quinta-feira, abril 02, 2009

Portugal 95

O submundo da banca e da política

O mesmo dinheiro que os depositantes retiram do Millennium BCP, do BPN e do pseudo Banco Privado, por óbvios motivos de precaução, tem vindo a regressar àqueles mesmos covis pela mão do Estado!


"A situação de liquidez do BPN atingiu valores absolutamente insustentáveis a curto prazo"

Jornal de Negócios com Lusa — A administração do Banco Português de Negócios (BPN) está preocupada com a dimensão das saídas de depósitos da instituição e admite que a liquidez do banco atingiu valores insustentáveis a curto prazo.

... Numa carta interna dirigida às redes comerciais de retalho e de empresas do BPN, à qual a agência Lusa teve acesso, Jorge Pessoa, administrador do banco recentemente nacionalizado, começa por dizer aos colaboradores que "a situação de liquidez do banco atingiu valores absolutamente inimagináveis e insustentáveis a curto prazo".

"A saída diária de depósitos, em valores que chegam a atingir as dezenas e mesmo as centenas de milhões de euros, sem a necessária e vital compensação, pela via da captação de novos depósitos, está a conduzir a instituição para uma situação muito delicada e de extrema gravidade", escreveu o administrador, acrescentando que o cenário descrito "compromete seriamente o futuro do banco".

Uma das ilusões democráticas mais renitentes, nomeadamente em Portugal, é a de que as decisões que realmente fazem mover as carruagens dos países são obra dos governos e se decidem nos parlamentos, entre jogos de retórica mais ou menos inflamados.

A verdade, porém, é que o essencial da política contemporânea, por mais democrática que aparente ser, tem lugar em requintados restaurantes longe dos olhares públicos, ou em clubes de decisão exclusivos, se não mesmo secretos. As cerimónias oficiais, de que as actividades parlamentares, as reuniões ministeriais e a propaganda mediática em geral são os principais instrumentos, não fazem mais do que tratar do acessório, fazendo ao mesmo tempo passar discretamente o essencial sob a forma de decretos-lei regulamentares, portarias e múltiplos vazios legais, sem a menor suspeição de quem aprova.

Ou seja, a democracia domesticada actual é cada vez mais a cobertura doce, festiva e cara de uma inatacável e discreta plutocracia dominante, de que o sistema financeiro é a principal alavanca.

Higiene dentária

Conto a propósito uma anedota verdadeira que me foi transmitida por um familiar farmacêutico já desaparecido.

Corria o tempo da ditadura (1926-1974). Um dos problemas que preocupava em meados da década de 60 um dos ministros de Salazar era o das estatísticas desfavoráveis sobre a higiene oral dos portugueses. Segundo os números recolhidos pela indústria, que logo alimentavam estatísticas internacionais nada abonatórias do regime, os portugueses lavavam pouco os dentes depois das refeições. Claro que a indústria farmacêutica tinha outro problema: não vendia o suficiente. As multinacionais que por essa altura tinham já desembarcado em Portugal — com grande destaque para a célebre Colgate-Palmolive — andavam preocupadas. A publicidade começara por dar bons resultados, mas a quantidade de produto vendido, com base na qual se construíam as estatísticas de consumo, aumentava apesar de tudo devagar.

O governo de Salazar ambicionava outra ideia da higiene oral lusitana, e os fabricantes de pasta dentrífica queriam aumentar as vendas. Hummmm! Caso bicudo. Que fazer? Será que um decreto-lei de São Bento poderia ajudar? Mais anúncios como aqueles famosos spots da Pasta Medicinal Couto, chegariam? A ditadura era para coisas sérias, e não para forçar os portugueses a lavar os dentes. Os custos de publicidade, por sua vez, têm limites e não podem comprometer as margens de lucro. E se fosse hoje, que saída lhe poderia dar a nossa democracia parlamentar? Serviria a ASAE para alguma coisa num aperto destes? Creio que não, pelo menos directamente.

A solução acabaria por ocorrer a um jovem engenheiro químico, no laboratório de análises de um dos fabricantes do hoje indispensável sabão para os dentes.

O laboratório andava há um ano atrás da fórmula para aumentar o consumo da pasta dentrífica. O ângulo de abordagem fora o da melhoria do sabor e aspecto da pasta que escorria dos tubos de chumbo. Os resultados obtidos junto dos consumidores-teste foram porém decepcionantes. O tempo escorria e tardava uma ideia luminosa. Até que um belo dia alguém perguntou: e se alargássemos o buraco de saída da pasta? A história nunca se tornou pública, mas a verdade é que Salazar e os fabricantes da Colgate e da Couto ficaram muito satisfeitos!

Formatação cognitiva

Mais recentemente, alguém deu à actual ministra da educação uma solução parecida para resolver o problema das más estatísticas portuguesas no campo educativo. Se se alargar os buracos de saída em cada compartimento do ciclo educativo, haverá mais gente a passar do primário para o secundário, e deste para o universitário. Juntando estas aberturas ao esquema de Bolonha, e refreando o poder excessivo dos professores através do recurso à uniformização dos métodos de avaliação, nomeadamente pelo uso generalizado de testes de escolha múltipla —os famosos testes americanos —, em vez de exames à memória e ao raciocínio pela via dos interrogatórios de catedra, Portugal verá finalmente evoluir os níveis da educação prestada aos cidadãos, tal como outrora acabara por ver evoluir a qualidade da sua higiene oral.

Claro que este estratagema pode conduzir ao rebaixamento dos níveis cognitivos, culturais e cívicos dos formandos. Mas para corrigir este desconforto é que servem os rankings das escolas e universidades e a própria percepção crescente por parte das novas gerações de que a falta de emprego e o emprego precário são os seus destinos naturais à luz das novas sociedades tecnológicas. O acesso ao trabalho será sempre escasso e temporário no futuro, ou seja, muito competitivo. Ao contrário do que sucedeu às gerações dos nossos pais e avós, o ensino superior que Bolonha inaugurou é apenas um limbo de massificação e uniformidade da espécie urbana. Há, porém, que salvar as estatísticas, enquanto o problema da formação das massas não for radicalmente revisto à luz dos constrangimentos provocados pela robotização, nanoficação, biopolitização e digitalização de todos os processos produtivos. Ainda não foi encontrada a fórmula. Mas, como no caso da higiene dentária, não será a retórica democrática a descobri-la.

Obras públicas

Outro tema cuja problematização adequada tem vindo a escapar ao olhar democrático, e portanto aos jogos florais da Assembleia da República, é o das grandes obras públicas.

Os políticos e os média envolveram-nos numa miríade de pequenas discussões, certamente importantes do ponto de vista técnico, mas irrelevantes para o que verdadeiramente as move.

As autoestradas que aí vêm, a nova travessia rodo-ferroviária do Tejo, a rede de Alta Velocidade e a putativa cidade aeroportuária que o génio do aeromoscas de Beja quer repetir em Alcochete, são irracionais, seja tendo em conta a calamidade económico-financeira mundial actual — que não terminará antes de 2012, podendo até agravar-se exponencialmente até lá! —, seja avaliando os insustentáveis níveis de endividamento público e privado do país, seja tendo em vista a manifesta falta de qualidade técnica e de rentabilidade expectável das soluções, seja ainda porque as alterações inevitáveis dos actuais paradigmas energéticos e de comportamento ambiental irão obrigar a mudar de vez os mesmíssimos pressupostos caducos que politicamente têm vindo a ser esgrimidos como justificação dos vultuosos investimentos anunciados. E no entanto, como temos visto, o governo acelera que nem uma quadrilha desembestada em direcção às obras, atropelando tudo e todos. Sem o dizer nem admitir, aquilo que o governo quer são contratos assinados tão rapidamente quanto possível. E porquê?

Pelo mesmo motivo que Gordon Brown e Barak Obama querem grandes programas de investimento. Ou seja, para justificar uma gigantesca inflação monetária capaz de apagar o fogo das dívidas com o papel recém saído das tipografias do dólar e do euro. Claro que esta saída airosa não irá dar bom resultado, e em seu lugar poderemos ter um desastre entre Weimar e o Zimbabué. A menos que sejam a China e o Japão a inundar os mercados de liquidez. Mas aí, a factura que os Estados Unidos e a Europa irão pagar por semelhante imprudência é a antecipação precipitada da supremacia asiática. A China espera alcançar este estatuto lá para 2020, ou 2030. Obrigá-la a antecipar o plano parece-me uma ideia perigosa. Seja como for, uma qualquer espécie de Tratado de Tordesilhas terá que acontecer em breve.

As dívidas queimam, ó se queimam! No caso português, como em muito outros países, o risco é mesmo o de uma paragem cardíaca, com o Estado sem verbas para pagar aos funcionários públicos (forças armadas e policiais incluídas) e a consequente insolvência. Estamos de facto numa situação catastrófica do ponto de vista financeiro, muito semelhante à que antecedeu a queda da primeira República. Aliás, com uma agravante: sem colónia alguma que nos valha!

Desta vez, o que acontece por baixo da espuma mediática da política é pura e simplesmente a capitulação antecipada de parte importante do nosso PIB, e sobretudo do nosso Rendimento Nacional, sob a forma de uma gigantesca alienação de receitas de longo prazo (embrulhadas nas deploráveis parcerias público privadas a 50, 75 e mais anos), em troca de empréstimos urgentes, destinados a aliviar temporariamente os efeitos imediatamente nefastos do endividamento imprudente do país.

Se virmos bem, não parece haver outra forma de atrair liquidez a Portugal. E como é evidente, não se pode falar destas coisas em público!

Esponjas banqueiras

Vejamos, por último, o caso da actual crise financeira e o modo como tem sido gerida, por exemplo, nos casos do BCP, BPN e Caixa Geral de Depósitos.

Sabe-se que dezenas de milhar de contas, quer no BCP, quer no BPN, têm sido fechadas pelos respectivos clientes, descontentes e assustados com os escândalos e prováveis falências dos bancos a quem confiaram os seus depósitos. Sabe-se também que a Caixa Geral de Depósitos tem sido a grande beneficiária desta situação, na medida em que boa parte dos clientes que tem abandonado o BCP e o BPN, já para não falar do pseudo Banco Privado, vem confiando o depósito das suas poupanças, dos seus salários e dos seus lucros, à Caixa Geral de Depósitos. Normalmente, uma tal situação, que a notícia sobre o BPN acima transcrita bem evidencia, conduziria rapidamente à falência dos ditos bancos, cujas cotações no caso do BCP não param de cair. No entanto, que vemos?

Por um lado, vemos uma pessoa idosa e doente —o antigo presidente do BPN—, em prisão preventiva há meses, como se a cratera do BPN não devesse já ter arrastado para o calabouço mais suspeitos da prática de crimes económicos. Vemos o Estado entrar pelo BPN dentro, sob o disfarce de uma nacionalização de emergência, calando-se depois muito caladinho sobre tudo o que encontrou e sobre o futuro do banco. Vemos ainda a Caixa Geral de Depósitos a renegociar créditos atribuídos sem controlo à especulação financeira, em condições altamente discutíveis. Supomos mesmo que a CGD tem vindo a comprar acções do Millennium BCP sempre que este cai aos trambolhões da Bolsa abaixo. Por fim, a Caixa terá já injectado quantias astronómicas de euros no BPN, sem que se saiba exactamente para quê.

Resumindo, o mesmo dinheiro que os depositantes retiram, por óbvios motivos de precaução, do Millennium BCP, do BPN e do gestor de fortunas chamado Banco Privado, tem vindo a regressar àqueles mesmos covis pela mão do Estado! Se tudo isto se faz com falta de transparência, nas barbas do parlamento, do governo e do presidente da república, é porque a teoria de que o essencial escapa à democracia tem pernas para andar!

Vejamos apenas este caso: Joe Berardo pediu centenas de milhões de euros à Caixa Geral de Depósitos para comprar acções do Millennium BCP. Parte do dinheiro usado na compra das ditas acções foi emprestado pela Caixa Geral de Depósitos, e a liquidação do correspondente empréstimo deveria ter ocorrido há alguns meses atrás. No entanto, isso não aconteceu. Ao invés, a Caixa aceitou renegociar em termos altamente vantajosos para o milionário o prolongamento por mais cinco anos dos créditos vencidos, ao que se sabe sem juros, ou pagando juros insignificantes. Independentemente de se avaliar publicamente a qualidade dos colaterais dados em garantia pelo novo empréstimo, a verdade é esta: Berardo dispõe, por mais cinco anos, de umas centenas de milhões de euros à sua inteira disposição, que poderá aplicar em negócios rentáveis, pagando 0% de juros ao banco que aceitou renegociar a dívida neste termos. Se isto não é uma forma de alimentar com dinheiro público o gosto pelo risco de quem há muito se encontra na primeira linha do tipo de especulação que conduziu à actual crise mundial, então não sei o que é.

No meio da tormenta o ruído das baratas pode tornar-se ensurdecedor. As formigas há muito que foram expulsas da mesa de migalhas. Sobram tão só intenções piedosas que na realidade são demagogia fina e nada mais. Os especuladores, esses, não param de conspirar. E agora mais do que nunca.

O governo de Obama está a enviar milhares de milhões de dólares para a falida AIG, mas o dinheiro que lá chega, extorquido aos bolsos do contribuinte americano, está afinal a ser usado para gerar lucros súbitos e extraordinários à mesma banca sombria (nomeadamente o famigerado Goldman Sachs) que irresponsavelmente causou o actual colapso económico-financeiro mundial.

O extracto do artigo que se segue é um lancinante alarme para o que nos espera. Na realidade, caminhamos para uma revolução social sem precedentes.

AIG Was Responsible For The Banks' January & February Profitability
Posted by Tyler Durden at 6:35 PM — Zero Hedge.

Zero Hedge is rarely speechless, but after receiving this email from a correlation desk trader, we simply had to hold a moment of silence for the phenomenal scam that continues unabated in the financial markets, and now has the full oversight and blessing of the U.S. government, which in turns keeps on duping U.S. taxpayers into believing everything is good.

... AIG, knowing it would need to ask for much more capital from the Treasury imminently, decided to throw in the towel, and gifted major bank counter-parties with trades which were egregiously profitable to the banks, and even more egregiously money losing to the U.S. taxpayers, who had to dump more and more cash into AIG, without having the U.S. Treasury Secretary Tim Geithner disclose the real extent of this, for lack of a better word, fraudulent scam.

In simple terms think of it as an auto dealer, which knows that U.S. taxpayers will provide for an infinite amount of money to fund its ongoing sales of horrendous vehicles (think Pontiac Azteks): the company decides to sell all the cars currently in contract, to lessors at far below the amortized market value, thereby generating huge profits for these lessors, as these turn around and sell the cars at a major profit, funded exclusively by U.S. taxpayers (readers should feel free to provide more gripping allegories).

What this all means is that the statements by major banks, i.e. JPM, Citi, and BofA, regarding abnormal profitability in January and February were true, however these profits were a) one-time in nature due to wholesale unwinds of AIG portfolios, b) entirely at the expense of AIG, and thus taxpayers, c) executed with Tim Geithner's (and thus the administration's) full knowledge and intent, d) were basically a transfer of money from taxpayers to banks (in yet another form) using AIG as an intermediary.

For banks to proclaim their profitability in January and February is about as close to criminal hypocrisy as is possible. And again, the taxpayers fund this "one time profit", which causes a market rally, thus allowing the banks to promptly turn around and start selling more expensive equity (soon coming to a prospectus near you), also funded by taxpayers' money flows into the market. If the administration is truly aware of all these events (and if Zero Hedge knows about it, it is safe to say Tim Geithner also got the memo), then the potential fallout would be staggering once this information makes the light of day.


OAM 568 02-04-2009 19:25 (última actualização: 03-04-2009 02:04)

quarta-feira, abril 01, 2009

G20-London 3

Change, please
A esperança de Obama por terra. Uma moedinha por favor!

Um embuste anglo-americano
Obama não resiste à rainha, nem aos banqueiros!

A reunião do G20 fracassou em quatro frentes essenciais:
  1. Na frente monetária: a hegemonia do falido dólar americano e a sobrevalorização artificial da falida libra inglesa deixaram de fazer qualquer sentido, dados os irreparáveis graus de endividamento destes dois países.

    As duas coisas urgentes a fazer, que Obama, Brown e Sarkozy rejeitaram ab initio são estas:
    • criar uma nova moeda de reserva internacional, nomeadamente através da incorporação das moedas chinesa, indiana, russa, brasileira e ainda a futura moeda única dos países árabes produtores de petróleo, no cesto onde se amassam os chamados SDR;
    • acabar com os movimentos de desvalorização agressiva do ouro, reforçando as reservas oficiais da mais antiga e fiável moeda do mundo nos cofres de todos os bancos centrais, por forma a estabelecer uma paridade mais fiável entre a riqueza real dos países e as aparências ilusionistas engendradas pela especulação corrupta e criminosa que, pelos vistos, Obama tenciona manter e alimentar.

    Os SDR (Special Drawing Rights) são uma espécie de moeda de reserva internacional destinada a fazer as vezes do ouro no comércio mundial. Chama-se por vezes a este contrato fiduciário, "ouro-papel", pretendendo-se com tal afirmação ostensiva dar aos Direitos Especiais de Saque a aparência de uma autêntica e universal moeda de reserva.

    De facto, sabemos que não é assim, pois o que os pilotos de guerra americanos e ingleses levam no bolso para o caso de caírem nalgum deserto iraquiano, ou nalguma montanha afegã, não são SDRs, mas moedas de ouro! Aliás, que diria qualquer um de nós, se alguém nos quisesse pagar um jantar, ou uma casa, com SDRs?

    De facto, esta pseudo moeda universal, nascida no interior do FMI em 1969, dois anos antes de Nixon pôr fim à garantia de trocar dólares por ouro, e que aparece invariavelmente no capítulo das reservas cambiais e de ouro dos relatórios anuais dos bancos centrais, não passa de um compromisso político decorrente ainda da vitória aliada na Segunda Guerra Mundial (1939-1945) e dos defuntos Acordos de Bretton Woods.

    Estes últimos impuseram basicamente a submissão de todas as moedas mundiais ao dólar americano. Mas a progressiva desvalorização desta moeda comercial e de reserva levou a que se cozinhasse os SDRs como uma nova opção em matéria de reserva monetária.

    A desvalorização agressiva do ouro em sucessivas operações especulativas orquestradas por americanos e ingleses, nem por isso impediu a desvalorização paulatina da nuvem de dólares americanos espalhados pelo globo. Todos os bancos centrais eram obrigados a comprar dólares para as suas trocas comerciais com o exterior — por exemplo, para comprar petróleo! Com o ouro artificialmente baixo e sobretudo ausente de boa parte das reservas cambiais existentes, e a desvalorização inevitável de um dólar que se imprimia (e continua a imprimir) como papel higiénico, alguém se lembrou de inventar um cabaz mais "democrático" de moedas, a fim de proporcionar alguma estabilidade aos mercados financeiros mundiais. A esse cabaz, que funciona ainda hoje como uma espécie de moeda franca do FMI, chamou-se SDR. Continha à data da sua criação (1969), dólares americanos, marcos alemães, francos franceses, libras inglesas e ienes japoneses. Hoje contém dólares americanos, euros, libras inglesas e ienes.

    Por razões óbvias, e sobretudo porque o dólar americano se encontra à beira do colapso, faria todo o sentido enriquecer este cabaz de divisas, com as moedas cada vez mais fortes dos chamados países emergentes. A cimeira do G20 deveria pois ser aproveitada, por exemplo, para agir nesta direcção, em vez de tentar prolongar o estertor do falido império anglo-americano, como é a manifesta intenção da América e de boa parte da Eurolândia.

  2. Na frente social: anunciar aos quatro ventos que o poderoso G20 irá criar 25 milhões de postos de trabalho, quando o desemprego mundial deverá atingir, segundo estatísticas das Nações Unidas, qualquer coisa como 230 milhões de pessoas em 2010, não passa de uma piada de mau gosto que as televisões acéfalas de todo o mundo irão vender como a prova de piedade dos piratas que causaram a tragédia actual e, não contentes com isso, nem sequer com o perdão já anunciado por Barak Obama, estão neste preciso momento a refinanciar as suas actividades corruptas e os seus bancos à custa do maior roubo fiscal da história da humanidade.

  3. Na frente da corrupção: a benção de Obama aos donos do mundo financeiro, respectivos bancos de investimento e paraísos fiscais, assim que chegou a Londres, ao lado do homem que alienou em 1999 metade das reservas inglesas de ouro (Gordon Brown), mostra bem o percurso da palavra change: da coragem de anunciar a mudança, à litania do pedinte! Jersey, Guernsey e Isle of Man são propriedade exclusivas da coroa inglesa. E são também conhecidos offshores. Que dirá Obama a Isabel II sobre isto?

  4. Na frente económica: o que está em curso é a montagem de uma gigantesca armadilha económico-financeira, com a face risonha de um programa de ataque à crise e apoio aos pobres — mais investimento = mais emprego, dizem —, mas cuja intenção escondida a sete chaves é rebentar com a poupança mundial, nomeadamente através de uma expropriação em larga escala dos rendimentos de países inteiros, vergados sob o peso das dívidas de curto prazo, cujo refinanciamento se fará por uma inflação monetária sem precedentes e pela captura do bem comum (as melhores paisagens e os melhores terrenos agrícolas, a água potável, as sementes, as redes de energia, os sistemas de transportes, as telecomunicações, etc.) — sob a forma de grandes e demagógicos programas de obras públicas, empacotados em Parcerias Público Privadas, cujos contratos assegurarão desde já a liquidez de curto prazo de que os governos tanto necessitam, ao preço de comprometer as independências dos países e a liberdade, prosperidade e felicidade dos povos. Os governos há muito que dependem dos bancos e sobretudo de grandes manipuladores financeiros como o JPMorgan Chase, Bank of America, Citibank, Goldman Sachs e HSBC Bank USA, ou dos entretanto caídos em desgraça shadow bankers (Bear Stearns, Lehman Brothers, etc.), bem como das suas inúmeras e camufladas delegações. Melhor conjuntura para começar uma revolução não poderia haver!




REFERÊNCIAS

  • Sobre o G20 neste blog: 1, 2, 3.

  • "The Relevance and Importance of Gold in the World Monetary System", by R. Peter W. Millar (PDF)

  • Mints coin it as consumers scramble for gold
    By Sarah Marsh and Jan Harvey/ Reuters
    Mon Mar 30, 2009 9:27pm EDT

    Russia's state-controlled Sberbank says it has never seen such strong demand for investment coins, while the U.S. Mint says sales of its one-ounce American Eagle gold bullion coins rocketed over 400 percent to 710,000 ounces in 2008.

    "The demand for gold and silver has been unprecedented," said Carla Coolman, a spokeswoman at the United States Mint.

    Austria's Philharmonic, named after the Vienna Philharmonic Orchestra, was the world's best-selling gold coin in the last quarter and sales soared 544 percent in the first two months of 2009.

    "There is no sign of demand abating," Austrian Mint Marketing Director Kerry Tattersall told Reuters, expecting sales this year to exceed 2008's record levels. "At present production is struggling to keep up with demand."

  • China and Argentina in currency swap
    By Jude Webber in Santiago/ Finantial Times.com
    Published: March 31 2009 01:25 | Last updated: March 31 2009 01:25

    China, which is pushing to end the dominance of the dollar as a worldwide reserve, has agreed a Rmb70bn ($10.24bn, £7.18bn, €7.76bn) currency swap with Argentina that will allow it to receive renminbi instead of dollars for its exports to the Latin American country.

    Xinhua, the official Chinese news agency, said the deal was signed on Sunday by Zhou Xiaochuan, governor of the People’s Bank of China, and Martín Redrado, Argentine central bank president, in Medellín, Colombia, where they are attending a meeting of the Inter-American Development Bank.

  • Chavez seeks Arab support for oil-backed currency

    BRIAN MURPHY
    Associated Press/ The Globe and Mail, Toronto
    March 31, 2009 at 5:56 PM EDT

    DOHA, Qatar — Venezuelan President Hugo Chavez tried Tuesday to court Arab support for another swipe at America as its economy stumbles: a proposal for a new, oil-backed currency to challenge the global prominence of the dollar.

    The idea never reached the full agenda of a summit of leaders from South America and the Arab League — and has little hope of gaining any momentum among the U.S. allies in the Middle East. But it managed to reflect broader sentiments at the gathering: That Western financial leadership has been deeply eroded by the economic meltdown.

  • RPT-EU says G20 not to focus on China financial calls

    BEIJING, March 29 (Reuters) - Europe is comfortable with China's growing world role but believes the G20 summit will be too early to decide on Beijing's calls for more say in global financial bodies, the EU Commissioner for External Relations said on Sunday.

    European Union Commissioner Benita Ferrero-Waldner told Reuters in Beijing that the London gathering of 20 major wealthy and developing powers this week would focus on "concrete results" to revive the global economy, not more distant issues.

    China caused a stir ahead of the Thursday summit when it suggested the world move to greater use of IMF Special Drawing Rights as an international reserve currency.

    "I don't think that this will be the question that really will be discussed thoroughly in London," Ferrero-Waldner said after talks with Chinese Foreign Minister Yang Jiechi and Vice Premier Li Keqiang.

    Likewise, she said, China's call for a bigger role in the International Monetary Fund (IMF) and other international financial bodies would not be a focus of the summit.

    "I think it's too early for us to give a really concrete answer," she said of these calls. "I think it is within the IMF, it is within the international financial institutions, that these questions have to be discussed."

    The idea of a new reserve currency system based on the IMF special drawing rights has not been entirely knocked down, but many G20 leaders have made clear that for now the U.S. dollar's status as the dominant reserve unit remains.

  • O buraco negro dos Derivados — 600 milhões de milhões de USD — representa 12 vezes o PIB do planeta!

    OCC’s Quarterly Report on Bank Trading and Derivatives Activities — Fourth Quarter 2008 (PDF)

    • The notional value of derivatives held by U.S. commercial banks increased $24.5 trillion in the fourth quarter, or 14%, to $200.4 trillion, due to the migration of investment bank derivatives business into the commercial banking system.
    • U.S. commercial banks lost $9.2 billion trading in cash and derivative instruments in the fourth quarter of 2008 and for the year they reported trading losses of $836 million. The poor results in 2008 reflect continued turmoil in financial markets, particularly for credit instruments.
    • Net current credit exposure increased 84% from the third quarter to a record $800 billion, and much of this is attributable to the sharp decline in interest rates in the fourth quarter.
    • Derivative contracts remain concentrated in interest rate products, which comprise 82% of total derivative notional values. The notional value of credit derivative contracts decreased by 2% during the quarter to $15.9 trillion. Credit default swaps are 98% of total credit derivatives.

    Derivatives activity in the U.S. banking system is dominated by a small group of large financial institutions. Five large commercial banks represent 96% of the total industry notional amount and 81% of industry net current credit exposure.

  • Reform International Financial Regulatory Framework:A Few Remarks
    Research Institute of Finance & Banking
    People's Bank of China

    In the midst of the current financial crisis, the needs for major reform of the global financial system and global financial stability framework have been increasingly recognized. Policymakers and international organizations have made substantial efforts to improve the international financial system including financial regulation and supervision. Various proposals have come forward on priority areas such as redefining the scope and boundaries of financial regulation and supervision, tackling issues of pro-cyclicality in the system, retooling capital and provisioning requirements as well as refining valuation and accounting rules, and some consensus has been reached. Among others, the Group of Thirty has published a Financial Reform report, and FSF and BCBS have undertaken some work on various aspects of financial regulation and Basel II framework. A number of regulators and the financial industry have initiated a centralized clearing and central counter-party mechanisms for OTC derivatives including credit default swaps (CDS). All these efforts will help to fend current crisis and future risks. However, we also note that several issues with respect to the financial regulatory framework have not received adequate attentions. In this note, we would like to explore these issues and provide relevant suggestions.


  • U.K. Bond Auction Fails for First Time in 14 Years - WSJ.com.
    Isto significa que já nem as emissões de dívida pública funcionam. Por isso Gordon Brown quer que os governos do G20 esmifrem os seus concidadãos para refinanciar o falido FMI. Refinanciado este, não serão só os países pobres do Terciro Mundo que poderão então acolher-se à sombra castigadora do FMI. Não — é a própria planície de sua majestade a rainha de Inglaterra!

  • OECD predicts 10% jobless rate for 2010

    By Chris Giles in London, Ralph Atkins in Frankfurt and Mark Mulligan in Madrid
    Published: March 30 2009 20:02 | Last updated: March 30 2009 20:46 — Finantial Times.co.

    One in 10 workers in advanced economies will be without a job next year, “practically with no exceptions”, the head of the Organisation for Economic Co-operation and Development said on Monday.

    In a graphic indication of the global recession’s transmission from the financial sector to the rest of the economy, Angel Gurría warned that the ranks of the unemployed in the 30 advanced OECD countries would swell “by about 25m people, by far the largest and most rapid increase in OECD unemployment in the postwar period”.

    He said the misery of joblessness – what Mr Gurría described as “rapidly turning into a jobs and social crisis” – would come as the OECD expected advanced economies to contract by 4.3 per cent in 2009 with little or no growth expected in 2010. The forecast is significantly worse than the International Monetary Fund’s most recent estimate of a 3-3.5 per cent contraction for 2009.

  • 20 Million Laid-off Migrant Workers May Send China's Unemployment Rate to 10% February 06,2009

    by CSC staff, Shanghai — China Stakes.com.
    20 million! The number of jobless migrant workers brought by the economic slowdown is even higher than the most pessimistic estimation.

    Chen Xiwen, deputy director of the Office of Central Financial Work Leading Group and director of the Office of The Central Leading Group on Rural Work, disclosed that, due to the financial crisis, about 20 million out of 130 million migrant workers, had returned home as they became jobless or failed to find jobs thanks to the economic slowdown.

    ... According to the estimation of the Ministry of Human Resources and Social Security, the over supply issue of labor will worsen in 2009, and the government will have to offer jobs to 24 million people, including 13 million new workers, 8 million laid-off workers and 3 million who are waiting for jobs.

  • China Unemployment Rate

  • 2009 world unemployment could rise by 40 million [to 230 million], says UN

    Invest in India — The global economic downturn could see 40 million more people lose their jobs by the end of the year, taking the unemployment rate to its highest in a decade, the U.N. labor agency said Wednesday.

    The number of unemployed in 2009 will largely depend on how effective governments’ economic stimulus measures are, the International Labor Organization cautioned.

    Worldwide unemployment by the end of the year will range between 210 million and 230 million people, the agency said in its annual Global Employment Trends report.

OAM 567 01-04-2009 18:26 (última actualização: 02-04-2009 00:09)

terça-feira, março 31, 2009

Portugal 94

Uma manifestação da GNR?!

APG lidera manifestação contra «degradação» das condições de serviço
A Associação de Profissionais da Guarda vai estar na liderança de uma manifestação de agentes da GNR que vão protestar contra a «degradação» das condições de serviço. José Manageiro fala mesmo em «absoluta escravatura» na GNR. — TSF.

Quando a guarda pretoriana do regime, espécie de última ratio da ordem civil, fala de escravatura a propósito das condições económicas e de serviço a que terá chegado, temos uma vaia ao regime bem maior e mais grave do que aquela que o actual primeiro ministro sofreu no CCB depois de chegar meia hora atrasado à estreia da ópera Crioulo.

O cerco ao governo PS está cada vez mais apertado e aceso. Começo a pensar que, para além dos meus posts e da justa indignação dos portugueses perante tanta inépcia e corrupção, há mesmo uma conspiração "aliada" capitaneada pelo agente laranja colocado em Bruxelas por Bush e Blair —Durão Barroso, pois quem havia de ser!— para derrubar a estratégia da tríade de Macau.

Mas disto escreverei noutra ocasião.

A minha recomendação à tríade é esta: expliquem ao Pinóquio que será melhor para ele e para todos nós a sua imediata demissão, em nome da defesa tranquila da sua honra contra a conspiração internacional montada contra o PS e apontada directamente à sua cabeça.

António Costa deveria substituir José Sócrates, unir o partido em nome de uma estratégia clara e transparente, pondo a ênfase da sua comunicação nas interferências estrangeiras —em particular inglesa—que ameaçam uma vez mais espezinhar o país, desta vez em nome da defesa criminosa da irremediavelmente decadente aliança anglo-americana.

Os Estados Unidos e a Inglaterra estão literalmente falidos. E o que querem do G20 é que o resto do mundo morra de fome e bombas em nome do seu insustentável estilo de vida, safando uma vez mais a mesmíssima canalha que precipitou o planeta na maior crise económica e social da sua história: JP Morgan, Goldman Sachs e quejandos, FMI e ainda os paraísos fiscais sediados nas ilhas privadas de sua majestade pirata a rainha de Inglaterra.

Para o eixo Londres-Washington, a Portugal não é permitido mijar fora do penico. E mijar fora do penico é, por exemplo, estabelecer uma nova triangulação estratégica activa entre Portugal, a Rússia, o Brasil, a Venezuela, Angola, Guiné e Moçambique, China e Timor.

Para o súbdito Obama e para a rainha de Inglaterra, Portugal não passa de um porta-aviões, deles, claro!

A minha avó odiava os ingleses. Começo a perceber porquê.


OAM 566 31-03-2009 13:22

segunda-feira, março 30, 2009

Socrates 19

CCB vaia José Sócrates

Quando a classe média — e já não apenas o indecoroso comunista — barafusta e vaia um primeiro ministro, das duas uma: ou o regime se emenda ou cai. A menos que enveredemos pelo tipo de populismo autoritário propugnado entre dentes por Augusto Santos Silva e pelo gajo da ERC (uma comissão de censores castrados invariavelmente chefiada por um boy do governo de turno)...

José Sócrates vaiado na ópera
29 Março 2009 - 00h30 — A lotação do Grande Auditório do Centro Cultural de Belém (CCB) – cerca de 1500 espectadores – esgotou na noite de anteontem. Quando o primeiro-ministro José Sócrates entrou na sala, para a estreia da ópera ‘Crioulo’, foi vaiado. O relógio marcava 21h25 – passavam, portanto, 25 minutos da hora marcada do início do espectáculo.

Não foi apenas Sócrates o apupado. Segundo uma fonte do CCB, o facto ficou a dever-se "ao atraso de comitivas oficiais". A mesma fonte adiantou ao CM que o chefe do Governo chegou ao CCB cerca das 21h10. Acompanhado pela namorada, Fernanda Câncio, aguardou ainda pelo congénere cabo-verdiano, José Maria das Neves. A ópera ‘Crioulo’ é da autoria de dois naturais daquele país africano, António Tavares e Vasco Martins.

Antes de se dirigir ao CCB, Sócrates tomara conhecimento da acusação de corrupção que lhe fora dirigida, no âmbito do caso Freeport, por Charles Smith, em gravação vídeo exibida no ‘Jornal Nacional’, da TVI. O seu Gabinete emitiu um comunicado, desmentindo as acusações. — José Luís Feronha in Correio da Manhã.

Em Portugal, para além de sermos todos doutores e engenheiros, fica-nos bem chegar tarde. É uma prova de poder. E como todos somos de algum modo patrões, directores, chefes e padrastos de alguém ou de alguma coisa, chegar tarde e estacionar em cima dos passeios e esquinas são duas das inexcedíveis aquisições do actual regime democrático. O que porventura começou por ser uma rebeldia contra o antigo regime ditatorial (depois de derrubado, claro!) coalhou na mioleira indolente de todos nós ao ponto de haver observadores atentos convencidos de que se trata de uma característica genética lusitana irremediável. Que nos abstemos de praticar fora do país — bem entendido.

Chegar a horas é uma tradição inglesa, germânica, francesa, japonesa, chinesa e até já espanhola. Portugal, pelo contrário, prefere a sua originalidade pindérica, e por isso continua a seguir alegremente o modelo argentino. Os médicos gostam de fazer esperar, os advogados gostam de fazer esperar, o burocrata da repartição pública nem se apercebe o quanto faz desesperar quem lhe paga o vencimento, e o político, esse então é acometido de verdadeiras explosões de prazer onanista sempre que castiga um subordinado ou cidadão com uma boa hora de seca, desfazendo-se depois em mil desculpas pelos seus imensos afazeres. Fazer a multidão esperar pelo menos três quartos de hora por um qualquer analfabeto elevado à condição de ministro, antes de uma inauguração, de um concerto ou de uma ópera é o máximo de distinção civilizacional a que a democracia a que chegámos conseguiu chegar. Que cretinos somos!

No caso em apreço, como se não bastasse a parvoíce de chegar atrasado à Ópera, os serviços de propaganda governamental tiveram ainda a distinta lata de atirar as culpas para o desgraçado primeiro ministro de Cabo Verde. Tudo para salvar o náufrago a quem uma escuteira do regime chamou literariamente "menino de ouro". Pois não tem salvação possível! Perdida a maioria absoluta, o destino do pseudo Sócrates é juntar-se ao primo de Cascais — no Nepal. Bem podiam montar por lá um restaurante de bacalhau e batatas a murro.


OAM 565 30-03-2009 23:26

sábado, março 28, 2009

G20-London 2

Lula é menos racista do que parece
O presidente do Brasil Luiz Inácio Lula da Silva disse que a crise económica foi causada por "brancos de olhos azuis" e que é errado pensar que negros pobres ou povos indígenas devam pagar pelos seus erros. — BBC.



Lula da Silva, presidente do emergente Brasil, arrasa a diligência oportunista de Gordon Brown para levar a Cimeira de Londres do G20 a deixar tudo na mesma — isto é, a facturar às classes médias e sobretudo a milhares de milhões de pobres em todo o planeta 64 anos de capitalismo de casino (desde Bretton Woods), à conta do qual a maior nação do mundo —os EUA—, mas também o Reino Unido e uma boa fatia da Europa, se endividaram alegremente à conta do saque colonial e neo-colonial dos países com recursos energéticos e matérias primas essenciais, como se a sorte da humanidade fosse um Jogo do Monópolio onde os bancos centrais se entretêm a imprimir papel de cada vez que precisam de mais dinheiro, os vampiros da especulação se divertem a destruir empresas e a fabricar quimeras bolsistas, e os governos e nomenclaturas partidárias se deixam avidamente corromper até à medula.

O ponto a que chegámos é este: há uma inimaginável dívida acumulada no buraco negro dos mercados de derivados que é impossível pagar! Mas como o que caracteriza uma dívida é que ela sempre se paga —ou por quem deve, ou por quem emprestou— estamos metidos num sarilho de proporções trágicas. Centenas de milhar de empresas, centenas de bancos e fundos de pensões, milhões de famílias e dezenas de estados irão à falência na sequência do grande crash bolsista que ainda não ocorreu mas irá ocorrer, este ano ou até 2012. A cimeira de Londres é uma tentativa desesperada, sobretudo das elites americanas e inglesas (os tais brancos de olhos azuis), de evitar ir para onde a sua irresponsável e criminosa pirataria os levou: à falência! Querem como sempre continuar a beber os mais caros Champagne (Dom Perignon, Diadema Diamante e Heidsieck ), a snifar coca Colombiana em notas de 500 euros, a degustar ovas de Beluga em salvas de prata, a conduzir Bugattis forrados a couro de vitela, e a dispor de carne adolescente em bacanais exclusivos. Ou seja, querem, como sempre, que sejam os outros, nomeadamente os pobres, pretos, asiáticos e índios a sofrer e pagar!

Eu sou branco, mas como boa parte dos portugueses tenho sangue de várias cores. Do Brasil veio um bisavô alemão, loiro e de olhos muito azuis, e uma bisavó princesa índia — de Belém do Pará. De Portugal veio seguramente muito sangue celta, judeu e algum negro dos idos tempos da escravatura, quando muito escravo se miscigenou com a já então antiga miscelânea galaico-lusitana. Lula não fez uma afirmação racista. Falou sim através de uma poderosa metáfora, em defesa da esmagadora maioria da população mundial, que não é de facto responsável —mas está a pagar as favas— pela luxúria e pirataria assassina que nos conduziu a todos para esta dramática e perigosa situação.

Ou metemos na ordem o sistema internacional e regressamos ao padrão confiável do ouro e da prata, abandonando definitivamente a especulação cambial (FOREX) e a falsificação monetária legalizada (fiat money, money out of thin air) que vigoram desde 1914 e são literalmente responsáveis pela destruição em curso do planeta e da civilização, ou caminharemos muito rapidamente para o colapso. É preciso explicar isto às pessoas. E de caminho, é preciso meter isto nas cabeças obtusas dos economistas e das nomenclaturas político-partidárias deste mundo.

A estes últimos recomendo a leitura urgente de um livro: Gold Wars, de Fernidand Lips.

OAM 564 28-03-2009 11:34

Socrates 18

A democracia vai nua

José Sócrates, pobre diabo, não passa dum rapaz incauto que sem querer acabou por destapar o cancro da corrupção partidária que alastrou irremediavelmente pelo país.

Freeport:
Smith afirma
em DVD na posse da polícia inglesa que Sócrates “é corrupto”

27.03.2009 - 20h21 Romana Borja-Santos (Público) — Charles Smith, sócio da consultora Smith & Pedro, contratada para tratar do licenciamento do Freeport de Alcochete, diz claramente, num DVD que está na posse da polícia inglesa e que foi hoje divulgado pela TVI, que José Sócrates “é corrupto” e que terá recebido, por intermédio de um primo, dinheiro para dar luz-verde ao projecto do “outlet”.

... A magistrada Cândida Almeida, directora do DCIAP (Departamento Central de Investigação e Acção Penal), que coordena o departamento do Ministério Público que investiga o caso, recusou uma investigação conjunta proposta pelos ingleses. Nessa altura terá tomado conhecimento do DVD. A procuradora desvalorizou a prova, argumentando que não cabia na lei portuguesa.

Ver exclusivo da TVI

Em qualquer democracia decente um político não exerce funções governativas, e muito menos é chefe de governo, se sobre ele recaem suspeitas públicas graves de estar envolvido em escândalo sexual, financiamento ilícito do seu partido político, favorecimento pessoal de terceiros, ou corrupção económica. Se coisas destas chegam aos tribunais, numa democracia plena, o visado sujeita-se às consequências, embora sejam frequentes as interferências junto da máquina processual das polícias e dos tribunais, com o argumento de que a "gestão política" destes casos se justifica em nome da segurança de Estado. Mas ficar em funções é hipótese que raramente se coloca, salvo se estamos a falar de democracias recentes, populistas ou de terceiro mundo. Ou pelo menos era assim até que exemplares da laia de Sílvio Berlusconi e Ehud Olmert chegaram ao poder.

Em Portugal, a sucessão de episódios tristes em volta da personalidade e dos actos profissionais e de gestão político-partidária do senhor Sócrates é quase inacreditável, de tão mau que é o filme. E no entanto, vemos a generalidade dos mortos-vivos que vegetam ou tagarelam pelo parlamento assobiarem para o ar ou murmurando coisas incompreensíveis. Porque será?

Reparem no argumento atribuído à corajosa Cândida Almeida: como o DVD não serve de prova à luz da lei que temos, e o conteúdo da gravação é meramente "circunstancial", para quê ouvir José Sócrates? Mas a resposta é óbvia. Porque há demasiados indícios, ainda por cima publicitados! Das duas uma: ou o Ministério Público interroga o actual primeiro ministro sobre toda esta trapalhada, ou processa os difamadores.

Entretanto talvez fosse aconselhável emitir um mandado de captura contra o primo do actual primeiro ministro, que é abundantemente citado no já célebre DVD e pelos vistos anda a cursar artes marciais algures no Nepal.

A esperança de isto ocorrer é porém vã, pois como diz o imperceptível Procurador-Geral da nossa República falida, para ele, e portanto para todo o Ministério Público, isto não passa dum sonho húmido da Oposição. Ele usou uma expressão mais corriqueira, claro. Chamou-lhe "novela". Mas enfim, pelo menos aqui, preferimos sempre a linguagem adequada. Noblesse oblige!

A mim, sinceramente, tudo isto me cheira a cancro. A corrupção instalada no país do Bloco Central, tal como o cancro, parece ter passado a fase inicial em que ainda é fácil queimá-lo à força de quimioterapia. As metástases irrompem agora de onde menos se espera. E ninguém parece preparado ou com coragem para reagir. Mas sendo assim, o destino que nos espera é tão certo, como fatal. É apenas uma questão de tempo.

Há um livro fabuloso sobre o que acontece às comunidades que se deixam aprisionar pela falta de liderança e pela corrupção. Chama-se Collapse: How Societies Choose to Fail or Succeed, foi escrito por Jared Diamond, e descreve o fim trágico de algumas comunidades humanas outrora estáveis. Vale a pena ver este vídeo da palestra de Jared Diamond organizada pela TED.


OAM 563 28-03-2009 02:00 (última actualização: 13:11)

quinta-feira, março 26, 2009

Energia Verde 1

Certificação energética?
Regime de Penalização Energética + Impostos


Recebi esta denúncia, que espero ver esclarecida por algum zombie parlamentar

No IRS surgiu um campo novo… preparem-se para mais uma despesa...

Quando submeterem o IRS irão verificar a existência de um campo novo no Anexo H, campo dados dos imóveis, sobre a certificação energética: se tem ou não classificação "A+" ou "A". Obviamente que a maioria não tem certificação, logo o campo a preencher é o NÃO.

Dizem que este campo não terá penalização no valor a ser reembolsado! Mas ... façam a v/simulação com o sim e com o não e verão que o valor a ser reembolsado será menor.. logo seremos penalizados!!! (mais ou menos entre 50€ a 100€ a menos)

Se não tivermos a certificação seremos penalizados todos os anos.. se a pedirmos gastamos +-200€ num ano mas fica válida por vários anos (ainda não confirmei por quantos), mas só vale a pena pedir certificação se obtivermos a classificação "A" ou "A+" — o “B” já dá penalização

Contactei a DECO que confirmou a legalidade da situação embora concordasse que a informação explicita e da comunicação social fosse nula.... porque será?

Abaixo está um site que vos elucidará sobre este assunto, uma vez que esta lei já existe desde 2006.... Os iimóveis de luxo construídos em 2007 eram os poucos ou únicos que tinham esta certificação...

Para este ano já não vamos a tempo de pedir a certificação, mas mesmo que tenhamos certificação só não somos penalizados no IRS se a certificação for "A" ou "A+".. se for abaixo desta classificação seremos sempre penalizados...

Quem está a construir casa, peçam a v/certificação ao construtor. O Construtor já é obrigado a dar a certificação... Na casas novas caso não tenham pré-instalação de paineis solares e/ou soluções ecológicas terão agravamento a nível de impostos (IMI....), serão consideradas casas "Não Verdes" e serão logo penalizadas nas contribuições.

Mais uma grande manobra ao melhor estilo do Sr. Eng. Sócrates.

Comentário: os deputados falam, falam, falam, falam... e falam na televisão ... e falam nas rádios, e escrevem nos jornais, sempre pelos cotovelos! Os demais políticos copiam-nos. Transparência e lucidez? Nem vê-las!

Sempre quero saber como é que os alcaides deste país vão lidar com mais este negócio fiscal escondido, que tem a ratice fraudulenta de financiar as empresas energéticas e o Estado à custa do argumento verde. Como seria de prever, o motorista do BES, actual ministro da economia e da inovação, deve ser o mágico de mais esta multiplicação encapotada das receitas fiscais. A punção fiscal sobre a classe média e os pobres continua!

Post scriptum — leitor amigo enviou-me a documento legal que estabelece os incentivos à certificação energética A e A+. Aqui fica até sabermos mais sobre se existem ou penalizações para quem não trocar o carro que tem por um híbrido, perdão a casa que tem por uma casa ecológica! Ou muito me engano, ou o negócio da certificação energética (vão ser teoricamente necessários 2000 técnicos certificados...) vai ser só para alguns, à semelhança do que ocorreu com as famigeradas inspecções de veículos automóveis!

O Orçamento do Estado para 2008, aprovado pela Lei n.º 67-A/2007 que foi publicada em Diário da República, 1.ª série, n.º 251, de 31 de Dezembro, introduziu alterações a diversos impostos, designadamente ao Código do Imposto sobre o Rendimento das Pessoas Singulares (CIRS), de que se destaca o n.º 6 do Artigo 85.º, indicando que as deduções à colecta dos encargos estabelecidos no n.º 1 do referido Artigo acrescem 10 % no caso de imóveis classificados na categoria A ou A+, de acordo com certificado energético atribuído nos termos do Decreto-Lei n.º 78/2006, de 4 de Abril.

Para uma leitura detalhada do Orçamento do Estado para 2008...


OAM 562 26-03-2009 22:58

quarta-feira, março 25, 2009

G20-London

Cimeira de Londres do G20
Última oportunidade de evitar uma desarticulação geo-política global

Carta aberta aos dirigentes do G20, publicada na edição internacional do Financial Times de 24 de Março de 2009

Minhas Senhoras e Meus Senhores,

A vossa próxima cimeira terá lugar dentro de dias em Londres, mas restam-vos menos de seis meses para evitar que o mundo mergulhe numa crise que levará pelo menos uma década a superar, acompanhada de um cortejo de tragédias e convulsões. Esta carta aberta do Laboratoire Européen d'Anticipation Politique / Europe 2020 (LEAP/E2020), que desde Fevereiro 2006 anunciou a chegada de uma "crise sistémica global", pretende explicar brevemente o que aconteceu, e como limitar mais danos.

Se apenas começastes a suspeitar da amplitude da crise há menos de um ano, a verdade é que o LEAP/E2020, no segundo número do seu « Global Europe Anticipation Bulletin » (GEAB N°2), havia já anunciado que o mundo entrara na "fase de desencadeamento" de uma crise de proporções históricas. Desde então, mês a mês, LEAP/E2020 continuou a produzir previsões muito fiáveis do desenrolar desta crise com a qual o mundo inteiro agora se debate. Por esta razão, escrevemos esta carta aberta que esperamos possa esclarecer as vossas escolhas nos próximos dias.

Esta crise tem vindo a agravar-se de forma perigosa. Recentemente, na 32ª edição do seu Boletim, o LEAP/E2020 lançou um alerta muito importante que vos diz directamente respeito, enquanto líderes do G20: se, reunidos em Londres no próximo dia 2 de Abril, não forem capazes de adoptar um certo número de decisões audaciosas e inovadoras, centradas no que é essencial e levadas à prática a partir do Verão de 2009, então a crise entrará no fim deste ano numa fase de "desarticulação geo-política generalizada", que afectará tanto o sistema internacional como a própria estrutura de grandes entidades políticas, tais como os Estados Unidos, Rússia, China ou a União Europeia. A partir deste ponto deixará de ser possível controlar a situação, para mal dos 6 mil milhões de habitantes deste planeta.

A vossa escolha: uma crise de 3 a 5 anos ou uma longa crise de pelo menos uma década?

Como nada vos preparou para enfrentar uma crise de tamanhas proporções históricas, a vossa preocupação incidiu apenas nos sintomas e nos efeitos secundários da crise. Pensaram que bastava adicionar mais combustível ou óleo ao motor mundial, desprevenidos do facto de que esse motor estava gripado, sem esperança de reparação. É de um novo motor que precisamos construir. Mas o tempo escasseia, pois em cada mês que passa deteriora-se um pouco mais o sistema internacional.

Como em todas as grandes crises, é preciso ir ao essencial. Como em todas as crises de dimensão histórica, a única saída está entre levar a cabo uma série de mudanças radicais, abreviando a duração da crise e as suas consequências trágicas ou, pelo contrário, recusar fazer essas mudanças numa tentativa de salvar o que sobra do actual sistema, não conseguindo porém mais do que prolongar a crise e aumentar todas as suas consequências negativas. Em Londres, no próximo dia 2 de Abril, podereis pois escolher entre abrir o caminho para a resolução da crise de uma forma organizada em 3 a 5 anos; ou, pelo contrário, arrastar o planeta para uma década terrível.

Contentamo-nos com oferecer três recomendações que consideramos de alcance estratégico no sentido de, como foi já adiantado pelo LEAP/E2020, se as mesmas não forem tomadas até ao Verão de 2009, tornar-se inevitável uma desarticulação geo-política global a partir do fim deste ano.

AS TRÊS RECOMENDAÇÕES DO LEAP/E2020

1. A chave da crise está na criação de uma nova moeda de reserva internacional!

A primeira recomendação resume-se a uma ideia muito simples: a chave da crise actual encontra-se na reforma do sistema monetário internacional herdado da Segunda Guerra Mundial a fim de criar uma nova moeda de reserva internacional. O dólar e a economia dos Estados Unidos já não estão em condições de continuarem a ser os pilares da ordem económica, financeira e monetária global. Enquanto este problema estratégico não for directamente abordado e resolvido, a crise agravar-se-à. Na realidade ele está no coração da crise do mercado financeiro de derivados, bancos, preços energéticos... e das suas consequências no desemprego e no colapso dos padrões de vida. É por isso de vital importância que este assunto seja o tema central da cimeira do G20, e que os primeiros passos da sua solução aí sejam dados. Na realidade, a solução deste problema é bem conhecida: trata-se de criar uma moeda de reserva internacional (que poderia chamar-se "Global") baseada num cesto de moedas das maiores economias, i.e. dólar US, Euro, Iene, Yuan, Khaleeji (a moeda única dos estados petrolíferos do Golfo, a ser lançada em Janeiro de 2010), Rublo, Real..., gerida por um "Instituto Monetário Mundial". Deverá pedir-se ao Fundo Monetário Internacional e aos bancos centrais envolvidos que preparem este plano para Junho de 2009 e o implementem em Janeiro de 2010. Este é o único caminho para recuperar algum controlo sobre os acontecimentos e ao mesmo conseguir uma gestão global partilhada com base numa moeda comum situada no centro da actividade económica e financeira.

Segundo o LEAP/E2020, se esta alternativa ao colapso sistémico em curso não se iniciar no Verão de 2009, provando que há alternativa ao "cada um por si", o actual sistema internacional não sobreviverá a este Verão.
Se alguns dos estados do G20 pensam que é melhor manter os privilégios do "status quo" pelo tempo que for possível, deverão meditar no facto que, se hoje ainda podem influenciar significativamente a futura forma deste novo sistema financeiro mundial, uma vez iniciada a fase de desarticulação geo-política global perderão qualquer hipótese de o fazer.

2. Implementar os esquemas de controlo bancário o mais depressa possível!

A segunda recomendação foi já mencionada frequentemente nos debates preliminares da vossa próxima cimeira. Deve pois ser fácil de adoptar. Trata-se de criar, antes do fim deste ano, um esquema de controlo bancário à escala global, eliminando todos os "buracos negros" do sistema. Várias opções foram já sugeridas pelos vossos especialistas. Decidam-se já: nacionalizando as instituições financeiras tão prontamente quanto necessário! É a única maneira de prevenir um novo episódio de endividamento em larga escala por parte dessas instituições (o tipo de situação que contribuiu significativamente para a presente crise), e de mostrar à comunidade mundial credibilidade para lidar com banqueiros.

3. Levar o FMI a avaliar os sistemas financeiros dos Estados Unidos, Reino Unido e Suíça!

A terceira recomendação relaciona-se com um assunto político sensível, que não deve ser ignorado. É essencial que, até Julho de 2009, o FMI apresenta ao G20 uma avaliação independente dos três sistemas financeiros no coração da actual crise financeira: o estado-unidense, o britânico e o suíço. Nenhuma recomendação sustentável poderá ser implementada eficazmente enquanto não se souber claramente o dano causado pela crise no interior deste três pilares do sistema financeiro mundial. Não é altura de ser amável com os países situados no centro do presente caos financeiro.

Escrevam uma declaração simples e breve!

Por último, por favor, permitam-nos lembrar-lhes que a vossa tarefa é restaurar a confiança no seio de 6 mil milhões de pessoas e a milhões de organizações públicas e privadas. Assim sendo, não se esqueçam de redigir um comunicado curto — não mais de duas páginas, apresentando um máximo de três ou quatro ideias que os não especialistas possam ler e perceber. Se assim não for, ninguém vos lerá fora do círculo estreito dos especialistas, e por conseguinte sereis incapazes de recuperar a confiança geral do público, pelo que a crise se agravará.

Se esta carta aberta vos ajudar a sentir que a história julgará o êxito ou fracasso desta Cimeira, então, não terá sido escrita em vão. Segundo o LEAP/E2020, os vossos cidadãos não esperarão mais do que um ano para vos julgar. Desta vez, pelo menos, não podereis dizer que ninguém vos avisou!

Franck Biancheri
Director de estudos do LEAP/E2020
Presidente do Newropean

Tradução: OAM

Outras versões:

OAM 561 25-03-2009 16:25

terça-feira, março 24, 2009

Energia 5

Do pinóquio irrenovável à pedrada da SHELL

As energias eólicas e solar, segundo a SHELL — que acaba de anunciar a sua retirada dos sectores eólico, solar e hídrico (1) — não são rentáveis, ou dito doutro modo, os seus preços, que continuarão a subir no futuro, prefiguram um novo paradigma energético. O tempo da energia cara chegou!

Daí que todo o plano do pinóquio Sócrates (2) não passe duma aldrabice para safar empresas que subsidiaram e subsidiam os partidos do Bloco Central. Só que o descalabro do actual Executivo é tal, que já tudo sai de pernas para o ar, mesmo quando o descaramento do favorecimento ilegal às empresas amigas salta à vista.

Os apoios estatais veiculados por um autêntico cartel energético-partidário à instalação de painéis solares térmicos, tal como o esquema de subsídios à microgeração solar térmica e fotovoltaica, são uma vigarice, além de serem pura demagogia e, por incrível que pareça, uma forma encapotada de sobre subsidiar a própria EDP, Iberdrola e quejandos! Dentro em breve, porém, países sobre endividados, como Portugal, a Espanha, o Reino Unido, etc., serão forçados a abandonar o que efectivamente não passa de um esquema leviano de especulação financeira com a escassez energética de todos nós.

Quando o petróleo voltar a disparar (já recomeçou a subir e poderá dar um salto brusco depois da presumivelmente falhada Cimeira do G20 em Londres (3), no próximo dia 2 de Abril), a falência em catadupa das empresas privadas e do sector público de boa parte dos países europeus levará inevitavelmente a uma revisão drástica das fantasias dominantes em volta das energias alternativas.

Não há alternativa aos combustíveis líquidos oriundos do petróleo capaz de evitar a tempo o COLAPSO ENERGÉTICO que aí vem. Isto é um facto.

E quem tiver contratos assinados com os piratas neoliberais que continuam a publicar decretos e leis destinados a "agarrar" os incautos aos oligopólios da energia e da água, ficará, mais cedo ou mais tarde, com a sucata dos colectores ao colo, imprestável, irreparável e por pagar, para gáudio do BES e da restante banca falida nacional.

Sócrates, Barroso, e outros que tais só tem uma alternativa: RUA!

E quanto a nós, o melhor é mesmo começarmos a confluir em esquemas efectivos de autonomia e eficiência energéticas: racionalização sustentável da intensidade energética do dia-a-dia das nossas casas, empresas e comunidades, microgeração desligada da rede e conservação comunitária da água potável. É urgente renacionalizar a EDP e impedir a todo o custo qualquer privatização dos rios, costas marítimas, portos, aeroportos e estradas. As Parcerias Público Privadas ruinosas, tal como o negócio privado das portagens concessionadas, devem cessar imediatamente!


NOTAS

  1. Shell dumps wind, solar and hydro power in favour of biofuels

    Tuesday 17 March 2009 (Guardian) — Shell will no longer invest in renewable technologies such as wind, solar and hydro power because they are not economic, the Anglo-Dutch oil company said today. It plans to invest more in biofuels which environmental groups blame for driving up food prices and deforestation.

    Executives at its annual strategy presentation said Shell, already the world's largest buyer and blender of crop-based biofuels, would also invest an unspecified amount in developing a new generat­ion of biofuels which do not use food-based crops and are less harmful to the environment.

    The company said it would concentrate on developing other cleaner ways of using fossil fuels, such as carbon capture and sequestration (CCS) technology. It hoped to use CCS to reduce emissions from Shell's controversial and energy-intensive oil sands projects in northern Canada.

    The company said that many alternative technologies did not offer attractive investment opportunities. Linda Cook, Shell's executive director of gas and power, said: "If there aren't investment opportunities which compete with other projects we won't put money into it. We are businessmen and women. If there were renewables [which made money] we would put money into it."


  2. Especialistas de energia denunciam "embuste" na visita de Sócrates e Pinho à Energie

    24.03.2009 - 08h53 (Público) — A visita de José Sócrates e de Manuel Pinho às instalações da Energie para assinalar a segunda fase de expansão da fábrica que produz o que designa por "painéis solares termodinâmicos" está a desencadear uma série de protestos por parte dos principais responsáveis pela investigação e indústria solar no país.

    "É uma empresa que assenta a sua propaganda num embuste", denuncia Eduardo Oliveira Fernandes, ex-secretário de Estado da Energia e académico que desenhou a política energética do actual Governo, no que é acompanhado por Nuno Ribeiro da Silva, presidente da Endesa Portugal e presidente da Sociedade Portuguesa de Energia Solar (SPES), e por Manuel Collares Pereira, considerado um dos principais especialistas em energia solar no país, ex-investigador do INETI e responsável pela empresa fabricante de painéis solares térmicos Ao Sol. Os três especialistas clamam que o produto da Energie, fabricado na Póvoa de Varzim, é "publicidade enganosa" - mostram tratar-se de uma bomba de calor accionada a electricidade com apoio secundário em energia solar e não de um painel solar térmico - e atribuem o incentivo político do primeiro-ministro e do ministro da Economia, com a visita efectuada, a uma possível ausência de apoio técnico adequado pelos respectivos gabinetes.

    Também a associação ambientalista Geota se associa às críticas. "A pretexto de vender energia solar, [a Energie] vende mais electricidade", diz Manuel Ferreira dos Santos, um dos responsáveis da organização, que equipara o funcionamento do sistema da Energie a um "frigorífico ao contrário" que continua a ser alimentado por energia eléctrica, não solar, restando o que diz ser uma "acção de marketing bem conseguida".


    Energia solar — Segunda polémica em dois anos à volta da Energie


    24.03.2009 - 21h30 (Público) — A polémica voltou à empresa Energie, da Póvoa de Varzim, pela segunda vez em dois anos. A empresa divulgou hoje ser detentora de um certificado de sistemas solares térmicos passado por entidades europeias, no passado dia 10 de Março, que não convence os especialistas como Oliveira Fernandes, para quem equipamentos anunciados como funcionando com sol, céu nublado, chuva e à noite “não são solares”. “Energia solar é para captar energia solar”, remata.

    ... Em comunicado emitido hoje, a empresa responde que as “acusações são falsas” e garante possuir certificações passadas pela Solar Keymark (dinamarquesa) e pela Dincertco (alemã), consideradas entidades de topo nesta área. “Estas certificações atestam o produto da Energie como sistema solar térmico”, afirma.

    ... O actual presidente da SPES e presidente da Endesa Portugal, Nuno Ribeiro da Silva, disse hoje ao PÚBLICO que reitera a posição assumida em 2007 pela SPES sobre os painéis termodinâmicos. Quanto ao certificado anunciado ontem, adianta que a “associação tomará uma posição quando souber do que se trata”.


  3. China calls for new reserve currency
    By Jamil Anderlini in Beijing
    Published: March 23 2009 12:16 | Last updated: March 24 2009 00:06 (FT.com)

    China’s central bank on Monday proposed replacing the US dollar as the international reserve currency with a new global system controlled by the International Monetary Fund.

    In an essay posted on the People’s Bank of China’s website, Zhou Xiaochuan, the central bank’s governor, said the goal would be to create a reserve currency “that is disconnected from individual nations and is able to remain stable in the long run, thus removing the inherent deficiencies caused by using credit-based national currencies”.

OAM 560 24-03-2009 13:00 (última actualização: 25-03-2009 01:36)

domingo, março 22, 2009

Africa minha



Grupo de estudantes de música esperam pela chegada do Papa ao aeroporto de Luanda. Foto: João Silva para o New York Times (pormenor).

A mensagem africana do Papa alemão

NEW YORK, 11 March 2009 (UN Population Division/DESA) – World population is projected to reach 7 billion early in 2012, up from the current 6.8 billion, and surpass 9 billion people by 2050, reveals the 2008 Revision of the official United Nations population estimates and projections, released today.

(...) The urgency of realizing the projected reductions of fertility is brought into focus by considering that, if fertility were to remain constant at the levels estimated for 2005-2010, the population of the less developed regions would increase to 9.8 billion in 2050 instead of the 7.9 billion projected by assuming that fertility declines. That is, without further reductions of fertility, the world population could increase by nearly twice as much as currently expected. (PDF)

O Ocidente branco, dominante, cristão e burguês está a transformar-se num asilo de gente idosa, inactiva e angustiada, ancorado em tecnologias à beira do colapso energético (1), e dirigido por uma elite frívola, corrupta e mimada por décadas de bem-estar.

Uma das causas desta deriva suicida, ou talvez mesmo a principal causa desta impotência política dos governos ocidentais face ao fim anunciado daquele que foi o modelo de desenvolvimento dominante dos últimos 200 anos, é a incapacidade de proceder a uma auto-análise das limitações, sobretudo culturais. O modo como as boas consciências da Europa e dos Estados Unidos interpretam a corrupção, a fome ou o flagelo da SIDA em África é disso exemplo. A iliteracia cultural impede-as de ler as entrelinhas dos discursos do principal líder religioso do Ocidente. Bento XI disse até hoje, que me lembre, três coisas demasiado importantes para que as tomemos levianamente, como fazem os demagogos de esquerda e os oportunistas corruptos do centro e da direita:
  1. que a superioridade da religião cristã reside na fusão da sua matriz oriental com a racionalidade dialéctica inventada pelos gregos, e que portanto o Islão deveria compreender de uma vez para sempre as vantagens do diálogo platónico, sob pena de se auto-condenar a uma espécie de indigência civilizacional sem saída;
  2. que não haverá preservativos suficientes para impedir o crescimento explosivo da população africana, apesar dos efeitos redutores que o "sexo seguro" possa ter no controlo da epidemia da SIDA; por outro lado, se houver menos pobreza, menos corrupção e uma cultura sexual mais responsável, quer a demografia, quer as doenças sexualmente transmitidas poderão ser apropriadamente mitigadas;
  3. que as riquezas naturais de África não devem ser expropriadas, como são, para satisfazer o consumismo insaciável, a especulação capitalista, a corrupção, e os modelos energéticos condenados; a parte de leão dos lucros das indústrias extractivas e das agro-indústrias alimentares e energéticas que operam em África deve ser aplicada ao desenvolvimento justo de um continente que hoje tem a mais alta taxa de crescimento demográfico do planeta.
Claro que o Papa, como qualquer líder religioso ou político, fala por metáforas, mesmo quando diz coisas mediaticamente polémicas. No caso das grandes religiões, a linguagem obedece ao inevitável peso da tradição, mas também a uma sapiência acumulada ao longo de muitos séculos, de que não é fácil nem sequer aconselhável prescindir em nome de modas intelectuais passageiras. As religiões produzem uma prosódia própria, que não sendo menos fundamentada que a linguagem dos poderes políticos (o Vaticano conhece objectivamente África como ninguém), jamais deixa de imprimir no discurso mediático conjuntural a marca da crença, ou seja, o código genético cultural, o objectivo final e a estratégia que garantiram ao longo dos tempos a sua própria sobrevivência e oportunidade civilizacional.

Ora este papa tem a noção clara de que há uma missão a cumprir, da qual pode em boa parte depender a "salvação" do Ocidente. De certo modo, podemos estabelecer um paralelo entre o teólogo alemão que ocupa o topo da hierarquia da igreja católica e os papas que lidaram com o longo colapso do Império Romano e o avanço das tribos bárbaras, dos árabes e dos turcos sobre a Europa. Os países e os impérios fazem-se e desfazem-se à medida dos interesses territoriais, mas também de causas imperceptíveis, e seguindo uma espécie de fatalismo tectónico contra o qual é por vezes inútil lutar. João Paulo II partiu pedra na Europa durante várias décadas, com objectivo de levar a Europa a retomar o diálogo com a Rússia. Bento XVI parece sobretudo empenhado em fazer perceber aos europeus e americanos que a placa tectónica transatlântica está ameaçada e precisa de restabelecer-se, começando por religar as pontas de uma vasta tradição intercultural e linguística, em nome das bases negociais que hão-de, se houver juízo, determinar os novos equilíbrios geoestratégicos que se anunciam.

Há milénios que o Médio Oriente, zona de contacto e passagem entre a Europa, a África e o Extremo-Oriente, é o pomo da discórdia euroasiática. E há mais de um século que o é terrivelmente, sobretudo por causa das suas imensas jazidas de petróleo e gás natural.

O renascimento da China, que aprendeu muito com as Guerras do Ópio (1839-42; 1856-60), com as usurpações e ocupações japonesas (1894-95; 1937/45), e com o "socialismo num só país" de Mao Tze-tung (1949-76), leva hoje este gigante demográfico e económico até às portas do Irão. É também para lá que Obama caminha na esperança de sustar o avanço fulgurante da mole asiática sobre as declinantes sociedades ocidentais.

É provável que o Oriente e o Ocidente cheguem a um empate técnico depois do fracasso americano e europeu no Iraque e no Afeganistão. E assim como a Suíça foi durante muitos anos o cofre discreto das finanças mundiais, também agora o Médio Oriente, hegemonizado pelo Irão, poderá tornar-se —a contento de todos menos Israel, que deverá deixar de ser a manobra de diversão permanente da guerra pelo petróleo—, uma espécie de vila franca energética da humanidade. Resta apenas um grande e novo problema por resolver: África.

A Ásia é o maior dos sete continentes, o mais populoso e o que tem a mais alta densidade demográfica, ultrapassando mesmo largamente a da Europa (Ásia: 86,7 hab./Kmq; Europa: 69,7 hab./Kmq). África, por sua vez, tem uma densidade populacional de apenas 29,3 hab./Kmq, mas é o segundo maior continente do modelo a sete, quer em superfície, quer em população, e é aquele cuja demografia apresenta a mais elevada taxa de crescimento mundial. Em 2050 a Ásia terá mais 1 110 milhões de almas do que em 2009, i.e. um total de 5 231 milhões habitantes. Mas a África verá a sua população crescer em pelo menos 988 milhões de pessoas, i.e. para 1 998 milhões. A Europa, por sua vez, terá visto no mesmo período a sua população perder 41 milhões de pessoas!

Há aqui dois problemas óbvios: a China precisa de espaço e de recursos para a sua população, mas nem a Rússia parece disposta a ceder-lhe uma porção significativa do seu imenso território, nem a cidadania africana pode dar-se ao luxo de continuar a deixar fugir os seus recursos naturais, quando sabe que a população do seu continente quase duplicará até meados do século, equivalendo então tal acréscimo demográfico a quase cinco vezes a população actual do Brasil, e mais do que a população europeia e brasileira de hoje juntas!

O potencial de trabalho humano está onde estão as pessoas. No entanto, num modelo de desenvolvimento cujo objectivo é o crescimento contínuo assente em energias fósseis baratas, no uso de tecnologias mecânicas, eléctricas e electrónicas, e na dependência de recursos financeiros muito volumosos e de utilização intensiva, a balança estratégica dos países pende claramente para os principais detentores de recursos naturais, fundos soberanos e reservas de ouro.

Os países com vastos recursos naturais são geralmente também os mesmos que detêm ou vão constituir brevemente fundos soberanos importantes: Abu Dhabi, Noruega, Arábia Saudita, Kwait, Rússia, Canadá, Brasil... Outros, porém, detêm preciosas reservas monetárias em consequência sobretudo das suas exportações. É o caso da China, do Japão e da Coreia do Sul, entre outros. Finalmente, no que toca às reservas de ouro, detidas sobretudo pela União Europeia (12.737,6 ton.) e pelos Estados Unidos (8.133,5 ton.), a tendência é para a apreciação deste metal, que poderá voltar a ser uma referência para as moedas existentes, sobretudo se o dólar americano continuar a desvalorizar sem que em seu lugar apareça uma nova moeda ou cabaz estável de moedas de referência para o comércio internacional.

A China, o Japão e a Índia têm importantíssimas reservas financeiras e de trabalho barato(2) , mas não têm as matérias-primas de que necessitam para alimentar as suas altas taxas de crescimento. Os Estados Unidos têm níveis de consumo incompatíveis com os níveis astronómicos das suas dívidas. A União Europeia, apesar das medidas de mitigação da sua fragilidade energética, nomeadamente face à Rússia e ao Médio Oriente, depende dramaticamente de recursos naturais de que já não dispõe. A África, por fim, tem recursos naturais e financeiros potenciais que bastem, mas está desorganizada, sofrendo ainda os efeitos nefastos do secular colonialismo europeu, de que a corrupção das elites é tão só o caso mais visível.

Como se deduz das estatísticas demográficas, a África precisa, antes de qualquer prioridade moral ou cultural, de se organizar e de melhorar radicalmente os seus habitats e sistemas produtivos. Mas para aqui chegar terá que contar com uma urgente e gigantesca operação de recursos humanos direccionada para a formação e orientação local das pessoas, das comunidades e das profissões.

Chegados a este ponto, a minha pergunta é esta: como? Como reorganizar as sociedades africanas depois de tanto arbítrio e destruição?

A resposta que tenho é simples: promovendo o diálogo humano, o intercâmbio cultural e o uso intensivo das línguas comuns. E quais são os grandes idiomas unificadores e oficiais de África? Pois bem: o inglês, o francês, o português e o árabe. Não é nem o mandarim, nem o hindu, nem o russo, nem sequer o espanhol, e muito menos o alemão, o holandês, o sueco, o dinamarquês ou o italiano.

Com tanta capacidade cognitiva desperdiçada na Europa, seria de facto uma desgraça se não soubéssemos reorientar parte desse valor expectante para o continente africano, saldando dívidas passadas, mas também ajudando a desactivar a verdadeira bomba-relógio demográfica em que este continente se transformou.

Foi destas coisas que o Papa falou nos Camarões e em Angola. Será que perceberemos o alcance da mensagem, ou continuaremos aquém do que o alemão pontífice quis realmente dizer quando afirmou que os preservativos não são a solução de que África urgentemente precisa?



NOTAS
  1. As Warnings Grow Louder About Global Data Center Power Crisis, Look for Some Companies to Profit

    EnergyTechStocks.com
    Posted: For the Week of March 9-15, 2009

    Apparently they’re like warnings on cigarette packages – clearly visible and pretty much ignored, often until it’s too late.

    The latest warning about the data center power crisis that threatens to disrupt global business as early as 2011 comes from Siemens AG (Symbol SIE), which found in a new survey of major companies that less than half are working toward improving the energy efficiency of their data centers.

    “If we do not start looking closely at our data centers now, 70% of the world’s data centers will have tangible disruptions by 2011 and the systems will experience world-wide brownouts over the course of the next five years,” Siemens warned.


    Shell dumps wind, solar and hydro power in favour of biofuels


    Tuesday 17 March 2009 (Guardian) — Shell will no longer invest in renewable technologies such as wind, solar and hydro power because they are not economic, the Anglo-Dutch oil company said today. It plans to invest more in biofuels which environmental groups blame for driving up food prices and deforestation.

    Executives at its annual strategy presentation said Shell, already the world's largest buyer and blender of crop-based biofuels, would also invest an unspecified amount in developing a new generat­ion of biofuels which do not use food-based crops and are less harmful to the environment.

    The company said it would concentrate on developing other cleaner ways of using fossil fuels, such as carbon capture and sequestration (CCS) technology. It hoped to use CCS to reduce emissions from Shell's controversial and energy-intensive oil sands projects in northern Canada.

    The company said that many alternative technologies did not offer attractive investment opportunities. Linda Cook, Shell's executive director of gas and power, said: "If there aren't investment opportunities which compete with other projects we won't put money into it. We are businessmen and women. If there were renewables [which made money] we would put money into it."

  2. Enquanto a China e a Índia dispõem de trabalho humano abundante e barato, o Japão dispõe de elevadíssimos níveis de produtividade obtidos pela via da automação, do uso intensivo de robots, cada vez mais inteligentes, de processos de trabalho altamente racionalizados e, por fim, de formas sofisticadas de proteccionismo e desvalorização competitiva da sua moeda.


OAM 559 22-03-2009
21:06 (última actualização 23-03-2009 11:33)

sábado, março 21, 2009

Portugal 93



Vem aí a Grande Depressão !

TAP cancela 2190 voos nos dois primeiros meses e meio de 2009, e apresenta prejuízos de 280 milhões euros em 2008. Para quem o novo aeroporto?

Durante o ano de 2008 circularam menos 20 mil veículos por dia na Ponte 25 de Abril. Para quem a nova ponte sobre o Tejo?

Se a carga movimentada nos cinco principais portos portugueses diminuiu 1,8% em 2008 e cairá a pique em 2009, para que querem a Mota-Engil e a tríade de Macau estuporar o Cais de Alcântara e enterrar a Linha do Estoril (um dos percursos ferroviários mais bonitos do mundo)?

Os níveis de desemprego nos EUA e na Europa (a caminho dos dois dígitos), tal como as quedas bolsistas, nomeadamente em Wall Street, apresentam um padrão cada vez mais semelhante ao do colapso de 1929. Para quem as novas autoestradas e as novas barragens?

Michelle Obama planta alfaces, tomate, cebolas, brócolos e ervas aromáticas nos jardins da Casa Branca (ver plano). Isto não vos diz nada?

A Cimeira do G20, que terá lugar em Londres no próximo dia 2 de Abril, ou abre campo para a substituição do dólar americano como moeda internacional de troca, hipótese em cima da mesa da próxima reunião de especialistas da ONU para a reforma financeira mundial, partilhada pela China, Rússia, alguns países árabes, parte da União Europeia e até um ex-alto funcionário do J P Morgan — prevendo-se que tal decisão possa travar o rumo vertiginoso e perigoso da economia mundial na sequência do colapso do castelo de cartas do endividamento compulsivo do Ocidente —, ou deixa ingleses e americanos imporem a sua vontade, exigindo ao resto do mundo que continue a suportar a falência patente desta aliança, e então as probabilidades de tumultos generalizados, guerras civis, secessões e até de uma 3ª Guerra Mundial passarão a estar em cima da mesa das probabilidades.

O Pico Petrolífero e o fim do paradigma energético que possibilitou até agora os nossos estilos afluentes de vida tem muito mais que ver com a presente crise financeira e económica do que à primeira vista parece. 85% da energia industrial produzida e consumida pela humanidade tem origem no carvão, petróleo e gás natural. Apenas 15% provêm de outras fontes energéticas, como as centrais hídricas e nucleares, os biocombustíveis, os geradores eólicos, os painéis solares, etc. As energias alternativas exploradas nos EUA em 2007 não iam além de 1% do mix energético que move a economia americana, e até 2015 pouco ultrapassarão 4% das necessidades energéticas de um país que consome 25% do petróleo mundial. As possibilidades de substituição das energias dominantes nos últimos 200 anos por energias alternativas e renováveis antes de o Pico Petrolífero provocar danos virtualmente irreparáveis à economia mundial parecem pois escassas.

Assim, até 2015, 2020, 2030, dificilmente nos safaremos de uma depressão permanente, com altíssimos níveis de desemprego, inflação, agravamento contínuo dos impostos, implosão de sistemas sociais e regimes de pensões, colapso de empresas, falências de muitas cidades, luta de classes sob várias formas e uma permanente instabilidade política, que nalguns casos poderão desembocar em guerras civis e revoluções.

Diante deste cenário realista não faz qualquer sentido continuarmos a discutir filosoficamente as vantagens de uma Terceira Travessia do Tejo, o Novo Aeroporto de Alcochete, mais autoestradas, barragens assassinas e até a rede de Alta Velocidade. Portugal está pura e simplesmente à beira da falência. E se os seus cidadãos não tomarem rapidamente consciência deste simples facto, irão todos pagar muitíssimo caro a indolência, o oportunismo ou a falta de coragem demonstradas. As soluções deixaram definitivamente de passar pelo endividamento contínuo em nome da criação de infraestruturas para uma economia que, em boa verdade, já não existe!

Precisamos, isso sim, de nos organizar de outra forma, estabelecendo uma estratégia firme de eficiência energética, de protecção dos recursos públicos, de distribuição solidária do trabalho disponível, de adaptação forçada das cidades ao fim do paradigma energético dos últimos cem anos, de mitigação do impacto extremamente negativo do transporte automóvel, e da instauração de uma democracia directa em rede — alternativa ao irremediavelmente corrupto sistema político actual.



REFERÊNCIAS

Obamas to Plant Vegetable Garden at White House

WASHINGTON (20-03-2009) — Michelle Obama will begin digging up a patch of the South Lawn on Friday to plant a vegetable garden, the first at the White House since Eleanor Roosevelt’s victory garden in World War II. There will be no beets — the president does not like them — but arugula will make the cut.

While the organic garden will provide food for the first family’s meals and formal dinners, its most important role, Mrs. Obama said, will be to educate children about healthful, locally grown fruit and vegetables at a time when obesity and diabetes have become a national concern.

“My hope,” the first lady said in an interview in her East Wing office, “is that through children, they will begin to educate their families and that will, in turn, begin to educate our communities.” — in New York Times.


Shell dumps wind, solar and hydro power in favour of biofuels

Shell will no longer invest in renewable technologies such as wind, solar and hydro power because they are not economic, the Anglo-Dutch oil company said today. It plans to invest more in biofuels which environmental groups blame for driving up food prices and deforestation.

Executives at its annual strategy presentation said Shell, already the world's largest buyer and blender of crop-based biofuels, would also invest an unspecified amount in developing a new generat­ion of biofuels which do not use food-based crops and are less harmful to the environment.

The company said it would concentrate on developing other cleaner ways of using fossil fuels, such as carbon capture and sequestration (CCS) technology. It hoped to use CCS to reduce emissions from Shell's controversial and energy-intensive oil sands projects in northern Canada.

The company said that many alternative technologies did not offer attractive investment opportunities. Linda Cook, Shell's executive director of gas and power, said: "If there aren't investment opportunities which compete with other projects we won't put money into it. We are businessmen and women. If there were renewables [which made money] we would put money into it." — guardian.co.uk, Tuesday 17 March 2009 19.04 GMT.

The Real Unemployment Rate, by Lee Adler

Let’s stop kidding ourselves. The sugar coated headline unemployment rate reported by the government is completely bogus. The real unemployment rate buried in the Federal Government’s data tables, including discouraged workers and those who are considered marginally attached or working part-time because they cannot find full time work, is now 12.2%, the highest it has been in 15 years. This number is up 33% over the past 12 months.

For those egonomists who claim that this is nothing like the Great Depression, because then the unemployment rate was 25%, stick this in your pipe and smoke it. Where was the unemployment rate in 1930, the year after the market crashed? According to the BLS, the unemployment rate for all of 1930 was 8.9%. Admittedly, there’s no information on how that statistic was calculated, but those economists who say that today’s recession is nothing like the Great Depression. By this one measure at least, given the timing. Today’s deterioration is at least as rapid, and probably more rapid, than the beginning of the Great Depression. — in Wall Street Examiner (5-12-2008.)

The peak oil economic depression has arrived, by Clifford J. Wirth, Ph.D.

The best advice for individuals and organization is to prepare for Peak Oil impacts. No federal or state agencies are studying Peak Oil impacts and contingency planning. A few local governments and organizations are beginning to make plans.

This is what we must plan for. With increasing costs for gasoline and diesel, along with declining taxes and declining gasoline tax revenues, states and local governments will eventually have to cut staff and curtail highway maintenance. Eventually, gasoline stations will close, and state and local highway workers won’t be able to get to work. We are facing the collapse of the highways that depend on diesel and gasoline powered trucks for bridge maintenance, culvert cleaning to avoid road washouts, snow plowing, and roadbed and surface repair. When the highways fail, so will the power grid, as highways carry the parts, large transformers, steel for pylons, and high tension cables from great distances. With the highways out, there will be no food coming from far away, and without the power grid virtually nothing modern works, including home heating, pumping of gasoline and diesel, airports, communications, water distribution systems, waster water treatment, and automated building systems. — in Energy Bulletin.


Peak oil - keep your eye on the donut and not the hole, by Chris Shaw



You see, to find and exploit an oil deposit, we need to expend quite a lot of oil energy. Oil is the supreme example of compact energy, so we have all enjoyed the abundance of "spare" energy left over. As the easy stuff is used up, we arrive at the point where we must finally expend a whole barrel of oil to produce a barrel of oil. Approaching this point, rising oil prices simply express the diminishing proportion of "spare" energy left over for distribution.

Once the net energy return is zero, it's over ... no matter how much oil is tantalisingly "still down there". For the same reasons, less accessible or poor quality oil deposits can be very short-lived. At the finish, the price of oil is immaterial. One cent or one million dollars a barrel - it's over.

...Would you think me a jester if I said that the one true currency is energy? It always was and always will be. Economics is the game of Tiddlywinks that we can afford to play only in the midst of easy, abundant energy. Energy is the donut, economics is the hole. — in Online Opinion.


Leading climate scientist: 'democratic process isn't working'


Protest and direct action could be the only way to tackle soaring carbon emissions, a leading climate scientist has said.

James Hansen, a climate modeller with Nasa, told the Guardian today that corporate lobbying has undermined democratic attempts to curb carbon pollution. "The democratic process doesn't quite seem to be working," he said.

Speaking on the eve of joining a protest against the headquarters of power firm E.ON in Coventry, Hansen said: "The first action that people should take is to use the democratic process. What is frustrating people, me included, is that democratic action affects elections but what we get then from political leaders is greenwash.

"The democratic process is supposed to be one person one vote, but it turns out that money is talking louder than the votes. So, I'm not surprised that people are getting frustrated. I think that peaceful demonstration is not out of order, because we're running out of time." — guardian.co.uk, Wednesday 18 March 2009 18.31 GMT.


Crude Oil: Uncertainty about the Future Oil Supply Makes it Important to Develop a Strategy for Addressing a Peak and Decline in Oil Production (2007)

“Because development and widespread adoption of technologies to displace oil will take time and effort, an imminent peak and sharp decline in oil production could have severe consequences. The technologies we examined [ethanol, biodiesel, biomass gas-to-liquid, coal gas-to-liquid, and hydrogen] currently supply the equivalent of only about 1% of U.S. annual consumption of petroleum products, and DOE [U.S. Department of Energy] projects that even under optimistic scenarios, these technologies could displace only the equivalent of about 4% of annual projected U.S. consumption by around 2015. If the decline in oil production exceeded the ability of alternative technologies to displace oil, energy consumption would be constricted, and as consumers competed for increasingly scarce oil resources, oil prices would sharply increase. In this respect, the consequences could initially resemble those of past oil supply shocks, which have been associated with significant economic damage. For example, disruptions in oil supply associated with the Arab oil embargo of 1973-74 and the Iranian Revolution of 1978-79 caused unprecedented increases in oil prices and were associated with worldwide recessions. In addition, a number of studies we reviewed indicate that most of the U.S. recessions in the post-World War II era were preceded by oil supply shocks and the associated sudden rise in oil prices. Ultimately, however, the consequences of a peak and permanent decline in oil production could be even more prolonged and severe than those of past oil supply shocks. Because the decline would be neither temporary nor reversible, the effects would continue until alternative transportation technologies to displace oil became available in sufficient quantities at comparable costs. Furthermore, because oil production could decline even more each year following a peak, the amount that would have to be replaced by alternatives could also increase year by year.” — (PDF)

OAM 558 21-03-2009 02:54 (última actualização: 22-03-2009 02:09)