sábado, junho 16, 2012

Hiperinflação ao virar da esquina ?

Imaginem que um litro de leite Vigor, que hoje custa 0,80€, passaria a custar daqui a um ano OITO MIL BILIÕES DE EUROS (0,8x10E16). Foi o que aconteceu na Hungria depois da Segunda Guerra Mundial!


Uma nota de 1 bilião de dólares do Zimbabué

As rotativas digitais americana e inglesa retomaram a sua criação virtual de liquidez a partir do zero, isto é, a partir do nada!

Todos pressionam para que a tia Merkel faça o mesmo, para tapar o buraco negro do endividamento europeu, começando por encher os bolsos dos grandes especuladores, e expropriando depois a poupança de centenas de milhões de pessoas e empresas. A hiperinflação traduz-se nisto: em vez de o banco não pagar nada pelo dinheiro que lá depositamos (que é a situação que temos hoje, pois os juros que nos pagam são comidos pela inflação real e pelos impostos), passa a pagar juros crescentes, mas a uma velocidade infinitamente inferior à da subida brutal dos preços do que consumimos no dia a dia. A tal ponto que, em poucos meses, todo o dinheiro que temos no banco deixa de valer seja o que for, salvo se foram biliões de euros, e mesmo assim....

Quando o dinheiro perde todo o seu valor, o que passamos a querer em troca de um pacote e leite fresco, não é uma mochila cheia de notas, mas um pão alentejano, um pacote de massa, um quilo de maçãs de Alcobaça, ou uma lata de atum dos Açores. O sinal de que caminhamos para isto é este: todas as empresas do PSI20, salvo as que lidam com petróleo e mercearias, perderam mais de 64% do seu valor nos últimos quatro anos. A Rio Tinto, líder mundial da extração de metais, vai reabrir as minas de ferro de Moncorvo, enquanto a China açambarca ouro, petróleo e cereais usando as suas gigantescas reservas de dólares em contratos de futuros para aquisição de bens essenciais.

É bem possível que Berlim e Frankfurt acabem por ceder, ainda que e apenas na condição de haver uma centralização orgânica dos poderes e dos controlos financeiros, fiscais e orçamentais da União Europeia.

Em suma, depois da deflação em curso, que poderá agravar-se mais ainda até ao fim de 2013, é bem possível que o espectro da hiperinflação na Europa esteja ao virar da esquina, em 2014, ou 2015.

Tempo para ver o histórico deste tipo de calamidade!

Episódios de hiperinflação desde a Revolução Francesa (1789)


Peak Monthly Inflation In 1945 Hungary: 12,950,000,000,000,000% And Other Hyprinflationary Facts | ZeroHedge

Última atualização: 16 jun 2012 23:13

TAP dos Pequenitos

A Alitalia também voava alto até cair nos braços da Barbie!

Esperemos que o regressado Preste João explique aos vendilhões descalços que o seu futuro está em África, sobretudo no norte de África, e nas Honduras!

Brisa 'empenhada' em ganhar privatização da ANA Aeroportos

...a Brisa pergunta qual será o modelo a seguir, já que no projecto anterior «estava previsto um grande aeroporto em que o investimento seria de 3.000 milhões de euros», refere Eça Pinheiro, adiantando que, sem novo aeroporto, «o modelo pode ser outro».
Outra das incógnitas é saber «o que o contrato vai impor ou não relativamente ao futuro aeroporto de Lisboa, até porque, mais tarde ou mais cedo, a Portela vai esgotar a sua capacidade» — in Sol.

O negócio de chulos que foi aprimorado no tempo do Pinóquio era um 5 em 1, mais ou menos assim: quem ficasse com TAP (sempre esteve previsto entregá-la a uma das famílias do regime) e com o seu buraco de 3 MIL MILHÕES DE EUROS (é esta a estimativa oficial da Blogosfera) herdava a ANA, limpa de pó e palha e com as tetas sempre a esguichar euros, herdava os terrenos da Portela (aqui com a obrigação de compartilhar o naco com o senhor Ho), recebia os arredores do NAL da Ota em Alcochete algaleados pelos autarcas comunistas e socialista da zona, e ainda, vejam só, a trabalheira de construir e explorar um novo aeroporto e a célebre cidade aeroportuária do adiantado Mateus.

Seria uma lotaria que nem o mais gordo dos Euromilhões!

Só que desde o início desta conspiração tive a oportunidade de explicar que a Blogosfera via mais este golpe do Bloco Central da Corrupção 1) como uma vigarice que nem no Uganda; 2) como uma impossibilidade prática por causa do Peak Oil e da crise financeira que já se avistava, bem gorda, no horizonte.

Foi então que assistimos a uma corrida contra o tempo —NÃO AO TGV, SIM À OTA! PERDÃO, A ALCOCHETE!—, gritavam todos em uníssono através das suas caninas agências de comunicação. Até que o Pinóquio tropeçou, vejam só, na descomunal dívida pública e externa do país, para a qual também muito contribuiu e da qual, pelos vistos, obteve fartos proveitos, por interpostas pessoas — ao que dizem.

E tropeçou, porque a dado momento os bancos de Wall Street e da City, que mantinham a nossa insolvente banca a flutuar, enviou um e-mail lacónico aos banqueiros com a seguinte frase: DEIXÁMOS DE PODER ASSEGURAR A VOSSA INSACIÁVEL NECESSIDADE DE LIQUIDEZ.

Na mesma tarde os nossos banqueiros anarquistas almoçaram, ficaram de caganeira, telefonaram-se aflitos sobre se teria sido do marisco, mas logo perceberam que não. Estavam simplesmente borrados de medo. E para o superar combinaram: vamos convocar o Pinóquio! E assim foi. Convocaram e disseram-lhe: SENHOR PRIMEIRO MINISTRO, A MASSA ACABOU!

O resto já sabemos como foi...

Foi pena terem subavaliado o poder da Blogosfera!




A TAP está falida e arrumada :(

Mas não teria que ter sido assim. O seu tráfego ponto-a-ponto foi literal e paulatinamente sugado pelas companhias de  baixo custo: Ryanair, easyJet, Air Berlin, transavia.com, Blue Air, restando-lhe agora o hub Brasil-Europa, Angola e os ossos do serviço público a que não pode escusar-se: Madeira e Açores.

O cenário era mais do que previsível e foi aqui explicado até à exaustão. Mas a barragem de propaganda e contra-informação do gaúcho Pinto foi sempre mais forte, e manteve tudo e todos sob o império da genial privatização para a qual, em primeiras núpcias, o mesmo gaúcho foi contratado com soldo milionário. O resultado está à vista: uma empresa sobre-endividada, que ninguém quer (apesar dos castelos no ar a este propósito mais uma vez construídos por quem já nada mais faz do que fugir desesperadamente às responsabilidades), que continua a ter mais trabalhadores do que a easyJet, Ryanair e Air Berlin juntas, e que se encontra há muito despida de qualquer estratégia.

Faltará ainda algum argumento para despedir com justa causa todo o CA da companhia?

O tempo da reestruturação sob patrocínio estatal acabou. Como não é possível injetar mais dinheiro governamental (isto é, dívida pública) nesta arruinada empresa, nem os exaustos bancos lusitanos podem já com uma gata pelo rabo, só resta uma solução: fechar a empresa, vendendo a marca, os slots, os pilotos, o pessoal de manutenção técnica e as aeronaves a um grande grupo europeu, pois, sabe-se agora, não é possível vender a maioria de uma companhia aérea europeia a investidores não comunitários. Para todos os efeitos, até pelo abismo para que a Espanha caminha rapidamente, o melhor mesmo é negociar com a Lufthansa.

Sul-americanos, asiáticos e africanos estão definitivamente fora deste campeonato. E os melros que por cá andam, encontram-se todos (salvo o Pingo Doce, creio) secos que nem carapaus.

Se não queremos ver a TAP passar à condição de mero brinquedo da memória, é bom que este governo se apresse a tomar este assunto em mãos com a dose de coragem exigida. O gaúcho hibernou, e espera fazer cair algum ministro até ao fim do ano. Que tal confrontar o gabiru com as suas responsabilidade?

PS: Sussurou-me quem sabe, que o Montijo pode ser a bóia de salvação para muita gente, da Groundforce e da nova TAP ;)

quinta-feira, junho 14, 2012

Quem parará este dominó?

As semelhanças são surpreendentes!
©2008-2012 *cycoze

À segunda vez, chama-se pânico!

Alemanha emite dívida a taxa negativa antes de eleições na Grécia

As obrigações vendidas pelo Governo liderado por Angela Merkel têm maturidade em Abril de 2018 e foram vendidas a um preço que lhes confere uma taxa de juro implícita de -0,31%, segundo os dados da Bloomberg relativos à emissão. A procura foi equivalente a 2,25 vezes a oferta, ficando acima da média deste ano, segundo a Reuters — Jornal de Negócios.

Na realidade, isto significa que estamos a caminho da deflação, por queda imparável do valor dos ativos, e pior ainda, prenuncia um colapso financeiro e monetário em larga escala. É por isto que os bancos deixam o dinheiro que pedem emprestado ao BCE, no próprio BCE (!), e é por isto que os fundos de investimento, as grandes fortunas (nomeadamente dos piratas gregos) e os bancos começaram uma corrida para se protegerem debaixo das asas da tia Merkel. Paga-se para que a Alemanha aceite os nossos empréstimos.... na esperança de ver algum no fim desta corrida de lémures.

Antes de multiplicar a massa monetária europeia, os alemães quererão certamente receber mais cartas de capitulação soberana como a que Rajoy escreveu, querem fundir uma ou duas dúzias de bancos e caixas públicas por essa Europa fora, querem concentrar algumas indústrias e serviços estratégicos do espaço europeu, querem avançar politicamente na união fiscal e financeira da UE, querem ver encolher alguns dos grandes especuladores americanos (Lehman Brothers, Madoff e MF Global já foram; Morgan Stanley e JP Morgan vão a caminho, outros se seguirão) e, por fim, esperam poder domesticar a City londrina e os covis fiscais propriedade pessoal de sua majestade inglesa Isabel II...

Todos contra o euro, ou todos contra o dólar? Sabemos que ao lado do euro estão a China e a Rússia. E que contra os EUA está o mundo inteiro. Grande expectativa pois para o próximo Domingo e para a infernal semana depois das eleições gregas. A provável entrada da Itália no clube dos resgatados ainda este mês ou o mais tardar em julho será a próxima dor de cabeça para todos nós.

Monti calls for political unity, fears domino effect

Prime Minister Mario Monti made a dramatic appeal to Italy's politicians yesterday (13 June) to back his tough economic medicine to avoid the country becoming the next victim of the euro debt crisis. Moody’s downgraded Spain and Cyprus, and panic mounted in Greece ahead of a Sunday vote that could see the country leave the eurozone — EurActiv.

Juros espanhóis disparam para máximos históricos depois de corte de "rating"Jornal de Negócios.

Preço da dívida soberana espanhola cola aos 7%

Almunia insiste en la posibilidad de que desaparezcan bancosHoy.

Como esta madrugada escrevíamos: depois da desclassificação da dívida soberana espanhola (perdeu todos os 'A's) por parte de todos os vendilhões de notações financeiras, virá o downgrading dos grandes bancos privados espanhóis (BBVA, Santander, etc.) e uma subida imparável dos juros implícitos a pagar por novas emissões de dívida pública. 6,926% é para todos os efeitos 7%, e 7% de incremento seja no que for significa que para um tempo T, qualquer quantidade Q duplica ao fim de 10T: montante, tamanho, intensidade, velocidade, etc. Ou seja, um empréstimo de 100 mil milhões de euros, a 7% de juros implícitos ao ano, pedidos em 2012, serão 200 mil milhões a pagar em 2022 :(

A menos que não se pague.... ou se pague apenas uma parte. Foi este género de PSI, ou de carecada nos benefícios esperados (haircut), que derrubou a MF Global e vai derrubar ainda muitos especuladores, bancos e fundos de investimento. O problema está, contudo, no perigo de um repúdio da dívida odiosa, se ocorrer de forma tumultuosa e descontrolada, arrastar também para o abismo a poupança de boa fé que, por exemplo, foi canalizada para os fundos de pensões. Daí a oportunidade das reflexões do economista australiano Steve Keen sobre a necessidade de proceder a um jubileu da dívida que castigue os especuladores, mas salve os devedores que honestamente pouparam e investiram.


 

Max Keiser: toutes les banques du monde entier sont insolvables.

Todos os grandes bancos estão basicamente em situação de insolvência. É por esta razão que os bancos centrais estão a comprar ouro. Ouro mesmo, não confundir com certificados de ouro, ou com ouro digital, pois estes últimos são mais uma das fantasias especulativas que podem esfumar-se em menos de um segundo (como Gerald Celente teve a oportunidade de saber da pior maneira). Ouro, mas ouro que se possa morder!

E quem pode, como a China, está também a acumular reservas de petróleo, matérias primas e bens alimentares desfazendo-se enquanto é tempo do papel higiénico verde que atulhou nas últimas duas décadas em troca das exportações que arrasaram a indústria americana, e não só. Se ao menos fosse Renova Black!

Desde 2008 que recomendo a compra de ouro, prata e quintinhas com água, boa terra e proximidade dos centros urbanos. Recomendei também que quem vivesse em periferias mal servidas de transportes e distantes do local de trabalho que vendesse as casas e se aproximasse dos centros urbanos e dos nós de transportes públicos (mesmo trocando um T4 por um T2, ou um T3 por um T1).

Agora já é provavelmente tarde para vender seja o que for, pois o dinheiro ou desapareceu, ou está guardado para as emergências. Se as coisas piorarem, como parece que vai acontecer, a solução já não passa pela venda de ativos, pois haverá que dá-los às hienas que andam por aí à espera de carne ferida, mas pela cooperação ativa das pessoas, começando pela família e pelos amigos. Há que partilhar recursos e partilhar o que temos, defendendo até ao limite o que foi poupado ou herdado.

O pior que nos poderia acontecer a todos seria corrermos para o abismo da deflação, pois deste buraco não sairíamos nada bem.

The Man Nobody Wanted to Hear
Global Banking Economist Warned of Coming Crisis

William White predicted the approaching financial crisis years before 2007's subprime meltdown. But central bankers preferred to listen to his great rival Alan Greenspan instead, with devastating consequences for the global economy — Spiegel Online.

quarta-feira, junho 13, 2012

A rendição de Madrid

Diego Velázquez, “A Rendição de Breda”, óleo s/ tela (1635)

De Breda a Madrid a cortesia pode manter-se e até haver, finalmente, uma Europa mais forte e solidária

Excmo. Sr. Herman Van Rompuy
Presidente del Consejo Europeo
Bruselas

Excmo. Sr. José Manuel Durão Barroso
Presidente de la Comisión Europea
Bruselas

[...]

... es esencial que os líderes europeos pongamos de manifiesto nuestro compromiso decidido y contundente con la moneda única. Es decir, es necesario deja[r] claro que, a medio plazo, la unión reforzará su arquitectura institucional común. Ello, sin duda, supone avanzar en la integración o, si ustedes lo prefieren así, mayor cesión de soberanía, en particular, en los ámbitos fiscal y bancario.

En el ámbito fiscal, ello supone crear una autoridad fiscal en Europa que pueda dar una orientación a la política fiscal en la zona euro, que armonice las políticas fiscales de los Estados Miembros y que permita un control de las finanzas centralizado, además de ser la gestora de la deuda europea. Un compromiso en esta línea daría una señal de confianza en el euro imprescindible en el momento actual.

En el ámbito bancario, es necesario contar con una supervisión a nível comunitario y uno fondo de garantía de depósitos común.

No es necesario decidir ahora cómo lo haremos. Basta con manifestar el compromiso con este objectivo y ponerse a trabajar en ello para diseñar un plan, un calendario y unas condiciones para consecución. El futuro del euro, depende de que demos inicio a este debate. No será un camino fácil, pero es un objectivo ineludible en torno al cual todos debemos estar de acuerdo. Esta “Unión fiscal e bancaria” se impone ya como inaplazable objetivo en el proceso de construcción europea. La reunión del Consejo Europeo del 28 y 29 de junio próximos es una oportunidad inaplazable para ello.

Atentamente,
Mariano Rajoy Brey
Presidente del Gobierno de España
(Para ler a carta completa — PDF)

Por mais que o primeiro ministro de Espanha tentasse esconder, a rendição de Madrid a um bem maior chamado Europa está claramente expressa na carta que escreveu a Bruxelas.

Depois da Espanha, com Chipre e a Itália na bicha do resgate, parece que nos encaminhamos rapidamente para o famoso end game de que tanto falam os cronistas ingleses e americanos. No entanto, o fim deste jogo pode ser algo diferente do que os emissores imparáveis de dólares e libras esterlinas, e os especuladores da laia do JP Morgan, esperam. Em vez do colapso do euro poderemos desaguar finalmente numa União mais consciente das cedências nacionais imprescindíveis ao bem comum.

É claro que a Alemanha aparece neste xadrez como uma estratega vencedora, mas o preço, para ela e para todos nós, será sem sombra de dúvida muito grande: mais austeridade ainda (que a ser excessiva e prolongada pode matar o doente — como parece provar o efeito mortal da deflação japonesa, assinalado por Albert Edwards/Peter Tasker), dolorosas reformas estruturais e a negociação absolutamente imprescindível dum Novo Pacto Social Europeu, que assegure ao mesmo tempo a liberdade, a cultura, a racionalidade económica, a saúde das pessoas, a solidariedade entre gerações e uma cooperação inteligente com a Natureza de que somos parte, mas nunca fomos nem seremos, nem mestres, nem donos.


Última atualização: 13 jun 2012 19:53

Proibir as greves egoístas

Santa Apolónia, Lisboa. ©Foto: Lusa

Numa democracia em estado de austeridade, e enquanto durar este estado de emergência social, o direito à greve deve ser suspenso em todos os serviços públicos

Luís Bravo, dirigente do Sindicato Ferroviário da Revisão Comercial e Itinerante, uma das estruturas que convocaram a paralisação, disse à agência Lusa que a circulação de comboios nas linhas de Cascais, Sintra e Azambuja começou paulatinamente a parar a partir das 21 horas, deixando-se de fazer totalmente pouco depois das 23 — in Diário de Notícias.

A greve da CP que ontem e hoje deixou milhares de pessoas que festejaram o Santo António a dormir na calçada, bem como o plano de greves em curso nesta sobre endividada empresa do Estado, e em geral as interrupções de serviços públicos que têm vindo a ter lugar, são agendadas com o objetivo claro de ferir os mais débeis e os mais fracos da nossa sociedade.

A CP só não foi ainda declarada empresa falida e insolvente porque é uma empresa do Estado. Na realidade, os seus funcionários gozam de regalias e remunerações que lhe permitem um estilo de vida bem acima de quem trabalha em empresas privadas, tendo a democracia populista que temos levado ao extremo o paternalismo e as vantagens económicas tipicamente fascistas que o Estado Novo concedia, em troca de apoio político, claro, a quem dele dependia.

Hoje, face ao colapso evidente e irreversível do estado português, só há uma saída para a CP: privatizar imediatamente os serviços que mal presta e a preços caríssimos — pois além do preço que se paga pelos bilhetes e passes, há ainda que somar a ineficiência gritante do serviço, os dias de greve e, mais grave ainda, o seu gigantesco e criminoso passivo. Tudo isto deve ser contabilizado no preço final que pagamos pelo dito transporte público.

Está pois na altura de declarar o ESTADO DE EMERGÊNCIA SOCIAL nesta democracia populista insolvente. Faz-se em tempo de guerra, mas pode e deve fazer-se também em tempo de paz, proibindo todas as greves dos serviços públicos enquanto durar a brutal austeridade em curso. 

Se os deputados passassem a andar de transporte público, incluindo os do PCP e os do Bloco, perceberiam do que estou a falar!


POST SCRIPTUM

I. Em vez de uma proibição o ideal seria que houvesse uma negociação entre o estado-patrão e os sindicatos da função e das empresas públicas sobre um status quo temporário, onde fossem contempladas garantias profissionais e sociais mínimas aos funcionários, agentes e trabalhadores, e por outro lado estes últimos se comprometessem a uma auto-limitação no uso do direito à greve durante o período de grave austeridade e dificuldades financeiras do país. Este período de auto-limitação de direitos poderia ter uma duração modular de seis meses, ao fim dos quais, as partes se sentariam de novo à mesa de negociações para regressar ao status quo ante, ou prolongar o período de auto-limitação por mais seis meses. Na impossibilidade de chegar a bom porto, ou de sequer iniciar conversações para este fim, mantendo-se as ações de greve com a intensidade atual, o governo deveria promover um Referendo nacional sobre esta limitação temporária de direitos. A pergunta seria muito simples: 
  • ESTÁ DE ACORDO COM A SUSPENSÃO TEMPORÁRIA DO DIREITO À GREVE DOS FUNCIONÁRIOS PÚBLICOS, AGENTES DO ESTADO E TRABALHADORES DE EMPRESAS PÚBLICAS ENQUANTO DURAR O PERÍODO EXCECIONAL DE AUSTERIDADE E DIFICULDADES FINANCEIRAS QUE PORTUGAL ATRAVESSA NESTE MOMENTO?
    • SIM
    • NÃO 
II. E já agora: por que motivo o Governo não tem exigido o cumprimento dos serviços mínimos durante as recentes greves das empresas públicas?  Será porque não lhe interessa ?  Ou porque desconhece ?  Ou porque há responsáveis governamentais coniventes com este tipo de sindicalismo neo-corporativo ? 

No caso do Metro, foram invocadas "razões de segurança" para não serem exigidos os serviços mínimos.  Mas quem é que terá permitido que a definição de "serviços mínimos" resultasse de um conluio entre os sindicatos e as administrações das empresas públicas, tendo por únicos prejudicados o utente (que em geral não anda de carro o dia todo) e a dívida pública ? 

Última atualização: 13 jun 2012 15:50

terça-feira, junho 12, 2012

E agora PPP?

Hock — “mio gps” (2008)

As estradas não vão para o lixo. Logo há que renegociar!

Aproveitar o tremendo e duplo erro que foi o excesso de investimento e a sua implementação numa modalidade de contratação cara e não adequada à realidade portuguesa para – fazendo das fraquezas forças - ajudar a consolidar um conjunto de empresas de um sector em grandes dificuldades, mas com enormes potencialidades de expansão no exterior, é uma oportunidade que seria imperdoável não aproveitar.

Poderia ser aproveitada esta ocasião para, além de reduzir as responsabilidades financeiras do Estado, também para inovar, procurando novas modalidades de redução do envolvimento económico do Estado.

Tomar como critério único ou principal a redução dos encargos financeiros do Estado pode parecer uma necessidade de curto prazo, mas prejudica claramente a perspectiva de médio e de longo prazo de desenvolvimento da economia nacional.

Deveriam ser consideradas outras hipóteses. Pelo menos duas não deverão ser excluídas. Uma: prolongar a duração dos contratos para um horizonte de muito longo prazo, por exemplo, 100 anos. Outra: a venda plena das infra-estruturas ao sector privado.

in “Como renegociar as PPP”, por Avelino de Jesus (Jornal de Negócios, 10 jun 2012)

Avelino de Jesus vem ao terreiro da renegociação das PPPs com duas ideias construtivas: prolongar o prazo das concessões, ou privatizar totalmente as infraestruturas. Friamente, há que pensar nestas duas propostas, e ainda numa terceira: manter portagens mas ajustando-as de forma dinâmica à procura e com descontos controlados para os residentes em regiões mais desfavorecidas.

Ou ainda, sugere um ex-ministro,

“... tipicamente os contratos PPP/concessões têm uma opção para o Governo pagar tudo e ficar com a infraestrurura. Se o contrato for enviesado, o Governo deve pagar à cabeça já o que custou a infraestrutura. Logo de seguida privatiza com um contrato equilibrado. Isto funciona se existir a tal opção e se a Troika perceber de finanças! Nada disto está garantido.”

Trata-se, em suma, de salvar a obra feita, e até terminar aquelas que trazem mais-valias ao país, mas corrigindo os excessos e malfeitorias que os processos das PPP foram sofrendo ao longo da desvairada temporada do pimpão que vive refastelado em Paris sem ninguém lhe perguntar quem paga as contas!

Criminosos até quando?

George Grosz — “Eclipse do Sol”, 1926

 Perdoar os devedores, e não os especuladores!

A crise é bancária. Metastizou-se em crise soberana. E ambas são suportadas pelos “europeus”. Por nós. Só numa democracia doente é que mentir a instituições europeias, como na Grécia, é mais grave que mentir ao povo, como em Espanha. A banca será ajudada. E nós, que lhes dizemos? Nada. Já dissemos tudo um outro. Já escrevemos tudo o que havia a escrever. Falta sofrer. Como é que se regressa do abismo?

Pedro Santos Guerreiro, “Toda a gente mente”, Negócios online (10 jun 2012)

Um editorial lúcido mas derrotista, imperdoavelmente derrotista.

Não basta verificar como todos nós fomos de algum modo embalados pelo fácil dinheiro virtual. É necessário revelar a origem das coisas, e perceber que há três grandes responsáveis pelo colapso financeiro em curso: o gang dos derivados, liderado por nove bancos de investimentos que a ninguém obedecem (1), os bancos imprudentes e/ou especuladores que obedecem ao gang anterior, e os governos de criminosos e populistas que conduziram o mundo a esta situação (2).

Sem chamar os bois pelos nomes, parecemos todos igualmente culpados, quando não somos!

Agora a Europa...

A Alemanha tinha e tem um plano, e estou de acordo com ele: fazer crescer a Europa, mas dotando-a de uma verdadeira estrutura financeira e fiscal coerente, e de um comando estratégico unificado. Claro que para aqui chegar foi preciso mostrar a cenoura a quem não a conhecia, ou não tinha ainda provado. Feita a prova, agora é preciso merecê-la!

Esta é certamente apenas uma parte da verdade. A outra é a guerra fria financeira que entre o dólar e o euro teria inevitavelmente que estalar, e continua neste preciso momento ao rubro! A falência do MF Global, por ter especulado com as dívidas soberanas europeias, ou o sombrio jogo inglês da alavancagem infinita conhecido por shadow rehypothecation, ou ainda as viagens recentes dos ministros das finanças português e espanhol a Washington para ouvirem o que Timothy Geithner tem a dizer sobre a exposição americana às dívidas soberanas ibéricas, são alguns dos exemplos mais evidentes sobre quem está verdadeiramente na origem da presente crise e ao mesmo tempo exposto às suas imprevistas consequências.

Perdeu-se o controlo da situação? É bem possível :(

Talvez por isso a solução convencional, isto é, salvar todos os bancos e todos os políticos, a todo o custo, acabe por ter que ser revista, e umas dezenas largas de bancos e algumas centenas ou até milhares de políticos devam ser irradiados da cena pública, por indecência e má figura, com uma mão atrás e outra à frente — sob pena de uma qualquer Comuna de Paris ressuscitar em versão hard-tecno, mas nem por isso menos cortante!

Recomendo, pois, aos teóricos, e sobretudo aos gasparinhos deste mundo em crise que meditem na sugestão de Steve Keen:

[The banks] have to suffer and suffer badly. They will have to suffer in such a way that in a decade they will be scared in order to never behave in this way again. You have to reduce the financial sector to about one third of its current size and we have to also ultimately set up financial institutions and financial instruments in such a way that it is no longer desirable from a public point of view to borrow and gamble in rising assets processes.

... 
I think the mistake [central banks] are going to make is to continue honoring debts that should never have been created in the first place. We really know that that the subprime lending was totally irresponsible lending. When it comes to saying "who is responsible for bad debt?" you have to really blame the lender rather than the borrower, because lenders have far greater resources to work out whether or not the borrower can actually afford the debt they are putting out there.

They were creating debt just because it was a way of getting fees, short-term profit, and they then sold the debt onto unsuspecting members of the public as well and securitized their way out of trouble. They ended up giving the hot potato to the public. So, you should not be honoring that debt, you should be abolishing it. But of course they have actually packaged a lot of that debt and sold it to the public as well, you cannot just abolish it, because you then would penalize people who actually thought they were being responsible in saving and buying assets.

Therefore, I am talking in favor of what I call a modern debt jubilee or quantitative easing for the public, where the central banks would create 'central bank money' (we cannot destroy or abolish the debt, which would also destroy the incomes of the people who own the bonds the banks have sold). We have to create the state money and give it to the public, but on condition that if you have any debt you have to pay your debt down -- no choice. Therefore, if you have debt, you can reduce the debt level, but if you do not have debt, you get a cash injection.

in ZeroHedge

NOTAS
  1. A exposição dos quatro principais bancos de investimento ao mercado de derivados financeiros OTC (“The Banks And Derivatives: Too Big To Fail Or Too Exposed To Be Saved?” Seeking Alpha, May 18, 2012) é superior ao triplo do PIB mundial. Só a exposição do JPMorgan supera em risco tudo o que o mundo produz num ano! Dos nove grandes especuladores financeiros do planeta, oito são americanos, e um inglês. Mais explicações para quê?

    JPMorgan Chase: 70.151.000.000.000
    Citibank: 52.102.000.000.000
    Bank of America: $50.135.000.000
    Goldman Sachs: $44.192.000.000.000
    HSBC: $4.321.000.000.000
    Wells Fargo: $3.332.000.000.000
    Morgan Stanley: $1.722.000.000.000
    State Street Financial: $1.390.000.000.000
    Bank of New York Mellon: $1.375.000.000.000
  2. “Nunca esperei viver num tempo em que Wall Street e a City tivessem poder suficiente para orientar a opinião pública do mundo ocidental, desenvolvido, a seu favor, depois de terem inquinado o mundo com uma desregulação quase completa da finança. Mas é o que está acontecer” — in José Gomes Ferreira, Estranho tempo, este, em que vivemos, SIC

    Esmiuçando um pouco mais teríamos ainda que acrescentar, nomeadamente a propósito deste notável artigo de José Gomes Ferreira sobre os verdadeiros culpados do colapso financeiro em curso, que o brinquedo chamado Derivados OTC (cujo valor nocional é = 12x o PIB mundial), os covis fiscais de sua majestade a rainha de Inglaterra e similares, e o HFT (High-frequency trading) são os três vértices da grande armadilha financeira desta crise, a qual terá que ser desativada por verdadeiros especialistas (seguir as reflexões deste homem: Steve Keen) e pela vontade férrea da tia Merkel !

    No entanto, as causas profundas são outras:

        1.    o fim do Colonialismo e a ascensão dos BRICS;
        2.    o declínio inexorável do petróleo barato;
        3.    a des-industrialização ocidental e consequente falsificação dos medidores do PIB (mede-se o consumo em vez de medir a produção!);
        4.    a destruição do trabalho produtivo (substituindo os trabalhadores por consumidores).

    A Dona Branca que a malta da City e de Wall Street mal-copiou do génio lusitano (Alves dos Reis e seus legítimos herdeiros) veio tão só atamancar esta sucessão de causas da verdadeira catástrofe que nos espera a todos :(
  3.  
Última atualização: 12 jun 2012 13:46