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sábado, fevereiro 12, 2011

Passos de coelho

Direcção do PSD tem trinta dias para mostrar o que vale

Se Passos Coelho deixar passar esta oportunidade de avançar para eleições antecipadas, perderá credibilidade e será visto como um líder medroso e oportunista, deixando o campo totalmente livre a Cavaco Silva.

Cavaco odeia Passos Coelho, e portanto aproveitará a sua hesitação e medo para o pendurar numa corda de seca até que caia de podre num próximo congresso extraordinário — quando o governo, seja ele qual for, caminhar para uma diminuição do número de freguesias urbanas e de municípios, e proceder à venda de algumas empresas públicas falidas, após liquidar os respectivos passivos (suponho).

Se a actual direcção do PSD hesitar, como parece que vai suceder, e ficar encalhada no apoio a José Sócrates, como se a responsabilidade democrática não estivesse, precisamente, na urgência da remoção deste desastroso governo e do mitómano que o conduz, teremos crise laranja até ao fim deste ano.

O senhor que se segue, Paulo Rangel, poderá então ser chamado a Lisboa, por aliados vários, entre eles o senhor Cavaco Silva e a sua interminável comissão de honra presidencial. Depois, é só esperar pelo adensar da balbúrdia "socialista", com a nova banda trotskista acoplada, para que Cavaco Silva tenha a esperada e inequívoca oportunidade de despedir o Mubarak das Beiras, convocar eleições gerais antecipadas, e colocar um PSD amigo no Executivo.

Um presidente, uma maioria e um governo estarão enfim no poder, com duas legislaturas limpas pela frente, e sem grande resistência.

O IVA manter-se-à alto (podendo até subir para 24 ou mesmo 25%); o IRC e o IRS baixarão. O princípio do utilizador-pagador será estendido, da energia, autoestradas e transportes públicos, aos cuidados de saúde e à educação, ou seja, todos pagarão um pouco menos, e os beneficiários dos serviços pagarão um pouco mais — lógico e sustentável!

A administração pública verá desaparecer algumas centenas de direcções-gerais, institutos e fundações, e uma parte do ensino superior público será entregue, de facto, às iniciativas privada e cooperativa, com a passagem instantânea de 10-15% dos funcionários públicos efectivos para um novo quadro de excedentes, onde os vencimentos sofrerão uma erosão paulatina ao longo dos anos... Algumas dezenas de milhar de contratações eventuais e precárias caducarão com a extinção dos organismos.

Por fim, espera-se que o futuro governo, que terá que ser uma coligação com o CDS, a fim de poder contar uma ampla maioria absoluta parlamentar, leve finalmente a cabo uma racionalização competente do aparelho de Estado e uma libertação efectiva da sociedade civil da canga paternalista que há séculos rege as relações entre o poder e a sociedade cortesã, analfabeta e corrupta, que desde a conquista de Ceuta se habituou a viver de expedientes palacianos, da exploração colonial fácil e da emigração.

Se depois do saque realizado pela tríade de Macau e pelos piratas da SLN/BPN, e se depois da fuga em frente da governação socratina, o que vier depois (e não creio que possa vir nada de bom do inseguro e medroso Passos de Coelho, nem muito menos da cabotina e irritante criatura que dá pelo nome de Miguel Relvas) não cumprir o que o país espera do poder —transparência, pragmatismo, eficácia, lucidez, ponderação, estratégia, liberdade de acção, e justiça— então o regime cairá mesmo numa espiral convulsa de desfecho incerto.

terça-feira, janeiro 25, 2011

Gazeta n1

Café da manhã
  • Brasil pondera criar hub para a Europa em Sines (Cargo Edições)
    Comentário: Este é um dos caminhos! Mas para isto há que apostar na interoperabilidade das redes de transporte, coisa que os néscios do Bloco Central não têm feito, nem pensam fazer, até que alguém de fora, um dia destes, lhes ensine o caminho. 
  • Barões do PSD já admitem eleições antecipadas (i)
    Comentário: Os barões do PSD deveriam ser exportados para o Iémen!
  • Presidenciais. Alegre volta a dividir o PS no pós-eleições (i)
    Comentário: Tríade de Macau começa a cobrar. A "ala esquerda" do PS vai ser varrida para debaixo do tapete de onde nunca deveria ter saído. Se não fosse composta por oportunistas sem coragem (e pelo menos um suspeito de pedofilia não totalmente ilibado), há muito que teria criado outro partido, com o tal Alegre, e parte do Bloco. Prognóstico? Reservado!
  • Un comité secret ouvre la voie pour une réforme touchant à l'euro (Euractiv)
     "If member states want to increase the size or scope of the fund, then the German government will expect them to imitate the German brake (...), which writes deficit limits into the country's constitution, according to an EU diplomat."
    Comentário: concordo!
  • Parlamento Europeu ressuscita Eurobonds (Económico)
    Comentário: A contrapartida exigível às burocracias partidárias europeias é que façam como a Alemanha: inscrevam nas respectivas Constituições cláusulas estritas sobre o endividamento público! Já alguém se lembrou de discutir o tema entre nós? Tanto deputado, tanto político, tanto comentador encartado... não é Je sais tout Marcelo?!
  • Fundo para indemnizações obrigatório suportado pelas empresas (DN)
    Comentário
    : Esta ideia não é má. Trata-se de criar um equivalente ao Fundo de Desemprego para as indemnizações por despedimento. Falta conhecer os pormenores, que é onde o diabo da vigarice normalmente se esconde!
  • Salários podem cair por causa das novas regras das indemnizações — ameaça a Confederação do Comércio e Serviços de Portugal (Público)
    Comentário: Os salários estão a cair e continuarão a cair, nomeadamente por efeito da inflação. Ou seja, as falências de empresas e os despedimento vão continuar a ser um flagelo social. Daí que uma medida como a proposta agora pelo governo (e que já deveria existir há décadas) contribua objectivamente para criar mais um pequeno para-quedas social. As empresas, sobretudo as micro e pequena-médias empresas, quando despedem, estão aflitas, ou mesmo falidas — donde a dificuldade de indemnizar quem despedem, de acordo com a lei. Se houver um seguro, ou um fundo gerido por uma administração público-privada, transparente e com uma estrutura administrativa não dispendiosa e fora do controlo partidário, os benefícios serão maiores que os inconvenientes. Trata-se de um imposto, ou taxa, escondida? Não! E não confundamos os planos: uma coisa é criar uma nova rede de segurança social tipificada, outra é combater o terrorismo fiscal em curso, e outra ainda é fazer um revolução social contra a burocracia e a partidocracia que há décadas vêm afundando o país. Uma coisa de cada vez...

terça-feira, dezembro 21, 2010

2013-2015

Um casamento inseparável
Apesar dos amuos e setas atiradas, são inseparáveis.

Mesmo que o país seja forçado a declarar falência e a reestruturar a sua dívida pública, mesmo que o FMI e o Fundo Europeu de Estabilização Financeira, de braço dado, desembarquem na Portela e se instalem no Pestana Palace durante três anos, mesmo que o desemprego chegue aos 20% e os vencimentos da administração pública sejam congelados até ao fim da legislatura, mesmo que a indignação e violência sociais desçam às ruas, mesmo que..., aposto que José Sócrates levará o seu mandato até ao fim.

Só uma dissolução do parlamento poderia interromper o curso desta malfadada história portuguesa. Mas a quem interessaria tal decisão? A Cavaco Silva reeleito, para quê? Só se fosse para colocar o Passos de Coelho no lugar de Sócrates. Mas este cenário é a última coisa que interessa ao actual e futuro presidente da república! Com Sócrates, tudo o que correr mal, é com o PS e com Sócrates. Com Passos de Coelho, que Cavaco sempre desprezou (um cábula que se arrastou demasiado tempo pelas esquinas do sombrio aparelho laranja, à espera de um vazio de poder), tudo o que corresse mal cairia em cima do novo primeiro ministro, em cima do PSD, mas também em cima de Cavaco Silva. Só um masoquista iria por este caminho. Nunca um frio homem de carreira como reconhecidamente é o actual e futuro presidente Cavaco Silva. Além do mais, como pateticamente reconheceu o actual líder parlamentar laranja ao Expresso de Sábado passado, o PSD ainda não está preparado para ser governo.

Não está, nem estará! E a explicação é esta: assim como Mário Soares destruiu o PS, deixando-o degradar-se até à condição de um mero aparelho partidário, habitado por sombras, pequenas ambições, desgraçados à procura de emprego, e piratas, de onde a mais leve manifestação de inteligência e criatividade é imediatamente capturada para fins práticos, ou desligada do sistema, também Cavaco Silva destruiu o PSD, lançando sobre aquela imensa federação de autarcas sem história, nem futuro, e os cortesãos de Lisboa e Porto, o estigma de uma quase insuperável anestesia mental. Só esquecendo estes dois grandes vultos da recente e desgraçada história portuguesa, os dois maiores partidos portugueses —os únicos a quem o povo entrega as rédeas do poder— poderão ressuscitar. Quer dizer, só depois de 2015, quando a partida de Cavaco encerrar de vez um grande ciclo de expansão e declínio da nossa História, assistiremos ao colapso e eventual renascimento do actual e caduco sistema partidário.

O ciclo histórico que começa em 1415, com a conquista de Ceuta, termina simbolicamente depois do último grande Quadro Comunitário de Apoio da União Europeia, em 2013, e no fim do segundo mandato de Cavaco Silva, em 2015, ano em que Portugal figurará nas estatísticas como o país mais pobre de toda a União Europeia. Só então teremos mesmo batido no fundo. Os protagonistas principais deste naufrágio são conhecidos: José Sócrates e Aníbal Cavaco Silva. A gente do CDS-PP, PCP e Bloco de Esquerda, apesar das responsabilidades que também tiveram, é irrelevante para o desfecho.

A primeira candidatura de Manuel Alegre à presidência da república foi um oportunidade perdida para antecipar a inevitável reestruturação do corrupto e inoperante quadro partidário que temos. Como perdida foi a oportunidade de recompor o centro-direita e a direita do espectro partidário português quando Manuela Ferreira Leite ascendeu ao topo directivo do PPD-PSD. À época defendi que teria sido útil ao país partir os dois maiores partidos do imprestável sistema rotativo que temos em quatro.

A ala socialista do PS deixava o aparelho, há muito capturado pela tríade de Macau, entregue aos piratas, e conquistava o Bloco de Esquerda e parte o PEV para a formação de um novo partido socialista, capaz de incorporar e desenvolver os novos pensamentos políticos em formação, fruto da necessidade urgente de abordar de forma transparente e corajosa aquilo a que se vem chamando desde 1968, A Tragédia dos Comuns. O PS restante acabaria por entrar em colapso, pelo menos parcialmente, e em dois actos eleitorais (o que já passou e o que vai ocorrer em Janeiro próximo) ter-se-ia enfraquecido mortalmente a tríade de Macau, e reduzido substancialmente a capacidade de captura que as clientelas económico-financeiras do poder exercem sobre os dois principais partidos.

No PSD teria sido útil uma separação de águas entre Santana Lopes e Manuela Ferreira Leite, isto é, entre o PPD e o PSD. O partido urbano de barões, baronetes e cortesãs que é o PSD continuaria na Lapa, mas o PPD do campo, das vilas e aldeias, dos pequenos proprietários agrícolas e empresários industriais que têm ainda algo de seu, duros de roer, muitos deles de fibra bem republicana e até anti-clerical (era assim o meu avô), sairia a terreiro reivindicando aquilo que Paulo Portas só sabe e pode fazer em falsete. Há muito abandonado pela democracia dos corredores, este PPD tem e terá cada vez mais vontade de se fazer representar no parlamento. Vai ser provavelmente necessário esperar por alguém que não se deixe seduzir pela sereias do nepotismo clientelar. Como disse, alguém que não precise, que tenha algo de seu, histórico, familiar e inalienável.

Nada disto aconteceu, e agora resta-nos esperar pela implosão do sistema. Como não creio que a Alemanha perca de novo a cabeça, perdendo de novo a Europa, a União lá irá andando aos solavancos, entre americanos falidos, russos corruptos e chineses ansiosos. Só por isso não teremos de novo os militares na rua, outro golpe de Estado, ou uma revolução.

O actual PSD de Passos de Coelho não é nada. E por ser coisa nenhuma, o eleitorado português, por mais enojado que esteja com o Pinóquio que duas vezes elegeu para primeiro ministro, deixá-lo-à desgovernar Portugal até 2013, em matrimónio inseparável com o imprestável reCavaco.


POST SCRIPTUM

(23 dez 2010 17:11) O "i" de hoje transmite a opinião de Eduardo Catroga sobre a necessidade de remover Sócrates e o PS do poder. Mas onde obteve o "i" a opinião do douto negociador? Não diz....
Pois eu acho que, dada a urgência na disseminação do argumento, é uma resposta a este post ;)
Se o FMI vier... diz Catroga....
Mas o FMI já cá está! Além do mais, demonizar o FMI é uma estratégia sem futuro: primeiro porque António Borges (do PSD) é o BOSS europeu do Fundo; e depois, porque o director executivo do FMI é um socialista francês, que o PSF quer apoiar na próxima corrida presidencial, contra Sarkozy. Logo, este argumento não pega. Como se faltasse algo para ser espúrio, recorde-se ainda que o reCavaco ainda há dois dias disse para quem quisesse ouvir que ele conhece muito bem o FMI — pois trabalhou para o dito -- ou seja, reeleito, será um mediador vigilante das negociações.

(22 dez 2010 20:38) Excluo da aposta feita neste Post duas possibilidades: a de uma moção de confiança por iniciativa de Sócrates, e a de uma moção de censura proposta seja por que partido for. A primeira, por razões óbvias, conhecendo a personagem; e a segunda, porque se for de iniciativa do PSD ou do CDS, a "esquerda" votará contra a "direita", e não antevejo nenhuma iniciativa do PCP, ou do Bloco, no sentido de derrubarem Sócrates. Quem tomar a iniciativa de propor uma moção de censura desaparecerá do mapa eleitoral, ou mergulhará o respectivo partido (derrotado na própria iniciativa) em convulsão interna. Assim sendo, os sequiosos autarcas falidos do PSD terão que esperar... por 2013... pelo menos!

sexta-feira, outubro 29, 2010

PSD mais perto do poder — 2

Os moços de fretes da comunicação social voltaram a enganar-se em manada!

Ainda bem que Pedro Passos de Coelho me ouviu, e sobretudo ouviu uma pessoa honesta e experiente como é o fiscalista Diogo Leite Campos, actual vice-presidente do PSD — a única que fez um pronunciamento estratégico laranja em toda esta crise. Ao PS recomendou, não exactamente por estas palavras, que limpe a sua própria trampa, e que não tente despejar a diarreia despesista e corrupta que levou Portugal à bancarrota para cima de quem nada ou pouco teve que ver com o caso.

Mais certeiro ainda, e em plena sintonia com o que aqui escrevi a propósito das argumentações senis, irresponsáveis ou cínicas do PCP e do Bloco de Esquerda, Leite Campos sugeriu que a turma que apoia Manuel Alegre, e o próprio Manuel Alegre, deveriam, em coerência, votar o Orçamento de Estado ao lado do PS, não fazendo qualquer sentido que tal elefante branco venha a ser engolido —contra natura— por quem se posiciona claramente como próxima alternativa de governo, e óbvio opositor do triste Alegre.

Passos de Coelho, apesar de ter sido virtualmente destroçado pelo patarata António Nogueira Leite e pelo esgazeado que ajudou a entregar o BCP ao PS, ou de contar ainda com uma matraca insuportável chamada Miguel Relvas, na pose de ajudante de campo, a verdade é que acordou. E acordou bem!

Chamar um ex-ministro das finanças —Eduardo Catroga (que a manada das agências de comunicação e da comentarice indigente apenas leu como um ex-Cavaquista)— para liderar as negociações com esse desastre ambulante vindo das Antas chamado Teixeira dos Santos, foi um tiro na mouche. Para novatos sem biografia, já basta o próprio Passos de Coelho, que a todos prometeu aprender depressa. Ou seja, o Jota, se quiser chegar a primeiro ministro, tem que largar o lastro inútil que se pegou à sua candidatura e rodear-se de gente experiente, que não faça parte da nomenclatura do Bloco Central da Corrupção. Só assim poderá vencer o vigarista-mor do reino, José Sócrates Pinto de Sousa, e a prazo, essoutro traste nacional chamado Aníbal Cavaco Silva, que acaba de recandidatar-se à presidência da república numa cerimónia patética. A mensagem cifrada que enviou à matilha do BPN é virtualmente um caso de polícia. Se os indigentes lusitanos voltarem a votar nesta rainha de Boliqueime, então merecerão que lhes mijem em cima nos próximos cem anos! À medida que a gigantesca operação criminosa do BPN se for esclarecendo, e sobretudo à medida que o financiamento desse buraco negro insondável se traduzir num assalto sem fim à bolsa de todos nós, assistiremos então ao inevitável desmaio da incompetente e desajeitada criatura que em má hora colocámos em Belém.

Toda esta descrição só é relevante porque existe e é preciso denunciar uma verdadeira simbiose oportunista, que nos últimos anos se estabeleceu e não pára de consolidar, entre o actual primeiro ministro e o actual presidente da república. Estas criaturas de opereta (para quem Portugal não é a Grécia!) são os principais responsáveis políticos pela bancarrota do nosso país. Por este simples facto devem, antes de mais, ser levados a tribunal!

José Sócrates quis e continua a querer arrastar o PSD para a armadilha dum apoio irrefutável ao seu Orçamento de Estado pirata. Não aceita, claro está, a abstenção com demarcação política prévia proposta por Manuela Ferreira Leite. Não, Sócrates quer que o novato Passos de Coelho beba o copo do compromisso até à última gota! Negociar, ou dançar o tango, foi a maneira encontrada para atrair o líder laranja para a derrota. Uma vez firmado um acordo, nem que seja em volta de 10 euros, o PSD ficará atado à execução orçamental como seu co-autor, sem ter escrito uma linha do mesmo. Por outro lado, não terá a mínima influência na sua execução, mas será responsabilizado pelas suas consequências. A alternativa, repete José Sócrates, é a demissão do governo. Mero bluff? Ninguém sabe. A minha aposta é que este vigarista das Beiras só sairá se for empurrado — pelo PS, ou pelo presidente da república. Por decisão própria, não acredito.

Poderemos viver sem orçamento aprovado? Creio que não, pelo simples motivo de que o BCE fechará a torneira, e o governo deixará de ter dinheiro para pagar aos funcionários públicos — a começar já no próximo subsídio de Natal. Se aqui chegarmos, e porque quem teme sair do circo da política não se demite, terá que ser Cavaco Silva (porventura com a ajuda do Conselho de Estado de 29 de novembro) a fazê-lo, chamando o PS de novo a indicar uma personalidade da sua confiança para formação de novo governo, eventualmente de coligação alargada (PS-PSD-CDS_PP). Tudo isto ocorrerá antes das eleições presidenciais se, entretanto, Passos de Coelho rejeitar, como é sua obrigação democrática, a vigarice orçamental que lhe puseram diante da vista e a pantomima de mais negociações. Pedro, não te esqueças: basta uma escorregadela para dentro do buraco negro do orçamento, para que a tua carreira política se evapore num ápice.

Existirão forças dentro do PS para acudir a esta emergência? Eu penso que sim, apesar do estado de destruição nefasta do partido operada desde que Jorge Coelho tomou conta do aparelho e depois o entregou à tríade de Macau. Tal como no caso do PSD, o PS terá que recorrer a gente com experiência governativa, deixando de lado as ilusões pueris em volta de candidatos como Francisco Assis ou António José Seguro. Luís Amado pode ser um figura chave na delicada operação de remoção do líder, que é urgente praticar, se não se quiser condenar o PS a uma ou duas décadas de inexistência e vergonha. Luís Amado poderá até vir a ser o próximo primeiro ministro de um governo de coligação. Mas será sempre e apenas um líder transitório, até ao próximo congresso do PS. E aqui as pessoas inteligentes terão que ser pragmáticos e procurar rapidamente alguém com experiência de governo, formação académica acima de qualquer suspeita, personalidade forte, e uma visão para o país. Eu tenho as minhas opiniões, mas para já nada direi.

terça-feira, abril 13, 2010

Portugal 179

Passo a passo...



Aos que esperam de Passos Coelho uma varinha mágica que nos traga de novo a fartura fácil do cavaquismo, desenganem-se! O cavaquismo não passou de uma inundação de fundos comunitários que não voltará.

É por isso que o novo líder laranja não tem pressa. O que há para distribuir é pouco, e o que houver para redistribuir vai ser uma arena de conflitos sociais crescentes.

A economia real deslocou-se para a Ásia nos últimos vinte anos, ficando nos Estaods Unidos e na Europa uma economia cada vez mais virtual, alimentada pelos endividamentos (deficit spending) crescentes das empresas, dos governos e das pessoas. A China, mais o Japão e a Coreia transformaram-se nas locomotivas industriais do planeta, corroendo a um ritmo alucinante os potenciais produtivos do Ocidente, nomeadamente dos Estados Unidos, da Alemanha, do Reino Unido, da França e da Itália.

Se a China —que vende bens e serviços baratos a todo o mundo— está hoje enredada na armadilha do endividamento, pelo facto de ter comprado a dívida americana para além de tudo o que seria imaginável, que diremos da Alemanha que (pela via da criação do euro-marco) alimentou nos últimos vinte e cinco anos um gigantesco mercado, a União  Europeia, com bens e serviços caros — cada vez mais caros?!

Tal como a China não conseguirá cobrar tudo o que emprestou aos Estados Unidos, também a Alemanha terá que se habituar à ideia de que uma parte substancial da Europa lhe pagará parte das suas dívidas com Sol e mar. A alternativa das grandes guerras parece-me, para já, irrealizável, além de só poder agravar, e muito, os problemas!

Na origem da crise encontram-se dois fenómenos registados estatisticamente em 1972 no relatório Limits to Growth: o crescimento exponencial da população humana mundial e o consequente desgaste acelerado dos recursos energéticos e alimentares necessários a suportar um tal crescimento sem futuro.

Já em 1956 M. King Hubbert havia chamado a atenção do governo americano para o fim anunciado da era petrolífera (Peak Oil) e para a consequente necessidade de encontrar novas fontes de energia alternativa ao carvão e aos hidrocarbonetos líquidos e gasosos (ele propôs claramente o desenvolvimento da energia nuclear).

Em Fevereiro de 2005 Robert Hirsh veio confirmar estas previsões num hoje célebre relatório encomendado pelo Departamento de Energia dos EUA, Peaking of World Oil Production: Impacts, Mitigation, and Risk Management.

"The peaking of world oil production presents the U.S. and the world with an unprecedented risk management problem. As peaking is approached, liquid fuel prices and price volatility will increase dramatically, and, without timely mitigation, the economic, social, and political costs will be unprecedented. Viable mitigation options exist on both the supply and demand sides, but to have substantial impact, they must be initiated more than a decade in advance of peaking."

A equação energia cara+trabalho caro torna impossível a manutenção de economias competitivas num ambiente onde a própria impossibilidade de tomar de assalto as fontes energéticas mundiais (em resultado dos movimentos anti-coloniais do pós-guerra e sobretudo depois da constituição da OPEP em 1960) obrigou o Ocidente a promover a abertura multilateral dos mercados mundiais e a livre circulação de mercadorias e capitais numa lógica de modificação profunda dos termos de troca mundiais.

Sabe-se hoje que a resposta americana e europeia ocidental foi esta: exportar a economia real para os países de mão-de-obra barata, ou ricos em matérias primas energéticas e alimentares. Um dos objectivos seria levar a uma inflação crescente dos preços dos bens e serviços nas economias industriais avançadas (beneficiando assim os mercados internos), ao mesmo tempo que se pressionava uma simultânea perda progressiva do poder de compra da classe média e dos trabalhadores em geral nestes mesmos países, por via dum ataque constante aos respectivos rendimentos do trabalho. Foi o que aconteceu, embora sem os resultados esperados.

O chamado crony capitalism, que chamou a si a tarefa de realizar este trabalho sujo em nome da liberdade dos mercados, da competitividade e da flexibilidade laboral, porque apenas serviu os especuladores financeiros mundiais, com particular destaque para a cúpula formada pelos grandes bancos e sociedades financeiras americanas: Goldman Sachs, Bank of America Corp., J. P. Morgan Chase & Company, Citigroup, etc., nem sequer se preocupou com as consequências previsíveis dos seus actos.

O resultado está à vista: ao disfarçarem a destruição efectiva dos tecidos produtivos do Ocidente com um inefável manto de consumismo festivo e ensino permanente, e a promessa de uma protecção social ilimitada, esconderam uma realidade que se viria a revelar fatal: a implosão sucessiva das capacidades produtivas competitivas do Ocidente e o endividamento geral das sociedades. Este foi o Cavalo de Tróia que a ganância financeira do Ocidente comprou ao Oriente. O declínio da Europa e dos Estados Unidos parece, pois, um cenário irreversível.

Resta saber se teremos uma aterragem suave, ou com muitos acidentes de permeio.


POST SCRIPTUM — a entrevista dada por Pedro Passos Coelho a Miguel Sousa Tavares confirma a boa impressão que tenho deste candidato a primeiro ministro do meu país.


OAM 681—13 Abril 2010 11:07

sábado, março 27, 2010

Portugal 175

Para Passos Coelho, Cavaco é um empata
Para Cavaco, o novo líder pode significar o fim da reeleição presidencial

Eu teria preferido ver Paulo Rangel ganhar as eleições do PSD (1) apesar de saber que a sua candidatura fora precipitada pelos acontecimentos e pressionada por Durão Barroso, Manuela Ferreira Leite e Cavaco Silva. Simplesmente preferi Rangel pela sua rapidez de manobra e instinto predador apesar das fragilidades manifestas. Mas as iminências laranjas, incluindo o comentador Marcelo, preferiram Rangel a Passos Coelho por motivos muito diferentes.

Como o pensamento político do novo líder eleito do PSD, apesar de estar no partido laranja há décadas, é absolutamente desconhecido (diz-se vagamente que o homem é mais liberal do que social-democrata), deduzo que os barões e Cavaco não gostam dele há muito tempo por motivos meramente partidários. Consideram-no, suponho, um produto fabricado, intelectualmente vazio e politicamente artificial. Em suma, um oportunista esperando a sua oportunidade.

Mas a verdade é outra. O homem de família, jovem, alto, cordato, algo tímido, que ganhou a pulso estas eleições directas no PSD é afinal um político profissional. Daí que os seus opositores internos tenham sido tão implacáveis. Suspeito agora (fez-se luz no meu espírito!) que a sua não inclusão na actual bancada parlamentar social-democrata foi uma decisão premeditada de Cavaco Silva executada por Manuela Ferreira Leite. E se assim foi, o tempo começou esta noite a jogar contra estes e outros velhos dirigentes do PSD, Pacheco Pereira incluído. E sobretudo contra a reeleição de Cavaco Silva!

A crise gravíssima que Portugal atravessa não tem apenas uma marca cor-de-rosa. As marcas do betão cavaquista e da hipertrofia do Estado são bem visíveis, e serão cada vez mais notadas à medida que se desbobine a história do endividamento estrutural do país. Passos Coelho não tem realmente nenhuma responsabilidade efectiva no descalabro actual. Ao contrário de José Sócrates, que acabou por se tornar no seu último protagonista.

Por sua vez, o estado catatónico em que se encontra o actual presidente da república, por mais medos atávicos e infundados que se atirem sobre a população relativamente ao bem supremo da estabilidade necessária para sangrar fiscalmente e esmagar socialmente a maioria dos contribuintes, não impedirá a justa e crescente indignação da democracia. Só uma nova maioria, um novo governo e um novo presidente poderão comprar o tempo necessário à dolorosa recuperação da nossa capacidade de produzir e exportar, e à mudança de comportamentos em todos os níveis da sociedade e em todos os departamentos de actividade profissional.

Por mim, a recandidatura presidencial de Aníbal Cavaco Silva e o cavaquismo morreram. E seria muito útil que o homem compreendesse e aceitasse rapidamente a evidência dos factos. Fernando Nobre poderia ser um bom substituto.

Ao contrário do que pensa a generalidade dos analistas, não vai ser o inquérito parlamentar ao primeiro ministro a prova de fogo de Passos Coelho. A prova de fogo serão as grandes obras públicas que a Mota-Engil, o BCP e o BES querem prosseguir no meio de um país que empobrece a olhos vistos e onde o desemprego, a emigração e o declínio dos serviços de saúde e dos apoios sociais acabarão por conduzir a uma tremenda instabilidade social.

Recomendação ao novo líder do PSD: não fale sobre o apoio do PSD à recandidatura de Cavaco Silva antes de este se pronunciar sobre o tema. Aliás, que sentido faz emitir uma opinião sobre um não acontecimento. Cavaco Silva diz que tem muito tempo para decidir. O PSD também!


NOTAS
  1. Ler "O PSD precisa de sumo novo!", "Se o Pedro Passos Coelho…", "E se o PS volta a ganhar?", "Entre Paulo Rangel e Aguiar Branco".


 OAM 675—27 Mar 2010 2:55

sexta-feira, março 05, 2010

Portugal 169

Entre Paulo Rangel e Aguiar Branco



O ponto de partida de Paulo Rangel —a dita "ruptura"— colocou-o numa posição complicada. Nunca se sabe se a ruptura é com o PS, ou com o próprio PSD, ou mesmo com o País (ainda que em nome da necessidade de mudar de vida e de maus hábitos). O facto de ter que se explicar permanentemente sobre esta espécie de radicalismo retórico, coloca-o numa posição pelo menos desconfortável. Talvez por este motivo, mas também pela solidariedade com a actual direcção de Manuela Ferreira Leite, Paulo Rangel tem uma especial dificuldade em clarificar a sua estratégia, sem ferir essa mesma filiação. Passar entre os pingos da chuva —o intervalo ideológico e partidário—, propondo simultaneamente uma "ruptura, exige inevitavelmente uma precisão programática, que não se limite a medidas pontuais para um governo pós-socialista.

O País precisa de estancar o agravamento das assimetrias regionais, precisa de entender de uma vez por todas que a periferia raiana não é nenhuma periferia, mas uma nova centralidade  (pois está mais perto de Espanha e do resto da União Europeia) e é, de facto, uma nova oportunidade para as empresas, para as cidades, vilas e aldeias. Mas para que tal ocorra não basta criar uma regionalização ad hoc, de cima para baixo, sob tutela governamental, e com mais burocracia. Aliás, assim definida e proposta, não passa dum voto piedoso. O importante para atingirmos uma regionalização realmente oportuna, que aumente a riqueza do país e devolva efectiva capacidade de gestão às regiões é isto:
  1. harmonizar imediatamente o peso da fiscalidade com a vizinha Espanha, propondo a Madrid uma comissão bilateral encarregue de estudar e estabelecer rapidamente a paridade fiscal entre os dois países da União;
  2. recriar o ministério do planeamento, agregando em seu redor um conjunto de novos e reformados institutos técnicos do Estado, independentes e com uma forte e prestigiada vertente técnica — para os quais deveriam ser atraídos parte da nossa melhor competência profissional, hoje dispersa pela nova diáspora lusitana;
  3.  criar um ministério das regiões-plano com importância hierárquica logo abaixo do ministro das finanças, responsável por todas as CCRs;
  4. elevar as cidades-região de Lisboa e Porto à categoria de regiões autónomas, à semelhança das já existentes, mas inspirando-se nos modelos de governo das grandes cidades regiões existentes um pouco por todo o planeta: Madrid, Londres, Pequim, São Paulo, etc. (1)
  5. completar criteriosamente o plano rodoviário efectivamente necessário ao país, e lançar um ambicioso projecto ferroviário, onde seja prioridade a compatibilização da actual ferrovia, sistema de sinalização e material circulante, com os padrões europeus, dando prioridade a este investimento — uma geração—, e não à estéril discussão do TGV. Salvo a ligação de Alta Velocidade entre Lisboa, Madrid e Barcelona (velocidade média na ordem dos 250-300Km), todas as demais ligações devem apontar para velocidade médias na ordem dos 200 Km, aplicando a poupança no excesso de velocidade (que é caríssima, tanto a construir, como sobretudo a manter!) na densidade da malha de bitola europeia, e na sofisticação tecnológica e conforto das composições. Para tal seria da máxima utilidade estratégica criar um cluster ferroviário ibérico, propondo para tal uma aliança estratégica à Espanha, que dá cartas nesta matéria;
  6. adiar sine die o Novo Aeroporto de Alcochete, levando entretanto até ao limite o potencial ainda por esgotar da Portela (um dos melhores aeroportos naturais do mundo), obviamente com uma nova gestão;
  7. por fim, para coerir estrategicamente o território português, potenciando a continuidade produtiva, económica, fiscal e cultural entre a periferia atlântica e o centro da Europa, em aliança estratégica com a Espanha, Portugal precisa menos de uma pesada burocracia regionalista, do que de mais meios, poderes e responsabilidades atribuídos a esse motor esquecido da coesão territorial que são as freguesias rurais.


Paulo Rangel pode, se quiser e souber, romper e romper para gáudio de todos nós. Mas terá que fazê-lo com ideias amadurecidas e bem informadas. O papel de Calimero que Aguiar Branco com inesperada agilidade sacou da cartola para desmontar o queixume de Rangel a propósito da sua juventude no PSD não fica bem a este último (embora goste da caricatura!) A acusação inerte que os seus concorrentes lhe atiram —ter chegado ao PSD há apenas quatro anos—, como se a antiguidade no PSD, tal como em todos os partidos e sindicatos não fosse, precisamente, sinal de responsabilidade pela situação desgraçada a que o país chegou, deve ser devolvida com a pergunta: "e que fizeram Vocês —José Pedro, e Pedro— no tempo todo que levam no partido?!" Há picardias que se resolvem de uma penada.

José Pedro Aguiar Branco é uma personalidade sedutora. Tem aliás a pose e o cabelo adequados a um futuro primeiro-ministro. Argumenta bem e não podemos deixar de gostar dele. Mas temo que lhe falte, como faltava a Guterres, aquela dose da proteína FDP que os líderes sempre trazem escondida algures no respectivo DNA. O povo pressente estas coisas. Será que os esfomeados e desesperados militantes do partido laranja terão a mesma sensibilidade? Desde Cavaco Silva que não acertam!

Eu sou socialista por convicção. Estou porém profundamente desiludido com o que os piratas da tríade de Macau e a matilha de oportunistas insaciáveis que a segue fizeram do PS. Estou, por assim dizer, órfão. Talvez seja por isso que hoje pugne pela derrota do PS e pela sua saída da área do poder. O PSD é o veículo, por assim dizer, da cura de que o Partido Socialista precisa urgentemente, para não morrer de vez. Mas se o voto laranja voltar a errar, e errará se eleger Passos Coelho, ou mesmo Aguiar Branco, em vez de Paulo Rangel, então o PS terá que esperar por melhores dias para arrumar a casa.


Post scriptum
  1. Nem Pedro Passos Coelho, nem Paulo Rangel, estão na Assembleia da República, ao contrário de José Pedro Aguiar Branco e... Manuela Ferreira Leite. A menos que Aguiar Branco tenha já decidido aliar-se a qualquer dos vencedores, o que não é líquido —depois do que julgo ter entendido da sua prestação televisiva—, uma provável vitória de aparelho favorável a Passos Coelho lançará o PSD num impasse tremendo, do qual poderá resultar uma cisão do partido. Pelo que há muito defendo, tal cisão seria útil ao PPD/PSD, ao sistema partidário (pois provocaria a própria cisão do PS) e finalmente ao País, criando condições para verdadeiras maiorias de coligação. Neste cenário, Cavaco Silva desistiria do segundo mandato —o que seria uma felicidade para todos nós— abrindo-se assim caminho para uma refundação democrática e geracional da democracia. O colapso económico-financeiro que se aproxima não exigirá menos do que uma ruptura de semelhantes proporções!
  2. A entrevista de Cavaco Silva a Cândida Pinto —onde teve a distinta lata de recuar na questão do aeroporto de Alcochete— significa que o homem quer mesmo recandidatar-se, que já antevê o impasse no PSD pós-Directas, e que por isso o melhor mesmo é declarar desde já que não se lembra das duas comunicações que fez ao País (sobre os Açores e sobre o Watergate de Belém), que morre de amores por José Sócrates (leia-se pelos votos do PS que não forem para Alegre), e que, por conseguinte, se está nas tintas para os dramas do PPD-PSD, como aliás sempre esteve. Esta criatura saiu-me uma boa peça. Terá neste blogue, a partir de agora, um declarado opositor à sua sede de poder.

NOTAS
  1. Não creio que as populações das cidades-região de Lisboa e do Porto chumbassem um referendo convocado para o efeito, nem mesmo que o resto do país o fizesse. Bastará estudar bem o problema, fazer um estudo comparativo com casos internacionais de sucesso, e garantir que o resultado final será uma administração da coisa pública, mais eficaz, mais coerente, mais democrática e mais barata!


OAM 694 —05 Mar 2010 14:39 última actualização: 06 Mar 2010 0:29

quarta-feira, março 03, 2010

Portugal 168

E se o PS volta a ganhar?



Escritório de advogados de Aguiar-Branco presta assessoria jurídica à Parque Escolar
Por Margarida Gomes (Público)
02.03.2010 - 08:02

O escritório de advogados José Pedro Aguiar-Branco & Advogados, com sede no Porto, está a prestar serviços de assessoria jurídica na área da contratação pública à empresa pública Parque Escolar, responsável pela gestão do programa de modernização das escolas públicas, que envolve um investimento que poderá rondar os 3,5 mil milhões de euros.
Minutos antes de começar o debate entre Paulo Rangel e Pedro Passos Coelho, José Luís Arnaut fez, no mesmo canal da SIC, uma pomposa proclamação de apoio a Paulo Rangel. O debate seguiu-se poucos minutos depois, mal animado, diga-se de passagem, por Ana Lourenço. Os floreados e as trocas de mimos entre os dois noviços do PSD (Coelho porque já nasceu daquela maneira, e Rangel, porque estava visivelmente tenso) foram deprimentes. Nem uma ideia nova. Nem nada que fosse mais crítico do que o que a actual líder já disse sobre os erros de Sócrates. Nem, sobretudo, qualquer esperança oposta ao vazio da actual governação socialista. Seja como for, a notícia do Sol é verdadeira: Paulo Rangel obedeceu mesmo a uma ordem de marcha de Durão Barroso. Veio de Bruxelas para impedir a eleição do eterno JSD Pedro Passos Coelho, e para impedir também que a alma mater do até há semanas único candidato à sucessão de Manuela Ferreira Leite, e sócio na Fomentinvest, Ângelo Correia, acabasse por reeditar uma vasta confabulação bloquista (central) à maneira antiga, i.e. à maneira do tempo das vacas gordas, quando ninguém via a extensão do tráfico de influências, nem a corrupção, nem a sangria canina do Estado pelos gangs do tal Bloco Central. Alguém teria que ser enviado para travar este desastre anunciado!

Na iminência de uma queda prematura do actual governo socialista —que só não cairá se Sócrates for levado a perceber que saindo salva o PS e o Governo— os poderes subterrâneos do PSD agitaram-se e Barroso percebeu que não havia tempo a perder. Será preciso imaginar e negociar, por cima e por debaixo da mesa, um futuro governo de coligação, que poderá mesmo ser editado em duas fases: na primeira, sob a forma de um acordo de incidência parlamentar, entre um PS sem Sócrates e um PSD com Rangel; e nas próximas eleições legislativas, que teriam assim lugar no tempo certo, na configuração de uma grande aliança patriótica entre o PS, PSD e CDS. Um terceiro cenário, claro, implica a demissão do governo por indecência e má figura, e a dissolução do actual parlamento, seguido de eleições antecipadas — para o que seria também necessário promover uma aliança eleitoral capaz de garantir um quadro de estabilidade institucional e governativa, pois a crise económico-financeira e social está para durar e lavar, e nem sequer passou ainda pela sua fase mais crítica.

José Pedro Aguiar Branco é, neste jogo, uma carta fora do baralho, fruto da precipitação do caos causado pela face oculta do polvo à moda de Sócrates. O assunto é sério e por isso digo que a denúncia ontem mesmo feita sobre a sua falta de tino e isenção no modo como gere ou deixa gerir o seu escritório de advogados, que há menos de quinze dias assinou um contrato de assessoria jurídica, por ajuste directo, no valor de 75 mil euros, com a duvidosa Parque Escolar, é apenas o início da sua derrocada como candidato à liderança do PSD. Se não desistir entretanto —e tem agora um excelente motivo para o fazer, sem comprometer o seu futuro político— o caso do ajuste directo terá certamente muitos mais episódios!

Ou seja, para sermos claros, Paulo Rangel já tem ao seu lado forças poderosas. Barroso, Balsemão, Arnaut, deram o mote e avisaram as hostes. O resto será mais ou menos trivial. Não creio sequer que a ganga dependente dos jobs cor-de-laranja se arrogue travar o que tem muita força. Podem, em teoria fazê-lo, mas pagarão por isso. E a ganga sabe!

Um líder fraco (Aguiar Branco), ou eternamente juvenil e sem história (Passos Coelho) seriam maus para as expectativas governativas do PSD, seriam maus para o próprio PS que ainda existe para além da tríade de piratas que o tomou de assalto, e seriam maus para a governança do país. Rangel, apesar da hesitante prestação de hoje (alguém lhe disse já para amaciar o discurso da "ruptura"), tem fibra de líder, e pode muito bem servir a essência do PSD — um partido tipicamente da classe média, das PMEs, sem teias marxistas no sótão, nem o provincianismo glutão da esquerda caviar que hoje se pavoneia nas cúpulas do Partido Socialista. Não pode é voltar a falar de "Trabalhos de Casa"! E tem que estudar um bocadinho mais sobre o fundo dos problemas que nos afligem — que não é certamente a indisciplina nas escolas que Medina Carreira colocou na moda do discurso apressado sobre os males da Educação.
The Innovation Delusion
By Ralph Gomory
March 1, 2010 (Huffington Post)

Cheap labor abroad is cited as the incurable handicap that explains why the United States cannot compete. But cheap labor doesn't explain the fact that Japan and Germany, both high-wage countries, are successful in the automobile industry. Nor does it explain how semiconductors, a model of a high investment, low-labor content industry, are mainly made in Asia. The premise that the inescapable burden of competing against low wages means failure is simply not correct.

El drama del paro alcanza a otras 82.132 personas en febrero
02.03.10 - 18:16 - AGENCIAS | MADRID (HOY)

Por sectores, casi el 55% del total de los parados de febrero se concentró en los servicios, con un aumento de 45.420 desempleados (el 1,94%); en el colectivo sin empleo anterior se incrementó en 14.810 (5,07%); en la construcción subió en 9.915 (1,26%); en la agricultura en 6.871 (6,44%) y en la industria en 5.116 (0,99%).
En Grande-Bretagne, la victoire annoncée des conservateurs devient incertaine
Virginie Malingre
03.03.10 (Le Monde)

Et si Gordon Brown gagnait les élections législatives prévues d'ici à juin ? Ce qui semblait inenvisageable il y a quinze jours - quand le premier ministre travailliste était, dans les sondages, dix points derrière son concurrent conservateur, David Cameron - est devenu une hypothèse plausible.
O que une estas três notícias é a destruição de alguns mitos comuns: que a salvação depende de mais choques tecnológicos e de mais educação; que a salvação depende de mais obras públicas de construção civil; e que o eleitorado está tão desesperado, que entregará o poder a qualquer novato de direita que prometa tirar o país da crise com palavras. Não é bem assim, e importa compreender porquê.

Não é fácil inverter o movimento de deslocação das indústrias, desde há algum tempo também, dos serviços, e agora da própria investigação científica e tecnológica, que tem decorrido desde a década de 70 em direcção à Ásia, se continuarmos a substituir o emprego produtivo por consumo e a financiar este consumo com uma lógica de endividamento e burocratização das sociedades.

O mais preocupante do desemprego actual na Europa e nos Estados Unidos é que o mesmo afecta sobretudo o sector de serviços e as pessoas à procura do seu primeiro emprego, além de não contabilizar um verdadeiro exército de estudantes eternos e bolseiros que dificilmente encontrarão emprego no futuro e que, apesar de exercerem actividade, não descontam para a segurança social, pelo que ajudarão objectivamente a precipitar mais depressa o colapso dos sistemas de pensões, de saúde e de segurança social.
Wall Street Pursues Profit in Bundles of Life Insurance
By JENNY ANDERSON
Published: September 5, 2009 (New York Times)

After the mortgage business imploded last year, Wall Street investment banks began searching for another big idea to make money. They think they may have found one.

The bankers plan to buy “life settlements,” life insurance policies that ill and elderly people sell for cash — $400,000 for a $1 million policy, say, depending on the life expectancy of the insured person. Then they plan to “securitize” these policies, in Wall Street jargon, by packaging hundreds or thousands together into bonds. They will then resell those bonds to investors, like big pension funds, who will receive the payouts when people with the insurance die.
Finalmente, a recuperação do colérico Gordon Brown face ao Conservador que pretende substitui-lo no número 10 de Downing Street —o que não deixa de ser um remake sintomático do que ocorreu a Manuela Ferreira Leite nas últimas eleições legislativas— obriga-nos a pensar até que ponto o eleitorado está assustado, e o perigo que daí potencialmente pode vir.

Há um problema geral que é afinal simples de entender: ninguém quer perder o emprego, nem a reforma, nem a assistência médica, nem pagar o dinheiro que não tem por um ensino prolongado e virtualmente obrigatório (i.e., sem o qual aceder a um salário mais do que mínimo é impossível).
É por esta razão que a Direita tem uma tarefa muito complicada, se não mesmo uma missão impossível pela frente em todos os países ocidentais desenvolvidos —EUA incluídos....

As receitas liberais e neoliberais já foram provadas (a frio e a quente, i.e com eleições "livres" e com botas militares), para atacar o mesmíssimo problema estrutural, ou sistémico do Capitalismo. Lembre-mo-nos de Thatcher, Reagan, Pinochet, Videla, entre outros. E no que deram, para além dos casos trágicos, foi um compasso de espera que em substância apenas disfarçou durante 30 anos a lógica de desindustrialização e desemprego das forças produtivas nas economias ocidentais. O preço deste compasso de espera, com governos de direita ou social-democratas, foi o endividamento geral das nações mais desenvolvidas do planeta, e uma alteração estrutural dos termos de troca à escala global.

O que agora temos pela frente é a ameaça de uma explosão desta situação insustentável. A possibilidade, e sobretudo a tentação, de uma III Guerra Mundial nos próximos anos não está fora dos radares de muitos caldeirões cognitivos e hotéis sinistros!

Não é pois possível resolver o problema sem regressar a uma Nova Divisão Internacional do Trabalho assente numa saudável rede de vasos comunicantes, na qual antes de redistribuir a riqueza seja redistribuído o trabalho produtivo, e onde se ponha termo sem cerimónias à especulação financeira. É inevitável fazer regressar a economia mundial a um sistema de regulação fronteiriça capaz de manter equilíbrios regionais, e para tal a OMC (WTO) terá que ser esventrada e refundada! Por outro lado, o dólar americano deve terminar como moeda-padrão, criando-se em seu lugar uma moeda mundial nova fundada pelas principais moedas regionais do planeta: o USD, o Euro, o Yen, o Yuan, o Real e uma Moeda Árabe Unida.

É pena que o debate político esteja tão contaminado pelas necessidades tácticas e sobretudo pelo desespero e desorientação dos políticos.


OAM 693 —03 Mar 2010 03:32

sexta-feira, fevereiro 12, 2010

Portugal 161

Paulo Rangel tem condições
Eu preferiria, porventura, ver Paulo Rangel suceder a Manuela Ferreira Leite,... (O António Maria, 23 Jan 2010).
Enquanto o PS apodrece, vou torcer por Paulo Rangel — eis como poderia resumir o meu estado de alma depois de ouvi-lo anunciar a sua entrada na corrida à sucessão de Manuela Ferreira Leite. Reconsiderou e fez bem.

O país está numa situação lastimável. O PS foi literalmente deglutido por uma tríade de piratas sem escrúpulos e parece-se cada vez mais com a Máfia italiana. Claro está que o Padrinho não é José Sócrates. Este não passa, na realidade, dum arlequim temporário e perfeitamente dispensável. Mas a verdade é que, sem nos vermos livres de semelhante traste, o polvo que vem chupando os miolos, a carne e os ossos do Partido Socialista continuará a sua insanável deriva autofágica. Os zombies cor-de-rosa pálido que hoje vagueavam lívidos pelos corredores de São Bento, à espera do "grande chefe", mudos, em transe, fizeram-me perceber de uma vez por todas que embora me considere um socialista espiritual, nada tenho já que ver com aquelas criaturas desprezíveis. Outro PS é preciso, e enquanto não nasce, abramos as portas a uma nova e jovem liderança no PSD. Torço por Rangel!

José Pedro Aguiar Branco é um político que me cai bem, como me cai bem Nuno Melo, Fernando Assis, ou o velho Alberto Martins— curiosamente tudo gente do Norte. A tríade de Macau, Sintra, Lapa e Zona Expo, pelo contrário, envelheceu de corrupção, gordura a mais e mau pensar. Já ninguém sabe o que é esta gente, se camareros de los banqueros españoles, se criadagem da dependente grande burguesia burocrática local, se jornalistas disfarçados de políticos, se políticos disfarçados de jornalistas. Uma corja imprestável!

Pedro Passos Coelho parecia ser o inevitável futuro líder do PSD, por uma espécie de falta de comparência, nomeadamente de Paulo Rangel. Mas a pressão da derrocada do governo de Sócrates levou o actual brilhante deputado europeu a medir bem o conselho que Durão Barroso certamente lhe dera há umas semanas atrás, bem como as inúmeras insistências que lhe terão chegado nestes últimos dias alucinantes. Agora, a chama de Coelho empalidecerá inexoravelmente diante do fulgor combativo de Rangel. E Aguiar Branco, apesar da sua notável cordialidade e sentido de Estado, certamente aceitará que a dimensão dos desafios que temos pela frente exige, de facto, um aço bem mais temperado do que o seu. Faço, porém, votos para que José Pedro Aguiar Branco venha a ser um forte aliado de Paulo Rangel.

Se Sócrates não for demitido por Cavaco Silva —que não será—, das duas uma: ou se demite por pressão dos poucos políticos socialistas de peso que ainda existem no PS, ou vai arrastar-se, como um boneco, até Abril, mês em que sob o alarido ensurdecedor da sucessão de escândalos acabará por ser demitido, pois não vejo que sentido possa ter dissolver-se a Assembleia da República, quando a causa principal da crise política e da paralisia governativa é mesmo e só o actual primeiro ministro — um mitómano que se esgueirou pela escadaria do poder acima sem ter a menor qualidade para tal.

Os tempos que aí vêm serão tremendamente exigentes e pedirão seguramente um governo de coligação, que só em sonho poderia ser de "esquerda".  O PCP e o Bloco terão tarefas importantíssima pela frente, mas não certamente a de governar. O que destes partidos todos esperamos é o reforço da sua capacidade crítica e de vigilância democráticas. E também o esforço de melhor esclarecerem as classes assalariadas na resistência que necessariamente terão que opor à lógica cega e cruel do Capitalismo puramente parasitário, especulativo e burocrático. As sociedades do Capitalismo global, tecnológico e especulativo são complexas e sofisticadas. Para promover com eficácia a defesa dos interesses do Trabalho são precisos novas ideias, melhor argumentação, menos maniqueísmo, mais consistência teórica e política, mais coragem na acção, e menos populismo. Ah! —e também menos oportunismo sindical.


OAM 683 — 12 Fev 2010 00:02 (última actualização: 14:35)

domingo, dezembro 20, 2009

Portugal 147

Equações impossíveis?

Do ponto de vista da mera geometria política, Portugal está diante de três cenários:
  1. a formação de um novo Bloco Central (PS-PSD), que suporia a reeleição de Cavaco Silva;
  2. o colapso sucessivo do PSD e do PS, com a consequente modificação do figurino actual da nossa democracia, do qual decorreria a necessidade imperiosa de governos de coligação (aqui as hipóteses de Manuel Alegre são grandes);
  3. ou o impasse e apodrecimento puro e simples da governação, do parlamento e das burocracias partidárias (que é o que são os actuais partidos populistas portugueses), a par de uma mais do que provável falência económico-financeira do país, podendo resultar de tamanha crise o reforço súbito e imparável da componente presidencialista do actual regime constitucional. Dependendo de como um tal cenário ocorresse, tanto Cavaco Silva, como Manuel Alegre, poderiam protagonizar o pendor presidencialista que o actual regime comporta mas não adoptou até agora.
Não sabemos se algum destes cenários ganhará forma antes das próximas eleições presidenciais, em 2011, ou só durante o próximo mandato presidencial. Mas é bem possível que o próximo orçamento de estado e a guerra civil interna do PSD, ou mesmo uma sempre possível saída intempestiva de cena de José Sócrates, acabem, separada ou conjuntamente, por forçar a emergência de uma das situações descritas.

O prolongamento do actual impasse tem tido, pelo menos, uma consequência visível: reforçar paulatinamente os pequenos partidos parlamentares e abrir até espaço para novas formações partidárias com possibilidades de singrar. A janela de oportunidade de Cavaco Silva, no que toca à sua reeleição, pode pois fechar-se inesperadamente, e se tal suceder, não haverá certamente novo Bloco Central, mas antes condições estruturais para a formação de coligações parlamentares de onde passariam a sair os futuros governos do país. O CDS, tal como o PCP e o Bloco de Esquerda, só se fossem tolos, é que não apostariam nesta possibilidade que lhes foi oferecida de mão-beijada pelo eleitorado.

A turbulência nefasta que atravessa o PSD há anos é um dos fermentos que lentamente tem vindo a provocar a inevitável recomposição do panorama partidário nacional. Uma cisão Norte-Sul, ou entre sociais-democratas populistas e liberais, que pode estar prestes a ocorrer no seio do PPD-PSD, seria contudo decisiva para acelerar de uma vez por todas a clarificação necessária do actual sistema político-partidário. Se e quando tal ocorrer, os PS e PSD actuais verão diminuir significativamente o seu peso eleitoral, enquanto os demais partidos, num parlamento que poderá passar a contar com mais duas forças partidárias (resultantes de cisões necessárias, quer no PPD-PSD, quer no PS), passarão a ter novos protagonismos, mas também novas responsabilidades.

As actuais dicotomias felizes entre a "esquerda" e a "direita" — a primeira, conservadora na economia e liberal nos costumes, e a segunda, liberal na economia mas conservadora nos costumes— poderão dar lugar a uma maior sofisticação, quer nas agendas políticas, quer nos debates públicos, quer sobretudo nas acções legislativa e governativa. Há muito que estou convicto de que todos ganharíamos com o maior equilíbrio e diversidade que uma tal evolução do sistema induziria no regime constitucional que temos.


OAM 663 20-12-2009 12:56

segunda-feira, novembro 23, 2009

Portugal 141

Bloco Central II

O jogo entre o felino
Cavaco Silva e o rato José Sócrates pode não passar da antecâmara de uma nova simbiose entre o PS e o PSD. Os sinais multiplicam-se.

Sanguessuga
Sanguessuga: a aplicação pontual e por breves períodos de tempo pode ter efeitos terapêuticos. Deixando-a por tempo demasiado agarrada ao paciente acaba por debilitá-lo até à morte. A manada de sanguessugas que há décadas chupa o Orçamento de Estado prejudicou gravemente Portugal.


Para que o novo Bloco Central possa nascer, o velho tem que morrer. E não estará já moribundo?

A surpreendente simbiose — ou melhor dito, protocooperação— entre o PS e o PSD em volta da resolução expedita do problema da avaliação dos professores (que nasceu torta e torta seguirá) continua a dar que pensar.

Claro que as faíscas furiosas da Face Oculta do regime, acompanhadas do cortejo viscoso da Justiça que não temos, mais o pânico que lentamente começa a instalar-se na população, por causa do H1N1, atrasa a disposição para um raciocínio frio sobre o que realmente se está tecendo na sombra do folclore parlamentar e mediático. Mas ainda assim vou arriscar um vaticínio.

O actual governo da tríade de Macau, couraçado por uma tropa pretoriana de indecente e má figura (os três Silvas: Pedro, Augusto e José) revela-se a cada dia que passa como um acidente de percurso eleitoral. Não fora a ruptura de gerações que fez do PSD um partido de reformados, barões e caciques autárquicos, e muito provavelmente a queda brutal do PS nas últimas eleições teria conduzido à queda, que muitos socialistas esperavam, de Sócrates e da insaciável matilha que o promoveu e dele espera o passaporte diplomático para todo o tipo de tropelias.

Assim não aconteceu, sobretudo porque houve 42,51% dos eleitores que não votaram, ou votaram em branco, ou votaram nulo. Na realidade, dos 9.514.322 eleitores inscritos apenas 2.077.695 (21,8%) votaram no PS. Afirmar pois que José Sócrates chefia um governo democrático não passa de uma fantasia jornalística. Um governo em democracia, por definição, ou é maioritário, ou cai! É por causa desta lei que existem coligações em toda a Europa. Um governo minoritário nunca pode ser legitimamente aceite como um poder verdadeiramente democrático. A sua ocorrência espúria traz invariavelmente inscrita no seu regaço genético uma vida muito curta e agitada. E assim deve ser.

Para todos os efeitos a tríade de Macau perdeu a maioria parlamentar que detinha por interposta pessoa, e tal bastará para liquidá-la a curto prazo. Mas para isso será muito importante não nos resignarmos à falácia de considerar o actual governo como um produto legítimo de uma democracia adulta e plena, com direito a exercer o poder em nome de todos nós. Não é. E não tem esse direito. E não é e não tem tal direito pelas seguintes razões:
  1. não representa mais de 21,8% do eleitorado;
  2. vai-se sabendo em cada semana que passa, que agiu --governo e tríade de Macau (os piratas que tomaram por dentro o PS)-- de forma criminosa para conseguir transformar a última campanha eleitoral numa gigantesca provocação democrática e numa inqualificável operação de manipulação da opinião pública;
  3. tem a "chefiá-lo" um mentiroso compulsivo, sem carácter e disposto a enterrar todo um país, só para salvar a sua pele de escroque e proteger a máfia que o produziu e colocou onde está;
  4. está interiormente ferido de morte, pois apesar do núcleo duro de piratas que rodeia o primeiro ministro, alguns dos velhos e novos ministros já perceberam que a criatura que os chefia não vai durar muito.
Ou será que vai? Que dúvida mais interessante!

Há quem diga que Cavaco Silva está disposto a distanciar-se de todos os escândalos que envolvam Sócrates, sem porém provocar a sua queda, ou demiti-lo, tendo por único objectivo garantir a sua reeleição presidencial. Com o PS prisioneiro de uma governação cada vez mais difícil, protagonizada por uma criatura cada vez mais odiada, o bem educado presidente não poderia deixar de aparecer aos nossos olhos sempre carentes e crentes como a âncora de salvação no mar cada vez mais agitado de um regime político-partidário pejado de gente corrupta e sem a menor ideia do que fazer para encontrar de novo um Norte para a desamparada Lusitânia, que soçobra a olhos vistos — para desgraça de centenas de milhar de portugueses.

Ter José Sócrates preso à gamela do poder, embora com a rédea cada vez mais curta das circunstâncias objectivas de uma crise que está para durar, parece pois ser uma táctica eficaz para a reeleição de Aníbal Cavaco Silva. Reeleito, teria então tempo de sobra para enviar Sócrates às urtigas. Esta espera de caçador felino é, de facto, verosímil e exequível, desde que, até ao momento fatal, a sucata fique à porta do Palácio de Belém.

No entanto, independentemente do cenário acima descrito, Cavaco Silva sabe muito bem que é insustentável um governo minoritário (PS ou PSD) na conjuntura de agravamento da actual crise económica, financeira e social do regime, ainda por cima no quadro de um panorama internacional que se apresenta cada vez mais incerto e perigoso. E também sabe que de nada vale deixar emergir uma qualquer variante do rotativismo suicida que condenou a primeira República. É preciso, pelo contrário, promover activamente alguma forma de estabilidade governativa, a qual, por sua vez, não é possível sem uma coligação de facto —por exemplo, na forma de um acordo de incidência parlamentar sobre matérias chaves da governação.

A mais do que previsível situação de emergência nacional, que se aproxima a passos largos, seja pela ameaça de uma possível bancarrota do Estado, seja pela extrema conflitualidade social que pode deflagrar de um momento para outro como consequência da mancha de desemprego e de falências empresariais que não cessa de aumentar, exige uma visão estratégica aguda e muito atenta. Os sindicatos estão moribundos. À medida que os escândalos se acumulam e a impotência governativa se escancara, entre mentiras e omissões, a fúria por ora contida da multitude irá aumentando, e quando explodir, não haverá comportas que cheguem para sustar o sopro destruidor da indignação e da fome! Se alguma besta governamental julga que poderá então chamar os militares para conter a indignação democrática, desiluda-se. Será mais lógico, fácil e justo que os ditos militares virem, uma vez mais, as baionetas contra a corja indigente que alegremente levou o país à situação de pré-falência em que se encontra.

A situação é tão grave quanto parece. E por isso há gente no Partido Socialista que há já algum tempo decidiu pôr em marcha um plano de substituição da tríade de Macau, acabando por essa via com o Bloco Central I, ou seja, com o Bloco Central da Corrupção, que por sinal tem sido também o Bloco Central do Betão... e da Sucata! Se o novo Bloco Central, que uma coligação efectiva mas ainda invisível de forças pôs em marcha, vai ser liderado pelo PS, ou pelo PSD, é indiferente. O importante mesmo parece ser preparar desde já e garantir para breve a emergência de um bloco parlamentar maioritário, dotado de uma efectiva independência política face à corja banqueira e face aos indigentes empreiteiros que temos.

As actuais minorias (PCP, BE e CDS-PP) têm vindo a demonstrar uma utilidade escassa na conjuntura pós-eleitoral. Sem visão, nem coragem política, regressarão às respectivas insignificâncias partidárias no decurso dos próximos actos eleitorais. A terceira força terá que emergir do interior da multitude, como uma realidade nova e inesperada, fulminante. Ou não haverá terceira força.

Mas o importante para já é começarmos a ler os sinais da viragem em curso:
  • os novos ministros estão calados e seguramente a trabalhar em novos cenários que possam substituir o ilusionismo especulativo da tríade de Macau (1);
  • o Tribunal de Contas tem vindo a chumbar sucessivamente autoestradas inúteis e ruinosas para o erário público;
  • a União Europeia, sob pressão dos movimentos de cidadania, chumbou preventivamente o Plano Nacional de Barragens;
  • o PSD chumbou o negócio do novo Terminal de Alcântara;
  • a Associação Portuguesa de Operadores Logísticos desvaloriza o programa da plataformas logísticas, em particular a prevista para o Poceirão;
  • a União Europeia lança regime de penalização do transporte rodoviário, favorecendo o modo de transporte ferroviário;
  • a Brisa-Teixeira Duarte vence a Mota-Engil (chefiada por Jorge Coelho) na corrida à construção da linha ferroviária de alta velocidade entre o Poceirão e Caia.
  • ninguém tem ouvido falar de aeroportos, nem de novas travessias sobre o Tejo.

Ou muito me engano ou até que o próximo Orçamento de Estado comece a ser discutido ainda vai correr muita água por debaixo das pontes.


NOTAS
  1. E está muito coisa em causa: redefinir radicalmente os programas de obras públicas e transportes do país; rever drasticamente o plano nacional de barragens; resolver o inadiável problema da inviável TAP; preparar a privatização da CP (que não da Refer) para dar seguimento à orientação comunitária; manter participações accionistas de peso e controlos claros sobre a EDP, a Águas de Portugal, a REN e a Caixa Geral de Depósitos; privatizar completamente as OGMA e os estaleiros navais seguindo combinações accionistas estratégicas favoráveis ao país; aliviar o peso do Estado na Educação e na Saúde através de uma estratégia lógica, razoável e transparente de equilíbrio entre os sectores público, privado e cooperativo; estabelecer claramente um rendimento mínimo justo e universal, livre de impostos, como primeira frente de resistência ao colapso económico, social e demográfico do país; em suma, promover rapidamente um verdadeiro sistema fiscal verde capaz de corrigir muitas irracionalidades do actual sistema económico, ajudando ao mesmo as tendências evolutivas das novas economias sustentáveis, que já existem mas não poderão sair do seu actual estado embrionário se tiverem que continuar a competir com sistemas ineficientes protegidos pelo Estado. Haverá energia suficiente nos ministros silenciosos deste governo para enfrentar tamanho desafio? Eu creio que em todos os partidos da Assembleia da República há uma nova geração a despontar que fará a diferença — se não nesta, na próxima Legislatura. Dêem-lhes voz!


OAM 654 23-11-2009 02:42

sexta-feira, outubro 30, 2009

Portugal 136

O PSD precisa de sumo novo!



Pedro Passos Coelho (1964-) parece ter crescido que nem um feijão verde desde o ciclo eleitoral que arrasou (contra as minhas expectativas iniciais) o PSD. As duas últimas eleições atiraram de facto este partido para uma rampa declinante, por onde acabará por escorregar até à segunda divisão parlamentar se nada de novo acontecer depois da saída de Manuela Ferreira Leite. Se o opinativo Marcelo Rebelo de Sousa (1948-), político e governante manifestamente incapaz, por infelicidade, voltar à direcção máxima dos laranjas, nada de bom espera à segunda força partidária do país. Mas o pior é que, sem alternativa à máfia que tomou de assalto o PS (cuja procissão de escândalos não há meio de terminar), teremos um inevitável processo de mexicanizagem bolivariana do regime — ou o seu colapso violento!

Marcelo Rebelo de Sousa nem sequer um bom presidente da república dava. Quanto mais um primeiro-ministro! Além do mais, qual Elisa Ferreira de calças, pretende manter em aberto a possibilidade de ser candidato a primeiro ministro, mas também a inquilino do Palácio de Belém, caso o amante de tabus e recentemente mui desastrado, Aníbal Cavaco Silva, pretenda concorrer a mais um mandato. Que filme bera!

Vale a pena rever a entrevista, como sempre bem conduzida por José Gomes Ferreira, a Pedro Passos Coelho, na SIC. O rapaz de Vila Real perdeu as borbulhas — ipso facto. Já não é neoliberal, nem quer privatizar a Caixa. Pelo contrário, deseja um Estado eficiente e inteligente (onde é que eu já escrevi isto?!), e um regime onde se adopte a regra protestante —ao Estado o que é do Estado, aos Privados o que é dos Privados. Nem mais, nem menos!

Caso assinalável: Pedro Passos Coelho estudou razoavelmente bem o dossier dos grandes investimentos, sendo crítico em matéria de mais auto-estradas, crítico em matéria de Alta Velocidade (300Km/h) fora do corredor Lisboa-Madrid, defensor de uma rede de Velocidade Elevada (220Km/h) nas demais ligações previstas e sugerindo —bem!— que o dinheiro necessário ao deboche do TGV em 5 linhas de Alta Velocidade (defendidas com unhas, dentes e sacos de notas por debaixo da mesa, pela tríade de Macau) seja usado na implementação da bitola internacional (dita "europeia") para comboios de Velocidade Elevada entre todas as capitais de distrito.

O que vemos nesta entrevista são vários sinais importantes: um líder jovem para um partido súbita e dramaticamente envelhecido (1), que só poderá recuperar da sua já longa agonia se for capaz de se dirigir de forma séria e comprometida às novas gerações. Refiro-me em particular à Geração Milénio, nascida depois de 1980, e que começa agora a entrar em força na economia e na vida pública e cultural do país. Como referi em artigo anterior, a geração que fez o PSD está a morrer, e a que poderá salvá-lo da mesquinhez, da corrupção endémica, da inutilidade política e do colapso anunciado, só agora começou a despertar estrategicamente. Manuela Ferreira Leite, ao contrário do que cheguei a pensar e defender, foi um passo em falso, e sobretudo —vemo-lo agora claramente— um tampão à subida das novas gerações no interior do partido fundado por Sá Carneiro.

Mas será Passos Coelho a pessoa de que o PSD precisa? Não sei. Creio, porém, que os dados foram lançados e que o jogo já não está nas mãos dos barões da Linha onde moro, nem sequer dos autarcas que em breve terão que descalçar as botas. De uma maneira ou de outra a cadeira do poder laranja já está a caminho de um mais do que provável sucessor de Sócrates. Plantei há duas semanas um feijão verde no meu jardim. Não imaginam a velocidade a que cresce!

NOTAS
  1. Sobre o problema generativo, que afecta gravemente o futuro incerto do PSD —mais do que qualquer outro partido, incluindo o PCP—, ler o que escrevi a propósito neste blog. Marcelo Rebelo de Sousa (1948-) e José Pedro Aguiar Branco (1957-) são baby boomers de utilidade diminuta na grande viragem generativa de que o PSD precisa absolutamente para inverter o seu manifesto declínio demográfico. É na geração seguinte que este partido terá que encontrar a seiva necessária para uma renovação seminal do partido. Quer Pedro Passos Coelho (1964-), quer Paulo Rangel (1968-), e num plano mais recuado Marco António (1967-), são de facto os protagonistas certos para a necessária metamorfose do PSD. Paulo Rangel está bem onde está, ganhando experiência que lhe será fundamental num futuro próximo. Passos Coelho demonstrou nesta entrevista que está preparado para disputar o poder ao lamaçal criado pela tríade de Macau.


OAM 643 29-10-2009 01:34 (última actualização: 11:36)

sábado, outubro 03, 2009

Portugal 133

Cavaco-Sócrates: depois do arrufo, a reconciliação

Bloco Central soma e segue


Escrevi antes de a tempestade atingir o seu clímax que a razão e os interesses de ambos chamaria Aníbal Cavaco Silva e José Sócrates Pinto de Sousa à renovação dos votos de uma cooperação institucional reforçada. A telenovela das escutas não passou, pois, de uma encenação canalha destinada a travar uma vitória escassa —que a ser escassa seria muito inoportuna—, de Manuela Ferreira Leite nas eleições do passado dia 27 de Setembro.

De facto, o actual Presidente da República ajudou o PS a ganhar/perder as eleições, para com este resultado evitar levar ao colo o PSD até a uma mais do que previsível derrota de Cavaco nas próximas eleições presidenciais. Quer dizer, a simples hipótese de uma maioria relativa de Manuela Ferreira Leite, acompanhada de uma maioria de esquerda parlamentar, foi o grande pesadelo que afligiu Cavaco Silva até ao Domingo passado. E daí que, por incrível que pareça, o actual presidente da república talvez tivesse mesmo tido necessidade de prejudicar um bocadinho o PSD!

De facto, um governo PS sem maioria parlamentar, dependente do PSD para evitar ter que se aliar ao CDS (o que engrossaria as fileiras do Bloco), ou pior ainda, ao BE e ao PCP (o que rebentaria de vez com as possibilidades de reeleição de Cavaco Silva) foi a lotaria desejada no sonho cor-de-rosa do homem de Boliqueime. E saiu-lhe! Daí os beijinhos discretos soprados depois do encontro de reconciliação entre o actual e afinal futuro primeiro ministro, e o actual e possível futuro presidente da república latino-indigente que somos.

Como dizia alguém no Expresso desta Meia-Noite, o Presidente já não precisará de vetar com tanta frequência. A nova Oposição parlamentar encarregar-se-à de travar —à esquerda e à direita— o que manifestamente for excessivo, caprichoso, sem sentido ou simplesmente mal amanhado. Ou seja, Cavaco pode ir tratando paulatinamente da sua reeleição enquanto Sócrates tenta navegar à vista e salva a pele dos casos judiciais sob investigação.

O PSD procurará colaborar, para não dar pretextos ao CDS. O BE procurará colaborar, para não desbaratar o extraordinário acréscimo de votos (muitos deles emprestados) recolhidos nestas eleições. O PCP evitará ocupar as ruas para além do estritamente necessário, para não perder votos para um Bloco de Esquerda tendencialmente respeitável. O CDS está metido numa camisa de sete varas, ou melhor num submarino muito apertado e claustrofóbico! Em suma, salvo a muita retórica parlamentar e mediática, prevejo uma multiplicidade de tácticas de cooperação entre os rivais. Pelo menos até às eleições presidenciais.

Todos precisam de tempo. E ninguém quer ficar com o ónus de não atender com a imprescindível responsabilidade política, e mesmo competência técnica, aos tremendos desafios que temos pela frente, até às presidenciais, mas também até ao fim da legislatura que em breve terá início.


OAM 631 02-10-2009 01:01

segunda-feira, setembro 28, 2009

Portugal 131

Queijo Limiano 2 ou regresso do Bloco Central?

Para a gestão corrente, Sócrates poderá dançar com Paulo Portas de vez em quando, mas não todos os dias, e dificilmente poderá fazê-lo por ocasião da aprovação do próximo Orçamento de Estado. Os resultados eleitorais apontam, pelo contrário, para um entendimento, in extremis mas possível, entre o PS e o PSD, com o beneplácito de Cavaco Silva, que assim praticamente garante a sua reeleição. Pois é, acabámos com a maioria absoluta do PS, mas o crescimento do CDS e do BE foram para já insuficientes para desfazer a lógica dos interesses conhecida pelo nome de Bloco Central.

Basta olhar para os números:

Resultados das Eleições Legislativas 2009
  • PS: 36,6%, 96 a 98 deputados (se obtiver 2 dep. pelo círculo da Emigração)*
  • PSD: 29,1%, 78 a 80 deputados (se obtiver 2 dep. pelo círculo da Emigração)*
  • CDS: 10,5%, 21 deputados
  • BE: 9,9%, 16 deputados
  • CDU: 7,9%, 15 deputados
* — actualização (7-10-2009): PS: 97 deputados; PSD: 81 deputados

Maiorias plausíveis na Assembleia da República (mínimo 116 deputados)
  • PS+PSD = 178
  • PS+CDS = 118
  • PS+BE+PCP+PEV: 130
Combinações minoritárias
  • PS+BE = 113
  • PS+PCP+PEV: 112
Maiorias constitucionais, i.e. necessárias para mexer na Constituição (155 deputados)
  • PS+PSD = 178

Errei!

De facto, as sondagens bateram certo, e a minha vontade de ver o senhor Pinto de Sousa pelas costas traiu-me.

A verdade é que Sócrates foi mais esperto e venceu os seus adversários ao longo da campanha eleitoral, apesar da derrota das Europeias. A crise internacional, paradoxalmente, favoreceu-o. A falta de uma luz ao fundo do túnel no discurso de Manuela Ferreira, e as inconsistências sucessivas (aceitação de Santana Lopes em Lisboa, escolha de candidatos a contas com a Justiça, apoio desajeitado a Alberto João Jardim, espionagem em Belém, etc.) acabaram por desfazer a solidez do diagnóstico inicial que a secretária-geral do PSD bem fizera do país. Louçã, por sua vez, acabaria por sucumbir à sua peculiar forma de arrogância intelectual e ao seu dogmatismo, não conseguindo aquele que deveria ter sido o seu objectivo principal: chegar aos dois dígitos na percentagem da votação eleitoral nestas Legislativas. O PCP vai declinando, como se previa. Só o CDS marcou a diferença, crescendo sobretudo em Lisboa, à custa do PSD, e tornando-se o único pequeno partido capaz de formar maioria com o PS na próxima Legislatura.

Mas um casamento entre PS e CDS é impossível, salvo em votações pontuais sobre temas secundários. Nunca, por exemplo, em matéria de Orçamento de Estado. Se o fizer, aí sim teremos de novo grande instabilidade dentro do PS, e crescimento orgânico do Bloco.

Resta pois uma saída para a desejável estabilidade estrutural do futuro governo na difícil conjuntura económica, financeira e social em que nos encontramos e que irá agravar-se em 2010-2011-2012: uma aliança in extremis entre o PS e o PSD, que não bloqueará a governação nos seus momentos essenciais —aprovação dos Orçamentos de Estado e de leis objectivamente consensualizáveis—, e garantirá, por outro lado, a possibilidade de revisões constitucionais ordinárias, ou extraordinárias. O mais curioso é que Manuela Ferreira Leite deu um sinal perceptível, no seu discurso de derrota, sobre esta possibilidade (1), em nome do interesse nacional — deixando para depois das Autárquicas —que espera vencer (2)— a discussão desta saída.

Se olharmos para o que hoje o PS é —um PSD cosmopolita e profissional—, se pensarmos na natureza ideológica íntima de José Sócrates, António Vitorino, etc., veremos que um tal cenário é bem mais realista que todas as demais combinações ardentemente desejadas —mas impossíveis— pelos pequenos partidos.

Estes últimos pedalaram bem no último ano, mas falta-lhes o principal: uma agenda pós-ideológica de acção, ponderada, tecnicamente competente e realista. Até lá, seguiremos com o Pinóquio das Beiras.


NOTAS
  1. Depois de começar o seu discurso de derrota por parabenizar o PS, afirmou que o PSD permanecia o principal partido do arco da governação, conjuntamente com o PS, claro, e que assumiria essa responsabilidade na actual conjuntura, não sendo de esperar da sua parte nada que possa bloquear o país.
  2. O resultado muito fraco do PSD em Lisboa augura boas votações autárquicas para António Costa+Helena Roseta e para o... CDS. O que não deixa de ser meio caminho andado para a derrota de Santana Lopes, esvaziando-se deste modo a putativa conspiração para derrubar Manuela Ferreira Leite. A actual líder do PSD é mesmo a solução que melhor convém à estabilidade interna e recuperação a prazo do PSD, a melhor solução para o novo Sócrates e a chave de ouro de que Cavaco precisava para garantir a tempo e horas a sua reeleição. Ou seja, o travão ideal para os excessos da Tríade de Macau e o melhor estabilizador possível da governação do país num momento particularmente difícil. Os pequenos partidos cresceram, mas vão ter que penar ainda muito para se tornarem fiáveis aos olhos do eleitorado. Os bloquistas cantaram de galo antes de tempo. Não se esqueçam, estalinistas e trotsquistas tardios e empedernidos, que muitos dos que em vós votaram, fizeram-no apenas para retirar a maioria absoluta a Sócrates! Os novos eleitores, em suma, votaram com mais realismo do que se pensava. O voto inteligente, vendo bem as coisas, funcionou e foi certeiro.


OAM 629 28-09-2009 01:10 (última actualização: 08-10-2009 01:42)

quinta-feira, setembro 24, 2009

Portugal 129

PS, uma vitória pírrica?

A implosão do Bloco Central vai ser prolongada, feia e dolorosa. Louçã e Portas vão no bom caminho, mas precisam de aprender a ler melhor a realidade e de limpar as borras ideológicas do século 19 que trazem agarradas às respectivas memórias consolidadas (repetitivas e acríticas, por natureza), antes de poderem desferir o golpe de misericórdia na união de facto (PS-PSD) que há 30 anos vem conduzindo Portugal para uma situação de pré-falência, colapso social e perda objectiva de independência.

"O cérebro humano está dividido em hemisfério direito (controla a percepção das relações espaciais, a formação de imagens e o pensamento concreto) e em hemisfério esquerdo (responsável pela linguagem oral e escrita, pelo pensamento lógico e pelo cálculo)." — in Exames.

"O hemisfério dominante em 98% dos humanos é o hemisfério esquerdo, é responsável pelo pensamento lógico e competência comunicativa. Enquanto o hemisfério direito, é responsável pelo pensamento simbólico e criatividade. Nos canhotos as funções estão invertidas. O hemisfério esquerdo diz-se dominante, pois nele localiza-se 2 áreas especializadas: a Área de Broca (B), o córtex responsável pela motricidade da fala, e a Área de Wernicke (W), o córtex responsável pela compreensão verbal." — in Wikipédia.

98% dos eleitores vota, por conseguinte, de acordo com os seus interesses particulares, isto é pessoais e de grupo — familiar, profissional, etc. Enquanto durou a bonança comunitária e o ouro de Salazar, enquanto as remessas dos emigrantes continuaram a afluir generosamente, os 98% de eleitores aproveitaram a boleia, crendo os mais distraídos que a prosperidade relativa, nomeadamente das classes médias, era mérito próprio, ou de quem nos foi governando.

Sabemos agora que quem nos foi governando foi, na realidade, governando-se, sem um único pensamento estruturado e responsável sobre o futuro de Portugal. Sabemos também que a bonança chegou irremediavelmente ao fim (euros de Bruxelas, recursos próprios e dentro em breve, remessas de emigrantes). Sabemos, por fim, que as classes médias caminham aceleradamente para a extinção — prevendo-se que venham a dar lugar a um neoproletariado urbano e suburbano, tecnologicamente instruído mas inculto (i.e. falho de memória histórica), sem trabalho, condicionado para o micro-consumo, e resvalando rapidamente para uma indigência social progressiva. Este neoproletartiado em formação poderá tornar-se numa desesperada e violenta rede revolucionária. De momento, envolto na ilusão fabricada de que a presente crise é meramente cíclica e ultrapassável, talvez vote no Domingo no prato de lentilhas da chamada "governabilidade" — em vez de lancetar, como devia e a direito, a ferida aberta que é o Bloco Central, libertando o país do pus fétido que corrói visivelmente a nossa democracia.

No entanto, ainda não estou convencido que o "povo português" vote no engenheiro de aviário que nos tocou na rifa há quatro anos e meio atrás, seduzidos que fomos todos então pela elegância deste inacreditável político sem apelido. As sondagens mentem!

Um das causas evidentes da pouca fiabilidade dos nossos institutos de sondagens é simples mas tem passado despercebida da maioria dos observadores. Os inquiridores fartam-se de fazer entrevistas telefónicas, mas fazem-no sempre para telefones fixos! Ora como toda agente sabe, telefones fixos são coisa do passado, que só empresas e gente reformada ou para lá caminhando ainda usa. Ou seja, se somarmos esta pelintrice dos chamados institutos de sondagens à sua óbvia dependência do grande empregador e cliente chamado Estado-Governo-Partido no Poder, a fiabilidade dos números que têm vindo a lançar na confusão da propaganda eleitoral acaba por ser duvidosa e sobretudo irrelevante, um ruído mais da própria campanha. Não confiem, pois, nas sondagens!

Quero crer que, apesar de tudo, os eleitores irão votar contra o actual governo, por algo diferente que lhe suceda. Nem que seja outro governo PS, mas desta vez minoritário e sem Sócrates Pinto de Sousa! E também acredito que o voto inteligente permaneça firme na sua intenção de modificar a configuração democrática do parlamento, dando força ao Bloco de Esquerda e ao CDS, como uma espécie de seguro anti-maiorias absolutas e anti Bloco Central.

Seja como for, com governo PS, ou com governo PSD, teremos instabilidade governativa que baste para corroer o rotativismo actual — esperemos que até à cisão de ambos os partidos! Se Manuela Ferreira Leite não ganhar estas eleições, poderá ganhar as autárquicas, e até voltar a disputar em breve novas eleições para o parlamento. E isto por uma simples ordem de causalidade: a "governabilidade socialista" que vier (se vier!), depois do dia 27 de Setembro, será tão só o epicentro de um terramoto político-social de consequências imprevisíveis. Os ingredientes de irresponsabilidade, cabotinagem, nepotismo, corrupção, autoritarismo e asfixia democrática já existem. Basta pois uma faísca.

É por tudo isto que apelo ao realismo do Bloco de Esquerda e ao realismo do CDS. Se querem crescer, como seria bom que ocorresse, restrinjam-se ao essencial, de forma concreta, suspendendo temporariamente os dossiers ideológicos. Olhem para daqui a 20 anos! Pensem na Politica como aquilo que é: por excelência, o exercício da responsabilidade e um cálculo sereno das oportunidades que tecem a história dos povos. O Bloco Central morreu. Se não são Vocês a exigir e garantir governança e viabilidade legislativa, quem poderá fazê-lo?!


ÚLTIMAS SONDAGENS PUBLICADAS (24 Setembro 2009)
  • PS (Intercampus/TVI*~38%; Católica/RTP~38%, 100 deputados, i.e. -21)
  • PSD (Intercampus/YVI~29,9%; Católica/RTP~30%, 75 deputados, i.e. -5)
  • BE (Intercampus/TVI~9,4%; Católica/RTP~11%, 22 deputados, i.e. +14)
  • PCP/PEV (Intercampus/TVI~8,4%; Católica/RTP~7%, 13 deputados, i.e. -1)
  • CDS/PP (Intercampus/TVI~7,7%; Católica/RTP~8%, 15 deputados, i.e. +3)
  • Outros partidos (Católica/RTP~2%)
  • Votos Brancos ou Nulos (Católica/RTP~4%)
  • Indecisos (Católica/RTP~12%)
  • NS/NR (Intercampus~13,2%
Total de deputados: 126
Maioria: 113 +1

* — O erro de amostragem, para um intervalo de confiança de 95%, é de mais ou menos 3,1%.


Declaração pessoal de interesses


Já escrevi neste blogue mais de uma vez, e repito, que tenciono votar no Bloco de Esquerda para a Assembleia da República, no próximo dia 27 de Setembro (se Louçã não cair entretanto na tentação de apoiar José Sócrates); em António Capucho (PSD), para a Câmara Municipal de Cascais; e que me candidato pelo PS+Helena Roseta à Assembleia de Freguesia de São João de Brito. Contradição? Incoerência? Nem por isso!

Há certamente muita gente por este país fora que é capaz de fazer o mesmo. O que não é vulgar é assumir a coisa. Há um tabu, que os partidos políticos alimentam como se fossemos todos imbecis e não soubéssemos distinguir as subtilezas de uma votação com os seus contornos de classe mais ou menos oportunistas e diferenças ideológicas cada vez menos claras. Em vez de cair na armadilha do "voto útil" —suplicado pateticamente pelo PS e pelo PSD—, os portugueses estão rapidamente a adoptar a praxis alternativa do que resolvi chamar "voto inteligente". Esta é certamente uma arma poderosa para mudar positivamente o rumo da democracia portuguesa. Usemo-la, pois, com a determinação estratégica que merece.


OAM 627 24-09-2009 18:45 (última actualização: 23:57)