O tráfego aéreo cai com a subida do petróleo. Foto OAM. |
A caminho do racionamento energético
American Airlines, British Airways e Iberia negoceiam parceria para dominar Atlântico.
03.07.2008 - 10h12 PÚBLICO. A American Airlines, a British Airways e a Iberia negoceiam uma parceria para criar um operador de grande dimensão no mercado transatlântico da aviação, noticia hoje o Financial Times.
Para concretizar o projecto, as companhias têm que chegar a acordo sobre a partilha de lucros e de receitas, situação que poderá acontecer ainda este mês, assegura o jornal, e passar pelo crivo das autoridades de Concorrência nos países de origem de cada uma das companhias.
O agravamento do preço dos combustíveis, o enfraquecimento das economias dos dois lados do Atlântico e a entrada em vigor do regime de céus abertos entre os EUA e a União Europeia são factores que têm vindo a acelerar a aproximação entre companhias aéreas dos dois espaços económicos.
Esta notícia deve ser compaginada com esta outra:
Airports Lose Passenger Flights As Peak Oil Starts To Bite
May 21, 2008 Futurepundit. In what is still the pretty early stages of the Peak Oil transition cities are losing passenger air service.
Financially strapped airlines are cutting service, and nearly 30 cities across the United States have seen their scheduled service disappear in the last year, according to the Bureau of Transportation Statistics. Others include New Haven, Conn.; Wilmington, Del.; Lake Havasu City, Ariz.; and Boulder City, Nev.
Over the same period, more than 400 airports, in cities large and small, have seen flight cuts. Over all, the number of scheduled flights in the United States dropped 3 percent in May, or 22,900 fewer flights than in May 2007, according to the Official Airline Guide.
For me the most surprising aspect of this trend is the level of traffic in January 2007 for airports that have now lost all commercial service. For example, Boulder City Nevada previously had 401 flights in January 2007 and now has none. Though big airports lost a much larger absolute number of flights. Chicago O'Hare lost 3,098 from 33,770 in January 2007 to 30,675 in January 2008.
A blogosfera, pelo teclado mordaz do RVS, já comentou:
"Nisto tudo, onde está a TAP!
Certamente já ninguém conta com a TAP para nada, a não ser como justificação para um novo aeroporto.
Coisa curiosa: daqui para a frente, a taxa de ocupação da TAP vai começar progressivamente a cair, apesar do aumento desmesurado de oferta, daqui sobressaindo um load factor cada vez mais reduzido, com rentabilidades cada vez mais negativas.
Ainda hoje de manhã deixei no Low Cost Portugal a "boa nova" de que quem se arriscar a comprar bilhetes com muita antecedência corre o risco de quando chegar à data não ter voo, devido ao seu cancelamento por parte da companhia.
Nesse cenário estão claramente os clientes da TAP discount para os quais a TAP deve ter reservado 10% da oferta de cada voo. Ou seja, o inteligente Fernando Pinto corre o risco de ter nos voos apenas a capacidade "discount" esgotada, com o resto do avião às moscas. No caso dos A319 da TAP, com capacidade para 140 e poucos lugares, são 14-15 lugares.
Por isso a blogosfera defende que a segmentação da TAP não deve ser feita dentro de cada voo, mas relativamente aos destinos para os quais a TAP voa. Assim, para a Europa, a TAP DEVIA VOAR QUASE EXCLUSIVAMENTE EM REGIME LOW COST, simplificando e poupando desta forma custos com toda a rede de vendas, marketing e gestão dos voos e das rotas.
Parece que não perceberam as palavras do De Neufville ditas no final da passada semana."
Há aqui mais um ponto a ter em conta:
O Atlântico passou a ser, depois de a China se ter transformado num actor global, a reserva territorial estratégica do Ocidente. A China, porém, pretende usar essa reserva para despejar mercadorias em sociedades que há muito deixaram de as produzir!
Perante este cenário, podemos talvez dizer que a Cimeira das Lajes serviu, afinal, para atar uma nova aliança entre os EUA, o Reino Unido e a Espanha, tendo Durão Barroso servido apenas de cicerone numa ilha que, a ver pelas notícias espanholas da época (de onde Barroso foi sistematicamente apagado!), mais parecia já um território conquistado pela descendência bourbónica que continua a pontificar em Madrid.
A notícia da aliança entre a British Airways, a Ibéria e a American Airlines é um passo obviamente político numa estratégia global que passa por isolar (ou vá lá, equilibrar) a influência da Alemanha.
Daqui decorre que Angela Merckel não irá ficar parada perante a união entre os três ex-grandes impérios coloniais. A StarAlliance, que é a maior aliança mundial entre empresas de transporte aéreo, irá certamente reagir.
Portugal tem neste contexto uma única alternativa: trabalhar rapidamente no reforço das suas alianças com Angola, Moçambique, Cabo Verde, Guiné-Bissau e São Tomé e Príncipe, na parte africana, e com o Brasil e a Venezuela, na parte americana.
Uma vez aqui chegado, deve oferecer os seus préstimos à Alemanha, à Rússia e à China! Não podemos retomar a fantasia catastrófica de querer isolar a Alemanha, ou impedir o alargamento do espaço vital europeu até Istambul e Moscovo.
Só após concluída semelhante estratégia, se poderá voltar a falar do NAL de Alcochete. Antes de aí chegarmos, muito antes, precisaremos de avançar por uma autêntica revolução no transporte ferroviário (sobretudo de mercadorias) e nos portos portugueses. O essencial é a renovação das linhas férreas e a sua progressiva substituição pela bitola europeia, bem como a produção própria de material circulante estritamente adaptado às necessidades. O essencial é preparar portos e navios para os trajectos transatlânticos, bem como para as viagens de médio curso entre os vários portos europeus e mediterrânicos.
No que se refere ao transporte rodoviário, mais cedo ou mais tarde, teremos que fazer duas coisas: eliminar o ISP e baixar o IVA sobre os combustíveis, ao mesmo tempo que introduzimos fórmulas inteligentes de racionamento dos consumos energéticos. Tal como se inventaram os cartões pré-pagos para os telemóveis, teremos um dia (mais cedo do que se pensa) que introduzir cartões pré-pagos e pós-pagos para a gasolina e o gasóleo, para os consumos de água, gás e electricidade, e ainda para os serviços de saúde. Trata-se de colocar as novas tecnologias ao serviço da eficiência energética e da sustentabilidade económica, social e política dos países, à medida que o paradigma das sociedades afluentes e consumistas der lugar a uma filosofia de vida mais justa e suportável pelo planeta a que pertencemos. Quem ultrapassar os consumos energéticos sustentáveis será obviamente penalizado, altamente penalizado. A pegada ecológica deverá passar a funcionar como base de tributação!
Uma parte minoritária do planeta irá muito provavelmente continuar a ter acesso privilegiado ao petróleo (cada vez mais caro) até 2050. Outra caminhará a passos largos para uma era pós-carbónica, cujos contornos se desconhecem. Por sua vez, nas sociedades de transição, que poderão beneficiar ainda, embora com restrições crescentes, do ouro negro, por mais algumas décadas, haverá uma divisão profunda e crítica entre os HAVE e os HAVE NOT. O sucesso das governanças medir-se-à então pela capacidade de distribuir equitativamente os custos e as responsabilidades da reconversão energética. Novos fascismos espreitam por aí!
A corrida já começou e é pública. Nós, portugueses, se nos deixarmos entreter pelo ruído das corruptas elites que actualmente controlam o sistema político, bye bye 800 e tal anos de independência!
OAM 385 03-07-2008, 16:28