Quem pede a outro que assuma um "global stewardship", está a admitir que não pode fazê-lo. Dá que pensar, não dá?

No entanto, a imprensa portuguesa preferiu destacar o seguinte:

A Comissão Europeia lamentou hoje que o Congresso norte-americano tenha rejeitado o plano de resgate financeiro proposto pela Administração Bush, atribuindo aos EUA parte da responsabilidade pela crise financeira mundial. (Público)

Os espanhóis do El País sempre são mais realistas:

Segundo a edição online do diário espanhol "El País", Bruxelas pede aos norte-americanos para assumirem as suas responsabilidades porque a Europa “está a fazer que lhe toca".

Comparar os destaques e comentários do Público e do El País a este respeito é muito engraçado. Como impagável é saber o que disse Sócrates (segundo o Jornal de Negócios de hoje):

"Quero tranquilizar os portugueses quanto às suas poupanças. O sistema financeiro português tem mostrado boa resistência e boa saúde, mas isso não dispensa que os EUA façam o que têm que fazer para resolver um problema que eles próprios criaram. Não fazer nada não é solução”, afirmou o primeiro-ministro.

Ainda sobre as operações de salvamento dos bancos europeus, em curso há vários meses, e que se vêm acumulando rapidamente nos últimos dias, com punções brutais nas disponibilidades financeiras dos principais bancos centrais europeus e do BCE, preocupa-me o que possa vir a suceder à banca helvética. Começam a surgir no ar receios sobre o futuro de bancos como o UBS. Enquanto os bancos da União Europeia são salvos por consórcios de Reservas nacionais e/ou de Bancos Centrais da União, pergunta-se o que acontecerá a um banco europeu em quebra situado fora da "rede" de protecção da União?!

Finalmente, para mim, o mais grave de tudo, no que se refere à sorte imediata da Europa, é o congelamento total do crédito Inter-bancário. O comportamento neurótico da banca faz-me lembrar aquela história dos esquilos obcecados com as suas bolotas, não as trocando com nenhum outro da mesma espécie: "squirrels hoarding their acorns, and not wanting to loan to one another". Eu nunca vi as taxas Euribor assim!

01 Semana 4,8390%
01 Mês 5,0500%
03 Meses 5,2770%
06 Meses 5,3770%
12 Meses 5,4950%

Esbateu-se quase totalmente a diferença entre Euribor a 1 mês e Euribor 1 ano!

Isto indica INCERTEZA E VOLATILIDADE total. A esta incerteza soma-se a queda do Euro -- que cai tão fortemente agora porque já se sabe que o BCE vai enfim baixar em breve a taxa de juro de referência (para os 4% ou 3,75%) --, bem como uma taxa Euribor perto de 6%. Isto é muito grave! Não é Estagflação, é depressão pura e dura, como não conhecemos nunca durante as nossas vidas. Só alguns dos nossos avós passaram por coisa semelhante. Refiro-me aos que viviam na cidade, pois no campo safaram-se bem, como dizia o meu avô materno. -- CMT

OAM 449 01-10-2008 02:04

segunda-feira, setembro 08, 2008

Portugal 45

Discurso tagarela e política responsável
"Silêncio" de Manuela Ferreira Leite marca a agenda política da rentrée.

Salvo para o pequeno grupo que caiu nas graças ou na dependência do poder socialista, para a maioria das pessoas a vida está cada vez mais difícil. - Manuela Ferreira Leite (07-09-2008)

O senhor Vítor Ramalho, "soarista" de gema, comentador televisivo conhecido, por conta da quota do PS, e distinto deputado da bancada "socialista" da Assembleia da República, decidiu abandonar o seu assento parlamentar a favor de Paulo Pedroso (1), para ir ocupar, pelo período de três anos, o cargo de presidente do Inatel, a velha organização criada por Salazar, que o PCP e o PS tanto adoram. O Inatel, com um orçamento anual de 65 milhões de euros, mais de 250 mil sócios e um património avaliado em mais de 100 milhões de euros, passou a ser, desde Julho passado, uma fundação privada de utilidade pública. A pergunta óbvia é esta: qual foi o critério da nomeação do senhor Ramalho? Houve concurso público nacional, ou até internacional (como deveria), para escolher a pessoa certa para este lugar? Não houve? Porquê? Não deveria haver, aqui como em tantos outros casos (Santa Casa da Misericórdia, REN, CTT, CP, Metro, etc.) um puro critério de competência e curriculum profissional? Não deveria haver, como prova de uma democracia adulta e preventiva dos fenómenos de corrupção, a aplicação de princípios de gestão consagrados, na selecção dos recursos humanos desde o mais modesto funcionário ao bem pago CEO? Pelos vistos, não. O critério aplicado foi meramente partidário, ou seja, de exercício menor da política. Mas se assim foi, e parece-me evidente que foi, então há algo mais grave que deve ser denunciado, e sobretudo objecto de medidas cautelares para o futuro. O senhor Ramalho foi indigitado para uma das mais lucrativas associações do país, por um período, repito, de três anos, por um governo cujo prazo de validade termina em Março de 2009, ou seja daqui a seis meses! Ora aqui está um caso para os estudiosos dos fenómenos de endogamia partidária, muito próprios dos tais países africanos e sul-americanos que tanto incomodam o estimável sub-director do Expresso, Nicolau Santos.

Este governo está de saída e como tal não deveria fazer nomeações (ou meter cunhas) partidárias (2) para cargos públicos (privados, muito menos!) que extravasem o seu próprio prazo de validade. Este governo entrou em período de balanço e avaliação pública (como referiu o PSD pela voz ponderada de Aguiar Branco), e como tal deve abster-se de prosseguir com a sua ávida agenda de apropriação do bem público. Como me sugeria um amigo esta manhã, o melhor mesmo é juntar numa só as eleições de 2009: legislativas, europeias e autárquicas. Todos os portugueses sabem jogar no Totobola, no Totoloto e no Euro Milhões, pelo que agregar os três processos eleitorais num só, faria bem à democracia e ao erário público. Evitava-se, por outro lado, ouvir os nossos indecorosos políticos repetir três vezes a mesma lengalenga.

Manuela Ferreira Leite, no seu discurso de ontem (3), não foi ao ponto de pormenorizar os meandros percorridos pelo bicho da corrupção que vem destruindo o nosso sistema partidário. Tal tarefa cabe a Paulo Rangel e outros dirigentes do PSD, que não devem, aliás, hesitar atacar frontalmente estas matérias, ainda que tamanha ousadia assuste de morte boa parte do PPD-PSD -- mais precisamente, a metade laranja do Bloco Central do Orçamento de Estado. Ao contrário do que a orquestra mediática, financiada pelo Bloco Central do Betão, vem disseminando junto da opinião pública que lê jornais e vê televisão, a maneira (alguém escrevia, "feminina") de fazer política, demonstrada por Manuela Ferreira Leite, é bem mais eficaz e inteligente do que a tagarelice de José Sócrates. Se repararmos honestamente nos factos, verificamos que os principais temas da actual agenda política foram na sua totalidade introduzidos pelo aparente silêncio da actual dirigente laranja:
  1. a necessidade de olhar para o grave problema social que a degradação estrutural da situação económica do país está a engendrar;
  2. a necessidade de abandonar as fantasias multimédia e mediáticas em volta dos grandes projectos, centrando de novo a discussão das obras públicas num enquadramento analítico e de decisão política, racional, ponderado e ajustado às nossas efectivas necessidades estratégicas e possibilidades económico-financeiras;
  3. a necessidade de olhar para o tema da segurança interna do pais, e para o tema da criminalidade organizada, de forma séria e estruturante, sem concessões à arbitrariedade casuística que tem sido a marca desastrosa do actual governo;
  4. a necessidade de expor e combater a corrupção, sobretudo a que tem origem da endogamia e no sectarismo partidários;
  5. a necessidade de dar uma prioridade estratégica ao tecido económico formado pelas pequenas e médias empresas (vejam como o governo reagiu imediatamente à voz de Ferreira Leite), em vez da actual subserviência aparvalhada da esquerda caviar -- que tomou por dentro o PS -- diante das grandes famílias económico-financeiras que sobreviveram ao fim da ditadura (sobretudo os Espírito Santo e os Mello) e comandam hoje os ventrílocos "socialistas" ao seu serviço: António Vitorino, Manuel Pinho e o propagandista-mor, José Sócrates.
  6. a absoluta oportunidade, enfim, de passarmos todos, em matéria de discussão pública, à fase de balanço de quatro anos de maioria absoluta PS, em vez de continuarmos a dar atenção à máquina de propaganda irresponsável e inconsequente que ao longo dos últimos quatro anos nos vendeu as mais extraordinárias quimeras: o aeroporto da Ota, o TGV Porto-Lisboa, 150 mil novos empregos (de trabalho temporário e precário nos tristemente famosos call centers que vêm inundando o país), o laptop "Magalhães" (que os venezuelanos legitimamente rejeitam, por não passar dum produto branco sem vestígio algum de neurónios lusitanos efectivamente acrescentados), o aeromoscas de Beja, ou o cluster aeronáutico de Évora em volta do projecto Skylander, que José Sócrates anunciou aos quatros ventos, como se fossem favas contadas, com aquele seu tão característico semblante de vendedor de cobertores de Covilhã.
Mais do que isto, só mesmo um programa eleitoral, senhores paparazzi do fait divers político. Aliás, como se tem visto, não há ideia debitada pela actual direcção do PSD, que o PS não acolha e roube imediatamente, como se tudo lhe valesse para revalidar a confiança perdida dos portugueses.

A discussão do próximo Orçamento de Estado vai ser uma prova de fogo para a actual Oposição social-democrata aos neoliberais que tomaram o PS de assalto. As verbas previstas para os famosos investimentos públicos impossíveis ou desmiolados terão que ser directamente confrontados, contrapondo-se-lhes uma visão alternativa coerente do futuro imediato do país em matéria de prioridades estratégicas, as quais deveriam passar necessariamente por estes passos:
  • adaptação do tecido produtivo e dos conceitos económico-financeiros à deterioração dos termos de troca mundial entre a Europa-América e o resto do mundo;
  • reforço simultâneo das funções essenciais do Estado e dos processos de desburocratização em curso;
  • definição e implementação de um sistema energético sustentável e participativo;
  • revisão radical da política de obras públicas e transportes do país;
  • prioridade à defesa ecológica e paisagística de Portugal;
  • definição de um quadro de autonomias e descentralização administrativa e cultural adequado à progressão mais rápida do desenvolvimento equilibrado e responsável do país, sem prejuízo do reforço das instâncias integradoras da unidade nacional;
  • desenvolvimento de uma estratégia atlântica ampliada, menos dependente dos interesses imediatos dos Estados Unidos, e mais atenta ao potencial da lusofonia.
Não tenho especial predilecção pelo PSD, nem por Manuela Ferreira Leite. Aliás, se não houver esperança de romper com o actual Bloco Central da corrupção, no âmbito do próximo processo eleitoral, não só não votarei, como apelarei militantemente a uma espécie de abstenção criativa, que a seu tempo me ocuparei de definir, se for preciso.

Há já algum tempo que defendo uma reestruturação do actual tecido partidário, pois como está, está podre e imprestável. Os socialistas deveriam correr com os neoliberais do PS, sob pena de desaparecerem eleitoralmente como força de "esquerda" em menos de uma década. Os neoliberais que hoje controlam o PS deveriam sair do partido onde se alojaram como parasitas letais, e formar um novo partido com o caloiro Passos Coelho e o resto da malta liberal do PPD-PSD. Os sociais democratas do PSD deveriam correr com os populistas do PPD para os respectivos subúrbios e regiões, formando um partido novo, apoiado nas classes médias em processo de proletarização acelerada, nos pequenos e médios empresários industriais e comerciais, e nos proprietários agrícolas, assumindo algum pendor populista evoluído e forte recorte presidencialista na sua definição programática. O PCP deveria abandonar a retórica marxista-leninista (que limita inexoravelmente a sua ambição eleitoral à fasquia dos 10%), transformando-se num partido social-democrata radical (chamem-lhe o que for preciso, menos "partido comunista"), atraindo para a sua reconhecida capacidade organizativa as esquerdas do PS e do BE. O Bloco de Esquerda (que precisa, antes de mais, de exorcizar os seus actuais demónios trotsquistas e maoistas), deveria evoluir para um partido assumidamente comprometido com as causas civilizacionais mais avançadas: ecologia, democracias cognitivas, rizomas culturais, minorias étnicas, sociais e sexuais, redes pós-urbanas, culturas alternativas e activismo tecnológico em prol de uma espécie de democracia global, deixando-se das actuais banalidades esquerdistas de base. Por fim, o PP de Paulo Portas, deveria ir à urtigas, pois não passa duma degenerescência partidária irreversível.

O pior que nos poderá acontecer é ouvirmos as mesmas litanias de sempre, assim que reabrir o parlamento.

POST SCRIPTUM -- esta noite, em entrevista intempestiva a Mário Crespo (SIC-N 21h00), Luís Filipe Menezes, num estilo populista pouco sofisticado, pré-anunciou a sua disponibilidade para colocar as suas putativas tropas ao serviço de um qualquer candidato a primeiro ministro, saído do PPD-PSD, que se apresente nos meses mais próximos, em alternativa a Manuela Ferreira Leite e seus directos apoiantes (Rui Rio, Pacheco Pereira, Paulo Rangel e António Borges). Constato que as minhas previsões sobre uma futura cisão do PPD-PSD poderão confirmar-se mais cedo do que supunha. Aparentemente, o dirigente nortenho do PSD vai infernizar a vida a Manuela Ferreira Leite, e exigir um congresso lá para Janeiro de 2009, se entretanto o debate do orçamento se revelar frouxo, e as sondagens não começarem rapidamente a deslocar-se para o lado do PSD. Alguém vai sair chamuscado, ou mesmo frito, desta guerra de cadeiras. O partido laranja na sua formação bipolar pode já estar ferido de morte sem o saber. Mais valia que a actual direcção lancetasse a ferida que supura, antes que gangrene de vez.


NOTAS
  1. Indemnização não iliba Paulo Pedroso
    05-09-2008. "A sentença que condenou o Estado Português a pagar 130 mil euros de indemnização a Paulo Pedroso por prisão preventiva ilegal não iliba o ex-deputado "socialista" dos crimes sexuais que foram imputados no processo Casa Pia.

    'Não está em causa saber se o ora autor (Paulo Pedroso) foi efectivamente agente de algum dos crimes que lhe foram imputados' [PP foi acusado pelo Ministério Público de 23 crimes de abuso sexual, não tendo porém ido a julgamento - OAM], lê-se na página 73 da sentença, onde se sublinha também que não se questiona se os jovens identificados como vítimas foram efectivamente abusados.

    Na sentença de 101 páginas, a juíza Amélia Puna Lopo, que decidiu fechar as portas do julgamento que culminou na condenação do Estado, explica que os crimes imputados ao ex-deputado não foram apreciados no processo cível, 'apreciação que cabia apenas e só à jurisdição criminal'.

    Recorde-se que Rui Teixeira, acusado de 'erro grosseiro' por ter decretado a prisão preventiva de Pedroso, foi arrolado como testemunha pelo Estado, mas o Conselho Superior da Magistratura impediu-o de explicar em tribunal o que o levou a tomar esta decisão, alegando que se mantinha o dever de reserva - previsto no Estatuto dos Juízes e que os impede de falarem dos seus processos." -- in Correio da Manhã.
  2. Há neste caso um indício de padrão comportamental do actual governo: sempre que um socialista do estado-maior PS se torna crítico ou ameaça tornar-se, o governo empurra-o gentilmente para a fama e o rendimento.

  3. Extractos do discurso de rentrée da Presidente do PSD no encerramento da Universidade de Verão [07-09-2008]
    ... Numa época em que se privilegia o sensacionalismo e o efémero, o PSD elege a Universidade de Verão como símbolo da sua vontade de estar na política de forma diferente e de apostar no futuro com seriedade e trabalho.

    ... Todos sentimos que fazer política com o recurso permanente a promessas é uma arma eficaz, mas que tem sido mortífera para a credibilidade dos políticos.

    ... O Governo gasta imensa energia e recursos a tratar da comunicação e imagem, mas o objectivo não é informar, não é esclarecer ou mobilizar. O objectivo é enganar-nos ou distrair-nos.

    ... Hoje, três anos decorridos ao longo dos quais fomos atordoados por títulos de jornais e pelo anúncio de grandes realizações, confrontamo-nos com a realidade de uma pobreza crescente e de uma clivagem acentuada com os outros países europeus.

    ... É na área da política económica que a asfixia que o actual Governo nos impõe se torna mais visível. Os sucessivos governos socialistas, que ocuparam o poder durante 10 dos últimos 13 anos, desperdiçaram recursos gigantescos e tornaram muito difícil a vida das pequenas e médias empresas, esmagando qualquer esperança de iniciativa empresarial transformadora.

    Na sua concepção centralizadora, o PS canalizou recursos para projectos sem rentabilidade ou justificação económica, e vai deixar o País endividado como nunca, e sem perspectivas de ultrapassar a estagnação, como o próprio Primeiro-Ministro confidenciou recentemente a um Presidente estrangeiro.

    O nosso programa económico será exactamente o oposto de tudo isto. A prioridade será para a competitividade da economia, para a produtividade e criatividade empresarial, removendo custos e obstáculos à eficiência das pequenas e médias empresas. É imperioso reduzir os custos operacionais, aliviar a carga burocrática, reduzir a fiscalidade ligada à criação de emprego e apoiar a exportação.

    ... Entre outros problemas complexos, o mundo atravessa hoje uma séria crise de crédito. O financiamento é mais difícil, os credores são mais exigentes, os riscos mais difíceis de aceitar.

    Como é que o Governo enfrenta esta crise? Com um endividamento externo recorde e em crescimento sem limite previsível, o que nos obriga a todos, particulares, famílias e empresas, a pagar mais pelo crédito a que recorremos. Por isso, se desiste de muitos projectos produtivos e se abandonam iniciativas que teriam o risco próprio da inovação e do progresso.

    E qual o motivo porque nos endividamos?

    Para financiar projectos megalómanos que são um extraordinário luxo para o País porque não criam riqueza, mas que implicarão muitos anos de sacrifício para serem pagos.

    O PSD propõe uma política económica diametralmente oposta, que conduza ao enriquecimento do País.

    Uma política atenta à escassez de recursos e ao seu custo, porque o pouco capital que temos não pode ser esbanjado.

    Propomos uma atenção crescente à poupança, sem a qual o crescimento não pode ser financiado. Daremos prioridade absoluta aos investimentos de grande impacto na produtividade e na inovação. Só com o reforço da nossa capacidade exportadora e de concorrência poderemos afirmar-nos, ou mesmo sobreviver, em mercados cada vez mais agressivos.

    É por este motivo que não desistiremos de conhecer e avaliar os critérios que levaram o Governo a tomar decisões sobre grandes obras públicas.

    Mas é no emprego que a política económica que defendemos melhor mostrará os seus resultados.

    O desemprego crónico que se instalou na nossa economia é a manifestação mais clara da acção do governo socialista, a consequência de políticas erradas e incapazes de reorientar a política económica para a criação de postos de trabalho. São as pequenas e médias empresas e os sectores mais expostos à concorrência que podem criar mais empregos de qualidade.

    Ao destruir a competitividade da economia, o Governo tem destruído muitos milhares de postos de trabalho e impedido a criação de muitos mais.

    Resta, assim, aos Portugueses a aceitação de salários cada vez mais distantes dos que se praticam na Europa, como única forma de assegurar os postos de trabalho que ainda existem e se vão mantendo.

    Não admira que a emigração se tenha tornado de novo a última tábua de salvação para muitos dos nossos compatriotas.

    Neste contexto, a qualidade dos serviços públicos é um dos factores mais decisivos de bem-estar dos cidadãos e uma marca diferenciadora das sociedades mais desenvolvidas e mais justas.

    É sabido que as sociedades modernas e desenvolvidas necessitam de um Estado de dimensão importante, moderno, sofisticado e eficaz.

    A reforma da Administração Pública é talvez a área onde este Governo mais prometeu e menos concretizou, por incompetência ou falta de coragem política.

    Na Administração Pública não houve só três anos desperdiçados. Houve um óbvio e grave retrocesso e o enfraquecer das instituições.

    A reestruturação dos serviços saldou-se por uma mão cheia de nada, no que se refere à eficácia e transparência.

    Pelo caminho, os serviços viveram anos de incerteza, de confusão, e desorientação.

    Serviu para adaptar a máquina aos interesses do Partido Socialista completando silenciosamente uma operação em grande escala do controlo político dos cargos da administração pública.

    A avaliação de desempenho, invocada como trave mestra de toda a mudança, saldou-se por um logro em que florescem muitas prepotências e se afundam muitas esperanças.

    É urgente libertar o País e as instituições do sectarismo partidário, que conduz à instabilidade e ao desprestígio de muitas organizações.

    A modernização do Estado implica que se valorize o profissionalismo e o mérito e se abra caminho a uma nova cultura de responsabilidade, mérito e isenção.

    Sem respeito por estes princípios, sem independência e sem solidez estrutural, o Estado é muito vulnerável à corrupção, ao tráfico de influências e ao enriquecimento ilícito, fenómenos que devem ser eficazmente combatidos na sua expressão efectiva mas que devem, sobretudo, ser prevenidos com determinação e seriedade.

    De pouco serve aprovar leis contra a corrupção quando a organização é caótica, instável e politizada.

    ... Em muitos outros sectores da vida nacional podemos encontrar claros sinais do mau Governo socialista que deixa o país sem confiança, sem alento e sem recursos.

    Há o sentimento generalizado de fracasso, ninguém duvida que Portugal está muito abaixo do que poderia e deveria estar no seu nível de desenvolvimento.

    Salvo para o pequeno grupo que caiu nas graças ou na dependência do poder socialista, para a maioria das pessoas a vida está cada vez mais difícil.

    A confiança na qualidade e exigência do sistema educativo não melhorou e a classe dos professores conheceu um ataque sem precedentes, ao seu prestígio e autoridade.

    Na saúde as políticas mudam com os ministros, ou os ministros mudam por causa das políticas e o serviço nacional de saúde vai conhecendo uma sangria de médicos e pessoal qualificado que já provocou a ruptura em serviços centrais.

    A valorização das pessoas, o estímulo ao capital humano no sector público, incluindo em áreas de elevada qualificação e investimento na formação, é pura e simplesmente ignorado.

    Na agricultura, as queixas contra o Governo, as dificuldades causadas por políticas erradas e surdas aos apelos, são caladas com o estrangulamento financeiro e premeditado das associações representativas do sector.

    Na Justiça, as promessas de maior eficácia e celeridade redundaram na confusão no sector, no beliscar do prestígio e isenção da classe e no sentimento de que também a justiça é impotente perante as injustiças.

    Por fim, o Governo falhou perigosamente no âmbito da Segurança Interna, onde é patente a falta de uma estratégia sistemática e coerente capaz de assegurar com a desejável eficácia a realização dos fins mais essenciais do Estado: a segurança, a justiça e a tranquilidade dos cidadãos.

    O aumento de certo tipo de crimes violentos, pouco habituais na sociedade portuguesa, mas muito especialmente a sensação de impunidade dos criminosos, inquieta justamente os cidadãos, comprometendo a imagem tradicional de Portugal como País seguro. Os acontecimentos dos meses de Verão tornaram patente essa falta de estratégia no que se refere à Segurança Interna.

    Não é apenas uma questão de meios, nem de número de agentes.
    É essencialmente uma questão de como esses meios estão a ser utilizados e como os recursos humanos são organizados e coordenados.
    É esta estratégia que cabe, em particular, ao Ministro da Administração Interna definir e fazer cumprir.

    Ora, é o sentimento de impunidade que intranquiliza as populações e, não se vê onde está a luta contra a criminalidade violenta.
    Não se sente que os criminosos sejam perseguidos e punidos, nem que haja uma prevenção eficaz do crime.

    Este sentimento não pode instalar-se como uma fatalidade.

    Ora, o Ministro não disse e devia ter começado por aí, como iria reforçar a capacidade de investigação, de informação e de penetração das polícias.
    O Governo confunde medidas com estratégias, confunde reacção com concepção. E confunde espectáculo com intervenção.

    Em matéria de segurança interna e de autoridade do Estado, isto é gravíssimo. Esta função de soberania não se compadece com a desorientação ou com medidas ditadas por urgências mediáticas.

    Muito menos se compadece com a escandalosa operação mediática feita pelo Governo para calar os alarmes.

    Como é possível que o Ministro da Administração Interna admita que se organize uma operação policial destinada a passar em directo na televisão, escolhendo o terreno tristemente emblemático de bairros problemáticos, sacrificando a um momento mediático a necessária pacificação e acalmia nas zonas de maior tensão?

    Para um Governo que diz ter preocupações sociais, não podia ter mostrado maior insensibilidade social.

    Mais uma vez se viu que o Governo não sabe actuar fora do espaço do espectáculo e do mediatismo, o cenário em que verdadeiramente se move bem. No entanto, uma palavra é justa. Ao desnorte do Governo, as forças de segurança têm correspondido com um sentido de missão e responsabilidade que é de salientar e que é, em si mesmo, um conforto para este momento de crise.

    ... O diagnóstico sobre a condução da vida política no nosso País está feito.

    Os resultados estão à vista de todos e são medíocres. Fraco crescimento económico, níveis de desemprego elevados e, muito especialmente, manutenção da disparidade entre os mais ricos e os mais pobres.

    Perante a mediocridade dos resultados, o PS insiste na mesma política.

    O PSD afirma que perante a mediocridade de resultados tem de se mudar de política. Não é demais recordar que o Partido Socialista desperdiçou oportunidades extraordinárias para imprimir um ritmo de desenvolvimento e progresso de que carecemos para competir na Europa e no Mundo.

    Com um Governo do PSD e uma outra política o País poderá regressar a uma via de prosperidade.

    Esse objectivo tem de incluir todos os cidadãos. Não pode ser feito à custa do agravamento da pobreza de uns para o aumento da riqueza de poucos.

    O Estado não pode criar a ilusão de que pode, por si só, resolver todos os problemas de desigualdade e pobreza.

    Mas pode fazer muito, se orientar a sua acção exclusivamente para os que dela necessitam.

    É indispensável que se descentralize a rede de apoios sociais, ao mesmo tempo que o Estado se deve concentrar na avaliação muito rigorosa dos meios e dos efeitos desta intervenção.

    ... Nós temos uma ambição para Portugal e ela não é maior nem menor do que a do PS. É diferente, profundamente diferente. Do Governo do PS não resultou qualquer benefício para o País.

    Do nosso, resultará o progresso e é essa ambição que nos move e nos motiva.

OAM 429 08-09-2008 15:36 (última actualização: 09-09-2008 00:48)

sexta-feira, agosto 08, 2008

Portugal 39

O Estado, a falência e a bolha das infraestruturas
Roads, airports on the block as budgets tighten

By Jonathan Stempel (Reuters)

NEW YORK (Reuters, Fri Aug 1, 2008) - Cash-strapped U.S. state and city governments are likely to sell or lease more highways, bridges, airports and other assets to investors desperate for stable returns after being frazzled by the credit crisis.

The trend is set to pick up speed given worsening budget deficits in state capitals and city halls nationwide.

It will also be welcomed by Wall Street bankers hoping to help create and market so-called "infrastructure" transactions at a time many debt markets remain paralyzed, and after major U.S. stock indexes fell into bear market territory.

... Critics say some infrastructure transactions are short-term budget fixes that deprive governments of steady cash streams from taxpayer-funded assets. There is also the risk that private operators won't do their jobs well.

Manuela Ferreira Leite afirmou que não há dinheiro para nada. A nomenclatura clientelar do regime ficou com os cabelos em pé. Não por descobrir algo que não sabia. Mas por não ter conseguido evitar que uma pessoa informada e aspirante ao cargo de primeiro ministro tivesse dito a verdade.

A realidade é simples: não há dinheiro, nem sequer para pagar aos funcionários públicos. Ou seja, o Estado só consegue assumir os seus compromissos, somando dívida à enorme dívida que já tem. Quem lhe empresta o dinheiro não são os bancos nacionais, pois esses estão também altamente endividados, mas a banca europeia e internacional (que por sua também está endividada!), através dos seus representantes e parceiros locais. Como o dinheiro escasseia e subiu de preço em resposta a uma espiral inflacionista que não cederá tão cedo, as perspectivas económico-financeiras aproximam-se cada vez mais do cenário de uma prolongada recessão europeia, que poderá chegar já em 2009.

É perante o dramatismo desta situação, que Manuela Ferreira Leite reconhece, mas sobre a qual os beneficiários oportunistas do sistema nem querem ouvir falar, que deveremos analisar a misteriosa polémica estival sobre uma meretriz chamada ANA.

A ANA deste Verão não é, porém, uma pessoa, e muito menos uma pessoa de bem. É uma empresa pública que dá lucro apesar de mal gerida. Por mais mordomias que tenha e aselhices que faça -- e faz muitas --, explorar os aeroportos do país em regime de monopólio dá algum dinheiro precioso ao país, de forma segura e continuada. Enquanto houver aviões, aeroportos, profissionais e emigrantes em viagens, e turistas low cost, este género de negócio é tão apetecível quanto os das auto-estradas com portagens, portos marítimos, barragens e redes de distribuição eléctrica, centrais solares, redes de abastecimento de águas, estações de tratamento de esgotos, centrais de recolha e tratamento de lixos, em suma, tudo o que esteja na origem dum bem público indispensável.

A razão pela qual todos estes negócios -- que as economias de casino querem transformar num novo balão especulativo -- foram até agora propriedades de Estado, i.e. bens públicos, é também muito simples. Por um lado, emergiram como necessidades gerais das comunidades, não podendo por isso ser tratados como negócios destinados à obtenção do lucro máximo. Por outro, dada a escala das operações e dos investimentos necessários ao seu estudo, projecto, construção, implementação e gestão de longo prazo, não se coadunavam, em parte nenhuma do planeta (nem sequer nos Estados Unidos), com as escalas e os objectivos típicos das actividades industriais e comerciais centradas na obtenção do lucro máximo.

No entanto, a falência do capitalismo na Europa e nos Estados Unidos está a levar os governos a um beco sem saída. Tendo evoluído em direcção à chamada economia imaterial, associada ao consumo e à liquidez electrónica, o Ocidente exportou boa parte da sua capacidade produtiva, dos seus conhecimentos e das suas tecnologias para o Oriente, tornando-se progressivamente numa imensa mancha demográfica de consumidores ávidos e psicologicamente dependentes. A compensação deste desequilíbrio tem sido colmatada à custa do endividamento geral do Ocidente, sob a forma da criação de dinheiro virtual, com o qual temos vindo a fingir que pagamos quase tudo o que consumimos. Sucede, porém, que essas fichas de casino, chamadas Dólar, são aceites em todo o mundo como meio válido de pagamento. E assim sendo, chegará o momento em que os produtores de matérias-primas e de outros bens transaccionáveis se transformarão na própria banca, comprando, por assim dizer, a Casa da Moeda dominante.

Eis porque um número crescente de governos de todo o mundo (mas não da China, nem da Rússia, nem de boa parte dos grandes países produtores de petróleo, gás natural e matérias primas) tem sido levado a alienar os anéis nacionais. A venda a correr do que resta de público na GALP (com a desculpa esfarrapada das imposições comunitárias), a tentativa de vender o monopólio estatal das infraestruturas e actividades aeroportuárias a um único privado, o qual levará também de mão-beijada os terrenos da Portela, para em contrapartida construir um grande aeroporto que ninguém pediu e, pior do que isso, que se pretende fazer contra a evidência escancarada dos tempos, é toda uma demonstração prática do colapso que aí vem.

Depois de vender tudo aquilo que os portugueses levaram um século a construir, sob o peso dos impostos que foram pagando, e dos fracos salários que sempre foi o timbre da sua fraca economia, que farão os governos que sucederam ao Bloco Central do Betão? Quando já não houver golden shares, como pagarão os vencimentos da Função Pública? Carregando mais nos impostos? Eu diria que é uma impossibilidade teórica manifesta. Vendendo o resto da pouca superfície de terra agrícola disponível aos chineses, para aí se construírem réplicas do Empire State Building, lançando o país na fome e na insolvência alimentar mais do que certa? Não creio que consigam. Nem que os ditos chineses venham a estar interessados!

O mistério da ANA, de que a maioria socratintas e os seus aliados do Bloco Central do Betão fazem uma mal disfarçada caixinha, não é, como se vê, nenhum mistério. Trata-se tão só de continuar a descer a ladeira para a total perda de independência económica do país, muito provavelmente a favor dos sonhos húmidos de la Moncloa e da Zarzuela!

Agora mistério, mistério, é saber quem irá pagar os prejuízos aos privados que hoje especulam com as infraestruturas, quando o povo deixar de poder pagar as rendas e as portagens, ou os aviões deixarem de voar como hoje. Os contratos e as já tristemente famosas Parcerias Público Privadas (PPP) rezam invariavelmente que, quando o negócio não dá os lucros previstos, será o Estado a pagar a diferença! Mas se este estiver, como vai estar, falido, como é? Ou por outra, como será?!

OAM 408 08-08-2008 1:22

quinta-feira, julho 31, 2008

Portugal 36



2009: visão, lucidez e coragem - precisam-se!


"In December 2005, the Government [of Sweden] appointed a commission to draw up a comprehensive programme to reduce Sweden's dependence on oil. There were several reasons for this. The price of oil affects Sweden's growth and employment. Oil still plays a major role for peace and security throughout the world. There is a great potential for Swedish raw materials as alternatives to oil. But, above all, the extensive burning of fossil fuels threatens the living conditions of future generations. Climate change is a fact which we politicians must face. Broad and long-term political efforts are needed. -- Stockholm, 28 June 2006. Göran Persson, prime-minister, Commission on Oil Independence (Wikipedia).

O bloco central do betão, a preguiçosa, incompetente e corrupta burguesia de Estado, e sobretudo a nomenclatura partidário-corporativa que temos, alimentados todos pela generosidade adolescente da democracia portuguesa, levaram o país à ruína e a sociedade de volta à emigração. Por mais incrível que pareça, em vez de prendermos duas dúzias destas prejudiciais criaturas, toleramos alegremente que andem por aí exibindo sem vergonha os sinais exteriores de uma riqueza injustificável, como se fossem senadores de uma Roma debochada no fim dos seus dias. E são!

Os dados económicos miseráveis de Portugal são sobejamente conhecidos e nada têm que ver com a crise internacional, ao contrário do que arengam os vendedores governamentais e a laia de falsos jornalistas que tudo escrevem e dizem para manter o emprego. A catastrófica crise financeira internacional (1), que é sobretudo um sinal evidente da subalternização dos Estados Unidos, do Reino, da Austrália, da Nova Zelândia e da Zona Euro -- ou seja, dos países de consumidores ineficientes, pouco produtivos e sem recursos -- face aos países que produzem e/ou têm recursos, apenas veio precipitar a falência do nosso desmiolado e corrupto modelo económico.

A China por si só é responsável por 40% do recente acréscimo anual do consumo mundial de petróleo (2), pelo que depois das Olimpíadas veremos o preço do crude a subir de novo. Os países emergentes não dependem criticamente das exportações para manterem os seus elevados ritmos de crescimento, ao contrário do que alguns foram levados a crer. As suas demografias são mais do que suficientes para garantir taxas de crescimento anuais na ordem dos 6-10%. Tem pois absoluta razão Manuela Ferreira Leite quando avisa os portugueses que um Estado falido, tal como uma família falida, ou uma pessoa falida, não pode continuar a encomendar marisco como se nada se passasse. José Sócrates anda literalmente de mão estendida por esse mundo fora, mendigando liquidez: liquidez para o BCP, liquidez para a TAP (3), liquidez para o QREN!

Não o critico por isso, mas apenas por tal personagem ser cada vez menos primeiro ministro de Portugal, e cada vez mais o boneco atarantado da conspiração de ventríloquos apostados apenas em salvar-se a si próprios, afundando, se preciso for, o país. Note-se que esta conspiração promovida pelo bloco central dos interesses apenas estará ao lado de José Sócrates enquanto ele cumprir o guião histriónico que diariamente lhe põem nas mãos. No dia em que o actual primeiro ministro pensar um minuto na figura triste que anda a fazer, e der um murro na mesa em nome das aspirações socialistas que diz defender, verá como a turma cobarde que hoje move as baterias assassinas contra a sua adversária, Manuela Ferreira Leite, se voltará também contra si, sem dó nem piedade.

E no entanto, a aposta na prestidigitação política, como se a função de um primeiro ministro se pudesse confundir com a de um mero mestre de cerimónias, ou de um vendedor de produtos tecnológicos de duvidosa qualidade, vai levá-lo à derrota certa nas próximas eleições, apesar das sondagens actuais. Na apresentação do "Magalhães" -- um computador low cost da Intel, embrulhado em Portugal --, José Sócrates até imitou o Steve Jobs -- repararam? Ao que isto chegou!

As eleições de 2009 irão ser disputadas num ambiente de crise económica e instabilidade social grave ou muito grave. Quem falar verdade, sem subterfúgios, explicando claramente a causa das coisas, terá vantagem sobre quem quer que tenha andado com fantasias, não tendo por isso tomado as medidas apropriadas para mitigar os efeitos da crise. Mas tão importante como falar verdade, olhos nos olhos com os portugueses, é demonstrar coragem e firmeza na estancagem das pressões egoístas que atrofiam o país, contrapondo ao mesmo tempo uma visão para Portugal nos próximos 10 a 20 anos, sem ceder às métricas eleitorais, nem aos inúteis jogos florais em que o nosso inútil parlamento se especializou.

O que estava previsto fazer há três, cinco ou seis anos atrás viu caducar o prazo de validade, por razões óbvias:
  1. Portugal tem uma dívida pública e privada insustentável que inviabiliza a possibilidade de continuar a endividar-se em pseudo Parcerias Público Privadas, de que os negócios da Ponte Vasco da Gama e autoestradas SCUT são exemplos tristemente célebres;
  2. O alargamento da União Europeia veio enfraquecer a generosidade dos Fundos Comunitários, pelo que nenhuma das grandes obras públicas de que tanto se tem falado pode esperar de Bruxelas um apoio mais do que simbólico para a sua execução (não havendo, por outro lado, liquidez nos mercados financeiros para aventuras keynesianas improvisadas);
  3. O petróleo barato acabou de vez;
  4. A transição do paradigma energético vai ser longa, cara e dolorosa;
  5. A crise financeira internacional, que afecta sobretudo o Ocidente, é uma crise profunda e duradoura (20 anos, pelo menos...), tendo por origem um longo ciclo de energia e créditos baratos, do qual resultaram várias bolhas especulativas (algumas delas ainda por rebentar) e um extraordinario endividamento de países tão influentes como os Estados Unidos, o Reino Unido, a Austrália e a Espanha;
  6. O mundo está, por causa desta gravíssima situação, à beira de uma III Guerra Mundial. Se tiver juízo, evitá-la-à in extremis, por meio (proponho eu) de um Novo Tratado de Tordesilhas, através do qual o globo terrestre será dividido em duas metades com fronteiras aduaneiras claras, e a criação de zonas francas especiais como a Suiça, o Médio Oriente e os mares.
  7. Finalmente, as alterações climáticas exigem acção imediata e uma mudança radical de comportamentos económicos, sociais e culturais. Ver neste desafio inadiável uma oportunidade é seguramente uma forma positiva de ver os imensos problemas pelas frente, e de mobilizar as consciências, os recursos e a acção (4).



NOTAS
  1. New York Region - Governor Calls For Session On Fiscal Crisis
    By DANNY HAKIM. Published: July 30, 2008

    Gov. David A. Paterson of New York called on the Legislature to return next month to grapple with a budget deficit that will grow to $26.2 billion over the next three years.

    ... In his speech, the governor said taxes collected on 16 of the state's largest banks fell 97 percent between June 2007 and June 2008, to $5 million from $173 million. -- The New York Times.

    Australia faces worse crisis than America

    By Ambrose Evans-Pritchard, International Business Editor
    Last Updated: 6:39pm BST 29/07/2008

    The world's financial storm has swept through Australia and New Zealand this week amid mounting signs of contagion across the Pacific region.

    Australia now faces a worse crisis than America
    Many fear the economic party in Australia will end badly

    Financial shares were pummelled in Sydney on Tuesday after investor flight forced National Australia Bank (NAB) to slash a £400m bond sale by two thirds.

    The retreat comes days after the Melbourne lender shocked the markets by announcing a 90pc write-down on its £550m holdings of US mortgage debt, an admission that it AAA-rated securities are virtually worthless.

    In New Zealand, Guardian Trust said it was suspending withdrawals from its mortgage fund owing to "liquidity difficulties in the market".

    ... Hanover Finance - the country' third biggest operator - last week froze repayments to investors. The company said its "industry model has collapsed" as the housing market goes into a nose dive. Some 23 finance companies have gone bankrupt in New Zealand over the last year.

    It is now clear that the Antipodes are tipping into a serious downturn. Australia's NAB business confidence index fell to its lowest level in seventeen years in June. New Zealand's central bank began to cut interest rates last week on fears that the economy may have contracted in the second quarter, and is now entering recession. Housing starts slumped 20pc in June to the lowest since 1986. -- Telegraph.co .

    Merrill shocks Wall Street with $8.5bn share sale
    By Stephen Foley in New York
    Tuesday, 29 July 2008

    Merrill Lynch, the investment banking giant that has lost more than $40bn (£20.1bn) on its mortgage investments since the start of the credit crisis, shocked Wall Street last night with plans to raise $8.5bn in new shares.

    As part of a sweeping financial restructuring, the company is dumping most of its remaining holdings in risky mortgage derivatives and tapping the Singapore government for an emergency $3.4bn cash infusion.

    ... A portfolio of mortgage derivatives known as collateralised debt obligations (CDOs) that Merrill had valued at $11.1bn as recently as a fortnight ago, were offloaded last night for $6.7bn. Before the credit crisis struck, that portfolio had been worth $30bn. -- The Independent.

    Cortefiel's LBO Loans Signal European Retail Defaults

    If there is any doubt European shoppers are following their U.S. counterparts into a recession, look no further than retailers' debt.

    Chain stores, led by Madrid-based Cortefiel SA and Fat Face Ltd. in London, are the worst performers among the region's 140 billion euros ($220 billion) of leveraged-buyout loans, according to Markit Group Ltd. and Standard & Poor's data. The Spanish company's 1.4 billion euros of loans are trading at less than half of face value, the lowest for a European company that hasn't defaulted, data from Frankfurt-based Dresdner Kleinwort show. -- Bloomberg.

    Sovereign funds cut exposure to weak dollar
    By Henny Sender in New York
    Published: July 16 2008 22:35 | Last updated: July 16 2008 23:24

    Some of the world’s largest sovereign wealth funds are seeking to scale back their exposure to the US dollar in a sign of global concern about the currency.

    One big sovereign fund in the Gulf has cut its dollar-denominated holdings from more than 80 per cent a year ago to less than 60 per cent, while China's State Administration of Foreign Exchange (SAFE) has been looking to strike deals with private equity firms in Europe as a part of a strategy to reduce its dollar holdings. -- Finantial Times.

    European Banks May Need EU90 Billion, Goldman Says
    By Alexis Xydias and Ambereen Choudhury

    July 4 (Bloomberg) -- European banks may need to raise as much as 90 billion euros ($141 billion) to restore their capital after the U.S. subprime mortgage collapse caused credit markets to seize up, according to Goldman Sachs Group Inc.

    ... The European banks Goldman tracks have lost $900 billion of their market value since the credit crisis began last year. Anshu Jain, head of global markets at Deutsche Bank AG, said this week that that contagion is "by no means over," and Europe's banks have lagged behind the U.S. in raising money from investors.

    ... Goldman's analysts said in their report that "access to liquidity, capital adequacy and post-crisis profitability are the key areas of near to medium-term uncertainty" for European banks.

    Global financial stocks have led declines that wiped about $11 trillion from equity markets worldwide this year. Credit-related losses, surging oil prices and rising inflation have also stoked concern policy makers will have to raise borrowing costs as the global economy slows.

    LBO Defaults May Rise as About $500 Billion Comes Due
    By Neil Unmack

    July 4 (Bloomberg) -- Leveraged-buyout loan defaults may be "significantly higher" than ratings companies' estimates as about $500 billion of debt used to fund the takeovers comes due, the Bank for International Settlements said.

    Companies bought by private-equity firms worldwide must repay the high-risk, high-yield loans and bonds by 2010, the Basel, Switzerland-based bank said in a report today, citing Fitch Ratings data. They may find it hard to raise the cash because of a slump in demand for collateralized debt obligations that pool the loans, BIS said.

  2. China's Cars, Accelerating A Global Demand for Fuel

    "In China, size matters," says Zhang, the 44-year-old founder of a media and graphic design company. "People want to have a car that shows off their status in society. No one wants to buy small." -- 27-07-2008, Washington Post.

  3. British Airways and Iberia bow to economic and strategic necessity

    THERE is nothing like high oil prices, it would seem, to free a European airline from protective national sentiment. Late last year British Airways (BA) backed away from a bid it had made with four private-equity firms for Iberia, Spain's flag carrier, after Caja Madrid, a Spanish bank with government connections, bought a large defensive stake. On Tuesday July 29th, with the price of oil up 25% and BA and Iberia shares down 25% and 37% respectively, the two firms said they were in talks about an all-share merger. Both companies’ boards support the deal, as does Caja Madrid.

    ... In July Martin Broughton, BA's chairman, said the firm faced "perhaps the biggest crisis the aviation industry has ever known". As well as soaring fuel costs, airlines are bracing themselves for weakening consumer demand. Cost savings and revenue gains from a merger will help BA and Iberia mitigate the pain. -- Economist.

    Comentário: a TAP não tem condições para sobreviver à crise petrolífera, sobretudo depois da inconclusiva viagem da José Sócrates a Luanda, de onde Fernando Pinto não conseguiu, ao que parece, nem emprego! A solução da TAP passará irremediavelmente por uma fusão com outras companhias de aviação. Falhada a hipótese de promover uma companhia intercontinental de média dimensão, com um perfil estratégico claramente atlantista, i.e envolvendo países como Portugal, Angola, Cabo Verde, Brasil e Venezuela, por exemplo, parece-me que a única direcção consistente a tomar é a de bater à porta da BA e da Ibéria. O timing para uma decisão vantajosa está rapidamente a esgotar-se. Não creio que possa ir além do próximo Inverno.

    Ler a propósito: "A TAP e as Low Cost", de Rui Rodrigues: "A única forma de dar vantagens competitivas à TAP seria através da utilização de uma base para as Low Cost fora da Portela; caso contrário, a situação económica da transportadora nacional agravar-se-á ainda mais, pois já teve um prejuízo de 123 milhões de euros, no primeiro semestre de 2008." -- Público.

  4. The case for investing in energy productivity
    McKinsey Global Institute, February 2008

    Unless there is a shift in world energy policies, global energy demand is set to accelerate, putting increasing strain on the world economy and the environment. Yet additional annual investments in energy productivity of $170 billion through 2020 could cut global energy demand growth by at least half--the equivalent of 64 million barrels of oil a day or almost one and a half times today's entire U.S. energy consumption.

    MGI research suggests that the economics of investing in energy productivity--the level of output we achieve from the energy we consume--are very attractive. With an average internal rate of return of 17 percent, such investments would generate energy savings ramping up to $900 billion annually by 2020. Energy productivity is also the most cost-effective way to reduce global emissions of greenhouse gases (GHG). Capturing the energy productivity opportunity could deliver up to half of the abatement of global GHG required to cap the long-term concentration of GHG in the atmosphere to 450--550 parts per million--a level experts say will be necessary to prevent the mean temperature from increasing by more than two degrees centigrade. Moreover, the opportunities to boost energy productivity use existing technologies that pay for themselves and therefore free up resources for investment or consumption elsewhere.

    ... The International Energy Agency (IEA) estimates that on average, an additional $1 spent on more efficient electrical equipment, appliances, and buildings avoids more than $2 in investment in ekectricity supply. As Chevron CEO David O'Reilly recently pointed out, energy efficiency is the cheapest form of new energy we have."


    Will Soaring Transport Costs Reverse Globalization?
    By Jeff Rubin and Benjamin Tal, CIBC World Markets Inc. (PDF)

    While there remains a strong imperative in the world economy to arbitrage wage costs, the arbitrage will increasingly take place within the constraints imposed by soaring transport costs. Instead of finding cheap labor half-way around the world, the key will be to find the cheapest labor force within reasonable shipping distance to your market.

    Compare, for example, how relative transport costs have recently changed between the Pacific Rim and Mexico. If in 2000 American importers paid 90% more to ship goods from East Asia to the US east coast, today they pay 150% more, and when oil prices reach $200 per barrel, they will pay three times the amount it costs to ship the same container from Mexico. To put things in perspective, today's extra shipping cost from East Asia is the equivalent of imposing a 9% tariff on East Asian goods entering the US. And at oil prices of $200, the tariff-equivalent rate will rise to 15%.


    CREATE3S

    Short-sea shipping volumes are expected to increase by 50% between 2000 and 2020. Since 40% of the current fleet is older than 25 years, short-sea shipping needs a new generation of innovative ships to meet this potential market. These ships need enhanced economic, safety and ecological performance, fitting into future innovative logistic chains and providing a major role for EU shipbuilders. -- Transport Research.


OAM 400 31-07-2008 03:40

quinta-feira, julho 10, 2008

Portugal 32

Ave, ICE-3
Alta Velocidade gasta menos energia do que maioria das alternativas!

O Estado da Nação

De uma coisa Manuela Ferreira Leite pode gabar-se: levou o governo socialista a tomar uma série de medidas sociais que este nunca pensaria lançar, não fora o súbito agravamento da crise petrolífera, financeira e geo-estratégica mundial, e a ameaça de perder as próximas eleições face ao alarme populista vindo não apenas do PCP e do BE, mas também, pasme-se, do partido com quem partilha o poder deste país há mais de vinte anos. As medidas "corajosas" anunciadas por José Sócrates no debate de hoje têm certamente potencial para sustar a derrocada eleitoral que se anuncia no horizonte. Tudo vai depender da escalada petrolífera, dos juros bancários e da inflação. Se, como se prevê, o petróleo chegar aos 200 dólares por alturas das próximas eleições, e o casino dos derivados estourar com inimaginável estrondo planetário, então não vejo como possa José Sócrates sobreviver ao seu até agora sorridente destino. Ou seja, no fundo, continuo a suspeitar que o ciclo da tríade Macau se interromperá inexoravelmente em 2009.

Outra coisa é saber, depois deste deprimente debate parlamentar, se o PSD estará em condições de ganhar com maioria absoluta as próximas eleições. Diria que tudo vai depender da gravidade da crise mundial, da nossa peculiar crise doméstica e sobretudo do pouco tino de que padece a generalidade dos políticos galhofeiros que se sentam no hemiciclo de São Bento.

Se o PSD continuar a marcar a agenda política através de intervenções pontuais bem estudadas, bem medidas e com uma boa percepção dos tempos --coisa que Manuela Ferreira Leite já demonstrou ser capaz de fazer--, as probabilidades de êxito são reais. Se o novo chefe da bancada parlamentar do PSD, o auspicioso Paulo Rangel, conseguir consolidar os ataques da líder do seu partido, então o PS estará mesmo em maus lençóis. Mas para que a sorte sorria de novo ao PSD, Manuela Ferreira Leite precisa, por um lado, de praticar uma cirurgia urgente (i.e. despedir o "homem da mala", José Luís Arnaut) e, por outro, criar rapidamente um sólido governo sombra, com um decente tanque cognitivo, sem o que questões como a definição de uma política energética de emergência, a criação de uma rede de apoio às vítimas do endividamento, ou a definição de prioridades relativamente aos grandes investimentos ficarão sem a necessária resposta.

De cada vez que o preço do petróleo aumenta, sobem os preços do gás, dos transportes e da alimentação. Esta tendência é uma tendência de fundo, causada simultaneamente pelo decréscimo da oferta mundial derivada de uma escassez efectiva de recursos, bem como pela especulação racional dos compradores e investidores financeiros. Ou seja, a inflação é uma nuvem monstruosa que todos já viram no horizonte, que se aproxima a passos largos, e que irá desabar sobre todos nós de uma forma impiedosa. Perante esta fatalidade, o Estado não pode ser mais um especulador oportunista da tragédia alheia. Se tudo sobe e o IVA permanece na mesma, e se prossegue a dupla tributação ilegítima dos produtos petrolíferos, isso significará um aumento de receitas fiscais não apenas imoral, como completamente absurdo.

Mais cedo ou mais tarde, nem que seja por imposição de Bruxelas, o vampirismo fiscal terá que ser sustado. É sempre mais prudente assegurar que tais ajustamentos ocorram na tranquilidade dos gabinetes de estudo do que na rua. A dita "taxa Robin dos Bosques" não passa de uma panaceia precária e temporária. Melhor será começar urgente e seriamente a pensar desgravar a fiscalidade brutal que incide sobre os produtos petrolíferos, introduzindo ao mesmo tempo um esquema de racionamento dos consumos, inteligível, prático e justo. O argumento cínico do governo para manter a elevada carga fiscal sobre os produtos petrolíferos, i.e. invocar a baixa da receita bruta dos impostos por efeito da retracção do consumo, é de uma insensibilidade e estupidez completas. No fundo, é exactamente a mesma história do burro a quem um cretino tentou ensinar a não comer!

Sobre as "grandes obras", talvez valha a pena fazer algum trabalho de casa, em vez de nos perdermos na algazarra dos papeis. Qual papel? O papel! A isto se resumiu o folclore acéfalo de boa parte do debate parlamentar de hoje.

Quando me sentei ao computador para escrever este postal comecei, como invariavelmente faço, a procurar imagens e palavras-chave que me aproximassem de alguma boa descoberta. A primeira ideia que tive foi fazer uma simulação sobre os preços de uma viagem entre Madrid e Barcelona, optando pelos voos Low Cost, ou pela nova ligação de Alta Velocidade ferroviária que liga as duas mais populosas e dinâmicas cidades ibéricas. O resultado foi este:
  • Viagem em comboio de Alta Velocidade, ida e volta, entre 3 e 8 de Setembro de 2008, em Classe Turística: 168,50 EUR
  • Viagem de avião no fim de Agosto na Vueling: 100,00 EUR
Entretanto, resolvi comparar estes preços com os preços de uma viagem de comboio (ida-e-volta) entre Lisboa e Porto:
  • Alfa Pendular 2ª Cl. = 55,00 EUR
  • Intercidades 2ª Cl. = 39,00 EUR
Sabendo-se que o Alfa poderá fazer a ligação entre as duas principais cidades portuguesas em 1h55mn, desde que acabem o trabalho de renovação da Linha do Norte, iniciado há mais de uma década e nunca acabado (porque será?), quem estaria disposto a pagar 1,5x o preço do Alfa para ganhar 30 minutos na duração de uma viagem que já não deveria ultrapassar as duas horas? Alguns estariam. Mas quantos? A experiência actual mostra que o Inter-cidades tem retirado muitos passageiros ao Alfa. Por que será?

Este argumento é pesado, não acham?

Eu também penso que sim! No entanto, encontrei na Net (que hoje foi uma das meninas bonitas do "debate da nação" -- até que enfim!) uma análise curiosa. Segundo o artigo que li, publicado na Wikipedia, as taxas médias de ocupação efectiva dos diversos modos de transportes disponíveis são mais elevadas nos aviões e nos comboios de Alta Velocidade (65%-66%), do que nos demais sistemas de transportes, nomeadamente comboios regionais e suburbanos, metros e metros de superfície, autocarros (21%-30%) e automóveis particulares (34%). Daqui decorre, surpreendentemente, que o consumo de energia por passageiro transportado é mais alto nas ligações ferroviárias regionais e inter-cidades convencionais do que nos sistemas de Alta Velocidade tipo ICE-3 e TGV. Por outro lado, o balanço energético é claramente favorável à Alta Velocidade, quando comparado com o avião, gastando este 3x mais energia por passageiro do que os comboios de Alta Velocidade (ICE-3 e TGV), em distâncias acima dos 500Km (tipicamente a ligação Lisboa-Madrid), e 5x mais energia para distâncias na ordem dos 250-300Km (tipicamente as ligações Lisboa-Porto e Lisboa-Faro). Imaginem a diferença que fará quando o petróleo chegar aos 200, aos 300 e aos 500 dólares, antes de 2013!

Isto quer dizer que, numa situação economicamente saudável, e sobretudo no contexto da actual crise petrolífera (que vimos antecipando desde Maio de 2005...), a prioridade estratégica pelo transporte ferroviário de Alta Velocidade, seja para ligar Portugal à rede europeia de Alta Velocidade, seja para ligar as principais cidades do País, faria todo o sentido. Pelo contrário, a prioridade dada até agora ao programa aeroportuário deveria ser, pelas mesmas razões, imediatamente suspensa e substituída pela prioridade por um programa de investimento público na frente portuária marítima. O paradigma energético mudou para sempre, e com esta mudança, mudará também a própria ideologia do crescimento, da produção e do consumo. Vai ser um longo e doloroso período de adaptação, para o que, parece evidente, os actuais partidos políticos não só não servem, como são e serão cada vez mais um poderoso e potencialmente letal obstáculo. Precisamos de encontrar formas novas cooperação social e administração política.

Voltando à xicana parlamentar de hoje, e dando resposta às perguntas de José Sócrates, direi que, em primeiro lugar, os célebres papeis da Net, produzidos pela corrupta indústria de pareceres que há muito alimenta o Bloco Central, não servem para nada, pelo mesmo motivo que o orçamento de estado feito para este ano não serve para nada. Isto é, todos estes papeis foram imaginados segundo um paradigma hoje inexistente. O petróleo que serve de base a todos os cálculos orçamentais valia menos de metade do que custa hoje, na data em que o governo escreveu o orçamento de 2008, e cerca de 1/4 do seu valor actual quando o PSD sonhava com aeroportos e TGVs! A pergunta do primeiro ministro é, por conseguinte, improcedente e demagógica.

Tem Manuela Ferreira Leite toda a razão para afirmar que as apostas nas grandes obras devem ser radicalmente revistas e radicalmente re-discutidas. Provavelmente até tem razão quando presume que todas as grandes obras terão que parar para pensar, devendo seguramente ser adiadas para melhor oportunidade. Quanto ao QREN, o que precisamos é de coragem política para enfrentar a Comissão Europeia e propor uma revisão radical de prioridades, bem fundamentada, que Bruxelas naturalmente compreenda e aceite. Mas para isso teremos que correr com a actual maioria do poleiro.

Resta apenas saber até que ponto Manuela Ferreira Leite saberá resistir aos tubarões aflitos que procuram comer o último atum! Se ceder, é mais um regime político que irá para o caixote do lixo a nossa história, felizmente longa.

OAM 390 10-07-2008, 2:35