domingo, setembro 03, 2017

A terceira ameaça à Geringonça

A Autoeuropa é da Volkswagen ou do PCP? A resposta é óbvia!

Ready to T-Roc?


Pode não ter passado duma guerra entre estalinistas e trotsquistas. Mas a verdade é que não falta espaço no mundo para acomodar a Autoeuropa. Em Espanha, ao contrário de Portugal, não há cadáveres comunistas adiados, e existirá em breve uma rede ferroviária para passageiros e mercadorias interoperável com o resto da Europa. Ou seja, ou o PS controla rapidamente os danos causados pelos senhores Jerónimo de Sousa e Arménio Carlos, ou os alemães, reforçados agora pelo espírito Macron, poderão de um momento para o outro perder a paciência e convidar os esquerdistas indígenas a comerem urtigas.

O pomo aparente da discórida que levou à inusitada greve na Autoeuropa foi o trabalho ao sábado.

Mas então os telefones, a rádio e televisão e a internet, ou os hospitais, ou as esquadras, museus, teatros, cinemas, casinos, restaurantes, bares, aeroportos, comboios, autocarros, táxis, elétricos, tuc-tucs, centenas de supermercados e milhares de lojas não trabalham aos sábados? Será que as dezenas de milhar de famílias das pessoas que trabalham nestas empresas e instituições sofrem o que as famílias aristocráticas da Autoeuropa não podem sofrer? Por onde anda a lógica da dirigente máxima do Bloco? Queimaram-se-lhe os neurónios durante o incendiário mês de agosto? Até os funcionários públicos, até os políticos, ou pelo menos alguns, trabalham aos sábados!

Num texto anterior —As duas ameaças à Geringonça— chamei a atenção do PS para dois dos perigos maiores que ameaçam a frente popular pós-moderna formada pelo PS, PCP e Bloco: o preço do petróleo, que tem vindo a subir paulatinamente, e o fim do conforto monetário proporcionado pelo BCE às democracias despesistas do sul da Europa, anunciado para 2018-2019. A conjunção destas duas tendências poderá, sobretudo se houver nova crise financeira global, pulverizar o cimento frágil da presente coligação disfarçada. Mas há um terceiro perigo!

O momento Hartz de Emmanuel Macron

A expansão monetarista levada a cabo pelo BCE está a chegar ao fim. Observando os resultados nos países que mais beneficiaram deste alívio —Portugal, Irlanda, Itália, Grécia e Espanha— verificamos que foram, no mínimo, duvidosos. À exceção da Irlanda, nenhum dos restantes PIIGS conseguiu corrigir a trajetória da respetiva dívida pública, e a este grupo de países incapazes de controlar as suas contas somou-se entretanto a França.

Os valores das dívidas públicas em % do PIB nos anos 2008, 2012, e 2016 são os seguintes:

  • Portugal: 71,7—126,2—130,4
  • Irlanda: 42,4—119,5—75,4
  • Itália: 102,4—123,3—132,6
  • Grécia: 109,4—159,6—179
  • Espanha: 39,4—85,7—99,4.


É neste contexto que o modelo alemão (65,1—79,9—68,3), sobretudo após a anunciada saída do Reino Unido (50,2—85,1—89,3) da UE, e depois da derrota estrondosa dos socialistas em França, começa agora a ganhar um valor heurístico renovado junto das elites europeias mais atentas.

Macron anunciou uma reforma laboral radical em França. Insuportavelmente neoliberal? Não. O novo presidente francês, apoiado numa confortável maioria parlamentar, apenas quer implementar em França, em nome da competividade europeia ameaçada, a mesma reforma laboral que o social-democrata alemão Gerhrard Schröder, e os Verdes (imagine-se!), impuseram aos sindicatos alemães entre 2003 e 2005, através do célebre plano Hartz, e da Agenda 2010.

Alemães e franceses, livres do atrito permanente provocado pelos ingleses de sua Majestade, estão agora mais decididos que nunca a reforçar a União Europeia, criando um coração inteligente mais forte, isto é, uma verdadeira união bancária e fiscal, um sistema de segurança unificado, e uma verdadeira estratégia europeia de defesa. Quem aceitar as novas regras continua, quem não aceitar que se junte aos náufragos britânicos. A verdade é que a decadência de Washington exige este género de fórceps estratégico, e as crises no Médio Oriente e na Coreia também!

À luz desta análise vejo no incidente entre a Geringonça e a Autoeuropa o terceiro prenúncio do fim da estratégia oportunista de António Costa. O pacto que este propôs ao PSD e ao CDS não passa duma farsa populista. O único pacto lógico e necessário ao país é o que garantir simultaneamente uma reforma do estado e uma reforma laboral adequadas à sustentabilidade da nossa economia, sem o que assistiremos à emergência insidiosa de um populismo de estado apoiado numa espécie de fascismo fiscal. Mas para que este cenário se impusesse, assistiríamos primeiro a uma caça às bruxas da opinião livre. Já estivemos mais longe!


REFERÊNCIAS

The Brief: A ‘plan B’ for the grand bargain

By Jorge Valero | EURACTIV.com  1/09/2017 (updated:  1/09/2017)

Britain’s exit from the EU progressed this week in slow motion. But one collateral effect of Brexit is Angela Merkel’s resolution to push for further integration of the eurozone, as Juncker would say. Her 17-point lead in the polls ahead of the 24 September general election, and her rival Martin Schulz’ support on the issue, mean this is sure to be central to the campaign.

But Merkel is still the chancellor of Germany, where taxpayers are against giving money to profligate and uncompetitive southern member states, the argument says.

Mutti‘s brother in arms to complete the reform of the 19-member eurozone, French President Emmanuel Macron, presented yesterday his long-awaited labour market reforms.

France aims to have its ‘Hartz’ moment fifteen years after the plan was unveiled in Germany to unlock the potential of the EU’s powerhouse.

If Macron succeeds, the impact will go far beyond turning his country into Europe’s second power. It will be the stepping stone toward the ‘grand bargain’ the eurozone has been waiting for between the northern guardians of fiscal discipline and the southern champions of shared protection when the next turbulence comes.


German labour-market reform
Hartz and minds
A new and controversial law takes effect this weekend
The Economist, Dec 29th 2004 | BERLIN


TRY calling a German bureaucrat after 3pm and the chances are that you will get no answer. But the Berlin branch of the Federal Employment Agency has recently been open as late as 10pm, weekends included. A dozen employees, surrounded by brown folders, are busy typing data into computers. “We have no choice but to get this done by the end of the year,” says one. The scene is replicated in 180 job-centres across Germany: thousands of staff are working extra shifts to prepare the launch on January 1st of “Hartz IV”. This law, based on the work of a commission led by Peter Hartz, Volkswagen's personnel director, is Germany's most important labour-market reform since the war.

[...]

The stakes are high. If Hartz IV succeeds, Germany will have taken a big step towards helping its army of long-term unemployed off the dole and into work. If it fails, there will be pressure to break up the Federal Employment Agency, or privatise it. And the popularity of Chancellor Gerhard Schröder's government, which has risen, could plummet. That may be why Mr Schröder has said that, if anything goes wrong, it will be the fault of Wolfgang Clement, his economics minister.

sábado, setembro 02, 2017

É a China, estúpido!

Clique para ampliar. In Nikkei Asian Review

Renminbi convertível em ouro desafia fake money de Wall Street. Um novo Tratado de Tordesilhas nunca esteve tão perto, pois uma guerra nuclear global é impensável.


“China is expected shortly to launch a crude oil futures contract priced in yuan and convertible into gold in what analysts say could be a game-changer for the industry.” Nikkei Asian News

A Coreia do Norte não é o maior problema da América. A China é. Na realidade, aquilo a que temos assistido é à transformação da Coreia do Norte numa espécie de Israel à moda de Pequim. Senão vejamos.

O que tem sido, de facto, o estado de Israel desde que foi criado pelos ingleses, sob o comando e inteligência de Lord Balfour e do Barão Edmond de Rothschild? Pois bem, um seguro de vida para as comunidades judaicas, sobretudo Asquenazis (oriundas na sua maioria da Europa Central e Oriental), e um bastião militar da estratégia petrolífera inglesa, e depois, anglo-americana. Basta ler a famosa Balfour Declaration (1917), ou a nota de Lord Rothschild que a precedeu para termos um quadro analítico que dispensa toda a verborreia ideológica. O petróleo foi a energia fundamental da Segunda Revolução Industrial. E quem controlou as principais regiões petrolíferas do planeta dominou o mundo até hoje.

Acontece, porém, que a taxa de crescimento demográfico mundial atingiu o seu pico em meados da década de sessenta do século passado, e o pico do petróleo americano ocorreu no início da década de 1970. Ou seja, os anos dourados do Sonho Americano tinham passado, e a partir daquele momento a hegemonia americana no mundo, conseguida como troféu da sua participação na Segunda Guerra Mundial, começaria a esmorecer. O dólar passou a estar sob pressão, pois a América estava cada vez mais dependente das importações de petróleo do Médio Oriente, do Golfo do México, da Venezuela e de África.

Esta dependência significava trocar petróleo por dólares convertíveis em ouro. Ou seja, a existência da moeda americana como moeda de reserva mundial pressupunha a estabilidade do seu valor real, e não apenas fiduciário, ou seja, implicava a sua convertibilidade no único mineral capaz de garantir a fé no dólar: o ouro.

Esta convertibilidade (1 onça de ouro = 35 USD) foi entretanto destruída por um império condenado a desvalorizar paulatinamente a sua moeda, tal como o Império Romano fez durante a sua longa decadência e colapso.

Nixon, face ao crescente excesso de dólares no mercado (e a correspondente procura de ouro como garantia anti-inflacionista), face à estagflação que se seguiu à criação da OPEP (1960), e face à Guerra dos Seis Dias (1967), viria a declarar sem efeito os Acordos de Bretton Woods, pondo deste modo fim à convertibilidade do dólar.

A Guerra do Yom Kippur (1973), protagonizada pela parceria entre Israel e a aliança anglo-americana, levaria a OPEC a concertar o famoso embargo, e a provocar uma subida do preço do petróleo sem precedentes (de 3 para 12 dólares). Desde então, a hegemonia americana não parou de perder influência, e a bolha fiduciária especulativa alimentada em Wall Street e na City londrina não parou de crescer até hoje.

A Alemanha tentou escapar a esta corrida para o precipício estabelecendo uma agenda económica e diplomática própria. Por sua vez, a implosão da União Soviética e a reunificação da Alemanha forçou a França a negociar com Bona a criação efetiva da União Europeia, um sonho alimentado desde 1952 (Comunidade Europeia do Carvão e do Aço), mas sempre adiado por pressão dos americanos e dos ingleses. O Brexit foi provavelmente a última e desesperada tentativa por parte da coroa britânica e financeiros londrinos de manter um paradigma de domínico há muito insustentável.

Entretanto, a China cresceu!

Mas para crescer, sobretudo depois de também ter chegado o pico das suas reservas petrolíferas, que começaram a ser extraídas por volta de 1959-60, em Daqing, a China viria a tornar-se no terceiro maior importador de crude do planeta, depois da União Europeia e dos Estados Unidos (há quem afirme que já é o primeiro). Ou seja, a disputa estratégica global pelo ouro negro tem três grandes atores, todos eles com demografias de peso e capacidade militar de sobra para destruir o planeta.

Acontece que os americanos, ainda que por razões compreensíveis (ninguém gosta de deixar de ser império), continuam a ignorar a realidade, ao mesmo tempo que se endividam cada vez mais, assistem ao declínio imparável do dólar, e começam a perder o controlo da sua própria estabilidade económica, social, política e cultural.

Chegou, pois, o momento de deixar de depender da moeda americana, e sobretudo de permitir que esta exerça chantagem sobre os países que quer controlar, ou impedir de crescer, recorrendo sistematicamente à prepotência das sanções económicas e financeiras, só possíveis de duas formas: pela manipulação do acesso e uso do dólar, ou pelo uso da força militar.

É neste ponto que importa perceber o real significado da escalada nuclear na Coreia do Norte, na sequência, aliás, de inúmeros incidentes entre americanos e chineses em torno da territorialidade dos Mares de China.

Quer queiramos quer não, o supremo líder da Coreia do Norte, Kim Jong-un, transformou o seu país numa potência nuclear. Ou seja, num país inatacável, ao contrário, por exemplo, da Síria, do Irão, ou da própria Turquia. As consequências são óbvias: se os Estados Unidos forem, como tudo indica, incapazes de impedir o nascimento de mais um país dotado de mísseis balísticos intercontinentais, então é só uma questão de tempo para que a Turquia e o Irão atinjam desideratos semelhantes.

Neste jogo de xadrez, a China levou a melhor, e usou Pyongyang da mesma forma que Washington usou Telavive ou, como alguns preferem, como Telavive tem usado Washington.

Aqui chegados, os Estados Unidos não terão outra opção que não seja negociar uma espécie de novo Tratado de Tordesilhas com Pequim. Desta vez, os meridianos não serão geográficos, mas monetários. Haverá duas moedas. Resta saber se o dólar e o yuan, se o yuan e o euro. Tudo dependerá de quem ganhar a batalha africana.


REFERÊNCIAS

Nota de Lord Rothschild ao então MNE britânico Arthur Balfour

Baron Edmond de Rothschild & Palestine 
Edmond de Rothschild (1845-1934) was the youngest son of James and Betty de Rothschild. He bore the Hebrew name Benjamin. He was born in Paris on 19 August 1845. Edmond joined the Paris Banking House in 1868 becoming a director of the Est railway company and other family concerns, and devoting himslef to art, culture and philanthropic interests.  In 1877, he married Adelheid (1853-1935), the daughter of Wilhelm Carl Rothschild (1828-1901). 
He made journeys to Bukharu to examine the potential of the oilfields of the area. In 1895, he visited Palestine for the first time, and his most outstanding achievements were involved in responding to the threats facing the Jewish people in Europe in the late 19th century by supporting massive land purchases and underwriting Jewish settlements in Palestine and Israel. 
Until his death, 'The Benefactor', as he was known provided support for Jewish colonists, overseeing dozens of new colonies. Rishon le Zion (the First in Zion) was followed by others bearing the names of his parents. In 1923 PICA (the Palestine Jewish Colonisation Association) was formed to oversee his affairs in Palestine. When Edmond died in Paris in 1934, he left a legacy which included the reclamation of nearly 500,000 dunams of land and almost 30 settlements. In 1954 his remains and those of Adelheid were brought to Ramat Hanadiv in Zikhron Ya'akov. 
— in Rothschild Archive

China prepara alternativa ao Banco Mundial

China sees new world order with oil benchmark backed by gold 
Yuan-denominated contract will let exporters circumvent US dollar
DENPASAR, Indonesia -- China is expected shortly to launch a crude oil futures contract priced in yuan and convertible into gold in what analysts say could be a game-changer for the industry. 
The contract could become the most important Asia-based crude oil benchmark, given that China is the world's biggest oil importer. Crude oil is usually priced in relation to Brent or West Texas Intermediate futures, both denominated in U.S. dollars. 
China's move will allow exporters such as Russia and Iran to circumvent U.S. sanctions by trading in yuan. To further entice trade, China says the yuan will be fully convertible into gold on exchanges in Shanghai and Hong Kong. 
"The rules of the global oil game may begin to change enormously," said Luke Gromen, founder of U.S.-based macroeconomic research company FFTT. 
(...)
China has long wanted to reduce the dominance of the U.S. dollar in the commodities markets. Yuan-denominated gold futures have been traded on the Shanghai Gold Exchange since April 2016, and the exchange is planning to launch the product in Budapest later this year.

(...)
Saudi Arabia, a U.S. ally, is a case in point. China proposed pricing oil in yuan to Saudi Arabia in late July, according to Chinese media. It is unclear if Saudi Arabia will yield to its biggest customer, but Beijing has been reducing Saudi Arabia's share of its total imports, which fell from 25% in 2008 to 15% in 2016. 
Chinese oil imports rose 13.8% year-on-year during the first half of 2017, but supplies from Saudi Arabia inched up just 1% year-on-year. Over the same timeframe, Russian oil shipments jumped 11%, making Russia China's top supplier. Angola, which made the yuan its second legal currency in 2015, leapfrogged Saudi Arabia into second spot with an increase of 22% in oil exports to China in the same period.
—in  Nikkei Asian Review, September 1, 2017 8:56 pm JST


Atualizado em 13/9/2017, 00:56, WET

As duas ameaças à Geringonça

Clique para aumentar. In Oil Price


Petróleo e juros a subir podem ditar fim da Geringonça.


Olhando para o gráfico dos preços do petróleo de Brent entre abril de 2010 e princípios de setembro de 2017, vemos que José Sócrates sucumbiu quando o petróleo ultrapassou os 100 dólares, e António Costa subiu ao poder quando o barril de crude andava pelos 44 dólares. Entre um valor e outro Portugal foi salvo da bancarrota pelo FMI e pelo BCE com base num programa de austeridade tão violento que impediria a coligação que fora forçada a aplicá-lo de renovar a sua maioria parlamentar. Pedro Passos Coelho ainda beneficiou da inversão da tendência altista do preço petróleo que ocorreria a partir de julho de 2014, mas não teve tempo de colher completamente os frutos de tal melhoria.

Uma coisa parece, no entanto, evidente quando analisamos a sincronia entre as crises políticas e a evolução do preço da energia: é este último que dita o rotativismo político-partidário do país e não o mérito ou demérito dos seus políticos. E muito menos o Facebook.

No entanto, apesar da política monetária expansionista do BCE, e da queda abrupta do preço do petróleo, continuamos no lixo—i.e. continuamos a ser uma presa fácil de investimentos especulativos e dos abutres financeiros. Porquê? Porque temos uma divida coletiva descomunal e uma classe política, da esquerda à direita, incapaz de sair do registo populista.

Dois fenómenos começaram entretanto a prejudicar os cálculos e expetativas de António Costa, Jerónimo de Sousa e Catarina Martins, tendo ao mesmo tempo aberto a porta à intervenção de Cavaco Silva nas jornadas da Universidade de Verão do PSD.

Por um lado, a subida do preço do petróleo tem vindo a ocorrer de forma consistente embora suave: 44 dólares em novembro de 2015, quase 53 dólares neste início de setembro de 2017, e uma previsão de 53,3 de média para 2018. Como o consumo privado num país que pouco produz implica necessariamente mais importações de petróleo, gás natural e automóveis, uma pequena subida no preço do crude faz toda a diferença indesejável no valor da nossa dívida total.

Por outro, o fim ou a diminuição drástica dos estímulos ao endividamento público e à criação de zombies bancários irá provocar um aumento inevitável do preço do dinheiro, ou seja, taxas de juro mais elevadas e inflação interna, sobretudo nos produtos que não aparecem no índice de preços ao consumidor, como são, por exemplo, os preços das casas, e o preço dos impostos.

Resta, pois, saber como é que países sobre-endividados, como Portugal continua a ser cada vez mais, irão enfrentar esta anunciada superfície frontal anti-deflacionsita, ou reflacionária, com tendências ciclónicas evidentes, nomeadamente as que são originárias das crises político-militares em África, Médio Oriente e Ásia-Pacífico.

sexta-feira, setembro 01, 2017

Porque acordou Cavaco?



A notícia sobre a morte do ex-presidente foi manifestamente exagerada. 


A criatura reapareceu quando menos se esperava. Os pardais da Geringonça, mais o pardal presidencial, transformaram-se em estátuas de sal. A mudez e a vacuidade política do novo regime experimental, nas horas que se seguiram aos tiros do inesperado ‘snipper’, foram ensurdecedoras.

Mas que aconteceu? Como foi possível aquela criatura regressar da eternidade onde o críamos em repouso?

Há sempre um explicação racional para os OVNIS, por mais extraordinários que estes pareçam. No caso, a explicação é esta: há uma rebelião na Alemanha contra o financiamento ilegal de uma série de estados comunitários, financiamento esse que tem sido dissimulado sob a figura do chamado public sector purchase programme (PSPP), um programa que irá custar, até ao final de dezembro deste ano, qualquer coisa como 2,28 biliões de euros.

Enquanto nos Estados Unidos, o Quantitative Easing serviu e serve sobretudo para alimentar o grande esquema Ponzi de Wall Street, na Europa, a generosidade monetária do BCE serve para fomentar a concentração bancária e manter os governos e os estados em rodas deficitárias mais ou menos livres, ou melhor dito, fora de controlo. Esta é, como todos sabemos, uma bolha que um dia irá rebentar. E quando rebentar...

Acontece, entretanto, que a revolta jurídica em curso na Alemanha contra este financiamento aparentemente ilegal dos governos e das suas instituições, serviços e empresas públicas, está a pressionar o encurtamento ou pelo menos o respeito do prazo previsto para o fim do programa de compras de ativos do setor público: 31 de dezembro de 2017. Mario Draghi começa a bufar por todos os lados, e a fazer confissões sobre a transição necessária para um quadro monetário menos laxista e menos inimigo da poupança.

O grande receio dos alemães é que uma vez terminado o programa os juros e os yields subam, e a inflação também, o que poderá levar alguns países como a Itália, a Espanha e mesmo a França (Portugal, certamente), ao colapso das respetivas finanças públicas (1). Neste cenário, sendo a Alemanha o país comunitário mais exposto ao programa de compra de dívida de países em défice crónico, seria também, nesta ocorrência provável, o país mais prejudicado por eventuais incumprimentos soberanos.

O crescimento real da economia mundial não existe, ou é uma farsa. Logo, não existem colaterais verdadeiros para a bolha do endividamento que continua a expandir-se por toda a parte. O caso chinês é a mais recente e preocupante novidade neste domínio da insustentável monetização das bolhas especulativas.

Ou seja, Cavaco Silva percebeu que 2018 vai ser um ano complicado para países encravados e praticamente insolventes como Portugal. Se 2016 e 2017 foi o que se viu em matéria de cativações (austeridade das esquerdas), com consequências catastróficas para a vida e a segurança dos portugueses, então, sem a mão por baixo do BCE, o cimento oportunista que segura Costa, Catarina e Jerónimo poderá esboroar-se num ápice.

Não podemos finalmente esquecer a deterioração galopante das relações internacionais, quer por causa da Coreia do Norte, quer por causa do Irão, quer por causa da Venezuela. A guerra do gás transformou de novo o Médio Oriente num pasto de hipocrisia, terror, destruição, sangue, suor e lágrimas.

Resumindo, Cavaco Silva veio dizer ao PSD que tem que reforçar e preparar rapidamente as suas tropas.

Veio, pelos vistos, dar a mão a Pedro Passos Coelho, afastando quaisquer veleidades por parte de Marcelo Rebelo de Sousa e dos seus acólitos de afastarem o atual líder do PSD.

Finalmente, veio fazer um xeque ao presidente da república (2): o tempo do namoro com as esquerdas e do Tra Lá Lá Lá inconsequente chegou ao fim!



REFERÊNCIAS

Germany's top court raises doubts about ECB asset purchases

DW, 15.08.2017

In the ruling Tuesday, the Constitutional Court said it had declined to hear a challenge to the ECB's quantitative easing program (QE), suggesting however that the eurozone central bank's asset purchases went beyond its monetary policy mandate.
"There are doubts as to whether the (Public Sector Purchase Program) is compatible with the ban on monetary budget financing," the Constitutional Court said in a statement, asking the European Court of Justice (ECJ) to deliver a judgment quickly.


'Bundesbank must stop buying bonds'

DW, 30.05.2017

A group of economists and policymakers critical of the European Central Bank's quantitative easing program submitted an urgent motion to Germany's Constitutional Court in Karlsruhe in the hope to secure a provisional order for the Bundesbank to exit the ECB's bond-buying scheme immediately.

The court on Tuesday confirmed receipt of the motion, saying that it would deal with it as fast as possible, but it failed to indicate when a ruling could be expected.

Berlin-based financial scientist Markus Kerber had said it was crucial for the German central bank to exit that program without waiting for the ECB to finally change its monetary policy, citing "unnecessarily high risks for the federal budget and thus the taxpayer."

NOTAS

  1. A dívida pública roça já os 250 mil milhões de euros, acima, portanto, dos 130% do PIB. Recorde-se que as regras comunitárias impõem como teto máximo para a dívida pública, 60% do PIB. Ver notícia aqui.
  2. Marcelo Rebelo de Sousa, o incontido, disse a propósito das palavras de Cavaco Silva: "Não comento nem declararações, nem posições de antigos presidentes, ou de futuros presidentes..." Que não-comentário mais curioso! Será que acabou de lançar um novo sound bite, desta vez sobre um eventual regresso de Cavaco Silva a Belém? Marcelo não resiste, de facto, à sua veia de intriguista-mor do reino. Falta-lhe, como sempre disse, gravitas, precisamente aquilo que Cavaco Silva tem, goste-se ou não da criatura, e eu nunca gostei. Ouvir o presidente-comentarista Marcelo aqui.
Atualizado em 1/9/2017 15:07 WET

domingo, agosto 27, 2017

Extrema esquerda e o 'deep state' americano

Imagem difundida sobre a caça de Bin Laden observada em tempo real pelos democratas da Casa Branca

Uma caça ao voto que pode semear tempestades


Marisa Matias acusa Passos Coelho de ensaiar discurso racista e xenófobo 
“O discurso de extrema-direita está a ser trazido para a cena pública eleitoralista nacional não por via dos partidos de extrema-direita, que têm pouca expressão, mas por via de um dos maiores partidos do sistema, que é o PSD”, condenou Marisa Matias em declarações aos jornalistas à margem da abertura do Fórum Socialismo 2017, a “rentrée” política do Bloco de Esquerda que decorre a partir desta sexta-feira e até domingo em Lisboa—in Observador, 26/8/2017. 

A pândega Marisa Matias acusou Pedro Passos Coelho, o ex-primeiro ministro e ganhador das últimas eleições legislativas, de racismo e xenofobia. Não saberá esta pândega da extrema-esquerda caviar, com quem é Pedro Passos Coelho casado? Só mesmo a idiotia, a má fé, ou o sectarismo incendiário pode justificar estes acessos de fundamentalismo invertido.

Se a cor da pele e a xenofobia são os fantasmas que alimentam o populismo eleitoral, perigoso, do Bloco de Esquerda, ou mesmo do PCP, haveria que perguntar-lhes como tencionam anular o défice em que se encontram nesta matéria quando comparados com os demais partidos com assento parlamentar: PS, PSD e CDS/PP. Apesar de há décadas o Bloco estar envolvido no SOS Racismo, não há um único mestiço, ou negro, ou asiático, ou muçulmano, ou sequer brasileiro, que eu saiba, nas estruturas dirigentes do bloco de trotskystas, maoistas e estalinistas arrependidos atualmente no poder. E muito menos na Assembleia da República. Como tencionam recuperar este atraso cultural? Talvez uma política de quotas ajudasse.

Não deixa, por outro lado, de ser uma coincidência curiosa o alinhamento objetivo do Bloco de Esquerda com a política americana para Angola: desestabilização.

Ou ainda com a estratégia propagandística montada pelo deep state americano para enfraquecer e controlar a presidência de Donald Trump: acicatar os ancestrais ódios e discriminações de raça e género existentes na América. Parece que também em Portugal, o Bloco pretende seguir a mesma estratégia de divisão ideológica e política do país.

Presidente da Câmara dos Representantes critica Trump por perdoar ex-xerife 
Donald Trump indultou na sexta-feira o ex-xerife Joe Arpaio, de 85 anos, que arriscava uma pena de prisão de até seis meses, depois de ter sido considerado culpado em julho por desobediência à justiça e continuar a prática de detenção de pessoas por razões raciais—in Observador, 27/8/2017.

Nada mudou no racismo histórico americano depois da chegada de Trump ao poder. Basta contar os negros mortos pela polícia americana durante a era Obama!

Há uma guerra civil larvar nos Estados Unidos, e está a ser alimentada pelas alas radicais mais corruptas do Partido Democrático e do Partido Republicano (o bloco central lá do sítio), precisamente aquelas que querem a indústria militar americana e o poder americano projetados em todos os cantos do planeta.

Ora o símbolo máximo desta fronda verdadeiramente fascista da América é uma senhora chamada Hillary Clinton. Lembram-se como montaram e disseminaram os videos pornográficos sobre o enforcamento de Saddam Hussein, sobre caça de Bin Laden e sobre o assassinato de Mohamad Kadafi? Não foi Donald Trump, pois não? De onde vem então a retórica de meretrizes ofendidas que acometeu os média americanos, bem denomindados por Trump, como FAKE NEWS? Basta de papar toda a trampa mediática que Washington e Nova Iorque nos impingem permanentemente através das suas redes capilares!

Temos que evitar a armadilha que nos lançaram sobre Donald Trump.

Criticar quem o ataca, criticar nomeadamente o 'deep state' americano, de que o sistema mediático falido faz parte, não é defender necessariamente Trump, nem as suas ideias, nem o seu passado. Tal como exigir uma política de imigração que evite e combata a formação e o amadurecimento de células terroristas de exércitos estrangeitos no nosso país, não é prova, nem de racismo, nem de xenofobia, nem de intolerância religiosa. Insinuar, ou pior, afirmar o contrário de forma encapsulada, é que prova a existência de uma agenda escondida que, se não prova uma predisposição para alimentar o terrorismo, exibe, pelo menos, a evidência de um recalcamento psicológico perverso. Como se o radicalismo revolucionário recalcado pelo oportunismo parlamentar, e agora ainda mais pela Geringonça, encontrasse na proteção temerária à imigração descontrolada e aos residentes estrangeiros que praticam crimes e conspiram contra as populações (ou se treinam para isso no nosso país) uma forma de redenção narcísica.

É preciso confrontrar o senhor Louçã e as senhoras que hoje mandam no Bloco com perguntas precisas sobre estes temas. E é preciso fazer perguntas igualmente claras ao primeiro ministro e ao cardeal Santos Silva, sobre a política de segurança e defesa do país.

Os populismos, de direita e de esquerda, serviram-se sempre e continuam a servir-se dos preconceitos, dos atavismos e da fé religiosa, bem como das formas endémicas mais ou menos inócuas de racismo e xenofobia existentes nas sociedades, para dividi-las e queimar os laços de solidariedade social e cosmopolismo que dão força, expressão e paz às comunidades, aos países e às regiões do mundo, mesmo em situações de stress económico duro e prolongado.

No caso de Marisa Matias, brincar com o fogo pode sair caro ao Bloco, o que não me precoupa, mas sobretudo ao país, o que me preocupa muito. Chegou o momento de pedir responsabilidades a António Costa pela geringonça a que se agarrou para chegar ao poder. O preço ideológico deste pacto com o diabo do fundamentalismo oportunista mascarado de marxismo arrisca-se a dividir a sociedade portuguesa para lá dos limites aceitáveis.

Costa quis dividir o país entre esquerda e direita—um tiro que acabará por sair-lhe pela culatra. Mas o calvinista vermelho do Bloco, Francisco Louçã, quer regressar à Idade Média!

Vale a pena ler a este propósito o que opina Paulo Carvalo sobre o racismo em Angola...
‘O racismo em Angola precisa de ser desmistificado, desconstruído e esclarecido’
Outubro 16, 2014 Entrevista Dani Costa. O País.
Professor titular na Universidade Agostinho Neto, Paulo de Carvalho é co-autor do livro ‘O que é racismo?’ que vai ser lançado nos próximos dias, em Luanda. O assunto é considerado por muitos como tabu. O sociólogo aceitou falar a O PAÍS sobre o tema, com ideias próprias, como, por exemplo, acreditar que a ‘mestiçagem é o futuro da humanidade’. De qualquer modo, o nosso entrevistado pensa que a questão do racismo no país precisa de ser debatida sem preconceito.
Em Angola existe ou não racismo? 
É difícil responder taxativamente a essa pergunta, numa breve entrevista. O meu texto, no livro, intitula-se “Racismo enquanto teoria e prática social”. Incluo aí um item intitulado “Há racismo em Angola?”, cuja leitura aconselho. Mas vou tentar responder à pergunta, abordando dois aspectos distintos. Primeiro, se me pergunta se há casos de discriminação racial em Angola, respondo positivamente: há-os, sim. Aliás, não era de esperar outra coisa, pois saímos de um longo período colonial há muito pouco tempo, para se ultrapassarem as sequelas daí resultantes – incluindo as que têm a ver com aquilo que se designa habitualmente por “raça”. Mas se a pergunta é se existe racismo institucionalizado em Angola, a resposta só pode ser negativa. 
Havia, sim, no período colonial, mas a proclamação da independência trouxe uma série de coisas boas, sendo uma delas a eliminação do racismo institucionalizado. Hoje, as pessoas têm acesso ao ensino superior (por exemplo), independentemente da cor da pele – coisa que não ocorria no período colonial. Hoje, não é a cor da pele que determina quem chega ao topo de qualquer carreira profissional em Angola. 
E além disso, é preciso reconhecer que (ao contrário do que sucede com alguns grupos étnicos) não há reuniões de grupos raciais como tais, para se traçarem estratégias de actuação comum. Portanto, acredito que a fase do racismo institucional esteja ultrapassada em Angola, o mesmo não se podendo dizer de manifestações que encerram discriminação racial, que existem de forma isolada, não de forma organizada. As pessoas comuns (e até alguns jornalistas e políticos) confundem estas duas perspectivas, que são distintas e, por isso, não devem ser consideradas no mesmo patamar. Uma coisa é o racismo institucional (mais global, mais abrangente), outra são actos de discriminação racial (mais isolados, menos abrangentes e com menor percepção social). 
Distinga os tipos de racismo que existem em Angola? 
Há, realmente, vários tipos de racismo – desde aquele que encerra apenas preconceito, àquele que encerra discriminação e violência massiva. Em Angola, temos uma série de racismos aprendidos socialmente, seja na família, seja no grupo étnico, seja nos grupos de amigos, seja ainda através de alguns meios de comunicação social cujo objectivo é criar a divisão no seio dos angolanos. 
Pode dizer-se que não há em Angola racismo que envolva violência massiva e praticamente não existem actos de racismo com violência. O racismo mais comum pelo mundo é o que pressupõe a supremacia dos mais claros, como se o dia tivesse supremacia sobre a noite e como se ambos não se complementassem apenas. Por cá existe este racismo tradicional, que foi herdado do período colonial. 
Mas existem também outras manifestações de racismo, que pressupõem que à supremacia demográfica de uns deva corresponder a sua hegemonia e o afastamento dos grupos “raciais” menos expressivos. Um e outro racismo consideram elevada dose de egoísmo, pois em cada um dos casos se pega nalgumas das diferenças somáticas perceptíveis para tirar algum benefício. Esta é a questão fulcral a considerar: tal como sucede com a utilização da diferenciação étnica, também se utilizam supostas diferenças “raciais” de forma mais ou menos subtil, para procurar tirar vantagem económica, social ou política. Temos, pois, de estar atentos a isso.

sábado, agosto 26, 2017

A nova sedução iconoclasta


Muhammad Yasin Ahram Pérez, Al Qurdubi

Um Che ressuscitado? Chamar-lhe terrorista não adianta nada.


A sedução do fundamentalismo deixou de ser uma ameaça, para ser uma realidade global. Em tempos de radicalismo, fruto da época de decadência das velhas narrativas redentoras —do sonho americano, aos amanhãs socialistas que cantam— convenhamos que esta imagem é bem mais sedutora do que a dos acomodados burocratas da esquerda.

O grupo terrorista Daesh divulgou pela primeira vez um vídeo em castelhano. "Com a permissão de Alá, o Al Andaluz voltará a ser o que foi: terra do califado", diz um militante do grupo radical islâmico que surge de cara descoberta e que é identificado como Abu Lais Al Qurdubi (o cordovês). 
Segundo a polícia espanhola citada pelo jornal espanhol El País, Abu Lais é Muhammad Yasin Ahram Pérez, um espanhol de 22 anos nascido em Córdova, filho de uma cidadã espanhola e de um marroquino. O pai, Abdelah Mhram, de 42 anos, está preso em Tânger, Marrocos, por ligações ao jihadismo. 
"A jihad não tem fronteiras. Faz a jihad onde estiveres", diz Abu Lais. Prossegue: "Cristãos espanhóis, não se esqueçam do sangue dos muçulmanos derramado pela inquisição espanhola. Vamos vingar a vossa matança, e a que estão a fazer agora contra o Estado Islâmico [Daesh]".  
in Público, 24 agosto 2017

Nos Estados Unidos, o crescimento de uma mole social desesperada com o fim da prosperidade polarizou-se dramaticamente entre o populismo atávico das tradições, e essa nova florescência de fundamentalismo irracional a que se convencionou chamar a atitude politicamente correta. 

Não há hoje nos Estados Unidos mais racismo, nem mais violência civil do que havia no tempo do presidente negro Barack Obama. Basta contar os mortos! O que há é a mesma austeridade, com a destruição paulatina das classes médias, e o acantonamento escandaloso dos ricos especuladores e populistas nas suas conchas de avarícia e pânico, impotentes perante o fim de uma era de crescimento exponcnial. 

Quando as classes intelectuais ameaçadas e desesperadas, nomeadamente pelas suas hipotecas estudantis impagáveis, regressam aos tempos bíblicos da iconoclastia violenta, pretendendo rescrever a história, desfigurando e derrubando estátuas, degolando simbolicamente presidentes e assediando milhões de pessoas com uma coação ideológica sem precedentes desde os tempos de Hitler, Mussolini, Estaline, Mao e Pol Pot, o pior parece mesmo esperar por todos nós ao virar desta esquina da História.

Kathy Griffin com cabeça falsa de Donald Trump degolada. Foto: Tyler Shields


quinta-feira, agosto 24, 2017

Impresa até quando?

Francisco Pinto Balsemão
Foto: ?



A marca Impresa (Expresso, SIC, Visão, ...) está para a comunicação social como o BES estava para a banca.


Impresa pondera fechar Visão e outras revistas 
O grupo Impresa, detentor da SIC e de títulos como o semanário Expresso ou a revista Visão, pondera encerrar diversas publicações, se não conseguir vendê-las até ao final do ano, sendo certo que o Expresso se manterá no grupo. A solução foi comunicada pela administração esta quarta-feira de manhã aos directores de algumas das revistas em causa. Além da Visão (que inclui a Visão Junior e a Visão História), a Impresa detém a Caras, Activa, Exame, Exame Informática, Telenovelas e TV Mais, para lá do Courier Internacional, do Blitz e do Jornal de Letras. 
Público. LILIANA VALENTE e LUÍS VILLALOBOS 23 de agosto de 2017, 16:36 actualizada às 20:12Se não é ainda um fim anunciado, por perto andará.

Há muito que se conhecem as difculdades da Impresa (1) e o nível insustentácel da sua dívida. O lençol orçamental tecido pela Geringonça foi repuxado para o outro lado, o lado das bases sociais e burocráticas de apoio ao PS, Bloco e PCP. Para além das famosas cativações radicais, que ameaçam as infraestruras e a segurança do país, como vimos neste assassino verão de fogos florestais, teremos também dificuldades crescentes nalgumas empresas habituadas a um certo paroquialismo protegido pelos bancos e elites indígenas. Tudo somado, continuamos a ver crescer o desemprego estrutural, a destruição de capital fixo e humano, a implosão das classes médias, o aumento das desigualdades e da pobreza, a evaporação da poupança, a colonização financeira acelerada do país, a gentrificação das cidades, e um enorme sarilho no regime a menos de uma legislatura de vista. Marcelo Rebelo de Sousa terá que dar o seu melhor. Mas não sei se será suficiente.

A economia virtual, a tal que foi gerada pelas bolhas especulativas, mas a que os bancos centrais, BOJ, BoE, Fed e BCE acrescentaram mais fantasias monetárias, tornou-se uma realidade estratosférica. Basta pensar, como sintoma desta incomensurabilidade, no passe pago pelo Qatar/Paris Saint-Germain ao Barça para contratar o jogador de futebol Neymar: 222 milhões de dólares. Ou ainda na capitalização de uma empresa tecnológica como a Apple: 752 mil milhões de dólares, mais do triplo do PIB português (204 mil milhões de dólares em 2016). Ou, para dar ainda um último exemplo sugestivo, a Uber, cujo valor supera a capitalização de toda a bolsa portuguesa. Nesta realidade que incha para lá de toda a nossa imaginação, empresas como a Impresa (que terminou a sua viagem pelo PSI20 com uma capitalização bolsista de 255 milhões de euros) e hoje deve mais de 160 milhões de euros à banca (80 milhões ao BPI) não passa de uma frágil casca de noz num mar de tempestade rodeado de tubarões e a ameaça crescente de um naufrágio.

A fragilidade de um país como Portugal é cada vez mais evidente, assim como a sua prática incapacidade de mudar a direção dos ventos que sopram. Se ainda nos uníssemos, em vez de alimentarmos a fogueira ideológica que António Costa acendeu e a Geringonça ateou...

NOTAS

  1. Em meados de 1995 tentei explicar a Francisco Pinto Balsemão que o futuro da imprensa estava numa coisa chamada Internet. Mostrei-lhe então o que era a Internet num monitor manhoso ligado a um PC. O navedador de então chamava-se Mosaic. Creio que levou demasiado tempo a assimilar a informação que então lhe dei. A avalanche que se seguiria é hoje conhecida de todos. Mas o que ainda falta à burguesia portuguesa entender é que o Capitalismo mudou.
ATUALIZAÇÃO

Biografia de Francisco Pinto Balsemão, escrita por Joaquim Vieira, abre polémica sobre as operações do grupo familiar mais poderoso da comunicação socia portuguesa. Ler aqui, aquiaqui, e aqui.


Atualizado em 31/8/2017 11:32