quarta-feira, junho 13, 2012

A rendição de Madrid

Diego Velázquez, “A Rendição de Breda”, óleo s/ tela (1635)

De Breda a Madrid a cortesia pode manter-se e até haver, finalmente, uma Europa mais forte e solidária

Excmo. Sr. Herman Van Rompuy
Presidente del Consejo Europeo
Bruselas

Excmo. Sr. José Manuel Durão Barroso
Presidente de la Comisión Europea
Bruselas

[...]

... es esencial que os líderes europeos pongamos de manifiesto nuestro compromiso decidido y contundente con la moneda única. Es decir, es necesario deja[r] claro que, a medio plazo, la unión reforzará su arquitectura institucional común. Ello, sin duda, supone avanzar en la integración o, si ustedes lo prefieren así, mayor cesión de soberanía, en particular, en los ámbitos fiscal y bancario.

En el ámbito fiscal, ello supone crear una autoridad fiscal en Europa que pueda dar una orientación a la política fiscal en la zona euro, que armonice las políticas fiscales de los Estados Miembros y que permita un control de las finanzas centralizado, además de ser la gestora de la deuda europea. Un compromiso en esta línea daría una señal de confianza en el euro imprescindible en el momento actual.

En el ámbito bancario, es necesario contar con una supervisión a nível comunitario y uno fondo de garantía de depósitos común.

No es necesario decidir ahora cómo lo haremos. Basta con manifestar el compromiso con este objectivo y ponerse a trabajar en ello para diseñar un plan, un calendario y unas condiciones para consecución. El futuro del euro, depende de que demos inicio a este debate. No será un camino fácil, pero es un objectivo ineludible en torno al cual todos debemos estar de acuerdo. Esta “Unión fiscal e bancaria” se impone ya como inaplazable objetivo en el proceso de construcción europea. La reunión del Consejo Europeo del 28 y 29 de junio próximos es una oportunidad inaplazable para ello.

Atentamente,
Mariano Rajoy Brey
Presidente del Gobierno de España
(Para ler a carta completa — PDF)

Por mais que o primeiro ministro de Espanha tentasse esconder, a rendição de Madrid a um bem maior chamado Europa está claramente expressa na carta que escreveu a Bruxelas.

Depois da Espanha, com Chipre e a Itália na bicha do resgate, parece que nos encaminhamos rapidamente para o famoso end game de que tanto falam os cronistas ingleses e americanos. No entanto, o fim deste jogo pode ser algo diferente do que os emissores imparáveis de dólares e libras esterlinas, e os especuladores da laia do JP Morgan, esperam. Em vez do colapso do euro poderemos desaguar finalmente numa União mais consciente das cedências nacionais imprescindíveis ao bem comum.

É claro que a Alemanha aparece neste xadrez como uma estratega vencedora, mas o preço, para ela e para todos nós, será sem sombra de dúvida muito grande: mais austeridade ainda (que a ser excessiva e prolongada pode matar o doente — como parece provar o efeito mortal da deflação japonesa, assinalado por Albert Edwards/Peter Tasker), dolorosas reformas estruturais e a negociação absolutamente imprescindível dum Novo Pacto Social Europeu, que assegure ao mesmo tempo a liberdade, a cultura, a racionalidade económica, a saúde das pessoas, a solidariedade entre gerações e uma cooperação inteligente com a Natureza de que somos parte, mas nunca fomos nem seremos, nem mestres, nem donos.


Última atualização: 13 jun 2012 19:53

Proibir as greves egoístas

Santa Apolónia, Lisboa. ©Foto: Lusa

Numa democracia em estado de austeridade, e enquanto durar este estado de emergência social, o direito à greve deve ser suspenso em todos os serviços públicos

Luís Bravo, dirigente do Sindicato Ferroviário da Revisão Comercial e Itinerante, uma das estruturas que convocaram a paralisação, disse à agência Lusa que a circulação de comboios nas linhas de Cascais, Sintra e Azambuja começou paulatinamente a parar a partir das 21 horas, deixando-se de fazer totalmente pouco depois das 23 — in Diário de Notícias.

A greve da CP que ontem e hoje deixou milhares de pessoas que festejaram o Santo António a dormir na calçada, bem como o plano de greves em curso nesta sobre endividada empresa do Estado, e em geral as interrupções de serviços públicos que têm vindo a ter lugar, são agendadas com o objetivo claro de ferir os mais débeis e os mais fracos da nossa sociedade.

A CP só não foi ainda declarada empresa falida e insolvente porque é uma empresa do Estado. Na realidade, os seus funcionários gozam de regalias e remunerações que lhe permitem um estilo de vida bem acima de quem trabalha em empresas privadas, tendo a democracia populista que temos levado ao extremo o paternalismo e as vantagens económicas tipicamente fascistas que o Estado Novo concedia, em troca de apoio político, claro, a quem dele dependia.

Hoje, face ao colapso evidente e irreversível do estado português, só há uma saída para a CP: privatizar imediatamente os serviços que mal presta e a preços caríssimos — pois além do preço que se paga pelos bilhetes e passes, há ainda que somar a ineficiência gritante do serviço, os dias de greve e, mais grave ainda, o seu gigantesco e criminoso passivo. Tudo isto deve ser contabilizado no preço final que pagamos pelo dito transporte público.

Está pois na altura de declarar o ESTADO DE EMERGÊNCIA SOCIAL nesta democracia populista insolvente. Faz-se em tempo de guerra, mas pode e deve fazer-se também em tempo de paz, proibindo todas as greves dos serviços públicos enquanto durar a brutal austeridade em curso. 

Se os deputados passassem a andar de transporte público, incluindo os do PCP e os do Bloco, perceberiam do que estou a falar!


POST SCRIPTUM

I. Em vez de uma proibição o ideal seria que houvesse uma negociação entre o estado-patrão e os sindicatos da função e das empresas públicas sobre um status quo temporário, onde fossem contempladas garantias profissionais e sociais mínimas aos funcionários, agentes e trabalhadores, e por outro lado estes últimos se comprometessem a uma auto-limitação no uso do direito à greve durante o período de grave austeridade e dificuldades financeiras do país. Este período de auto-limitação de direitos poderia ter uma duração modular de seis meses, ao fim dos quais, as partes se sentariam de novo à mesa de negociações para regressar ao status quo ante, ou prolongar o período de auto-limitação por mais seis meses. Na impossibilidade de chegar a bom porto, ou de sequer iniciar conversações para este fim, mantendo-se as ações de greve com a intensidade atual, o governo deveria promover um Referendo nacional sobre esta limitação temporária de direitos. A pergunta seria muito simples: 
  • ESTÁ DE ACORDO COM A SUSPENSÃO TEMPORÁRIA DO DIREITO À GREVE DOS FUNCIONÁRIOS PÚBLICOS, AGENTES DO ESTADO E TRABALHADORES DE EMPRESAS PÚBLICAS ENQUANTO DURAR O PERÍODO EXCECIONAL DE AUSTERIDADE E DIFICULDADES FINANCEIRAS QUE PORTUGAL ATRAVESSA NESTE MOMENTO?
    • SIM
    • NÃO 
II. E já agora: por que motivo o Governo não tem exigido o cumprimento dos serviços mínimos durante as recentes greves das empresas públicas?  Será porque não lhe interessa ?  Ou porque desconhece ?  Ou porque há responsáveis governamentais coniventes com este tipo de sindicalismo neo-corporativo ? 

No caso do Metro, foram invocadas "razões de segurança" para não serem exigidos os serviços mínimos.  Mas quem é que terá permitido que a definição de "serviços mínimos" resultasse de um conluio entre os sindicatos e as administrações das empresas públicas, tendo por únicos prejudicados o utente (que em geral não anda de carro o dia todo) e a dívida pública ? 

Última atualização: 13 jun 2012 15:50

terça-feira, junho 12, 2012

E agora PPP?

Hock — “mio gps” (2008)

As estradas não vão para o lixo. Logo há que renegociar!

Aproveitar o tremendo e duplo erro que foi o excesso de investimento e a sua implementação numa modalidade de contratação cara e não adequada à realidade portuguesa para – fazendo das fraquezas forças - ajudar a consolidar um conjunto de empresas de um sector em grandes dificuldades, mas com enormes potencialidades de expansão no exterior, é uma oportunidade que seria imperdoável não aproveitar.

Poderia ser aproveitada esta ocasião para, além de reduzir as responsabilidades financeiras do Estado, também para inovar, procurando novas modalidades de redução do envolvimento económico do Estado.

Tomar como critério único ou principal a redução dos encargos financeiros do Estado pode parecer uma necessidade de curto prazo, mas prejudica claramente a perspectiva de médio e de longo prazo de desenvolvimento da economia nacional.

Deveriam ser consideradas outras hipóteses. Pelo menos duas não deverão ser excluídas. Uma: prolongar a duração dos contratos para um horizonte de muito longo prazo, por exemplo, 100 anos. Outra: a venda plena das infra-estruturas ao sector privado.

in “Como renegociar as PPP”, por Avelino de Jesus (Jornal de Negócios, 10 jun 2012)

Avelino de Jesus vem ao terreiro da renegociação das PPPs com duas ideias construtivas: prolongar o prazo das concessões, ou privatizar totalmente as infraestruturas. Friamente, há que pensar nestas duas propostas, e ainda numa terceira: manter portagens mas ajustando-as de forma dinâmica à procura e com descontos controlados para os residentes em regiões mais desfavorecidas.

Ou ainda, sugere um ex-ministro,

“... tipicamente os contratos PPP/concessões têm uma opção para o Governo pagar tudo e ficar com a infraestrurura. Se o contrato for enviesado, o Governo deve pagar à cabeça já o que custou a infraestrutura. Logo de seguida privatiza com um contrato equilibrado. Isto funciona se existir a tal opção e se a Troika perceber de finanças! Nada disto está garantido.”

Trata-se, em suma, de salvar a obra feita, e até terminar aquelas que trazem mais-valias ao país, mas corrigindo os excessos e malfeitorias que os processos das PPP foram sofrendo ao longo da desvairada temporada do pimpão que vive refastelado em Paris sem ninguém lhe perguntar quem paga as contas!

Criminosos até quando?

George Grosz — “Eclipse do Sol”, 1926

 Perdoar os devedores, e não os especuladores!

A crise é bancária. Metastizou-se em crise soberana. E ambas são suportadas pelos “europeus”. Por nós. Só numa democracia doente é que mentir a instituições europeias, como na Grécia, é mais grave que mentir ao povo, como em Espanha. A banca será ajudada. E nós, que lhes dizemos? Nada. Já dissemos tudo um outro. Já escrevemos tudo o que havia a escrever. Falta sofrer. Como é que se regressa do abismo?

Pedro Santos Guerreiro, “Toda a gente mente”, Negócios online (10 jun 2012)

Um editorial lúcido mas derrotista, imperdoavelmente derrotista.

Não basta verificar como todos nós fomos de algum modo embalados pelo fácil dinheiro virtual. É necessário revelar a origem das coisas, e perceber que há três grandes responsáveis pelo colapso financeiro em curso: o gang dos derivados, liderado por nove bancos de investimentos que a ninguém obedecem (1), os bancos imprudentes e/ou especuladores que obedecem ao gang anterior, e os governos de criminosos e populistas que conduziram o mundo a esta situação (2).

Sem chamar os bois pelos nomes, parecemos todos igualmente culpados, quando não somos!

Agora a Europa...

A Alemanha tinha e tem um plano, e estou de acordo com ele: fazer crescer a Europa, mas dotando-a de uma verdadeira estrutura financeira e fiscal coerente, e de um comando estratégico unificado. Claro que para aqui chegar foi preciso mostrar a cenoura a quem não a conhecia, ou não tinha ainda provado. Feita a prova, agora é preciso merecê-la!

Esta é certamente apenas uma parte da verdade. A outra é a guerra fria financeira que entre o dólar e o euro teria inevitavelmente que estalar, e continua neste preciso momento ao rubro! A falência do MF Global, por ter especulado com as dívidas soberanas europeias, ou o sombrio jogo inglês da alavancagem infinita conhecido por shadow rehypothecation, ou ainda as viagens recentes dos ministros das finanças português e espanhol a Washington para ouvirem o que Timothy Geithner tem a dizer sobre a exposição americana às dívidas soberanas ibéricas, são alguns dos exemplos mais evidentes sobre quem está verdadeiramente na origem da presente crise e ao mesmo tempo exposto às suas imprevistas consequências.

Perdeu-se o controlo da situação? É bem possível :(

Talvez por isso a solução convencional, isto é, salvar todos os bancos e todos os políticos, a todo o custo, acabe por ter que ser revista, e umas dezenas largas de bancos e algumas centenas ou até milhares de políticos devam ser irradiados da cena pública, por indecência e má figura, com uma mão atrás e outra à frente — sob pena de uma qualquer Comuna de Paris ressuscitar em versão hard-tecno, mas nem por isso menos cortante!

Recomendo, pois, aos teóricos, e sobretudo aos gasparinhos deste mundo em crise que meditem na sugestão de Steve Keen:

[The banks] have to suffer and suffer badly. They will have to suffer in such a way that in a decade they will be scared in order to never behave in this way again. You have to reduce the financial sector to about one third of its current size and we have to also ultimately set up financial institutions and financial instruments in such a way that it is no longer desirable from a public point of view to borrow and gamble in rising assets processes.

... 
I think the mistake [central banks] are going to make is to continue honoring debts that should never have been created in the first place. We really know that that the subprime lending was totally irresponsible lending. When it comes to saying "who is responsible for bad debt?" you have to really blame the lender rather than the borrower, because lenders have far greater resources to work out whether or not the borrower can actually afford the debt they are putting out there.

They were creating debt just because it was a way of getting fees, short-term profit, and they then sold the debt onto unsuspecting members of the public as well and securitized their way out of trouble. They ended up giving the hot potato to the public. So, you should not be honoring that debt, you should be abolishing it. But of course they have actually packaged a lot of that debt and sold it to the public as well, you cannot just abolish it, because you then would penalize people who actually thought they were being responsible in saving and buying assets.

Therefore, I am talking in favor of what I call a modern debt jubilee or quantitative easing for the public, where the central banks would create 'central bank money' (we cannot destroy or abolish the debt, which would also destroy the incomes of the people who own the bonds the banks have sold). We have to create the state money and give it to the public, but on condition that if you have any debt you have to pay your debt down -- no choice. Therefore, if you have debt, you can reduce the debt level, but if you do not have debt, you get a cash injection.

in ZeroHedge

NOTAS
  1. A exposição dos quatro principais bancos de investimento ao mercado de derivados financeiros OTC (“The Banks And Derivatives: Too Big To Fail Or Too Exposed To Be Saved?” Seeking Alpha, May 18, 2012) é superior ao triplo do PIB mundial. Só a exposição do JPMorgan supera em risco tudo o que o mundo produz num ano! Dos nove grandes especuladores financeiros do planeta, oito são americanos, e um inglês. Mais explicações para quê?

    JPMorgan Chase: 70.151.000.000.000
    Citibank: 52.102.000.000.000
    Bank of America: $50.135.000.000
    Goldman Sachs: $44.192.000.000.000
    HSBC: $4.321.000.000.000
    Wells Fargo: $3.332.000.000.000
    Morgan Stanley: $1.722.000.000.000
    State Street Financial: $1.390.000.000.000
    Bank of New York Mellon: $1.375.000.000.000
  2. “Nunca esperei viver num tempo em que Wall Street e a City tivessem poder suficiente para orientar a opinião pública do mundo ocidental, desenvolvido, a seu favor, depois de terem inquinado o mundo com uma desregulação quase completa da finança. Mas é o que está acontecer” — in José Gomes Ferreira, Estranho tempo, este, em que vivemos, SIC

    Esmiuçando um pouco mais teríamos ainda que acrescentar, nomeadamente a propósito deste notável artigo de José Gomes Ferreira sobre os verdadeiros culpados do colapso financeiro em curso, que o brinquedo chamado Derivados OTC (cujo valor nocional é = 12x o PIB mundial), os covis fiscais de sua majestade a rainha de Inglaterra e similares, e o HFT (High-frequency trading) são os três vértices da grande armadilha financeira desta crise, a qual terá que ser desativada por verdadeiros especialistas (seguir as reflexões deste homem: Steve Keen) e pela vontade férrea da tia Merkel !

    No entanto, as causas profundas são outras:

        1.    o fim do Colonialismo e a ascensão dos BRICS;
        2.    o declínio inexorável do petróleo barato;
        3.    a des-industrialização ocidental e consequente falsificação dos medidores do PIB (mede-se o consumo em vez de medir a produção!);
        4.    a destruição do trabalho produtivo (substituindo os trabalhadores por consumidores).

    A Dona Branca que a malta da City e de Wall Street mal-copiou do génio lusitano (Alves dos Reis e seus legítimos herdeiros) veio tão só atamancar esta sucessão de causas da verdadeira catástrofe que nos espera a todos :(
  3.  
Última atualização: 12 jun 2012 13:46

sábado, junho 09, 2012

Remarx?

Slavoj Zizek. d'aprés Luca del Baldo (2011)

Quem fará a revolução?

Slavoj Zizek em Atenas 2012 não é o Sartre cauteloso e realista que visitou Portugal em 1975.

O discurso proferido pelo filósofo radical esloveno Slavoy Zizek num debate promovido pelo partido Syriza, em Atenas no passado dia 3 de junho, e intitulado “The heart of the people of Europe beats in Greece”, merece o visionamento repetido por parte dos eleitores do PS, do Bloco e do PCP. Recomendo também que se complemente tal exercício com uma meditação sobre esta frase de Zizek retirada do seu volumoso The Paralax View:

(...) today, the only political agent that could logically be said to represent the interests of capital as such, in its universality, above its particular factions, is Third Way Social Democracy....)"

Quer dizer: Blair, Obama, Pinto de Sousa, mas também Hollande (mais perto do inspirador Olof Palm?) representam afinal o mecanismo crítico que tem garantido a continuidade do sistema que em retórica populista acusa de ser propenso à injustiça, mas reformável em democracia.

As contradições no interior do PPD/PSD, nomeadamente as que opõem hoje Balsemão e Cavaco a Passos Coelho, retratam de forma ímpar esta noção da representação contraditória, oscilante, rotativa, dos interesses dominantes do Capitalismo, mesmo numa fase de aparente implosão.

Ainda assim, creio que Zizek deveria inquirir a proveniência profissional da sua audiência interessada, antes de embrulhar entusiasticamente as suas palavras no calor das massas.

A burocracia, nomeadamente intelectual, nunca foi tão extensa, nem esteve tão integrada no aparelho político e administrativo do Capitalismo como hoje. Nunca tanta riqueza foi transferida das classes produtivas para os donos do capital, mas também para a crescente população, sobretudo urbana, cuja maior contribuição para o dito Crescimento tem decorrido sobretudo pelo lado do consumo e mais recentemente pela via sem saída do endividamento.



A intelectualização e burocratização do Ocidente foi conseguida através de duas vias: o desemprego do trabalho manual e das tarefas repetitivas a favor de tecnologias mais rentáveis e socialmente inertes, e a eliminação maciça de empregos rurais, industriais e mesmo pós-industriais para os antigos espaços coloniais, onde o preço do trabalho e os custos de contexto (higiene, segurança, ambiente) continuam a ser muito inferiores. Enquanto o preço do petróleo e do gás natural, e as novas sociedades asiáticas, africanas e latino-americanas, o permitirem, estas duas formas de substituir o trabalho produtivo na Europa e nos EUA continuarão a pressionar as economias destas regiões no sentido da sua desintegração financeira, social, política e cultural.

Desde 1973 para cá, o rotativismo keynesiano, mais social-democrata, ou mais neoliberal, foi garantindo a sobrevivência, embora empobrecendo, das chamadas classes médias. Mas a crise do endividamento explosivo das empresas, das famílias e dos governos, desencadeada em 2007-2008 com o rebentamento da bolha imobiliária americana e o colapso do Lehman Brothers, e que hoje se agrava hora a hora, está a levar os povos da Europa e dos Estados Unidos para um beco sem saída.

Salvo os mais ricos —pouco mais de cem mil portugueses, três milhões de americanos (EUA) e 5 milhões de europeus (UE)—, a crise ameaça levar ao empobrecimento muito rápido, pela via do desemprego, da falta de emprego, da queda das remunerações, e da subida criminosa dos impostos, mais de 806 milhões de europeus e americanos! Ora bem, não vejo eu, nem certamente Slavoj Zizek e muitos outros, como sairemos deste bloqueio em larga escala sem, ou uma paragem e reforma radical dos pressupostos da globalização, mediada até lá por uma revalorização do trabalho, das coisas e do dinheiro, ou então... uma revolução!

As ditas classes médias empobrecidas, quando perceberem que os mais ricos não irão em seu auxílio, por desorientação e impotência momentânea, mas também por puro egoísmo, ou mesmo banditismo descarado, e que o governo está irremediavelmente falido, irão progressivamente engrossar, nomeadamente com os seus conhecimentos específicos e grande potencial de fogo informativo, técnico e ideológico, as ruas do protesto democrático.

Os poderes instalados terão uma irreprimível tendência para reforçar as leis e as forças repressivas, sem cuidar sequer da constitucionalidade e legitimidade cultural das decisões. Gasolina, portanto, sobre uma fogueira que não pára de alastrar!

E agora?

sexta-feira, junho 08, 2012

Espanha?

Resgate iminente faz renascer a velha questão ibérica: uma Espanha única, impossível, ou uma Comunidade de Estados Ibéricos Independentes (CEII)?


As malfadadas torres Kyo, Caja Madrid e agora Bankia são um símbolo bem sugestivo do ascenso e colapso financeiro da Espanha

Entre 40.000 y 100.000 millones

La horquilla, pues, que se baraja sobre el dinero que necesitan las entidades españolas oscila entre los 40.000 millones y los 100.000 millones. En el seno del Partido Popular Europeo, su secretario general, Antonio López-Istúriz, ha asegurado en una entrevista en TVE que los bancos requerirán entre 80.000 y 100.000 millones para sanearse. "Las cifras que se están manejando están en torno a los 80.000 o 100.000 millones o menos, dependiendo de los informes", dijo el eurodiputado de la formación de Rajoy. El Mundo (8 jun 2012).


Más vídeos en Antena3

Los mineros retoman el corte de carreteras como protesta por la crisis en el sector

Los mineros del carbón intensifican sus protestas en su sexto día de huelga indefinida. Hoy han cortado varias carreteras en Asturias y León enfrentándose a los equipos antidisturbios lo que ha provocado retenciones kilométricas. El tráfico en la autovía A-66 ha estado interrumpido casi 4 horas. Además, los manifestantes también han interrumpido el tráfico ferroviario entre Asturias y La Meseta. Antena 3 (7 jun 2012).

Boa parte do buraco negro das finanças espanholas resulta de investimentos especulativos nos mercados imobiliários e de derivados financeiros OTC por parte de especuladores vários, mas também de fundos de pensões cujos rendimentos estavam a ser comidos pela inflação real e pela imprudente política de destruição das taxas de juros (BoJ, Fed, BCE). Se os especuladores devem assumir as suas perdas sem mais (é essa a regra do jogo!), já os fundos de pensões e as contas de poupança mais expostos criam um problema social grave. Aqui, os governos deverão intervir, protegendo as pensões e as poupanças, mas tomando o comando das instituições aventureiras.

Quanto à dívida pública espanhola, não há outro remédio se não encolher o Estado e as autonomias...

A Espanha poderá ter que caminhar para um estado federal — monarquia, ou república, não sabemos. Mas creio que seria prudente manter a monarquia durante mais uma geração, promovendo entretanto um estado federal, dentro do qual cada estado federado teria que viver, naturalmente, com o que produz e tem, deixando de reivindicar a Madrid uma ilusória e caríssima igualdade económica. Cada novo estado federado passaria a exigir democraticamente das suas administrações mais contenção de gastos, fim das mordomias e dos almoços grátis, e sobretudo estratégia económica, social e organizacional.

Numa segunda fase, já com a União Europeia bem adiantada, Espanha faria uma transição constitucional para o regime republicano federal a que Portugal se juntaria formando a Comunidade Ibérica de Estados Independentes. Esta Comunidade seria, por sua vez, uma das sub-unidades fortes da União Europeia consolidada.

A Espanha de hoje é um projecto político incompleto, sonhado desde o século X, mas que nunca foi cumprido, tendo dado origem a inúmeras e sangrentas guerras civis cujo resultado mais visível foi o atraso do nascimento de uma grande comunidade de nações livres, democráticas, responsáveis, pacíficas e produtivas. Sob bandeiras equívocas e ilusões sucessivas os povos ibéricos foram sendo arrastados ao longo da sua história católica para uma sangria sem nome nem desculpa, sobre a qual se erigiram os regimes arrendatários e déspotas que se mantiveram no poder até mais esta bancarrota geral da Ibéria.
El título de Imperator (totius) Hispaniae del latín, Emperador de (toda) España nació como término de la mano de los monarcas de León, al menos, en el siglo X. Fue usado esporádicamente en los dos siguientes siglos, según los reyes de la Iberia cristiana luchaban por la supremacía y por el imperiale culmen. Durante la Edad Media, el topónimo latino "Hispania", sus deformaciones (como "Yspania" o "Spania") o cualquiera de sus versiones romances (como "España" o "Espanna") se usaba, en singular o en plural, para referirse al total de la Península Ibérica — in Wikipedia.

Los monarcas que unieron las Coronas de Castilla y Aragón intentaron revivir el antiguo recuerdo de una Hispania romana o visigótica con el fin de promover una fidelidad mayor hacia una históricamente resucitada España in — España en Europa: Estudios de historia comparada: escritos seleccionados, página 75, Wikipedia.

Al final de la Edad Media, con el matrimonio de Isabel I de Castilla y Fernando II de Aragón, estas dos coronas peninsulares se aliaron, conquistando el Reino nazarí de Granada en 1492 y, posteriormente, el de Navarra en 1512 que continuó siendo un reino, acuñando moneda propia y con aduanas en el río Ebro hasta las guerras carlistas del siglo XIX. Los reyes navarros se refugiaron en sus posesiones allende de los Pirineos y posteriormente se convertirían en reyes de Francia — in Wikipedia.

Sem os abundantes subsídios da União Europeia e terminado o longo ciclo colonial do Ocidente, de que as teorias Keynesianas aplicadas à esquerda e à direita foram, percebemo-lo agora, mera manobra defensiva, a Ibéria volta a estar confrontada com os seus próprios demónios.

Voltaremos a repetir os erros do passado, deixando as elites fabricar um novo teatro de sombras para melhor reprimir as comunidades, ou seremos capazes de aplicar as nossas melhores energias, reagindo de forma criativa ao empobrecimento que aí vem, formando uma grande comunidade de nações ibéricas e europeias, democrática, solidária, justa, competitiva e livre?

TAP por 1 euro

Quem paga os 123 milhões de prejuízos da Ground, e os... 3MM da TAP?

Talvez fazer como o gajo de Braga: TAP a 1 euro, leilão no fim do mês!

Governo pediu aos sindicatos, com os quais estará reunido às 17h, para esperarem até esta sexta-feira por um aval à venda de 50,1% da operadora de handling. Se tal não acontecer, a tutela será responsabilizada pelos danos. Público, 8-06-2012.

Desde quando é que os sindicatos são parte interessada em processos de privatização, ainda por cima quando tais processos estão envolvidos por obscuras operações de encobrimento e transferência de dívidas?

As receitas até agora obtidas pelas privatizações realizadas sob supervisão da Troika não deverão chegar sequer para tapar o buracão escondido da TAP (que poderá ultrapassar os 3 MIL MILHÕES DE EUROS).

Faça-se, como há muito se vem propondo, uma auditoria independente ao Grupo TAP, incluindo naturalmente a Groundforce, a TAP Engineering & Maintenance, Fernando Pinto y sus muchachos, e a célebre compra da PGA ao BES. E só depois se desenhe um spin-off e a privatização integral ou parcial das empresas do grupo.