sábado, julho 14, 2012

Banksters e ogres

Le Petit Poucet (o pequeno polegar), Gustave Doré (1832-1883) illustração. in Wikipedia.

Há uma lógica intrinsecamente assassina na luxúria financeira

Con menos de la mitad de la fortuna de los ricos se pagan las deudas de la Eurozona

“Economistas alemanes abogan por que los mas adinerados contribuyan a resolver la crisis de la zona del euro obligándoles a comprar deuda pública, o, como alternativa, estableciendo un impuesto temporal que grave las grandes fortunas.”

“Con menos de la mitad de la fortuna de los ricos, concretamente, con el 40% de su patrimonio, se podría pagar la totalidad de la deuda que acumulan los estados que comparten el euro.”

“La discusión en Alemania tiene su origen en las propuestas presentadas por el prestigioso Instituto Alemán de Estudios Económicos (DIW) de Berlín para que los mas adinerados contribuyan a resolver la crisis de la zona del euro, entre ellas la de la compra forzosa de deuda pública.”

in Público.es

Se 99% da população europeia está a ser progressivamente expropriada de mais de 30% da sua poupança, sob a forma de confisco fiscal, desemprego em massa, inflação dissimulada e desvalorização de ativos, não percebo porque é que este sacrifício não pode ser melhor redistribuído, abrangendo também os 1% de ricos e muito ricos desta envelhecida e decadente Europa.

Mas percebo isto: sem uma enorme pressão popular e em particular das classes médias profissionais, o confisco fiscal e o desemprego em massa prosseguirão, pois os poderes políticos-partidários, legitimados pela preguiça e por uma inacreditável ingenuidade democrática dos povos, foram na sua grande maioria capturados pela armadilha do endividamento, e as criaturas que os exercem são quase sempre mordomos e motoristas atentos e obrigados da grande cleptocracia financeira gerada pela dita "globalização".

Os banksters, que são a versão financeira pós-moderna dos míticos ogres retratados magistralmente por Gustave Doré, não deixarão a sua posição dominante se não à força de novas leis, várias condenações em tribunal, e até alguns encontrões na praça pública.

Por sua vez, as criaturas que simultaneamente exercem o poder e estão na folha de pagamentos da cleptocracia pós-moderna também não desistirão das suas posições privilegiadas enquanto não forem expostos e corridos de onde estão pela fúria democrática que, felizmente, cresce dia a dia.

Se a concentração financeira e a substituição tecnológica do trabalho vieram para ficar, então teremos que rever de alto a baixo o Contrato Social. Colocar o mundo inteiro no desemprego, obrigando-o a pagar as dívidas impostas pelas malhas da especulação montada pelos ogres da globalização é o mesmo que regressar à escravatura e ao arbítrio ilimitado e Kafkiano do poder. A pouco e pouco vamos todos percebendo que é urgente reagir e parar a luxúria insaciável e assassina dos novos ogres.

99% da população europeia corre sérios riscos de cair numa servidão pior do que a servidão da gleba, pois agora já nem um pedaço de terra temos para cultivar as couves, o feijão, o milho e as batatas!

O Capitalismo, como sempre, entrou num período sujo e sangrento de destruição dos excessos de capacidade produtiva e de produção, acrescido agora de um extraordinário excesso de endividamento geral em consequência do acumular de bolhas especulativas engendradas e impostas pelos banksters de Wall Street e da City — Goldman Sachs, JP Morgan, Morgan Stanley, Bank of America, Citibank, HSBC, e alguns mais. Só que desta vez exagerou, e o tiro acabará por sair-lhe pela culatra.

O Capitalismo pensava que tinha dominado finalmente os efeitos indesejáveis da Revolução Francesa. Mas engana-se. As novas guilhotinas populares poderão surgir de um momento para o outro, em qualquer lugar, e alastrar como fogo na pradaria num dia de vento! Até agora, alguns piratas financeiros já foram de cana, nomeadamente nos Estados Unidos. Não tardaremos a saber de fuzilamentos na China a este mesmo propósito. E na Europa, a procissão popular contra o esbulho só agora começou. Temos, pelo menos, mais uma ou duas décadas de fúria cumulativa pela frente.

Seria, no entanto, conveniente fazer desta fúria um momento construtivo e de inovação civilizacional, em vez de repetirmos os erros e as litanias igualmente assassinas dos epígonos miseráveis do marxismo. Se formos por aqui, persistindo na fé que muitos temos mantido na dita Esquerda, esperam-nos apenas tempos de destruição em massa :(

Se, pelo contrário, aproveitarmos o potencial das novas redes tecnológicas e sociais,  e a cultura cosmopolita e conhecimentos técnicos acumulados ao longo dos últimos cinquenta anos, veremos que o potencial de acomodação da presente crise sistémica do Capitalismo, e sobretudo da sua superação para um patamar civilizacional mais equilibrado e sustentável, sem perder, nem a liberdade, nem a democracia, abre cenários de criatividade social a uma escala nunca vista, nem experimentada.

A globalização dos ogres pós-modernos tem que ser substituída por uma globalização verdadeiramente humana e panteísta.

sexta-feira, julho 13, 2012

Outro governo, por favor!

Portas falou como homem de estado no último estado da nação. Et pour cause! Foto © ASF

Tal como sucedeu ao governo de Sócrates, a falta de ética de Pedro Passos Coelho, num país aflito, varrerá do mapa o seu governo em menos dum ápice

Manifestações pela demissão de Relvas convocadas nas redes sociais
Em pouco mais de 24 horas, centenas de pessoas já confirmaram no "Facebook" a intenção de aderir às duas manifestações que exigem a saída do ministro dos Assuntos Parlamentares, uma em frente à Assembleia da República e outra no Terreiro do Paço.
Jornal de Negócios on-line, 11 julho 2012.

Passos Coelho renova total confiança em Miguel Relvas
Passos Coelho mantém confiança em Miguel Relvas, sendo esta a terceira vez que tem que o fazer, noticia o “Diário de Notícias”, que cita conversas entre o primeiro-ministro dirigentes de topo do PSD.
Jornal de Negócios online, 11 julho 2012.

Se Miguel Relvas ao menos fizesse o trabalho sujo, i.e. privatizasse a RTP, reformasse as autarquias, etc..., mas não, desta criatura vamos tão-só conhecendo o traste, enquanto o governo paralisa sob a batuta de mais um PM que não passa de mais uma bela voz partidária, com vassalagens devidas dentro e fora do partido, à esquerda e à direita — uma desgraça, portanto, anunciada.

Passos de Coelho vive em simbiose partidária com um obstáculo aparentemente intransponível à governação. Ainda por cima, um obstáculo protegido pelo esfacelado e execrável Grande Oriente Lusitano. Governo ao fundo? Lá para a 6ª ou 7ª avaliação da Troika é bem provável.

Cavaco terá então o seu momento de glória crepuscular, salvando, por assim dizer, o seu desastroso ministério presidencial. Perante a incapacidade adolescente de Passos de Coelho e a paralisia total do governo (provavelmente depois de Gaspar e Santos Pereira baterem com a porta, estrondosamente) Cavaco Silva demitirá o rapaz de que nunca gostou e chamará de novo o PSD a formar governo, como lhe compete, e para não prejudicar a maioria eleitoral. Nessa altura, Paulo Portas terá a faca e o queijo na mão: ou será primeiro ministro com esta maioria, ou será PM de um governo de emergência nacional, a três, com um PSD então chefiado por Paulo Rangel, e com o seminarista António José Seguro pelo PS. Estranho? Não, normalíssimo por essa Europa fora.

A situação financeira continuará a agravar-se em Portugal, no resto da Europa e no mundo. A economia continuará estagnada, mais alguns milhares de empresa entrarão em falência, e as pessoas continuarão sem dinheiro. A balbúrdia vai chegar mais depressa do que podemos deduzir da lenga-lenga dos cagarros parlamentares e do incorrigível, diário, oportunista e populista discurso monocórdico dos parasitas partidários do regime. Num certo sentido, este regime já morreu, e é urgente fabricar outro, com outra Constituição, etc. Falta, porém o mais difícil: como?

quinta-feira, julho 12, 2012

O precipício

Charles Hugh Smith resume neste gráfico o fim do "sonho americano"

Paulo Portas, otimista, verberou a insaciável e demagoga "esquerda" sobre a metáfora do precipício do endividamento. Mas a verdade é que ainda não demos um passo atrás. Continuamos no ar como o coiote americano!

A classe média americana está a pedalar no vazio centrífugo da sua impagável dívida. Lembram-se do Wile E. Coyote (mais conhecido pelo Road Runner), de Friz Frelend/WB, a pedalar no ar, antes de se precipitar a grande velocidade pelo desfiladeiro abaixo nas Montanhas Rochosas? Pois foi esta a excelente metáfora encontrada por Charles Hugh Smith para ilustrar a dramática situação da classe média americana.

Nos EUA, na Europa, no Japão (pioneiro nesta desgraçada depressão) e até na China as taxas de juro de referência praticadas pelos bancos centrais não têm parado de descer, estão próximas do zero no Japão, EUA e Europa, e nalguns casos mesmo, abaixo de zero (como já sucedeu numa recente colocação de dívida alemã); os ativos-fantasma dos bancos estão a ser transformados em capital de reserva puramente virtual, ou melhor dito, fraudulento. Resultado: a dívida da classe média, sobretudo nos Estados Unidos e na Europa, pois no Japão a classe média já morreu, e na China poderá vir a revelar-se um nado-morto, disparou para níveis catastróficos :(

Os gráficos do artigo de Charles Hugh Smith, The Global Economy: It's All About Increasing Leverage  (July 10, 2012), embora relativos apenas aos EEUU refletem uma situação aflitiva que não é muito diferente da existente, e que se agrava dia a dia, na Europa

“…the incomes of 90% of American households has gone nowhere for the past 40 years.”

(…)

The same reliance on leverage has occurred in China, Japan, Europe and the U.S.
The entire global economy’s “growth” was based on increasing leverage. That machine has soared off the cliff, and now the Empire’s global army of toadies is desperately attempting to mask this reality by substituting phantom assets for actual capital.

They can't do anything about lowering interest rates, though; that mechanism has already been maxed out as rates approach zero.”

O Capitalismo da abundância morreu, e morreu por duas razões:
  1. porque acabou o petróleo barato, e em geral as boas terras agrícolas, as sementes e as matérias primas a bom preço, num mundo muito desigual e que cresce, na economia, no consumo e na demografia, de forma caótica e insustentável;
  2. e porque, na luta contra a queda tendencial da taxa de exploração e consequente procura incessante de trabalho barato, o Capitalismo forçou as ricas economias americana e europeia (corrompendo para tal as respetivas nomenclaturas políticas e burocracias) a perderem as suas bases industriais, nomeadamente deslocalizando-as para as suas antigas colónias e protetorados asiáticos, latino-americanos e africanos.

Deste declínio imparável do Ocidente resultará em breve um grande conflito à escala planetária, pois não creio que as classes médias americanas e europeias se deixem pura e simplesmente liquidar pelos 0,5% de abutres contabilizados. E a razão é simples: as democracias industriais e tecnológicas, tais quais as conhecemos, foram imaginadas e desenhadas pelas e para as classes médias que somos e conhecemos, pretendendo nós, pelo menos no plano das intenções e da ideologia, que a democracia, o crescimento, a solidariedade social e a cultura fossem bens progressivamente acessíveis à esmagadora maioria das populações e das sociedades banhadas pelo "progresso" e pela "modernidade". Sem nós o mundo do conhecimento, da técnica, do consumo e do espectáculo pura e simplesmente deixará de existir. E se tal acontecer, os 0,5% que arrecadam mais de cinco ou seis milhões de dólares, libras, francos ou euros por ano esfumar-se-ão também no meio da tempestade. Alguns mesmos perderão as suas lindas cabeças pelo caminho!

A minha recomendação à classe média portuguesa continua, pois, a ser a mesma: livrem-se das dívidas que poderão não conseguir pagar daqui a uns anos, vendam o que não tem futuro (papel bolsista, casas em zonas deprimidas e afastadas dos centros urbanos com alguma vitalidade), e invistam parte das poupanças em imobiliário nos centros urbanos em crescimento demográfico (Cascais, Sintra, Setúbal, Lisboa...), sobretudo comprando boas casas a bom preço, bem situadas e servidas de transportes e serviços, que precisem de algumas obras, mas não demasiadas, e comprando ainda quintas e quintinhas com água e potencial agrícola, frutícola, florestal, a menos de 100Km das principais cidades e vias de comunicação ferroviária e rodoviária. E, já agora, comprem ouro e prata (em barra e moedas), pois o dinheiro vale cada vez menos a cada mês, semana e dia que passam :( E já agora organizem-se! Em grupos profissionais, em grupos de interesse, em tertúlias culturais, e em novos partidos, pois os que existem estão mortos, jazem e apodrecem, como ontem pudemos constatar no caricato debate da nação.

A situação é trágica, mas convém manter algum sentido de humor e criatividade no meio do naufrágio em curso...



POST SCRIPTUM
According to the conventional account, the Great American Middle Class has been eroded by rising energy costs, globalization, and the declining purchasing power of the U.S. dollar in the four decades since 1973. While these trends have certainly undermined middle-class wealth and income, there are five other less politically acceptable dynamics at work:

1—The divergence of State/private vested interests and the interests of the middle class 
2—The emergence of financialization as the key driver of profits and political power 
3—The neofeudal “colonization” of the “home market” by ascendant financial Elites 
4—The increasing burden of indirect “taxes” as productive enterprises and people involuntarily subsidize unproductive, parasitic, corrupt, but politically dominant vested interests 
5—The emergence of crony capitalism as the lowest-risk, highest-profit business model in the U.S. economy.

in “Middle Class? Here’s What’s Destroying Your Future | Why it’s harder than ever to build wealth” by Charles Hugh Smith Wednesday, July 11, 2012, 8:36 PM

Ao contrário do que possa parecer, este não é um problema só americano, mas também europeu, e porventura mundial — pelo menos onde existem classes médias. As democracias ocidentais foram literalmente capturadas por novas elites financeiras que por sua vez trazem no bolso a corja partidária que disputa e ganha eleições.

Última atualização: 12 julho 2012 21:16

quarta-feira, julho 11, 2012

TAP desesperada

Pluna, companhia uruguaia de aviação sucumbe e deixa passageiros em terra.


O anunciado road show não é para vender a TAP!

Por enquanto, é para vender as dívidas que a TAP acumulou e continuam por liquidar, nomeadamente, junto do BES e do Credit Suisse. O banco português está envolvido no leasing de alguns dos aviões operados pela companhia, e o Credit Suisse tem dívidas por cobrar pendentes desde o fiasco da entrada da ex-Swissair, entretanto falida e encerrada, na TAP (1). 

Ou seja, é a pressão dos credores que empurra o governo, especialmente depois de se saber que os 100 mil milhões prometidos à Espanha não são nem favas contadas, nem chegarão tão cedo. Por outro lado, nos tempos que correm nada parece mais volátil do que o negócio dos aeroportos que são especulações imobiliárias falhadas (Beja, Ciudad Real, etc.), ou do que o próprio transporte aéreo, sobretudo envolvendo países e empresas insolventes (recuo do governo espanhol na privatização da ANA espanhola, a AENA, colapso da Pluna, etc.)

A Pluna, companhia aérea de bandeira do Uruguai desde 1937, acaba de falir de forma caótica, deixando os passageiros especados nas pistas e aeroportos, ao mesmo tempo que se anuncia o leilão dos aviões Bombardier recentemente adquiridos, para pagar dívidas :(

Quem tem o destino da TAP nas mãos que medite bem neste triste fim, pois pode muito bem vir a ser aquele que os piratas que a dirigiram na última década inadvertidamente acabaram por reservar, com as suas aventuras, à companhia de bandeira portuguesa fundada em 1945, oito anos depois da Pluna. Quiseram os ditos piratas subordinar a TAP à especulação com os terrenos da Portela e à construção de um novo aeroporto na Ota, sob o pretexto da saturação incessantemente fabricada da Portela. O resultado foi trágico: nunca a TAP esteve tão perto de sofrer o mesmo destino da Swissair, da Alitalia e da Pluna!

A TAP tem um passivo acumulado na ordem dos três mil milhões de euros, compromissos de compra de novos aviões na ordem de outros tantos três mil milhões, e um futuro de prejuízos operacionais pela frente, em grande medida causado pela estratégia aventureira e em última análise suicida da administração presidida por Fernando Pinto, mas de que foi cúmplice acéfalo, ou comprometido e interessado (há que averiguar!), o anterior governo "socialista".

Como aqui se escreveu, os passeios turísticos do presidente da república e do ministro Portas tentando vender a TAP a asiáticos e latino-americanos, quando nem sequer havia caderno de encargos e, por outro lado, se sabia que a maioria do capital social de companhias aéreas como a TAP está reservada aos europeus, só pode ter um significado: não andaram a tentar vender a empresa, mas sim as suas dívidas, em nome de um putativo futuro radioso. Só que, como todos sabemos, futuros e derivados são produtos tóxicos que ninguém quer.

E agora?

A viagem de Álvaro Santos Pereira será certamente uma última e desesperada tentativa de encontrar um comprador generoso para a dívida colossal da TAP. BES e Credit Suisse exigem-no, pois têm as cordas da desalavancagem a apertar-lhes os pescoços, e por outro lado, como aqui se repetiu uma e outra vez, nenhum maluco estará disponível para comprar um monte de vendavais que ainda por cima só dá prejuízos. Primeiro, há que embrulhar muito bem o buraco financeiro da TAP num desses veículos da farsa especulativa em curso fabricados pelo chamado shadow banking, garantindo assim que, em última instância, a dívida soberana portuguesa garantirá os contratos. Depois de limpa a empresa dos passivos horrorosos, então sim, pode procurar-se um noivo para casar.

No entanto, que garantias pode um estado soberano enterrado em dívidas até às orelhas oferecer? Este é o cabo quase intransponível do imbróglio chamado TAP.

A ANA, ao início da madrugada de hoje (11 de julho, 00:01), veio opinar (opinar, a ANA?!) sobre o Montijo, mas sobretudo vender a ideia da conveniência de avançar para Alcochete. Ricardo Salgado disse exactamente o mesmo há uma ou duas semanas atrás. Este episódio de propaganda mostra uma vez mais até que ponto a corja que praticamente liquidou a TAP não aprende. Desde quando é que a ANA tem opinião?! A tradução desta pseudo notícia fabricada pelas agências de propaganda do BES e do gaúcho é esta: a quem levar a TAP ainda oferecemos de borla, a ANA e um novo aeroporto em Alcochete! É o mesmo três em um que Rebelo de Sousa há mais de um ano emprenhou pelos ouvidos e cantarolou nas tretas do Professor Marcelo.

Esperemos que a McKinsey, a Deloitte e o ministro da economia encontrem as pessoas certas na Alemanha. O Passos que não largue a tia Merkel. Não podemos contar, nem com Paris, nem com Londres, nem muito menos com Madrid.

Esperemos que a magia destes mosqueteiros chegue para transformar o peso da dívida numa miragem de prosperidade!

Esperemos que, depois de conseguido este dificílimo objetivo, procedam a um spin off certeiro da TAP, que a torne finalmente atrativa aos olhos de uma... Lufthansa.

Aviso: prometer um novo aeroporto em Alcochete como contrapartida para engolir uma dívida de três mil milhões de euros é prometer um embuste, pois nada substituirá a rentabilidade certa da solução Portela+Montijo nos próximos dez ou vinte anos. E depois desta data, ninguém sabe como vai ser o mundo!

POST SCRIPTUM — o inexplicável e sucessivo atraso da inauguração da nova estação de metropolitano do aeroporto só pode ter um significado: evitar a percepção pública, e dos putativos interessados num novo aeroporto, na Ota ou em Alcochete, com fecho concomitante da Portela, da utilidade e dos benefícios de manter o aeroporto da Portela em pleno funcionamento.


NOTA
  1. João Cravinho, em vez de responder em comissão de inquérito pelo desastre da TAP, dedica-se agora a comentar o país como se fosse um mero espectador. A gente da aviação tem, no entanto, sobre este ex-ministro do PS, uma opinião claríssima: 
"João Cravinho, o mesmo que praticamente arruinou a TAP. Foi ele o responsável pela triste e criminosa negociata com a defunta Swissair. Só quem estava na TAP pode assistir aos meses terríveis que a companhia passou a partir do momento em que o Qualiflyer começou a tomar conta do sistema de reservas da TAP. Foram milhões de prejuízo. Foram meses a fio em que os aviões andavam praticamente vazios... com o sistema de reservas das agências de viagens a indicar aviões... sem disponibilidade de lugares. Foi o saque. Recordo-me de voos RIO>LIS em que os aviões vinham com 30 ou 40 pax na económica (e com a executiva vazia), e os aviões da Swissair completamente cheios obrigando os pax a fazer escala em Zurique. João Cravinho devia responder em tribunal pelo facto de ter sido ele o responsável pelo quase encerramento (catastrófico da TAP). Muitos desses milhões fazem hoje parte do enorme passivo que a empresa carrega às costas. O prejuízo causado pelo 11 de Setembro foi uma "brincadeira de crianças" (parafraseando o nosso "amigo" Sócrates) comparado com a catástrofe originada pelo "negócio" com a Swissair. João Cravinho, o mesmo que usava a TAP para fazer as suas inaugurações espalhafatosas. Eu fui testemunha, e já aqui escrevi antes num outro thread, de um lamentável episódio, em que ele "obrigou" a TAP a fazer um "pequeno" desvio de um voo Lisboa-Terceira para poder largar a sua excelência em Sta. Maria. Ordens vieram de "cima". O Comandante de serviço não é tido nem achado... obedece. Os passageiros reclamam e cria-se um terrível ambiente a bordo. Na altura do desembarque ouviram-se muitos assobios. Quem pagou esta brincadeira? Obviamente o passivo da TAP. A história tem memória curta. Não me admirava que daqui a uns tempos também tenhamos o engenheiro relativo Sócrates a atirar uns baldes em relação às PPPs, SCUTs, TGVs, Novas Oportunidades, etc." 
in Red 5, abril, 2010, Fórum Aviação Portugal.

Última atualização: 11 julho 13:01

sexta-feira, julho 06, 2012

Finita Subúrbia

Nova Cidade do Kilamba Kiaxi - Luanda, Angola. Foto @ Facebook

Angola: estado falhado à vista? E Portugal?

O objectivo era albergar às portas de Luanda cerca de meio milhão de pessoas. Mas, até agora, o empreendimento Nova Cidade de Kilamba não passa de mais um "elefante branco" angolano construído com dinheiros chineses. Público.

Angola, um estado falhado à vista? Com certeza! Dou-lhe menos de vinte anos de vida sem grandes convulsões e fuga generalizada dos cleptocratas. Quanto ao assassínio da classe média em curso em Portugal e um pouco por toda Europa e EUA, Canadá, etc., a imagem destes subúrbios desertos é tão só uma antecipação do que sucederá aos Rios de Mouro e Clubes de Belas do nosso cantinho lusitano :(

Os velhos cascos urbanos das cidades, vilas e aldeias deste país são a próxima mina de ouro para onde a poupança minguante e a especulação (se as autarquias forem fracas e corruptas) convergirão nos próximos 20-30 anos. Esqueçam as cidades-jardim e a subúrbia inventada pelo senhor Ford para o automóvel e as Mota-Engis deste mundo, dos idos anos 50 até ao princípio do fim do Sonho Americano, desencadeado pelo colapso da sua bolha imobiliária e do seu sistema financeiro, em 2007-2008.

Apostem nas redes públicas de transporte intermodal rápido e de acesso barato, definindo anéis de viabilidade estrutural e sustentabilidade económico-financeira dos serviços (é aqui que a Subúrbia irá encolher....), com a respetiva exploração entregue a empresas privadas em regime de supervisão apertada e mão pesada para os vigaristas. A subsidiação, que será necessária, deve ser criteriosa e dirigida exclusivamente ao utente, quando se justifique e em função do seu IRS.

Multipliquem-se os quintais urbanos, a restauração social, e invista-se prioritariamente na recuperação das cinturas verdes das cidades-região e na eficiência geral, e em particular energética, das cidades.

Quanto à sobrevivência do Estado Social, veremos. Provavelmente só se aguentará reformando-o profundamente. Mas para aqui chegarmos será necessário fazer primeiro uma Grande Revolução Democrática contra os regimes demo-populistas e os partidocratas instalados.

Portugal precisa de uma revolução urbana como nunca foi feita, a começar por baixo, reforçando o poder de ação das freguesias (no país disperso, mas também, depois de concentradas, nas juntas de freguesia das principais cidades-região), em forte ligação aos serviços técnicos do Estado, que por sua vez precisam de ser revitalizados em grande escala e a toda a pressa, depois de arrumar de vez com a abusiva captura do regime, dos orçamentos públicos e do aparelho de estado, pela corja das assessorias partidárias, oriundas dos pseudo gabinetes técnicos e tubarões da advocacia pirata.

Estive esta manhã a tratar de um assunto no Gabinete do Munícipe do Porto — espécie de Loja do Cidadão municipal, limpa, arejada, moderna, amigável, com funcionários corteses e profissionais. Exemplar! É de reformadores públicos como Rui Rio que o país precisa. Honestos e sem medo de exercer a autoridade lucidamente. Será betinho, gostará de Ferraris, mas que importam esses pequenos defeitos, ou qualidades, se o principal corre sobre rodas?

CONTRADITÓRIO

Mal enviei o rascunho desta posta para a lista de privilegiados que recebem as comunicações do António Maria com alguma antecipação, a reação crítica foi pronta e  radical:

"Os dados do INE desmentem essa ideia do Rui Rio,

O Porto é um descalabro de falências e miséria, ultrapassando tudo e todos, com 2500 empresas falidas desde o primeiro semestre. Estratégia e visão são conceitos que lhe são completamente estranhos.

É cada vez mais uma cidade de luxo para ricos e que se lixem todos os outros.

Também a queda de população no Porto, desde o ministério de Rui Rio não tem igual em mais nenhuma cidade Portuguesa, penso que perdeu 10% da população em 10 anos.

Sem igual em toda a região e no resto do país.

A única zona do país com ressurgimento é a península de Setúbal, designadamente a diagonal Sesimbra, Palmela, Montijo, com crescimentos surpreendentes.

O distrito ultrapassou o de Braga, o que é de espantar.

FBC"

quinta-feira, julho 05, 2012

Portugal: a saída?

Um país infestado de Condes de Abranhos só poderá colapsar

Há já quem aposte em surdina na saída de Portugal da zona euro

A transição que promete ser a mais suave, proposta pelo Capital Economics, assenta em três grandes etapas. No primeiro dia do fim do euro, as novas notas e moedas seriam introduzidas, com a paridade de 1 para 1 face ao euro, mantendo-se em circulação as notas e moedas europeias durante um período de “phasing-out” de seis meses, apenas para as pequenas transacções. Ao mesmo tempo, preços, salários, empréstimos e depósitos seriam convertidos para a nova moeda com a mesma paridade, de 1 para 1. 
Sair do euro = Rigor orçamental e combate à inflação + perdão de dívida
As autoridades do país recém-saído do euro anunciariam de imediato um regime assente na fixação de um objectivo para a taxa de inflação (estratégica semelhante à seguida, por exemplo, pelo Banco de Inglaterra), adoptariam um Orçamento de rigor, acompanhado de um conjunto de regras orçamentais bem firmes, que passariam a ser vigiadas por peritos independentes (uma espécie de Conselho de Finanças Públicas). A indexação dos salários à inflação seria proibida e o Governo passaria a financiar-se através da emissão de títulos de dívida com remuneração, essa sim, dependente da taxa de inflação, o que serviria de incentivo extra a uma política focada o mais possível na estabilidade dos preços.
O "stock" acumulado de dívida pública seria também redenominado na nova moeda, com paridade de 1 para 1 face ao euro, mas a Capital Economics recomenda que o Governo que saia do euro anuncie a sua intenção de renegociar a dívida para a trazer em linha com o máximo recomendado equivalente a 60% do PIB, o que deverá conduzir a incumprimentos substanciais. 
Jornal de Negócios

A minha teoria de momento diz que o BES e a nomenclatura de cleptocratas e grunhos intelectuais que dominam este país há séculos já estão, de facto, ainda que na sombra, a apostar na saída de Portugal da zona euro. Só assim esperam continuar o seu execrável domínio e empobrecimento do país. E o curioso é que contem, na preparação e execução deste crime, com o apoio do PCP e do senhor Louçã. Quem diria!

Quem ganharia com a saída de Portugal do euro? 
Os muito ricos, a começar pelos banqueiros, os negreiros das indústrias de exportação de baixa tecnologia, a burocracia da função pública, dos sindicatos e das corporações (ainda que inevitavelmente condenada a uma cura de redução de ativos e de emagrecimento), e os atuais partidos políticos com assento parlamentar, embora sujeitos no curto prazo a crises profundas de ajustamento: roturas, fusões, expulsões, e muita gritaria.

Quem perderia com a saída de Portugal do euro?
Toda a classe média produtiva e profissional, toda a cultura portuguesa, e o âmago da democracia, ultrapassadas pelo novos Condes de Abranhos. Sócrates, Relvas, Seguro, e uma interminável turma de videirinhos com cartão partidário e emprego nas sucursais bancárias e agências de tráfico de influências deste país, preparam-se para transformar Portugal numa cleptocracia autoritária, e a prazo, num Estado inexoravelmente falhado.

Por enquanto ainda podemos evitar esta tragédia. Mas se sairmos do euro, será muito mais difícil :(


La Famiglia

Ângelo Correia e Joaquim Coimbra voltam a tribunal por negócio fotovoltaico
A Fomentinvest, de Ângelo Correia, e a JVC, de Joaquim Coimbra, vão responder em tribunal como rés numa acção relacionada com dois projectos fotovoltaicos na Madeira, cujo financiamento é contestado por dois accionistas minoritários que consideram ter sido ilegalmente marginalizados. António Xavier Martins e Carmen Xavier querem anular um contrato com o Banco Espírito Santo (BES), por esse financiamento ter sido feito sem as suas assinaturas, contrariando os estatutos da empresa. 
Jornal de Negócios  

Para quem não saiba, a Fomentinvest, uma empresa dedicada à captação de negócios subsidiados, chefiada pelo inefável Ângelo Correia, é o empregador-mor do nosso PM, Passos de Coelho. Curiosamente, tudo isto anda colado com BES. Depois não percebemos porque é que a privatização da TAP não anda, nem desanda, ou porque é que o BES não recorre ao refinanciamento do Estado. Na realidade, o Espírito Santo espera dinheiro doutras paragens..., com a bênção deste governo, de que o PM é, aliás, seu empregado, claro!

Esta democracia e este regime precisam mesmo e rapidamente de um grande refrescamento. E já não será com este governo, chefiado por um PM dependente do BES e que não quer saber como o seu número dois se licenciou, nem dos negócios que tem no Brasil, nem das ameaças que faz aos jornalistas, nem dos apupos que recebe dos próprios autarcas laranjas, nem da crassa incompetência demonstrada na reforma autárquica, ou na opereta em que se transformou a privatização da RTP, etc.

Que venham os alemães! Afinal todos gostamos de Corsas, MiniCoopers, Golfs, Beetles, Polos, Passats, Touaregs, Sharans, BMs, Audis, Mercedes e Porsches, não é?

sexta-feira, junho 29, 2012

Descoberta tardia

Carlos Costa, governador do Banco de Portugal. Foto © ?

Um homem afável, mas de que planeta?

Carlos Costa disse hoje na AR que em 2010 descobriu que havia um sério problema de dívida externa no país. Em 2010?! Mas este homem não me lê?! Acusei os nossos economistas de andarem a dormir na forma a este respeito... em 2008! E em outubro de 2005 já tinha avisado que haveria um crash imobiliário muito antes de o embuste da Ota começar a caminhar... (1)

Um trotskysta alemão, nos idos de abril de 1975, confessou-me desiludido: "Vocês nunca conseguirão fazer a Revolução". Mas porquê, perguntou o jovem trotskysta heterodoxo que então era. Respondeu-me o camarada turista, arregalando os seus olhos muito azuis: "porque andam sempre meia hora atrasados!"

Pois este governador anda, no mínimo, dois anos atrás dos acontecimentos, o que sendo quem é, não pode deixar de ser muito preocupante.

Eu não sei ainda se a zona euro sofrerá, ou não, a breve trecho, uma cisão, dando lugar a uma banda de euro-marcos de um lado, e outra, de euro-PIIGS. Continuo a pensar no que há mais de um ano escrevi: será a própria Alemanha que, uma vez esgotada a paciência, baterá com a porta, dizendo Auf Wiedersehen às economias toxicodependentes em dívida soberana e populismo democrático, preparando entretanto com a China o mesmo tipo de FOREX que a China tem vindo a estabelecer com a Rússia, Japão, Índia, Irão, Brasil, Chile, etc....

Se não avançarmos rapidamente para uma federação económico-financeira, política e militar, que comece depois deste fim-de-semana a dar passos firmes nesta direção, por forma a garantir que a Europa será mesmo uma União antes de 2020, o sonho do pós-guerra morrerá uma vez mais, mergulhando a Europa em mais uma Idade Média, ainda que tecnológica. A América e a Inglaterra não ganharão nada com este desfecho, mas acreditam que destruindo o euro, poderão salvar as quimeras monetárias em que transformaram as suas moedas. Não podem!

A China e a Rússia apoiam a Europa e o euro. Mas se ambos ruírem, mais rápida e selvagem será a penetração da China nos mercados europeus. Alemanha será sempre o seu principal parceiro, e os restantes países afundar-se-ão paulatinamente nas armadilhas do endividamento público, privado e externo em que caíram e de onde parece não quererem sair.

There was just one relevant phrase uttered in all of last night's bluster, and ironically it came from Italy's own Mario Monti who said that there are "no plans for boosting bailout funds." This really is all that matters. Why? The Bridgewater chart that we presented before once again explains it all. ZeroHedge.


Os bancos recapitalizam-se à custa de recursos claramente limitados quando comparados com a escala gigantesca dos endividamentos soberanos. A dita recapitalização não chega à economia se não parcialmente, isto é, apenas serve para alimentar as burocracias incuráveis das democracias populistas da Europa e para remunerar fundos de investimento e credores, boa parte dos quais está presa no fundo do Buraco Negro dos Derivados criado pelos piratas de Wall Street e da City londrina. Numa palavra, o alívio deste fim de semana é temporário. O mal continua a corroer o sistema financeiro ocidental.

A janela de oportunidade agora entreaberta não nos liberta da responsabilidade de corrigir a democracia. Se em vez de apostarmos na transparência, na eficiência e na ampliação e diversificação dos modos de formação da vontade democrática, continuarmos a alimentar um regime capturado por piratas e oportunistas, o colapso social será brutal e rápido.

Um exemplo de que quase nada mudou nos centros de poder, apesar da crise gravíssima que atravessamos desde 2009, está bem patente em processos como o da privatização da TAP. A quem serve a privatização: ao país, ou ao grupo BES? Quem opina neste processo: o Estado, ou o BES? Outro exemplo do escandaloso atraso da reforma política que urge fazer, é o modo arrogante como a EDP prossegue o assassinato do Vale do Douro em nome de coisa nenhuma, a não ser da arrogância e da corrupção.


NOTAS
  1.  2005
    A antecipação criminosa da estratégia da Ota

    Se as obras de terraplanagem algum dia vierem a ter início, de uma coisa deveremos desde já estar seguros: o dito Aeroporto Internacional da Ota jamais será concluído. Muito antes das datas previstas, nos cenários pró-Ota, para a sua inauguração --2017-2018--, Portugal ver-se-à na contingência de ter que redesenhar dramaticamente as suas prioridades de desenvolvimento (ou melhor dito, de sobrevivência). A brutal crise energética chegará muito mais cedo do que se prevê. E antes dela (...) chegará também um mais do que provável "crash" imobiliário.

    OAM 30-10-2005.


    2008
    A cenoura e o pau do Bloco Central

    Em duzentas e três economias consideradas no World Factbook da CIA, Portugal tinha, em 2007, a 20ª maior dívida externa do mundo (200% do nosso PIB!), acima, em valor absoluto, de países como a China, a Rússia, o Brasil, a Argentina ou os Emiratos Árabes Unidos. Acresce ainda que a dívida pública, i.e. a dívida do Estado (juros incluídos) já chegou aos 64% do PIB, enquanto a balança de transacções correntes é também deficitária em cerca de 10% do Produto Interno Bruto. Ou seja, no momento em que ocorre o maior eclipse de liquidez monetária de que há memória, anunciando em todo o seu dramatismo o início de um colapso financeiro e uma depressão prolongada nas principais economias ocidentais, a banca portuguesa está virtualmente falida e sem credibilidade suficiente para contrair os vultuosos empréstimos de que necessita para sobreviver e ajudar a financiar o pântano deficitário em que todos nos estamos afundando -- públicos e privados. Pior não podia ser!

    OAM, 1-11-2008.


    O garrote da dívida externa portuguesa


        Gross External Debt Position*
        2007 - $461.200.000.000 (CIA Factbook, 31 December 2007)
        2008 - 335 136 000 000 euros (BdP, Março 2008)
        2008 - 343 966 000 000 euros (BdP, Junho 2008)

        PIB nominal
        2007 - 163 082 900 000 euros
        2008 - 168 356 400 000 euros (previsão do OE 2009)

        Dívida Externa
        2007 = PIB x 1,985
        2008 = PIB x 2,043

        in Banco de Portugal, Setembro, 30, 2008

    A dívida externa portuguesa supera os 200% do PIB! E não os 100% que não sei quantos economistas vêm lançando para o ar mediático nas últimas semanas, depois de terem tolerado durante anos a conversa fiada dos 3% em volta do défice orçamental, como se este fosse o maior problema estrutural do país. Não é!

    O Estado português até poderia absorver 5% e mais do PIB, sem que daí mal algum viesse ao Zé Povinho, na condição de esse dinheiro ser bem empregue. Por exemplo, na recuperação da nossa vocação atlântica em todas as suas pesadas frentes e dimensões orçamentais. Por exemplo, na criação de facto de um Estado livre, solidário, participativo e eficiente. Por exemplo, na criação e desenvolvimento acelerado de uma política linguística e de informação global tecnologicamente avançada. Para tudo isto, dando de barato que pelo caminho poríamos de facto as corporações profissionais e sindicais na ordem, gastar 5% do PIB em políticas estruturais e estratégicas de Estado, seria mais do que aceitável, mesmo correndo o risco de ouvir berros de Bruxelas.

    Agora o que não é tolerável é contrair alegremente dívidas no estrangeiro ao longo de décadas, e atrair à toa investimentos especulativos, até termos chegado à linda situação de sermos, entre 203 países e economias regionais consideradas, aquele que tem, em valores absolutos (!), a 20ª maior dívida externa do planeta!!

    OAM 19 nov 2008.