Rendeiros do regimepreferem derrubar o governo e regressar ao escudo, a perder privilégios
Ferreira do Amaral e Jerónimo de Sousa defendem regresso ao escudo. Que dois!
O secretário-geral comunista, Jerónimo de Sousa, e o economista João Ferreira do Amaral defenderam hoje o abandono da moeda única europeia por parte de Portugal para evitar "o diretório" e "domínio" alemães. DN, 19mar2013.
An Unqualified Apology
During a recent question-and-answer session at a conference in California, I made comments about John Maynard Keynes that were as stupid as they were insensitive.
I had been asked to comment on Keynes’s famous observation “In the long run we are all dead.” The point I had made in my presentation was that in the long run our children, grandchildren and great-grandchildren are alive, and will have to deal with the consequences of our economic actions.
But I should not have suggested – in an off-the-cuff response that was not part of my presentation – that Keynes was indifferent to the long run because he had no children, nor that he had no children because he was gay. This was doubly stupid. Niall Ferguson, 4mai2013 (web).
Niall Ferguson, o historiador de economia e conhecido crítico da diarreia keynesiana que conduziu a América e a Europa, depois de trinta anos de endividamento irresponsável e bolhas especulativas sucessivas, à beira do colapso financeiro, económico e social, respondendo a uma pergunta da audiência de uma conferência sua na Califórnia (The Guardian), disparou uma metáfora considerada homofóbica pela hipersensível comunidade gay da Califórnia. Na realidade, tratou-se de um comentário tipicamente espontâneo e ácido (very Scottish, and bitchy) à célebre e brutal frase de John Maynard Keynes quando perguntado sobre os efeitos a longo prazo do endividamento das empresas, das famílias e dos governos. Keynes, num tom tipicamente espontâneo e ácido (very British, and bitchy), respondeu: “In the long run we are all dead.”
À parte a sensibilidade hipócrita dos sindicatos gay, onde predomina uma falta de humor pedante e estalinista, que não deve ser confundida com o sentido de humor saudavelmente gay de muitos amigos meus, a verdade é que os críticos da diarreia keynesiana andam cada vez mais nervosos. Estão com medo de perder o caviar, os pequenos-almoços no Ritz, e sobretudo estão em pânico pelo que o povo ainda possa vir a fazer-lhes à medida que for conhecendo o que a corja devorista e burocrática andou a fazer com dinheiro que não existia e que agora cai em cima de centenas de milhar de empresas e milhões de pessoas inocentes sob a forma de uma pesadíssima e injusta dívida por pagar.
As democracias americana e europeia degeneraram e são hoje regimes apenas formalmente democráticos, na realidade capturados pelas máfias bancárias e partidárias (e por alguns cartéis de matérias primas, energia, equipamento militar e produtos químicos) que controlam a economia, os governos, os média e as sociedades, como nunca antes fizeram, salvo quando geraram bestas humanas da laia de Hitler, Mussolini, Estaline ou Mao. Esta degenerescência é, na realidade, consequência da aplicação sucessiva da diarreia keynesiana, para lá de todos os limites que ele próprio poderia ter imaginado.
Os derivados OTC, contratos especulativos (Swaps e Credit Default Swaps) celebrados no éter global e sem fronteiras, nem supervisão, dos chamados mercados financeiros, representam hoje um valor nocional na ordem 1200 biliões de dólares (US$1.200.000.000.000.000), ou seja, qualquer coisa como 20x o PIB mundial! Se apenas 30% deste valor corresponder a contratos mal parados, isso significa que estamos a falar de um buraco negro na ordem dos US$360.000.000.000.000, ou seja, 6x o PIB mundial! Não pagar? Será que Jerónimo de Sousa e João Ferreira do Amaral sabem do que estão a falar? Creio que não. O que os preocupa é tão só o medo de perderem aquilo que muito provavelmente irão perder: públicos, eleitores e rendas.
A consolidação fiscal, bem ou mal feita, é algo a que não podemos escapar, e que continuará a ser dolorosa, mas que tem uma génese que só por má fé pode ser agora imputada a quem tem que aplicar a maldita austeridade — Passos Coelho e Paulo Portas, em Portugal, Barak Obama, nos Estados Unidos, David Cameron, no Reino Unido, ou François Hollande, em França.
Portugal sem o euro prejudicaria de forma fatal a maioria dos portugueses, e beneficiaria apenas as elites do costume, de Esquerda, de Extrema Esquerda, de Direita, de Extrema Direita. Só a classe média e as forças que muito mal a têm representado institucional e no plano partidário sairiam derrotadas. Pior: seriam esmagadas ao ponto de não serem capazes de se levantar durante mais de uma geração. Seria o regresso ao medo generalizado, à ignorância cultivada, à prepotência, e ao reino absoluto dos chulos!
Os movimentos populistas sem rosto, género Que se lixe a Troika, partem do princípio de que as democracias europeias são ditaduras asiáticas que é preciso derrubar de qualquer maneira. Usam para tal as táticas de Gene Sharp, não percebendo, porém, porque não têm resultado completamente. A razão é simples: apesar de degeneradas e falidas, as democracias ocidentais ainda não são ditaduras, e as liberdades cívicas impedem por isso que manifestações de rua e conspirações palacianas (como a que Mário Soares patrocinou e continua a patrocinar) levem ao derrube de governos legítimos por meios inconstitucionais, ilegítimos e com fins realmente inconfessáveis.
Há uma guerra contra o euro, em grande medida patrocinada e conduzida pela aliança anglo-americana dos interesses, em nome de um império falido, desesperado e agressivo. O inimigo não declarado é mesmo a União Europeia (basta ouvir Nigel Farage), mas como seria insuportável mencionar abertamente esta verdade, desvia-se a atenção das populações europeias para a Alemanha, apresentando-a como a verdadeira besta da situação. Que não foi, nem é.
A propósito: vale a pena ver este documentário recente da Amagifilms, En defensa del Euro. Neles se desmonta claramente a manobra anglo-americana contra a nossa moeda, que apesar de toda a especulação continua a valorizar-se acima dos 1,30 dólares, revelando desta forma clara a importância crescente da Europa no mundo.
Rubens — O Rapto de Europa (1628 - 1629). Museu do Prado, Madrid.
O mito europeu parece renovar-se na guerra financeira ora em curso entre
o par dólar-libra de um lado, e o euro, discretamente apoiado pela
China, do outro. O sonho da união europeia ameaça uma vez mais tornar-se um pesadelo. Mas poderemos culpar apenas os outros?
Zeus, o rei dos deuses da mitologia grega, enamorou-se loucamente de uma princesa fenícia chamada Europa, tomando a decisão de seduzi-la. Zeus transformou-se então num dócil boi branco, misturando-se com a manada do pai de Europa. Enquanto esta e as suas assistentes colhiam flores, a princesa avistou o boi, aproximou-se dele, acariciando-lhe os flancos, e terá mesmo subido para cima do animal. Zeus aproveitou então a oportunidade e correu em direção ao mar, nadando, com ela sobre o seu dorso, até à ilha de Creta. Aí acabaria por revelar a sua verdadeira identidade, e Europa tornou-se a primeira rainha de Creta.
Segundo o poeta Mosco de Alexandria, Europa, rainha de Creta, foi “mãe de filhos gloriosos cujos ceptros hão-de acabar por dominar todos os homens da terra”. Este quadro da filha do rei fenício raptada por um touro, divindade cretense mas igualmente de fenícios e arameus, não fica completo sem uma referência ao sonho da bela princesa. Europa tinha tido um pesadelo perturbante no dia anterior ao rapto, no qual duas mulheres exigiam a autoridade sobre ela, uma delas representava a Ásia e declarava ser sua mãe; a outra que simbolizava um continente desconhecido (América), afirmava que Europa lhe tinha sido dada por Zeus (1).
A Europa está endividada de forma desigual, e esta desigualdade das dívidas nacionais ameaça fazer colapsar o sistema monetário que foi capaz de criar há pouco mais de treze anos e é hoje, de facto, a segunda moeda de reserva mundial.
Será possível superar a presente crise?
A pior ilusão que poderíamos criar e alimentar é a de que os problemas residem na Alemanha, ou, por contraste, na improdutividade, indisciplina e corrupção congénitas dos chamados PIIGS. Não é assim, como a pouco e pouco temos vindo a perceber. Na realidade, e apesar de todas as acusações dirigidas à Alemanha, a verdade é que já existe um sistema, embora camuflado, de solidariedade financeira, e de mutualização mitigada dos riscos, no seio da zona euro. E se este mecanismo de solidariedade internacional no seio da União Europeia já assumiu responsabilidades na ordem dos dois biliões de euros, nomeadamente para impedir a bancarrota de vários países, não podemos deitar tudo a perder reacendendo fantasmas indesejáveis.
in Philipp Bagus, Passing the Bailout Buck
Um jovem economista brilhante e insuspeito, que conhece bem a Espanha e é um professo defensor das teorias económicas liberais clássicas (e até libertárias) da escola austríaca de Ludwig von Mises, Philipp Bagus, acaba de publicar um artigo muito esclarecedor sobre a natureza substancial do chamado TARGET2, por relação com as tão badaladas euro obrigações rejeitadas por Angela Merkel, e o MEE (Mecanismo de Estabilidade Europeia) exigido pelo Banco Central Europeu.
O artigo é claro e demonstrativo: entre o TARGET2, as euro obrigações, e o MEE, as diferenças são mais políticas, e de afinação dos controlos financeiros, do que de fundo. Todos eles são, na realidade, dispositivos de segurança e resgate dos países aflitos da União Europeia, e redes de proteção do SME.
By Philipp Bagus of the Ludwig von Mises Institute:
“TARGET2 system indeed amounts to a bailout of an uncompetitive economy with too high prices. Thanks to this bailout mechanism, the country does not have to deregulate labor markets, and reduce government spending to adjust prices relatively but can continue its spending spree and maintain its uncompetitive internal structure.
But are the TARGET2 debits and credits really never settled? Surprisingly, there is indeed neither a limit for the TARGET2 bailouts, nor are the accounts ever settled. In contrast, in the Federal Reserve System debits are backed by gold certificates and each year balances are settled. If the Federal Reserve Bank of Richmond has a debit with the Federal Reserve Bank of New York, the former settles its account sending gold certificates to the latter.
The Eurosystem not only allows the financing of import surpluses via money creation; it also enables “capital flights.” In the current situation, a default of the Greek government would bankrupt its banking system. In order to prevent losses, Greek depositors have sent and are sending their money from accounts at Greek banks to accounts of banks in Germany and other countries. Through this transfer, the Greek bank loses reserves while the German one increases its reserves. The Greek bank increases refinancing from its national central bank (i.e., receives newly created money) while the German bank can decrease it loans from the Bundesbank. The Bundesbank earns a TARGET2 credit, the Bank of Greece a TARGET2 debit. If the Greek government defaults, and the Bank of Greece default on its debits, losses mount for the ECB. Thus, the risk of a Greek default is now shared by German savers through the TARGET2 credit.”
[...]
“Eurobonds are jointly issued and guaranteed by all 17 eurozone members but have been very controversial. For instance, Eurobonds have been vehemently resisted by the German government until today. However, TARGET2 has not been resisted by the German government. TARGET2 is just the reflection of a substitute bailout. When governments issue bonds bought by their banks leading to a trade deficit, the result is a TARGET2 debit. The TARGET2 imbalances are just a sign of euros created in the periphery used to pay for goods from abroad.
The European Stability Mechanism (ESM) is another substitute for Eurobonds, as the ESM may grant loans to struggling governments issuing bonds guaranteed collectively. The difference between the three is merely of degree. There is more parliamentary control for Eurobonds or the ESM. In the ESM, creditor countries have more control over bailouts than with Eurobonds. Interest rates differences are also more pronounced with the ESM than with Eurobonds. The ECB wants to shift the bailout burden from TARGET2 to the ESM. Governments prefer to hide the losses on taxpayers as long as possible and prefer the ECB to aliment deficits. However, all three devices serve as bailout systems and form a transfer union.”
Concluindo:
se não travarmos de modo inteligente e determinado a despesa pública e o consumo conspícuo das sociedades europeias, e aumentarmos a produtividade e eficiência de todos os sistemas (privados e públicos), resta-nos assistir ao empobrecimento tumultuoso da Europa, nomeadamente através de uma sangria fiscal imparável.
Já não é só o nosso transmontano a devolver aos piratas de Wall Street e Washington os elogios sobre quem melhor rouba o próximo!
Quem empacotou lixo com nomes bonitos e perfumados e atraiu os fundos de... pensões!!! nomeadamente alemães :( à armadilha de melhores rendimentos para compensar a corrida de lémures contra os juros induzidos pelos bancos centrais, foram as Nove Donas Brancas de Wall Street e da City. Será que alguém duvida ainda que estamos no meio da primeira Guerra Mundial Financeira do século 21?
Do que esta corja de Wall Street e da City está mesmo a precisar é de uma verdadeira tosquia com Máquina Zero! Esqueçam os bancos, e resgatem os investidores de boa-fé, assim como a generalidade dos contribuintes, do Buraco Negro dos Derivados, das burocracias parasitárias e das clientelas partidárias — quanto antes!
Eu espero sinceramente que a União Europeia encoste os novos Drakes de sua majestade pirata ao molhe, avançando sem medo com o PSI na gestão da parte odiosa das dívidas soberanas europeias, e de caminho dê um salto em frente na união financeira, política e militar da Europa.
As pátrias europeias não passam hoje de embustes para enganar tolos.
Precisamos de uma verdadeira democracia europeia, onde predomine o direito, a transparência, a defesa da propriedade privada legítima e a defesa das poupanças individuais e familiares. Onde ganhe preponderância um novo estilo de eficiência governativa, sem a escandalosa captura partidária e burocrática dos estados e das democracias que quase destruiu um continente. Onde, em suma, a liberdade criativa das pessoas e das comunidades seja a verdadeira e eficiente soberana.
A Tragédia dos Comuns não pode ser o trampolim fácil dos oportunistas de sempre, nem o pretexto para a emergência de novas ditaduras burocráticas assentes na corrupção infinita protagonizada pelo capitalismo de estado que uma vez mais pretende insinuar-se e destruir as democracias ao som das suas hipócritas cantorias populistas.
A China será em breve exemplo do que quero dizer, com a sua mistura altamente tóxica e explosiva de uma ditadura burocrática com a selvajaria do capitalismo pirata. A grande bolha das afinal falsas emergências económicas do Oriente, mas também do Brasil, ou de Angola, todas elas penduradas no consumismo financeiro euro-americano e na corrupção sem limites, irá rebentar antes mesmo da implosão das economias ocidentais fatalmente atraídas pelo buraco negro dos derivados.
Algum equilíbrio global será porventura possível, mas antes de lá chegarmos, isto é, antes de percebermos que será necessária uma nova divisão do mundo em duas metades, teremos infelizmente que passar por grandes apertos, tensões, guerras financeiras não declaradas e possivelmente até por uma proliferação de guerras convencionais associadas a conflitos virais, nomeadamente eletrónicos, cujas configurações só agora começamos a perceber. O efeito destruidor destes conflitos irá crescendo de dimensão até transformarem-se numa nova guerra mundial, altamente mortífera e devastadora no plano económico e financeiro.
Tempo para comprar proteção, sobretudo local.
As minhas recomendações permanecem, pois, no plano puramente defensivo: apostar no ouro, na prata, no imobiliário próximo dos centros urbanos, bem servido de transportes públicos e com custos de condomínio mínimos, e nas nossas melhores terras e árvores: oliveiras, amendoeiras, sobreiros, castanheiros, figueiras, alfarrobeiras, laranjeiras, limoeiros e vinha. De preferência, dispensando pesticidas e adubos químicos de toda a espécie.
Do ponto de vista político: prioridade absoluta às autarquias locais. Todo o poder às paróquias e freguesias, mesmo ou até sobretudo depois do processo de concentração em curso!
Diego Velázquez, “A Rendição de Breda”, óleo s/ tela (1635)
De Breda a Madrid a cortesia pode manter-se e até haver, finalmente, uma Europa mais forte e solidária
Excmo. Sr. Herman Van Rompuy
Presidente del Consejo Europeo
Bruselas
Excmo. Sr. José Manuel Durão Barroso
Presidente de la Comisión Europea
Bruselas
[...]
... es esencial que os líderes europeos pongamos de manifiesto nuestro compromiso decidido y contundente con la moneda única. Es decir, es necesario deja[r] claro que, a medio plazo, la unión reforzará su arquitectura institucional común. Ello, sin duda, supone avanzar en la integración o, si ustedes lo prefieren así, mayor cesión de soberanía, en particular, en los ámbitos fiscal y bancario.
En el ámbito fiscal, ello supone crear una autoridad fiscal en Europa que pueda dar una orientación a la política fiscal en la zona euro, que armonice las políticas fiscales de los Estados Miembros y que permita un control de las finanzas centralizado, además de ser la gestora de la deuda europea. Un compromiso en esta línea daría una señal de confianza en el euro imprescindible en el momento actual.
En el ámbito bancario, es necesario contar con una supervisión a nível comunitario y uno fondo de garantía de depósitos común.
No es necesario decidir ahora cómo lo haremos. Basta con manifestar el compromiso con este objectivo y ponerse a trabajar en ello para diseñar un plan, un calendario y unas condiciones para consecución. El futuro del euro, depende de que demos inicio a este debate. No será un camino fácil, pero es un objectivo ineludible en torno al cual todos debemos estar de acuerdo. Esta “Unión fiscal e bancaria” se impone ya como inaplazable objetivo en el proceso de construcción europea. La reunión del Consejo Europeo del 28 y 29 de junio próximos es una oportunidad inaplazable para ello.
Atentamente,
Mariano Rajoy Brey
Presidente del Gobierno de España
Por mais que o primeiro ministro de Espanha tentasse esconder, a rendição de Madrid a um bem maior chamado Europa está claramente expressa na carta que escreveu a Bruxelas.
Depois da Espanha, com Chipre e a Itália na bicha do resgate, parece que nos encaminhamos rapidamente para o famoso end game de que tanto falam os cronistas ingleses e americanos. No entanto, o fim deste jogo pode ser algo diferente do que os emissores imparáveis de dólares e libras esterlinas, e os especuladores da laia do JP Morgan, esperam. Em vez do colapso do euro poderemos desaguar finalmente numa União mais consciente das cedências nacionais imprescindíveis ao bem comum.
É claro que a Alemanha aparece neste xadrez como uma estratega vencedora, mas o preço, para ela e para todos nós, será sem sombra de dúvida muito grande: mais austeridade ainda (que a ser excessiva e prolongada pode matar o doente — como parece provar o efeito mortal da deflação japonesa, assinalado por Albert Edwards/Peter Tasker), dolorosas reformas estruturais e a negociação absolutamente imprescindível dum Novo Pacto Social Europeu, que assegure ao mesmo tempo a liberdade, a cultura, a racionalidade económica, a saúde das pessoas, a solidariedade entre gerações e uma cooperação inteligente com a Natureza de que somos parte, mas nunca fomos nem seremos, nem mestres, nem donos.
Resgate iminente faz renascer a velha questão ibérica: uma Espanha única, impossível, ou uma Comunidade de Estados Ibéricos Independentes (CEII)?
As malfadadas torres Kyo, Caja Madrid e agora Bankia são um símbolo bem sugestivo do ascenso e colapso financeiro da Espanha
Entre 40.000 y 100.000 millones
La horquilla, pues, que se baraja sobre el dinero que necesitan las entidades españolas oscila entre los 40.000 millones y los 100.000 millones. En el seno del Partido Popular Europeo, su secretario general, Antonio López-Istúriz, ha asegurado en una entrevista en TVE que los bancos requerirán entre 80.000 y 100.000 millones para sanearse. "Las cifras que se están manejando están en torno a los 80.000 o 100.000 millones o menos, dependiendo de los informes", dijo el eurodiputado de la formación de Rajoy. El Mundo (8 jun 2012).
Los mineros retoman el corte de carreteras como protesta por la crisis en el sector
Los mineros del carbón intensifican sus protestas en su sexto día de huelga indefinida. Hoy han cortado varias carreteras en Asturias y León enfrentándose a los equipos antidisturbios lo que ha provocado retenciones kilométricas. El tráfico en la autovía A-66 ha estado interrumpido casi 4 horas. Además, los manifestantes también han interrumpido el tráfico ferroviario entre Asturias y La Meseta. Antena 3 (7 jun 2012).
Boa parte do buraco negro das finanças espanholas resulta de investimentos especulativos nos mercados imobiliários e de derivados financeiros OTC por parte de especuladores vários, mas também de fundos de pensões cujos rendimentos estavam a ser comidos pela inflação real e pela imprudente política de destruição das taxas de juros (BoJ, Fed, BCE). Se os especuladores devem assumir as suas perdas sem mais (é essa a regra do jogo!), já os fundos de pensões e as contas de poupança mais expostos criam um problema social grave. Aqui, os governos deverão intervir, protegendo as pensões e as poupanças, mas tomando o comando das instituições aventureiras.
Quanto à dívida pública espanhola, não há outro remédio se não encolher o Estado e as autonomias...
A Espanha poderá ter que caminhar para um estado federal — monarquia, ou república, não sabemos. Mas creio que seria prudente manter a monarquia durante mais uma geração, promovendo entretanto um estado federal, dentro do qual cada estado federado teria que viver, naturalmente, com o que produz e tem, deixando de reivindicar a Madrid uma ilusória e caríssima igualdade económica. Cada novo estado federado passaria a exigir democraticamente das suas administrações mais contenção de gastos, fim das mordomias e dos almoços grátis, e sobretudo estratégia económica, social e organizacional.
Numa segunda fase, já com a União Europeia bem adiantada, Espanha faria uma transição constitucional para o regime republicano federal a que Portugal se juntaria formando a Comunidade Ibérica de Estados Independentes. Esta Comunidade seria, por sua vez, uma das sub-unidades fortes da União Europeia consolidada.
A Espanha de hoje é um projecto político incompleto, sonhado desde o século X, mas que nunca foi cumprido, tendo dado origem a inúmeras e sangrentas guerras civis cujo resultado mais visível foi o atraso do nascimento de uma grande comunidade de nações livres, democráticas, responsáveis, pacíficas e produtivas. Sob bandeiras equívocas e ilusões sucessivas os povos ibéricos foram sendo arrastados ao longo da sua história católica para uma sangria sem nome nem desculpa, sobre a qual se erigiram os regimes arrendatários e déspotas que se mantiveram no poder até mais esta bancarrota geral da Ibéria.
El título de Imperator (totius) Hispaniae del latín, Emperador de (toda) España nació como término de la mano de los monarcas de León, al menos, en el siglo X. Fue usado esporádicamente en los dos siguientes siglos, según los reyes de la Iberia cristiana luchaban por la supremacía y por el imperiale culmen. Durante la Edad Media, el topónimo latino "Hispania", sus deformaciones (como "Yspania" o "Spania") o cualquiera de sus versiones romances (como "España" o "Espanna") se usaba, en singular o en plural, para referirse al total de la Península Ibérica — in Wikipedia.
Los monarcas que unieron las Coronas de Castilla y Aragón intentaron revivir el antiguo recuerdo de una Hispania romana o visigótica con el fin de promover una fidelidad mayor hacia una históricamente resucitada España in — España en Europa: Estudios de historia comparada: escritos seleccionados, página 75, Wikipedia.
Al final de la Edad Media, con el matrimonio de Isabel I de Castilla y Fernando II de Aragón, estas dos coronas peninsulares se aliaron, conquistando el Reino nazarí de Granada en 1492 y, posteriormente, el de Navarra en 1512 que continuó siendo un reino, acuñando moneda propia y con aduanas en el río Ebro hasta las guerras carlistas del siglo XIX. Los reyes navarros se refugiaron en sus posesiones allende de los Pirineos y posteriormente se convertirían en reyes de Francia — in Wikipedia.
Sem os abundantes subsídios da União Europeia e terminado o longo ciclo colonial do Ocidente, de que as teorias Keynesianas aplicadas à esquerda e à direita foram, percebemo-lo agora, mera manobra defensiva, a Ibéria volta a estar confrontada com os seus próprios demónios.
Voltaremos a repetir os erros do passado, deixando as elites fabricar um novo teatro de sombras para melhor reprimir as comunidades, ou seremos capazes de aplicar as nossas melhores energias, reagindo de forma criativa ao empobrecimento que aí vem, formando uma grande comunidade de nações ibéricas e europeias, democrática, solidária, justa, competitiva e livre?
Gráficos dos principais teatros de guerra financeira na Europa (com os EUA em pano de fundo...)
A dívida do Reino Unido, sobretudo financeira, é um barril de pólvora pronto a explodir!
Euro em situação dramática: sem um salto quântico federal, nada feito :(
Outra visão do mesmo problema
A Suíça já decidiu colar-se ao euro: 1€=1,20CHF
Afinal os EUA vão também a caminho da Fossa de Keynes !
CONCLUSÃO : o euro poderá vencer a guerra contra o par dólar-libra se e só se houver rapidamente um salto quântico no processo de unificação financeira e fiscal da Europa.
Os EUA e o Reino Unido estão cada vez mais isolados, enquanto a Eurolândia continua a ter os apoios da China, Rússia e Suíça, e poderá em breve ter também a seu lado, imagine-se, Israel! A contenção do islamismo radical passará em breve a ser um assunto sobretudo europeu, russo e chinês, dispensando as provocações intermináveis e as ações militares ilegais, criminosas e desastrosas dos Estados Unidos.
Nesta conjuntura previsível, o interesse estratégico de Portugal passa obviamente pelo seu posicionamento geográfico e pelas suas relações de longa data com os países de língua oficial portuguesa (em particular, Brasil, Angola, Moçambique e Timor), assim como com a China.
A Alemanha, que é a locomotiva industrial, o banco e a principal estratega europeia, pode ter em Portugal um bom intermediário para as suas já intensas relações com o Brasil e a China, mas sobretudo pode esperar de Portugal a facilitação no acesso a uma zona do globo onde os germanos nunca tiveram grande êxito: África!
A Alemanha é pois o nosso principal aliado na União Europeia.
Não nos esqueçamos desta nova realidade a ponto de se concretizar. Se o euro soçobrar, a Alemanha sofrerá uma nova e estrondosa derrota histórica. Mas desta vez, se Wall Street e a City vencerem, toda a Europa sucumbirá a décadas de pobreza e grande violência.
Não nos fiemos mais na corja partidária e financeira que se habituou a viver de rendas, por cima e por baixo das mesas do poder e do criminoso tráfico de influências!
REFERÊNCIAS
Os gráficos foram retirados de artigos vários do ZeroHedge
Monsieur (Hulot) Hollande poderá baralhar a chancelarina alemã!
Ao lado de um homem normal...
Partido de Merkel com pior resultado desde 1950 em estado da Alemanha
"Em força esteve, segundo as sondagens, o grupo activista Partido Pirata, que conquistou 8,5% dos votos. É a primeira vez que vai conseguir ocupar assentos no parlamento da região. Os Piratas penas tinham arrecadado o voto de 1,8% dos eleitores no sufrágio de 2009." Jornal de Negócios online, 7 Maio 2012.
Salvo os países produtores primários de energia barata, matérias-primas alimentares e industriais essenciais, de trabalho sobre-explorado e sem direitos, e que não respeitam boa parte das regras internacionais sobre higiene e sustentabilidade, o resto do mundo, do Japão aos Estados Unidos e Inglaterra, passando pela União Europeia, e pelos desgraçados países africanos, asiáticos e sul-americanos que não dispõem nenhuma das vantagens competitivas dos chamados "países emergentes", está sobre endividado!
A explosão demográfica mundial, a competição por recursos limitados, a distorção dos modelos de crescimento dos países industrializados, através da produção e consumo conspícuos, destruição do trabalho produtivo, recente acumulação explosiva do desemprego e da falta de emprego, perda de competitividade comercial, expansão puramente monetária e financeira das economias, e endividamento sistémico dos governos, das empresas e das pessoas, acompanhados pela globalização especulativa dos mercados financeiros, espelha não apenas o declínio dos impérios coloniais do Ocidente, mas também a aproximação de um limiar de crescimento populacional incompatível com os recursos disponíveis. A máscara financeira que até agora escondeu a realidade de uma ecologia esgotada começou a cair de forma dramática, como os mais avisados previram. E o que vemos é assustador, nomeadamente porque ninguém sabe como sair desta situação.
Os governos caiem como dominós sob o impacto social e político do colapso financeiro, das falências e do desemprego. Em desespero de causa vota-se no desconhecido, ou no regresso do que há muito parecia andar arredado dos núcleos duros do poder. A "direita" regressa onde a "esquerda" governava, e vice versa, como vimos agora com a vitória fulminante de François Hollande em França, e a derrota do corrupto até à 5ª casa bloco central grego (atenção Jota Passos de Coelho! atenção Jota inSeguro!)
O novo presidente francês, se mantiver (e terá que manter!) as promessas do candidato, até às próximas eleições legislativas, que darão a França um novo governo, previsivelmente alinhado ou comprometido com Hollande (Bayrou no próximo elenco?), poderá ditar a morte política de Angela Merkel muito antes das próximas eleições alemãs, em 2014, e provocar um segundo terramoto político, desta vez no coração da locomotiva europeia.
As eleições de ontem no Schleswig-Holstein revelam até que ponto o efeito dominó acabará por derrubar a voluntariosa chancelarina vinda do Leste. Mas a pergunta fundamental persiste: poderá a Europa escapar à austeridade? Poderá a União Europeia entrar num novo ciclo de "crescimento duradouro", como pede Barroso ao senhor Hulot de Paris, sem reformar primeiro as suas economias, os seus sistemas financeiros, a sua fiscalidade e a sua governança?
Como já todos percebemos, o que a Alemanha não deixa que se faça, por um lado, faz-se por outro! No entanto, vai ser inevitável uma metamorfose profunda dos estados, das economias e do sistema financeiro mundiais. Estamos apenas no princípio desta dolorosa mutação.
Hollande, cuja figura me faz lembrar simultaneamente Mr. Chance e o Monsieur Hulot, tem um refinado bom gosto no que se refere ao sexo oposto, gosta de cozinhar e de fazer as suas compras gastronómicas — três atributos promissores e que me sensibilizam. Promete reduzir em 30% os honorários a que tem direito como presidente. Para começar, é mesmo simpático ;)
Sacrificar a poupança, nomeadamente de quem produz, em nome da rigidez dos direitos sociais adquiridos, de uma desmiolada cultura do consumo, e de um sistema bancário insolvente, será o caminho mais expedito para o colapso em cadeia do actual sistema capitalista. Não precisaremos de nenhum marxista para nos ajudar!
Se a cigarra triunfar, mais uma vez, sobre a formiga, em vez de uma transição pacífica para o pós-capitalismo teremos miséria e guerra nos próximos anos e décadas — OAM.
O fracasso redondo do Conselho Europeu deste fim-de-semana mantém em suspenso uma divergência fundamental entre a Alemanha, mais alguns países do norte da Europa, e a França, mais os endividados países do Sul:
Quem vai pagar as dívidas soberanas da Grécia, Itália, Bélgica, Alemanha, França, Reino Unido... ?
Quem vai pagar as dívidas externas do Luxemburgo, Suíça, Reino Unido, Noruega, Bélgica, Dinamarca, Suécia, Áustria, França…, quando o colapso da bolha de derivados financeiros atingir o zénite?
Quem vai salvar os bancos sobre expostos às bolhas especulativas (imobiliária, soberana e dos mercados cambiais) da sua cada vez mais grave crise de liquidez e de um dominó de insolvências?
O GEAB deste mês fala da falência inevitável de 10 a 20% dos bancos ocidentais! As praças financeiras de todo o mundo, entretanto, tornaram-se os alvos compreensíveis de uma indignação à escala global que apenas começou a crescer, que dificilmente será neutralizada pelas polícias, e que poderá muito bem ditar o fim do capitalismo tal qual o conhecemos nos últimos quatrocentos anos.
Há basicamente duas posições:
Uma é a posição da França e de todos os demais países europeus sobre endividados, para quem a solução passa por monetarizar as dívidas nacionais, expandindo a liquidez do euro e emprestando assim sem limite aos governos e aos bancos, com a consequente desvalorização monetária e disparo da inflação, nomeadamente por via do preço acrescido das importações e pelo estímulo artificial do consumo privado e público. Esta solução significaria, pura e simplesmente, um novo assalto à robustez comercial e industrial da Alemanha, um ataque sem precedentes à produtividade e competitividade externa desta trave mestra da União Europeia, e uma destruição inexorável da poupança europeia, onde quer que a mesma se encontre — nos países, nos negócios equilibrados, e nas pessoas produtivas e prudentes. Esta solução implicaria promover o que não pode deixar de ser considerado um crime: financiar os bancos, os especuladores profissionais e os governos populistas da Europa, à custa de quem planeou, produziu e poupou!
A outra solução, propugnada nomeadamente pela Alemanha, e agora também por Durão Barroso, passa por envolver os especuladores e os bancos na reestruturação inevitável dos países simultaneamente sobre endividados e incapazes a prazo de pagar os serviços das respectivas dívidas públicas sem colapsar económica, política e socialmente — casos da Grécia, Portugal, Bélgica e talvez mesmo de países como a Itália, a Espanha, ou a própria França. O BCE e Sarkozy aceitaram em Junho passado um haircut das expectativas de retorno especulativo das bolhas imobiliária e soberana na ordem dos 21%, mas a Alemanha exige agora maior responsabilização por parte dos especuladores privados no colapso financeiro em curso: 50 a 60%.
Acontece, porém, que este contra-ataque alemão à lógica insaciável do capital financeiro vem colocar em causa a situação já de si extremamente frágil de dezenas, se não mesmo centenas de bancos e fundos de investimento por essa Europa fora e ainda onde quer que haja sociedades financeiras e bancos atolados de obrigações soberanas europeias: Estados Unidos, China, Japão, Rússia, Abu Dhabi, Brasil, etc. A pressão sobre Angela Merkel não pode, pois, deixar de ser brutal.
Conseguirá a União Europeia sair deste dilema?
Os preços da alimentação tendem a acompanhar os preços do petróleo. Ler Gail Tverberg.
No decurso das décadas de 1950 até meados da de 1970, o fim do colonialismo e uma redistribuição mundial menos desequilibrada e menos injusta dos recursos disponíveis, sobretudo do petróleo, do gás natural, dos metais e das matérias primas alimentares, acabaria por induzir uma desindustrialização acelerada dos Estados Unidos e da Europa ocidental, com a subsequente deslocalização de sectores industriais inteiros para países com contingentes aparentemente infindáveis de trabalho barato e socialmente desprotegido. O consequente desequilíbrio resultante do aumento e encarecimento progressivo das importações, e a ameaça do abrandamento económico resultante da diminuição da actividade industrial nos países mais ricos do planeta, conduziram sucessivamente os Estados Unidos e a Europa ao desenvolvimento de uma estratégia de compensação apoiada em três pilares:
a expansão do consumo interno, desenvolvendo para tal toda uma ideologia cultural apropriada (a sociedade de consumo);
o crescimento do campo tecnológico e cognitivo, de que resultaria uma expansão sem precedentes nos sectores da educação, da investigação e do desenvolvimento de produtos inovadores (tecnológicos, mas também culturais);
e a inovação financeira, sobretudo orientada para o desenvolvimento de estratégias de financiamento virtual de economias cujas rentabilidade e deterioração dos termos de troca com o exterior se prefiguraram desde muito cedo nos radares dos estrategas mais atentos.
Foi precisamente a aceleração contínua destes três factores que conduziu o capitalismo mundial à crise sistémica anunciada em 2005-2006, declarada em 2008, e que viria a mergulhar os Estados Unidos, a Europa e o resto do mundo na grande complicação em que agora se encontram. A bolha especulativa da China que acompanha a previsão, para 2012, do primeiro défice comercial chinês dos últimos vinte anos, mostra até que ponto estamos perante uma crise global, e até que ponto os países emergentes são incapazes de sustar o poder destruidor do buraco negro financeiro responsável por esta prolongada e profunda crise sistémica do capitalismo.
O paradigma do consumismo e do consumo conspícuo chegou ao fim, nomeadamente por efeito da inflação crescente, dos limites explosivos do endividamento, e ainda por causa do crescimento demográfico que de uma forma ou doutra implica um melhor aproveitamento e redistribuição dos recursos disponíveis à escala mundial. A tecnologia, por sua vez, evoluiu para uma rede geograficamente dispersa e desnacionalizada, diminuindo progressivamente a densidade dos antigos centros de ciência e tecnologia americanos, japoneses e europeus. A inovação financeira, por fim, acaba de esbarrar nos limites materiais da deteriorada hegemonia monetária da América, renovando o debate sobre a sustentabilidade do actual sistema bancário e financeiro global, desenhado à imagem e semelhança de um modelo que parece ter dado resultados desastrosos na China imperial, e volta agora a mergulhar a Europa numa sucessão catastrófica de bolhas especulativas.
É possível que os Estados Unidos estejam a preparar uma nova moeda, ou até a retoma da indexação do dólar ao ouro, através de uma operação súbita, surpreendente e sem precedentes de decuplicação do valor da onça de ouro. Para aqui chegar teria, porém, que lançar sucessivos pacotes de Quantitative Easing e afogar praticamente o planeta em notas verdes e inflação. Num cenário desta grandeza, que faria a União Europeia?
Uma parte da União Europeia, viciada no bem-estar gratuito, no consumismo, na corrupção, e no endividamento especulativo, não quer sofrer, quer continuar a satisfazer os seus caprichos sem pagar o preço justo das coisas, exige, portanto, dinheiro grátis, que alguém pague as contas, e que se esse alguém não aparecer (e for impossível sangrar mais o indefeso contribuinte europeu), então, que não se pague e pronto! A solução protagonizada nomeadamente por Cavaco Silva é portanto esta: que o contribuinte refinancie os bancos e que estes, depois de refinanciarem os governos, as nomenclaturas e as burocracias, e depois de pagarem os dividendos aos especuladores (nomeadamente do BPN), que retomem paulatinamente as operações de crédito à economia e ao consumo. Haverá riscos elevados de cairmos numa inflação galopante, e de uma desvalorização imparável do euro? Sim, há! Mas não faz mal, diria um qualquer assessor de Belém — os alemães, os árabes, os chineses, os iranianos, os russos e os brasileiros que paguem a crise!
A Alemanha já por duas vezes viu o seu sucesso industrial e económico ser desbaratado pelo resto de uma Europa, ou decadente e com maus hábitos difíceis de perder, ou simplesmente indolente. Será que iremos assistir a um terceiro suicídio colectivo?
Juntei a este escrito uma selecção de factos, observações e opiniões que me parecem de grande oportunidade para melhor compreendermos o que está em causa. De algum modo complementam as minhas reflexões sobre a nova e perigosa disputa entre as cigarras e as formigas desta velha Europa.
REFERÊNCIAS
Esta pirâmide entrou em modo especulativo (Ponzi) a partir da decisão de descolar o USD do ouro. Os CDO, CDS, e toda a parafernália de produtos financeiros criados para segurar/especular com o endividamento exponencial, privado e público, são as causas próximas do colapso sistémico actualmente em curso — OAM.
The European Financial Crisis in One Graphic: The Dominoes of Debt (October 24, 2011) “After 19 months of denial, propaganda and phony fixes, the political and finance leaders of the European Union are claiming a "comprehensive solution" will be presented by Wednesday, October 26-- or maybe by the G20 meeting on November 3, or maybe on Christmas, when Santa Claus delivers the gift global markets are demanding: a "solution" that actually pencils out and that forces monumental writeoffs of debt and thus equally monumental losses on European banks and bondholders”.
German Parliament Slows Euro Rescue Decisions “Europe’s leaders had only just presented themselves to their guests as a picture of unity, amid speeches praising the outgoing president of the European Central Bank (ECB), Jean-Claude Trichet, before the sparks began flying in another part of the building. Unfortunately, the German chancellor told a group of stunned men, she would not be able to make a decision on the euro bailout fund at the European Union summit on the following Sunday, because she needed the approval of the German parliament, the Bundestag, first. But because this approval was not to be expected, Chancellor Angela Merkel, a member of the center-right Christian Democratic Union (CDU), proposed postponing the meeting of the 27 heads of state and government.
European Council President Herman Van Rompuy protested, saying a postponement was absolutely out of the question, if only out of consideration for the other member states. “This is the last exit on the highway,” French President Nicolas Sarkozy said excitedly. “If we don’t reach a decision now, we’re dead.”
But it was of no use. By the end of last week, it was clear that the decisions would be postponed. Grudgingly, the majority of the EU was forced to follow the Germans’ lead.”
By Ralf Neukirch, Christian Reiermann and Christoph Schult, in Der Spiegel (23-10-2011)
M3 has ceased to be published by the US Federal Reserve The world is left without any reliable data on the dollar-value.
As announced last February 15 by Leap/E2020, yesterday March 23, 2006, the US Federal Reserve has ceased publishing M3, the most reliable indicator of the amount of USDs circulating in the world.
The Fed has also ceased publishing a number of less important indicators (such as the amount of EuroDollars, large-denomination time deposits, and repurchase agreements) which could have been used to calculate M3 on the basis of other aggregates.
It is important to bear in mind that the Fed continues to calculate M3 and the other indicators. It doesn’t cease to gather these data, but it no longer shares the information with US citizens and the rest of the world. To use a simple image, it is as if, on the eve of a war, the Pentagone suppressed GPS guidance, including for its own allies.
Such measure, which has had no equivalent since 1945, when the dollar imposed itself as the global monetary reference, is a major break in the confidence contract between the US and its Allies.
The Seeds of Our Destruction Were - And Still Are - Sown in the Bond Markets
Paul Brodsky: All the way through 2006, where a monetary aggregate called M-3 -- which was the only aggregate that included repurchase agreements, which is the process by which banks fund themselves with each other -- grew almost 12% a year. It is an enormous amount, and that basically tells you that this overnight lending among banks provided the fuel from which all of the term credit, or the 30-year mortgages ultimately, and the auto loans, and revolving consumer credit that, of course, has never paid down from whence that came. So in effect, we knew that the system became highly susceptible to any hiccup.
And what we were looking at was an economy where, according to recent data, we have got $53 trillion dollars in dollar-denominated claims, according to the Fed. Well, I actually think it is higher than that, significantly higher than that, but let us just take their figure. On top of a $2.7 trillion dollars in actual money, or M-zero, or to put it another way, currency in circulation plus bank reserves held at the Fed.
So the system is levered at least 20 to 1, and there is effectively 20 times more debt than money with which to repay it. And so that is a long-winded way of setting the table for where we come down in our macro views. Clearly, it has great ramifications, negative ramifications, for the currency, and given that the dollar is the world’s reserve currency, we think it has significant ramifications for the global monetary system in general.
[...]
I think debt is still probably marked too high on balance sheets. Certainly at banks. And so I think it is still out there; it is still lurking. It does not necessarily have to be recognized, ever, frankly, if the Fed produces enough inflation that takes them out in nominal terms. But it is still out there, and I would argue it is not only sub-prime, but as we are seeing now, it is turning into prime as well.
[...]
Chris Martenson: [...] Suppose, for the moment, though, that somehow things do get away from the Fed, they find themselves following, not leading the market. It has happened to them before. It has not happened recently, but certainly, that used to be the case. So I do not know, so there are all these people who have bond funds that are levered up 20 times, 10 times, some big giant number, and all of a sudden the rumor comes through the grapevine that China has decided enough is enough and they are quietly liquidating their custody account into what ever bids they can find. Would we not find that those levered bond funds would potentially get caught in the equivalent of a long squeeze, in essence? I mean, they would have to get out there and start liquidating into this madness. Is that a possibility? Let us admit that it is a possibility; how probable it is, is another question. Do you think the Fed has, with its infinite capability, can really step in and battle that?
Paul Brodsky: Well, functionally, yes, they can. Because again, let us say China has three trillion in dollar reserves (just to pick a round number). Yes, the Fed could print five trillion if they wanted to. They would always have more money than bonds outstanding, number one. And they could always assume anyone else’s debt, because there is literally no limit.
[...]
...if we anger them for whatever reason and they decide as retribution, and maybe it is an economic decision that they just do not want to own Treasurys any more and they decide to liquidate. I would suspect at that point, you would see a, maybe even a formal devaluation, of dollars. And we could go into that in a bit if you would like, but I would think that is the point at which you would see obviously the Fed would have to come and buy a bunch and monetize a lot of debt. But my guess is that would see something more formal. And you would go into a weekend and you would come out of the weekend with a completely different new monetary system.
Chris Martenson: Okay, interesting. So where I am, what I am hearing here, is a fairly simple story then, had a very long, very protractive credit bubble, it ran up pretty hard. And the Fed has nearly infinite or probably infinite capability to just manufacture credit, or what we call "money," out of thin air. All U.S. debt is denominated in U.S. dollars in this point in time, so there is really no external forcing function. So, guess what, printing can always happen. You started all of this by saying that when you peered through this landscape, what you saw was actually a currency risk. Let us go there for a second, if we could. What do you, how would that play out, if it does not really play in a big bond market route, something has to give in this story. You are saying it is the currency; what does that play out like?
Paul Brodsky: I think the Fed is going to have to continue printing. They are going to go significant QE3 at some point; I do not know exactly what form it will take, but they are going to have to monetize debt. The process of doing that is, I am sure your listeners know, is when you buy debt, you print money with which to buy it. And which moves new money out, ostensibly into the system, but as we have seen, it only goes into banks as excess reserves. This process is the exact process of inflation, so if you print a dollar, you are diminishing the purchasing power of that dollar through dilution. And it is a very easy thing to understand more dollars chasing, let us say, the same amount of goods and services and assets, must drive the price level higher for those goods services and assets. And so what we see happening is, through this process of money printing, we will have rising prices that rise much faster than wage growth or income growth, and it is going to make the ability to service debt that much harder.
[...]
Chris Martenson: Uh-huh
Paul Brodsky: So it looked as though we have output growth and in nominal terms, we did. However, I had to fire someone who was a consumer and so on and so forth and a taxpayer. And so the real economy actually shrunk while nominal growth grows. And so this is what has already been happening. The pressure is the fundamental economic pressures that build, through this juggling act of trying to keep all the balls in the air by printing money and giving the appearance of growth, and trying to instill confidence among consumers and among factors of production, and among manufacturers and so on and so forth. It really can’t last if there is no fundamental reason for it to continue. So in reality we think that they will print a lot of currency, the real economy will shrink. However, the good side of this whole thing, in an aggregate sense, and I am not judging the merits or whether or not it is moral or anything along those lines, but since the U.S. and Western Europe and Japan, the great majority of our populations are indebted. By printing all this money, the prices will rise and eventually even our wages will rise, but the only thing that won’t rise, is the amount we owe. And so this process of inflation reduces the burden of repaying debts. Both in the private and the public sector. While it does not reduce the debt at all but it does act as a de-leveraging. You can de-lever either by letting credit deteriorate and that has all terrible ramifications because you actually do have real contraction in the economy. Or you can print money up to meet the notional value of the debt. And those are the two ways to de-lever and I think they are clearly going to print money and that is the process of de-leveraging they are going to take. Thereby inflating the way the burden of paying the debt.
Chris Martenson: Yeah, there is all kinds of reasons that, there is really no opposition to the idea of printing. At the political sphere, they love it. Politicians tend to get tossed out during deflationary episodes. Inflation you know, they tend to hold their jobs. So there is a job, job’s creation act for political people buried in there. And also, government cannot tax deflation. Meaning if I hold an asset like a house, and it inflates 100%, some of that is taxable, depending on the size, or any asset that inflates, that is a taxable moment. A deflating asset is not a taxable amount. So you cannot tax deflation. There is another reason why we hate deflation, because it does not perpetuate the entire model of continued growth. But you know at some point, in every credit bubble - and this has been true through all of history and Reinhart and Rogoff certainly proved that - at some point, you just hit the limit, you cannot go any further. Even leaving aside that we remove the natural resource pressure from peak oil or from other resources or that there are natural limits being hit, forget about all of that. There is always a moment when your credit bubble just cannot go any further. There are no more noses that can fog mirrors, that can take out a loan. In your estimate, you are looking at all of this, they have been pulling on the ripcord of the chain saw as hard as they can trying to get this thing started again. Have they? And if they cannot, do we not just face some sort of deflationary outcome anyway?
Paul Brodsky: I think before we ever get to a truly deflationary outcome, meaning output contraction, shall we say. The Fed will formally devalue the currency, which will solve all these problems. They can do it tomorrow if they chose.
Chris Martenson: Isn’t everybody trying to devalue their currency?
Paul Brodsky: Well, they would devalue it to gulp and not against the Euro, or not against the Yen or the Renminbi. That alternating currency devaluation tag team, whack-a-mole, beggar-thy-neighbor policy, works obviously for exporters and it works in the very near term but it really does not solve the problem which is all of these currencies are baseless and are losing their purchasing power versus the goods and services with inelastic demand properties. Such as natural resources and things of scarcity.
Chris Martenson: Uh-huh
Paul Brodsky: So it makes perfect sense that while they are trying to politically, through policy, devalue their currencies versus other fiat currencies. That is not a long-term solution. When I say devaluation, I mean against the currency that is scarce and that policy makers cannot manufacture because ultimately it comes down to if I have a widget that I want to exchange for money, no matter where I am in the world, the money I want in exchange, I want to know that that’s going to have. I want to have confidence in it that that is going to retain its purchasing power. And it will get to the point ultimately where the one I am going to want is something other than what you are offering. There is precedent obviously, that gold has backed money. And we happen to think that that is the end game. Ultimately, you will see probably the Fed formally devalue the dollar versus gold. After 40 years of it being untied, and that is all. This is just the pendulum swinging back we think. And they will do it at a price, a gold price, in dollar terms, that will reflect the amount of past monetary inflation that we have seen.
Chris Martenson: Yikes
Paul Brodsky: Or something close to that.
Chris Martenson: That is a big number.
Paul Brodsky: It is a big number, we think it is about little north of $10,000 currently.
[...]
What I am saying is, the government will want to retain control, the only way they will be able to do that, is through going back, is devaluing. As they devalued it in 1971, the irony is, they will be going back to a gold standard or a quasi gold standard. I think that the method that they will do that, you know they will print a lot of money with which to tender gold at some big number. That will be highly inflationary. And then they will probably make a market, target a gold price as today they target Fed funds and interest rate. They will target a gold price. You know we will buy your gold at $10,000 we will sell you our gold at $10,200 and if too many people tender, then they will take the price down and vice versa. And what I think that would do, that is not a gold standard by the way, that is maintaining a credit market in effect. However, what it would still place a little more pressure on lenders to watch their backs in terms of the unreserved credit that they are carrying. And it would probably, more than anything, just instill confidence.]
The collapse of paper money & the vertical move of gold
It is the charging of interest on money issued as loans from a central bank that is the foundation of capitalism. It should be noted that prior to capitalism, charging interest on money lending was considered immoral by Christians, Muslims and Jews alike.
Outlawed by Islam, considered by the Catholic Church to be a sin and contrary to the Law of Moses, because of William Patterson’s combination of money and debt, money lending is now the basis of all modern economies.
Jews, barred from all trade guilds in Medieval Europe, were allowed only two avocations in the Middle Ages, that of money lending and the selling of used clothing. It is not without irony that the once shunned practice of money lending has now catapulted Jewish bankers to their pre-eminent position of power and wealth in the world today.
[...]
When capitalism—institutionalized money lending in debt-based economies—became the world’s predominant economy, bankers found themselves temporarily on top. The operant word is temporarily because where credit and debt is concerned, that which goes up always comes down.
[...]
In 1971, capitalism began to unravel when the US was forced to suspend the convertibility of the US dollar to gold. Without gold’s constraint on the money supply, governments—especially the US—began printing and borrowing money virtually without limit. Today, that limit has been reached.
William Patterson’s 300 year-old house of cards and credit is now collapsing as defaulting debt consumes what’s left of savings. Despite the efforts of governments to save the system that allows them to spend money they don’t have, the end of the banker’s reign is near.
Se não faltam Mourinhos, nem Barrosos, porque deixámos cair Portugal? Foto: autor desconhecido
... deixou de haver margem de manobra para o despesismo corrupto, para a irresponsabilidade política e para a indecência manifesta. O tempo das vacas gordas dos Fundos de Coesão chegou ao fim. Malbaratámos esta oportunidade única de organizar as nossas vidas? Os políticos passaram o tempo a tomar conta de si mesmos? Deixaram o país de tanga e sem ideias? Vem aí um ciclo irreversível de recessões e uma imparável curva ascendente nos custos da energia e do dinheiro? Que fazer com os políticos que temos? Para já, vigiá-los de perto e sem descanso!
— in O António Maria, “Sócrates 3”, 26-09-2004.
Os ladrões fazem necessariamente parte da crise, mas esta última tem tais proporções que é melhor começar a perceber as suas verdadeiras causas, se quisermos encontrar os pensos, os antibióticos e a cura da mesma —antes da próxima que há-de vir! Por outro lado, alguém terá um dia que explicar como é que um país tão pequeno quanto Portugal, mas com gente de tão boa fibra e em lugares invejados por todos (Ronaldo, Mourinho, Barroso, Damásio, Borges, Osório, Constâncio, Guterres, Siza, etc.) se deixou apanhar por uma matilha de penduras ignorante, irresponsável, gananciosa, corrupta e indolente, capaz, como foi, de deixar Portugal à beira da extinção.
Não fora a saudada invasão da Troika, e já estaríamos todos arrumados. Não fora esta última, e os estrangeirados e jovens independentes que Passos Coelho teve o bom-senso de convidar para o governo de maioria que o eleitorado exigiu nas urnas, já teriam sido triturados pela malta que fez do regime saído do golpe militar de 25 de Abril uma democracia oportunista, centrada no umbigo dos partidos, burocrática, familiar, populista e inimputável.
A provocação insidiosa sistemática contra Álvaro Santos Pereira e Nuno Crato, vinda de quem esconde desesperadamente o fruto roubado, e dos eternos papagaios da esquerda mumificada, amplificada diariamente pela indigente e falida imprensa que temos, dá toda a dimensão do pânico que se apoderou da criminosa nomenclatura que levou o país à falência. Chegou a hora de exigir um julgamento mais detalhado desta tribo!
E no entanto, a solução dos nossos problemas, uma vez afastados e responsabilizados os seus mais directos agentes e mandantes, é muito menos um problema de pessoas, do que uma questão sistémica.
Tenho andado a reler um livro magnífico de Hyman Minsky, publicado em 1986, chamado Stabilizing an Unstable Economy. Ele escreve, entre uma interminável série de observações de extrema pertinência e rigor analítico, isto:
“Cover-ups, however, have repercussions, as do bail-outs. Protecting and bailing out bankers affect the subsequent performance of the economy. The interventions, beginning with the credit crunch of 1966, to protect financial institutions from the life-threatening effects of their behavior have led to an economy that fluctuates, over a period of varying length, between financial crises and accelerating inflations. The authorities, frightened of the unknown consequences of the failure of giant banks, intervene to protect them when they are at hazard, which implies that the giant banks are too big for a noninterventionist, free-market economy.”
O capitalismo financeiro dominado pela especulação e pelos esquemas Ponzi, e desde meados da década de 1960, por uma tendência para a inovação em grande medida desenvolvida e posta em prática à escala mundial sob o patrocínio de meia dúzia de famílias do dinheiro, é propenso a um género novo e mal dominado de bolhas e crises cíclicas que já nada tem que ver com os ciclos económicos de produção e consumo de bens transaccionáveis que foram causa de grandes dramas sociais nos séculos 19 e até meados do século 20.
Numa economia de capital intensivo, como nunca existiu, assente também no consumo igualmente maciço de combustíveis fósseis baratos, com destaque crescente para o petróleo e o gás natural, centrado no crescimento e expansão de indústrias e sistemas comerciais para escalas nunca vistas, nada se pode realmente fazer, com impactos económicos e sociais significativos, sem os bancos e sem fundos de investimento. Sem os bancos convencionais, de depósitos e empréstimos, mais ou menos transparentes, mais ou menos regulados, mais ou menos supervisionados, mas também sem os bancos informais, sociedades de investimento crípticas e outras formas cada vez mais enervantes de "shadow banking". A dimensão dos grandes projectos, que começaram ainda no século 19 com as redes ferroviárias, prolongando-se depois no século 20 com as grandes barragens hidroeléctricas, as redes cada vez mais apertadas e extensas de autoestradas e a indústria automóvel associada, foi exigindo um sistema financeiro cada vez mais universal e ao mesmo tempo especializado para lidar com a dimensão e variedade imparáveis dos projectos emergentes ao longo de todo o século 20. Minsky, que actualizou de forma honesta a teoria de Keynes, tem razão quando defende ao longo de quase quatrocentas páginas, a natureza intrinsecamente instável do capitalismo na era da sua expansão financeira. Sem reconhecer e perceber esta característica será sempre mais difícil lidar com as crises, e será sempre mais fácil reduzir os problemas ao clássico maniqueísmo Esquerda/Direita e Ricos/Pobres, esperando no meio da algazarra, e por vezes de criminosas tragédias humanas, que a tempestade passe.
Há um ponto que Hyman Minsky, na sua aguda análise, seguramente por razões de método, omite: a causa material do activismo especulativo e da inovação financeira nas sociedades capitalistas intensivas, financeiras e tecnologicamente avançadas. Poderão as necessidades gigantescas de financiamento explicar a voragem incontrolada dos derivados financeiros? Seria interessante escutá-lo, se fosse vivo, sobre a crise das dívidas soberanas, as quais deixaram de ser um problema típico de estados colonizados e de países falhados, para notabilizarem tão tristemente as economias desenvolvidas da América e da Europa. Como podem governos sobre endividados, numa economia globalizada, desempenhar cabalmente a função de "lenders of last resort"? Se o uso insistente desta faculdade perder eficácia, precisamente por causa da globalização e dos algoritmos de especulação (High-frequency trading), que acontece? Poderá a esfera financeira da economia sobreviver a uma explosão demográfica planetária, com impactos inevitáveis na produção, distribuição e consumo dos bens transaccionáveis? Poderá esta esfera ignorar os efeitos da exaustão relativa dos recursos energéticos e naturais? Quais os impactos da deslocalização das unidades produtivas à escala global na lógica financeira do capitalismo? Esta é provavelmente uma das perguntas de um bilião de euros da crise que continua a agravar-se diante de todos nós.
“The prices in German supermarkets are about half of what they are in Belgium, Italy or Spain.” — Antonio S. Mello
Esta verificação consta da conferência do professor de finanças da universidade de Wisconsin, Antonio S. Mello (1), dada este mês em Nova Iorque. A compilação de dados eventualmente desconhecidos sobre a situação estrutural das finanças portuguesa é mais um contributo útil para a compreensão, longe de estar completa, das causas do nosso endividamento soberano, doméstico e empresarial, da falência bancária escondida e da perda de crédito internacional da nossa economia. Mas o mais surpreendente são duas das conclusões a que chegou:
“Too little investment in the last fifteen years to expand and upgrade the tradables sector. No money to do it now!”
“What periphery countries need is stabilization with growth, not stabilization at the expense of growth.”
Conclusão: a ajuda financeira externa deve dirigir-se preferencialmente às empresas, e não aos bancos, para o financiamento intensivo (pois doutro modo seria inútil, e puramente cosmético) da produção de bens transaccionáveis, e não para recapitalizar os bancos com mais cheques em branco, de que resultaria inevitavelmente o imediato recomeço do financiamento especulativo do Orçamento de Estado — e do consumo. Mas como fazer isto? Montando linhas de crédito preferenciais para as PME? Para todas? Como definir critérios de prioridade? Quanto tempo precisaríamos para ver resultados? Resistiríamos até lá?
Talvez possamos cruzar este meu entendimento da comunicação de Antonio Mello, com o Big Government de Minsk, no ponto em que este propõe, ainda que por períodos limitados, a intervenção do governo na qualidade de criador, já não da liquidez ilimitada, que no caso português não existe e seria inviável obter do BCE, mas de emprego ilimitado, a preços controlados, orientado para obras de interesse estratégico evidente: substituição da actual rede ferroviária de bitola ibérica por uma nova rede de bitola europeia, eficiência energética, requalificação urbana, gestão integrada e sustentável da floresta, atendimento de populações idosas sem recursos, etc.
“The current strategy seeks to achieve ful employment by way of subsidizing demand. The instruments are financing conditions, fiscal inducements to invest, government contracts, transfer payments, and taxes. This policy strategy now leads to chronic inflation and periodic investment booms that culminate in financial crises and serious instability. The policy problem is to develop a strategy for full employment that does not lead to instability, inflation and unemployment.
The main instrument of such a policy is the creation of an infinitely elastic demand for labor at a floor or minimum wage that does not depend upon long- and short-run profit expectations of business. Since only government can divorce the offering of employment from the profitability of hiring workers, the infinitely elastic demand for labor must be created by government.” (Minsky, op. cit.)
Neste caso, o encolhimento doloroso do estado burocrático, mas que libertaria fundos para uma política activa de emprego temporário e por objectivos, a custos controlados, teria um propósito social que as políticas meramente financeiras não poderão suprir na totalidade. Basta reparar nas constatações de Antonio Mello sobre a importância do crescimento económico, ou melhor dito, da falta dele, no agudizar das crises irlandesa e espanhola, na rigidez cultural do mercado de trabalho europeu (que contrasta claramente com a fluidez dos fluxos financeiros), ou ainda no estado crítico em que se encontram as nossas empresas privadas em matéria de endividamento, para que o problema do pleno emprego deixe de ser um eterno campo de retórica e demagogia, e seja estudado seriamente pelos economistas e pelos políticos profissionais.
“What is interesting is that a country can become a highly indebted country, not because of higher primary deficits. Ireland and Spain did not run budget deficits before 2009! They run primary surplus. They also had relatively low Debt to GDP ratios. The key factor is fall in growth coupled with bank bailouts which had a very large negative effect on government net worth.” (Author’s adaptation of W. Easterly in “Growth Implosions, Debt Explosions”)
[...]
“One would expect pressure for realignment from the labor market. As the German export sector reaches full capacity, wage costs should rise more than the Eurozone average. This is not happening. One would expect German workers to seek higher wages outside the country. But the European labor market remains extremely fragmented. Little internal migration. Causes? Housing, pension systems, language, culture, non-matching skills. German wage moderation can persist uncorrected for years.”
[...]
“With Net debt 16 X EBIT, Portuguese companies spend 96% of their pre-tax earnings just to service their debts, with interest rates at 6%! As rates climb, a number of these companies will find it increasingly hard just servicing their debts.” (Mello, op. cit.)
As atenções têm estado sobretudo concentradas no Estado, mas quando começarmos a conhecer a real situação dos bancos, e de algumas empresas, como a EDP e várias grandes construtoras, perceberemos então melhor os dilemas que temos pela frente até ao fim desta década.
O estado da União... Europeia
Alguma coisa muito forte fez despertar Durão Barroso. Basicamente, na mensagem ao Parlamento Europeu, disse duas coisas: precisamos de por as instituições financeiras, nomeadamente os bancos, a contribuir para a resolução da crise das dívidas soberanas europeias; e precisamos e contrapor as instâncias europeias eleitas aos namoros oportunistas entre alguns governos da União. A mensagem nunca foi tão clara da parte deste astuto político e corredor de fundo.
“Much has been said about the alleged vulnerability of some of our banks. European banks have substantially strengthened their capital positions over the past year. They are now raising capital to fill the remaining gaps identified by the stress tests in summer. This is necessary to limit the damage to financial market turbulence on the real economy and on jobs. Over the last three years, we have designed a new system of financial regulation. Let's remember, we have already tabled 29 pieces of legislation. You have already adopted several of them, including the creation of independent supervising authorities, which are already working. Now it is important to approve our proposals for new rules on:
derivatives;
naked short selling and credit default swaps;
fair remuneration for bankers.
These propositions are there, they should be adopted by the Council and by the Parliament. The Commission will deliver the remaining proposals by the end of this year, namely rules on:
credit rating agencies;
bank resolution;
personal responsibility of financial operatives.
So we will be the first constituency in the G20 to have delivered on our commitment to global efforts for financial regulation.
Honourable members, In the last three years, Member States - I should say taxpayers - have granted aid and provided guarantees of € 4.6 trillion to the financial sector. It is time for the financial sector to make a contribution back to society.
That is why I am very proud to say that today, the Commission adopted a proposal for the Financial Transaction Tax. Today I am putting before you a very important text that if implemented may generate a revenue of above € 55 billion per year. Some people will ask "Why?". Why? It is a question of fairness. If our farmers, if our workers, if all the sectors of the economy from industry to agriculture to services, if they all pay a contribution to the society also the banking sector should make a contribution to the society. And if we need – because we need – fiscal consolidation, if we need more revenues the question is where these revenues are coming from. Are we going to tax labour more? Are we going to tax consumption more? I think it is fair to tax financial activities that in some of our Member States do not pay the proportionate contribution to the society. It is not only financial institutions who should pay a fair share. We cannot afford to turn a blind eye to tax evasion. So it is time to adopt our proposals on savings tax within the European Union. And I call on the Member States to finally give the Commission the mandate we have asked for to negotiate tax agreements for the whole European Union with third countries.”
Não, isto não é um discurso do PCP, nem sequer do Bloco de Esquerda, dois papagaios ressequidos que a nossa democracia preserva no formol parlamentar de São Bento. É a voz de muitos estados da União que já não suportam o paternalismo da falida América, nem estão dispostos a ver entrar pela porta do cavalo, uma federação de estados subordinada a Berlim e acolitada (como sempre!) por Paris. Em breve haverá 28 estados soberanos unidos por um ideal e muitos interesses sob a bandeira da União Europeia — e não ficaremos por aqui.
É este, precisamente, o temor do eixo anglo-americano, responsável por uma descarada e injusta guerra financeira contra o euro. Wall Street e a City londrina têm tentado tudo para levar o BCE e a União Europeia a entrar no mesmo galope suicida do Quantitative Easing. A ideia é realmente contaminar o euro com a síndrome monetarista do dólar, por forma a obrigar a uma revalorização compulsiva da moeda chinesa, mas não do iene! Claro que as burocracias corruptas, cobardes e ineptas de boa parte das democracias populistas da União, quase todas a um fio da falência, querem mais dinheiro, juros mais baixos, e que o Casino de Lisboa volte a distribuir fichas sem limite aos viciados da casa. É ilegal!
A seu tempo, quando os governos populistas sobre endividados da União acolherem as reformas institucionais inadiáveis, cortarem nas gorduras indecentes dos estados, e substituírem as elites governamentais por gente nova, politicamente arejada e sem almoços por pagar, a criação de um mercado de obrigações na Eurolândia será justificada e necessária, assim como uma política monetária mais generosa por parte do BCE. Precipitar agora esta medida seria um suicídio, ao contrário do que pensa a rainha de Belém. A ideia peregrina lançada com ar professoral por Cavaco Silva na entrevista a Judite de Sousa, sobre a urgência de transformar o BCE num emissor de liquidez ilimitada, num lender of last resort, só podia mesmo ocorrer a uma mente perdida em compromissos inconfessáveis. Para este tipo de keynesianismo de pacotilha está o FED, muito obrigado!
Do que nós precisamos mesmo é de renovar a nomenclatura económico-financeira, político-partidária e institucional portuguesa, incluindo na procissão de limpeza contabilística a falência de uma série de empresas ruinosas e a venda de outras a quem tiver biografia, transparência de processos e idoneidade para as retomar e fazer crescer. Os "cadernos de encargos" exigidos pela rainha de Belém não serão certamente aqueles de que o país precisa.
A renovação eleitoral das elites irá ocorrer na Europa a partir de agora. Na realidade, Portugal deu o pontapé de saída nesta matéria, e os resultados não poderiam ter incomodado mais a nomenclatura, do governo aos média, passando pelas burocracias corporativas e sindicais, bem como pelas castas culturais. Se não me enganar, o importante a partir de agora não serão as siglas partidárias, mas a mudança efectiva de discurso, de objectivos e de comportamento na acção política de quem se propõe exercê-la.
“Comme je l'ai dit, au fond de la crise que nous avons maintenant, c'est un problème politique. C'est un test de notre volonté de vivre ensemble. C'est pourquoi nous devons approfondir l'Union européenne, c'est pourquoi nous avons construit des institutions communes. C'est pourquoi il faut garantir l'intérêt européen. Et la réalité aujourd'hui c'est que la coopération intergouvernementale n'est pas suffisante pour sortir l'Europe de cette crise, pour doter l'Europe d'un avenir. Tout au contraire, un certain intergouvernementalisme risque de mener à la renationalisation et à la fragmentation. Un certain intergouvernementalisme pourrait être la mort de l'Europe unie telle que nous la voulons.”
Hyman P. Minsky foi um teórico da economia capitalista, que embora acreditasse no Big Government, sempre se opôs, quanto mais não fosse, por razões técnicas, ao excesso de burocracia, bem como ao crescimento alimentado sistematicamente pela via do consumo, do emprego público não produtivo, e do endividamento descontrolado, obtido, a partir da década de 1980, através do recurso a uma desregrada inovação financeira. Vale a pena conhecer melhor este verdadeiro continuador de Keynes.
“Only an economics that is critical of capitalism can be a guide to successful policy for capitalism.” (Minsky, op. cit.)
NOTAS
“The EU and the € Crisis: Growth Imbalances, Growth Implosion, Debt Explosion” Antonio S Mello — September, 2011