domingo, setembro 05, 2010

Agressores sexuais finalmente condenados



Pedofilia
entre a ditadura e a democracia há coisas que não mudaram

Em 1967 rebentou o escândalo sexual conhecido por Ballet Rose (ver artigo de José Maria Martins). Sete anos depois a ditadura caiu. Mas nem os Pides, nem boa parte dos protagonistas do regime, nem os pedófilos foram molestados. Até hoje!

O problema maior da pedofilia não se prende tanto com as práticas sexuais em si (embora façam delirar a populaça e os média), mas antes com a agressão sexual, com a violência física, por vezes extrema, sobre miúdos impotentes,  e com a chantagem económica sobre os mais fracos —levado a cabo por gente impune e acima de qualquer suspeita, sob o olhar conivente das polícias, dos tribunais, e dos governos.

A pedofilia andou escondida durante décadas, ou séculos, sob as saias do poder, religioso e laico. A exposição mediática recente tem pelo menos o mérito de traçar um risco de giz no chão. De um lado estão os cobardes, os amorais e os criminosos de sempre. Do outro, quem se indigna e exige perseguição e castigo dos criminosos. No meio fica uma classe político-partidária indigente que não merece o que lhe damos.

Portugal é um país falido, sobretudo no plano moral. Alguém cobrará os juros devidos. Não tenhamos dúvidas disso. E tal como disse Catalina Pestana, também eu mantenho a convicção de que Paulo Pedroso só não se sentou no banco dos réus porque foi protegido por boa parte da classe política portuguesa —para minha maior vergonha— de esquerda!

Documentário da TVI 
Relato da SIC sobre as tentativas de impedir a prisão de Paulo Pedroso

Rumos — 2

Falei na semana passada no enorme stock de habitações construídas, mais de 600.000, que em todo o país aguardam comprador, paralisando toda a cadeia da construção civil, com imediatas repercussões para as autarquias as quais se privam das taxas respectivas.

Qual a fundamentação para o país ter conseguido tão poderoso canal de financiamento da mais de 4.000.000 de fogos ao longo de 25 anos? Como se conseguiu construir e vender mais de 150.000 fogos anuais quando a população portuguesa está estabilizada? O ano passado já nasceram menos de 100.000 portugueses e já morreram mais do 100.000. Os programas de realojamento de bairros degradados e históricos absorveram certamente mais de 1.000.000 de fogos ao longo destes anos, mas concluíram a sua missão. O enorme êxodo dos novos licenciados e profissionais que ocorreu do interior para o litoral, Lisboa e Porto, também se pode considerar já estabilizado. Ao todo terão sido responsáveis por uma procura de cerca de 60.000 habitações por ano, talvez 1.500.000 ao todo. A politica de favorecimento estatal, municipal e bancário da segunda casa, para férias no Litoral, poderá ter sido responsável por mais uns 600.000 fogos. A elevada taxa de divórcios propiciou a entrada no mercado de mais um indeterminado número de fogos, sendo agora a tábua de salvação dos promotores.

Os centros históricos vão-se esvaziando, não se adaptando ao perfil da procura, enquanto crescem os centros periféricos. Agora que quase todas essas fileiras estão paralisadas, a construção sobreviverá se encontrar novos caminhos. As unidades de turismo anual ou sazonal poderão ser um sucesso em zonas de interesse lúdico cultural ou balneário. Tem-se falado muito no mercado da reabilitação urbana. É uma ilusão. Os altíssimos custos de construção (na reabilitação) e os recentes entraves normativos e legais fazem deste mercado um nicho insignificante e de rentabilidade duvidosa. A nossa economia sairá forçosamente da construção civil. Os actuais modelos de crescimento estão esgotados.

Frederico Brotas de Carvalho

terça-feira, agosto 31, 2010

Rumos — 1

NOTA PRÉVIA: este texto não é meu, mas sim de Frederico Brotas de Carvalho, um amigo com quem partilho há já alguns anos diálogos frutuosos sobre a crise portuguesa, os meandros da politiquice e as possíveis saídas para o bloqueamento do país. É pois com enorme prazer que aqui publicarei um conjunto de reflexões suas —sob o título “Rumos”— ao longo das próximas semanas. — O António Maria.

Muitas vezes interroguei o alto nível de vida que registávamos nas cidades. Exportamos menos do que importamos. Produzimos menos que consumimos. Se o modelo é desequilibrado qual o mecanismo que promove o seu equilíbrio e a alimentação dos circuitos de redistribuição?

Nos últimos 30 anos terão sido construídos e vendidos em Portugal mais de 4.000.000 de fogos com recurso ao crédito à habitação. Os 308 municípios através dos seus PDM’s aprovados e revistos viabilizaram 10.000.000 de fogos com cerca de 35.000.000 de camas para uma população que se sabia não iria aumentar até 2015.

A banca recorreu sistematicamente ao financiamento externo e hoje sabe-se que a dívida privada supera os 120% do PIB, ou os 200.000.000.000€.

Foi precisamente este canal de endividamento que assegurou o fluxo financeiro e os altos níveis de consumo nas áreas urbanas e que polarizou 80% dos portugueses num litoral desordenado.

Nascem e morrem aproximadamente 100.000 portugueses por ano. Sob um fluxo uniforme há um mercado avaliado em 60.000 novos fogos por ano. Contabilizam-se por vender mais de 600.000 fogos pelo lado do parque da oferta.

Significa isto que de uma forma mais ou menos adaptável teremos um stock de 10 anos de fogos por estrear. Toda a cadeia de promoção vai bloquear.

Qual era até agora o modelo de criação de riqueza?

Os municípios desagregavam terreno rural para terreno urbano, nos PDM’s, promovendo uma súbita multiplicação administrativa de valor de 1 para 30. O terrenos loteados eram vendidos com recurso ao crédito. Os construtores construíam também a crédito. Com lucros globais até 50% a propriedade horizontal era por fim vendida, com recurso a um ultimo crédito que cobria confortavelmente todos os precedentes. O que exportávamos em contrapartida? Hipotecas. Essa cadeia quebrou-se. Os municípios são já os primeiros a sentir brutalmente a paralisação do sector, não auferindo as taxas de urbanização. A seguir toda a sociedade vai sentir  o fecho deste canal. A implicações são imensas. Não esqueçamos que 85% do pão que comemos ao pequeno almoço é importado.

Frederico Brotas de Carvalho

domingo, agosto 29, 2010

China 2015

Que fazer?

Risco de bancarrota: Semana cinzenta para os PIIGS
O grupo de países designados pejorativamente por PIIGS (acrónimo humorístico para Portugal, Irlanda, Itália, Grécia e Espanha) viu as probabilidades de incumprimento da dívida soberana dos seus membros num horizonte de cinco anos aumentar significativamente esta semana, de acordo com o monitor da CMA DataVision. —Expresso, 28 Ago 2010.

Na guerra surda que os Estados Unidos e a Inglaterra têm vindo a promover contra a moeda única europeia (leia-se contra a Alemanha), ajudadas pelas agências de notação e analistas anglo-americanos (como o CMA) —que agem como verdadeiros comandos avançados de sabotagem financeira— o objectivo de fundo é o mesmo que levou às duas sucessivas invasões militares do Iraque e à preparação em curso de um ataque possivelmente nuclear ao Irão: impedir o fim da supremacia do dólar (a que a libra inglesa está agarrada como uma lapa) enquanto moeda de reserva do comércio mundial. Sem esta seringa financeira, através da qual os Estados Unidos extraem riqueza de praticamente todas as nações do planeta, o império anglo-saxónico (coadjuvado ou não pelo lóbi judaico e Sionista) implodiria em menos de uma década.

Em vez da colonização presencial directa de outros tempos, a existência de uma moeda imperial sem controlo desde 1971 (pois deixou de ser convertível em ouro ou em qualquer outro valor de referência), permitiu desenvolver uma catadupa de mecanismos puramente financeiros de extracção das mais-valias geradas pelo trabalho mundial —cujo produto, sem excepção, é transaccionado globalmente (enfim, com poucas excepções até agora) na moeda americana. Da especulação monetária mais desenfreada, de que o yen carry trade foi, nos últimos 15 anos, o paradigma e ao mesmo tempo o segredo de polichinelo mais bem guardado do Mercado Internacional de Divisas (FOREX), até à pirâmide especulativa virtualmente infinita do mercado nocional de derivados financeiros (com um potencial destruidor equivalente a 20x o PIB mundial), assistimos nos últimos 40 anos à tentativa desesperada dos Estados Unidos e da Inglaterra, potenciados logicamente pelo lóbi judeu-americano (AIPAC, Goldman Sachs, Ben Shalom Bernanke, George Soros, etc.) para manter-se no topo de uma divisão internacional do trabalho que verdadeiramente deixaram de controlar ou merecer.

As economias americana e inglesa, assim como boa parte das economias europeias (excepção feita, claro está, da Alemanha), à medida que os países ricos em petróleo, gás natural e outras matérias-primas fundamentais, ganharam espaço de manobra para proteger a soberania dos respectivos recursos, enveredaram por um modelo de crescimento basicamente ancorado no endividamento, na especulação bolsista, no crescimento artificial e insustentável da procura interna, e ainda na destruição suicida dos respectivos tecidos produtivos —sobretudo o industrial. Esta lógica pseudo-keynesiana levou quase todos os estados da OCDE, pela via irresponsável do chamado deficit spending, a uma crise sem precedentes das respectivas dívidas soberanas (ver mapa). E conduziu também a um crescimento enganador, e por vezes meramente bolsista, de grandes empresas (energéticas, de obras públicas, e bancárias, entre outras) através dos mais diversos e complexos esquemas de alavancagem financeira.

O problema grave desta deriva especulativa é que um tal modelo de substituição da economia real por uma economia virtual não resistiu à prova dos factos. Os campos magnéticos da levitação incontrolada da moeda americana, cuja multiplicação e velocidade de circulação descolaram de qualquer realidade física —ouro, notas ou qualquer outro papel impresso—, precipitando-se no buraco negro do infinito matemático gerido pela computação ubíqua, não poderiam se não implodir no momento em que os países ricos em energia fóssil, minérios, alimentos e mão de obra barata abandonassem a sua fidelidade ao dólar americano —como efectivamente teve início a partir do momento em que Saddam Hussein começou a fazê-lo (1), ou mais recentemente (2007), quando o Irão anunciou a criação da Iranian Oil Bourse, destinada a comprar e vender petróleo e respectivos derivados a partir de um cesto de moedas fortes (entre elas o euro) excluindo expressamente a moeda americana.

China ready to end dollar peg
The head of China’s central bank has given the strongest signal yet that the country will move away from pegging its currency to the dollar, but he said any changes would be gradual. —Telegraph (06 Mar 2010).

McDonald’s Corp.’s yuan bond sale, the first by a foreign company in Hong Kong, may pave the way for a new global debt market as China seeks to capitalize on its status as the engine of the world’s economic recovery.
McDonald’s, which opened its first 1,000 restaurants in China faster than any other country outside the U.S., sold 200 million yuan ($29 million) of 3 percent notes due in September 2013. Bentonville, Arkansas-based Wal-Mart Stores Inc., the world’s largest retailer, said in March it was considering selling bonds in yuan. —Bloomberg (Aug 20, 2010).

Não creio que seja teoria da conspiração deduzir uma coisa muito simples do presente ataque anglo-americano à moeda única europeia, instrumentalizando as agências de notação financeira como unidades avançadas de sabotagem: antes de arriscar a invasão do Irão e uma mais do que provável guerra mundial, os Estados Unidos e a monarquia de piratas a que se reduziu nas últimas décadas o Reino Unido, com o precioso auxílio de agentes infiltrados ao mais alto nível na Comissão Europeia, desencadearam uma manobra de larga escala destinada uma vez mais a isolar a Alemanha e a destruir a mais séria ameaça ao falido império da nota verde: o euro!

Mas assim como a China avisou em tempos a América que não toleraria a interrupção do fornecimento de petróleo oriundo do Médio Oriente, e em particular do Irão, e a Rússia reduziu drasticamente o cerco do Mar Cáspio por parte dos EUA, também agora, face ao ataque desencadeado contra o euro pelas falidas economias americana e inglesa, a China mostrou estar disposta a ajudar a União Europeia, comprando dívida grega, comprando dívida espanhola, mas acima de tudo garantindo que não deixará cair o euro abaixo de 1 dólar e vinte cêntimos. Para nota falsa —o dólar americano já chega!

O Brasil (2), a Rússia e a China (e o próprio Japão) coincidem na necessidade de travar o ímpeto provocatório dos Estados Unidos e da rainha pirata relativamente ao Irão. Também se verá no futuro como a mesma China (e o Japão) quererão assegurar a paz e a amizade comercial no Atlântico, sobretudo nas margens da Europa e ao longo e todo o sub-continente americano a Sul da Guatemala. O braço de ferro com Washington vai pois continuar, para ver quem cede primeiro, se a Califórnia ou Portugal!

A Alemanha, a China e alguns países árabes funcionarão como um colete de salvação das dívidas soberanas dos PIGS (Portugal, Itália, Grécia e 'Spanha), mas os dolce far niente do Club Mediterranée (França incluída) têm que começar a fazer alguma coisa para merecer tanta solidariedade interessada.

E quanto aos portugueses, não será deixando prosseguir o espectáculo confrangedor propiciado pelo actual regime partidocrata, que alcançaremos tão necessário objectivo. É preciso reestruturar a democracia. Mas sobre isto se escreverá no próximo postal.


NOTAS
  1. This internet-based debate is reminiscent of what occurred before the invasion of Iraq when several observers, myself included, hypothesised that Saddam Hussein’s decision to sell Iraqi oil in euros was perhaps one of the reasons the US wanted ‘regime change’.  The US decision after the invasion to return Iraqi oil sales to dollar denomination and to convert back into dollars all Iraqi foreign currency reserves, which had been in euros prior to the war, was certainly entirely consistent with this theory. — in Trading oil in euros – does it matter?, by Cóilín Nunan (Jan 29 2006).
  2. A China passou em apenas cinco anos, de terceiro para primeiro parceiro comercial do Brasil. Historicamente, desde a colonização portuguesa, que o principal parceiro comercial do Brasil é ou acaba por ser a primeira potencial económica mundial. A sucessão é pois a seguinte: Portugal (322 anos), Reino Unido (123 anos), Estados Unidos da América (65 anos) e... China. Entretanto, o PIB chinês acaba de ultrapassar o PIB japonês, fazendo da China a segunda potência económica mundial. Segundo os chineses, que são muito supersticiosos, chegarão à posição de primeira potência mundial no ano de 2015 — o ano mágico da rotação do centro de gravidade dos impérios, que serve de leitmotiv a esta reflexão.

    China ultrapassa EUA como maior parceiro comercial do Brasil
    EDUARDO CUCOLO
    da Folha Online, em Brasília

    A China se tornou o principal parceiro comercial do Brasil, deixando para trás os EUA, segundo dados da balança comercial brasileira de abril.

    De acordo com o Ministério do Desenvolvimento, a soma das exportações e importações para o país asiático chegou a US$ 3,2 bilhões em abril, acima dos US$ 2,8 bilhões verificados no comércio com os EUA.

    Em março, a China já havia ultrapassado os EUA em relação às exportações brasileiras. Em abril, essa vantagem aumentou. Agora, a China responde por 13% das vendas do Brasil para o exterior. Os EUA, por 11,3%.

    Outra mudança ocorrida em abril é que, pela primeira vez, a Ásia se tornou o continente que mais compra produtos brasileiros, com cerca de 30% do total exportado.

DA IMPRENSA RECENTE (em 2010-08-30)
  • Trichet Says Failure to Cut Government Debt Risks `Lost Decade'
    By Simon Kennedy - Aug 27, 2010 11:45 PM GMT+0100

    European Central Bank President Jean-Claude Trichet said governments risk a “lost decade” of weak economic growth if they delay reversing the surge in public debt triggered by the financial crisis.

    “The lesson from past history is that dealing with the legacy of accumulated imbalances is not simply a duty to be fulfilled after the economic recovery, but rather an important precondition for sustaining a durable recovery,” Trichet said yesterday in a speech at the Kansas City Federal Reserve Bank’s annual monetary symposium in Jackson Hole, Wyoming. “The primary macroeconomic challenge for the next 10 years is to ensure that they do not turn into another ‘lost decade.’”

    Trichet’s call for immediate fiscal austerity comes three months after he sought to protect the euro area from a spiraling debt crisis. His view also clashes with President Barack Obama’s preference to focus on spurring growth.  — Bloomberg.
     
  • BOE's Weale says U.K. risks double dip: report
    By William L. Watts

    LONDON (MarketWatch) -- The British pound was under pressure Tuesday after Martin Weale, a member of the Bank of England's rate-setting Monetary Policy Committee, warned in a newspaper interview that Britain runs the risk of slipping back into recession. Weale, the newest member of the committee, told The Times newspaper that it would be "foolish" to rule out the possibility of a double-dip recession. The pound traded at $1.5396 versus the U.S. dollar, down 0.6% from Monday. — Market Watch (Aug. 24, 2010).

  • USA : une "menace" pour la zone euro
    La principale menace pour les économies de la zone euro vient des Etats-Unis, a déclaré mercredi la ministre française de l'Economie, Christine Lagarde, dans un entretien à Reuters. — Le Figaro/ Avec Reuters (25/08/2010).

    NOTA: Parece haver um estratégia em tenaz por parte dos alquimistas da Reserva Federal americana e da Goldman Sachs. Por um lado, atacam seletivamente as dívidas soberanas da União Europeia, por forma a enfraquecer a moeda única e com isso manter as taxas de juro de referência a níveis historicamente baixos, impedindo por estas duas vias que o euro possa constituir-se em moeda de reserva alternativa ao dólar americano. Por outro, continuam a endividar-se à grande e à francesa, atirando com tal política o dólar para limiares que supostamente tornam mais atractivas as exportações americanas e, ao mesmo tempo, impedem o Japão de reactivar o seu silencioso e muito destrutivo yen carry trade. A moral da história parece ser esta: se o Yuan e o Yen não vêm até nós, vamos nós ter com eles! Resultado: uma, duas, ou três décadas de estagnação por esse mundo fora! No fundo, talvez seja mesmo impossível escapar a este ajustamento por baixo da economia mundial. As consequências para as pessoas é que serão terríveis. À medida que as empresas e os governos forem despedindo as pessoas e reduzindo ao mínimo os seus direitos sociais, jornais e televisões de todo o mundo irão cantando hinos aos milagre da multiplicação dos lucros! Alguém saberá, na verdade, desatar este nó?
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domingo, agosto 22, 2010

Portugal: 1415-2015

Castelo São Jorge da Mina, Gana (mandado construir por D. João II, ca.1486)

O fim de um ciclo muito longo

O impasse actual do nosso regime democrático não resulta apenas, nem sobretudo, da corrupção que alastra sem vergonha nem punição, da incompetência quase demencial dos partidos, da esfinge inútil colocada na presidência da república, da overdose alucinogénica do euro, nem sequer da tradicional indolência de um povo que sempre preferiu emigrar antes de explodir ou escolher um tirano iluminado. O que começa de facto a pesar sobre a integridade e definição do meu país é o fim dum ciclo de 600 anos de sustentação e equilíbrios de poder. O que porventura já começou é um colapso histórico sem precedentes cuja mitigação exige muito mais do que o actual regime é capaz de dar.

Este ciclo de vida nacional é, resumindo, aquele que medeia entre a consolidação da nossa fronteira ibérica e a exaustão dos recursos estratégicos que lhe deram sustentação a partir da aliança firmada entre John of Gaunt, primeiro Duke of Lancaster, e João I de Portugal (1). A formação do império colonial português, um dos mais extensos e duradouros de quantos houve, começou verdadeiramente nesta aliança que, por outro lado, viria a contribuir decisivamente para resolver, até hoje, o problema do bloqueio muçulmano do Mediterrâneo. Só as potências atlânticas, antes e depois da colonização das Américas, estavam e continuam a estar em posição de compensar os cortes de comunicações, por terra ou pelo Mediterrâneo, entre o Ocidente e o Oriente. O posicionamento de charneira do Islão, entre o Oriente e o Ocidente, foi também a sua maior fraqueza. Ficou por outro lado claro, desde a Reforma Luterana, que a Alemanha, pela sua interioridade continental, nunca foi capaz, nem poderá sê-lo no futuro, de chamar a si o centro de gravidade da força estratégica necessária à preservação da cultura greco-latina sobre a qual assenta o essencial da identidade civilizacional do Ocidente.

O império colonial português teve início na conquista de Ceuta em 1415, no ano da morte da rainha —a inglesa Filipa de Lencastre— que tudo fez para que o grande projecto atlântico europeu tivesse lugar. A falta de conhecimentos de economia e de estratégia da esmagadora maioria dos nossos historiadores tem infelizmente gerado uma cortina de enganos e ilusões sobre as origens e causas efectivas da persistência de uma nação com quase 900 anos, mas cuja sobrevivência parece agora condenada à inexorável dissolução numa união europeia de destino incerto. Portugal levou apenas 50 anos a definir as suas fronteiras, teve o primeiro grande sobressalto com Castela em 1385 (Batalha de Aljubarrota), ficou sob domínio castelhano durante 60 anos (1580-1640), e hoje, depois de se ter retirado de todas as antigas colónias e concessões, tem pela frente um novo e fundamental problema de definição e sustentação estratégica. Como travar a velha Castela, agora uma monarquia decadente à beira da desintegração, na sua incansável perseguição da preciosa porta atlântica: Lisboa? Tudo dependerá, pelo menos em parte, da nova e urgente triangulação estratégica que Portugal deverá estabelecer com o Brasil e Angola, no quadro de um posicionamento diplomático tão independente quanto possível —honest broker—, que é de nossa estrita conveniência adoptar na esfera da nova globalização que previsivelmente sucederá àquela que neste preciso momento implode com estrondo.

O problema é ainda mais sério, como se vê, do que teme Medina Carreira, e do que afirmam os recém convertidos economistas portugueses ao problema do nosso galopante endividamento —externo, público e privado. A aposta de Mário Soares na União Europeia foi seguramente o passo mais acertado da política portuguesa depois de uma inevitável, dolorosa e trapalhona descolonização. Mas se a União Europeia colapsar, por exemplo, na sequência de uma guerra nuclear no Médio Oriente, onde ficaremos perante uma Espanha que em menos de uma década ou duas poderá mergulhar num explosivo processo de desintegração? Terá Madrid, outra vez, a tentação de invadir Portugal? A Espanha detém cerca de 1/3 da nossa dívida externa (ver gráfico) e, por outro lado, Portugal encontra-se de facto em situação de pré-bancarrota. A probabilidade de até 2015 ser inevitável declará-la, ou, não a declarando (porque é humilhante), proceder-se à sua reestruturação é muito alta (2).

As guerras são sempre muito caras. Pela sua duração (1337-1453) e pelo que estava em causa, saber se a França e o Reino Unido poderiam ser um só país europeu, a Guerra dos Cem Anos foi seguramente uma das que mais custaram aos bolsos dos contribuintes de ambos os lados do Canal da Mancha. Uma das provas de que a deterioração da balança comercial inglesa foi uma coisa séria é, por um lado, a progressiva substituição da prata pelo ouro como metal financeiro, e por outro, a subida de valor deste ao longo da guerra (3).

Reparemos de novo nas datas:
  • em 1337 começa a guerra pela sucessão ao trono francês desencadeada pelo rei Edward III de Inglaterra, a qual duraria 23 anos (até 1360); 
  • sete anos depois, em 1344, começa a circular o Noble, a primeira moeda de ouro inglesa com efectivo valor monetário; 
  • entre 1373-1386 é estabelecida a aliança estratégica entre Inglaterra e Portugal, havendo que destacar aqui a contribuição das tropas inglesas para a derrota de Castela (que contava com tropas aliadas aragonesas, francesas e italianas) na decisiva Batalha de Aljubarrota, e o casamento de Filipa de Lencastre, irmã do futuro rei inglês Henrique IV, com o rei de Portugal, João I; 
  • em 1415, ano da morte da rainha portuguesa e mãe da chamada Ínclita Geração (Duarte, Pedro, Henrique, Isabel, João e Fernando), João I com os filhos príncipes e as suas tropas, auxiliados por soldados ingleses, galegos e biscainhos, tomam a cidade muçulmana de Ceuta, dando início, não a uma expansão pelo Mediterrâneo, como alvitraram António Sérgio e Vitorino Magalhães Godinho, mas sim pela costa ocidental de África, em demanda do ouro que comerciantes nómadas do deserto há muito faziam chegar a Marrocos e daqui à Europa (4).
Sem o ouro da Guiné (donde o nome da moeda inglesa guinéu), a sorte da Guerra dos Cem Anos teria sido provavelmente outra, bem como o destino de Portugal e da mais antiga aliança estratégica entre dois países.

1415 é não apenas a data do início da grande expansão marítima europeia, iniciada pelo estado português, e a que rapidamente se juntaram outras nações europeias, mas também, por assim dizer, o ano de colapso da grande marinha comercial e militar chinesa por ordem de um imperador assustado com a pressão mongol a Norte da China. A circum-navegação do império Otomano e o colapso da expansão chinesa no Índico permitiram a uma Europa que rapidamente se desenvolvia, alavancada pelo nascente sistema financeiro, uma acumulação de riqueza sem precedentes, entre outras razões porque lhe foi quase sempre possível impor aos outros povos os termos de troca, e nalguns casos mesmo a pilhagem pura e simples, em virtude da sua superioridade militar e sofisticação cultural. Sem o ouro, sem os escravos, sem as especiarias, sem as sedas e pedras preciosas, sem chá, nem café, nem tabaco, sem o açúcar, o milho, ou a batata, que teria sido dos europeus? Ora bem, a descolonização mundial e a OPEP vieram mudar toda esta longa e frequentemente sanguinária safra!

A mais justa redistribuição dos recursos disponíveis por uma humanidade que entrara numa curva de crescimento demográfico exponencial é uma condição irrecusável do mundo actual, sobretudo à medida que novos países emergem da sua antiga condição de menoridade e começam a impor de facto condições às velhas potências dominantes. O embaraço conjunto dos Estados Unidos e da Europa perante as exigências crescentes dos grandes detentores de recursos energéticos, minerais, alimentares e laborais do planeta, já para não sublinhar o poder financeiro extraordinário que têm hoje países como a China, são sinais evidentes de que um longo ciclo civilizacional chegou ao fim.

No caso de Portugal a equação é simples: onde estão o ouro, o algodão, as especiarias, as sedas, o café, as madeiras extraordinárias, o petróleo e os diamantes que alimentaram seis séculos de prosperidade relativa, e sobretudo um certo estilo de improvisação social e institucional? Mais, onde está a mão de obra barata que outrora permitiu disfarçar a nossa falta de organização e de ciência? Alguém se deu já ao trabalho de calcular o nosso actual potencial produtivo e de poupança tendo em conta os recursos objectivamente disponíveis. Que modelo de desenvolvimento poderemos no futuro efectivamente suportar e garantir sem cairmos numa qualquer forma de escravidão?

É por termos fechado um ciclo muito longo de modelo civilizacional que não faz qualquer sentido reduzir os desafios que temos pela frente às actuais querelas partidárias. A insanidade actual dos partidos políticos portugueses é mais um sintoma do grande colapso que se aproxima, do que a sua causa eficiente. Acantonar a discussão necessária dos problemas no pingue-pongue entre o pobre Sócrates e o atordoado Passos de Coelho sobre se é preciso subir impostos ou cortar despesas é uma criminosa perda de tempo. No imediato, é evidente que são necessárias medidas imediatas de contenção da hemorragia financeira que em breve levará o país ao prego. Terão que subir e muito alguns impostos (por exemplo, o IVA), e terão que encerrar todos os serviços públicos redundantes ou que não traduzam a realização duma missão imprescindível do Estado (surgindo daí novas oportunidades para os sectores empresarial e cooperativo.) Ao mesmo tempo que estas decisões drásticas e difíceis são tomadas, medidas claras de moralização e justiça devem igualmente ser adoptadas, a começar pela eliminação dos escandalosos privilégios de que goza a casta incompetente dos políticos.

Mas uma verdadeira resposta à crise exige o enquadramento das análises, dos cenários e das soluções, à luz duma visão global dos problemas. Porque é de globalização que estamos efectivamente a falar, desde 1415!

NOTAS
  1.  Em 1373 foi assinado o Pacto de Tagilde, e em 1386 celebrou-se o Tratado de Windsor, ambos fazendo parte daquilo que se chama a Aliança Luso-Britânica. A última vez que a Aliança foi invocada ocorreu em 1982, durante a Guerra das Malvinas (ou Falklands), para uso das facilidades aeroportuárias dos Açores, por sua vez obtidas pelos aliados anglo-americanos por iniciativa de Winston Churchill, em 1942.
    "I have an announcement", I said, "to make to the House arising out the treaty signed between this country and Portugal in the year 1373 between His Majesty King Edward III and King Ferdinand and Queen Eleanor of Portugal." I spoke in a level voice, and made a pause to allow the House to take in the date, 1373. As this soaked in there was something like a gasp. I do not suppose any such continuity of relations between two Powers has ever been, or will ever be, set forth in the ordinary day-to-day work of British diplomacy — Winston Churchill, Second World War, pp 146-7. Wikipedia.
  2. "O grupo de países designados pejorativamente por PIIGS (acrónimo humorístico para Portugal, Irlanda, Itália, Grécia e Espanha) viu as probabilidades de incumprimento da dívida soberana dos seus membros num horizonte de cinco anos aumentar significativamente esta semana, de acordo com o monitor da CMA DataVision." — in Expresso, 28 Ago 2010.
  3. O esforço de guerra britânico em compra de alianças, custos da interdição de exportações de lã para a Flandres, e outros desequilíbrios na balança comercial, pressionaria a necessidade de cobrir os défices com pagamentos em moeda metálica. Quanto mais valiosa fosse a moeda metálica, menos metal teria que ser exportado e menos caras seriam também as operações de transporte do metal precioso. Daí a necessidade de substituir a prata pelo ouro. Foi isso que os monarcas ingleses começaram a fazer, apesar das várias tentativas falhadas e resistência interna pouco depois de iniciado o ciclo de guerras que viria a ser conhecida por Guerra dos Cem Anos. Por causa dos óbvios efeitos inflacionistas causados por uma nova moeda forte —o mesmíssimo fenómeno que ocorreu entre nós com a introdução do euro— os preços subiram, incluindo, claro está, o preço do ouro! Datam de 1252 as primeiras tentativas (Gold penny) de introduzir moedas de ouro em Inglaterra, mas foi em 1334, isto é, três anos antes da primeira guerra entre ingleses e franceses, a chamada Edwardian War (1337-1360), que a primeira moeda de ouro começou efectivamente a circular em terras britânicas. Chamava-se Noble, teve 4 cunhagens e durou até ser substituído em 1465 pelo famoso Angel (1465-1663), que por sua vez daria lugar ao Guinea (1663-1813). Um Noble pesava 138,5 gr, entre 1344 e 1346; 128,5 gr, entre 1346 e 1351; 120 gr., entre 1351 e 1377. O impacto da guerra na necessidade de obter ouro não poderia ser mais evidente.
  4. Dois motivos principais aconselharam em 1373-1386 a aliança entre ingleses e portugueses: um foi o facto de o acesso ao ouro do Oriente e de África, essencial para suportar os custos da Guerra dos Cem Anos, depender do acesso ao Mediterrâneo, fosse para chegar ao Norte de África, fosse para caminhar em direcção ao Oriente por terra, o que implicaria a impossível autorização da França, com quem a Grã Bretanha iniciara uma grande guerra; o outro, foi o conhecimento de que o Golfo da Guiné, sobretudo no actual Gana, dispunha de grandes recursos em ouro e escravos —duas componentes imprescindíveis ao modelo de crescimento económico que se perfilava no horizonte. Ceuta fica em frente a Gibraltar, então sob soberania castelhana, pelo que são posicionamentos estratégicos no controlo das entradas e saídas do Mediterrâneo. Hoje Espanha controla (vamos a ver por mais quantos anos) a outrora praça forte portuguesa de Ceuta. Não é pois por acaso que o Reino Unido não larga Gibraltar desde que teve oportunidade de deitar-lhe mão, em 1704, no decurso da Guerra de Sucessão Espanhola. Poder-se-à perguntar porque é que os povos mediterrânicos se não aventuraram há mais tempo na exploração da costa atlântica de África, tendo deixado aos portugueses o privilégio da iniciativa. Por incrível que pareça há uma razão geológica de fundo: as correntes superficiais do Atlântico entram pelo Mediterrâneo adentro a uma velocidade de 3 nós, causando inúmeros perigos à navegação entre os dois mares, precisamente no socalco submarino existente ao longo de todo o estreito de Gibraltar. O Mediterrâneo é um mar quente que evapora mais depressa do que o Atlântico, ficando por isso e ciclicamente abaixo do nível deste. Pelo princípio dos vasos comunicantes o Atlântico é assim levado a invadir o Mediterrâneo com gigantescas massa de água deslocando-se a três milhas náuticas por hora — o que é muito, se considerarmos que as caravelas atingiam então velocidades médias inferiores a 12 milhas náuticas por hora.

Última actualização: 29 Agosto 2010

    quarta-feira, agosto 18, 2010

    A crise soberana europeia



    Dois pontos de vista interessantes sobre a crise das dívidas soberanas europeias. Ann Pettifor —The Coming First World Debt Crisis— e Lee C. Buchheit —The Dilemma of Odious Debts— apontam alguns aspectos críticos da actual crise financeira americana e europeia, cujas repercussões atingem profundamente toda a economia mundial.

    Ann Pettifor argumenta a favor do chamado estímulo fiscal à economia e a favor de mais investimento público, na minha opinião cometendo um erro básico sobre as causas do endividamento das nações ocidentais. Ao contrário do que sucedia na época de Keynes, as economias americana e europeias deixaram progressivamente, desde a década de 70, de criar a sua riqueza através do investimento produtivo. Na realidade caminharam desde então para o limbo rarefeito de uma economia de consumo, de investimento público —debt spending— e de especulação financeira cada vez mais sofisticada. A repetição da receita keynesiana só voltaria a dar resultados positivos se as economias americana e europeias regressassem à produção de bens tangíveis (hipótese improvável), em vez de prosseguirem o actual padrão de economias burocráticas assentes no consumo e no endividamento compulsivos.  Para regressar a Keynes seria de facto necessário interromper a correia económico-financeira da globalização. Será essa, no fundo, a sugestão implícita de Ann Pettifor?

    Lee C. Buchheit, pelo contrário, analisa de forma muito fina as implicações do plano de resgate da dívida grega, extraindo daí algumas sugestões analíticas particularmente estimulantes e instrutivas. O Plano A de reestruturação da dívida grega irá provavelmente falhar, e o Plano B, que pode desde já imaginar-se no horizonte, levanta curiosamente outras mas não menores perplexidades e ameaças.


    POST SCRIPTUM — Qualquer análise sobre a situação económico-financeira mundial deve ter em conta a profunda crise do modelo americano e as manobras de mitigação que os EUA vêm realizando em conjunto com o reino de piratas de sua majestade a rainha de Inglaterra. Entre essas manobras está a guerra desencadeada pelos banksters de Wall Street e pela generalidade das agências de notação e imprensa económica anglo-saxónica contra a moeda única europeia. Os ataques especulativos em curso contra as dívidas soberanas da Grécia, Espanha e Portugal são as frentes criminosas dessa manobra de diversão. Ao mesmo tempo que a guerra financeira contra a União Europeia prossegue sem sinais de abrandamento, crescem as ameaças militares dos falcões americanos e da AIPAC (o poderoso lóbi Sionista que financia/manipula ambos os partidos do Congresso americano) contra o Irão e contra a China! Duas enormes chantagens com um único objectivo: manter o dólar como moeda de reserva mundial; manter a tiro e a saque a supremacia de um império manifestamente falido.

    O artigo de Paul Craig Roberts publicado a 16 de Agosto pelo Global Research é bem elucidativo do que está em causa. As duas citações que se seguem tocam nos nervos principais da monumental crise que se desenrola perante um mundo atónito e sem aparente capacidade de reacção.

    The last Bush budget deficit (2008) was in the $400-500 billion range, about the size of the Chinese, Japanese, and OPEC trade surpluses with the US. Traditionally, these trade surpluses have been recycled to the US and finance the federal budget deficit. In 2009 and 2010 the federal deficit jumped to $1,400 billion, a back-to-back trillion dollar increase. There are not sufficient trade surpluses to finance a deficit this large. From where comes the money?

    (...) The Treasury was able to unload a lot of debt thanks to “the Greek crisis,” which the New York banksters and hedge funds multiplied into “the euro crisis.” The financial press served as a financing arm for the US Treasury by creating panic about European debt and the euro. Central banks and individuals who had taken refuge from the dollar in euros were panicked out of their euros, and they rushed into dollars by purchasing US Treasury debt.

    This movement from euros to dollars weakened the alternative reserve currency to the dollar, halted the dollar’s decline, and financed the massive US budget deficit a while longer.

    Possibly the game can be replayed with Spanish debt, Irish debt, and whatever unlucky country swept in by the thoughtless expansion of the European Union.

    But when no countries remain that can be destabilized by Wall Street investment banksters and hedge funds, what then finances the US budget deficit? — in The Ecstasy of Empire: How Close Is America’s Demise? Without a revolution, Americans are history. By Paul Craig Roberts.

    terça-feira, agosto 17, 2010

    Demitam o Almerindo!

    O senhor Almerindo Marques foi convidado um dia para salvar a RTP. E aceitou.

    Vejam como a RTP continua: o mesmo enorme buraco financeiro e um serviço público de péssima qualidade, que ainda por cima dá cabo das televisões privadas ao concorrer no mesmo terreno, realizando os mesmos concursos imbecis, produzindo do nosso bolso as mesmas telenovelas desmioladas, e transmitindo os principais jogos de futebol. Desta forma o serviço público de televisão, que é tudo menos um serviço estratégico da república (como deveria ser), disputa e perverte o mercado publicitário, licitando sempre acima das propostas da SIC e da TVI. Tudo e sempre com o nosso dinheiro (as famosas transferências), agravando diariamente o endividamento público suicida de Portugal. Como se o escândalo não fosse já um caso de polícia, ainda pagam melhor aos seus colaboradores, com os nossos impostos e com a dívida pública portuguesa sempre a crescer, claro, do que aos trabalhadores e contratados a recibo verde das televisões privadas.

    Depois do número da RTP voltaram a convidar o senhor Almerindo Marques, desta vez para tapar o escândalo da ex-Junta Autónoma das Estradas, cujos administradores se passeavam alegremente de Ferrari pelo país fora.

    Salvar o saco azul (agora roto) das Estradas de Portugal, onde o Bloco Central da Corrupção roubou tudo o que pode nos últimos 30 anos de democracia — ámen na CP, na Carris e no Metro— foi a missão impossível de que incumbiram o senhor Almerindo Marques.

    O resultado está à vista: uma empresa em bancarrota que transformou as autovias (não são autoestradas) sacadas de fundos comunitários que poderiam ter tido outra sorte, dos nossos impostos, e a cargo do endividamento público, com a promessa, isso sim, de que seriam estradas de boa qualidade, essenciais ao país, e "Sem Custos para o Utilizador (SCUT)".

    Pois bem, afinal serão estradas com portagens (se as conseguirem implementar....), e uma renda milionária para os piratas da Mota-Engil e que tais (até 2033!) Essa renda representará qualquer coisa como 2 mil milhões de euros por ano a partir de 2014, se as novas concessões forem efectivamente realizadas Ou seja, os portugueses terão que pagar através de portagens e impostos, aos piratas da Mota-Engil e que tais, qualquer coisa como duas novas pontes Vasco da Gama por ano!

    Em 2033, num país prisioneiro da sua descomunal e criminosa dívida pública, as autoestradas já muito deterioradas serão então entregues ao Estado. Ou seja, depois de levados à falência por um bando de piratas e de traidores, herdaremos um sistema rodoviário em ruínas, provavelmente insusceptível de recuperação.

    As Mota-Engis, Brisas e EDPs deste país à beira de se tornar mais um estado falhado, já são hoje empresas falidas ou a caminho da falência, pois não têm quaisquer hipóteses de continuar a especular nos mercados bolsistas como até agora fizeram, os respectivos negócios amadureceram e em breve apodrecerão, não tendo por isso quaisquer possibilidades reais de expansão interna ou no estrangeiro, além de terem já neste momento passivos acumulados e serviços de dívida impagáveis. O destino que em breve espera todos estes impérios clientelares é a respectiva absorção por empresas estrangeiras de muito maior dimensão, ou então, se houver ainda uma réstea de tino em Portugal, o regresso imediato dos sectores estratégicos da economia às mãos do Estado — como aliás acontece na China, país que acaba de ascender à posição de segunda economia mundial. E neste caso, deverá ser o Estado a construir e gerir a rede rodoviária nacional (como faz a Holanda, por exemplo), de acordo com o rendimento nacional disponível e não em função das perspectivas de especulação dos piratas que tomaram de assalto a democracia portuguesa, com a cumplicidade de todos os partidos parlamentares. Se assim viesse a ser as novas concessões rodoviárias seriam imediatamente canceladas, como é óbvio!

    Mas se os paspalhões do regime continuarem no estado de negação e parálise actual, protelando por cálculo eleitoral as decisões duras que urge tomar, o que virá será provavelmente isto:
    • Por cada nova aquisição de títulos da dívida pública portuguesa por parte do BCE, pois já nenhum privado os quer —para pagar os salários dos militares, polícias e demais funcionários públicos, deputados e ministros— os alemães e franceses, já para não falar dos espanhóis, nossos principais credores (a quem devemos mais de 260 mil milhões de euros!), exigirão algo em troca: os bancos e as maiores empresas portuguesas, depois o controlo de recursos estratégicos como a água, a energia eléctrica, as redes de transporte ferroviário e marítimo (portos), as futuras explorações offshore da plataforma continental portuguesa, etc.
    • Por cada novo empréstimo, até que um plano de resgate da bancarrota tome forma (chamar-lhe-ão qualquer coisa como Programa de Consolidação da Dívida Externa e Pública Portuguesa), o BCE desferirá mais uma machadada no inviável Estado Social que temos. Algumas serão até acertadas e virão na direcção de medidas que há muito recomendo: privatização completa de 90% do ensino universitário, aumento da idade da reforma para os 70 anos, encerramento imediato de todos os serviços redundantes da administração pública, equiparação imediata das remunerações dos administradores de empresas públicas às dos vencimentos dos secretários de Estado, fim de quaisquer isenções fiscais na banca e grandes empresas, introdução imediata da uni-dose nas receitas médicas, criação dum sistema nacional de saúde público, cooperativo e privado claramente identificado e transparente, etc. Outras, nem tanto, ou não fosse a Comissão Europeia e o BCE emanações neoliberais medíocres de uma Europa provavelmente sem futuro.
    As dívidas, essas, têm que ser pagas.

    POST SCRIPTUM: se nos dermos ao trabalho de revisitar a História de Portugal nos momentos em que, como agora, Portugal entrou em bancarrota, ficaremos a saber três coisas:
    1. Que as dívidas acabaram por ser pagas com graves prejuízos para a soberania e o desenvolvimento social e cultural do país;
    2. Que os regimes instalados estavam invariavelmente tolhidos pela corrupção e pela incompetência generalizada;
    3. E que, mais cedo ou mais tarde, as falências soberanas deram lugar, ou a revoltas, ou a guerras civis ou a golpes de Estado. O que neste caso impede a implosão imediata do actual regime demo-populista e partidocrata é tão simplesmente o BCE. Mas se a União Europeia fracassar no prazo de uma década, que sucederá em Portugal?

    segunda-feira, agosto 16, 2010

    O embuste do NAL em Alcochete

    Augusto Mateus publicou em tempos um estudo onde se pode ler que Beja iria ser um "centro de exportação de peixe". Está lá escrito. Beja está, como todos sabemos, às moscas há dois anos e 32 milhões de euros depois de o governo de Sócrates ter comprado as ideias do genial Mateus. Nenhum avião utiliza o aeroporto de Beja!

    Entretanto o mesmo Mateus, desta vez com a DHV, pariram mais um estudo enviesado para tentar justificar a destruição da Portela. Porquê?

    Porque para financiar a construção do Novo Aeroporto de Lisboa em Alcochete (NAL) são necessárias duas receitas:
    • A receita da privatização da ANA
    • E a receita dos terrenos da Portela
    As receitas geradas pelos terrenos da Portela serão sempre muito maiores do que as da privatização da ANA. Ou seja, sem destruir o actual aeroporto da Portela não haverá NAL em Alcochete nas próximas décadas. Isto apesar de o aeroporto da Portela ser um dos mais seguros do mundo, contra toda a aparência e especulação alarmista montada desde as afirmações bombásticas do ex-ministro João Cravinho, o tal que inventou as SCUTS que levarão Portugal à falência (entre outras barbaridades do género.)

    A empresa ANA gera mais ou menos 50 milhões de euros de lucro por ano. Assim sendo, os 40 anos de concessão previstos para o NAL nunca chegariam para pagar o novo aeroporto. É por isso que o boy do PS —Augusto Mateus— quer vender os terrenos da Portela à filha do senhor Stanley Ho, ou quaisquer outros especuladores imobiliários, certamente secundados pelas Ordens dos Arquitectos e dos Engenheiros.

    O modelo é o mesmo utilizado para construir a EXPO'98.

    Neste caso o neutralizado Porto de Lisboa foi forçado a doar à Parque Expo 5 milhões de metros quadrados. A Parque Expo recebeu terrenos a custo zero que mais tarde vendeu por milhares de milhões de euros à especulação imobiliária, deixando a Câmara de Lisboa a arder em dívidas!

    Se a Parque EXPO tivesse tido que pagar aqueles terrenos, o valor poderia ter chegado aos 7,5 mil milhões de euros.  É o que dá multiplicar 5 milhões de metros quadrados por 1500 euros (preço médio por metro quadrado dos terrenos para construção.)

    Ora bem, 40 anos de receitas da ANA, sem contar com a inflação (que é diminuta, pois entrámos num longa época de deflação), daria qualquer coisa como 2 mil milhões de euros. O que obviamente seria insuficiente para pagar a nova infraestrutura

    O dito estudo do genial boy Mateus e da DHV está pois viciado, partindo aliás de um pressuposto falso e usado sistematicamente para efeitos de contra-informação e propaganda: a saturação da Portela e a incapacidade de esta se transformar num hub aeroportuário.

    Na realidade a TAP pode ficar na Portela e montar aí o seu hub, ao mesmo tempo que as Low Cost, como a Ryanair e a easyJet, poderiam ir para o Montijo, na medida em que os voos Low Cost são deslocações destino a destino.

    A operação de propaganda do genial boy Mateus e da DHV, paga a peso de ouro, como é costume, omite de forma fraudulenta um dado crucial: a esmagadora maioria do tráfego aéreo de Lisboa, 82%, é realizado entre Lisboa e a União Europeia (Portugal+Ilhas+Europa.)

    Apenas 18% se destina às Américas, a África e ao resto do mundo!
    Do Brasil apenas 50% dos voos são de transferência, e de África nem chegam a 25%...

    Ou seja, no total estamos a falar de 750 mil passageiros em transferência (500 mil do Brasil + 250 mil de África) por ano. Estas operações podem ter perfeitamente lugar na Portela, pois já existem mangas suficientes para o efeito, que a TAP, inacreditavelmente, na maior parte das vezes, para poupar custos (estando-se nas tintas para os passageiros), nem sequer utiliza!

    Como se isto não bastasse para desmontar a propaganda sobre a saturação da Portela, veja-se o que sucede na recém alargada (et pour cause) placa de estacionamento da Portela: ocupada permanentemente por aviões da TAP. Ou seja, a TAP tem há vários meses aviões a mais para as encomendas.

    Por fim, ao adiar a transferência das Low Cost para o Montijo, a ANA tem vindo a empurrar mais rapidamente do que seria de esperar a TAP para a irremediável falência. Esta tem vindo assim a perder continuamente quota de mercado dos voos europeus para Ryanair e para a easyJet — em Faro, no Porto e em Lisboa!

    A teimosia da Ota, ou de Alcochete, apenas serve dois amos: a especulação imobiliária e a corrupção partidária que alimenta uma democracia que é cada menos nossa e cada vez mais dos partidos.

    A menos que os chineses, os brasileiros e os angolanos comprem a TAP e apostem na criação duma plataforma estratégica conjunta em Alcochete, não vejo nenhum argumento racional válido para dar crédito aos estudos enviesados, para não dizer idiotas, do boy Mateus.


    REFERÊNCIAS
    Diagrama do Aeroporto da Portela com as novas mangas (21)
    Reportagem TVI sobre a vigarice em volta da suposta saturação do Aeroporto da Portela

    Voto em branco

    Se o Bloco Central esgotou, como defendo, as suas virtualidades, e gera hoje uma inércia imobilista que apenas poderá levar Portugal ao desastre, de que vale o "voto útil" em qualquer dos dois partidos que conduziram o país à situação em que estamos?

    Cavaco e Alegre são partes do problema, e não da solução. O mesmo poderá dizer-se do PS e do PSD.

    Sendo os partidos minoritários com assento parlamentar igualmente solidários de um regime político atrofiado pela burocracia, pelas elites partidárias, pelas corporações e por uma dúzia de grandes empresas e bancos falidos, de que servirá votar em qualquer das alternativas partidárias disponíveis?

    Esta pergunta dá lugar a um fórum de discussão na página que O António Maria publica diariamente no Facebook. Aqui.

    sábado, agosto 14, 2010

    EDP e Iberdrola assassinas

    Museu do Côa. Foto: Camilo Rebelo & Tiago Pimentel

    EDP, Jun 2010
    Total do passivo = 29.883 milhões de euros
    Dívida Líquida = 16.108 milhões de euros


    Em breve a EDP e a Iberdrola estarão no papo de empresas maiores.
    Entretanto, os investimentos especulativos em barragens assassinas (Sabor, Tua, Fridão, etc.) e redes eólicas subsidiadas sem viabilidade comercial são meras fugas em frente da EDP e da espanhola Iberdrola para aumentarem artificial e ilusoriamente riquezas próprias meramente contabilísticas.

    As albufeiras das barragens não criam trabalho, não trazem turismo, interrompem os ciclos vitais de alimentação e retro-alimentação dos sistemas ecológicos (ar, terra, rio e mar) e por absoluta e inevitável negligência da EDP, Iberdrolas e quejandos, a que se somam os produtos químicos azotados (usados nomeadamente na vinha e nos pomares) que escorrem das margem alcantiladas para os rios, estão a promover a estagnação (eutrofização) das águas das albufeiras, ou seja, a sua morte e a morte do que nessas albufeiras ainda sobrevive.

    O programa de barragens actualmente em curso é pois um embuste ainda maior e mais criminoso do que o do felizmente derrotado Novo Aeroporto de Lisboa na Ota (do lunático Cravinho.) Maior até do que aquele que os socialistas e as boas consciências urbanas à época do ministro Manuel Maria Carrilho (hoje alto representante português na UNESCO — a entidade que precisamente vigia os patrimónios sensíveis e qualificados da humanidade) derrotou e bem a barragem do Côa. Aguardamos ansiosamente o veredicto da UNESCO e da ministra da cultura (que recentemente inaugurou o nado-morto Museu do Côa) sobre a conspiração da EDP e da Iberdrola.

    A energia prometida pelo pirata Sócrates, pelo cabotino Mexia e pelo vendido Pina Moura é negligenciável no cômputo energético nacional (+3% da energia eléctrica produzida)

    A energia eléctrica representa uma percentagem diminuta na nossa gravíssima dependência energética totalmente assente no consumo de combustíveis líquidos importados (petróleo e gás natural) e que em breve deixaremos de poder suportar, por absoluta falta de capacidade de endividamento.

    A intensidade energética da economia portuguesa é —escandalosamente— a mais elevada da UE27, e deve-se no essencial à aposta do Bloco Central do Betão na impermeabilização do país: obras públicas, sobretudo autoestradas e especulação imobiliária. Cavaco e Alegre são pois parte do desastre e não alternativas confiáveis!

    O modelo especulativo da economia portuguesa, que foi também responsável pela pandemia de corrupção que tolhe o país, está esgotado e só não mergulhou ainda Portugal numa guerra civil porque estamos a ser mantidos na Unidade de Cuidados Intensivos do BCE (até quando, alguém adivinha?)

    Só há uma solução capaz de mitigar os gravíssimos problemas da nossa economia: eficiência energética, eficiência económica, eficiência financeira, eficiência administrativa, eficiência politica e, acima de tudo, transparência democrática

    A clandestina corrida à água actualmente em curso sob o disfarce de putativas necessidades energéticas é uma conspiração potencialmente explosiva. Tem que ser abortada imediatamente!

    Se alguém pensa que vai aprisionar as águas do Norte do país, para privatizá-las a favor da EDP e depois vendê-la a preço de ouro a Lisboa e ao Alqueva desiluda-se. Antes mesmo de uma tal conspiração ser descoberta e desmontada haverá quem no Norte de Portugal impeça tamanho crime!


    ANEXOS
    1. EDP - resultados 
    2. Barragem do Tua: "Verdes" acusam EDP de não cumprir todas as imposições ambientais 12-08-2010 Bragança, 12 agosto (Lusa)

      O Partido Ecologista "Os Verdes" (PEV) acusou hoje a EDP de não ter cumprido todas as imposições relativas à barragem de Foz Tua, o que pode pôr em causa a classificação do Douro Vinhateiro como Património da Humanidade

      De acordo com a dirigente Manuela Cunha, o projeto vai "ter impactos na paisagem classificada" pelo que carece do parecer da UNESCO e da aprovação do IGESPAR, Instituto de Gestão do Património Arqueológico e Arquitectónico. Nem um nem outro constam, segundo disse, dos planos e estudos que a EDP teve de adicionar ao projeto para a conformidade com as imposições da Declaração de Impacto Ambiental (DIA), o chamado RECAPE - Relatório de Conformidade Ambiental.

      A DIA, emitida em maio de 2009, foi favorável à construção da barragem na foz do rio Tua com o Douro, em Trás-os-Montes, mas com a imposição de 12 condicionantes e 50 estudos e medidas.

      Depois de a EDP ter entregado à Agência Portuguesa do Ambiente (APA) toda a documentação exigida foi elaborado o RECAPE que esteve em discussão pública até 06 de agosto.

      O PEV fez chegar à APA a sua posição e alega ter detetado na consulta pública que "o Plano de Recuperação Ambiental e Integração Paisagística da zona afetada pela barragem não foi aprovado pelo IGESPAR e pela Direcção Regional de Cultura do Norte, tal como a DIA obrigava".

      Manuela Cunha refere ainda que "não existe, nem no estudo, nem no relatório técnico, nenhum documento que traduza um aparecer favorável da UNESCO, organismo ao qual o PEV já apresentou uma queixa sobre o que se está a passar no Tua. A dirigente reiterou que o Douro Vinhateiro pode ser desclassificado pela UNESCO "por a barragem influir com a zona de proteção à área classificada, na qual se aplicam a mesmas regras".

      "Os impactos paisagísticos são brutais. É o próprio estudo que reconhece", disse, apontando a central de produção de energia que abrangem três edifícios, um deles com 25 metros de altura, o equivalente a um prédio de sete andares, e 75 metros de comprimento. A dirigente do PEV alertou ainda para a ausência de um plano sobre as linhas de transporte de energia e os seus impactos no Douro Vinhateiro. O partido critica também as alternativas aos 16 quilómetros da Linha do Tua que vão ficar submersos propostas pela EDP num plano de mobilidade que classificou "uma obra de surrealismo completa".

      "Propostas que vão desde funiculares a elevadores agarrados à barragem (...) há dinheiro para tudo, menos para um canal alternativo ferroviário", observou. Contactada pela Lusa, a EDP respondeu por escrito apenas que "considera ter entregado os documentos pedidos na DIA". Antes do final de agosto não deverá haver uma decisão final sobre o RECAPE da barragem de Foz Tua, segundo disse à Lusa fonte da APA, que está agora a analisar as participações apresentadas durante o período de discussão pública para tomar uma decisão final. Se o RECAPE for aprovado, em outubro deverá ser celebrado o contrato de concessão definitiva entre o Governo e a EDP, que já abriu concurso público para a construção e espera começar as obras antes do final do ano. HFI

      *** Este texto foi escrito ao abrigo do novo Acordo Ortográfico*** Lusa/fim

    terça-feira, agosto 10, 2010

    A caminho da guerra total?

    Será que a contagem decrescente já começou?


    Os incidentes militares no Mediterrâneo, no Índico e no Mar da China multiplicam-se a um ritmo muito preocupante desde o assalto criminoso desencadeado a 5 de Junho passado pelo estado de Israel contra um navio civil que transportava ajuda humanitária à ilegalmente bloqueada Faixa de Gaza.

    As frotas de navios de guerra americanos (e da NATO) movimentam-se em direcção aos potenciais teatros do conflito: Mediterrâneo perto da fronteira entre o Líbano e Israel, estreito de Ormuz e Irão, estreito de Malaca, Vietname e Mar do Sul da China, península da Coreia e... Japão. As declarações ostensivas da diplomacia de Obama/Hilary Clinton fazem temer o pior, pois ninguém vê o Irão, e muito menos a China, recuar na defesa dos seus direitos de soberania e salvaguarda de interesses estratégicos.

    Estes interesses são aliás os mesmos que deram origem às duas primeiras guerras mundiais: garantir o acesso ao petróleo, minerais e alimentos do mundo. Ou seja, controlar manu militare o Médio Oriente, a Arábia, o Irão, o Iraque, o Mar Cáspio, a despensa brasileira e todos os caminhos de acesso a estas bases materiais da civilização saída de três revoluções industriais. Se a Europa do eixo Paris-Berlim, que criou a União Europeia, ameaça a hegemonia do dólar, há que pedir aos ingleses que ajudem a travar tais ambições, criando um pandemónio financeiro, nomeadamente a Sul. Se a Rússia pretende policiar o Mar Cáspio há que espalhar umas armadilhas nas suas fronteiras e pelo seu território dentro. Se a China cresce demasiado e quer redistribuir internamente um pouco do que criou, prejudicando o chulo americano, pois então há que mostrar-lhe os dentes. Mas poderá um império decadente levar até ao fim a sua agenda de loucura belicista? A história dos impérios mostra que não. Nalgum momento as elites americanas acabarão por compreender que será melhor recompor as suas estratégias de jogo, se não quiserem deitar tudo a perder. Todos, ou quase todos, acreditámos que essa mudança viria de Barack Obama. Mas a desilusão cresce neste momento entre os americanos, entre os aliados, e entre os adversários. O perigo é assim real e espreita toda a humanidade!

    Líder cubano antecipa guerra nuclear se os EUA e Israel atacarem o Irão

    O histórico líder cubano, que nunca foi substituído na chefia do Partido Comunista, avançou em passos lentos até à tribuna e leu a sua mensagem sobre o perigo de uma guerra nuclear . "Uma vez que o Irão não deverá ceder um centímetro nas negociações com os Estados Unidos e Israel, cabe ao presidente Obama, descendente de africanos e brancos, muçulmanos e cristãos, decidir sozinho se deve, ou não, lançar um ataque contra o Irão. Nesse caso, deverá estar preparado para a resposta violenta dos iranianos."

    Fidel disse estar ali para "dar a sua contribuição no sentido de dissuadir quem queira encetar uma guerra". E justificou: "A guerra não é um meio de defender um império. E Obama não é um Richard Nixon (37º presidente dos EUA, entre 1969 e 1974), que era um cínico, nem um Ronald Reagan (40º presidente dos EUA, entre 1981 e 1989), que era um ignorante total". Este apelo directo a Obama foi apenas a sequência lógica de um texto que Fidel já havia publicado na semana passada no site Cubadebate.cu. "Está na suas mãos oferecer à humanidade a única hipótese real de paz." — in Jornal de Notícias/HTS.

    Os estrategas americanos dividiram-se até agora entre a necessidade de limitar a expansão da China por vias pacíficas ou desencadear uma guerra preventiva antes que seja tarde — isto é, antes de 2015!

    Do ponto de vista económico-financeiro a América de Bush e Obama não poderia estar em pior situação: deve dinheiro a todo o mundo, paga com ficções electrónicas que a todo o momento poderão esfumar-se no vazio conceptual dum qualquer algoritmo monetário tornado obsoleto, deixou de produzir, está viciada no consumo de coisas inúteis, pensa cada vez menos e sofre de uma espécie de bulimia civilizacional: come demais e depois vomita as suas mais nobres e disseminadas convicções.

    Fala de paz mas conspira, provoca e mata gente inocente pelos quatros cantos do mundo, como qualquer terrorista vulgar. Quer sujeitar o planeta aos tratados internacionais, mas é a primeira potência (a par de Israel, claro) a ignorá-los. Quer punir o Irão pelo seu eventual desejo legítimo de produzir armas nucleares, sujeitando-o a um cerco ilegal e à ameaça de uma guerra nuclear (punitiva!), mas alimenta diariamente na região uma potência nuclear clandestina chamada Israel (1). Teme pela segurança mundial, mas foi o único país até à data que usou armas atómicas contra populações civis e nunca, que eu saiba, pediu desculpa ao Japão por semelhante holocausto. Pior ainda: ameaça reincidir!

    Perante este cenário aterrador, só há uma saída: trabalhar com o povo americano contra a insanidade dos seus dirigentes.

    Targeting Iran: Is the US Administration Planning a Nuclear Holocaust?

    The US and its allies are preparing to launch a nuclear war directed against Iran with devastating consequences. This military adventure in the real sense of the word threatens the future of humanity.

    While one can conceptualize the loss of life and destruction resulting from present-day wars including Iraq and Afghanistan, it is impossible to fully comprehend the devastation which might result  from a  Third World War, using "new technologies" and advanced weapons, until it occurs and becomes a reality. 

    The international community has endorsed nuclear war in the name of World Peace. "Making the World safer" is the justification for launching a military operation which could potentially result in a nuclear holocaust.

    But nuclear holocausts are not front page news!  In the words of Mordechai Vanunu,

    The Israeli government is preparing to use nuclear weapons in its next war with the Islamic world. Here where I live, people often talk of the Holocaust. But each and every nuclear bomb is a Holocaust in itself. It can kill, devastate cities, destroy entire peoples. (See interview with Mordechai Vanunu, December 2005).

    Realities are turned upside down. In a twisted logic, a "humanitarian war" using tactical nuclear weapons, which according to "expert scientific opinion" are "harmless to the surrounding civilian population" is upheld as a means to protecting Israel and the Western World from a nuclear attack.

    America's mini-nukes with an explosive capacity of up to six times a Hiroshima bomb are upheld by authoritative scientific opinion as a humanitarian bomb, whereas Iran's nonexistent nuclear weapons are branded as an indisputable threat to global security. — in Global Research/Michel Chossudovsky, August 9, 2010.


    Global Military Agenda: U.S. Expands Asian NATO To Contain And Confront China

    The U.S. ended the four-day Invincible Spirit joint military exercise with South Korea on July 28, which consisted of 20 warships and submarines, 200 aircraft and 8,000 troops "in the sea, shore and the skies" of South Korea and in the Sea of Japan near the coasts of North Korea and Russia.

    On the same day the Taiwan News ran a feature entitled "China reports: the US means to set up another NATO in Asia," which cited Chinese news media, scholars and analysts warning that "The US is establishing another 'NATO' in Asia to contain China as evidenced in the ongoing high-profile naval exercise with South Korea and a perceived intrusion in South China Sea affairs. [T]hese moves including explicit intervention in Asian affairs underline the US's schemes to challenge China over its growing presence in this area...." — in Global Research/ Rick Rozoff, August 7, 2010.

     A Pax Americana transformou-se numa guerra sem fim nem moral contra tudo e contra todos. Os Estados Unidos atacaram duas vezes o Iraque para lhes roubar literalmente o petróleo (e manter a Europa, excepto os ingleses, à margem!), destruindo alegremente um país com milhares de anos. A aliança pirata entre os Estados Unidos e a Inglaterra, depois de terem passado todo o século 20 a montar golpes de Estado no Irão, igualmente para lhes roubar petróleo e gás natural, pretende agora ensaiar uma guerra nuclear limitada contra o mesmo Irão, a pretexto de que os seus dirigentes actuais sonham com a possibilidade de montar de uma vez por todas um sistema de defesa estratégico que dissuada quem não tem qualquer intenção de deixá-los em paz. No Leste europeu inventaram uma série de revoluções coloridas com o único fito de dominarem os estados tampão da velha Rússia e os estados que rodeiam a rica região petrolífera do Cáspio, curto-circuitando assim os acessos da Europa, da Rússia e da China às fontes energéticas de que todos dependemos. Nos últimos meses, sem qualquer vergonha, lançaram o maior ataque de sempre ao sistema financeiro europeu, procurando virar europeus contra europeus, e sobretudo desvalorizar o euro. A manobra, que contou com a colaboração das agências de notação e especuladores orquestrados seguramente pela CIA (de que alguns políticos europeus altamente colocados serão, muito provavelmente, agentes infiltrados) não surtiu o efeito esperado. Soberanias falidas são efectivamente as que dependem da Casa Branca e do Palácio de Buckingham. E agora, como vai ser? Quem irá salvar os sistemas financeiros americano e britânico, hã?! O BCE não será certamente. Os árabes, duvido muito. Os chineses, depois das recentes provocações americanas no Mar da China, nem mortos! Quem pagará então as dívidas de Obama e da rainha de Inglaterra? O grande perigo para a paz mundial começa exactamente aqui.


    NOTAS
    1. A produção nuclear foi denunciada por um técnico israelita em 1986, Mordechai Vanunu (ou John Crossman), tendo-lhe a indiscrição custado uma pena de prisão de 18 anos e uma perseguição política sem fim à vista pelo estado de Israel.

      A opinião de Elaine Meinel sobre este assunto não deixa de ser eloquente:

      As I keep saying, there is zero reason for Iran to unilaterally disarm in light of Israel being fully armed and totally outside of all international treaties and regulations about nuclear arms.  The Jews love to scare Americans into thinking, Iran wants to bomb Israel.  Iran wants nukes just like any other sane nation: in a nuclear bomb world, this is the ONLY way to prevent an invasion or being bombed suddenly by nuclear powers!  Period.  The UN is totally useless for nations seeking protection from nuclear powers.  The Security Council IS a gang of nuclear thugs!  They control the UN and can veto any UN votes and do veto many UN votes.

      The cost/benefit is HUGE.  If Iran disarms and surrenders, their country will be torn to pieces by the US and Israel.  If they resist and win power to have both missiles and nukes, they get to join the ranks of protected powers, not weak victims.  Vanunu’s testimony is a godsend to the Iranians: they use this information every time the US tries to negotiate with them. They say, each time, ‘Yes, we will disarm but first, Israel must also disarm.’  Now, they have extended this to ‘The other nuclear powers must disarm.’

      They are totally correct here!  And frankly, most people on earth agree with them.  The US and other nuclear powers are totally happy with being armed to the teeth with many nukes because this means no one can invade or defy these powers.  This enables invasions, etc.  Of course, the downside is, non-nuclear bomb people can use other means to drive us mad, destroy our economic base and in general, make life hell for us. — in Culture Of Life News.

    sábado, julho 31, 2010

    Crises of Capitalism



    Um dos maiores obstáculos à compreensão do que nos rodeia tem origem não apenas nas cortinas de distorção mediática e ilusão impostas pelos verdadeiros conspiradores que mantêm o sistema, mas também na própria dificuldade intrínseca à exposição conceptual e narrativa dos problemas. David Harvey, um extraordinário intelectual, e Cognitive Media, conseguem-no de forma notável nesta inteligente e divertida simbiose. A união entre o conhecimento e a arte faz toda a diferença.

    Originalmente publicado pela REUTERS.

    quinta-feira, julho 29, 2010

    Marx e a América



    David Harvey é seguramente uma das vozes mais criativas do pensamento marxista actual. Vale a pena seguir cada uma das suas comunicações publicadas na Net. Por exemplo esta: The Urban Roots of the Fiscal Crisis — uma longa conferência especialmente esclarecedora das origens e consequências da actual crise sistémica global do Capitalismo na sua específica relação com o fenómeno da especulação imobiliária e a fuga do capitalismo avançado em direcção ao endividamento exponencial dos indivíduos, empresas e Estados.

    Em The Crisis Today: Marxism 2009, Harvey faz, no essencial, uma rápida mas incisiva excursão ao pensamento de Karl Marx tocando aspectos cruciais da actual fase de pré-colapso económico, financeiro, social e ambiental da humanidade.

    Curiosamente, o ponto central destas suas observações sobre o pensamento original de Marx é o da natureza ideológica intrínseca da tecnologia — que o filósofo alemão percebeu até ao âmago em pleno século 19.

    Aquilo que somos levados a perceber como consequência neutra do conhecimento desprendido é afinal um fato à medida da própria lógica intrínseca de um determinado sistema social. Daí a pergunta pertinente de Harvey: como seria hoje a nossa relação com a Natureza se em vez de uma sociedade capitalista em grave crise tivéssemos uma autêntica sociedade socialista? Harvey refere-se obviamente à sociedade socialista de Karl Marx, e não a nenhum dos regimes ditatoriais que abusaram deste nome:  leninistas, estalinistas, maoístas, ou os vários oportunistas social-democratas.

    À medida que as classes médias ocidentais forem sendo expropriadas dos seus bens, da possibilidade de trabalhar, dos direitos sociais conquistados, e sobretudo das ilusões e do imenso imaginário cultural que foram criando ao longo de mais de meio século de optimismo, começará muito provavelmente a acumular-se uma nova energia social —sobretudo urbana e suburbana—explosiva cujo desenlace só poderá ser o da transformação do capitalismo decadente actual noutra coisa qualquer.

    Acontece que as classes médias actuais são intelectualmente desenvolvidas e conhecem as tecnologias. Não vai ser portanto fácil ludibriar-las, nem sobretudo confrontar tais comunidades em nome do enriquecimento maníaco-depressivo das corruptas elites que governam as várias regiões do mundo.

    Stress tests: uma prova falsificada

    The Triumph of the Financial World's Lobbyists

    By Hans-Jürgen Schlamp in Brussels

    [...] As things currently stand, Greece, Ireland, Portugal and several other countries are so deeply indebted that it is difficult to even imagine how they could ever emerge from their debt spiral. The more public revenues they are forced to divert to paying off the interest on their loans, the less they have to pay for schools, streets, soldiers and social services - which in turn forces them to take on more debt. It is no longer unthinkable that an EU member state might go bankrupt. — Spiegel Online.

    A prova de esforço do euro foi uma monumental mistificação.

    Desde logo porque os bancos cobram juros usurários nos poucos empréstimos que "concedem", nomeadamente aos governos, com dinheiro público que lhes é emprestado pelo BCE!

    Pagam por este dinheitro público, largamente virtual, e por conseguinte inflacionista, 1,75%, tendo estado a inflação de Junho a 1,40%. Ou seja, recebem dinheiro praticamente gratuito dos bolsos dos contribuintes para posteriormente o emprestarem aos governos e aos mesmos contribuintes com juros usurários. Ou seja, estamos na presença de um dos maiores esbulhos de riqueza privada e pública de que há memória — em nome da salvação do nosso querido sistema financeiro.

    Quando alguém se atrasa no pagamento de um empréstimo, por exemplo sobre uma conta-ordenado, os juros de mora chegam a ultrapassar os 26%! É esta a explicação mais verosímil para os famosos lucros bancários em tempo de crise.

    Acontece, porém, que a espiral do endividamento soberano em boa parte dos países ocidentais vai dar como resultado, provavelmente já em 2011 ou 2012, a novo e mais catastrófico colapso financeiro, seguido de um agravamento da crise actual, a qual terá apenas algumas melhoras ligeiras nesta fase de alívio artificial.

    As minhas recomendações continuam pois a ser as mesmas desde 2007: fujam das dívidas a todo o custo, invistam em propriedades agrícolas com solos em bom estado, comprem ouro, deixem as periferias desprovidas de transportes públicos,  aproximem-se dos centros urbanos e, finalmente, participem activamente em redes profissionais e grupos de interesses específicos cujos assuntos dominem ou queiram conhecer melhor: energia, alimentação, transportes, voluntariado e solidariedade.

    Sacos azuis e horizontes eleitorais (2)

    Sem precisar o montante da dívida às empresas portuguesas, Eduardo dos Santos referiu-se à dívida geral angolana a empresas, de 6,8 mil milhões de dólares (5,2 mil milhões de euros), estimando que “30 por cento deste valor” seja referente às empresas portuguesas. — Público.

    O autarca de Gaia, naquele desvario intelectual que sempre o caracteriza, vangloriava-se, com se de feito próprio se tratasse, perante as câmaras do Mário Crespo (SCI-N), da verdadeira lança espetada por Cavaco Silva em África. O actual presidente da república teria garantido a sua reeleição nesta viagem africana, disse. Só não explicou como...

    Eu prevejo que seja assim: se as empresas portuguesas recuperarem os cerca de 1560 milhões de euros entalados em Angola, à conta da intermediação do senhor Cavavo Silva —presidente da república portuguesa— não me custa nada a crer que os empresários aliviados estejam dispostas a alargar os cordões à bolsa entre 1 e 3% da massa recuperada. É um preço justo pelo resgaste, não acham?

    Ora bem, pelas minhas contas, isso seriam qualquer coisa entre 15 e 46,8 milhões de euros.

    Não há almoços de borla. Nem em Belém?

    Sacos azuis e horizontes eleitorais

    PT confirma venda da Vivo à Telefónica por 7,5 mil milhões pagos em três tranches

    [...] A Portugal Telecom acordou com a Telefónica vender-lhe a sua posição na Vivo por 7,5 mil milhões de euros e vai fazê-lo em três tranches até Outubro de 2011.

    A primeira tranche, de 4,5 mil milhões de euros, será paga o mais tardar dentro de 60 dias. Mais mil milhões de euros chegarão à PT a 30 de Dezembro de 2010 e os restantes dois mil milhões até 31 de Outubro de 2011. — Jornal de Negócios.
    Em 11 de Maio de 2010 a Telefonica ofereceu 5700 milhões de euros pelos 50% da Brasilcel. Depois da ameaça iminente de uso da Golden Share por parte do governo a oferta foi subindo rapidamente até aos 7150 milhões de euros. Sócrates resolveu, como se esperava, accionar a Golden Share. A corda ficou a ponto de partir, mas era tudo a fingir.  Os espanhóis da Moncloa e da Zarzuela (espécie de Cavalo de Tróia dos americanos e ingleses na América do Sul, com o objectivo expresso de dificultar a emergência do Brasil) pagariam o que fosse preciso, e portanto pagaram a astronómica quantia de 7500 milhões de euros pelo controlo total da Vivo.

    As contas de chico-esperto feitas na SIC-N pelo autarca da cidade falida de Vila Nova de Gaia, a par dos seus elogios trapalhões à famigerada inocência de Sócrates seja lá no que for, revela à saciedade a fibra da criatura. Mas a verdade é outra.

    A pressão castelhana era uma pressão insistente há anos. O objectivo traçado pelas esferas políticas que controlam a "100% privada" Telefonica traduz claramente um dos vários movimentos estratégicos da política externa da Moncloa e da Zarzuela, isto é do PSOE e do PP, bem como do rei de Espanha: colaborar com o Reino Unido e com os Estados Unidos numa ampla manobra de contenção do Brasil e subsequente controlo do Atlântico, por cima dos interesses portugueses e dos resto da Europa — evidentemente. Para isso serviu a Cimeira das Lajes!

    Pois claro, Durão Barroso, e o agora titubeante passos de coelho (que tem andado numa roda vida de viagens a Espanha) são provavelmente peças duma mesma engrenagem de traição aos interesses históricos de Portugal.

    Creio que a Maçonaria e alguma gente patriótica deste país estará atenta a este jogo perigoso, de que a captura da própria economia e finanças portuguesas pelos piratas da Moncloa e da Zarzuela, vem emergindo de forma cada vez mais descarada e arrogante. A OPA da Telefonica foi um estrondoso e quase pornográfico exemplo do que opino.

    Entretanto, temo que a corja partidária do PS esteja neste momento concentrada apenas na comissão do negócio da Vivo. Não nos esqueçamos que o regateio rendeu 1 800 milhões de euros em apenas dois meses e meio!

    Se tomarmos como padrão de referência as percentagens usuais na intermediação imobiliária —entre 3% e 5%— podemos imaginar um saco azul para as próximas batalhas partidárias na ordem dos 54 a 90 milhões de euros. É tanto dinheiro que até daria para olear as finanças alquebradas das principais máquinas partidárias dos dois países ibéricos!

    Não há pequenos-almoços grátis.

    segunda-feira, julho 26, 2010

    O fiasco das SCUT

    Com custos elevadíssimos para todos nós!

    Uma concessão Scut (Sem Custo para o Utilizador é o que significa a sigla) é uma auto-estrada em que o pagamento da portagem é efectuado pelo Estado com o dinheiro dos contribuintes. O Estado entrega a construção, financiamento, exploração e manutenção da auto-estrada a um consórcio privado, pagando a este uma tarifa por cada veículo que circula nessa via.

    (... ) Os maiores beneficiários do sistema das PPP e das SCUT são as construtoras, bancos e sociedades de advogados. É um método que foi adoptado por países com dificuldades financeiras e que tem o grave risco de gerar forte endividamento, pois nunca é feito de acordo com o rendimento disponível. — Rui Rodrigues, Público (24 Jul 2010).

    O senhor ex-ministro do governo de António Guterres, João Cravinho, actualmente alto funcionário do Banco Europeu de Investimentos, foi pela certa, porventura involuntariamente, um dos mais desastrosos ministros de obras públicos que Portugal teve na história recente. Queixou-se e queixa-se, com motivo atendível, da corrupção. Mas a verdade é que comprou pelo menos duas ideias absolutamente desastrosas aos incompetentes ou agentes corruptos que o instruiram em áreas que desconhecia e continua a desconhecer de todo: a destruição do aeroporto da Portela a favor da especulação imobiliária e das depauperadas finanças da corrupta Câmara Municipal de Lisboa, que daria lugar ao embuste do aeroporto da Ota; e a virtual destruição da actual ligação ferroviária entre Lisboa e Braga, em nome de uma nova linha de alta velocidade a que deu prioridade sobre as obviamente essenciais ligações em bitola europeia para pessoas e mercadorias, entre as regiões de Lisboa e do Norte, a Espanha e ao centro da Europa.

    As SCUT não foram desenhadas como se desenham autoestradas. Mas sim, como os espanhóis desenham as suas chamadas autovías. Isto é, estradas de andamento rápido, mas com perfis menos exigentes do que os das autoestradas.  Os ângulos das curvas são mais fechados, os declives são mais acentuados, há um número de acessos e de saídas mais elevado, praticamente não têm nós de acesso e apresentam-se quase sempre sem vias de suplementares para a aceleração e a desaceleração das velocidades das viaturas que entram ou saem destas vias rápidas que não são, de facto, autoestradas. O custo da sua construção é pois muito menor, nomeadamente porque não comportam os caríssimos, em expropriações e obras, nós de acesso, ao mesmo tempo que permitem uma maior proximidade das povoações que ficam no seu alinhamento. Enquanto que as SCUT foram construídas sobre ou mesmo ao lado de antigas estradas nacionais e/ou municipais, distando 1 a 3 Km das povoações que quase atravessam, as saídas das autoestradas chegam a estar afastadas 15 Km das cidades e vilas!

    Ou seja, as autovias, ou vias rodoviárias rápidas, estão mais próximas das cidades e vilas, são menos caras de construir, e por tudo isto não têm portagens! Alterar as regras do jogo nesta altura é um embuste monumental.

    Os governos e os partidos parlamentares alinham em tudo isto porque sabem que levaram o país à falência. Mas pior do que isto, o verdadeiro escândalo das SCUT é este: o sector financeiro especulativo e as grandes empresas do Bloco Central da Construção Corrupção (BCCC) têm vindo a usar as grandes obras públicas como um estratagema de expropriação ilegal e criminosa da poupança pública e privada nacionais, usando os políticos como mandantes! É isto mesmo, com outras palavras, que o Tribunal de Contas tem vindo a denunciar perante a passividade da corja partidária.

    O resultado das SCUT, se não forem paradas, ou se não renacionalizarmos já a Brisa, vai ser este:
    • os encargos impostos ao Estado pela máfia da construção e da especulação financeira serão de tal modo gravosos que não restará aos governos outra solução que não passe pela subida paulatina do IVA, do IRS, do Imposto Automóvel e das portagens, ao mesmo tempo que eliminam um número crescente de benefícios sociais;
    • o IVA, por exemplo, estimo que chegue aos 25% antes de 2015;
    • finalmente, quando o barril do petróleo estabilizar acima dos 100 dólares, os preços dos cereais dispararem de forma consistente em consequência do aquecimento global (secas, falta de água e pragas), e o endividamento público atingir níveis incomportáveis e inadiáveis, as autoestradas esvaziar-se-ão, as receitas das portagens cairão a pique, e as Brisas deste mundo irão à falência, tendo então o Estado que nacionalizar todos os prejuízos acumulados e futuros!
    Se é fácil antever este cenário, porque esperamos para exigir do Estado a imediata renacionalização dos principais recursos vitais que hoje servem de plataforma especulativa para um bando de piratas viciados na corrupção e no crime?

    Demografia


    "[...] all governments, everywhere, are increasing taxes, and will continue to do so in the coming years. But most of them are denying that they are doing this. How can one hide raising taxes? There are multiple ways to do this."

    "Whose Taxes Are Going Up?", by Immanuel Wallerstein (LINK)

    A primeira coisa que há a fazer em Portugal é olhar para a demografia. O vórtice de qualquer política ajuizada ou desastrosa para os próximos 40 anos deve começar por aqui. Política fiscal, investimento público, sistema educativo, saúde e segurança social, sistemas de mobilidade e transportes, tudo deve ser analisado à luz dos horizontes demográficos que temos pela frente. E, claro está, não nos devemos deixar embalar pela mistificação populista permanente dos governos e respectivas oposições parlamentares. As suas declarações e estatísticas não têm passado ultimamente de engenharias da mentira. Somos nós, o povo, que devemos estar especialmente atentos e exigir que aqueles a quem pagamos os ordenados e as pensões vitalícias façam de forma séria o seu trabalho.

    POST SCRIPTUM — (26JUL2010) Chamaram a minha atenção para o programa Plano Inclinado deste Sábado. Não vi. A verdade é que o Medina Carreira se transformou numa maçada, demasiado repetitivo..... deixando de fora assuntos importantes...., e abusando dos convidados como mero pretexto para fazer passar a sua mensagem monocórdica.

    A classe política desqualificada é uma consequência, e não a principal causa da situação actual. No Canadá, Alemanha ou China, as coisas não são muito diferentes.... os amigos que por estas bandas tenho, ou os artigos que leio, afirmam e mostram exactamente a mesma deterioração das classes dirigentes...

    Os melhores emigram ou fazem revoluções! Por enquanto emigram; ou seja, além de vermos encolher a nossa população activa, esta perde qualidade a um ritmo muito preocupante.

    Soluções? É sobre isto que gostaria de me concentrar nesta segunda série do António Maria.

    domingo, julho 25, 2010

    Luis Amado

    O homem certo no lugar certo

    Seria bom que houvesse uma política externa estável, ou melhor que a "direita" e a "esquerda" portuguesas afinassem por um mesmo diapasão estratégico em matéria de diplomacia, nomeadamente energética e económica (e que deixássemos de parte o infantilismo oportunista da caldeirada ideológica que é o Bloco de Esquerda e dos órfãos comunistas do PCP). As nossas prioridades passam, como bem esclarece Luís Amado —numa importante entrevista dada ao Expresso deste fim-de-semana— por uma atitude cosmopolita, sem complexos de inferioridade, fazendo valer um património histórico muito relevante em tudo o que se reporta à ideia de globalização e cooperação internacional.

    Estou 100% de acordo com o desenho estratégico de Luís Amado.

    Prioridades: América do Sul (e América em geral), África (sobretudo Angola, Moçambique, São Tomé e Príncipe e Cabo Verde) e Ásia (China, Índia, Vietname, Malásia, ...) Isto e uma política de diálogo permanente com o mundo árabe muçulmano, distanciando-nos claramente da agenda Sionista, parece-me ser o essencial. Como dá a entender subtilmente Luís Amado, o ciclo dos fundos comunitários chegou ao fim. Os alemães voltam-se claramente para Leste, o nosso destino sempre foi o Atlântico, e os luteranos nunca nos compreenderão completamente. Ainda bem!

    Há umas semanas actualizei a minha visão do mapa da estratégia diplomática portuguesa. Ora vejam o que apontei no Mapa Google (usar todo o écrã).

    Gazeta do Dia

    Não sei se já repararam, mas o António Maria - Série II, contem funcionalidades novas e interessantes. Uma delas é a Gazeta do Dia, uma coluna de referências sindicadas que permite uma consulta sistemática sobre uma vasta gama de temas do dia a dia, a qualquer hora, e permanentemente actualizada. O idioma escolhido foi naturalmente o Português, e pretende-se saber o que se diz e escreve neste idioma —na maioria dos países que a têm como língua mãe. Resumindo: uma ajuda de leitura com propósito estratégico.