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sexta-feira, abril 27, 2012

Ryanair enriquece Portugal, a TAP empobrece-o :(

Os milhares de milhões de euros de prejuízo da TAP devem-se aos altos preços do combustível — diz Fernando Pinto. O sucesso da Ryanair deve-se, então, ao combustível secreto usado por Michael O'Leary!


Imagem da campanha do calendário da Ryanair para 2012
Foto: derivativo by OAM

Creio que o país ficaria muito mais rico se empresas como esta transportadora aérea irlandesa, a Ryanair, os fabricantes de automóveis alemães e os novos TGV italianos da Ferrari tomassem o lugar das nossas desaparecidas ou falidas empresas privadas e público-privadas, enquanto os nossos usurários falidos eram todos, incluindo a Caixa, engolidos por bancos espanhóis, alemães, ingleses, suíços, brasileiros, japoneses, árabes e chineses.

Depois de semelhante lavagem, a cereja no bolo da inevitável metamorfose que nos espera deveria ser o fim do imprestável regime partidário que temos. Numa primeira fase, reduziam-se o número de autarquias para metade, fundiam-se todas as câmaras municipais das regiões metropolitanas de Lisboa e do Porto, reduziam-se drasticamente os poderes do indígena que está em Belém, e encolhia-se para um terço o número de deputados que pastam pela Assembleia da República. Numa segunda fase, que poderia ser desde já agendada para 2020, acabava-se mesmo com os partidos, substituindo a partidocracia corrupta e incapaz que levou o país à bancarrota por uma democracia sem partidos.

Sim, sem partidos! Não estamos todos fartos deles? É que é perfeitamente possível imaginar democracias sem partidos, baseadas no que o canadiano Jean Laliberté chama reagrupamentos democráticos. Além do mais, as grandes organizações deste mundo deixaram há muito de reger-se por sistema de representação facilmente manipuláveis e sujeitos ao assalto insidioso dos poderes financeiros. Querem um exemplo de uma democracia global que funciona? Pois aí está, chama-se Wikipédia! Tal como esta verdadeira sociedade global existe e funciona com graus inovadores de liberdade, responsabilidade e democracia (já para não mencionar os casos de estudo que não param de afluir à tecnosfera: Facebook, Tumblr, Twitter, Blogger, YouTube, etc.), também as velhas sociedades históricas herdeiras das monarquias absolutas e das repúblicas populistas que se lhe seguiram podem e devem mudar os seus exaustos e corrompidos regimes democráticos.

O colapso dos falidos países ocidentais só não será um morticínio inaudito se rapidamente soubermos pensar e agir em prol de uma grande metamorfose técnica e cultural da nossa civilização industrial suja, a qual ameaça engolir-nos através de agentes patogénicos, da escassez de recursos e do efeito devastador de intermináveis guerras.

A situação, mais particular e próxima, dos sistemas de mobilidade e transporte em Portugal entra pelos olhos dentro. Só não vê quem não quiser ver. E de nada valerá não agir, por medo do que está, ou do que possa vir. Os dois exemplos que se seguem são duas respostas típicas para um tempo de mudança.

O primeiro chama-se Low Cost, e o segundo corresponde às novas redes de mobilidade rápida e de interoperabilidade de meios de transporte para pessoas e mercadorias. Curiosamente, estas soluções aproximam-se de nós pelo lado da imaginação criativa e à velocidade de um Ferrari!

Nuovo Trasporto Viaggiatori (NTV), by Ferrari. Uma resposta criativa aos tempos difíceis. O transporte coletivo de Alta Velocidade é o futuro! O carro individual será em breve um insulto. Os centros das cidades vão recuperar a sua vivacidade em menos de duas décadas!

A apresentação recentemente realizada em Lisboa pela Ryanair sobre a situação do transporte aéreo no nosso país é demolidora para a TAP e para a corja que a tem dirigido e desfalcado ao longo das últimas décadas.

A solução para o impasse é óbvia: ou se reestrutura a TAP, criando uma TAP Low Cost para a Europa, e uma TAP intercontinental, e depois se vende a empresa, ou as empresas, ou então, como está o moribundo, com buracos financeiros por toda a parte, ninguém o poderá querer de boa fé, a menos que o Estado, isto é, os contribuintes, fiquem a pagar as dívidas, como ocorreu com o BPN, com os fundos de pensões da banca (1) e se prepara para ser também o caso da EDP.

O que os rendeiros do regime, papagueados pelos seus mordomos, querem é simples: não pagar as dívidas da TAP e ficar com a TAP, ficando também com a rentável ANA, com os terrenos da Portela, claro, e prometendo dar em troca um novo aeroporto e uma "cidade aeroportuária", por "fases", em Alcochete. Se esta burguesia de piratas conseguisse uma vez mais instruir os seus mordomos em mais um embuste e roubo descarado, os seus testas de ferro começariam de imediato, com a colaboração dos desmiolados e corruptos autarcas da desgraçada margem esquerda do Tejo, claro, a expropriar e especular com tudo o que mexa, ou não mexa, à volta do campo de tiro de Alcochete.

Estou, porém, tranquilo quanto a mais esta aventura borregada do embuste do NAL da Ota em Alcochete: nem os credores representados pela Troika permitirão tamanho assalto ao nosso desfalcado país, nem a vontade que apesar de tudo ainda existe, se não nos passos perdidos da nossa inerte democracia, pelo menos nas ruas indignadas, deixará que tal aconteça. O governo do Gaspar, do Passos de Coelho e do simpático Catroga, que não se atreva!

Ryanair Portugal b1 Michaelcawley


POST SCRIPTUM

As máquinas de propaganda dos piratas indígenas têm atacado o "TGV" como se o problema fosse de comboios e não de linhas.

As linhas férreas estão para os comboios como os aeroportos estão para os aviões. Em Faro já praticamente não pousam aeronaves portuguesas. No entanto, o movimento do aeroporto nunca foi tão intenso. É que as pessoas preferem autocarros aéreos, mochilas e havaianas para ir até às praias do Algarve, em vez de serviços de aparente qualidade mas que apenas representam rombos incomportáveis nos orçamentos de quem viaja e não é deputado, nem empresário subsidiado pelo Estado, nem governante.

O futuro do transporte ferroviário, para mercadorias e pessoas, vai passar pela mesma metamorfose: as linhas e os sistemas de sinalização e controlo de tráfego são ou deveriam ser públicos, mas os comboios e a exploração dos serviços podem e devem ser privados (embora sujeitos a regulação estrita e transparente), retirando aos sindicatos e aos corruptos governantes, e aos não menos corruptos partidos, a gerência ruinosa que conduziu a esmagadora maioria das empresas públicas portuguesas de transporte ao colapso financeiro, com dívidas gigantescas e verdadeiramente criminosas por pagar!

Esperemos que o saneamento das finanças públicas europeias leve a verdadeiras políticas europeias de transportes, de energia e de competitividade económica e tecnológica, sem abandonar o precioso património de direitos e solidariedade social existente, expurgando obviamente deste património os abusos e a exploração oportunistas destes bens pelos piratas institucionais, partidários, sindicais e da burguesia rendeira há muito acoplada à pilhagem fiscal em curso.

1 Maio 2012.


NOTAS
  1. Os bancos livraram-se dum pesadelo ao passarem os seus fundos de pensões para o Estado — que vai ser a entidade que terá que responder daqui a alguns anos pelos milhões a pagar a figurões como Jardim Gonçalves e muitos outros. Não é por acaso que não vimos os sindicatos a protestar sobre esta matéria!

Última actualização: 1 de Maio 2012 13:06

quinta-feira, abril 12, 2012

Em 2015...

De 1999 para cá foi sempre a descer!

Portugal GDP, 1989-2012 (source: Eurostat)
Portugal GDP, 1989-2012 (source: Eurostat)

por ANTÓNIO CERVEIRA PINTO
Originalmente publicado no blogue do Novo Partido Democrata.

As causas da crise financeira mundial em curso desde 2006-2008 vão desde a ganância especulativa, ao declinar do modelo energético baseado no petróleo, passando pelo estabelecimento da nova divisão internacional do trabalho resultante dos processos de descolonização e pelo impacto crescente das tecnologias de substituição do capital humano, ou ainda pela escassez relativa de recursos naturais. Mas Portugal sofre, para além dos efeitos desta profunda crise global, uma crise própria que se agravou com o colapso de uma ditadura de quase quatro décadas e a correspondente perda do que ainda lhe restava de um vasto e centenário império colonial.

Dos três mais recentes programas de resgate financeiro da nossa economia (1977, 1983 e 2011), o primeiro (1997) deu lugar a uma recuperação efémera da taxa de crescimento do PIB (1977-79), seguindo-se um declínio até ao resgate de 1983, do qual sairia novo período de recuperação, desta vez mais mais longo e mais acentuado (1985-90). Este período de convergência com a União Europeia voltaria a decair até 1993. Entre 1994 e 1998 dá-se nova melhoria das taxas de crescimento, mas a partir de 1999 e até hoje nem com a entrada de Portugal na zona euro (2002) se evitou a trajectória descendente do nosso PIB (PORDATA).

Portugal cresceu em média 6,9% entre 1960 e 1973. No entanto, depois de 1974, se não fossem os sucessivos resgates patrocinados por entidades externas o nosso país já teria sido forçado a declarar bancarrota. A última vez que tal aconteceu foi em 1891, sessenta e seis anos depois da independência do Brasil, e sessenta anos depois de uma guerra civil. Muito claramente, a sustentabilidade económica, social e financeira do Portugal pós-colonial não foi ainda, nem discutida, nem conseguida. E enquanto não discutirmos as causas, sem romantismo rural, nem pedantismo literário pequeno-burguês, enquanto, por outro lado, não mudarmos as bases inertes da nossa sociedade conservadora, invejosa, sempre à rasca, aldrabando o dia-à-dia, e irresponsável, continuaremos ciclicamente à beira do precipício — jogando obsessivamente em todas as lotarias, pessimistas, deprimidos, ou mesmo atraídos pelo suicídio.

Entre 1415 e 2015, ou seja, durante seiscentos anos, Portugal esteve, por assim dizer, encerrado numa bolha de sustentabilidade económica, social e financeira que entretanto se foi esvaziando. Assim como na última guerra civil (1828-1834) se importaram modelos doutrinários largamente estranhos à matéria histórica da cisão interna do país, deles resultando catadupas de equívocos e destruições em pura perda, também desde a queda da ditadura de Salazar, em 1974, que não fazemos outra coisa que não seja decalcar em formato caricatural as antinomias ideológicas das revoluções industriais que por cá não passaram se não no plano das literaturas libertárias —socialistas utópicas e marxistas. Uma análise atenta dos debates parlamentares e das formas de comunicação mediática dos políticos e governantes revela de modo quase deprimente a distância que permanece entre os problemas intrínsecos da nossa adiada metamorfose e a eloquência do vazio e das falsas metáforas; uma distância que tem vindo a aumentar como nunca, entre o povo contribuinte, incluindo as classes médias ameaçadas, e a nomenclatura deste regime insolvente, com os seus proverbiais e desvairados cortesãos e cortesãs.

O declínio está bem à vista, quer no gráfico do Eurostat sobre a evolução do PIB português entre 1989 e 2012, quer nos gráficos mais detalhados da PORDATA. Inverter o sentido desta decadência a caminho do nada vai seguramente exigir uma revolução. Não basta a indignação, precisamos mesmo de refundar a nossa identidade numa nova ordem cultural e política. Com ou sem partidos, mas aprofundando o legado democrático, por mais desfeito que agora esteja.

Falta saber quando e como se poderá realizar a inadiável metamorfose do regime demo-populista que nos conduziu a uma ruína sem fim à vista, e sobretudo sem qualquer quadro de esperança sábia e realisticamente desenhado. Seria um milagre se a solução nascesse nos antros que trouxeram Portugal até à bancarrota iminente. Nos casos igualmente gravíssimos que antecederam a presente crise de endividamento estrutural, Portugal viu cair de forma sangrenta uma monarquia com centenas de anos, e depois viu substituir um regime republicano caceteiro e corrupto até à medula por uma ditadura militar seguida de uma ditadura de burocratas e corporações. Que nos espera desta vez?


Portugal - impact of Different Growth Assumptions on Debt-to-GDP (source: Citi Investment Research and Analysis)
Portugal - impact of Different Growth Assumptions on Debt-to-GDP
(source: Citi Investment Research and Analysis)

Portugal: Oro on the Douro
By Walter Molano (EconoMonitor)

“One of the main reasons for the country’s capacity to adjust quickly is its degree of openness. Portugal’s trade (exports + imports) represent 50% of the country’s total output. This is in contrast to Spain, where trade represents only 35%. Ireland’s trade is 78% of GDP, and Germany’s is 64%. Greece is a dismal 25% of GDP. The problem is that the state plays a larger role in closed economies, which aggravates the vicious cycle produced by fiscal adjustments. At the same time, the state plays a reduced roll in smaller open economies, which allows the private sector to adjust more quickly to changes in macroeconomic conditions. This has certainly been the case in Ireland, and it is proving to be true in Portugal.”

Sem crescimento sustentado, isto é, vertebrado por um estado, uma sociedade, uma economia, um sistema financeiro e uma cultura renovados de uma ponta à outra, dando precedência ao conhecimento, à responsabilidade, à juventude e à transparência, não conseguiremos sair da órbita de empobrecimento fatal em que nos encontramos.

O gráfico recentemente publicado por Jürgen Michels num estudo que realizou para o Citi Research and Analyis, citado por Edward Hugh no seu já famoso artigo Portugal Gradually Shuffles Its Way Towards the Front of the Debt Queue, revela um dado crítico da maior importância: sem um crescimento real e constante durante os próximos oito anos, o nosso já impagável endividamento público e privado continuará a inchar! Na realidade, só crescendo de modo sustentado a taxas variáveis acima dos 2%, e de preferência acima dos 3%, poderemos esperar sair do buraco em que estamos.

Repare-se que desde 1974 todos os períodos de crescimento e da chamada convergência com a média dos rendimentos per capita da União Europeia se ficou a dever, de uma maneira ou doutra, a gigantescas entradas de investimento subsidiado, ou especulativo, no nosso país, ou no pior dos casos, como durante o desgraçado consulado do socialista caviar José Sócrates, a um endividamento criminoso.

Sem crescimento, isto é, só com austeridade, não é possível atacar consistentemente o problema do sobre endividamento. Mas por outro lado, crescer com base apenas no endividamento público e privado deixou de ser opção. Um dilema difícil de atacar!

A aposta nas exportações tem as suas próprias limitações, mas é uma das saídas para este dilema, que não dispensa uma racional e rápida redefinição das responsabilidades e atribuições do Estado. Será até uma boa escapatória se conseguirmos por esta via diversificar rapidamente os destinatários dos nossos bens e serviços (cuja qualidade precisa de aumentar de modo intensivo e programado), dando preferência aos países que, para além da Europa, melhor conhecemos e com quem temos mais afinidades linguísticas, culturais e históricas: Brasil, Angola, Moçambique, Guiné e Cabo Verde, São Tomé e Príncipe, Moçambique, Timor, China, Índia, Japão, Estados Unidos, Marrocos, Líbia, Iraque, Emiratos, etc.

Mas para potenciar de modo estratégico as nossas exportações será necessário preparar o país para semelhante esforço, desde logo transformando-o, de norte a sul, numa verdadeira plataforma logística e de mobilidade facilitada e rápida para pessoas e mercadorias. As bases deste desiderato já existem e são boas. Mas falta dar-lhes maior liberdade operacional, interligações inteligentes, flexibilidade empresarial e capacidade de internacionalização. Tudo isto deve começar pela desburocratização e despartidarização das suas cadeias de valor!

Em breve saberemos se os independentes da coligação governamental no poder conseguiram ou não conter dentro de limites razoáveis o abuso de confiança típico dos rendeiros do regime. Em breve saberemos até que ponto o PS e o PSD estão ou não preparados para sofrerem as necessárias metamorfoses, sem as quais permanecerão como entraves ao necessário renascimento da nossa democracia.

A crise vai agravar-se durante o que resta deste ano...

Se em vez de respostas positivas apenas continuarmos a ser confrontados com mais fugas em frente e improvisos, então estarão criadas as condições para lançarmos um grande debate nacional sobre o futuro da democracia portuguesa — com uma certeza: sem classes médias não há democracia. Só os ricos e os pobres conseguem viver sob ditadura — os primeiros, com mais conforto ainda do que aquele que a democracia lhes permite generosamente, os segundos, vendo piorar o que apesar de tudo foram conseguindo conquistar a partir das plataformas reivindicativas inerentes às democracias, por piores que sejam.

A democracia portuguesa está muito doente, mas só tem uma cura possível pela frente: mais democracia e mais liberdade!

quarta-feira, fevereiro 22, 2012

Seguro aposta na desgraça

Afinal o que quer o PS? Portugal ou a Grécia?

PS retoma aliança com os interesses de quem vive de rendas,
nomeadamente os bancos!

Foto Nuno Pinto Fernandes/Global Imagens/Arquivo

O Partido Socialista voltou a defender junto da troika um alargamento dos prazos para atingir o equilíbrio orçamental, defendendo também perante os chefes da missão que Portugal deve beneficiar das mesmas benesses dadas à Grécia no recente acordo. Público, 21 Fev 2012.

O BE e o PCP disseram hoje aos líderes da missão da troika que o programa não está a resultar, mas os chefes da missão consideraram que o programa "está no bom caminho" e que não será renegociado. Jornal de Negócios on-line, 21 Fev 2012.

O grosso da austeridade contra as pessoas e as micro empresas está feito. Não é possível esticar muito mais este violento programa de ajustamento fiscal. O seu cumprimento cabal vai, aliás, continuar a doer a muitos de nós, durante uma década ou mais, mas não à deputada do PCP que se escandalizou com o take away para os aflitos, pois essa jovem intocável come numa cantina de luxo, a da Assembleia da República, subsidiada pelo mesmo terrorismo fiscal que só aparentemente condena.

Mas falta, agora, passar à segunda fase do Memorando!

Falta a reforma estrutural do Estado, tornando-o mais seco, mas também mais responsável, competente, tecnicamente independente e respeitável. Falta descontinuar as rendas da elite de ricos incompetentes que muito contribuiu para arruinar este país. Falta estabelecer regras de concorrência na economia, e regras de concurso público universais nas relações entre o Estado e a sociedade das pessoas e das empresas. Falta estabelecer de vez a transparência, a justiça e a supervisão independente das leis e das regras e acordos. E falta, por fim, quebrar a espinha aos banqueiros e aos especuladores corruptos, assim como aos oligopólios da energia, das rodovias e da saúde.

Curiosamente, é precisamente agora, que falta tudo isto que o Memorando prevê, que o seminarista (in)Seguro vem exigir mais tempo! Mais tempo para quê? Ou para quem? Para perpetuar o anestesiado, indolente, paquidérmico e partidário Estado que temos? Para manter os monopólios? Para manter aconchegados os bancos e os rendeiros que fazem chegar o financiamento partidário, e sobretudo garantem os tachos de onde vêm e para onde vão os filhos partidários mais privilegiados da democracia degenerada que temos?

Ainda não vi o seminarista (in)Seguro do PS dizer ao país o que quer.

Só mais crescimento, é isso que o demagogo António José Seguro quer? Mas como, homem? Explique-se! Quer adiar tudo o que do Memorando da Troika ainda falta fazer: das reformas do Estado e da economia, ao fim dos privilégios desproporcionados e indecentes da burguesia parasitária e corrupta que domina o país? É isso que quer?

Que significado pode ter este lip sync do burocrata que sucedeu a Sócrates? Eu só vejo um: o medo de enfrentar a mão que alimenta boa parte dos incompetentes bonzos do PS!

O pedido deste transitório secretário-geral do PS não é mais, em suma, do que uma receita para colocar Portugal no estado miserável em que a Grécia está!

quinta-feira, fevereiro 16, 2012

PPPs derrapam apesar da Troika

Passos Coelho continua atrelado ao Bloco Central do Betão e faz tudo para atrasar as medidas do Memorando que se referem às ruinosas Parcerias Público Privadas


Túnel do Marão: a derrapagem dos custos é paga por todos menos pelos seus responsáveis.

From Knight – Some Debt At Some Banks May Become Junk
Posted on February 16, 2012

The people at Knight put together a comprehensive list of potential ratings for banks in Europe after Moody’s came out with their outlooks. I agree that banks getting shifted to non-investment grade is a big deal.  We saw the impact for Portugal once it got taken out of the indices, and I think for banks it will be an even bigger deal to lose that investment grade status.  Sure, they can still go to the LTRO, but it is hard to function as anything other than a zombie bank once you lose that rating.

TF Market Advisors

A escandalosa indecisão e os atrasos sucessivos na renegociação das PPPs (autoestradas para lado nenhum, barragens assassinas, hospitais de luxo, etc.) prevista no Memorando de entendimento assinado pelo anterior governo, com o apoio do PS, PSD e CDS-PP, contraria a retórica governamental sobre o cumprimento do Memorando, e desmente Passos Coelho quando este repete até à exaustão que Portugal não precisa, nem de um novo pacote de resgate, nem de mais tempo. Como dizia ontem o otimista (puro bluff!) Fernando Ulrich, não podemos colocar na vox populi o que realmente discutimos e sabemos entre-portas...

A lei e os direitos adquiridos foram suspensos (tal como um dia sugeriu Manuela Ferreira Leite...) para baixar os rendimentos da maioria dos cidadãos, subir os impostos, executar as dívidas dos mais pequenos (mas não dos piratas e poderosos), e retirar o trabalho a centenas de milhar de pessoas. Mas —ai Jesus!— não se pode tocar nos contratos altamente lesivos do interesse público (logo renunciáveis) assinados entre o pirata Sócrates e os piratas da Mota-Engil, Teixeira Duarte, Somague, BCP, BES e Grupo Mello!

A Troika tem a espada e o corrupto na mão. Mas ou faz o que está no Memorando, em nome da racionalidade financeira, da concorrência e do interesse democrático dos contribuintes, ou perde toda a legitimidade de exigir seja o que for daqui para a frente.

Se a especulação com o diferencial das taxas de juro pagas pelos bancos ao BCE e depois pagas pelos contribuintes aos mesmos bancos continuar, salvando banqueiros ineficientes, aventureiros ou corruptos, e a corja por eles protegida (incluindo toda a nomenclatura partidária no poder), ao mesmo tempo que os prejuízos e as dívidas são apresentados à classe média, não se admirem se um dia destes o bom povo português se exaltar e acabar com o consenso ainda existente.

A arrogância postiça do Gasparinho começa a cheirar. O nariz do novo Pinóquio está cada vez mais vermelho e começa a esticar. Não nos venham um dia destes dizer que o mundo mudou. Já sabemos e aparentemente só vocês ainda não deram por isso!

Dear Troika do not delay until March what should have been done already. Kill the PPPs now!

If you think that you shall protect Portuguese banks delaying what has been agreed, think twice, and look at today's Moody's review on 109 European financial institutions.


DOS JORNAIS
## Auditoria às PPP. Governo escolhe consultores até Março, Diário Económico.

Foram cinco as empresas que se apresentaram ao concurso lançado pelo Governo para fazer uma auditoria às PPP. O resultado só será conhecido no próximo mês, o que significará um atraso de três meses face ao prazo definido com a troika.

O executivo conseguiu negociar o adiamento do concurso por mais um mês, mas a escolha do auditor foi sendo adiada. De acordo com o Diário Económico, candidataram-se a PricewaterhouseCoopers em conjunto com a Sérvulo & Associados, a Ernst & Young, a PKF, a BDO e a Universidade Católica.

Num comunicado enviado ontem às redacções, o Sindicato dos Quadros Técnicos do Estado criticava o facto de esta análise detalhada das PPP ainda não ter avançado. "Onde está a avaliação e a renegociação prometida pelo Governo?", perguntava.

## Custos do Estado com PPP derraparam 18% em 2011 e ultrapassaram 1,8 mil milhões de euros

Por Raquel Almeida Correia, Público.

Gastos no sector rodoviário e, em especial, a injecção de 200 milhões no túnel do Marão explicam desvio.

Os encargos líquidos do Estado com as parcerias público-privadas (PPP) alcançaram 1822,6 milhões de euros em 2011, o que representou uma derrapagem de 18% em relação aos custos previstos.

Foi o sector rodoviário, responsável por 83,4% da despesa total, que protagonizou o maior desvio, fruto do pagamento de investimentos e de compensações aos concessionários.

Face a 2010, houve um aumento de 62% nos encargos públicos.



De acordo com o boletim publicado ontem pela Direcção-Geral do Tesouro e Finanças (DGTF), estava previsto que o custo das PPP se fixasse em 1542 milhões de euros no ano passado. No entanto, o ano encerrou com uma despesa pública de 1822,6 milhões.

Praticamente todos os sectores em que existem PPP ultrapassaram o orçamento, à excepção do ferroviário.

O maior desvio em 2011 foi protagonizado pelas concessões rodoviárias: a expectativa nas concessões rodoviárias era um gasto de 1166,5 milhões de euros, mas derrapou 30,4%, para 1520,9 milhões.

O desvio é justificado com o pagamento de investimentos que o Estado teve de efectuar, especialmente, no último trimestre do ano. Neste período, os custos subiram 85% face ao período homólogo, alcançando 378,2 milhões. Um aumento explicado, em grande parte, pela injecção de 197,2 milhões de euros na concessão do túnel do Marão.

No boletim, a DGTF confirma que o Estado "se substituiu à concessionária, no suporte da obra". Uma intenção que tinha já sido anunciada pelo Governo, face à suspensão do projecto, desde o final de Junho de 2011. Não se sabia, porém, qual o valor pago pelos cofres públicos para financiar a concessão que está nas mãos de um consórcio liderado pela Somague.



A derrapagem do sector rodoviário também é explicada pelo facto de o Governo ter pago compensações a outras concessionárias "em virtude da decisão unilateral" de introduzir portagens nas vias sem custos para o utilizador, refere o documento. Além disso, as receitas que eram esperadas ficaram 134,5 milhões de euros abaixo do previsto, alcançando apenas 156,5 milhões "pelo facto de a introdução de portagens da segunda fase apenas ter ocorrido em Dezembro" (oito meses depois do planeado).



Na saúde, que pesa 13,4% nos encargos líquidos com PPP, os custos alcançaram 243,5 milhões de euros - mais 6,7% do que o previsto. O valor vai sofrer um aumento quando forem apresentados os indicadores do primeiro semestre deste ano, já que, em meados de Janeiro, foi inaugurado o novo Hospital de Loures, que vai significar um custo de 64 milhões em 2012.

No sector da segurança, a derrapagem foi de 5,1%, com as despesas a atingirem 47,4 milhões (2,6% do total).

E, no ferroviário, os encargos foram de 10,7 milhões, quando estava previsto um gasto muito superior (102,1 milhões).

terça-feira, junho 07, 2011

Não pagamos?

Estamos no meio duma guerra financeira!
Precisamos de um sistema de forças, de definir correctamente os objectivos, de liderança, de estratégia e de aliados.

Manif. Grécia, 11 de maio, 2011

Como sair da armadilha do endividamento especulativo e da economia virtual para onde fomos arrastados ao longo das últimas duas décadas? Como impor aos credores, sobretudo aos que especularam e especulam com os mercados da dívida, uma repartição equitativa dos prejuízos?

“A UE substituiu os Estados nacionais pela planificação dos banqueiros e, por essa via, a política democrática foi substituída pela oligarquia financeira.” — inWill Greece Let EU Central Bankers Destroy Democracy? A World at Financial War” (6 de Junho de 2011), por Michael Hudson.

De leitura obrigatória, este artigo de Michael Hudson permite-nos uma reflexão mais equilibrada (ainda que deixando de fora as causa estruturais da presente crise financeira ocidental) sobre os desafios dramáticos que temos pela frente: onde estaremos depois de gastar os 78mM€ obtidos pela Troika nos mercados a que já não conseguimos aceder salvo pagando juros suicidas? O dinheiro que vai chegando, com exigências crescentes, serve para pagar facturas atrasadas aos principais credores (Espanha, Alemanha, França e Reino Unido), mas também muitas facturas recentes, provavelmente indevidas, por resultarem do ataque desencadeado pela especulação financeira contra as dívidas soberanas da periferia europeia.

Qual será o preço final do dinheiro fresco que chega, para logo sair em direcção aos credores? Pode ou não acontecer que, depois de os investidores e especuladores recuperaram o seu dinheiro, mais os juros agiotas que conseguiram impor com o auxílio do pelotão de sabotadores das agências de notação, ameaçando expropriar literalmente os nossos melhores activos, a Troika acabe por confessar que o país é insolvente e que por esta razão deverá sair do euro, ou submeter-se a uma governação directa do exterior?

Temos que discutir estas dramáticas perguntas, sem cair na tentação do pensamento linear e completamente inútil dos partidos que, apesar de pagos pelos contribuintes, se recusam a negociar com o inimigo. Na Grécia, actualmente governada por socialistas à beira de serem acusados de traição, é a direita que tem vindo a colocar as questões patrióticas que naturalmente se impõem.

Há uma guerra financeira em curso, como estou farto de sublinhar. Temos que identificar claramente o que está em causa, os teatros de operações, os adversários e os objectivos. E depois, como é óbvio, teremos que defender a integridade do nosso território, como parte indispensável do próprio processo de integração europeia. A União Europeia não pode ser trocada, sob a ameaça terrorista dos mercados especulativos, por uma espécie de feudalismo financeiro e tecnológico, como bem refere Michael Hudson. Regras, coerência e supervisão europeias, sim. Nem sequer contesto, antes pelo contrário, um governo europeu com poderes acrescidos sobre os vários estados-membros da União. Mas não podemos confundir esta trajectória em direcção a uma futura, efectiva e eficiente soberania europeia, com a submissão dos burocratas europeus ao poder cego do dinheiro. Se os dirigentes europeus pensam que podem vender a União a retalho, ou pior ainda, destruí-la em nome de um qualquer imperialismo franco-alemão de trazer por casa, preparem-se para um novo pesadelo! Sem racionalidade económica assente numa visão estratégica efectivamente europeia e solidária, a Europa caminhará inexoravelmente para uma nova guerra civil. É isso que querem os especuladores e os burocratas de Bruxelas, Paris e Frankfurt?

A condição necessária para que arranque o novo pacote “reformado” de empréstimos é que a Grécia entre numa guerra de classes aumentando os seus impostos e rebaixando os gastos sociais – incluindo as pensões do setor privado – e liquide e ponha em leilão terrenos públicos, enclaves turísticos, ilhas, portos, água e sistemas de esgoto. Isto aumentará o custo de vida e o custo de fazer negócios, atingindo a já limitada competitividade das exportações do país.

[...] E no que diz respeito às próprias classes ricas gregas, o pacote de empréstimos da União Europeia conseguiria manter o país na eurozona o tempo suficiente para que retirassem o seu dinheiro do país, antes de chegar o momento em que a Grécia seja forçada a abandonar o euro, regressando a um dracma rapidamente desvalorizado. Enquanto não chegar o momento deste regresso a uma moeda própria em queda, a Grécia terá que seguir a política báltica e irlandesa de “desvalorização interna”, isto é: de deflação salarial e corte de gastos públicos – exceto para pagar o setor financeiro – a fim de diminuir o emprego e, assim, os níveis salariais.

O que realmente se desvaloriza nos programas de austeridade ou de desvalorização monetária é o preço do trabalho. Ou seja, o principal custo interno, já que há um preço mundial comum para combustíveis e minerais, bens de consumo, alimentos e até crédito. Se os salários não puderem ser reduzidos pela via da desvalorização interna (com um desemprego que, começando pelo setor público, induza quedas salariais), a desvalorização da moeda acabará por fazer o trabalho que resta até o fim.

É assim que a guerra dos países credores contra os países devedores na Europa se torna uma guerra de classes. Mas para se impor tamanha reforma neoliberal, é preciso que a pressão externa passe ao lado dos parlamentos nacionais democraticamente eleitos. Pois não é de se esperar que os eleitores de todos os países se mostrem tão passivos como os da Letónia e da Irlanda quando se age manifestamente contra os seus interesses.

[...] As finanças são uma forma de guerra. Como na conquista militar, o seu objetivo é garantir o controle do território e das infraestruturas públicas, e impor tributos. Isso envolve ditar leis aos seus súditos e concretizar a planificação social e económica de forma centralizada. Isto é o que se está fazendo agora com meios financeiros, sem o custo, para o agressor, de ter que colocar um exército no campo de batalha. Mas as economias sob ataque podem terminar tão profundamente devastadas pelos rigores financeiros quanto seriam por investidas militares, provocando a contração demográfica, o encurtamento da esperança média de vida, emigração e fuga de capitais.

in “Golpe de estado financeiro ameaça democracia europeia”, Carta Maior.

domingo, maio 29, 2011

Travem os agiotas!

Em vez de juros usurários, porque não exigir à tríade uma taxa média de 0,01%?


Fed Gave Banks Crisis Gains on Secretive Loans Low as 0.01%Bloomberg, 26.05.2011.

May 26 (Bloomberg) -- Credit Suisse Group AG, Goldman Sachs Group Inc. and Royal Bank of Scotland Group Plc each borrowed at least $30 billion in 2008 from a Federal Reserve emergency lending program whose details weren’t revealed to shareholders, members of Congress or the public.

(...) New York-based Goldman Sachs’s borrowing peaked at about $30 billion, the records show, as did the program’s loans to RBS, based in Edinburgh. Deutsche Bank AG, Barclays Plc and UBS AG each borrowed at least $15 billion, according to the graphs, which reflect deals made by 12 of the 20 eligible banks during the last four months of 2008.

(...) Other banks listed in the Fed charts borrowed less than their peers. New York-based Morgan Stanley and Paris-based BNP Paribas, France’s biggest bank by assets, took no more than about $10 billion. Citigroup Inc., JPMorgan Chase & Co. and Merrill Lynch & Co., which is now part of Bank of America Corp., borrowed less than $5 billion each — Bloomberg, 26.05.2011.

O cálculo do resgate da dívida soberana portuguesa está de momento avaliada em 78mM€. As organizações que integram a tríade do resgate —Mecanismo Europeu de Estabilização Financeira (MEEF), Fundo Europeu de Estabilização Financeira (FEEF) e Fundo Monetário Internacional (FMI)—, pretendem cobrar juros por esta operação na ordem dos 5,9%! São juros agiotas, mas inferiores aos mais de 10% para onde actualmente caminham as operações de colocação comercial da dívida soberana portuguesa.

Enquanto esteve aberto o guichet do BCE, através do qual os bancos comerciais pediam dinheiro emprestado à taxa de 1%, dando como colateral títulos de dívida soberana com rendimentos garantidos acima dos 4% (hoje estes rendimentos já andam muito próximos dos 10%), foi o fartar vilanagem que o mitómano Sócrates saudou alegremente como prova da sua eficácia na condução de Portugal à bancarrota.

Quando qualquer coisa cresce a 7% ao ano, significa que duplica numa década. Quando cresce a 10%, significa que duplica em apenas sete anos!

Foi conhecendo esta lei matemática, e depois de constatar que o negócio das dívidas soberanas se tinha transformado em mais uma perigosa bolha especulativa, que o BCE decidiu fechar a sua peculiar portinhola de Quantitative Easing. O ataque especulativo à moeda única europeia, por via do ataque às dívidas soberanas dos PIGS, tornara-se uma ameaça real à própria integridade do euro. Bruxelas, Berlim e Paris não tiveram outra saída que não fosse enveredar por programas de resgate dos países membros aflitos, criando estratégias de endividamento em cascata capazes de travar a espiral de pilhagem especulativa em curso.

Assim, a União Europeia passa a financiar-se junto dos mercados a juros aceitáveis, e depois empresta aos PIGS a juros inaceitáveis e sob condições draconianas. Eu até estou de acordo com todas as condições draconianas da última versão do Memorando de Entendimento da Troika (pois são essenciais à reforma da nossa degenerada democracia), mas não estou de acordo, nem com os prazos, nem com o preço do dinheiro emprestado e a emprestar. O FMI, e sobretudo os FEEF e MEEF, estão a comportar-se como agiotas, e pior do que isso, poderão afogar-se na sua própria ganância. Se os juros e os empréstimos forem impagáveis, a cobrança dos ganhos poderá revelar-se impossível, forçando os credores a aceitar um perdão parcial da dívida (o já célebre hair cut) — ou seja, a sua renegociação.

Durante a crise que levou ao colapso do Lehman Brothers, em 2008, a Reserva Federal (FED), o grande cartel bancário que nos EUA equivale aos bancos centrais de outros países, emprestou secretamente mais de 80 mil milhões de dólares a um grupo de bancos americanos e europeus, a prazos de 28 dias, cobrando juros de 0,01%, com o pretexto de evitar uma corrida aos bancos. Mais tarde, Henry Paulson, Ben Bernanke e Timothy Geithner, convenceram o Senado a realizar uma punção fiscal sem precedentes, de 700 mil milhões de dólares, para resgatar a banca de potenciais faltas de liquidez, cobrando-lhes juros de favor cada vez mais próximos do zero. Esta política de empréstimos sem juros, reservada apenas aos bancos (ZIRP), começou no Japão, mas tem feito o seu caminho. No entanto, o contraste com os juros cobrados às empresas, aos cidadãos, e agora, aos governos, é de tal modo escandaloso, que não poderá deixar de causar conflitos sociais e políticos num futuro bem próximo.

Os mais de 42 milhões de americanos que recorrem hoje às senhas alimentares (food stamps) querem saber as razões desta discriminação, e querem deixar de alimentar um sistema financeiro tão evidentemente injusto e corrupto. Os europeus, à medida que as senhas de alimentação forem entrando na sua rotina, para complementar as suas degradadas pensões de reforma, o custo crescente do seus serviços públicos de saúde e o desemprego sistémico, cada vez menos subsidiado, também!


POST SCRIPTUM (30.05.2011 9:11)

O trauma da reestruturação entrou definitivamente na ordem do dia das dívidas soberanas europeias, a começar pela Grécia, seguindo-se-lhe depois, inevitavelmente, Portugal, Irlanda, Espanha, Itália, etc.

Hipóteses em cima da mesa:
  1. estender os prazos de pagamentos;
  2. diminuir as taxas de juro abusivas;
  3. aparar a dívida (hair cut), i.e. deixar os credores (mas sobretudo os especuladores) com uma parte dos lucros esperados no tinteiro;
  4. não pagar de todo e mandar o euro às urtigas (uma hipótese radical que, na realidade, significa transformar um pesadelo de 10-20 anos, num definhamento até ao fim deste século, no mínimo!)
 Mas pode haver um passe mágico, ou seja, uma quinta hipótese que contorne estas soluções demasiado espinhosas: fazer um acerto de contas prévio entre os países que são simultaneamente devedores e credores. Esta é, pelo menos, a proposta criativa de dois professores associados da Europe Business School: Anthony J. Evans (Economics) e Terence Tse (Finance).
The idea

The idea is very simple - if Portugal owes Ireland €0.34bn of short term debt, and Ireland owes Portugal €0.17bn, we can write off Ireland's obligations and leave Portugal with a reduced debt of €0.17bn.

If you are both a debtor and a creditor you do not need money to settle claims. Rather than require additional funds to deal with choking debt, why not write it off?
The diagrams above show the before and after situation, based on analysis done by students. The simulation itself took place on May 17th 2011 and involved three separate trading rounds — inThe great EU debt write off”.

Parece um jogo vídeo. Mas não estamos todos, de facto, imersos numa economia virtual?

sábado, maio 14, 2011

O dilema de votar

Pintelho (Puffinus obscurus)

O voto no PS é um voto inútil
Só uma vitória do centro-direita poderá salvar a Esquerda!

Na guerra das sondagens, quem paga mais consegue, por vezes, travar as más notícias, e sobretudo inundar os média com muito ruído. A sondagem da Marktest dava há dois dias atrás uma vantagem clara ao PSD (39,7%) sobre o PS (33,4%), apesar das quedas fortíssimas, que ainda podem ser invertidas, do PCP e do Bloco. Ontem, a Intercampus respondeu com uma sondagem, no mínimo hilariante, onde o PS supera o seu próprio resultado de 2009 (passando de 36,56 para 36,8%), batendo o PSD (33,9%), uma vez mais com o PCP e o Bloco em colapso eleitoral. Mas a verdade é que quase 50% dos eleitores ainda não decidiram! Como diz a Manuela Moura Guedes só um PIG (Povo Idiota e Grunho) é que votaria em quem lhe acaba de assaltar a casa. Mas o mais grave é que os grunhos, uma vez de bolsos vazios, o que ocorrerá ao longo dos próximos dois anos, mudarão de ideias num ápice — e não será para alimentar, uma vez mais ainda, a demagogia populista da Esquerda! Não sei, pois, o que é que a dita Esquerda, perdida entre o irrealismo panfletário do PCP e do Bloco, e o comportamento proto-fascista do cadáver adiado do PS, tem a ganhar com o actual curso dos acontecimentos. Agarrados aos pequenos e grandes poderes, agarrados às pequenas e grandes mordomias, agarrados à falsa profissão que têm, os partidocratas levaram Portugal à falência, por acção ou por omissão hipócrita e oportunista. Talvez seja altura de arrepiarem caminho e pensarem a sério sobre o seu próprio futuro, já que não pensam no país, nem no povo que os sustenta.
Greece [Ireland and Portugal] Defaulting on Debts Anticipated by 85% in Global Poll of Investors

Eighty-five percent of those surveyed this week said Greece probably will default, with majorities predicting the same fate for Portugal and Ireland, which followed Greece in seeking European Union-led bailouts, a new Bloomberg Global Poll shows. The outlook for all three countries deteriorated since January.

“All these countries will go bust at some stage,” said Wilhelm Schroeder, a poll participant who helps manage the equivalent of about $172 million for Schroeder Equities GmbH in Munich. “I just can’t see a scenario in which these countries get out of their debt problems”— Bloomberg.
Os americanos e os ingleses são suspeitos, pois são quem mais aposta no insucesso do euro. Provavelmente cairão primeiro do que a Eurolândia. Mas isso não altera um facto óbvio: a União Europeia está confrontada com problemas gravíssimos que poderão, no limite, conduzir a um congelamento, ou mesmo à implosão nacionalista do projecto. O regresso das fronteiras demográficas, a incapacidade de transformar a tragédia do norte de África numa oportunidade para ambas as margens do Mediterrâneo, e a incapacidade de lançar uma estratégia económico-financeira que amorteça o colapso financeiro em curso, por efeito da explosão da bomba relógio do endividamento —soberano, das empresas, dos especuladores perdedores, e dos consumidores—, são ameaças globais à estabilidade e ao sonho europeu.

O apoio da China ao euro pode não ser suficiente. E se não for, ou os grandes blocos geoestratégicos se sentam a uma mesa e equilibram a geometria da globalização, como outrora portugueses e espanhóis fizeram em Tordesilhas, ou os tambores de uma nova guerra mundial começarão em breve a rufar.

A queda praticamente inevitável da moeda americana e o colapso do Japão, hoje com uma dívida pública —a mais elevada do mundo— que supera (antes da tragédia que recentemente assolou o país) os 225% do PIB, conjugados com a procura crescente de recursos energéticos, industriais e alimentares por parte dos países emergentes (China, Índia, Brasil, Rússia) e da África, são já os cenários das guerras assimétricas em curso, mas também da nova grande guerra por vir. É para isto que a Europa, e cada um dos estados membros da União tem que se preparar a sério. Entre nós, portugueses, não podemos continuar a discutir os problemas como se estivéssemos na Cova da Iria, e o drama maior que se desenrola aceleradamente diante de todos, fosse uma fantasia longínqua de que estaríamos, pelo amor que a Virgem nos dedica, protegidos. Só não vê quem não quer ver — por medo, ou oportunismo.

Onde está a tradução do Memorando de Entendimento da Troika? 

Como dizia e bem Eduardo Catroga, a precária comunicação social que temos só se interessa por pintelhos, isto é, por minudências que ninguém conhece — como, por exemplo, a pequena ave marítima chamada Pintelho (Puffinus obscurus), que não é o pentelho a que tantos púdicos reagiram ofendidos. O pentelho, palavra específica e correcta para pelo púbico, é também uma designação comum no Brasil para as melgas, chatos e sarnas, i.e. aquele tipo de criaturas humanas que não desgrudam e fazem perder a paciência a qualquer santo, como se o futuro do país fosse apenas mais um concurso para descerebrados, ou mais um reality show. “O Pentelho” é, por exemplo, o título brasileiro do filme protagonizado por Jim Carrey, The Cable Guy. Pentelhos são, no caso que aqui interessa, as agendas vigiadas e manipuladas da comunicação social. Em inglês chamam-se scramblers a estas ferramentas de perturbação da comunicação correcta dos sinais. Por cá deveríamos passar a chamar-lhes pentelhos!

Sobre o que interessa a todos, o silêncio é de ouro.

O governo assinou um memorando crucial para o país — mas não o traduziu, nem divulgou junto de quem lhe sustenta as mordomias, a pirataria e os vícios. Os partidos, a quem pagamos para pouco fazerem, também não se deram ao trabalho de traduzir o memorando, e por isso falam de pintelhos (minudências que ninguém conhece) e de pentelhos (ruído para entreter), em vez de explicar aos portugueses o que os nossos credores impõem, e bem, à corja que tem o país nas mãos e o conduziu à bancarrota, com reflexos inevitavelmente dolorosos para todos nós. Mas também a precária comunicação social que temos (que ou depende do partido que está no governo, ou de quem os financia e compra espaço publicitário) se esqueceu de traduzir o que a Troika desenhou para os próximos três (ou trinta!) anos da nossa vida colectiva, encontrando aí uma boa desculpa para esconder o tema dos olhares indiscretos das audiências. A tradução, no entanto, existe! Mas devêmo-la a mais um acto de cidadania da Blogosfera, desta vez por iniciativa do blogue Aventar. O Memorando da Troika, em português, encontra-se aqui, e é de leitura e discussão obrigatórias.

PCP e Bloco podem recuperar e enterrar o PS — para bem da Esquerda, incluindo o PS!

O PCP e o Bloco de Esquerda podem acolher centenas de milhar de votos de eleitores descontentes com a ladroagem e manipulação proto-fascista do PS de Sócrates. Basta moderarem a linguagem, falarem claro e colocarem-se, como é sua obrigação, ao serviço do país e da justiça social.

Depois de o PSD e o CDS terem esclarecido que não formarão governo com o PS, nomeadamente por este ter sido capturado por uma teia de piratas, associações secretas, máfias e famílias ricas ignorantes —improdutivas, incapazes de competir a céu aberto e rentistas (1)—, a agremiação cientologista do Pinóquio das Beiras ficou literalmente sem base de sustentação pós-eleitoral. Ou seja, quer perca, quer ganhe (uma ficção alimentada pelas sondagens da treta), não tem com quem dançar o tango. Logo, voltaria a cair, antes de aprovar o orçamento de 2012. Novas eleições se seguiriam, ou em alternativa, Cavaco chamaria alguém do PS, do PSD ou do CDS para liderar a formação de um governo de convergência nacional. Se este improvável cenário viesse a ocorrer, Eduardo Catroga seria porventura the man for the job!

Ou seja, o voto no PS é um voto completamente inútil. Pelo contrário, votar no PCP, ou no Bloco de Esquerda, para quem for incapaz de votar na Direita, abre a porta a três desenhos partidários futuros da maior importância:
  • a expulsão dos corpos estranhos que envenenam o PS, permitindo assim a refundação deste partido; 
  • uma reforma generativa efectiva no interior do PCP, com possível mudança de sigla e adopção de um programa político e social adequado aos tempos que aí vêm, claramente aberto aos cenários da governação que não se limitem apenas às autarquias; se pode governar cidades, vilas, aldeias e bairros, porque carga de água não pode governar o país?
  • e, finalmente, a desinfecção do Bloco, eliminado os ácaros leninistas, estalinistas e trotskistas que ainda impedem esta associação intelectual pequeno-burguesa de contribuir de forma útil e pragmática para a alternância democrática no nosso país.

A Direita será com toda a probabilidade governo depois do dia 5 de junho. Vou votar em Passos Coelho para que isso aconteça, deixando de votar à esquerda pela primeira vez na minha vida. E a motivação é puramente pragmática: só derrotando o possuído PS actual, e portanto só abrindo caminho a um governo do PSD, ou do PSD-CDS, daremos tempo à Esquerda para renascer...

Compreendo os eleitores de esquerda incapazes de votar à direita. Trata-se de um atavismo como outro qualquer. Eu, por exemplo, algures na minha tenra infância tornei-me benfiquista, por motivos que desconheço inteiramente. Se me perguntarem se sou capaz de mudar de clube, direi que não. E no entanto nunca entrei num estádio de futebol! Nem nunca vi um jogo de futebol profissional ao vivo!! Então, perguntar-se-à, por que serei eu benfiquista, se ainda por cima o Benfica é há décadas um perdedor sem remédio? Por atavismo. No entanto, talvez porque os partidos chegaram à minha vida quando era já adulto e consciente, o medo atávico da traição à marca não existe. Voto em consciência, e não como um autómato emocional. Faço apostas e cálculos. Procuro, em suma, na pequena escala do meu voto pessoal, influir nos resultados. No caso vertente, o meu diagnóstico é claro: a Esquerda aburguesou-se e corrompeu-se em trinta e tal anos de delegação inusitada de poderes. Faz parte do problema, e precipitou-o na última década e meia, levando o país à bancarrota. É tempo de expiar os erros, e preparar, com honestidade e inteligência, o futuro!

POST SCRIPTUM



— É preciso deixar bem claro que a Esquerda, partidária, sindical e cultural, viveu em perfeita simbiose oportunista com Os Donos de Portugal —sobre quem recentemente Francisco Louçã, Jorge Costa, Luís Fazenda, Cecília Honório e Fernando Rosas publicaram um livro. Essa mão mal cheia de endogamia familar (os Mellos, os Espírito Santo, os Champallimaud, os Roquete, os Ulrich, os Ricciardi, e os d'Orey — ver aqui a árvore genealógica publicada no livro citado) está associada quase toda ao principal espinho do nosso sobre endividamento: as 120 parcerias público-privadas (ver mapa 1; ver mapa 2). Mas de quem é, em última instância, a culpa, se não da democracia populista que temos? O FMI entendeu num ápice onde estava o tumor da nossa democracia, e o que é preciso para extirpar o bicho. Mas como reagem Sócrates, os sindicatos, o PCP, e o Bloco? Com o FMI, nunca! É por estas e por outras que precisamos de uma cura de direita! É que há muita gente a querer trabalhar, criar empresas e ganhar dinheiro honestamente! O biocapitalismo incestuoso que tivemos até esta bancarrota acabou!

sexta-feira, maio 06, 2011

Voto na Troika!

Uma revolução contra os privilégios

A conferência histórica que pode transformar a bancarrota portuguesa numa oportunidade


Acabei de ler o Memorando de Entendimento dos representantes dos nossos principais credores. Recomendo a todos a leitura imediata (aqui, o meu PDF sublinhado) deste verdadeiro programa contra os privilégios conservados ou restaurados pelo velho poder corporativo, burocrático e clientelar que, sob a protecção da partidocracia instalada ao longo de trinta e tal anos de democracia aparente, conduziu Portugal à bancarrota. Se for cumprido — e tem grandes hipóteses de ser, pois de contrário não haverá massa para os funcionários públicos (nem para os bancos!)— o amplo e preciso programa desenhado pela Troika formada pelo FMI, BCE e Comissão Europeia, será certamente a segunda grande revolução política democrática depois do 25 de Abril de 1974. Chamem-lhe uma invasão bem intencionada.

A maioria dos problemas sistémicos da nossa irracionalidade colectiva e subserviência aos poderes corporativos, clientelares, burocráticos, partidocratas, sindicais e mafiosos, foram detectados e são atacados com medidas certeiras, equilibradas, justas e cruzadas que, à medida que forem cumpridas, transformarão radicalmente a face deste país. Mais do que saber que partido vai ganhar as próximas eleições (e é bom que seja o PSD, por motivos óbvios que não devem nada ao seu putativo mérito), o mais importante de tudo é traduzir quanto antes este documento e distribui-lo gratuitamente pelo país inteiro, sobretudo entre as classes profissionais e em todas as universidades. E depois de o distribuir, iniciar uma longa e criativa discussão sobre os seus conteúdos, sector a sector, sem dar demasiado espaço ou tempo aos principais prejudicados com a sua implementação. Estes, depois de se recomporem deste fortíssimo soco nos seus privilégios, irão reagir fortemente contra a sua aplicação. Da "Esquerda" à "Direita" ouviremos em breve um clamor contra a Troika, certamente envolto em discussões parcelares e encapsuladas de retórica interesseira e desonesta. Talvez venha a ser inevitável criar um partido para defender este programa e atacar quem prefere enterrar o país a perder privilégios que nunca mereceu, nem merece.

Por nós, iremos estar atentos e desmontaremos sem hesitação todas as mentiras e demagogias da nomenclatura formada pelos privilegiados de "esquerda" e de "direita". Nenhum programa partidário, que em geral não passam de conversa hipócrita e fiada, foi tão longe, depois do programa do MFA, na defesa do desmantelamento do poder corporativo em Portugal. Ao contrário do que tem sido propalado, este poder difuso, disseminado, entranhado, biopolítico, não só não diminuiu depois da ditadura, como aumentou e cresceu em extensão e descaramento.

Muito mais do que um programa de austeridade o Memorando da Troika é um plano de salvação nacional assente em duas ideias primordiais:
  1. não podemos gastar mais do que ganhamos, ou não podemos consumir/importar mais do que produzimos/exportamos;
  2. e também não poderemos libertar a sociedade e a economia se permanecermos sujeitos a um regime corporativo, desigual, injusto, corrupto e autoritário, ainda que disfarçado de democracia parlamentar.
Reflexão final depois de a Troika ter afirmado que não precisa da assinatura de Cavaco Silva para activar o Plano de Resgate da Bancarrota Portuguesa de 2011: ao contrário do que cheguei a pensar, não precisamos de nenhum presidencialismo. Precisamos é de um presidente meramente simbólico, e com metade do orçamento!

POST SCRIPTUM (07-05-2011 16:18) — a tradução portuguesa do Memorando da Troika já está disponível online, graças ao serviço público prestado pela Aventar, um dos milhares de nós de cidadania da Blogosfera. Obrigado Aventar. LINK.