domingo, fevereiro 10, 2013

Seguramente um zero à esquerda — 3

Quem tem medo compra um cão!

Sócrates, quando é que regressas?

Numa conferência de imprensa realizada após o fim da reunião, António José Seguro incluiu os “contributos” de Costa entre os “vários” que recebeu ao longo dos últimos dias: “Eu não negociei com ninguém, este documento não é nenhum acordo”, frisou Seguro depois de apresentar o documento como um “contributo importante para que os militantes conheçam as minhas ideias”. Público, 10/02/2013 - 15:17.

Se António Costa recuar na ameaça, depois das críticas que já endereçou ao líder do seu partido, alimentando nomeadamente junto da frente anti-Seguro a expectativa de uma disputa de liderança com ele, dará razão a todos os que acham que o antigo ministro da justiça e presidente da câmara municipal de Lisboa em funções nunca foi mais do que um dos muitos aparachics do partido que nunca arriscam coisa nenhuma que possa perturbar a segurança do emprego. Recuar, porém, nesta altura, pode ser fatal ao próprio Costa, na medida em que ficará, se se acobardar, debaixo das patinhas de António José Seguro para o resto da legislatura, e mais. OAM, 26/01/2013.

A hesitação de António Costa foi fatal para o seu futuro político. Os cenários de uma próxima chefia do governo cor-de-rosa, ou de uma futura presidência da república, estão definitivamente arrumados por esta manifestação de evidente e lamentável cobardia política. Não se pode andar meses a criticar um líder, e a manter distâncias televisivas do mesmo, ameaçando substitui-lo num congresso, e depois, apesar de tantos santos a empurrar, fazer uma cangocha destas. Seguro aproveitou imediatamente, como seria de esperar, o desfazer do bluff, desferindo no pobre Costa uma estocada final alguns minutos depois de este balbuciar o recuo.

Eu não quero, prevejo...

Vendo bem as coisas, Sampaio e Sócrates têm agora campo livre. O primeiro, para repensar uma estratégia presidencial em tempos de crise aguda. José Sócrates, por sua vez, é já uma espécie de São Sebastião a quem os portugueses, cada vez mais aflitos, em breve pedirão que regresse.

Seguro perderá as próximas legislativas, e Passos cairá antes de o segundo mandato chegar a meio. O caos financeiro, a degradação salarial e o fascismo fiscal farão o resto pela ressuscitação do determinado timoneiro que, como se irá sabendo, não foi o único, nem sequer o principal, causador da Grande Crise (1). Dirá quando o momento chegar que apenas quisera poupar os portugueses à tragédia que continua a abater-se sobre todos nós. Que se erro cometeu foi o de não ter sido, afinal, ainda mais determinado na resistência que opôs ao cerco financeiro dos banksters. Populismo puro? Não, populismo fino e oportuno quando a hora negra chegar — e vai chegar!

Com uma prestigiada pós-graduação parisiense à sacola, e vários piratas laranja e alguns banqueiros engaiolados depois, José Sócrates desembarcará finalmente em Lisboa a pedido de milhões de zombies lusitanos. Ulrich, põe-te a pau!

Portugal inseguro, alguém quer comprar?

O inseguro zero à esquerda que hoje preside ao ajuntamento cor-de-rosa irá cozendo em lume brando ao longo da legislatura do seu jota-amigo Pedro Passos de Coelho — a quem usurpou, num autêntico lapsus liguae, o título da sua Magna Carta de hoje: Portugal Primeiro! Basta esperar.

NOTAS
  1. Europe: The Last Great Potemkin Village Where “The Rich Get Richer, And Poor Get Poorer”ZeroHedge. Submitted by Tyler Durden on 02/10/2013 12:28 -0500

    “On the surface, it would seem that the euro crisis has calmed. Markets have rallied since the summer and, to borrow a phrase from Herbert Hoover, “prosperity is just around the corner.” But outward appearances in Europe are like a Potemkin village. Behind the well-scrubbed facades, Southern Europe is in a death spiral. Anyone convinced that the European monetary union has come through the crisis stronger is a victim of the slickest PR campaign in history.”

sábado, fevereiro 09, 2013

A impotência dos devoristas

Francisco de Goya, Saturno devorando a un hijo (1819-1823)

Corte-se na fazenda que os devoristas roubam dia a dia!

Entre os subsídios a instituições sem fins lucrativos cuja prestação pública de resultados é inexistente, a roubalheira das PPP, tão caras ao Sérgio Monteiro (que antes era o esperto que as desenhava, e agora é o esperto que finge policiá-las), o excesso de generais e almirantes sem tropas nem espingardas, a abundância inútil de gralhas e cagarros parlamentares, e o desperdício evidente na saúde e na educação públicas, há fazenda que chegue para cortar sem condenar à morte os velhos e os pobres deste país, e sem expulsar centenas de milhar de jovens e famílias portuguesas inteiras para a emigração, que é que o fascismo fiscal de Vítor Gaspar, a corrupção dos banksters, o devorismo da partidocracia e dos rendeiros do regime, e finalmente a imbecilidade dos líderes partidários, estão a conseguir.

Demonstração:

OE2013

PIB = 178.500.000.000€
Dívida Direta do Estado, 2012: 196.146.000.000€ (+21,3 mil milhões q em 2011)
PAEF (Programa de Ajustamento Económico e Financeiro): 63.447.000.000€ (em 2011: 35.862.000.000€)

Desemprego em 1974: abaixo dos 2%
Desemprego em 2010: 11%
Desemprego previsto em 2013: 17%
Emigração formal registada (2011): 43.998
Emigração real (2011): ~100.000


OE2013, Rendimento de inserção social (RSI): 303.900.000€
OE2013, Encargos do Estado com a Administração Local: 2.121.207.562€
OE2013, IPSS e outras entidades "sem fins lucrativos": 2.008.768.424€
OE2013, garantias concedidas a empresas públicas ascendiam a 9.254.500.000€, em junho de 2012.
Encargos plurianuais previstos com PPP rodoviárias (2013-2030): 19.166.300.000€

IPSS*
Registadas (2011): 4860 (ver lista)
Utentes por IPSS (2011): ~ 157
Utentes abrangidos (2011): 761.400
Apoios diretos do estado (OE2013): 2.008.768.424€

* — 46% das suas receitas provêm de transferências do estado: ou seja, este terceiro sector já representa um volume económico na ordem dos 4.366.887.878€, praticamente isento de impostos (nomeadamente IVA, IMI e IMT)

OE2013
Segurança Social: 8.876.800.000€
Transferências correntes + subsídios + despesas de capital relativas a instituições sem fins lucrativos (IPSS): 2.008.768.424€ **

**
— Transferências correntes instituições s/ fins lucrativos: 24.313.453€ + 1.426.102.177€
— Subsídios inst s/ fins lucrativos: 465.769,000€ + 123.764,00€ + 16.135.326€ + 463.886.246€
— Despesas capital inst s/ fins lucrativos: 31.865.368€ + 45.876.321€

Total: 2.008.768.424€

O escândalo de que ninguém fala

IPSS, Igreja e Vaticano têm uma fatia reservada do Orçamento de 2013 no montante de 2.008.768.424€. Ou seja, quem trabalha e desconta em Portugal paga mais de 400 euros por ano em solidariedade social sem qualquer supervisão, nem transparência.

sexta-feira, fevereiro 08, 2013

Até Madrid, de burro!

“A l’occasion de l’ouverture à venir de l’exposition «La planète mode de Jean Paul Gaultier, de la rue aux étoiles à Rotterdam, un train à l’effigie du couturier français a été inauguré ce mercredi.”
Foto@Reuters/ Gonzalo Fuentes — in Parismatch.com

Está na altura de correr com o Relvas, com o Álvaro e com o desorbitado Sérgio

O comboio de alta velocidade Thalys é chic no norte da Europa (ver vídeo TVI), mas entre os grunhos devoristas da falida Lusitânia, não :( Ainda não perceberam que em breve a generalidade dos portugueses, e as mercadorias também, ou viajam de barco e de comboio, ou ficam em casa. E pelo ar, só mesmo as Low Cost irão resistir por mais uma ou duas décadas no máximo à subida imparável dos combustíveis líquidos. A globalização está a dar as últimas, se é que ainda não perceberam!

A corja do ministério da economia e o Passos de Coelho ainda não perceberam que o petróleo barato e abundante acabou, e que a rede europeia de alta velocidade ferroviária veio para para substituir -pelo menos em parte- os TIR e os aviões movidos por um combustível que acaba de ultrapassar aos 117 dólares o barril (1). Acima dos 86-90 dólares está comprovado que as economia ocidentais param de crescer e caminham rapidamente para a recessão...

Alguém em Bruxelas explicou ao Gasparinho a situação, e alguém explicou ao Gasparinho que roubar dinheiros comunitários indexados a projetos estratégicos fundamentais para os fazer desaparecer nos bolsos sem fundos da falida e inviável TAP é não só ilegítimo, como, provavelmente, uma fraude!

Está na hora de despedir o pirata Relvas, o ‘condottiero’ Sérgio Monteiro, e o improvável Álvaro (que não há meio de deixar de dar pontapés na gramática!)

O que o governo e o Bloco Central da Corrupção (que continua a mexer) têm vindo a fazer, i.e. rasgar candidaturas comunitárias aprovadas, deitar pela janela da verborreia mediática fora compromissos sucessivamente assinados com Espanha (2003,..., 2011) e, em última análise, criar barreiras ilegais à livre circulação de pessoas e mercadorias no espaço comunitário, vai acabar por desencadear uma resposta justa e oportuna da comunidade europeia. Foi isso, creio, que o Gasparinho tentou evitar esta semana.

Os indígenas, pelos vistos, não perceberam. A humilhação será, pois, servida fria.

Os indígenas da Tugalândia ainda não encasquetaram naquelas mioleiras vazias que não existe nenhuma aberração no universo chamada alta velocidade ferroviária para mercadorias! O que existem são linhas ferroviárias (que não transportam coisa nenhuma) onde os comboios de mercadorias andam à velocidade habitual, 90Km/h, ou quanto muito, 100-110Km/h, as quais, se estiverem desenhadas para tal, podem permitir que outros comboios (espanhóis, franceses, alemães, ingleses, irlandeses, mas não portugueses, pois o país está falido e não tem cabeça) transportando uma mercadoria particular chamada passageiros circulem a 200, 220, 250, 300, 350 Km/h. Cappice?!

Como os astrólogos da nossa falida economia continuam a opinar parvoíces sobre este assunto,  convido-os a emigrarem para.... Marte!


À medida que a rede de bitola europeia cresce Portugal vai-se reduzindo a uma ilha ferroviária.


POST SCRIPTUM
Este secretário de estado ou é completamente imbecil, ou julga que somos todos parvos. Como, na realidade, não somos todos parvos...




Ainda a propósito das afirmações do yuppie de estado Sergio Monteiro, leia-se este artigo de Rui Rodrigues, publicado no Público. Escreve Rui Rodrigues: 
No dia 7 de Fevereiro de 2013, o Secretário de Estado dos Transportes, Sérgio Monteiro, fez uma conferência de imprensa histórica que pode ser comparada às célebres declarações do ex-Ministro Mário Lino quando afirmou “Alcochete Jamais”.

NOTAS
  1. No dia 8 de fevereiro de 2013 o petróleo volta a estar acima dos 117 dólares (US$117,24/bbl), mas desta vez por causa do euro.

    O preço do petróleo subia e descia até agora com o dólar. No entanto, desta vez, subiu com a desvalorização do euro face ao dólar, em curso desde 4/2/2013 para cá.

    Ou seja, podemos talvez dizer que o preço do petróleo passou a estar indexado simultaneamente à moeda de reserva americana e à moeda de reserva europeia.

    Quer isto dizer algo muito simples: o preço do petróleo vai continuar acima dos 100 dólares, pelo menos ao longo de 2013. E em 2014, 2015, etc..., veremos...

    Segunda conclusão: a recessão vai manter-se, e porventura acentuar-se nos EUA e na Europa, por mais malabarismos estatísticos que nos tentem atirar à cara.

    Desemprego, não criação de novos empregos, falências, agravamento das dívidas soberanas, fascismo fiscal, e convulsões sociais e políticas são alguns dos contornos do futuro imediato :(

    Na realidade, o período da camuflagem financeira da rápida aproximação do Pico do Petróleo acabou. Esta máscara de falsa prosperidade deu origem à maior bolha de crédito de sempre, suportada por uma inimaginável montanha de ativos virtuais tóxicos que continua a desabar perante o pasmo de todos. Aquilo que agora sabemos é que o Pico do Petróleo foi na realidade precedido, em uma década ou menos, pelo Pico Financeiro do Capitalismo. O crescimento acabou, e por mais dinheiro falso que se crie e injete na economia, nada acontece e o colapso continua.

    Não haverá assim em Portugal nenhum novo crescimento consistente e durável, e as nossas exportações irão cair tanto mais depressa quanto menos capacidade tivermos de diminuir os seus custos energéticos. A conjugação portos-ferrovia-transporte ferroviário intercidades é a única alternativa que poderá mitigar ao longo desta e das próximas décadas o declínio económico que temos pela frente. Só os indígenas do governo e a mérdia lusitana é que ainda não perceberam esta verdade elementar.
 ÚLTIMA ATUALIZAÇÃO: 10fev2013 17:02

Recandidatos ilegais, não!

Será que o PSD arranjou uma maneira suave de eliminar dinossauros?

Boicotar recandidatos fora-da-lei é um dever cívico

Paulo Morais anunciou uma iniciativa de cidadania que apoio a 100%: exigir que os tribunais administrativos se pronunciem a tempo e horas sobre putativas candidaturas que ferem a lei de limitação de mandatos.

Marques Mendes e Marcelo Rebelo de Sousa, dois agentes provocadores laranja, cobram como comentadores, mas o que na realidade fazem é propaganda dissimulada dos seus partidos.

A defesa de candidaturas ilegais de autarcas que já cumpriram três mandatos sucessivos é a prova provada do que afirmo.

Até às eleições autárquicas estes hipócritas irão tentar intoxicar a opinião pública sobre a duplicidade da lei contra o caciquismo e a corrupção autárquicas.

O que diz a lei é claro como água:

Lei número 46/2005, de 29 de Agosto

Estabelece limites à renovação sucessiva de mandatos dos presidentes dos órgãos executivos das autarquias locais A Assembleia da República decreta, nos termos da alínea c) do artigo 161.o da Constituição, o seguinte:

Artigo 1º. Limitação de mandatos dos presidentes dos órgãos executivos das autarquias locais

1 — O presidente de câmara municipal e o presidente de junta de freguesia só podem ser eleitos para três mandatos consecutivos, salvo se no momento da entrada em vigor da presente lei tiverem cumprido ou estiverem a cumprir, pelo menos, o 3.o mandato consecutivo, cir- cunstância em que poderão ser eleitos para mais um mandato consecutivo.

2 — O presidente de câmara municipal e o presidente de junta de freguesia, depois de concluídos os mandatos referidos no número anterior, não podem assumir aque- las funções durante o quadriénio imediatamente sub- sequente ao último mandato consecutivo permitido.

3 — No caso de renúncia ao mandato, os titulares dos órgãos referidos nos números anteriores não podem candidatar-se nas eleições imediatas nem nas que se realizem no quadriénio imediatamente subsequente à renúncia.

Artigo 2º. Entrada em vigor. A presente lei entra em vigor no dia 1 de Janeiro de 2006.

Aprovada em 28 de Julho de 2005.

O Presidente da Assembleia da República, Jaime Gama. Promulgada em 14 de Agosto de 2005. Publique-se. O Presidente da República, JORGE SAMPAIO. Referendada em 18 de Agosto de 2005. O Primeiro-Ministro, José Sócrates Carvalho Pinto de Sousa.

A proibição de um autarca se recandidatar após o exercício de três mandatos sucessivos tem um propósito claro: combater o caciquismo e a corrupção. Logo, não é passível de duas interpretações. O Professor Pardal e o novo opinocrata da TVI, quando meditam sobre a suposta ambiguidade da lei estão, na realidade, a defender descaradamente uma ilegalidade.

Repare-se que a lei até acautelou as manobras previsíveis da corja partidária.

Se um presidente de câmara ou de junta de freguesia renunciasse ao seu terceiro mandato antes de o mesmo terminar, interrompendo-o, poderia invocar o facto de não ter cumprido o mandato até ao fim, para se recandidatar... No entanto, o legislador, prevendo esta manha, escreveu um artigo a impedir expressamente esta manobra, considerando-a ilegal ! Que diz a isto o Professor Pardal da TVI?

É preciso avisar, BEM ALTO, a corja partidária que haverá movimentos de boicote às eleições autárquicas onde se recandidatem criaturas que já atingiram o limite de mandatos, mas que mesmo assim insistem, com a conivência descarada dos diretórios partidários, em prolongar o farrobodó: Porto, Lisboa, etc...


POST CSRIPTUM

Deputado comunista António Filipe também defende (SIC, 08/02/2013) recandidatos autárquicos ilegais. Razão tinha o Arnaldo Matos quando denominou esta corja de social-fascistas. Na verdade, a democracia que defendem para o país é a mesma que praticam no interior do seu kafkiano aparelho estalinista. Não é Zita Seabra? Não é Carlos Brito?

Contra-argumento ao argumento imbecil de António Filipe:

— a limitação de mandatos é uma forma de as democracias travarem o caciquismo e o poder burocrático das partidocracias, limitando a perpetuação no poder de cidadãos e partidos políticos que subjetiva ou objetivamente manipulam a lógica democrática do serviço público democrático. Ou seja, a limitação de mandatos é uma forma de limitar o abuso caciqueiro ou partidocrata do direito de eleger e ser eleito para cargos públicos. E é contra isto que nos devemos levantar ruidosamente a propósito desta tentativa indecorosa e corrupta de manipular o espírito óbvio da lei de limitação de mandatos, por parte de quem há muito deveria ter dado lugar a outros, nomeadamente aos mais novos, em vez de continuar alegremente a estuporar a democracia!

terça-feira, janeiro 29, 2013

1,2,3, Portugal

A barreira energética é a verdadeira causa da metamorfose em curso...

Os dados estão lançados. Cabe-nos, como ao resto mundo, tentar a transição par uma espécie de futuro-anterior

O Crescimento potencial do PIB mundial previsto pela OCDE (1) em 2012 é, no período 2012-2017, de 3,4%, em 2018-2030, de 3,3%, e entre 2031 e 2050, de 2,4%. Os crescimento do emprego nos mesmos períodos será de 0,9%, 0,6% e 0,1%. Tendo em conta o crescimento acelerado dos países mais populosos, menos industrializados, menos protegidos socialmente, e também menos instruídos da OCDE —Turquia, China, Indonésia, Índia e Chile (com taxas anuais médias de crescimento acima dos 5%)— é evidente que os países mais desenvolvidos tenderão a crescer abaixo dos valores médios acima indicados.

Assim, para Portugal, as previsões da OCDE em matéria de crescimento do PIB são de 0,7% no intervalo 2012-2017, de 1,9%, entre 2018 e 2030 e de 1,6% de 2031 a 2050. O crescimento potencial do emprego nos mesmos períodos será sucessivamente de 0,1%, 0,1% e -0,4%.

Ou seja, quer a nível global, quer no cantinho luso-galaico, nos próximos trinta e sete anos é sempre a descer. O ritmo do crescimento abranda, incluindo na China, onde a OCDE prevê que passe de um crescimento potencial na ordem dos 8,9% em 2012, para 2,8% em 2050. Esta tendência é também verdadeira para a demografia mundial, cujo pico de crescimento deverá ocorrer, segundo a ONU, por volta de 2030-2040.

Se houver erro neste cenário da OCDE, será por excesso (de otimismo), e não por defeito.

A algazarra mediática interminável a que temos assistido não passa, portanto, de uma cortina de fumo que é preciso desfazer, sob pena de não vermos o que realmente aí vem: o fim de uma era de crescimento e inflação (2); um longo período de estagnação económica e empobrecimento, eventualmente acompanhado por guerras sucessivas em volta dos principais recursos energéticos da nossa civilização industrial: carvão, petróleo, gás natural e urânio; e depois desta grande contração que poderá só bater no fundo por volta de 2030 —se tivermos sabido evitar a mesma sorte dos habitantes da Ilha da Páscoa— iniciar então uma nova era de equilíbrio mundial.

Chegou o momento de afastarmos as dicotomias confortáveis. José Sócrates foi um irresponsável, mas o que está a cair em cima de todos nós não é fundamentalmente obra sua. Vem de trás, vem, pelo menos, dos anos 70 do século passado, e até foi previsto por um geólogo americano em 1956 —M. King Hubbert (3).

Os números acima citados do relatório da OCDE (1) ajustam-se que nem uma luva negra a este quadro sobre a evolução das taxas médias de crescimento mundial ao longo dos últimos sete mil anos (4):

A grande aceleração deu-se entre 1950 e 1970.

Estamos neste preciso momento a entrar à escala global numa fase muito perigosa.

Não é possível crescer sem consumir mais energia. Crescer pela via do endividamento (usando o consumo como falácia do crescimento) é um falso crescimento e uma solução tentada desde a década de 1970, mas que chegou ao fim. As principais fontes energéticas do crescimento real acelerado —carvão, petróleo, gás natural e urânio—estão à beira de deixarem de ser abundantes e baratas.

Por duas vezes a Alemanha foi travada no seu dinamismo industrial, precisamente pela via da limitação do seu acesso à energia petrolífera. O mesmo sucedeu ao Japão durante a Segunda Guerra Mundial, inicialmente desencadeada para travar a Alemanha, mas que serviu também para condicionar manu militare a expansão já então iminente da Ásia. A recente criação do Africon, por iniciativa e comando dos Estados Unidos da América, a par da desestabilização árabe, e da recente operação especial montada no Mali (principal fornecedor de urânio à França e à China—que nos próximos vinte anos poderá ter que passar das atuais onze centrais nucleares para... 245!), ou ainda a guerra movida pelo dólar contra o euro desde 2008, são sinais evidentes de um novo e próximo choque das placas geopolíticas mundiais. O motivo é um só: assegurar o acesso ao último atum, ao último barril de petróleo, e ao último átomo de urânio!

Se não houver vontade nem imaginação suficientes, a correção do excesso de procura agregada mundial será realizada uma vez mais pela via da destruição maciça da capacidade produtiva global e de milhões de vidas humanas inocentes.

Portugal, uma sociedade a caminho da transição?

Admitindo que cada país pode e deve fazer o seu trabalho de casa, creio que entre nós é cada vez mais urgente tomar consciência de uma realidade: o nosso sistema político está esgotado e não pode ultrapassar a inércia que o tolhe se não rasgar a presente Constituição e escrever uma outra, mais inteligente, menos ideológica, menos autoritária, menos orientada para a defesa económica e institucional das burocracias e da casta partidária, e mais estimulante do ponto de vista cultural.

O país está prisioneiro de uma nomenclatura burocrática, partidária e rentista, que não só agravou irresponsavelmente o sobre-endividamento do país —o quinto maior do planeta (5)— como resiste de todas as formas e feitios à mudança necessária, usando nomeadamente a constituição, o parlamento, os juízes e o presidente da república como armas de arremesso. A nomenclatura partidocrata, burocrática e rentista portuguesa age contra a própria economia, induzindo mesmo, pelo bloqueio que ergue à ação do governo, maior austeridade sobre a generalidade dos portugueses. Vale tudo para defender os seus indecorosos privilégios e mordomias. Esta realidade tem que mudar!

Neste ponto, como na situação mundial, não sabemos se o ajustamento que ainda falta fazer será conseguido de forma caótica, pela via da destruição social e da guerra civil, ou se, pelo contrário, seremos capazes de desenhar uma via de partilha efetiva de dificuldades e de cooperação criativa no desenho da sociedade de transição para que devemos caminhar em alternativa ao modelo de extinção da Ilha da Páscoa.

Temos que refundar o nosso modelo constitucional, de desenvolvimento e de sociedade. Por menos do que isto não iremos a parte nenhuma. O caminho passa por três decisões estratégicas fundamentais e urgentes:
  1. menos Estado
  2. eficiência económica
  3. fim do fascismo fiscal
O diagrama que se segue é sobretudo uma agenda de discussão que proponho à sociedade numa altura em que o sistema resiste como pode à adaptação e às necessárias mudanças.



NOTAS
  1. OECD Economic Outlook,
    Volume 2012/1
    Chapter 4
    MEDIUM AND LONG-TERM SCENARIOS
    FOR GLOBAL GROWTH
    AND IMBALANCES 
  2. Vale a pena ler a este propósito, de uma ponta à outra, The Great Wave—Price Revolution and the Rhythm of History, de David Hackett Fischer (1996); e ainda The End of Growth—Adapting to Our New Economic Reality, de Richard Heinberg (2011).
  3. Não há como ir às fontes, em vez de perdermos tempo com os Roubini e os Krugman da farsa mediática em curso. E a principal fonte é esta: M. King Hubbert, “Nuclear Energy and the Fossil Fuels”. Presented before the Spring Meeting of the Southern District, American Petroleum Institute, Plaza Hotel, San Antonio, Texas, March 7–8-9, 1956 (PDF).
  4. As décadas sombreada a verde (1950-1970) correspondem ao período de ouro negro abundante e barato. O crescimento em contra tendência da primeira década deste século corresponde ao grande endividamento da América e da Europa e ao período das maiores bolhas especulativas de sempre na história da economia mundial.
  5. As estatísticas variam consoante as fontes de informação e os métodos de estimativa utilizados. Todas elas, porém, colocam Portugal entre os cinco países mais endividados do mundo. Citamos, para o efeito, a estatística porventura menos desfavorável das que tenho consultado: “Total Debt in Selected Countries Around the World”, Global Finance, 2012.


domingo, janeiro 27, 2013

Seguramente um zero à esquerda — 2

Sócrates emprestou o PS a Seguro, mas por pouco tempo...

E agora Costa, vai a jogo ou não?

“Muitas vezes, sou acusado que fazer poucas promessas, mas, quero garantir-vos que só prometerei aos portugueses aquilo que tiver a certeza que posso cumprir, quando um dia, como espero, merecer a confiança para governar este país” — in Sol, 26 jan 2013.

António José Seguro é uma nulidade, como todos sabemos. Ninguém sabe o que pensa sobre o mundo, sobre o país, ou sequer sobre o seu partido. Consta que fala muito com as bases. Bases? A única coisa que há muito se conhece dos partidos portugueses é que não existem, salvo para disputar eleições e distribuir empregos. Ora nesta lógica quase feminina, quem atrai os apoios e votos é quem emitir mais feromonas de liderança e de agressividade convincente face aos adversários que estão na mesma arena. Sócrates, mesmo em desgraça, inunda o país com mais psiquismo e potencial agonístico por quilómetro quadrado na simples notícia de um almoço furtivo em Lisboa, do que a serenata desafinada e oca de António José Seguro que aturde os nossos tímpanos intelectualmente sensíveis sempre que aparece na televisão. Diz que quer uma maioria absoluta porque está farto de dizer ao governo o que este deve fazer, e este, surdo e ingrato, lá acabou por executar o que Seguro exigiu, mas tarde, muito tarde, e sem aquela convicção anti europeia que o rapaz acha que ficaria de bom tom nestes tempos de miséria nacional, causada, ou no mínimo agravada, pelas ações deletérias do PS... ooops!

O que todos esperariam da nova liderança socialista seriam duas coisas simples: um acto de contrição claro sobre os erros do passado (não precisava sequer de enxovalhar o seu antecessor); e uma estratégia clara, sucinta e alternativa às soluções da coligação que entretanto governa o país.

Não fez nem uma coisa, nem outra. Boiou apenas como uma rolha chocha à tona do pântano em que a democracia partidocrata, corporativa e populista transformou o país. Sem ideias, titubeante, acabou por quebrar os laços da coesão interna do PS, rasgou o memorando da Troika, e fez desabar as pontes sempre necessárias com a coligação PSD-CDS. Pior, caiu no regaço da esquerda mais desmiolada, oportunista e populista que existe na Europa —o PCP e o Bloco—, comprando praticamente todos os argumentos dos seus cardápios de bota-abaixo. Aliás, caiu ainda como um patinho na armadilha que Soares lhe estendeu —sabe-se agora com que motivos— ao lançar a ideia peregrina de que ao governo em funções lhe faltaria legitimidade e que, portanto, um próximo governo socialista presidido por AJS estaria ao virar da esquina. 'Eu é que sou o presidente da Junta', sonhou ele!

A oposição interna do PS foi crescendo perante tamanha inépcia do secretário-geral. As iniciativas parlamentares socialistas mais relevantes —como os dois pedidos de fiscalização constitucional do Orçamento de  Estado— deixaram há muito de passar cartão ao inenarrável Zorrinho, rebocando António José Seguro como se fosse mero lastro. O êxito inesperado de Vítor Gaspar na antecipação do célebre regresso aos mercados da dívida soberana de médio-longo prazo, associado ao alargamento de um ano do prazo de cumprimento do memorando em matéria de controlo do défice, e sobretudo a garantia de poder aceder em 2014-2015 ao Mecanismo Europeu de Estabilidade, deitou por terra num só dia toda a verborreia demagógica da Esquerda, a começar fatalmente pela oratória desmiolada de António José Seguro ao longo de mais de um ano. Diz agora que tem um 'laboratório de ideias' a misturar ingredientes para obter uma resposta socialista à crise —quimicamente isenta de neoliberalismo, imaginamos. Vamos aguardar apesar de ser demasiado tarde para andar a brincar com tubos de ensaio.


Diretas e congresso antes das Autárquicas

Esta foi uma das poucas decisões acertadas de António José Seguro (talvez por ser uma questão de sobrevivência política). António Costa terá uma ou duas semanas no máximo para ir a jogo ou mostrar o bluff. Se for a jogo, terá que abrir desde já caminho para um novo candidato do PS à câmara da capital. Se não for, fica em maus lençóis!

Se António Costa recuar na ameaça, depois das críticas que já endereçou ao líder do seu partido, alimentando nomeadamente junto da frente anti-Seguro a expectativa de uma disputa de liderança com ele, dará razão a todos os que acham que o antigo ministro da justiça e presidente da câmara municipal de Lisboa em funções nunca foi mais do que um dos muitos aparachics do partido que nunca arriscam coisa nenhuma que possa perturbar a segurança do emprego. Recuar, porém, nesta altura, pode ser fatal ao próprio Costa, na medida em que ficará, se se acobardar, debaixo das patinhas de António José Seguro para o resto da legislatura, e mais.

Se fizer o que deve, depois da ameaça que fez, então irá a jogo, e as probabilidades de vitória jogam, pelo menos parcialmente, a seu favor, sobretudo se souber manter as devidas distâncias visuais do socratismo. E mesmo se perder o primeiro combate, antes das Autárquicas, terá ainda a oportunidade de forçar a convocação de um congresso extraordinário para arrasar Seguro quando ficar demonstrado perante todo o país e perante as ditas bases do PS que o sucessor de Sócrates é um bom rapaz mas que não está, nem de longe, nem de perto, à altura dos desafios.

Qualquer dos dois candidatos, se houver combate pela liderança do PS nas próximas diretas e no próximo congresso, tem hipóteses de ganhar. Se Seguro tivesse caído na asneira de adiar o confronto seria um derrotado à partida. No caso de António Costa, se fizer uma cangocha neste momento, as suas possibilidades de vir a ser primeiro ministro, presidente da república, ou mesmo de disputar as próximas eleições autárquicas com o necessário apoio do PS ficarão reduzidas a zero. Se, pelo contrário, for a jogo, como deve, ou ganha na primeira disputa, ou ganha na segunda.

Mário Soares, segundo percebi da leitura do Expresso de hoje, foi o mestre desta jogada. Nos seus respeitáveis oitenta e oito anos continua a ser um grande conspirador. Honra lhe seja feita.

quinta-feira, janeiro 24, 2013

Seguramente um zero à esquerda

António Costa, presidente da CML, socialista.
Foto: autor desconhecido

“Qual é a pressa?” Toda!

“Um deputado do PS adiantou ao Diário Económico que “basta ele [Costa] ganhar o partido, para se virar as sondagens a nosso favor”, e outra fonte sustenta que “a Seguro falta esperança e garra”. No mesmo sentido, João Galamba e Pedro Nuno Santos, dois deputados socialistas muito críticos de Seguro, assumem ao jornal que esperam ver o autarca de Lisboa a concorrer à liderança do PS. “Acho que o País precisa de um PS com uma liderança mais forte”, considera Pedro Nuno Santos, enquanto João Galamba frisa que “gostava que houvesse alternativa a Seguro”” — Notícias ao Minuto, 24 jan 2013.

Não sei se António Costa irá desgastar-se nesta corrida, quando o seu futuro está obviamente numa candidatura presidencial a Belém. Não vejo ninguém no PSD capaz de o bater nesta corrida, salvo Durão Barroso, mas este tem ainda um longo percurso a fazer nas instâncias internacionais. Eu aconselharia António Costa a não cair na armadilha preparada por Jorge Sampaio, que tem vindo a dar sinais de querer reincidir em Belém. Quanto ao zero à esquerda e sacristão que de momento lidera o PS, há que removê-lo, claro, e antes das autárquicas, claro!

No entanto, não devemos subestimar a capacidade de José Sócrates persuadir o autarca da capital. Na verdade, é Sócrates quem manda no grupo parlamentar do PS, como ficou demonstrado cabalmente na recente iniciativa de Isabel Moreira ao submeter pela segunda vez o orçamento de estado ao Tribunal Constitucional. A argúcia foi dela, mas o apoio de tão visíveis contrafortes —Vitalino Canas e Alberto Costa— indiciou publicamente algo que a Revolta da Bounty desencadeada ontem, na sequência do confrangedor atavismo exibido por António José Seguro na resposta ao bom desempenho de Vítor Gaspar, veio confirmar. O in Seguro sacristão que tem estado ao leme do PS desde que José Sócrates se retirou acaba de perder o pé. Só falta mesmo removê-lo, democraticamente claro, mas o mais depressa possível.

António José Seguro quis encostar Portugal à Grécia, seguindo inconscientemente as derivas típicas do PCP e do Bloco, para quem, evidentemente, quanto mais perto Portugal estiver da Grécia, melhor! O êxito retumbante do governo foi simplesmente este: encostou Portugal à Irlanda, na sequência de uma operação meticulosa realizada nos bastidores, sem deixar escapar um sinal que fosse para Miguel Relvas, ou para Paulo Portas. Foram todos apanhados literalmente com as calças na mão. As reações ao anúncio de Vítor Gaspar, por sua vez, revelam a fibra de cada um dos ludibriados. Portas veio logo enaltecer Gaspar, abafando todos os amuos do PP como se fossem gatos recém-nascidos a mais. Relvas meteu-se num hotel qualquer, inacessível. E o zero à esquerda do PS optou por um número de mímica semelhante à célebre boca de Cavaco Silva cheia de Bolo Rei.

António José Seguro é um aparachic atrofiado. Não pensa. Decora a frase do dia e repete-a alegremente com um sorriso Malo nos dentes. A criatura repetiu até à exaustão que queria mais tempo, mais dinheiro e menos juros. Bruxelas atendeu as suas preces, e o governo de Passos Coelho agradece! Ou melhor, Seguro andou a escutar atrás das portas e passou o tempo a exigir antecipadamente o que Gaspar, em simbiose com o seu tutor alemão, Wolfgang Schäuble, estava a tratar e conseguiu: um acesso antecipado aos mercados que, se correr bem, e quando for necessário, permitirá um financiamento direto da dívida pública portuguesa através do novo Mecanismo Europeu de Estabilidade (ESM), i.e., mais dinheiro, mais tempo e juros mais baixos.

O líder do PS pedia uma maioria absoluta, imagine-se, em nome deste balão de ar quente. O balão entretanto rebentou, numa espécie de Quarta-Feira de Cinzas para o PS de António José Seguro. Ilação: é preciso substituir o homem antes das Autárquicas!


O contexto internacional que alguns desconhecem ou omitem

Americanos e ingleses apostaram tudo o que tinham à mão na implosão de um euro cada vez mais apetecível para os detentores desiludidos da nota preta. Mas a aposta saiu-lhes furada. E o resultado foi imediato, sobretudo depois da reeleição de Obama e depois de se perceber que a dívida pública americana estava e está completamente fora de controlo. Os Estados Unidos são uma Grécia gigantesca. E assim sendo, o dinheiro começou a fluir ainda mais depressa e em maior quantidade para a Zona Euro. O dólar continua a cair face ao euro (hoje: 1€=$1,3353) e, como consequência, o preço do barril de petróleo continua a subir (hoje: $112,80).

O magnetismo do euro sobre os países petrolíferos e emergentes deve-se também a algo que poderá em breve reforçar ainda mais os investimentos estrangeiros na Europa. Refiro-me concretamente ao fim da progressão rápida do crescimento nos países emergentes. Tudo aponta, por causa deste abrandamento inevitável, para a probabilidade de uma guerra de grandes proporções entre a China e o Japão. Estes dois países não sabem viver sem exportar para a Europa e Estados Unidos, e estão envolvidos (com a América) numa corrida de lémures contra as suas próprias moedas e taxas de juro, ao mesmo tempo que dependem criticamente de recursos energéticos, minerais e alimentares (1). A Europa, ao contrário dos EUA, da Rússia ou da China, continua a ser uma referência de legalidade, estabilidade política, inteligência e prosperidade. É por isto que os principais compradores de dívida soberana portuguesa no leilão de ontem, superando largamente a oferta, foram americanos e ingleses!


Qual crescimento ?

Finalmente, há uma estupidez que António José Seguro repete a par do balão anti-Troika que acaba de rebentar em plena campanha de sedução presidencial para demitir o governo: a exigência de crescimento.

Pelos vistos ainda ninguém explicou a esta criatura que o crescimento acabou. E que insistir nesta tecla como se fosse um assunto trivial só revela a triste ignorância e falta de juízo de quem (sem rir) se diz preparado para governar.

O 11 de setembro de 2001 e o 16 de setembro de 2008 foram os relâmpagos iniciais de uma mudança de paradigma na história recente da humanidade. Nos últimos 150 anos vivemos um período, único em toda a nossa história, de crescimento médio à volta dos 3% ao ano, quando até finais do século XVIII, o crescimento médio andou sempre no intervalo entre 0 e 1%. Que existiu então de diferente para permitir a viagem fantástica destes dois últimos séculos? Basicamente isto: carvão e máquinas a vapor, eletricidade, gás e água canalizados, petróleo, motores de combustão e capitalismo financeiro. Sem carvão, sem petróleo, ou sem estas duas formas de energia condensada e portátil, em quantidade e baixo preço, a nossa civilização deixará de crescer, entrará em colapso, e depois terá que readaptar-se a um regime de crescimento médio anual entre zero e um por cento. O colapso está em curso; falta saber se e como iremos fazer a transição.


ÚLTIMA HORA

23:47
Álvaro Beleza revelou a Ana Lourenço, no jornal das 10 da SIC Notícias, que o próximo congresso do PS será antes das eleições autárquicas. Será que leu a nota aqui publicada às 19:35?

19:35
As coisas estão a rolar mais depressa do que supunha! Se Jorge Sampaio já fez saber nos mentideros socialistas que se prepara para a eventualidade de uma nova candidatura presidencial, então António Costa só pode escolher um caminho: afastar António José Seguro e liderar o PS até às próximas eleições legislativas. Resta agora responder a uma pergunta certamente angustiante para alguns: quando convocará AJS o próximo congresso? Para antes ou para depois das Autárquicas? Se for antes, ainda tem hipóteses de vencer Costa. Depois será tarde demais. Porquê? Porque a alternativa a Seguro vai crescer como um bolo cheio de fermento nos próximos meses, e perante o abcesso que então será mais do que visível, nenhum eleitor irá desperdiçar um voto num líder em queda.
António Costa: “Só o secretário-geral do PS é que está em condições de dizer qual é a data acertada. Respeitarei totalmente a escolha do secretário-geral do PS. Qualquer que seja a data, tenho a certeza que estarei nesse congresso” — Ler mais no Expresso, 24 jan 2013 16:20.


NOTAS
  1. A China depende criticamente das suas reservas de carvão para crescer. No entanto, as estimativas sobre as suas reservas viáveis indicam os anos 2011, 2015 ou, no limite, 2025, como previsões do pico do carvão na China, ou seja, datas a partir das quais a máxima produção de carvão foi ou será alcançada, sucedendo-se então um declínio rápido deste recurso energético estratégico, dificilmente substituível em tempo útil — i.e. a tempo de mitigar um colapso económico e social em larga escala. 

Última atualização: 24 jan 2013 19:35 WET