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domingo, maio 01, 2011

Portas, primeiro ministro?

Creio que foi neste blogue que, pela primeira vez, se colocou a hipótese de Paulo Portas vir a ser o próximo primeiro ministro. O próprio acabaria por anunciar formalmente essa ambição no passado dia 29 de abril. Et pour cause!

Como aqui já se escreveu, há uma hipótese, embora remota, de Sócrates e a pandilha de piratas de que faz parte tentarem aliar-se ao PCP e ao Bloco de Esquerda de forma subreptícia, em volta de uma solução alternativa ao pacote de saneamento financeiro que a troika proporá em breve: reestruturar a dívida soberana. É o que designo por Frente Populista. Embora altamente improvável, esta vitória de Pirro não é de todo impossível, e se vier a ocorrer, o mais provável primeiro ministro deste governo condenado ao insucesso seria, não o exausto e descartável Sócrates, mas Ferro Rodrigues.

Portugal é neste momento a borboleta cujo bater de asas pode ditar involuntariamente o futuro do euro, da Alemanha e da Europa. Não nos esqueçamos que está em curso a primeira grande guerra financeira mundial, e que os PIGS são o primeiro e principal campo de batalha desta guerra, enquanto de Cabul a Marraquexe continuam a guerra e os conflitos militares assimétricos pela reconstituição do Império Islâmico (em si mesma favorável aos interesses da China, Japão, Brasil, Turquia, mas também aos interesses geoestratégicos da Europa mediterrânica e do sudoeste atlântico: Grécia, Itália, Espanha e Portugal).

Quero crer, porém, que a solução da troika vencerá o primeiro round do saneamento da dívida soberana portuguesa, apoiado-se nomeadamente nas imensas reservas financeiras da China — que já tornou oficial o seu interesse em manter a Europa estável e o euro como alternativa de recurso ao colapso do dólar americano. Se assim for, a derrota do PS de Sócrates e da tríade de Macau será redonda. Mesmo assim, o PSD e o CDS poderão não conseguir a maioria imprescindível à revisão constitucional objectivamente imposta pela troika como contrapartida do auxílio comunitário. O país precisa, de facto, de uma maioria constitucional para ultrapassar a bancarrota a que Sócrates, a tríade de Macau e o PS conduziram o país. E neste caso, só mesmo um governo de coligação entre o PSD, CDS-PP e PS será garantia suficiente para uma aprovação unânime do resgate comunitário da dívida portuguesa. Passos Coelho jamais aceitaria o regresso de Sócrates. E Sócrates, se se mantiver como consigliere da tríade que capturou o PS, jamais aceitaria ser segundo do actual líder do PSD. Logo, Paulo Portas poderá mesmo aparecer em breve como a única solução prática disponível para resolver um verosímil impasse pós-eleitoral.

Em qualquer caso, penso como Eduardo Catroga: Sócrates e uns tantos mais devem ser julgados pela destruição financeira de Portugal.

quinta-feira, março 05, 2009

Portugal 88

BCP: falência ou nacionalização?

Acções do banco da tríade de Macau, como escrevia um amigo meu, ao preço da bica: 55 cêntimos!
Ferro Ribeiro (porta-voz de Stanley Ho): “Temos a melhor opinião do dr. Carlos Santos Ferreira e há que referir que nunca, em momento algum, fomos pressionados pelo Governo ou pelo Banco de Portugal para apoiar a sua candidatura à presidência do BCP”.

Há desmentidos que explicam tudo! Sabemos hoje que a OPA do BCP ao BPI (1) foi uma fuga em frente face aos problemas que ameaçavam a viabilidade a prazo do maior banco privado português. A operação não resultou, tendo o BCI contra-atacado com o reforço da sua importante posição accionista no BCP —de 7,238% para 8,51%— ao mesmo tempo que deixava no ar a possibilidade de comprar o BCP (2) Resultado: houve um alarme nacionalista sobre a possível passagem do centro de decisão financeira chamado BCP, de Lisboa para Barcelona, por via da presença forte que o La Caixa tem no BPI — quase 30% (3).

Eu próprio me perguntei se não seria uma acção virtuosa apoiar o populismo então fulgurante do comendador Berardo, verdadeira testa de ferro mediática do grupo de accionistas que saiu em defesa do BCP... mas com dinheiro da Caixa Geral de Depósitos!

A operação de salvamento foi cara (4) e os resultados, desastrosos para todos. Jardim Gonçalves deve estar a rebolar-se nos jardins de Colares!

Há ainda muito por saber. Mas o que parece é isto: a tentativa de assalto do BPI mostrou as fragilidades inesperadas do BCP. Para defender o BCP (com o pretexto de impedir a sua caída em mãos espanholas), a tríade de Macau, que domina o PS desde que António Guterres derrotou o clã de Mário Soares, viu no imbróglio gerado pela ousadia do novel presidente do BCP, Paulo Teixeira Pinto, uma oportunidade única (5) para se apoderar de uma ferramenta financeira de primeiro plano. Tocou a rebate e juntou testas de ferro e parceiros para a mudança da guarda: da Opus Dei para a tríade de Macau (6).

Tudo muito bonito se quem orquestrou a operação tivesse ouvido falar do Black Swan já em formação, mas ainda pouco visível, que viria a ser o colapso do incomensurável mercado de derivados que continua a engolir a economia global. As acções do BCP desvalorizaram, entre o ano 2000 e hoje, qualquer coisa como 89,7%. Hoje já não chega para beber uma italiana bem escaldada na esplanada do Tamariz!

Como diz uma amiga minha canadiana, perseguir os culpados —desporto que entretém muita gente por esse mundo fora—deixou de ser a tarefa mais produtiva de todas. O que urge mesmo é imaginação para reparar o desastre.


NOTAS
  1. 23-03-2007 - 23h47 — O Banco Comercial Português (BCP) apresentou esta noite o pedido de registo na Comissão do Mercado de Valores Mobiliários da Oferta Pública de Aquisição (OPA) lançada sobre o Banco Português de Investimento (BPI).

    O projecto não contempla a revisão do preço, mantendo o valor nos 5,7 euros por acção, e admite manter a sua proposta no mercado, mesmo se não houver desblindagem dos estatutos da instituição opada.

    Nesse caso, passa a vigorar como única condição de sucesso da OPA a compra de pelo menos 82,5 por cento do capital do BPI, e não de 90 por cento como previsto. — Cristina Ferreira (Público).

  2. 26-07-2007 — O BPI reforçou, ao longo dos últimos dois dias, a sua posição no BCP de 7,238% para 8,51%, no ‘timing’ limite para poder votar com todas as acções na assembleia geral (AG) de 6 de Agosto. Este aumento da participação do BPI provocou uma onda de rumores no mercado, por não se conseguir perceber inteiramente o racional deste investimento para o BPI. O banco liderado por Fernando Ulrich já tinha com os seus 7,2% uma palavra decisiva na guerra de poder existente no BCP, sendo indiscutível que com 8,5% o seu poder é maior. Mas, na opinião dos analistas, esta não deverá ser a única razão que levou o BPI a comprar mais acções do seu rival. Os rumores de uma OPA, de negociações de uma aliança amigável entre o BPI e qualquer uma das facções em confronto no BCP, tendo em vista uma parceria futura entre os dois bancos, foram alguns dos cenários aventados. No entanto, não foi possível confirmar qualquer uma destas hipóteses. Sobre o tema, Ulrich limitou-se a dizer, em declarações exclusivas ao Diário Económico, que uma OPA está fora de questão e que não existem contactos com o fundador do BCP há mais de ano e meio. — Diário Económico.

  3. La Caixa já detém 30% do BPI (IOL Diário)

    04-02-2009 — O La Caixa, o accionista de referência do BPI, voltou a reforçar a sua posição na instituição financeira liderada por Fernando Ulrich e já detém 29,9% do banco.

    As acções foram compradas entre o dia 26 e o dia 30 de Janeiro, com preços a variar entre 1,49 e os 1,52 euros, revela em comunicado enviado à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM).

    (S&P coloca dívida do BES e BPI sob vigilância negativa)

    Com este reforço, o La Caixa passou a deter 169.294.328 títulos.

    Recorde-se que, o presidente do banco, já tinha salientada na apresentação de resultados, que este reforço do espanhol La Caixa no seu capital social, revelava «um voto de confiança».

    No entanto, Ulrich, na altura, rejeitou a hipótese de uma oferta pública de aquisição (OPA): «Não nos parece que seja esse o caminho que o La Caixa vai seguir».

  4. BCP gastou 451 milhões com OPA ao BPI

    O BCP gastou ao todo 451 milhões de euros com o BPI. Este montante inclui o valor gasto pela instituição de Santos Ferreira na Oferta Pública de Aquisição (OPA) e na tentativa de fusão com o banco liderado por Fernando Ulrich.

    Já as perdas relacionadas com posição de que detinha no BPI, cerca de 9,7%, traduziram-se num montante 348 milhões de euros, revelou o presidente do BCP, Santos Ferreira, em conferência de imprensa. — IOL Diário.

  5. Financiamento de 500 milhões a apoiantes de Santos Ferreira
    Joe Berardo e aliados compraram acções do BCP com crédito da Caixa

    04.01.2008 - 09h02 Cristina Ferreira, Paulo Ferreira (Público).

    Alguns accionistas do Banco Comercial Português (BCP) que apoiam a candidatura do ex-presidente da Caixa Geral de Depósitos Carlos Santos Ferreira têm vindo a reforçar o seu investimento em acções daquela instituição privada com crédito concedido pelo próprio banco do Estado.

    O PÚBLICO apurou que Joe Berardo, a família Moniz da Maia (Sogema), Manuel Fino, Pedro Teixeira Duarte e José Goes Ferreira receberam crédito da CGD para comprarem acções do BCP, o que lhes tem permitido ter uma palavra a dizer nos destinos do maior banco português.

    Em causa estão operações de financiamento que, só no primeiro semestre de 2007, totalizaram mais de 500 milhões de euros, e serviram para adquirir o equivalente a cerca de cinco por cento do capital do BCP por um total de 22 accionistas, mediante recurso a financiamento da CGD.

    Desta fatia, cerca de quatro por cento do capital foram adquiridos pelo grupo de cinco accionistas principais referidos durante aquele período. Neste grupo encontram-se os primeiros proponentes de Carlos Santos Ferreira para a presidência do BCP - Berardo e Moniz da Maia.

    ...

    Estas operações, que são legais, foram autorizadas pelo Conselho Alargado de Crédito da Caixa formado por cinco administradores: Carlos Santos Ferreira, o então CEO, o seu vice, Maldonado Gonelha, Armando Vara, Celeste Cardona e Francisco Bandeira. Com excepção de Bandeira, que vai integrar a equipa da CGD encabeçada por Faria de Oliveira, todos os restantes já saíram ou vão sair da gestão do banco público. Armando Vara tinha o pelouro do crédito bancário.

  6. Maiores accionistas do BCP (em 3-4-2008):

    BPI (7,84%)
    Dutch Eureko (7,07%)
    Joe Berardo (7%)
    Teixeira Duarte (6,68%)
    Sonangol (4,98%)
    Sabadell (4,43%)

    Grupo de que impulsionou o assalto do BCP

    Joe Berardo (7%)
    Stanley Ho (Ferro Ribeiro)
    Sonangol (4,98%)
    Sabadell (4,43%)
    Teixeira Duarte (6,68%)
    Banco Privado Português (2,32%)
    Manuel Fino (Cimpor)
    Caixa Geral de Depósitos (2,93%)
    EDP (4,34%)
    Sogema (2,67%)


OAM 548 05-03-2009 14:24

segunda-feira, novembro 01, 2010

Um caso de estudo

Tit for tat vence dilema do prisioneiro Sócrates



Portugal está na bancarrota. Pergunta: quem foi responsável por semelhante desastre e pelas pilhagens que contribuíram para este desfecho? Foi apenas o PS e quem o tomou de assalto, ou há que assacar também responsabilidades ao PSD, nomeadamente ao PSD de Cavaco Silva, de onde surgiram figuras tão pouco recomendáveis quanto Oliveira Costa e Dias Loureiro, possíveis cúmplices do maior assalto a uma instituição financeira (SLN/BPN) alguma vez praticado no nosso país?

A convicção popular reparte, ainda que de modo desigual, as responsabilidades do colapso em curso, pelos dois principais protagonistas do chamado Bloco Central que nos tem governado desde 1983.

Sendo embora evidente as especiais responsabilidades do PS e do mentiroso compulsivo José Sócrates na década de escondida estagnação e sobre endividamento que Portugal atravessou desde o início deste século, é também verdade que o decrescimento tendencial da nossa economia e a divergência relativamente à média europeia começou no início dos anos 90, ainda com o governo de Aníbal Cavaco Silva, que acabaria aliás por perder as eleições de 1995, no rescaldo da recessão de 1993 (1).

Foi esta percepção, e ainda a noção generalizada de que os demais partidos com assento parlamentar (CDS-PP, PCP e Bloco de Esquerda) não passam de contra-pesos do regime, incapazes, individualmente ou em qualquer coligação imaginável, de fazer qualquer coisa de útil pelo país, que acabou por induzir na consciência colectiva, e nas sondagens, duas convicções complementares, apesar de terríveis:
  1. que o equilíbrio de uma solução de emergência nacional para a crise aguda em que estamos teria que ter um larguíssimo apoio parlamentar;
  2. e que assim sendo, seria fatal como o destino um entendimento entre os dois maiores partidos, significando tal entendimento na prática uma óbvia concessão de maiores e mais decisivos poderes ao PSD —certamente antes do fim ou interrupção do actual ciclo legislativo.
Mas transformar este sentimento popular numa efectiva alteração do cenário político não é coisa fácil, sobretudo tendo presente a natureza burlona e golpista dos piratas que tomaram de assalto o PS e o Estado, e os foram esvaziando de conteúdo, autonomia e fundos.

Desde que António Guterres perdeu o controlo do seu próprio governo a favor da tríade de Macau, e com total descaramento, desde que o senhor Sócrates Pinto de Sousa foi colocado onde está, que a partidocracia vigente caminha de forma acelerada para uma cleptocracia, com tudo o que de suicida tal descarrilamento democrático significa. Estancar a hemorragia orçamental populista que alimentou e é propícia a favorecer rapidamente o colapso de qualquer regime democrático exige, antes de mais, expor, denunciar publicamente, e derrotar o verdadeiro exército de corrupção instalado em boa parte dos vértices do poder e que se espalhou como metástases de um cancro por toda a sociedade que depende da apropriação dos fundos comunitários e da pilhagem fiscal.

Ora, como não podia deixar de ser, os piratas resistem com tudo o que têm à mão a ceder as posições que ocuparam sob a capa do processo democrático. A cooperação entre os dois principais partidos com assento parlamentar é mais do que nunca necessária, mas o poder mafioso existente fez e fará tudo para torpedeá-la.

Passos Coelho apercebeu-se, felizmente a tempo, desta fatalidade do comportamento adversário, o qual queria impor ao PSD uma submissão pura e simples aos seus desígnios, em troca de uma partilha subreptícia dos negócios ruinosos em curso, e do banquete orçamental. Para tal manobra, Sócrates e a tríade de Macau contaram aliás com vários apoios laranjas, do intriguista-mor do reino, Marcelo Rebelo de Sousa, até aos mais chegados, e felizmente exonerados, conselheiros do actual líder do PSD: Ângelo Correia e António Nogueira Leite.

Como aqui se recomendou sempre, a melhor estratégia para lidar com esta verdadeira conspiração seria manter bem alta a perspectiva de uma rejeição do orçamento do PS por parte do PSD, deixando Sócrates, a tríade e o próprio Cavaco entregues ao bluff anunciado de uma demissão do governo.

O PSD, apesar de ter culpas no cartório, não é responsável pelo agravamento extremo da situação económica e financeira a que a pirataria e a mentira do governo Sócrates conduziram o país. E por isso, só um tolo, suicida, ou vendido, aceitaria comungar com o PS as responsabilidades pela dita bancarrota. O dilema do prisioneiro estava assim criado, e o jogo da mais extraordinária negociação política dos últimos tempos iria ter finalmente lugar.

Eduardo Catroga, que o anti-ético conselheiro de estado e intriguista-mor do reino "professor Marcelo" apelidou este Domingo, em tom pejorativo, de "avozinho" e "Avô Cantigas", liderou de forma absolutamente brilhante uma equipa de negociadores que acabaria por derrotar por KO humilhante o capacho Teixeira dos Santos, e por via deste capacho, esse quisto do regime que é necessário lancetar quanto antes: José Sócrates Pinto de Sousa. Não vou descrever a cronologia deste Tit for tat, mas foi tão extraordinário e emocionante que espero venha a ser objecto de uma tese de mestrado ou doutoramento sobre como a arte de negociar pode salvar um regime à beira do colapso de um suicídio mais do que plausível.

O dilema do prisioneiro ainda não chegou ao fim, mas tudo indica que quem verdadeiramente assaltou o pomar é já conhecido de todos. Só falta mesmo que as autoridades policiais tomem conta do caso, e antes disso, que os socialistas recuperem as rédeas do PS. A desautorização flagrante das palavras do capacho Teixeira dos Santos, isto é, a desautorização flagrante do chefe do governo e ainda secretário-geral do PS, José Sócrates, por parte de Francisco Assis, assinalam não apenas a dimensão quase esmagadora da vitória de Eduardo Catroga e Passos Coelho, mas também o início da limpeza doméstica que o Partido Socialista terá que fazer rapidamente se quiser estar à altura das circunstâncias extremas que aí vêm — e que também dele exigirão cooperação e responsabilidade.

A realidade é o que é. E no que se refere às próximas eleições presidenciais, os dados estão lançados, e os resultados antecipados já são conhecidos: Cavaco Silva, apesar de provavelmente sofrer de doença grave, será reconduzido eleitoralmente no cargo, deixando para trás uma colecção de candidatos impossíveis de levar a sério. Mas assim como os partidos precisam todos de uma grande limpeza interna e de arejar as respectivas ideias, éticas, metodologias e programas, também a presidência da república terá que aproveitar as próximas eleições para estancar as tendências cesaristas que crescem na sua Casa Civil. A situação do país não se compadece com menos.

Prevejo há muito a necessidade de formação dum governo de grande coligação (PS-PSD-PP) antes ou depois da reeleição de Cavaco Silva, antes ou depois de terminar a actual legislatura. Embora não seja de excluir uma vitória por maioria absoluta do PSD nas próximas eleições legislativas, antecipadas, ou no prazo regular, a instabilidade política inerente ao declínio económico-financeiro de Portugal que se prevê que venha a ocorrer até, pelo menos, ao fim da próxima década, exigirá uma adaptação do regime a tão dramática emergência nacional, a qual deverá passar, na minha opinião, por uma arquitectura de alianças estável, baseada numa plataforma de responsabilidade política, de ética institucional e de solidariedade social consensual entre uma boa maioria da população.

Pelo que se conhece de Cavaco Silva e das tendências cesaristas em desenvolvimento no interior da sua Casa Civil, pouco poderemos esperar de bom do Palácio de Belém. Compete aos partidos, após a sua urgente e radical renovação (do Bloco ao PP), impedir que a democracia portuguesa se transforme num inferno, acalentando na bicharada de Belém o sonho imoral de uma democracia tutelada.


NOTAS
  1. "Em 2010 termina uma década de crise e estagnação da economia portuguesa, usando os índices tradicionais dos capitalistas vejamos um pouco esta realidade: na década de 80 (1981-1990) o crescimento médio do Produto Interno Bruto (PIB) português foi de 3,8% com picos de 7,6% e 7,9%, respectivamente em 1987 e 1990, e um ano de recessão em 1984, numa evolução do PIB de -1%; na década de 90, encontramos já uma descida do crescimento médio para 3% com picos de 4,2% e 4,9%, em 1997 e 1998, e também um ano de recessão em 1993, numa evolução negativa de -0,7%; na década que agora termina, constatamos um crescimento médio de 0,5%, com pequenos picos de 2% e 1,9%, em 2001 e 2007, mas desta vez com dois anos de recessão em 2003 e 2009 com decréscimos respectivos de -0,8% e -2,7% a -3%, dependendo das diferentes projeções do Banco de Portugal ou do FMI, assinalando ainda que o crescimento em 2008 fosse de 0%. " — in "Portugal: uma década de decadência económica" (Diário Liberdade.)

domingo, junho 01, 2008

Aviso ao PS 4

José Sócrates in Blue

Quem fica com o PS?

Lisboa, 31 Mai (Lusa) -- O porta-voz socialista, Vitalino Canas, considerou hoje que o comício de terça-feira, que junta o Bloco de Esquerda, Renovadores Comunistas e em que discursa Manuel Alegre, pode ser encarado como uma iniciativa "contra o PS".

... "Ninguém da direcção do PS foi convidado para essa iniciativa e, como tal, trata-se de um evento que, ou prescinde do PS, ou é feito contra o PS", declarou o dirigente socialista.

... "A participação de militantes do PS em eventos do Bloco de Esquerda não nos parece aconselhável, embora o PS seja um partido livre e que convive bem com a divergência", frisou.

Tornou-se já evidente para todos, até para a Direita, que o PS de Sócrates é hoje um partido neoliberal concebido por uma tríade de renegados oriundos de organizações falhadas como a maoísta UDP e a incaracterística UEDS. Esta clique semi-clandestina foi conquistando o PS por dentro até conseguir isolar os seus principais pilares ideológicos e dominar o respectivo aparelho. Depois de usar o partido como escadote para ascender ao poder de Estado, tendo contado para tal com a preciosa ajuda de António Guterres (espécie de génio tonto de serviço), e com o recurso de última hora, José Sócrates Carvalho Pinto de Sousa, a tríade de Macau iniciou sem rebuço nem vergonha a subordinação do Partido Socialista ao pior do capitalismo internacional e nacional, promovendo a demolição paulatina do Estado social e a implosão do tecido económico dominante, em nome dos interesses imediatos dos grandes construtores civis, dos credores da nossa dívida pública, dos especuladores financeiros, e deles próprios -- claro!

Se o propósito reformista (a célebre paixão pela educação e pelo diálogo de Guterres, ou a reforma do Estado e o caricato choque tecnológico de Sócrates) parecia louvável, a sua prossecução foi não só um embuste, mas também um ostensivo ataque ao frágil equilíbrio económico do país, e ainda a prova provada de que algo estava mal no Partido Socialista. Tamanha descaracterização ideológica do principal protagonista da esquerda portuguesa iria arruiná-lo a prazo, se nada fosse feito entretanto.

A emergência do movimento socialista em volta de Manuel Alegre, o tardio toque a rebate de Mário Soares e o já memorável "comício" em prol de uma nova frente de esquerda não comunista, contra o monopólio exercido sobre a sociedade portuguesa pela meia-dúzia de famílias de sempre (agora aparadas por uma turma de invertebrados mascarados de socialistas), são sinais sérios de que talvez existam ainda energias suficientes para a necessária purga por que o PS terá que passar se não quiser partir-se em dois antes de esta década chegar ao fim. No fundo, o único obstáculo é uma marioneta já sem bonecreiros verdadeiramente comprometidos com a sua animação. A tríade de Macau deixou de apostar no PS e procura um novo partido. José Sócrates está só diante da sua própria caricatura!

Mais cedo ou mais tarde haverá um novo partido da chamada direita moderna. Os neoliberais do PPD-PSD (Passos Coelho, José Relvas, Ângelo Correia, etc.) e os neoliberais do PS (António Vitorino, Jorge Coelho, Francisco Murteira Nabo, Carlos Santos Ferreira, Vitalino Canas, Armando Vara, José Penedos, Manuel Pinho, António Nunes, etc.) acabarão por dar o nó, impulsionados pela pressão irresistível dos off-shores que já hoje alimentam boa parte deste sindicato. Não existe pois nenhuma razão para que sejam os socialistas a abandonar o PS!


OAM 374 01-06-2008, 13:38

quinta-feira, junho 09, 2011

PS: o sucessor nomeado

Assis atropela Costa por ordem de Santos

Francisco Assis, o tribuno. Foto: ©LUSA

«Os meus camaradas do PS são os primeiros a compreender que honrar a confiança que em mim depositam os lisboetas, cumprir o compromisso que assumi com a cidade que me elegeu e exercer com total paixão as funções públicas que me estão confiadas é não só meu dever como o melhor contributo que posso dar para credibilizar a política e prestigiar o PS» — António Costa (08-06-2011 00:47)

Il consigliere Almeida Santos foi ao Conselho Nacional do PS explicar a António Costa que afinal não podia suceder a Sócrates, e mais: teria que apoiar o Assis!

Pior ainda: António Costa tinha anunciado que iria dar uma conferência de imprensa, logo depois do conselho nacional do partido rosa que teria lugar no Largo do Rato, para anunciar a sua posição sobre a corrida ao cargo de sucessor de José Sócrates. A imprensa ficou à coca, imaginando o que toda a gente imaginou: que o homem iria candidatar-se, prometendo obviamente dar continuidade responsável e idónea ao trabalho do demissionário secretário-geral do PS.

Subitamente, porém, entrando pelo horário nobre das televisões dentro, il consigliere veio dizer-nos, sem cerimónias, que António Costa seria certamente o melhor sucessor de Sócrates, mas que, infelizmente, não poderia acumular tal cargo com o de presidente da câmara de Lisboa. E uma vez que Costa não iria certamente abandonar o cargo camarário, a sua candidatura a secretário-geral do PS ficava, pois, sem efeito.

Ou seja, o futuro secretário-geral do PS pode e acumulará tal cargo com o de primeiro ministro, quando e se vier a ganhar umas próximas eleições legislativas, mas não pode acumular com o cargo de edil da capital. É inacreditável, se não fosse, pura e simplesmente, mais uma demonstração da natureza perigosa de quem, sem a menor vergonha, capturou um partido político de alto a baixo!

A anunciada conferência de António Costa, prevista para as 22:30 de 7 de Junho, acabaria por ter lugar já na madrugada do dia seguinte, para se resumir a uma breve e decepcionante declaração de desistência.

Podemos imaginar os gritos e as lágrimas de crocodilos que correram durante o conselho presidido pelo consigliere Santos!

Desenhou-se e fez-se pois aprovar o plano da tríade que continua a controlar o PS, por forma a colocar no poleiro um sósia barbudo de Sócrates —o amarantino renegado e de nome enganador, Francisco Assis, trepadeira falante disposta a tudo dizer e o seu contrário para agarrar o teleponto dos insaciáveis donos do PS.

Razão teve Manuel Maria Carrilho ao dizer, na passada terça-feira, na TVI, que Assis é um seguidor acrítico de Sócrates, que a seu tempo (digo eu) pescou Assis e o promoveu para o dia de hoje.

Entretanto, lendo as entrelinhas dos jornalistas-pedreiros do Correio da Manhã, ficamos a saber que a manobra do consigliere foi, de facto, mais elaborada e subtil do que inicialmente pensei.

Almeida Santos tenciona afinal retirar-se do cargo que ocupa há séculos —o de presidente do partido— entregando-o (adivinhem?) a António Costa! Ou seja: se Assis ganhar, continua tudo nas mãos da tríade de Macau (Jorge Coelho, António Vitorino, Vitalino Canas, Alberto Costa, Maria de Belém Roseira, Carlos Santos Ferreira, Francisco Murteira Nabo, Manuel Frasquilho); mas se Assis perder para Seguro, pelo menos o cargo decisivo de presidente do partido fica em mãos, como se constatou, bem domesticadas!

O objectivo, porém, é mesmo derrotar António José Seguro, apostando em tudo o que houver para apostar. Até numa candidatura feminista improvisada, como aquela que Maria de Belém Roseira e Ana Gomes parecem estar prestes a protagonizar. Só falta mesmo a Edite Estrela para termos as três desgraças cor-de-rosa na posição de acólitas eleitorais do candidato da tríade. É difícil imaginar uma democracia europeia mais miserável!

sábado, janeiro 15, 2011

Bangsters!

A China entra no próximo dia 3 de Fevereiro no ano do coelho.
E nós também. Saltam por todos os lados!



Pois é, o senhor Cavaco saiu-me um bom figurão. De acima de toda a suspeita, nada! Com mais umas  semanas de revelações ainda se punha em marcha um processo de Impeachment. Só não percebo o motivo porque a Tríade de Macau agiu tão tarde. Erro de cálculo, ou cálculo certeiro?

A minha teoria é há muito esta: a Tríade de Macau prefere ter o amigo da sociedade de bangsters SLN/BPN prisioneiro das suas inconfessáveis distracções, inconveniências, prováveis ilegalidades e escandalosas solidariedades.

Mas como o desajeitado Silva resolveu atacar a actual monitorização do BPN, os alarmes tocaram em São Bento, e a resposta não se fez esperar, contundente. Será possível arrefecer depois das eleições a actual dinâmica de embate fatal? Não sei...

Tenho, no entanto, um palpite: a Tríade de Macau não vai deixar cair no regaço dos bangsters do BPN toda a sementeira que fizeram no Brasil, Líbia, Argélia, Venezuela e China!

Fernando Fantasia, administrador da SLN e membro da Comissão de Honra da candidatura de Cavaco Silva, comprou 4000 hectares de terrenos em Alcochete (por 250 milhões de euros?) 15 dias antes de Sócrates ter anunciado o fim do embuste da Ota. Se compaginarmos isto com a tentativa insistente e já desesperada de boicotar a nova ligação ferroviária rápida, para passageiros e mercadorias, entre Lisboa (Sines-Setúbal) e Madrid (resto de Espanha), em nome da construção duma cidade aeroportuária (Augusto Mateus dixit) e de um novo aeroporto em Alcochete, com a consequente privatização da ANA, percebemos melhor os altos serviços que o traste Cavaco Silva poderá prestar à Nação. Votem nele, votem. Mas depois não se queixem!

O novo aeroporto de Alcochete é uma impossibilidade económica e financeira comprovada. A sua construção seria mais um prego no caixão de Portugal. Não nos esqueçamos que foram as Olimpíadas e o novo aeroporto de Atenas os principais responsáveis pela precipitação do colapso económico, financeiro e social da Grécia!

Jorge Coelho, Passos de Coelho, Aldeia da Coelha — vamos mesmo entrar no ano do coelho! Mas aquele de quem gosto mais é mesmo o candidato madeirense às presidenciais, José Manuel Coelho. Sinal dos tempos...

sábado, julho 05, 2008

TAP 2

Salvar a TAP!

Nenhum português deseja, quanto mais não seja por sentimento patriótico, ver a sua companhia aérea de sempre ir por água baixo. No entanto, o que aconteceu à Sabena, à Suiss Air e vai acontecer à Alitalia, demonstra que algo de profundamente drástico está a afectar o velho panorama das chamadas companhias de bandeira. Esse algo é o resultado inevitável de três tendências e dois constrangimentos muito fortes: por um lado, a globalização, o desenvolvimento da União Europeia e o crescimento económico acelerado dos BRIC (China, India, Rússia, Brasil, Emiratos Árabes Unidos, etc.); por outro, os efeitos do pico petrolífero, a par do colapso da moeda americana e da liquidez artificial nos mercados mundiais (1).

Os três primeiros fenómenos estão na origem do aumento exponencial e simultâneo da concorrência e da concentração capitalistas à escala global. O quarto factor, é sobretudo um constrangimento catastrófico cuja percepção empresarial e pública só agora começou a ter verdadeira importância psicológica e a afectar as decisões económicas. Finalmente, a queda do dólar e o rebentamento das bolhas financeiras estão a gerar inflação à escala global e uma vasta retracção do crédito disponível, apesar da chuva de dólares e euros com que a Reserva Federal e o Banco Central Europeu têm regado os aflitos bancos de ambos os lados do Atlântico. O colapso do mercado imobiliário dos Estados Unidos (Subprime) e da Europa foi apenas o prenúncio de algo muito mais grave para a economia mundial: o rebentamento iminente da bolha financeira, formada sobretudo no chamado mercado de derivados, através da congeminação dos mais variados estratagemas de criação de liquidez virtual e acumulação infinita de dívidas, com a interesseira ajuda do Japão, que através do chamado carry trade tem vindo a financiar as suas exportações com empréstimos a taxas de juro negativas ao resto do mundo, com especial destaque para os importadores americanos e europeus, ao mesmo tempo que estimulou toda a espécie de casinos especulativos em volta da compra e venda de divisas!

Todos estes factores, que são duradouros, podendo mesmo um deles --o pico petrolífero-- determinar a implosão geral das actuais filosofias de crescimento económico, conspiram, no que ao transporte aéreo diz respeito, na direcção da concentração e redução drástica do número de grandes operadores, com as consequentes falências e fusões. Por outro lado, haverá uma procura crescente de aeronaves cada vez maiores e mais eficientes do ponto de vista dos respectivos custos operacionais (nomeadamente energéticos). Nesta mesma lógica, as grandes cidades aeroportuárias darão progressivamente lugar a interfaces aeroportuárias muito mais leves e baratas (basicamente, duas pistas paralelas com 4,8Km de comprimento e 60 a 90 metros de largura, apoiadas por um aeroporto espartano mas bem servido por linhas férreas diversas (metropolitano e metro de superfície, comboios suburbanos) e autocarros eléctricos (trolleys ou movidos a motores eléctricos).

No caso português, a solução é óbvia: reformar inteligentemente a Portela (correndo previamente com as actuais administrações da TAP, ANA e NAER) e transformar, até 2010, a Base Aérea do Montijo, numa aerogare complementar da Portela, especializada nas companhias de baixo custo e no transporte de carga, devidamente servida por uma frota de autocarros e táxis eléctricos, além de novas e rápidas ligações fluviais ao Terreiro do Paço. É para isto que os fundos comunitários devem ser imediatamente reorientados (com aplauso seguro da Comissão Europeia e de todos nós!) Não precisamos de Alcochete! E não precisamos de uma nova travessia do rio Tejo a montante da actual Ponte 25 de Abril!

A anunciada aliança e possível fusão entre a American Airlines, a British Airways e a Ibéria é um sinal de alarme que soou com força. As causas de semelhante cenário foram já explicadas. Mas face ao timing da coisa, e sabendo-se como se sabe que os prejuízos da TAP não pararão de subir até ao fim deste ano e nos anos que se seguem, pois o petróleo poderá chegar aos 500 USD pb antes de 2013, ou mesmo em 2011 (ler artigo anterior), a crise da TAP entrou numa fase pré-comatosa. A anúncio de uma greve para o próximo dia 19 de Julho, a par do discurso errático de Fernando Pinto e da hesitação governamental, que tenderão a congelar os problemas até às próximas legislativas, prenunciam um fim súbito e feio para a TAP.

A tríade de Macau persiste na sua inglória tentativa de arruinar o país, envolvendo-o em grandes obras inúteis, para as quais não tem dinheiro. A tríade pressiona assim o gaúcho da TAP para que continue a pôr no ar aviões vazios (i.e. com passenger load factors a roçar ou mesmo abaixo dos 50%), perdendo cada vez mais dinheiro, só para segurar alguns Landing Slots que as Low Cost estão mortinhas por comprar. Isto mostra até onde pode chegar a mentira, a contra-informação e o comportamento corrupto da tríade de Macau na sua tentativa canina de bem servir os tubarões para quem trabalha e de onde recebe as gratificações suficientes para não ter que andar de Metro. Só que a sua vã tentativa de demonstrar a saturação da Portela chegou ao fim, a partir do momento em que a blogosfera conseguiu levar o caso à janela televisiva. Conseguimos travar a Ota, e conseguiremos travar o fecho da Portela!

Mas conduzir os políticos profissionais até soluções ponderadas e sábias no que se refere ao sistema de transportes e mobilidade, não resolve por si só o problema sério da TAP.

A TAP não tem nenhuma possibilidade de sobreviver como está. Quer dizer, com tantos trabalhadores quanto a easyJet, a Ryanair e a Air Berlin juntas, mas prestando menos de um décimo do serviço que aquelas três companhias juntas prestam, a TAP é pura e simplesmente inviável. Por outro lado, na Europa não tem nenhuma possibilidade de competir com os preços das companhias de baixo custo, que já ocupam em força os mercados de Faro e Porto, e se preparam para tomar em breve conta das rotas de Lisboa e Funchal. Por fim, no que se refere às rotas de longo curso (África e Brasil), nada garante a sua sobrevivência, antes pelo contrário. A nova aliança entre a American Arlines, a British Airways e a Ibéria atacará mais cedo ou mais tarde estes nichos da TAP. Até as Low Cost, nomeadamente a Ryanair, já anunciaram que vão competir, com toda a agressividade de que são capazes, no mercado de longo curso, sobretudo nas rotas atlânticas -- Ryanair Long-haul flights have "blowjobs" included!



Uma parte da blogosfera, onde me incluo, acredita que só uma solução combinada entre uma boa decisão sobre a infraestrutura aeroportuária e uma boa decisão sobre o futuro da TAP poderá salvar a companhia portuguesa dum naufrágio vergonhoso.

Sobre o aeroporto, a solução defendida há muito, a que a actual crise petrolífera veio dar mais razão, passa por manter o Aeroporto da Portela (renovado e com novas administrações) e activar a Base Aérea do Montijo para as Low Cost e cargueiros aéreos.

Sobre a TAP, a solução não passa por segmentar internamente a oferta, de que o novo programa "Liberdade de Escolha -- Um Voo, Cinco Formas de Viajar" é exemplo condenado ao fracasso, mas sim por segmentar a companhia!

A TAP poderia subdividir-se em três companhias, abarcadas embora pelo mesmo grupo: TAP Eurásia, TAP África e TAP Américas. A primeira, seria uma companhia Low Cost típica, e as outras duas, companhias Low Cost intercontinentais com sofisticadas e generosas classes executivas. Esta solução exige porém decisões difíceis: por um lado, a busca de fortes parceiros financeiros nos três continentes referidos (Eurásia, África e Américas); por outro, uma reestruturação de alto a baixo do actual grupo, começando por dispensar todos os administradores que nada fazem a não ser cobrar ordenados escandalosos e mordomias indecorosas. Em vez de despedimentos de pessoal, o que terá que haver, para sermos justos, usando parte da necessária injecção de liquidez, são reformas antecipadas e reciclagem profissional exigente. Por fim, o que não faz parte do negócio principal deverá ser alienado.

Estará a TAP preparada para a metamorfose que a salvará da implosão à vista?

Receio bem que não. E apenas por uma única causa: a inexistência de um ambiente favorável à cooperação.

A democracia actual não passa de uma plutocracia assistida por mecanismos democráticos corrompidos, onde predominam burocratas representando minorias activas --corporações empresariais, profissionais, universitárias e sindicais-- e a burocracia de Estado. A democracia transformou-se há muito num teatro de sombras adversativas (adversariais), onde a análise e resolução dos problemas dão lugar invariavelmente às arenas políticas dos jogos de retórica. Ninguém olha ninguém nos olhos e diz ao que vem. Limitam-se, estas ridículas e infecciosas criaturas da democracia contemporânea, a repetir os seus terços e a comprar votos com dinheiro falso. Daí o bloqueio geral provocado pelo diálogo de surdos em que se transformaram os regimes democráticos em que votamos cada vez menos. Daí o meu receio sobre a capacidade de a TAP resolver o seu problema, que é em primeiro lugar um problema de todos aqueles que trabalham nesta empresa, da mais mal paga telefonista ao administrador-executivo. Na realidade, só depois vêm os governos, os políticos, os clientes e os eleitores. Mas serão eles capazes de perceber e aceitar esta verdade?

A primeira condição para chegar a uma verdadeira plataforma colaborativa para a resolução do impasse da TAP, é sentar, sem hierarquia, nem preconceitos, duas pessoas sorteadas entre cada um dos sectores e departamentos da empresa (incluindo os sindicatos, a administração e o departamento jurídico.) Nessa assembleia as pessoas, sentadas aleatoriamente à volta de uma grande mesa, deveriam usar da palavra --olhos nos olhos-- de forma rotativa e sequencial. Cada pessoa deveria começar por identificar-se, explicar o que faz na empresa, o que espera dela, e quais os prejuízos que um eventual fecho da mesma, ou o seu despedimento, causariam à sua pessoa e às pessoas que lhe são próximas. O essencial é que cada um falasse verdade, sem medo das consequências que as suas palavras, por mais duras que fossem, viessem a ter sobre qualquer um dos participantes. Se esta assembleia algum dia acontecesse, tenho a certeza que um grande e comovedor silêncio se seguiria ao fim da primeira rodada de intervenções. Passado o momento de comoção e o intervalo para café, seguir-se-ia uma segunda ronda de intervenções sequenciais, desta vez sobre o tipo de metamorfose por que a TAP teria que passar para se salvar como empresa, sem violentar irremediavelmente as expectativas e os direitos de quem nela trabalha. A agitação entre os presentes atingiria certamente aqui um dos seus mais elevados e dramáticos picos psicológicos. Tempo para novo intervalo. A terceira parte desta convenção seria dedicada a unificar os pontos de acordo numa declaração conjunta dirigida a todos os membros da empresa. De algum modo, esta iniciativa elevaria os patamares de análise dos problemas e de decisão para níveis nunca antes imaginados. Em vez de negociação e confronto, caminhar-se-ia então para uma solução razoável pela via de uma cooperação tendo em vista harmonizar os interesses de cada um e a sobrevivência da TAP. Parece utopia, mas não é! E mais: ninguém se atreveria a travar tal dinâmica, uma vez começada.

ÚLTIMA HORA
  • TAP anuncia suspensão de 61 frequências semanais de voos a partir de Outubro, i.e. depois da época alta (ver mapa dos cancelamentos). O inesperado da decisão é a mesma abranger, não apenas e como era esperado pela blogosfera, os voos internos e para o resto da União Europeia, por absoluta incapacidade de competir com as Low Cost (só nas pontes aéreas entre Lisboa e Madrid serão anuladas 7 frequências, o mesmo ocorrendo com a ligação Lisboa-Barcelona), mas já e também, os voos transatlânticos para o Brasil e os Estados Unidos!

    O crescimento anunciado de voos para África é uma fraca compensação para as perdas pesadas que se anunciam depois de iniciado o declive das prestações da TAP no médio curso. Como opina quem sabe, a diminuição das frequências de voo numa dada rota costuma ser o prelúdio do seu abandono a curto prazo. Muitos dos voos europeus da TAP servem sobretudo ligações entre o Brasil e a Europa. Logo, se abrandar o trânsito entre Portugal e o Brasil, e diminuir ao mesmo tempo o vai-e-vem dos brasileiros entre o seu país e a Europa, a principal mina de ouro da TAP secará inexoravelmente. Seja porque atingimos o limite do endividamento, porque os cartões de crédito vão começar a doer, ou porque os pacotes turísticos financiados sabe-se lá como, ou por quem, têm os dias contados, a verdade é que a recessão mundial será para todos! A ponte africana jamais poderá cobrir as perdas da ponte brasileira, até porque os controlos europeus sobre a imigração vão apertar e muito! A TAP caminha rapidamente, como temos vindo a alertar, para uma encruzilhada fatal! De nada vale, governo e sindicatos, meterem a cabeça na areia. Quanto mais tardarem a pensar seriamente na situação, e decidirem assumir uma estratégia para a crise, pior.

  • Rui Rodrigues revelou no Público de 08JUL2008 (ver PDF) mais um claro exemplo da má gestão praticadas pela ANA e pela TAP no uso (ir)racional da Portela. Desta vez, depois de ter sido demonstrado em trabalho anterior a mentira da falta de Slots, fica-se a saber que a TAP praticamente não usa as mangas do aeroporto de que é a principal companhia, obrigando passageiros e bagagens a viagens penosas, morosas e absurdas entre a nova placa de estacionamento dos aviões e a gare do aeroporto. Mais uma decisão que não será tola de todo, porque teve e tem um objectivo: demonstrar o indemonstrável esgotamento da Portela.

    A pressão do petróleo vai continuar alta até, pelo menos, 2013, segundo afirmou o director executivo da Agência Internacional de Energia (7-7-2008, IEA). Haverá milhares de despedimentos na indústria aeronáutica e algumas companhias irão falir até lá. A União Europeia irá impor novas restrições e taxas aos produtores de CO2, com especial destaque para a aviação comercial e respectivos passageiros. Ou seja, até 2013, haverá uma diminuição dos voos e do número de viajantes partindo e chegando à Portela. Nunca a tão apregoada saturação do aeroporto de Lisboa!

NOTAS
  1. Sobre a dimensão da crise financeira em curso vale a pena ler os dois artigos a seguir citados, publicados pela insuspeita Bloomberg:
    European Banks May Need EU90 Billion, Goldman Says

    By Alexis Xydias and Ambereen Choudhury

    July 4 (Bloomberg) -- European banks may need to raise as much as 90 billion euros ($141 billion) to restore their capital after the U.S. subprime mortgage collapse caused credit markets to seize up, according to Goldman Sachs Group Inc.

    ... The European banks Goldman tracks have lost $900 billion of their market value since the credit crisis began last year. Anshu Jain, head of global markets at Deutsche Bank AG, said this week that that contagion is "by no means over," and Europe's banks have lagged behind the U.S. in raising money from investors.

    ... Goldman's analysts said in their report that "access to liquidity, capital adequacy and post-crisis profitability are the key areas of near to medium-term uncertainty" for European banks.

    Global financial stocks have led declines that wiped about $11 trillion from equity markets worldwide this year. Credit-related losses, surging oil prices and rising inflation have also stoked concern policy makers will have to raise borrowing costs as the global economy slows.

    LBO Defaults May Rise as About $500 Billion Comes Due

    By Neil Unmack

    July 4 (Bloomberg) -- Leveraged-buyout loan defaults may be "significantly higher" than ratings companies' estimates as about $500 billion of debt used to fund the takeovers comes due, the Bank for International Settlements said.

    Companies bought by private-equity firms worldwide must repay the high-risk, high-yield loans and bonds by 2010, the Basel, Switzerland-based bank said in a report today, citing Fitch Ratings data. They may find it hard to raise the cash because of a slump in demand for collateralized debt obligations that pool the loans, BIS said.

OAM 387 05-07-2008, 17:17

sexta-feira, dezembro 19, 2014

Sócrates: o ativo tóxico do PS

© Photobucket


Vá para a prisão sem passar pela Casa de Partida!


As últimas horas de Sócrates em liberdade

Sócrates partiu para Paris na manhã de quarta-feira, dia 19 de Novembro. Tudo indica que, nessa altura, já soubesse que a sua detenção estava iminente.

À chegada a Lisboa, Sócrates foi preso. Mas antes de embarcar avisou um jornalista no qual depositava confiança - talvez para rodear a sua prisão de grande escândalo.

José António Saraiva, 18/12/2014 13:41:52
Sol

Verosímil. Só não se percebe porque motivo José Sócrates não decidiu partir imediatamente para Fortaleza, ou qualquer outra cidade brasileira, em vez de ir diretamente para a Prisão… sem passar pela Casa de Partida. Será que não acreditou que pudesse ser preso? 'Eles não têm coragem....' terá dito a alguém.

Se tivesse fugido para o Brasil, a pretexto de uma missão para a Octapharma, sabendo que havia uma ordem de detenção, Sócrates teria alimentado ainda mais as suspeitas de corrupção que há muito pendem contra ele.

Por outro lado, tendo sido detidos os seus putativos testas de ferro, José Sócrates ficaria sem acesso ao dinheiro de que tanto precisa diariamente, e sem qualquer capacidade de manobra. Na prisão de Évora ainda poderia tentar dar uma entrevista ao Expresso e, quem sabe, levar a desavergonhada RTP a dormir com ele na mesma cela! Com o diácono Seguro fora de combate, e as massagens, perdão as sondagens, desenhadas para favorecer o Costa, quem sabe...

À medida que as semanas passam este ativo tóxico do PS vai queimando em lume brando o seu próprio sargento-ajudante de outrora, feito entretanto capacho à medida dos poderes fáticos do PS (Mário Soares, Almeida Santos e Jorge Coelho), com a missão, com sucesso cada vez menos provável, de derrubar o atual governo de qualquer maneira e recolocar a tríade de Macau no poder.

António Costa, aos serviço da estratégia de Sócrates, Soares, Almeida Santos e Jorge Coelho, foi empurrado para espetar facas e finalmente assassinar politicamente António José Seguro. Conseguiu-o, mas a que preço? Eu creio que ao preço do seu próprio suicídio político. A criatura Costa é um carreirista medíocre, bom para oficial às ordens, mas incapaz de dirigir seja o que for.

Lisboa é uma cidade sobre endividada e mal gerida pelos boys e girls que o ignorante e desajeitado ex-governante de Guterres e de Sócrates foi arregimentando. A capital do país esteve desgraçadamente escorada numa promiscuidade desmiolada com o Espírito Santo, e mete água sempre que chove, como se não tivessem sido gastos centenas e centenas de milhões de euros nos subterrâneos da Baixa.

António Costa, desde que tomou de assalto o poder no Partido Socialista, a mando da tríade de Macau e com uma unanimidade eleitoral coreana que diz tudo sobre o esgotado sistema partidário que temos, ora dá beijos na boca do Livre, ora sorri envergonhado ao Bloco Central. Pelo meio diz alarvidades sobre caravelas e aviões.

O tempo não corre a favor da velha guarda que arruinou Portugal. 

Sócrates e Jorge Coelho, inspirados por Almeida Santos e Soares, quiseram dar cartas num jogo que há muito os ultrapassa: a estratégia chinesa para África, América do Sul e flanco sul da Europa.

Este jogo de placas tectónicas entre a China e os Estados Unidos da América, que conta ainda com uma grande projeção chinesa em direção à Eurásia, nomeadamente através de Moscovo e Berlim, inclui naturalmente pilares fortes em Moçambique, Angola, Brasil, Argentina, Venezuela e Portugal.

O erro dos 'socialistas' foi terem ficado prisioneiros dos pequenos jogos de Macau dos herdeiros de Stanley Ho, e do gorado estratagema de vender os terrenos do aeroporto da Portela a estes amigos do PS, onde seria então erguida a famosa e luxuosa Alta de Lisboa, para com o resultado de semelhante embuste financiar um novo aeroporto de raíz — nas palavras do adiantado mental Mateus, uma nova 'cidade aeroportuária' em Alcochete. E uma TTT Chelas-Bareiro, com a fanfarra do PCP atrás, pois claro! A avença do BES à Festa do Avante! iria certamente aumentar.

O prémio para o novo poder cor-de-rosa em ascensão, que entretanto foi tomando de assalto a Caixa Geral de Depósitos e o BCP, seria o famoso novo aeroporto da Ota, que ainda durante o governo de Sócrates passaria para Alcochete. O principal banqueiro disto tudo era o BES (e o seu aliado Crédit Suisse), e a principal construtora disto tudo seria a indecorosa Mota-Engil. Como é hoje público e notório, todos estes alicercers da dinastia soarista estão a ruir.

Portugal tem todo o interesse estratégico em acolher as ligações da China ao mundo, que passam nomeadamente por África (corredor Nacala-Lobito), pela América do Sul e pelo nosso país (ver o mapa que há muito desenhámos do cada vez mais próximo Tordesilhas 2.0).

Internamente, percebe-se que este naco de oportunidades que é gigantesco e poderia transformar Portugal num país respeitado e próspero (hoje não é uma coisa nem outra, cortesia dos piratas que assaltaram o país) seja disputado por quem tiver unhas para o agarrar.

Mas sabendo o que sei hoje parece-me evidente que os piratas da tríade de Macau apostaram num cavalo velho e desdentado, e que quando quiseram emendar a mão já era tarde. Começaram então a fazer asneiras umas em cima das outras, a ponto de terem quase estragado o brinquedo. As quedas vergonhosas e escancaradas de José Sócrates e do banqueiro Ricardo Slagado são o epílogo de uma guerra para a qual o senhor Mário Soares teve mais olhos que barriga.

É por estas e por outras que temos que varrer do mapa do poder em Portugal a Brigada do Reumático do Bloco Central da Corrupção que nos levou à quase bancarrota. Quem ainda não entendeu isto, ou é burro que nem uma porta, ou um avençado da casta caída em desgraça.

António Costa é pois uma mula política em que não se deve apostar um euro. Na realidade, já é uma carta fora do baralho.

PS: o olhar vesgo da deputada Ana Gomes em direção ao negócio dos submarinos tem tudo que ver com esta guerra perdida do PS.

segunda-feira, março 16, 2009

Portugal 92

Uma semana com 20 horas?

Diante da natureza da crise e dos seus efeitos devastadores, é também a teoria económica de matriz neoliberal que perde credibilidade e se revela incapaz de interpretar a realidade económica. Consequentemente a efectiva resposta aos novos desafios da crise não deve ser procurada em políticas económicas assentes naquela inspiração. — "Reflexão para a Quaresma de 2009" (PDF), Comissão Nacional Justiça e Paz.

Senator Hugo Black of Alabama, a champion of a 30-hour workweek, agreed to sponsor the Administration bill on this subject in the Senate, while Representative William P. Connery of Massachusetts introduced corresponding legislation in the House. — in Fair Labor Standards Act of 1938: Maximum Struggle for a Minimum Wage by Jonathan Grossman (1).

Roosevelt later "voiced regret that he did not get behind the Black-Connery Thirty Hour Week Bill and push it through Congress" — in Jeremy Rifkin, The End of Work.

Eu não sou suspeito de morrer de amores pelo papagaio que a tríade de Macau colocou à frente do partido e do governo de maioria que actualmente nos governa. Mas devo confessar um facto: não é apenas a José Sócrates e à dita tríade que podemos atribuir a responsabilidade pelos mais de 574 mil desempregados, inactivos e sub-empregados registados pelo INE.

Comparando os números da análise crítica de Eugénio Rosa, compilados com base nas estatísticas oficiais, ficamos a saber que o desemprego em Portugal se manteve sempre em alta desde que José Sócrates prometeu criar 150 mil novos postos de trabalho. Esta tendência altista iniciou-se, porém, pouco depois de António Guterres ter entregue o governo, de mão beijada, a Durão Barroso.

Entre os 548.900 desempregados, no 1º trimestre de 2005, e os 574.200, no fim do 4º trimestre de 2008 —com um pico máximo no 4º trimestre de 2006, de 614.000, e um mínimo de 539.600 no fim do 2º trimestre de 2006—, registou-se um agravamento indisfarçável do desemprego em mais 25 mil postos de trabalho.

Tendo o INE interrompido desde 2003 o cálculo estatístico da emigração portuguesa, nomeadamente para a Europa, não podemos quantificar com exactidão a perda total de empregos no nosso país ao longo dos últimos quatro anos. Lendo porém o Relatório Internacional sobre Migrações de 2007 da OCDE (citado pelo D.N.), segundo o qual os 5 milhões de emigrantes espalhados pelo planeta se aproximam rapidamente da população activa do país (2), podemos estimar uma sangria média anual para o exterior nos últimos quatro anos na ordem dos 36.761 emigrantes —ou seja, quase 150 mil pessoas quando a presente legislatura chegar ao fim.

Em vez dos 150 mil novos postos de trabalho prometidos por José Sócrates, Portugal perdeu nos últimos quatro anos mais 172.344 empregos — os 25.300 desempregados a mais que no fim de 2008 se somam aos 548.900 do início da legislatura, mais 147.044 emigrantes. Ou seja, quando este governo for a votos, haverá 721.244 portugueses (ou talvez mesmo 800 mil) sem perspectivas de trabalho regular no nosso país, entre os quais se encontrarão desempregados recentes e de longa duração, jovens à procura do primeiro emprego e portugueses que emigraram desde 2005.

Os 70.334 novos desempregados inscritos até ao fim de Janeiro de 2009 (3) revelam bem até que ponto estamos perante uma tendência avassaladora, que nem este nem o próximo governo conseguirão travar, se não se perceber primeiro as causas do fenómeno.

O aumento do desemprego durante o governo de maioria absoluta é uma consequência directa da redução do Défice Orçamental imposta pelo Pacto de Estabilidade da União Europeia. Obras públicas e "jobs for the boys", alimentados sobretudo pelas receitas extraordinárias das privatizações e pelos fundos comunitários, foi a maneira como António Guterres disfarçou a tendência para a destruição do emprego inscrita nas sucessivas revoluções tecnológicas que têm marcado o Capitalismo desde o aparecimento da máquina a vapor. Porém, assim que o financiamento da bolsa artificial de emprego criada pela expansão do sector público começou a pesar no défice orçamental e na dívida pública, e o chicote de Bruxelas colocou Portugal sob a ameaça de multas pesadas por infracção manifesta do Pacto de Estabilidade —tendo então começado as dramáticas "reformas estruturais"—, o desemprego disparou.

Basta comparar os números oficiais do desemprego ao longo deste século:

Governo António Guterres
  • 2000: 4,0%
  • 2001: 4,0%
Governo Durão Barroso
  • 2002: 5,0%
  • 2003: 6,3%
Governo Santana Lopes
  • 2004: 6,7%
Governo José Sócrates
  • 2005: 7,6%
  • 2006: 7,6%
  • 2007: 8,0%
  • 2008: 7,6%

As anunciadas grandes obras públicas, pela fraca quantidade, qualidade e natureza precária dos empregos prometidos, nada podem fazer para inverter esta tendência de fundo. E pior do que isso: são uma ilusão caríssima que o País não pode suportar, nem sequer está em condições de financiar, mesmo que o IVA fosse parar aos 25% e a especulação financeira pagasse impostos. Os impactos desta ilusão na dívida externa portuguesa são pura e simplesmente insustentáveis. Neste ponto, o consenso crescente entre os economistas só é contraditado pela demagogia generalizada dos partidos políticos, à excepção, diga-se em abono da verdade, de Manuela Ferreira Leite.

A retórica dos partidos excêntricos da Oposição não convence. Ao elegerem o emprego e a segurança como bombos da festa anti-Sócrates, PP, PCP e Bloco de Esquerda —que nenhuma estratégia concreta propõem para mitigar o iminente colapso económico e social do país—, sabem que não têm soluções para esses dois dramas. A Direita folclórica do PP não pode ser mais previsível na sua histeria securitária, e a Esquerda previsível repete palavras de ordem há muito descredibilizadas. Onde pretendem pois chegar os partidos excêntricos com semelhante demagogia? Eu também quero ver o papagaio da tríade de Macau fora de São Bento. Mas em nome de algo que faça sentido! A voz grave, mas esfíngica, de Manuel Alegre, por si só, não basta. Precisa-se urgentemente de uma estratégia clara e criativa para superar a mais grave crise sistémica do Capitalismo desde a Grande Depressão.


O desemprego é o principal coveiro do Capitalismo

A principal causa da destruição de milhões de empregos em todo o mundo, mais ainda do que a deslocalização de milhares de empresas para a China e em geral para os países de mão-de-obra barata, é a inovação tecnológica aplicada tanto aos processos produtivos como aos métodos de gestão.

As ciências e as tecnologias aumentam a produtividade do trabalho. Este aumento, por sua vez, é responsável pelo acréscimo da produção, pela concentração do capital, pelo crescimento dos lucros, mas também pela extinção acelerada do trabalho humano! Se a tecnosfera cresce e é cada vez mais inteligente, ao mesmo tempo que o trabalho humano desaparece e é cada vez pior remunerado, quem irá no futuro adquirir os frutos da extraordinária produtividade das economias pós-industriais?

Até ao eclodir da primeira grande crise sistémica global do Capitalismo, esta aporia do progresso foi mitigada por uma estratégia combinada de deslocalização da produção para países com factores de exploração do trabalho mais favoráveis, e por uma expansão artificial do crédito e da massa monetária. O que agora desabou foi precisamente a bolha do endividamento continuado e excessivo das economias mundiais. As consequências são fáceis de prever: crises de endividamento, falências pessoais, falências empresariais, falência do sistema financeiro, quebra abrupta da procura, desinflação, quebra abrupta da produção, deflação, ajustamento dos modelos de emprego às nova tecnologias produtivas e de gestão, desemprego em larga escala, colapso iminente de milhares de sistemas públicos, colapso potencial dum número indeterminado de países, hiperinflação, adaptação catastrófica dos actuais sistemas sociais à super produtividade tecnológica.

É assim desde o aparecimento da máquina a vapor que levou à desertificação progressiva dos campos e ao crescimento exponencial das cidades. É assim desde a invenção da electricidade, do motor de combustão e das telecomunicações que conduziram à contracção do emprego industrial e ao aparecimento das sociedades de serviços. É assim desde o aparecimento da micro-electrónica, da computação digital e das bio e nanotecnologias que irão fazer disparar a produtividade e o desemprego para patamares dificilmente imagináveis.

Segundo Jeremy Rifkin, cujo livro, The End of Work, não me canso de recomendar, por volta de 2050, apenas 5% da população adulta mundial será provavelmente suficiente para dar conta de toda a produção industrial necessária.

Ainda segundo Rifkin, em apenas sete anos, entre 1995 e 2002, as vinte maiores economias mundiais perderam 31 milhões de postos de trabalho só na indústria transformadora. Ao contrário do que poderíamos imaginar, 15 milhões dos empregos perdidos ocorreram na China. Entre 1982 e 2002, apesar da produção de aço nos Estados Unidos ter subido de 75 para 102 milhões de toneladas, o emprego neste sector diminuiu de 289 mil para 74 mil trabalhadores. No sector de serviços a destruição massiva de empregos não é menos surpreendente, sobretudo para quem continua a crer que este sector será capaz de absorver eternamente os deserdados da agricultura e da indústria transformadora. O chamado net banking, por exemplo, pode chegar a reduzir 90% dos seres humanos necessários para gerir a mesma carteira de clientes que um banco convencional. Ou seja, o futuro de boa parte das actividades de serviços (finança, seguros, comércio, jornalismo, publicidade, etc.) irá eliminar milhões de empregos urbanos ao longo das próximas décadas.

Em Portugal, o caso da transportadora aérea nacional, embora menos badalado que a situação igualmente terminal da Alitália, é um bom exemplo do futuro dramático que se avizinha.

O Grupo TAP, depois de ter sido forçado politicamente a comprar por 140 milhões de euros (que não tem) a falida Portugália Airlines, do Grupo BES, ficou com cerca de 10 mil trabalhadores a cargo, ou seja, o mesmo número de trabalhadores que conjuntamente empregavam em Fevereiro de 2007 a easyJet, a Ryanair e a Air Berlin.

A Alitália, uma empresa em perda acelerada de produtividade, apesar de ter uma das mais jovens frotas europeias, continua incapaz de competir com o ascendente sector das Low Cost. Os seus 22 mil funcionários, i.e. 122,9 trabalhadores por aeronave, são um handicap muito desfavorável na comparação com as três principais Low Cost europeias, Ryanair, Easy Jet e Air Berlin, com uma média de 37,5 trabalhadores por avião. Na TAP esta relação é ainda mais desfavorável: 156,3 trabalhadores por aeronave. Alitália e TAP são pois empresas obsoletas na concepção estratégica do negócio, nos métodos de gestão e sobretudo na racionalização dos custos e flexibilidade laborais. A tendência para a concentração capitalista no sector não irá retroceder, pois sendo o capital fixo cada vez mais eficiente e precioso, também é cada vez mais caro e difícil de obter sem que previamente sejam dadas garantias de uma gestão racional dos recursos disponíveis. A contracção do emprego nestas, como na generalidade das companhias aéreas mundiais, pode ser adiada, mas é inevitável a médio prazo.


O voluntarismo neo-keynesiano é um erro

O desemprego deixou de ser um problema conjuntural que a demagogia partidária possa resolver. Na realidade, à medida que se esgotam as estratégias de mitigação (obras públicas, expansão do sector público, criação monetária, especulação financeira, endividamento) da principal tendência evolutiva das sociedades humanas actuais — a tendência para a diminuição do trabalho humano no sistema produtivo —, o desemprego e a falta de trabalho ocupam o centro das preocupações da esmagadora maioria da humanidade.

Se há cada vez menos trabalho, e se o trabalho disponível é cada vez mais mal pago independentemente do grau de preparação e até de responsabilidade de quem vai tendo acesso a este recurso em vias de extinção, que regime de acesso ao bem comum podem os humanos esperar no futuro?

O recurso à despesa pública de tipo keynesiano seria mais do mesmo, i.e. maior inércia dos sistemas económicos, sociais e políticos obsoletos, mais endividamento de quem já está sobre endividado (todos nós!), e diminuição dos períodos de expansão económica, com o consequente aumento, duração e gravidade das recessões e depressões económicas.

Ao contrário do que se diz por aí, não foi o New Deal (1933-1938) que salvou a América da interminável Grande Depressão, mas sim a preparação e entrada do país na Segunda Guerra Mundial. O ataque e destruição dos 11 obsoletos navios e 188 aviões de guerra estacionados na base militar de Pearl Harbour, em 1941, foi mais uma oportunidade do que um verdadeiramente inesperado casus belli.

Quando Franklin D. Roosevelt chegou ao poder (1933) e lançou o primeiro New Deal (1933-1934), o desemprego situava-se nuns elevadíssimos 25%. No início de 1937 desceu para os 15%, mas no fim desse mesmo ano, princípios de 1938, voltou a subir para os 21%. Em 1939, a jovem Conservative coaliton (formada pela maioria conservadora do Partido Republicano e pela minoria conservadora, sobretudo sulista, do Partido Democrata) bloqueou os planos liberais de Roosevelt, interrompendo o segundo New Deal então em curso (1935-38) e favorecendo claramente o esforço de guerra americano, primeiro no auxílio aos aliados ingleses, e depois de Pearl Harbour, entrando directamente na guerra mundial. Em 1940 o desemprego desceu para 15%; em 1942 (um ano depois de Pearl Harbour), para 7,5%; e em 1943, para 3,75%. A família Bush bem tentou recriar uma oportunidade parecida. Mas a sorte dos deuses não esteve do seu lado. Que fará Obama? A Cimeira do G20 que terá lugar em Londres no próximo dia 2 de Abril será porventura decisiva a este respeito...


Porque seremos o único animal que paga pelo que bebe e come?

O maior problema que temos pela frente é saber como distribuir o trabalho humano que assegura e faz progredir o trabalho das máquinas físicas, comunicativas e cognitivas que, por sua vez, asseguram a produção de uma parte crescente de tudo o que precisamos para viver e aumentar os níveis de sofisticação das redes de interacção social a que pertencemos.

Desde logo, precisamos de redefinir radicalmente a titularidade dos meios de produção, procedendo à sua integral socialização. Sabemos hoje que boa parte da concentração capitalista mundial e dos aumentos de produtividade do trabalho pela via da automação e da desmaterialização de muitos processos produtivos é alimentada financeiramente pela gigantesca poupança acumulada nos fundos de pensões. De facto, só mesmo a poupança —isto é a acumulação— permite estimular o aumento da produtividade do trabalho, na medida em que só a poupança que conduz à acumulação de reservas assegura em geral o crescimento económico, pela sua capacidade de desviar uma parte dos recursos, da esfera do consumo, para a esfera produtiva.

No entanto, se o trabalho assalariado tende a desaparecer, sobrando por outro lado uma enorme capacidade produtiva e de consumo progressivamente fora do sistema de valor capitalista, onde irá no futuro a economia dominante buscar a poupança de que necessita para promover os investimentos de capital intensivo de que depende criticamente para seguir em frente na procura de uma ainda maior produtividade do trabalho assalariado? No dia em que tudo for comandado por robots, quem contribuirá para os fundos de pensões que hoje, segundo Jeremy Rifkin, perfazem 1/3 dos activos financeiros da maior economia do mundo? O buraco negro do endividamento exponencial que hoje ameaça destruir a economia mundial é o resultado indesejável da tentativa de fugir a esta pergunta.

O trabalho assalariado tem que passar a ser uma actividade temporária de menor duração e mais sustentável em termos energéticos, abrangendo a totalidade dos adultos saudáveis, mas apenas durante um período limitado das suas vidas (por exemplo, dos 22 aos 45 anos), ocupando em média 4 a 5 horas seguidas de trabalho diário bem remunerado, 4 ou 5 dias por semana. Antes de chegar à idade profissional as pessoas deveriam evoluir livremente numa rede educativa alimentada em partes iguais pelo sector público, pelas empresas privadas e pelo chamado terceiro sector — uma vastíssima rede de voluntariado, cooperação e criatividade, cuja importância económica poderá ultrapassar, antes do final deste século, a dos actuais sectores empresariais públicos e privados. Depois dos 45 anos as pessoas abandonariam progressivamente a economia capitalista, levando consigo uma pensão vitalícia e universal (isto é, igual para todos). A partir deste ponto começa o terceiro sector, i.e. um estádio social de grande liberdade individual e de intensa criatividade, seguindo o paradigma da dádiva, por oposição ao paradigma da troca. Esta espécie de economia social radical deverá basear-se na cooperação, no voluntariado e na solidariedade. O que fazemos chegar aos outros, e o que os outros nos fazem chegar, tem origem num puro acto de amor e libertação subjectiva. O paraíso na Terra? Porque não?

Perante a crise actual, em vez de perdermos mais tempo a discutir as grandes obras públicas, deveríamos analisar e levar por diante duas reformas estruturais com impactos imediatos na redução dos riscos que a deterioração da actual situação económica comporta para a paz social:
  1. reduzir a semana de trabalho a 20 horas, diminuindo ao mesmo tempo a semana laboral para 4 dias;
  2. criar em todas as cidades com mais de 50 mil habitantes um cartão de residente municipal que dê acesso a múltiplos recursos em troca de voluntariado.
Se estas medidas de fundo fossem acompanhadas de um plano nacional de eficiência energética incidindo numa primeira fase sobre todos os edifícios públicos nacionais e municipais, teríamos com certeza resultados bem mais visíveis do que as expectativas demagógicas alimentadas irresponsavelmente pelo debate eleitoral em curso.


NOTAS
  1. Vale a pena ler toda a descrição de Jonathan Grossman sobre a iniciativa do Presidente Roosevelt relativamente à legislação laboral proposta no quadro da Grande Depressão de 1929-1943, de que os contributos do Senador Hugo Black e do deputado da Câmara dos Representantes, William P. Connery, foram então fonte de grande polémica e voltam hoje a inspirar autores como Jeremy Rifkin. Aqui fica a passagem completa de onde retirei a citação sobre o famoso, embora não aplicado Black-Connery Bill.
    On May 24, 1937, President Roosevelt sent the bill to Congress with a message that America should be able to give "all our able-bodied working men and women a fair day's pay for a fair day's work." He continued: "A self-supporting and self-respecting democracy can plead no justification for the existence of child labor, no economic reason for chiseling worker's wages or stretching workers' hours." Though States had the right to set standards within their own borders, he said, goods produced under "conditions that do not meet rudimentary standards of decency should be regarded as contraband and ought not to be allowed to pollute the channels of interstate trade." He asked Congress to pass applicable legislation"at this session."

    Senator Hugo Black of Alabama, a champion of a 30-hour workweek, agreed to sponsor the Administration bill on this subject in the Senate, while Representative William P. Connery of Massachusetts introduced corresponding legislation in the House. The Black-Connery bill had wide Public support, and its path seemed smoothed by arrangements for a joint hearing by the labor committees of both Houses.

    Generally, the bill provided for a 40-cent-an-hour minimum wage, a 40-hour maximum workweek, and a minimum working age of 16 except in certain industries outside of mining and manufacturing. The bill also proposed a five-member labor standards board which could authorize still higher wages and shorter hours after review of certain cases. — in Fair Labor Standards Act of 1938: Maximum Struggle for a Minimum Wage by Jonathan Grossman.
  2. 5.507.000, no 1º trimestre de 2005; 5.613.900, em Dezembro de 2008.
  3. Mais 44,7% do que em Dezembro de 2008; mais 27,3% do que em Janeiro de 2008.


OAM 557 17-03-2009 19:30 (última actualização: 25-03-2009 01:47)

domingo, março 01, 2009

Congresso PS

O apagão

Parece ter sido um portátil Magalhães o causador do apagão que ontem por volta das 23 horas deixou os congressistas do PS às escuras, sem poderem votar as suas queridas "moções sectoriais". Com o congresso irremediavelmente suspenso (tal foi o curto-circuito!), os sonolentos congressistas não tiveram outra alternativa que não fosse regressar às pensões para um sono reparador.

Findou pois em alegoria a maior farsa demo-partidária que o Partido Socialista alguma vez conheceu. Ou melhor, termina hoje — certamente com muito foguetório, efeitos especiais e boa parte dos fregueses regressando atónitos aos seus lugarejos desertificados.

O Partido Socialista tem oficialmente 73 104 militantes (o Benfica tem mais de 170 mil sócios e consegue sentar 65 mil pessoas no seu estádio). Como se a comparação entre as duas agremiações associativas não fosse já de si deprimente para o partido político que nos governa, acresce que apenas 34,7% dos inscritos no PS (25 393) votou a eleição do líder — ou seja, um estádio de futebol a menos de meio gás! Por fim, José Sócrates foi reeleito como um qualquer líder partidário de Cuba, Venezuela, Coreia do Norte, ou Angola, i.e., com 96,43% dos votos expressos! Mais estalinista é difícil.

Foi divertido observar os semblantes aflitos e em bicos de pé de Ana Gomes e de uma tal jovem-velha Jamila qualquer coisa, reiterando que se sentem úteis no parlamento europeu. Mas fizeram alguma coisa, além de petiscar Moules à l'escargot (i.e. mexilhões com molho à caracol) acompanhados de Alsace Pinot Blanc - Klevner? Podemos verificar nalgum blogue os seus contributos para o progresso da União? Espero bem que o neo-liberal estalinista Vital Moreira não as inclua na sua lista de elegíveis e se rodeie de gentinha da sua estrita confiança. Assim, poderemos pedir mais tarde ao eminente constitucionalista e consultor de leis (que até Maio de 1990 propagava o estalinismo suave do PCP e abominava a Europa) resultados; e por outro, veremos crescer o número de notáveis descontentes do PS, absolutamente imprescindíveis para empurrar o pachorrento Manuel Alegre a dizer e fazer qualquer coisa, para lá de amuar, pescar e escrever poemas. A pátria exige a este poeta que retribua em espécie parte da boa vida que a democracia lhe proporciona. Não é uma opção, é uma obrigação política!

Mas reparem bem na turma que tomou conta do PS e respectivos links... (sempre ajudará a perceber o mistério da nova unanimidade cor-de-rosa):
  • Vitalino Canas: exerceu cargos políticos em Macau; Fundação Stanley Ho; Fundação Oriente; deputado e provedor de empresas de contrato de trabalho temporário, etc...
  • António Vitorino: ex-UEDS, exerceu cargo político em Macau; ex-ministro e ex-comissário europeu; Presidente da Assembleia Geral da Brisa; opinocrata de serviço.
  • Jorge Coelho: ex-UDP; exerceu cargos políticos em Macau; ex-ministro e ex-secretário-geral do PS; actual CEO da Mota-Engil.
  • Carlos Santos Ferreira: "passou pelo Aeroporto de Macau"; foi vice-presidente da Estoril Sol (império Stanley Ho); ex-presidente da CGD; actual presidente do BCP.
  • Armando Vara: ex-governante; ex-director da CGD; indigitado novo presidente do BCP-Angola.
  • Manuel Frasquilho: actual presidente da APL; ex-presidente de: Metropolitano de Lisboa, REFER, CP, Instituto Emissor de Macau, Soponata, CTT, ...
  • Francisco Murteira Nabo: exerceu cargos políticos em Macau; ex-ministro, ex-presidente da GALP e da PT; vogal do Banco Espírito Santo; vogal da Fundação Oriente, etc.
  • Joaquim Pina Moura: militante do PCP até 1990; ex-ministro das finanças; actual presidente da Iberdrola-Portugal.
  • Mário Lino: militante do PCP até 1991; ministro do actual governo PS.
  • José Magalhães: militante do PCP até 1990; Secretário de Estado Adjunto e da Administração Interna.
  • Vital Moreira: militante do PCP até 1990; futuro chefe do grupo PS no Parlamento Europeu.
Ou são ex-comunistas ou estiveram juntos em Macau!

A maioria destes nós da rede que actualmente comanda o PS tem origem em partidos situados à sua esquerda — os estalinistas UDP e PCP; ou ainda os socialistas de esquerda oriundos das desaparecidas Fraternidade Operária e UEDS. Olhando em retrospectiva, apercebo-me que tanto António Guterres, como José Sócrates, são personagens secundárias e puramente instrumentais dessa espécie de shadow politicians que cá, como em muitos outros países, foram ocupando as carcaças vazias dos partidos tradicionais, sem o ónus de terem que criar aparelhos partidários, nem marcas novas para a prossecução dos respectivos projectos de poder.

O que une esta direcção sombra do PS é o seu pragmatismo de estilo chinês: "Um país, dois sistemas" — o que no nosso caso quer dizer, capitalismo neoliberal a todo gás, mas em traje de passeio Armani e com uma retórica socialista negligé, pós-moderna, piedosa aqui e acolá, mas sem nunca deixar de denunciar o atraso provocado ao país pelas burocracias do Estado. No fundo, são uma variante da Margaret Thatcher, com o ar beato de Tony Blair, e o maquiavelismo de Putin. Vale tudo, menos tirar olhos!

Acontece, porém, que estes gajos apanharam a boleia do neoliberalismo tarde demais! E agora, quando lhes daria muito jeito entoarem de novo a Internacional, todos sabemos as solas que gastam e o mal que fizeram. É por isso que a Manuel Alegre, e agora também a João Cravinho, não resta outra saída que não seja esperar pela derrota do PS nos actos eleitorais deste ano, conspirando até lá e sem rodeios para expurgar este partido dos oportunistas inteligentes que o sequestraram na sequência do apodrecimento do soarismo. Entretanto, vamos todos votar no Bloco (1)!


Post scriptum — Gostaria de acrescentar uma observação sobre a influência tremenda da tríade de Macau na situação política portuguesa.

Por um lado, o modo como se apoderou e vem instrumentalizando o Partido Socialista, conduziu à crise irreversível, não apenas do PS e do PSD, mas de todo o sistema partidário português. Ou seja, o nosso xadrez político-partidário já não sobreviverá à crise que o atravessa sem uma profunda reestruturação, da qual resultarão inevitavelmente novas formações partidárias e metamorfoses dramáticas nas existentes.

Por outro lado, a tríade de Macau está à beira de não precisar mais das actuais ligações orgânicas ao sistema partidário, bastando-lhe manter e expandir uma rede de influência amigável sobre o Estado e a Democracia. De facto, o próprio Bloco Central morreu de velho e não passa já de um obstáculo.

Por fim, e esta é a dura realidade, apesar dos estragos internos causados na sua luta pelo poder económico-financeiro, a tríade de Macau gizou e tem seguramente a melhor geo-estratégia para o país. Não esperava chegar a esta conclusão, mas cheguei.

Findo o afluxo maciço de recursos financeiros comunitários, pouco se poderá esperar da União em termos económico-financeiros, a não ser, obviamente, o conforto propiciado pelo Euro e pela existência de um mercado único de grandes dimensões. A actual crise sistémica do Capitalismo colocou a Europa perante novos e velhos dilemas, de que Portugal poderá sair prejudicado. Basta reparar na forma expedita como o Bando dos Seis (Alemanha, França, Reino Unido, Itália, Espanha e Holanda) se substituiu à União Europeia para deliberar sobre o magno tema do proteccionismo e a postura que pretende assumir na próxima e decisiva cimeira do G20. Perante isto, a triangulação que Portugal tem vindo pacientemente a construir com o Brasil, Angola, China, Venezuela e Rússia, é talvez o único desenho que permitirá manter a nossa independência efectiva no quadro de extrema instabilidade que se aproxima, suscitando até um interesse renovado da América por Lisboa — já para não falar de Madrid e Londres. É por isto tudo que considero que José Sócrates deixou de ser um veículo e começou a ser um empecilho para todos. Está assim hora de resolver as trapalhadas correntes, desanuviando os negócios e a democracia: temos que relançar o país formulando um grande desígnio de esperança. Pessoa falou de um Quinto Império. Se esse for o Império do Diálogo, creio que Portugal se encontra na melhor posição para disputá-lo — 600 anos depois de Ceuta (1415-2015). Small is beautiful!


NOTAS
  1. A quem fizer comichão votar no Bloco, que não vote, que vote em branco, ou que vote no PSD (pensando mais em Paulo Rangel do que na pobre Manuela Ferreira Leite). O essencial é libertar o país da corja de hienas que se apoderou do PS e do aparelho de Estado!

OAM 544 01-03-2009 17:00 (última actualização: 23:04)

sábado, janeiro 05, 2008

Crise Global 8

Cavaco populista?

"Se há discussão arriscada, por facilmente resvalar para onde não interessa, é a dos salários dos executivos. O que não interessa é o populismo, a exploração da inveja, que em Portugal tem terreno fértil, uma versão actualizada da luta de classes em que à oposição entre trabalho e capital se juntam os gestores de topo. Esse foi um risco que correu o Presidente da República e ainda bem." -- Luísa Bessa in Jornal de Negócios.
A expressão "activismo accionista" (usada por Luísa Bessa no citado artigo) é mais rica de conteúdo do que parece. Por exemplo, quando o capital de uma empresa privada entra em bolsa, a mesma torna-se, na realidade, uma empresa pública! É por isso que as regras de transparência devem ser outras.

A diferença entre os Estados Unidos e a Europa a propósito deste tema é abissal, revelando-se o capitalismo americano bem mais transparente que o praticado na Europa. Basta consultar o sítio web da Reserva Federal Americana para saber quais são as regras que determinam os salários dos funcionários, directores e presidentes do banco dos bancos americanos (que por sinal é uma instituição privada). Já no caso do Banco Central Europeu, ou do Banco de Portugal, as informações sobre remunerações são pura e simplesmente ocultadas do olhar público!

É óbvio que quando as remunerações dos gestores das empresas públicas (de que as privadas cotadas em bolsa fazem parte) são do conhecimento público, estas tendem a ser moderadas pelo próprio juízo democrático, evitando-se assim a intensidade e propagação dos abusos.

O rebentamento da bolha imobiliária nos Estados Unidos e na Europa, e a gigantesca crise de liquidez que se lhe seguiu e continua a crescer, vieram colocar em causa a arrogância dos gestores que de ambos os lados do Atlântico se auto-atribuem remunerações e prémios infundadamente elevados. O caso dos prémios de produtividade auto-atribuídos pelos executivos dirigentes da Goldman Sachs Group Inc. em plena crise do Subprime, suscitado num artigo da Bloomberg (Goldman's Employee Pay Will Top Bear's Market Value), acabaria por contaminar a aura de probidade dos actuais responsáveis pela coisa financeira mundial e não deixará de ter consequências entre nós. Daí a oportunidade efectiva da observação do Presidente Cavaco Silva na sua comunicação de Ano Novo.

O buraco negro da economia virtual continua a sugar a liquidez especulativa global, sobretudo nos EUA e na Europa. Para evitar um colapso financeiro à escala mundial, os bancos centrais americano e europeu resolveram despejar mais crédito barato em cima das pré-falidas instituições financeiras ocidentais, enquanto tratavam de negociar uma espécie de paz podre com os chineses e com os japoneses, por forma a evitar um fim ainda mais estrondoso da moeda americana e uma catastrófica recessão mundial. Por outro lado, devido aos estragos monumentais nalgumas das mais emblemáticas instituições financeiras ocidentais, estas mesmas têm-se visto na contingência de deixar entrar nas suas estruturas accionistas os verdadeiros detentores de riqueza soberana, i.e. os países produtores de petróleo, de bens agrícolas e industriais e de mão de obra barata. Os BRICs, ou pelos menos os mais fortes e activos de entre eles (China, o recém anunciado Mercado Comum do Golfo, Rússia, Brasil, Venezuela..., Angola), ao serem chamados a estancar a actual crise, perceberam que chegou a sua hora de fazer exigências e impor algumas medidas de salvaguarda. Os novos accionistas asiáticos, árabes, russos, africanos e latino-americanos, que têm coisas palpáveis para vender, e que têm riqueza soberana (Sovereign Wealth Funds), além de todo o papel desvalorizado com que lhes fomos comprando pão e circo, exigem agora uma radical racionalização dos custos de administração das empresas que lhes abrem desesperadamente as portas. Para estes "capitalistas emergentes", tal como a demais mão-de-obra, já racionalizada, também os quadros directivos são substituíveis e a sua potencial produtividade passível de segmentação e maior rendimento! Eles estão de novo dispostos a ajudar a salvar a economia virtual do Ocidente, mas desta vez não vão deixar os créditos por mãos alheias!

No caso português, é bom lembrar que os bancos angolanos do BCP (Banco Millennium Angola), do BPI (Banco de Fomento de Angola) e do Santander (Totta-Angola) foram praticamente tomados de assalto pelo complexo económico-financeiro da ex-colónia portuguesa poucas semanas antes de terminar o ano de 2007 (ver Expresso Economia de 29-12-2007). O motivo foi simples: os fracos banqueiros de Lisboa, ao tentarem tapar a crise de liquidez na Rua do Ouro (2), expatriando avultados capitais das suas extensões africanas, expuseram-nas à necessidade de provisões ultramarinas urgentes. Os angolanos, e bem, aproveitaram a ocasião para exigir metade de cada uma das instituições ibéricas sediadas no seu país, deixando claramente a entender que o neo-colonialismo chegara ao fim. Uma das consequências mais importantes do buraco negro conhecido por Subprime será assim, em Portugal, a ascendência do sector económico-financeiro angolano sobre a manta de retalhos bancários em que a novela BCP-BPI transformou o país financeiro que temos. A cimeira Europa-África, promovida por José Sócrates durante a presidência portuguesa da União Europeia, teve pois uma inesperada consequência: já não vão ser os espanhóis a devorar o "nosso" sistema financeiro! A ementa está agora mais rica e variada, incluindo Angola, China, Brasil, Venezuela e... Rússia. Bem vistas as coisas, dum ponto de vista estratégico, até nem está nada mal! Ou será que estou a ser demasiado generoso com a tríade de Macau? (3)

A questão do "Ano Novo, Vida Nova", levantada por Cavaco Silva tem, em suma, toda a pertinência. Não existe nenhuma razão justificável para salários milionários na banca e empresas portuguesas, desde que estas estejam cotadas em bolsa ou tenham o Estado entre os seus accionistas. No caso do BCP, porque o banco está falido, ou para lá caminha, e no caso do Banco de Portugal, porque não passa de uma mera instância de regulação, já sem os verdadeiros poderes constituintes de uma verdadeira entidade bancária e ainda por cima incompetente!

Ou seja, para o que faz (e como o faz!), permitir-se que o Sr. Constâncio ganhe mais do que o Sr. Greenspan ganhava quando dirigia o FED, é obsceno. Ainda por cima, como agora vemos, para funcionar apenas como inadmissível cunha dos jogos financeiros da ambiciosa tríade macaense do PS (1).

PS: o "Expresso da Meia Noite" (SIC Notícias) sobre este tema foi simplesmente miserável. Pobres jornalistas!


NOTAS
  1. O GRANDE TABULEIRO DE XADREZ -- a perda de influência da Opus Dei no BCP alinha perfeitamente com a espécie de derrota sofrida pelo lóbi financeiro espanhol na actual guerra pelo controlo do BCP-BPI. Curiosamente, nesta derrota, podemos dizer que a Maçonaria Portuguesa pintou muito pouco. O que não será o caso dos aprendizes de capitalistas que actualmente dominam o Partido Socialista e se têm vindo a perfilar como uma poderosa rede de influência e comando no sector económico-financeiro lusitano. Entre os protagonistas desta espécie de tríade, encontramos os nomes de Murteira Nabo, Jorge Coelho, Alberto Costa, António Vitorino, Eduardo Cabrita, Vitalino Canas, Carlos Monjardino, Maria de Belém Roseira, Alexandre Rosa e Carlos Santos Ferreira! José Sócrates não é mais do que o seu factotum, diligentemente preparado por Luís Patrão. Foi por isso que Mário Soares apenas se atreveu a pedir um pouquinho mais de "Esquerda" ao actual PS, em nome dos velhos tempos da Emáudio! Um verdadeiro caso de estudo que conviria aprofundar.
  2. Esta crise levou já o BCP a vender as acções do Banco Sabadell que tinha em seu poder ao Fundo de Pensões do próprio BCP! Ou seja, sem precisar de leiloar os ditos títulos, a perdida Administração do "maior banco privado português" (não sei porque insistem nesta falácia) encontrou um meio expedito de arranjar alguma liquidez, metendo mão nas poupanças-reforma dos seus funcionários, que aliás temem que o dito fundo venha a transitar para o Estado, permitindo, segundo denuncia Delfim Sousa num mail que circula na blogosfera, um encaixe extraordinário de 4 MIL MILHÕES DE EUROS no Orçamento de 2009! Não fizeram já algo parecido com os fundos de pensões dos CTT e da Caixa Geral de Depósitos?
  3. O caso Berardo, que tem as orelhas a arder em mais de 200 MILHÕES DE EUROS, pedidos emprestados à Caixa Geral de Depósitos (ou seja, é a Caixa que tem as orelhas a arder! ), pode vir a revelar-se como uma das chaves para entender o teatro de sombras chinesas em que está transformada a novela BCP-BPI. A CGD emprestou já muito dinheiro a vários dos chamados "grandes investidores" (amigos) para segurar a barra do BCP e impedir a sua queda a prazo curto nos braços da catalã La Caixa. No fim de contas, o que o banco estatal português tem vindo a arquitectar, por óbvia e compreensível determinação política, é a realização de uma CONTRA-OPA informal sobre a dupla BCP-BPI, por reacção à OPA igualmente informal que a catalã La Caixa montou sobre a mesma dupla bancária depois do fracasso das manobras do BBVA que conduziram à OPA do BCP sobre o BPI. Acho que foi mesmo isto que aconteceu e está a acontecer! Neste quadro, percebe-se agora melhor a balbúrdia em curso. Seja como for, a solução Cadilhe poderá servir, bem melhor do que a turma capitaneada por Santos Ferreira, a defesa de uma fusão com sucesso entre o BCP e o BPI, que garanta, por outro lado, uma forte presença accionista da Caixa Geral de Depósitos no novo banco. É crucial impedir qualquer tipo de centralismo bancário peninsular!

OAM 302 04-01-2008, 22:25 (actualizado em 08-01-2008, 15:26)