Mapa de Portugal segundo Sócrates, em 2017. |
Portugal: evitar o ridículo
"O governo espanhol não irá construir um aeroporto internacional em Badajoz, anunciou esta manhã o ministro português das Obras Públicas e Transportes.
Valente de Oliveira falava no Luxemburgo, onde se encontra a participar no Conselho de Ministros dos Transportes e da Energia da União Europeia que decorre no Grão-Ducado.
O governante português disse que a sua fonte foi o próprio ministro Alvarez Cascos, de quem recebeu anteontem, na Cimeira Luso-Espanhola, a "garantia solene" de que não será construído qualquer aeroporto na zona de Badajoz.
A decisão espanhola deixa algum alívio ao governo português e mais tempo para pensar e repensar a opção tomada em relação ao Novo Aeroporto de Lisboa (...)."
in Aero Press, 03-10-2002
Recebi este extraordinário link do Gabriel Órfão Gonçalves. Extraordinário porquê? Porque, como se entende, o governo português (então protagonizado pelo PSD e por Valente de Oliveira) estava seriamente preocupado com a possibilidade de o aeroporto de Badajós (em Talavera La Real) se tornar numa base aérea competitiva, seja relativamente a Faro, seja relativamente a Lisboa. Ora isso está prestes a acontecer, pois a actual directora de marketing da Ryanair na península ibérica, a extremeña Maribel Rodríguez, acaba de anunciar que esta companhia de baixo custo irlandesa, a maior Low Cost e a terceira maior transportadora aérea da Europa, vai mesmo estabelecer uma base de operações em Badajós! Esta cidade, a que Elvas recorre para dar à luz os seus bébés (depois do actual ministro ter fechado às cegas várias unidades hospitalares por esse país fora) vai também ser a localização da importante plataforma logística do Caia e o ponto de passagem da futura linha férrea que ligará Sines à nova e importante Refineria de Balboa, igualmente na província de Badajós. Percebe-se agora a guinada de José Sócrates, quando correu esbaforido para Beja e anunciou a rápida transformação do aeródromo local num aeroporto para as Low Cost. Foi a tentativa espúrea de antecipar a jogada espanhola...
Madrid fez xeque-mate a Lisboa na questão da rede ibérica de Alta Velocidade: ou Lisboa garante a ligação Madrid-Lisboa em 2013, como foi acordado nas duas últimas cimeiras ibéricas (mas para cuja concretização a parte portuguesa nada fez até agora), ou Badajós passa a servir o triângulo Mérida-Cáceres-Badajós e boa parte do Alentejo com um serviço de transporte aéreo de baixo custo até que os dromedários do Terreiro do Paço saiam do seu actual estado de alucinação.
Beja é uma resposta pífia e improvisada ao desafio lançado por Madrid. Não conseguirá ir buscar um único passageiro a Espanha, e muito poucos passageiros trará a Lisboa enquanto não houver auto-estrada entre Beja e a A2 (que não consta aliás das previsões do Plano Rodoviário Nacional). Por outro lado, se o governo espera receber um milhão de passageiros em 2016 na cidade alentejana e rentabilizar a nova infra-estrutura entre 2026 e 2034 (!), porque não avança já para a transformação da Base Aérea do Montijo num aeroporto para as Low Costs, quando estas representavam já, em Maio deste ano, 17% do tráfego da Portela e 2 milhões de passageiros transportados (1)?
Os estudos económicos dizem que o fenómeno das Low Cost estará maduro por volta de 2012, tendo pois ainda uns bons cinco anos de expansão acelerada pela frente. Entre as novidades que veremos dentro de um ou dois anos (não em 2017!) vai ser a expansão dos voos baratos ligando, por exemplo, Madrid a Nova Iorque, Hong-Kong, Pequim, Xangai, São Paulo, Rio de Janeiro, Luanda, etc... O paradigma veio para ficar, e pelo caminho vão ficar muitas companhias europeias insustentáveis (como por exemplo, a TAP, ou a Iberia, que dentro em breve se fundirá com a British Airways).
Portugal, para não cair completamente no ridículo, tem que, em primeiro lugar, respeitar os compromissos assinados com Espanha. E depois, perceber que é do seu interesse, não apenas ligar a sua rede ferroviária à rede ferroviária espanhola (que será completamente mudada até 2020), acabando com a bitola ibérica de uma vez por todas, mas também, no que se refere aos aviões, agir com a maior urgência na adaptação ao único e decisivo paradigma que entretanto surgiu e está a redefinir radicalmente as regras do sistema e do negócio do transporte aéreo à escala europeia: o paradigma Low Cost. Estamos a falar de agir no espaço de meses, e não de uma década! A nova Portela e o Montijo deveriam estar operacionais, como muito, até ao final de 2009!
Em 2015, 2017, 2020, 2030... ninguém adivinha. É muito longe para fazer previsões, quando se sabe que o pico mundial do petróleo já chegou e que, daqui em diante, os combustíveis fósseis não mais baixarão de preço. Antes pelo contrário, continuarão paulatinamente a subir...
PS: sonhei esta noite que o Severiano Teixeira, actual ministro da defesa do governo PS, fora aos Estados Unidos oferecer a Ota para uma grande base militar NATO, integrada no expansionista sistema anti-mísseis norte-americano, que inaugura o segundo período da "guerra fria" (pós-muro de Berlim). A ideia seria começar o NAL, como se fosse um projecto civil (co-financiado pela UE), e depois, lá por volta de 2010, convertê-lo em projecto militar! Mas para isso, o tio Sam teria que dar uma ajudinha na reeleição do socratintas. Que raio de pesadelo!
Notas
1 - Rui Rodrigues: (...) o Governo, ao investir em Beja, contraria toda a argumentação apresentada contra um aeroporto secundário em Lisboa e está a justificar a opção Portela+1. -- Ver PDF
OAM #211 02 JUN 2007