domingo, junho 24, 2012

O anti Bernanke

Ben Bernanke (Foto: Manuel Balce Ceneta/AP)

Alguém que traduza isto, do inglês para português, e do calão económico para linguagem simples que qualquer autarca ou governante da Tugolândia entenda. No essencial, o que Michael J. Burry diz sobre a América vale para todos nós.


Nem pedófilos, nem piratas económicos foram até agora presos no meu país. É um péssimo sinal. Um sinal de que o Salazarismo afinal não morreu — adormeceu, mas manteve-se no essencial. Continuamos a ter um regime burocrático, paternalista e autoritário, onde o poder se reproduz biologicamente como uma confederação indolente de famílias e clientelas, apesar do partido único ter dado lugar, no mesmíssimo Palácio de São Bento, à reiteração de um estado parasitário secular, embora com mais algumas cores partidárias. O respeito pelo regime é o mesmo, mas o número de beneficiários aumentou tão desmesuradamente que abriu falência. Enquanto não desfizermos este monstro a golpes de transparência, não iremos a parte alguma.

O "crescimento" de que falam Passos de Coelho e inSeguro é um embuste servido em bandeja de prata pela imprensa indigente e mendicante que temos (ver o Expresso deste fim-de-semana).

Do que ambos estão na realidade a falar, sob o pretexto de irrigar a economia e promover o crescimento, é de algo bem diferente: continuar a confiscar o país, destruindo a sua economia antiga e sobrevivente, em nome da perpetuação da partidocracia vigente e da imensa mole de funcionários públicos e equiparados que a sustenta eleitoralmente.

A nossa sorte, no meio do azar, é que a Alemanha já não pode, mesmo que quisesse (e não quer!) continuar a alimentar burros a Pão de Ló.


POST SCRIPTUM

ALAN GREENSPAN, the former chairman of the Federal Reserve, proclaimed last month that no one could have predicted the housing bubble. “Everybody missed it,” he said, “academia, the Federal Reserve, all regulators.”

But that is not how I remember it. Back in 2005 and 2006, I argued as forcefully as I could, in letters to clients of my investment firm, Scion Capital, that the mortgage market would melt down in the second half of 2007, causing substantial damage to the economy. My prediction was based on my research into the residential mortgage market and mortgage-backed securities. After studying the regulatory filings related to those securities, I waited for the lenders to offer the most risky mortgages conceivable to the least qualified buyers. I knew that would mark the beginning of the end of the housing bubble; it would mean that prices had risen — with the expansion of easy mortgage lending — as high as they could go.

Michael J. Burry in "I Saw the Crisis Coming. Why Didn’t the Fed?", April 3, 2010, The New York Times.

Ao contrário do que se possa pensar, Michael J. Burry não é mais um especulador qualquer, que faz das suas "teorias" artilharia para convencer os clientes. Em primeiro lugar, MJB fechou o seu hedge fundScion Capital—, o qual lhe rendeu em menos de oito anos (nov. 2000 a jun. 2008) mais de 400%, enquanto a Standard&Poor's, no mesmo período, apenas arrecadou 2%. Em segundo lugar, MJB aposta na especulação a longo prazo, e não nas bolhas destrutivas de curto prazo. Não é um industrial, mas um financeiro, i.e. colocar dinheiro onde lhe parece que poderá obter rendimentos razoavelmente seguros no médio e longo prazo. Finalmente, a denúncia que fez no The New York Times, em abril de 2010 —“I Saw the Crisis Coming. Why Didn’t the Fed?”—, sobre a incúria das autoridades políticas e financeiras americanas relativamente à tempestade cuja poeira era já claramente visível em 2005-2006, valeu-lhe uma perseguição policial típica das ditaduras burocráticas do Oriente.

Última atualização: 25 jun 2012 11:45

terça-feira, junho 19, 2012

Depois do crescimento



O crescimento exponencial condenado, explicado de modo magistral por Albert Bartlett

Arithmetic, Population, and Energy, by Dr. Albert A. Bartlett

 Four million views for an old codger giving a lecture about arithmetic? What's going on? You'll just have to watch to see what's so damn amazing about what he (Albert Bartlett) has to say.

I introduce this video to my students as “Perhaps the most boring video you’ll ever see, and definitely the most important.” But then again, after watching it most said that if you followed along with what the presenter (a professor emeritus of Physics at University of Colorado-Boulder) is saying, it’s quite easy to pay attention, because it is so damn compelling — in YouTube.

A mundo moderno cresceu ao longo dos últimos duzentos anos à custa de incomensuráveis esforços, indescritível sofrimento e injustiças cuja escala de horror é pura e simplesmente indesculpável. Mas o mais trágico de tudo é que o formidável desenvolvimento tecnológico e social que acompanhou a revolução moderna acaba de bater numa parede matemática implacável.

Os sinais foram evidenciados, entre outros, por M. King Hubbert, em 1956, tendo então demonstrado com fundamento bastante a aproximação do pico petrolífero. A solução que anteviu como única alternativa ao fim do petróleo e do carvão economicamente útil, para dar continuidade a uma civilização humana tecnologicamente avançada, foi a do uso generalizado da energia nuclear, como novo paradigma energético da civilização. Mais tarde, em 1972, um outro relatório, igualmente fundamentado, veio chamar a nossa atenção para a inviabilidade do nosso modelo de crescimento: The Limits to Growth, de Donella H. Meadows, Dennis L. Meadows, Jørgen Randers, and William W. Behrens III.

É possível que tecnologias muito mais seguras e avançadas de energia nuclear venham a dar resposta, pelo menos parcial, ao declínio inexorável dos combustíveis fósseis. Os principais problemas relacionados com a substituição do carvão/petróleo/gás natural por outras energias diz sobretudo respeito aos problemas de armazenagem, estabilização, portabilidade, transporte e preço das unidades de energia essenciais à vida das máquinas que nos assistem, a todo o momento e em quase tudo o que fazemos, e ainda à sua neutralidade relativamente aos demais recursos que extraímos da natureza e transformamos para nosso proveito, nomeadamente a terra arável. Nenhuma das chamadas energias alternativas, baseadas no vento, no Sol, nas ondas do mar, ou em biocombustíveis —do milho, cana de açúcar e pinhão manso, ao cultivo de algas— tem a mínima hipótese de substituir o colossal consumo de energia fóssil que tem alimentado o estilo de vida humano desde o tempo das primeiras máquinas a vapor à era do iPhone.

M. King Hubbert, gráfico sobre a era do carvão e do petróleo (1956)

A recente catástrofe nuclear de Fukushima veio atrasar em pelo menos uma década os esforços de convencer a opinião pública mundial de que existem tecnologias nucleares infinitamente mais seguras do que a dos reatores que derreteram em Chernobyl e no Japão. À medida que sincronizamos as leituras de Nuclear Energy  And The Fossil Fuels, de M. King Hubbert (1956), The Limits to Growth (1972), e Peaking of World Oil Production: Impacts, Mitigation, and Risk Management, escrito por Robert Hirsch para do US Department of Energy (2005), entre outras, o ano de 2030 aparece como o da grande implosão do modelo de crescimento que nos habituámos a ver como algo natural e eterno.

Na realidade, os avisos e os sintomas começaram a ser cada vez mais frequentes e graves desde a primeira crise petrolífera (1973), para cá. O colapso financeiro global em curso desde 2008, e do qual ninguém sabe como sair, ou mesmo se é possível sair, não é mais do que uma gigantesca crise de endividamento global com origem na insustentabilidade demográfica e energética do nosso modelo de crescimento. O buraco desta implosão equivale a mais de 12x o PIB mundial! Quem, como, quando, é que semelhante fossa abissal poderá ser tapada? Até quando este verdadeiro Fukushima financeiro fará sentir os seus efeitos letais? Até 2030? Até 2130? Até 3030? Ou até daqui a cinco mil anos — para usar a escala de Hubbert? Num lapso hilariante da presente crise, o BCE aceitou obrigações do tesouro de Portugal com maturidade prevista para 9999!


POST SCRIPTUM

Motivado por algumas perguntas sobre a veracidade do Peak Oil fiz umas contas rápidas para estimular a reflexão, tendo por horizonte a demografia humana prevista pela ONU e pelo USCB para 2100 e a compilação sobre produção petrolífera de John H. Walsh.

Produção mundial de petróleo (máx.) = 80 milhões de barris/dia = 29.200.000.000 bbl/ano

População mundial (março, 2012) = 7.000.000.000

Produção mundial de petróleo per capita = 4,171 bbl/ano

Crescimento demográfico mundial, líquido, médio e anual, até 2100 : +78 milhões de pessoas/ano

Necessidade suplementar de petróleo (mantendo-se o mix energético atual): +325.338.000 bbl/ano = +1.001.040 bbl/dia

Tendo em conta a queda da taxa de crescimento demográfico mundial, para pouco mais de 1% ao ano (1,1% em 2011), pode dizer-se que para manter os atuais níveis de consumo de petróleo per capita seria necessário aumentar a produção em aproximadamente 1 milhão de barris por dia, em cada novo ano, até 2100. Nesta hipótese teórica, supõe-se que todos os poços de petróleo continuarão a produzir sem esgotar nos próximos 89 anos, ou que novos reservatórios substituirão os que entretanto secarem. Assim, se a partir de amanhã não se produzir 81 milhões de barris por dia, e no ano que vem, 82 milhões bbl/d, e em 2014, 83 milhões de bbl/d, 89 milhões bbl/d em 2020, e assim sucessivamente, o resultado é óbvio: a produção per capita começará a decrescer, as tensões pela partilha do petróleo tenderá a aumentar, e a tudo isto não há como não chamar Peak Oil!

 Última atualização: 19 junho 2011 12:48

segunda-feira, junho 18, 2012

Sexy economics

Lauren Lyster: ninguém faz da economia um tema irresistível, como ela.

Can economics be a sexy entertainment? Yes it can! With Lauren Lyster. Absolutely smart and irresistible ;)

Uma excelente entrevista a Steve Keen sobre "blood banks", governos zombies e a sua proposta para um "modern debt Jubilee"— através do qual se deixaria de resgatar os bancos à custa da miséria dos demais (nomeadamente através da austeridade indiscriminada e do terrorismo fiscal), e se passaria a resgatar os devedores honestos, protegendo os seus ativos e suportando os custos da reestruturação das suas dívidas. Keens não é contra os bancos, considera-os, aliás, essenciais a qualquer economia capitalista. Mas é contra os piratas que tomaram conta do sistema, e a sua artilharia erudita e sibilina encontra-se publicada no seu magnífico blogue: Debtwatch.

A visão de um economista australiano, pós Keynesiano, como a si mesmo se vê, feroz opositor da teoria neoclássica e dos marxistas mas que, como a maioria dos economistas, tem talvez o defeito de pensar que a economia é um sistema acima da realidade, seja esta a que se manifesta nos limites reais dos recursos disponíveis, a demografia ou a que decorre das deslocações tectónicas do poder e riqueza das nações. A minha divergência com Steve Keen é, no entanto, pontual e simples de entender: sem corrigir a interpretação letal de Keynes que permitiu aos bancos, governos, empresas e pessoas endividarem-se alegremente ao longo dos últimos vinte ou trinta anos, como se o mundo fosse um poço de ouro sem fundo, não haverá nenhum automatismo que faça regressar o sistema financeiro a um novo patamar de estabilidade razoavelmente duradouro.




Certamente estimulado pela presente crise mundial, Steve Keen tem vindo a modelizar uma teoria sobre a instabilidade financeira desenvolvida pelo Keynesiano crítico que foi Hyman Minsky. O devoto keynesiano Paul Krugman não terá outra alternativa que não seja estudá-lo, para melhor defender a sua cada vez mais ameaçada Nobel dama!
Most of Steve Keen's recent work focuses on modeling Hyman Minsky's financial instability hypothesis and Irving Fisher's debt deflation. The hypothesis predicts that an overly large debt to GDP ratio can cause deflation and depression. Here, the falling of the price level results in a continually rising real quantity of outstanding debt. Moreover, the continued deleveraging of outstanding debts increases the rate of deflation. Thus, debt and deflation act on and react to one another, resulting in a debt-deflation spiral. The outcome is a depression. Steve Keen argues that the current global economic crisis is the result of too much debt — in Wikipedia.
E já que estamos a escrever sobre piratas e banksters aqui fica a desconstrução realizada por Lauren Lyster da audição de Jamie Dimon no Senado americano a propósito do grande JPMorgan, que perdeu de repente DOIS MIL MILHÕES DE USD e cuja exposição aos contratos de derivados equivale ao PIB mundial!

As our guest Heidi N. Moore puts it, “the mafia has better disclosure than the banking industry.” Sadly, this type of scrutiny was not applied to Jamie Dimon today. Instead, we saw lawmakers who have JP Morgan to thank as a major contributor asking Dimon how they should better regulate JP Morgan! Plus we wonder if Banker Bonus Arbitrage is upon us, when “toxic” assets unloaded on bankers turn out to be the gift that keeps on giving. We discuss a Reuters report that raised a few eyebrows around the CA studio. Demetri and Lauren give you their take in Loose Change.

sábado, junho 16, 2012

Hiperinflação ao virar da esquina ?

Imaginem que um litro de leite Vigor, que hoje custa 0,80€, passaria a custar daqui a um ano OITO MIL BILIÕES DE EUROS (0,8x10E16). Foi o que aconteceu na Hungria depois da Segunda Guerra Mundial!


Uma nota de 1 bilião de dólares do Zimbabué

As rotativas digitais americana e inglesa retomaram a sua criação virtual de liquidez a partir do zero, isto é, a partir do nada!

Todos pressionam para que a tia Merkel faça o mesmo, para tapar o buraco negro do endividamento europeu, começando por encher os bolsos dos grandes especuladores, e expropriando depois a poupança de centenas de milhões de pessoas e empresas. A hiperinflação traduz-se nisto: em vez de o banco não pagar nada pelo dinheiro que lá depositamos (que é a situação que temos hoje, pois os juros que nos pagam são comidos pela inflação real e pelos impostos), passa a pagar juros crescentes, mas a uma velocidade infinitamente inferior à da subida brutal dos preços do que consumimos no dia a dia. A tal ponto que, em poucos meses, todo o dinheiro que temos no banco deixa de valer seja o que for, salvo se foram biliões de euros, e mesmo assim....

Quando o dinheiro perde todo o seu valor, o que passamos a querer em troca de um pacote e leite fresco, não é uma mochila cheia de notas, mas um pão alentejano, um pacote de massa, um quilo de maçãs de Alcobaça, ou uma lata de atum dos Açores. O sinal de que caminhamos para isto é este: todas as empresas do PSI20, salvo as que lidam com petróleo e mercearias, perderam mais de 64% do seu valor nos últimos quatro anos. A Rio Tinto, líder mundial da extração de metais, vai reabrir as minas de ferro de Moncorvo, enquanto a China açambarca ouro, petróleo e cereais usando as suas gigantescas reservas de dólares em contratos de futuros para aquisição de bens essenciais.

É bem possível que Berlim e Frankfurt acabem por ceder, ainda que e apenas na condição de haver uma centralização orgânica dos poderes e dos controlos financeiros, fiscais e orçamentais da União Europeia.

Em suma, depois da deflação em curso, que poderá agravar-se mais ainda até ao fim de 2013, é bem possível que o espectro da hiperinflação na Europa esteja ao virar da esquina, em 2014, ou 2015.

Tempo para ver o histórico deste tipo de calamidade!

Episódios de hiperinflação desde a Revolução Francesa (1789)


Peak Monthly Inflation In 1945 Hungary: 12,950,000,000,000,000% And Other Hyprinflationary Facts | ZeroHedge

Última atualização: 16 jun 2012 23:13

TAP dos Pequenitos

A Alitalia também voava alto até cair nos braços da Barbie!

Esperemos que o regressado Preste João explique aos vendilhões descalços que o seu futuro está em África, sobretudo no norte de África, e nas Honduras!

Brisa 'empenhada' em ganhar privatização da ANA Aeroportos

...a Brisa pergunta qual será o modelo a seguir, já que no projecto anterior «estava previsto um grande aeroporto em que o investimento seria de 3.000 milhões de euros», refere Eça Pinheiro, adiantando que, sem novo aeroporto, «o modelo pode ser outro».
Outra das incógnitas é saber «o que o contrato vai impor ou não relativamente ao futuro aeroporto de Lisboa, até porque, mais tarde ou mais cedo, a Portela vai esgotar a sua capacidade» — in Sol.

O negócio de chulos que foi aprimorado no tempo do Pinóquio era um 5 em 1, mais ou menos assim: quem ficasse com TAP (sempre esteve previsto entregá-la a uma das famílias do regime) e com o seu buraco de 3 MIL MILHÕES DE EUROS (é esta a estimativa oficial da Blogosfera) herdava a ANA, limpa de pó e palha e com as tetas sempre a esguichar euros, herdava os terrenos da Portela (aqui com a obrigação de compartilhar o naco com o senhor Ho), recebia os arredores do NAL da Ota em Alcochete algaleados pelos autarcas comunistas e socialista da zona, e ainda, vejam só, a trabalheira de construir e explorar um novo aeroporto e a célebre cidade aeroportuária do adiantado Mateus.

Seria uma lotaria que nem o mais gordo dos Euromilhões!

Só que desde o início desta conspiração tive a oportunidade de explicar que a Blogosfera via mais este golpe do Bloco Central da Corrupção 1) como uma vigarice que nem no Uganda; 2) como uma impossibilidade prática por causa do Peak Oil e da crise financeira que já se avistava, bem gorda, no horizonte.

Foi então que assistimos a uma corrida contra o tempo —NÃO AO TGV, SIM À OTA! PERDÃO, A ALCOCHETE!—, gritavam todos em uníssono através das suas caninas agências de comunicação. Até que o Pinóquio tropeçou, vejam só, na descomunal dívida pública e externa do país, para a qual também muito contribuiu e da qual, pelos vistos, obteve fartos proveitos, por interpostas pessoas — ao que dizem.

E tropeçou, porque a dado momento os bancos de Wall Street e da City, que mantinham a nossa insolvente banca a flutuar, enviou um e-mail lacónico aos banqueiros com a seguinte frase: DEIXÁMOS DE PODER ASSEGURAR A VOSSA INSACIÁVEL NECESSIDADE DE LIQUIDEZ.

Na mesma tarde os nossos banqueiros anarquistas almoçaram, ficaram de caganeira, telefonaram-se aflitos sobre se teria sido do marisco, mas logo perceberam que não. Estavam simplesmente borrados de medo. E para o superar combinaram: vamos convocar o Pinóquio! E assim foi. Convocaram e disseram-lhe: SENHOR PRIMEIRO MINISTRO, A MASSA ACABOU!

O resto já sabemos como foi...

Foi pena terem subavaliado o poder da Blogosfera!




A TAP está falida e arrumada :(

Mas não teria que ter sido assim. O seu tráfego ponto-a-ponto foi literal e paulatinamente sugado pelas companhias de  baixo custo: Ryanair, easyJet, Air Berlin, transavia.com, Blue Air, restando-lhe agora o hub Brasil-Europa, Angola e os ossos do serviço público a que não pode escusar-se: Madeira e Açores.

O cenário era mais do que previsível e foi aqui explicado até à exaustão. Mas a barragem de propaganda e contra-informação do gaúcho Pinto foi sempre mais forte, e manteve tudo e todos sob o império da genial privatização para a qual, em primeiras núpcias, o mesmo gaúcho foi contratado com soldo milionário. O resultado está à vista: uma empresa sobre-endividada, que ninguém quer (apesar dos castelos no ar a este propósito mais uma vez construídos por quem já nada mais faz do que fugir desesperadamente às responsabilidades), que continua a ter mais trabalhadores do que a easyJet, Ryanair e Air Berlin juntas, e que se encontra há muito despida de qualquer estratégia.

Faltará ainda algum argumento para despedir com justa causa todo o CA da companhia?

O tempo da reestruturação sob patrocínio estatal acabou. Como não é possível injetar mais dinheiro governamental (isto é, dívida pública) nesta arruinada empresa, nem os exaustos bancos lusitanos podem já com uma gata pelo rabo, só resta uma solução: fechar a empresa, vendendo a marca, os slots, os pilotos, o pessoal de manutenção técnica e as aeronaves a um grande grupo europeu, pois, sabe-se agora, não é possível vender a maioria de uma companhia aérea europeia a investidores não comunitários. Para todos os efeitos, até pelo abismo para que a Espanha caminha rapidamente, o melhor mesmo é negociar com a Lufthansa.

Sul-americanos, asiáticos e africanos estão definitivamente fora deste campeonato. E os melros que por cá andam, encontram-se todos (salvo o Pingo Doce, creio) secos que nem carapaus.

Se não queremos ver a TAP passar à condição de mero brinquedo da memória, é bom que este governo se apresse a tomar este assunto em mãos com a dose de coragem exigida. O gaúcho hibernou, e espera fazer cair algum ministro até ao fim do ano. Que tal confrontar o gabiru com as suas responsabilidade?

PS: Sussurou-me quem sabe, que o Montijo pode ser a bóia de salvação para muita gente, da Groundforce e da nova TAP ;)

quinta-feira, junho 14, 2012

Quem parará este dominó?

As semelhanças são surpreendentes!
©2008-2012 *cycoze

À segunda vez, chama-se pânico!

Alemanha emite dívida a taxa negativa antes de eleições na Grécia

As obrigações vendidas pelo Governo liderado por Angela Merkel têm maturidade em Abril de 2018 e foram vendidas a um preço que lhes confere uma taxa de juro implícita de -0,31%, segundo os dados da Bloomberg relativos à emissão. A procura foi equivalente a 2,25 vezes a oferta, ficando acima da média deste ano, segundo a Reuters — Jornal de Negócios.

Na realidade, isto significa que estamos a caminho da deflação, por queda imparável do valor dos ativos, e pior ainda, prenuncia um colapso financeiro e monetário em larga escala. É por isto que os bancos deixam o dinheiro que pedem emprestado ao BCE, no próprio BCE (!), e é por isto que os fundos de investimento, as grandes fortunas (nomeadamente dos piratas gregos) e os bancos começaram uma corrida para se protegerem debaixo das asas da tia Merkel. Paga-se para que a Alemanha aceite os nossos empréstimos.... na esperança de ver algum no fim desta corrida de lémures.

Antes de multiplicar a massa monetária europeia, os alemães quererão certamente receber mais cartas de capitulação soberana como a que Rajoy escreveu, querem fundir uma ou duas dúzias de bancos e caixas públicas por essa Europa fora, querem concentrar algumas indústrias e serviços estratégicos do espaço europeu, querem avançar politicamente na união fiscal e financeira da UE, querem ver encolher alguns dos grandes especuladores americanos (Lehman Brothers, Madoff e MF Global já foram; Morgan Stanley e JP Morgan vão a caminho, outros se seguirão) e, por fim, esperam poder domesticar a City londrina e os covis fiscais propriedade pessoal de sua majestade inglesa Isabel II...

Todos contra o euro, ou todos contra o dólar? Sabemos que ao lado do euro estão a China e a Rússia. E que contra os EUA está o mundo inteiro. Grande expectativa pois para o próximo Domingo e para a infernal semana depois das eleições gregas. A provável entrada da Itália no clube dos resgatados ainda este mês ou o mais tardar em julho será a próxima dor de cabeça para todos nós.

Monti calls for political unity, fears domino effect

Prime Minister Mario Monti made a dramatic appeal to Italy's politicians yesterday (13 June) to back his tough economic medicine to avoid the country becoming the next victim of the euro debt crisis. Moody’s downgraded Spain and Cyprus, and panic mounted in Greece ahead of a Sunday vote that could see the country leave the eurozone — EurActiv.

Juros espanhóis disparam para máximos históricos depois de corte de "rating"Jornal de Negócios.

Preço da dívida soberana espanhola cola aos 7%

Almunia insiste en la posibilidad de que desaparezcan bancosHoy.

Como esta madrugada escrevíamos: depois da desclassificação da dívida soberana espanhola (perdeu todos os 'A's) por parte de todos os vendilhões de notações financeiras, virá o downgrading dos grandes bancos privados espanhóis (BBVA, Santander, etc.) e uma subida imparável dos juros implícitos a pagar por novas emissões de dívida pública. 6,926% é para todos os efeitos 7%, e 7% de incremento seja no que for significa que para um tempo T, qualquer quantidade Q duplica ao fim de 10T: montante, tamanho, intensidade, velocidade, etc. Ou seja, um empréstimo de 100 mil milhões de euros, a 7% de juros implícitos ao ano, pedidos em 2012, serão 200 mil milhões a pagar em 2022 :(

A menos que não se pague.... ou se pague apenas uma parte. Foi este género de PSI, ou de carecada nos benefícios esperados (haircut), que derrubou a MF Global e vai derrubar ainda muitos especuladores, bancos e fundos de investimento. O problema está, contudo, no perigo de um repúdio da dívida odiosa, se ocorrer de forma tumultuosa e descontrolada, arrastar também para o abismo a poupança de boa fé que, por exemplo, foi canalizada para os fundos de pensões. Daí a oportunidade das reflexões do economista australiano Steve Keen sobre a necessidade de proceder a um jubileu da dívida que castigue os especuladores, mas salve os devedores que honestamente pouparam e investiram.


 

Max Keiser: toutes les banques du monde entier sont insolvables.

Todos os grandes bancos estão basicamente em situação de insolvência. É por esta razão que os bancos centrais estão a comprar ouro. Ouro mesmo, não confundir com certificados de ouro, ou com ouro digital, pois estes últimos são mais uma das fantasias especulativas que podem esfumar-se em menos de um segundo (como Gerald Celente teve a oportunidade de saber da pior maneira). Ouro, mas ouro que se possa morder!

E quem pode, como a China, está também a acumular reservas de petróleo, matérias primas e bens alimentares desfazendo-se enquanto é tempo do papel higiénico verde que atulhou nas últimas duas décadas em troca das exportações que arrasaram a indústria americana, e não só. Se ao menos fosse Renova Black!

Desde 2008 que recomendo a compra de ouro, prata e quintinhas com água, boa terra e proximidade dos centros urbanos. Recomendei também que quem vivesse em periferias mal servidas de transportes e distantes do local de trabalho que vendesse as casas e se aproximasse dos centros urbanos e dos nós de transportes públicos (mesmo trocando um T4 por um T2, ou um T3 por um T1).

Agora já é provavelmente tarde para vender seja o que for, pois o dinheiro ou desapareceu, ou está guardado para as emergências. Se as coisas piorarem, como parece que vai acontecer, a solução já não passa pela venda de ativos, pois haverá que dá-los às hienas que andam por aí à espera de carne ferida, mas pela cooperação ativa das pessoas, começando pela família e pelos amigos. Há que partilhar recursos e partilhar o que temos, defendendo até ao limite o que foi poupado ou herdado.

O pior que nos poderia acontecer a todos seria corrermos para o abismo da deflação, pois deste buraco não sairíamos nada bem.

The Man Nobody Wanted to Hear
Global Banking Economist Warned of Coming Crisis

William White predicted the approaching financial crisis years before 2007's subprime meltdown. But central bankers preferred to listen to his great rival Alan Greenspan instead, with devastating consequences for the global economy — Spiegel Online.

quarta-feira, junho 13, 2012

A rendição de Madrid

Diego Velázquez, “A Rendição de Breda”, óleo s/ tela (1635)

De Breda a Madrid a cortesia pode manter-se e até haver, finalmente, uma Europa mais forte e solidária

Excmo. Sr. Herman Van Rompuy
Presidente del Consejo Europeo
Bruselas

Excmo. Sr. José Manuel Durão Barroso
Presidente de la Comisión Europea
Bruselas

[...]

... es esencial que os líderes europeos pongamos de manifiesto nuestro compromiso decidido y contundente con la moneda única. Es decir, es necesario deja[r] claro que, a medio plazo, la unión reforzará su arquitectura institucional común. Ello, sin duda, supone avanzar en la integración o, si ustedes lo prefieren así, mayor cesión de soberanía, en particular, en los ámbitos fiscal y bancario.

En el ámbito fiscal, ello supone crear una autoridad fiscal en Europa que pueda dar una orientación a la política fiscal en la zona euro, que armonice las políticas fiscales de los Estados Miembros y que permita un control de las finanzas centralizado, además de ser la gestora de la deuda europea. Un compromiso en esta línea daría una señal de confianza en el euro imprescindible en el momento actual.

En el ámbito bancario, es necesario contar con una supervisión a nível comunitario y uno fondo de garantía de depósitos común.

No es necesario decidir ahora cómo lo haremos. Basta con manifestar el compromiso con este objectivo y ponerse a trabajar en ello para diseñar un plan, un calendario y unas condiciones para consecución. El futuro del euro, depende de que demos inicio a este debate. No será un camino fácil, pero es un objectivo ineludible en torno al cual todos debemos estar de acuerdo. Esta “Unión fiscal e bancaria” se impone ya como inaplazable objetivo en el proceso de construcción europea. La reunión del Consejo Europeo del 28 y 29 de junio próximos es una oportunidad inaplazable para ello.

Atentamente,
Mariano Rajoy Brey
Presidente del Gobierno de España
(Para ler a carta completa — PDF)

Por mais que o primeiro ministro de Espanha tentasse esconder, a rendição de Madrid a um bem maior chamado Europa está claramente expressa na carta que escreveu a Bruxelas.

Depois da Espanha, com Chipre e a Itália na bicha do resgate, parece que nos encaminhamos rapidamente para o famoso end game de que tanto falam os cronistas ingleses e americanos. No entanto, o fim deste jogo pode ser algo diferente do que os emissores imparáveis de dólares e libras esterlinas, e os especuladores da laia do JP Morgan, esperam. Em vez do colapso do euro poderemos desaguar finalmente numa União mais consciente das cedências nacionais imprescindíveis ao bem comum.

É claro que a Alemanha aparece neste xadrez como uma estratega vencedora, mas o preço, para ela e para todos nós, será sem sombra de dúvida muito grande: mais austeridade ainda (que a ser excessiva e prolongada pode matar o doente — como parece provar o efeito mortal da deflação japonesa, assinalado por Albert Edwards/Peter Tasker), dolorosas reformas estruturais e a negociação absolutamente imprescindível dum Novo Pacto Social Europeu, que assegure ao mesmo tempo a liberdade, a cultura, a racionalidade económica, a saúde das pessoas, a solidariedade entre gerações e uma cooperação inteligente com a Natureza de que somos parte, mas nunca fomos nem seremos, nem mestres, nem donos.


Última atualização: 13 jun 2012 19:53