Mostrar mensagens com a etiqueta Eleições. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Eleições. Mostrar todas as mensagens

quinta-feira, julho 31, 2008

Portugal 36



2009: visão, lucidez e coragem - precisam-se!


"In December 2005, the Government [of Sweden] appointed a commission to draw up a comprehensive programme to reduce Sweden's dependence on oil. There were several reasons for this. The price of oil affects Sweden's growth and employment. Oil still plays a major role for peace and security throughout the world. There is a great potential for Swedish raw materials as alternatives to oil. But, above all, the extensive burning of fossil fuels threatens the living conditions of future generations. Climate change is a fact which we politicians must face. Broad and long-term political efforts are needed. -- Stockholm, 28 June 2006. Göran Persson, prime-minister, Commission on Oil Independence (Wikipedia).

O bloco central do betão, a preguiçosa, incompetente e corrupta burguesia de Estado, e sobretudo a nomenclatura partidário-corporativa que temos, alimentados todos pela generosidade adolescente da democracia portuguesa, levaram o país à ruína e a sociedade de volta à emigração. Por mais incrível que pareça, em vez de prendermos duas dúzias destas prejudiciais criaturas, toleramos alegremente que andem por aí exibindo sem vergonha os sinais exteriores de uma riqueza injustificável, como se fossem senadores de uma Roma debochada no fim dos seus dias. E são!

Os dados económicos miseráveis de Portugal são sobejamente conhecidos e nada têm que ver com a crise internacional, ao contrário do que arengam os vendedores governamentais e a laia de falsos jornalistas que tudo escrevem e dizem para manter o emprego. A catastrófica crise financeira internacional (1), que é sobretudo um sinal evidente da subalternização dos Estados Unidos, do Reino, da Austrália, da Nova Zelândia e da Zona Euro -- ou seja, dos países de consumidores ineficientes, pouco produtivos e sem recursos -- face aos países que produzem e/ou têm recursos, apenas veio precipitar a falência do nosso desmiolado e corrupto modelo económico.

A China por si só é responsável por 40% do recente acréscimo anual do consumo mundial de petróleo (2), pelo que depois das Olimpíadas veremos o preço do crude a subir de novo. Os países emergentes não dependem criticamente das exportações para manterem os seus elevados ritmos de crescimento, ao contrário do que alguns foram levados a crer. As suas demografias são mais do que suficientes para garantir taxas de crescimento anuais na ordem dos 6-10%. Tem pois absoluta razão Manuela Ferreira Leite quando avisa os portugueses que um Estado falido, tal como uma família falida, ou uma pessoa falida, não pode continuar a encomendar marisco como se nada se passasse. José Sócrates anda literalmente de mão estendida por esse mundo fora, mendigando liquidez: liquidez para o BCP, liquidez para a TAP (3), liquidez para o QREN!

Não o critico por isso, mas apenas por tal personagem ser cada vez menos primeiro ministro de Portugal, e cada vez mais o boneco atarantado da conspiração de ventríloquos apostados apenas em salvar-se a si próprios, afundando, se preciso for, o país. Note-se que esta conspiração promovida pelo bloco central dos interesses apenas estará ao lado de José Sócrates enquanto ele cumprir o guião histriónico que diariamente lhe põem nas mãos. No dia em que o actual primeiro ministro pensar um minuto na figura triste que anda a fazer, e der um murro na mesa em nome das aspirações socialistas que diz defender, verá como a turma cobarde que hoje move as baterias assassinas contra a sua adversária, Manuela Ferreira Leite, se voltará também contra si, sem dó nem piedade.

E no entanto, a aposta na prestidigitação política, como se a função de um primeiro ministro se pudesse confundir com a de um mero mestre de cerimónias, ou de um vendedor de produtos tecnológicos de duvidosa qualidade, vai levá-lo à derrota certa nas próximas eleições, apesar das sondagens actuais. Na apresentação do "Magalhães" -- um computador low cost da Intel, embrulhado em Portugal --, José Sócrates até imitou o Steve Jobs -- repararam? Ao que isto chegou!

As eleições de 2009 irão ser disputadas num ambiente de crise económica e instabilidade social grave ou muito grave. Quem falar verdade, sem subterfúgios, explicando claramente a causa das coisas, terá vantagem sobre quem quer que tenha andado com fantasias, não tendo por isso tomado as medidas apropriadas para mitigar os efeitos da crise. Mas tão importante como falar verdade, olhos nos olhos com os portugueses, é demonstrar coragem e firmeza na estancagem das pressões egoístas que atrofiam o país, contrapondo ao mesmo tempo uma visão para Portugal nos próximos 10 a 20 anos, sem ceder às métricas eleitorais, nem aos inúteis jogos florais em que o nosso inútil parlamento se especializou.

O que estava previsto fazer há três, cinco ou seis anos atrás viu caducar o prazo de validade, por razões óbvias:
  1. Portugal tem uma dívida pública e privada insustentável que inviabiliza a possibilidade de continuar a endividar-se em pseudo Parcerias Público Privadas, de que os negócios da Ponte Vasco da Gama e autoestradas SCUT são exemplos tristemente célebres;
  2. O alargamento da União Europeia veio enfraquecer a generosidade dos Fundos Comunitários, pelo que nenhuma das grandes obras públicas de que tanto se tem falado pode esperar de Bruxelas um apoio mais do que simbólico para a sua execução (não havendo, por outro lado, liquidez nos mercados financeiros para aventuras keynesianas improvisadas);
  3. O petróleo barato acabou de vez;
  4. A transição do paradigma energético vai ser longa, cara e dolorosa;
  5. A crise financeira internacional, que afecta sobretudo o Ocidente, é uma crise profunda e duradoura (20 anos, pelo menos...), tendo por origem um longo ciclo de energia e créditos baratos, do qual resultaram várias bolhas especulativas (algumas delas ainda por rebentar) e um extraordinario endividamento de países tão influentes como os Estados Unidos, o Reino Unido, a Austrália e a Espanha;
  6. O mundo está, por causa desta gravíssima situação, à beira de uma III Guerra Mundial. Se tiver juízo, evitá-la-à in extremis, por meio (proponho eu) de um Novo Tratado de Tordesilhas, através do qual o globo terrestre será dividido em duas metades com fronteiras aduaneiras claras, e a criação de zonas francas especiais como a Suiça, o Médio Oriente e os mares.
  7. Finalmente, as alterações climáticas exigem acção imediata e uma mudança radical de comportamentos económicos, sociais e culturais. Ver neste desafio inadiável uma oportunidade é seguramente uma forma positiva de ver os imensos problemas pelas frente, e de mobilizar as consciências, os recursos e a acção (4).



NOTAS
  1. New York Region - Governor Calls For Session On Fiscal Crisis
    By DANNY HAKIM. Published: July 30, 2008

    Gov. David A. Paterson of New York called on the Legislature to return next month to grapple with a budget deficit that will grow to $26.2 billion over the next three years.

    ... In his speech, the governor said taxes collected on 16 of the state's largest banks fell 97 percent between June 2007 and June 2008, to $5 million from $173 million. -- The New York Times.

    Australia faces worse crisis than America

    By Ambrose Evans-Pritchard, International Business Editor
    Last Updated: 6:39pm BST 29/07/2008

    The world's financial storm has swept through Australia and New Zealand this week amid mounting signs of contagion across the Pacific region.

    Australia now faces a worse crisis than America
    Many fear the economic party in Australia will end badly

    Financial shares were pummelled in Sydney on Tuesday after investor flight forced National Australia Bank (NAB) to slash a £400m bond sale by two thirds.

    The retreat comes days after the Melbourne lender shocked the markets by announcing a 90pc write-down on its £550m holdings of US mortgage debt, an admission that it AAA-rated securities are virtually worthless.

    In New Zealand, Guardian Trust said it was suspending withdrawals from its mortgage fund owing to "liquidity difficulties in the market".

    ... Hanover Finance - the country' third biggest operator - last week froze repayments to investors. The company said its "industry model has collapsed" as the housing market goes into a nose dive. Some 23 finance companies have gone bankrupt in New Zealand over the last year.

    It is now clear that the Antipodes are tipping into a serious downturn. Australia's NAB business confidence index fell to its lowest level in seventeen years in June. New Zealand's central bank began to cut interest rates last week on fears that the economy may have contracted in the second quarter, and is now entering recession. Housing starts slumped 20pc in June to the lowest since 1986. -- Telegraph.co .

    Merrill shocks Wall Street with $8.5bn share sale
    By Stephen Foley in New York
    Tuesday, 29 July 2008

    Merrill Lynch, the investment banking giant that has lost more than $40bn (£20.1bn) on its mortgage investments since the start of the credit crisis, shocked Wall Street last night with plans to raise $8.5bn in new shares.

    As part of a sweeping financial restructuring, the company is dumping most of its remaining holdings in risky mortgage derivatives and tapping the Singapore government for an emergency $3.4bn cash infusion.

    ... A portfolio of mortgage derivatives known as collateralised debt obligations (CDOs) that Merrill had valued at $11.1bn as recently as a fortnight ago, were offloaded last night for $6.7bn. Before the credit crisis struck, that portfolio had been worth $30bn. -- The Independent.

    Cortefiel's LBO Loans Signal European Retail Defaults

    If there is any doubt European shoppers are following their U.S. counterparts into a recession, look no further than retailers' debt.

    Chain stores, led by Madrid-based Cortefiel SA and Fat Face Ltd. in London, are the worst performers among the region's 140 billion euros ($220 billion) of leveraged-buyout loans, according to Markit Group Ltd. and Standard & Poor's data. The Spanish company's 1.4 billion euros of loans are trading at less than half of face value, the lowest for a European company that hasn't defaulted, data from Frankfurt-based Dresdner Kleinwort show. -- Bloomberg.

    Sovereign funds cut exposure to weak dollar
    By Henny Sender in New York
    Published: July 16 2008 22:35 | Last updated: July 16 2008 23:24

    Some of the world’s largest sovereign wealth funds are seeking to scale back their exposure to the US dollar in a sign of global concern about the currency.

    One big sovereign fund in the Gulf has cut its dollar-denominated holdings from more than 80 per cent a year ago to less than 60 per cent, while China's State Administration of Foreign Exchange (SAFE) has been looking to strike deals with private equity firms in Europe as a part of a strategy to reduce its dollar holdings. -- Finantial Times.

    European Banks May Need EU90 Billion, Goldman Says
    By Alexis Xydias and Ambereen Choudhury

    July 4 (Bloomberg) -- European banks may need to raise as much as 90 billion euros ($141 billion) to restore their capital after the U.S. subprime mortgage collapse caused credit markets to seize up, according to Goldman Sachs Group Inc.

    ... The European banks Goldman tracks have lost $900 billion of their market value since the credit crisis began last year. Anshu Jain, head of global markets at Deutsche Bank AG, said this week that that contagion is "by no means over," and Europe's banks have lagged behind the U.S. in raising money from investors.

    ... Goldman's analysts said in their report that "access to liquidity, capital adequacy and post-crisis profitability are the key areas of near to medium-term uncertainty" for European banks.

    Global financial stocks have led declines that wiped about $11 trillion from equity markets worldwide this year. Credit-related losses, surging oil prices and rising inflation have also stoked concern policy makers will have to raise borrowing costs as the global economy slows.

    LBO Defaults May Rise as About $500 Billion Comes Due
    By Neil Unmack

    July 4 (Bloomberg) -- Leveraged-buyout loan defaults may be "significantly higher" than ratings companies' estimates as about $500 billion of debt used to fund the takeovers comes due, the Bank for International Settlements said.

    Companies bought by private-equity firms worldwide must repay the high-risk, high-yield loans and bonds by 2010, the Basel, Switzerland-based bank said in a report today, citing Fitch Ratings data. They may find it hard to raise the cash because of a slump in demand for collateralized debt obligations that pool the loans, BIS said.

  2. China's Cars, Accelerating A Global Demand for Fuel

    "In China, size matters," says Zhang, the 44-year-old founder of a media and graphic design company. "People want to have a car that shows off their status in society. No one wants to buy small." -- 27-07-2008, Washington Post.

  3. British Airways and Iberia bow to economic and strategic necessity

    THERE is nothing like high oil prices, it would seem, to free a European airline from protective national sentiment. Late last year British Airways (BA) backed away from a bid it had made with four private-equity firms for Iberia, Spain's flag carrier, after Caja Madrid, a Spanish bank with government connections, bought a large defensive stake. On Tuesday July 29th, with the price of oil up 25% and BA and Iberia shares down 25% and 37% respectively, the two firms said they were in talks about an all-share merger. Both companies’ boards support the deal, as does Caja Madrid.

    ... In July Martin Broughton, BA's chairman, said the firm faced "perhaps the biggest crisis the aviation industry has ever known". As well as soaring fuel costs, airlines are bracing themselves for weakening consumer demand. Cost savings and revenue gains from a merger will help BA and Iberia mitigate the pain. -- Economist.

    Comentário: a TAP não tem condições para sobreviver à crise petrolífera, sobretudo depois da inconclusiva viagem da José Sócrates a Luanda, de onde Fernando Pinto não conseguiu, ao que parece, nem emprego! A solução da TAP passará irremediavelmente por uma fusão com outras companhias de aviação. Falhada a hipótese de promover uma companhia intercontinental de média dimensão, com um perfil estratégico claramente atlantista, i.e envolvendo países como Portugal, Angola, Cabo Verde, Brasil e Venezuela, por exemplo, parece-me que a única direcção consistente a tomar é a de bater à porta da BA e da Ibéria. O timing para uma decisão vantajosa está rapidamente a esgotar-se. Não creio que possa ir além do próximo Inverno.

    Ler a propósito: "A TAP e as Low Cost", de Rui Rodrigues: "A única forma de dar vantagens competitivas à TAP seria através da utilização de uma base para as Low Cost fora da Portela; caso contrário, a situação económica da transportadora nacional agravar-se-á ainda mais, pois já teve um prejuízo de 123 milhões de euros, no primeiro semestre de 2008." -- Público.

  4. The case for investing in energy productivity
    McKinsey Global Institute, February 2008

    Unless there is a shift in world energy policies, global energy demand is set to accelerate, putting increasing strain on the world economy and the environment. Yet additional annual investments in energy productivity of $170 billion through 2020 could cut global energy demand growth by at least half--the equivalent of 64 million barrels of oil a day or almost one and a half times today's entire U.S. energy consumption.

    MGI research suggests that the economics of investing in energy productivity--the level of output we achieve from the energy we consume--are very attractive. With an average internal rate of return of 17 percent, such investments would generate energy savings ramping up to $900 billion annually by 2020. Energy productivity is also the most cost-effective way to reduce global emissions of greenhouse gases (GHG). Capturing the energy productivity opportunity could deliver up to half of the abatement of global GHG required to cap the long-term concentration of GHG in the atmosphere to 450--550 parts per million--a level experts say will be necessary to prevent the mean temperature from increasing by more than two degrees centigrade. Moreover, the opportunities to boost energy productivity use existing technologies that pay for themselves and therefore free up resources for investment or consumption elsewhere.

    ... The International Energy Agency (IEA) estimates that on average, an additional $1 spent on more efficient electrical equipment, appliances, and buildings avoids more than $2 in investment in ekectricity supply. As Chevron CEO David O'Reilly recently pointed out, energy efficiency is the cheapest form of new energy we have."


    Will Soaring Transport Costs Reverse Globalization?
    By Jeff Rubin and Benjamin Tal, CIBC World Markets Inc. (PDF)

    While there remains a strong imperative in the world economy to arbitrage wage costs, the arbitrage will increasingly take place within the constraints imposed by soaring transport costs. Instead of finding cheap labor half-way around the world, the key will be to find the cheapest labor force within reasonable shipping distance to your market.

    Compare, for example, how relative transport costs have recently changed between the Pacific Rim and Mexico. If in 2000 American importers paid 90% more to ship goods from East Asia to the US east coast, today they pay 150% more, and when oil prices reach $200 per barrel, they will pay three times the amount it costs to ship the same container from Mexico. To put things in perspective, today's extra shipping cost from East Asia is the equivalent of imposing a 9% tariff on East Asian goods entering the US. And at oil prices of $200, the tariff-equivalent rate will rise to 15%.


    CREATE3S

    Short-sea shipping volumes are expected to increase by 50% between 2000 and 2020. Since 40% of the current fleet is older than 25 years, short-sea shipping needs a new generation of innovative ships to meet this potential market. These ships need enhanced economic, safety and ecological performance, fitting into future innovative logistic chains and providing a major role for EU shipbuilders. -- Transport Research.


OAM 400 31-07-2008 03:40

segunda-feira, julho 16, 2007

Por Lisboa 10

O Corvo. Imagem apócrifa encontrada na Net.

O Corvo

Encontrei esta imagem irresistível quando procurava uma ilustração para a vitória de António Costa nas eleições intercalares para a Câmara Municipal de Lisboa, que hoje (15-07-2007) tiveram lugar. Os resultados confirmam a tendência irreversível para a exaustão do actual sistema partidário, se não mesmo do regime de representação social consagrado pela nossa Constituição. Os "socialistas" António Costa, José Sócrates e Almeida Santos, na arena institucional, e Jorge Coelho, da tribuna opinocrata da nossa cada vez mais idiota endogamia mediática (não ouvi o António Vitorino da Brisa), congratularam-se com a extraordinária vitória do PS. Disseram que foi coisa nunca vista no Largo do Rato há mais de trinta anos, imagine-se! Mas não houve mais de 60% de abstenções? Desde quando 29,54% dos votos (menos 17 mil do que Manuel Maria Carrilho nas autárquicas de 2005) são maioria que se apregoe? Não teve o PS, em Lisboa, nas últimas legislativas, mais de 40% das preferências? Não insistiu o candidato governamental, durante toda a campanha, que queria a maioria absoluta?! Vai, assim, o alcaide que se segue, poder limpar as paredes de Lisboa, como promete, sem pedir licença ao Carmona Rodrigues e a Helena Roseta? Ou será que vai aceitar a passadeira vermelha (do desespero) que na própria noite eleitoral lhe foi estendida pelo secretário-geral do PCP, em nome da almejada governabilidade da cidade? O Manuel Salgado não andou a formar cooperativas de risco, no tempo em que rezava por Catarina, para nada. O país sempre foi pequeno e há gajos porreiros em todo o lado. Ressuscitar a frente popular municipal, eis a proposta do PCP ao PS, em nome do salve-se quem puder que aí vem com o desabar da monumental crise sistémica mundial decorrente da insustentável irracionalidade económica do planeta e em particular da sua principal potência imperial, os Estados Unidos. Entretanto, há que dar andamento aos negócios urgentes... não é Dr. Almeida Santos?

Entre as 10 primeiras medidas anunciadas por António Costa, não há uma única que revele coragem política, capacidade de decidir e muito menos visão estratégica. Corajoso seria ter dito que acabaria com os automóveis em cima dos passeios no prazo de dois ou três meses (é que nem em Marrocos tal anacronismo ocorre!). Exemplo de capacidade de decisão seria ter anunciado a reestruturação dos serviços camarários, a qual passaria inevitavelmente pela extinção de arcaísmos e gabinetes inúteis. Prova de visão política seria ter anunciado que os problemas de Lisboa só podem ser pensados e resolvidos à escala da região de que é a principal atractora, e que, por conseguinte, proporia a todos os municípios da região dos grandes estuários a criação de uma comunidade metropolitana sustentável, capaz de enfrentar os tremendos desafios deste século. Mas não, o homem do aparelho partidário preferiu, previsivelmente, a demagogia: livrar as paredes de Lisboa de cartazes (como se não fosse primeiro preciso livrar a cidade do excesso de publicidade!), retomar a jardinagem nos cemitérios (a campanha já acabou, homem!), reunir com todas as Juntas de Freguesia (ora aí está uma boa ideia, que a oposição pode e deve seguir e prosseguir, assim que António Costa tiver esgotado a primeira ronda de visitas protocolares...), etc...

O centro-direita e a direita, por sua vez, chegam ao fim desta prova eleitoral, à beira de um ataque de nervos. Tal como escrevi há vários meses, nem a esquerda, nem a direita resistirão por muito mais tempo à necessidade urgente de proceder a cisões e reconstituições partidárias mais ou menos canalhas. O CDS-PP acabou para Paulo Portas, ao passo que Santana Lopes acabou para o PSD. Farão estes dois, dois novos partidos? Juntar-se-ão num só? Uma coisa parece certa: Marques Mendes vai mesmo clarificar a situação interna no PSD, pois disso depende a sua sobrevivência à frente do partido, e mais do que isso, depende a própria possibilidade de o PSD derrotar o exausto governo de José Sócrates em 2009.

O "bloco central" chegou ao fim (aleluia!). Cavaco nem sequer precisa de apressar o desenlace deste longo e, enquanto houve fundos comunitários, profícuo consórcio. A presidencialização do regime, cada vez mais plausível e desejada, nascerá do parto natural proporcionado pela implosão do actual regime político. A direita está em pleno processo de decomposição. A esquerda no poder, PS, PCP e BE, seguir-lhe-à os passos à medida que os resultados eleitorais forem sendo esclarecedores, como o foram hoje, sobretudo para a direita. O exemplo de Sarkozy fará o seu caminho na Europa mais cedo do que alguns temem.

Pela sua excentricidade, deixemos de lado o caso Carmona Rodrigues, e concentremo-nos em Helena Roseta e no que os seus excelentes resultados eleitorais significam ou podem vir a significar no processo de revisão democrática em curso.

Em primeiro lugar, deve dizer-se que a sua candidatura, tal como antes a candidatura de Manuel Alegre às últimas presidenciais, significa que o Partido Socialista, e em particular o respectivo eleitorado, se encontra profundamente dividido, económica, política e culturalmente. A actual direcção Sócrates e a clique que a inventou traduzem, no essencial, a capitulação do principal partido da esquerda portuguesa aos interesses mais insensíveis e especulativos do capitalismo. Quanto mais claras forem as reais intenções desta comprovadamente reaccionária "terceira via" socialista, quanto mais penalizantes se tornarem as consequências da sua subserviência ao poder do dinheiro, e quanto mais acríticas forem as eminências pardas que iluminam o senhor Sócrates, mais o eleitorado socialista clamará por alternativas credíveis ao descalabro em curso e votará contra o PS.

Em segundo lugar, os casos Roseta, tal como antes, Alegre e José Sá Fernandes, revelam a existência de um eleitorado de tipo novo, versátil, inteligente e dotado de grande mobilidade táctica. Trata-se de um verdadeiro rizoma cultural nascido no interior das novas redes sociais de matriz tecnológica e informacional, inter-geracional, urbano, instruído, ideologicamente multifacetado, que escapa completamente ao controlo dos partidos políticos e que tem efectiva capacidade de influenciar crescentemente as agendas políticas nacionais e internacionais. Os casos mais recentes em Portugal são os que todavia prosseguem e estão relacionados com o embuste da Ota, a mistificação académica do Primeiro Ministro e a emergência de um rizoma local espontâneo capaz de desconstruir de forma absolutamente lapidar a farsa político-partidária que teve lugar no governo da capital do país ao longo dos últimos meses.

Em terceiro lugar, e por último, diria que o caminho da Helena Roseta não será fácil. As pressões do regime para que regresse ao rebanho da democracia doente serão fortíssimas e tentadoras. Se cair nessa tentação sucumbirá ainda mais depressa que o Zé do Bloco (pois não haverá nenhum bloco que a salve em tal contingência.) Se prosseguir Por Lisboa (Pelo Porto, Por Coimbra, Por Setúbal, Por Braga...), terá diante de si dois caminhos: ou avançar paulatinamente para a criação dum novo partido, a pedido de um número rapidamente crescente de votantes descontentes com o PS, ou ousar manter-se activa no rizoma que pretende refundar a democracia económica deste país, como garantia futura de liberdade e solidariedade orgânica - um caminho por descobrir, mas de que provavelmente dependerá verdadeiramente o nosso futuro enquanto nação e parceiro comunitário de corpo inteiro.

A figura de António Costa é-me simpática, como a muita gente. Creio mesmo que esta sua eleição o coloca numa boa rampa de lançamento para voos mais altos no PS. Faz-me lembrar o último corvo de Lisboa, que vivia no Martim Moniz, fascinando e assustando os transeuntes com os seus movimentos desajeitados. Prefiro os corvos aos ratos-pombas que empestam a capital. Desejar-lhe boa sorte, como é de boa educação e desejo sincero, não muda o essencial das minhas expectativas. Creio que o candidato, agora presidente, tem um mandato estrito nas mãos: expandir o poder governamental para lá dos limites aceitáveis de tolerância. E isso é mau para Lisboa e péssimo para a democracia. Esta entrou num período delicado de reajustamento estrutural, a que deverá seguir-se, se as coisas correrem bem, uma saudável mudança de pele institucional. Os actuais partidos e o próprio regime constitucional envelheceram de mais, dando provas sucessivas de impotência legislativa e executiva, representando de forma cada vez mais deficiente o país. Temos que mudar. As 10 medidas imediatas de António Costa nada auguram de entusiasmante.

Li ontem um artigo magnífico de Richard C. Cook sobre a necessidade de refundar a democracia económica nos Estados Unidos. Deixo, à laia de nota de rodapé, um extracto do mesmo, como que a recordar que não podemos mais continuar a confundir a vida com o umbigo.

"The U.S. and world economies are on the brink of collapse due to the lunacy of the financial system, not because we can't produce enough.

"As many responsible commentators are warning, we are likely to see major financial shocks within the next few months. The warnings are even coming from high-flying institutional players like the Bank of International Settlements and the International Monetary Fund.

"We may even be seeing the end of an era when the financiers ruled the world. At a certain point, governments or their military and bureaucratic establishments are likely to stop being passive spectators to the onrushing disorder. It is already happening in Russia and elsewhere.

"The countries that will be least able to master their own destiny are those like the U.S. where governments have been most passive to economic decomposition from actions of their financial sectors. The financiers are the ones who for the last generation have benefited most from economies marked by privatization, deregulation, and speculation, but that may be about to change. Whether the change will be constructive or catastrophic is yet to be seen.

"Fundamental monetary reform implemented to restore economic democracy is what America's real task should be for the twenty-first century. One thing is for certain. The out-of-control financial system that has wrecked the U.S. and world economies over the last generation cannot be allowed to continue.

How the outcome will play out may well depend on whether there is a Jefferson, Lincoln, or Roosevelt waiting in the wings. The success of each of these great leaders was due to one critical factor: their ability to implement monetary reform at a time of national emergency."

- in The Crashing U.S. Economy Held Hostage
Our Economy is on an Artificial Life-support System
, by Richard C. Cook

Richard C. Cook is the author of "We Hold These Truths: The Hope of Monetary Reform," scheduled to appear by September 1, 2007. A retired federal analyst, his career included service with the U.S. Civil Service Commission, the Food and Drug Administration, the Carter White House, and NASA, followed by twenty-one years with the U.S. Treasury Department.

Global Research, July 7, 2007


OAM #223 15-16 JUL 2007

quarta-feira, junho 20, 2007

Por Lisboa 9

Martin Heemskerck -- Jardins Suspensos da Babilónia, gravura, séc. XVI.

Os jardins suspensos do delirante Costa da Portela

Teve lugar na SIC o primeiro debate televisivo entre os principais candidatos à Câmara Municipal de Lisboa. Estiveram presentes os 7 magníficos, quer dizer, aqueles que as sondagens afirmam terem grandes possibilidades de ser eleitos. Os demais candidatos, como o eterno Garcia Pereira, o candidato do Partido da Terra (sem o qual não haveria nem Roseta, nem Carmona nestas eleições...) ficaram à porta da antiga central eléctrica de Belém, reclamando e exibindo cartazes. Uma injustiça compreensível a que os pequenos candidatos têm que se habituar fazendo da respectiva pequenez eleitoral uma boa oportunidade para demonstrarem a sua criatividade e potencial histriónico. Infelizmente não tiveram graça nenhuma.

Comentário:

1) Organização do debate: boa (a Ana Lourenço tem vindo a subir rapidamente desde que opera a solo :-)
2) Qualidade do debate: civilizado, pouco esclarecedor e sem nenhuma visão de futuro... numa altura em que a presidência alemã da UE acaba de lançar um importantíssimo desafio para o renascimento das cidades europeias, plasmado na Carta de Leipzig
3) Melhores prestações: Helena Roseta (pela novidade do discurso)
4) Prestações medianas: António Costa, José Sá Fernandes e Ruben de Carvalho
5) Prestação desamparada: Carmona Rodrigues (continua a ter uma figura simpática e continuo a achar que lhe comprava uma Harley em segunda mão :-)
6) Piores prestações: Telmo Correia (demagógica, superficial e direitinha) e Fernando Negrão (amador)

Palpites:

O Costa pode descer; a Helena pode subir; o Carmona pode subir; o Negrão e os outros vão descer.

Hilariante:

A proposta de António Costa para transformar a Portela num novo pulmão verde da capital. Como?! Só de for depois de ali se gastarem, nos próximos 5 anos, os previstos 400 milhões de euros com a ampliação do actual aeroporto! Quem lhe deu ideia tão peregrina? O arquitecto-mor Manuel Salgado? Ora vejamos: toda a gente sabe que o modelo de financiamento do embuste da Ota passava por duas coisinhas muito feias e ilegítimas: privatizar a ANA e dar os terrenos da Portela como garantia bancária a favor de quem ganhasse o concurso de projecto, construção e exploração da futura estrutura aeroportuária. Foi assim que o lóbi da Ota cozinhou o estratagema da maior operação de delapidação do bem público de que há memória neste país. Mas para que esta estratégia se saísse bem, seria necessário o governo Sócrates conquistar a CML, com maioria, para depois fazer passar a cedência, sem discussão, nem contrapartidas, dos 640 hectares da Portela para as mãozinhas do consórcio que viesse a ganhar o negócio furado do NAL na Ota. É por estas e por outras que a conspiração que levou à queda do Carmona parece uma história mal contada... apesar das assessorias detectivescas do sacristão Sá Fernandes.

Resumindo, como é que o Costa poderia alguma vez prometer transformar a Portela num novo pulmão verde da capital, se a coisa estava destinada a financiar a operação da Ota?! Só se fosse transformando a Portela na zona luxuosa da Alta de Lisboa, numa nova Babilónia da Europa, com uns imensos Jardins Suspensos, por onde os indígenas da Baixa, das Avenidas Novas e da Expo poderiam passear ao domingo munidos de um passe especial. A continuar assim, o Costa da Portela corre sérios riscos de obter uma votação pífia. A Helena que anote o facto, não se deixe encantar pela simpatia do ministro, e que batalhe pela presidência da autarquia de Lisboa a sério!

OAM #219 20 JUN 2007

sábado, junho 09, 2007

Por Lisboa 8

Engarrafamento numa autoestrada
Engarrafamento causado por um acidente, Algarve, Portugal. Osvaldo Gago. CC

O renascimento de Lisboa (2)

7 questões essenciais para os candidatos à autarquia

No primeiro post sobre este tema abordei as seguintes questões:

1) Portugal e a cidade de Lisboa encontram-se numa situação de estagnação demográfica grave.

2) O número de casas novas por vender na capital e na Grande Lisboa (cerca de 120 mil) cobre provavelmente as necessidades efectivas de habitação da Região de Lisboa e Vale do Tejo até 2050!

Vamos agora aflorar a questão seguinte:

3) Entram diariamente em Lisboa mais de 400 mil veículos automóveis. Boa parte deste tráfego atravessa as zonas históricas da capital (Baixa) em direcção a outros pontos da cidade. Dezenas de milhar de automóveis estacionam em cima dos passeios, dos canteiros privados e municipais, nas esquinas dos cruzamentos e em segunda fila. Como resolver este problema?

Dada a estagnação demográfica da região e a relativa imobilidade residencial decorrente das hipotecas imobiliárias, é de prever que apenas as camadas sociais de mais elevados rendimentos estarão em condições de se aproximarem, sem grandes perdas, dos centros urbanos que vierem a requalificar-se convenientemente nos próximos dez anos. Só tais segmentos da sociedade estarão em condições de adquirir uma segunda habitação, ou de perder rendimento na troca de uma residência suburbana por um apartamento situado num centro urbano ou próximo de uma interface de transportes. A criação de um mercado de arrendamento a preços controlados nos centros urbanos e em geral nas cidades consolidadas torna-se, pois, decisivo, se quisermos evitar o caos e enormes tensões sociais no decurso do inevitável refluxo da suburbanização que caracterizou a desorganização territorial do país ao longo dos últimos quase 40 anos.

Por causa da estagnação demográfica e da fraca mobilidade de uma significativa parte dos residentes na região dos Grandes Estuários (envelhecimento populacional, hipotecas por pagar e debilidade económica), continuará a haver uma pressão considerável para o uso do automóvel individual nos movimentos pendulares, agravada pela diminuição tendencial da oferta de transportes colectivos rodoviários (envelhecidos, endividados e com fraca capacidade de resposta ao aumento continuado dos preços dos combustíveis).

Os segmentos de automóveis mais vendidos em Portugal (77%) são o C (médio inferior), com 40,6% das unidades, e o B (inferior), com 36,5%, correspondendo claramente ao perfil de deslocação suburbana típico das principais manchas urbanizadas, distribuídas ao longo do litoral, e que absorvem 71% do parque automóvel do país, o qual em 2006 somava um pouco mais de 5 milhões e 800 mil unidades, com uma idade média de 8,4 anos (no sector de ligeiros de passageiros), 11,4 no sector de comerciais pesados e 11,9 anos no sector de pesados de passageiros. Segundo artigo de Leonor Matias, no DN online, o parque automóvel português, depois do boom dos anos 90 (5 milhões de veículos vendidos!) está manifestamente a envelhecer desde 2003. Se considerarmos ainda que a evolução das vendas de automóveis continua recessiva (Janeiro-Maio de 2007: -1,4%), e os efeitos combinados do fraco crescimento da economia, do aumento do desemprego, da subida progressiva das taxas de juro, da crise dos sistemas de protecção social, da subida imparável dos combustíveis e finalmente da crise geral de confiança nos principais agentes económicos e políticos do sistema, parece mais do que prudente esperar um ainda maior envelhecimento do parque automóvel, com todas as consequências que daí advêm para a segurança rodoviária, já para não mencionar os efeitos retardadores que a manutenção de um parque envelhecido como o actual terá na desejável substituição dos actuais veículos demasiado poluidores e consumidores de petróleo por modelos híbridos ou, em todo o caso, com maior eficiência energética.

Dado o rápido envelhecimento do parque automóvel, com especial incidência nos pesados de passageiros (!), e o encarecimento progressivo dos respectivos custos operacionais (combustíveis e manutenção) e de contexto (impostos, portagens, estacionamentos, etc.), associados à fraca cobertura da rede de transportes ferroviários suburbanos, a região dos Grandes Estuários (RLVT e Distrito de Setúbal), aliás como o resto do país, corre o risco de assistir a uma quebra brutal da sua produtividade por efeito das crescentes dificuldades de mobilidade.

Tomando em devida consideração esta conjunção negativa de factores, parece-me que só um fortíssimo e bem pensado investimento num inovador, articulado e denso sistema de transporte ferroviário urbano e inter-urbano (o MODTRAIN - Innovative Modular Vehicle Concepts for an Integrated European Railway System é um exemplo recente a estudar) será capaz de oferecer uma alternativa credível ao uso individual do automóvel entre a casa e o local de trabalho (por sua vez ameaçado pelos constrangimentos acima descritos.) A mera repressão fiscal da circulação automóvel, i.e. sem alternativas credíveis, terá impactes fortemente negativos no frágil equilíbrio económico-social da região.

No entanto, retirar imediatamente os carros de cima dos passeios, esquinas e fila duplas de estacionamento é uma medida preparatória, e de mera aplicação das leis, urgente. A sua aplicação deve estender-se a todo o país e assim preparar os cidadãos motorizados para uma nova consciência dos problemas que todos temos pela frente.

A ideia de uma cidade livre de carros poderá chegar mais cedo do que alguns sonhavam (Carfree Cities), em boa medida por causa da combinação das três crises: crise energética, crise climática e crise económica decorrente das duas anteriores.


Referências
* o Grande Estuário/ blog: A Carta de Leibniz
* "Baukultur" comme branle de croissance. Bons exemples pour les villes europeénnes. Études de cas choisis
* The Vital City
* o Grande Estuário/ índice de publicações relevantes


OAM #214 10 JUN 2007

terça-feira, maio 29, 2007

Por Lisboa 6

Joao Soares, Angola
João Soares revisita em 1990 o local do acidente de aviação sofrido em Angola um ano antes.

João Soares contra a Ota, e António Costa pondera...

João Soares (Web) reafirmou a sua convicção antiga de que a Portela se encontra longe do esgotamento, apesar dos tratos de polé que a ANA e as administrações sucessivas da velha aerogare lhe têm dado, para que tudo pareça feio, porco e mau.

O próprio António Costa, em declarações à TSF modulou a sua posição sobre o tema: é preciso ouvir a cidade sobre o assunto...

Referendo municipal? Pois que venha e se decida de uma vez por todas a recuperação da Portela e a criação imediata de uma base para as Low Cost (obviamente, no deserto do Montijo!)

Só um ceguinho (ou um camelo fora do deserto) não vê que o paradigma da aviação civil mudou radicalmente nos últimos 4 anos.

Só dois ceguinhos juntos (o que não vê e o que não quer ver) não percebem que a prioridade do investimento público deve ir para duas coisas muito mais importantes e reprodutivas, a médio-longo prazo, do que ter um quixotesco aeroporto a disputar o "hub" de Madrid. Refiro-me à mudança integral da ferrovia nacional (da bitola ibérica para a bitola europeia) e à sua adaptação aos novos paradigmas de transporte sustentável de Alta Velocidade, Velocidade Elevada e Velocidade Moderada Confortável.

Outro paradigma para os próximos 20 anos chama-se Carta de Leipzig e foi anunciada pela presidência alemã da UE. O Renascimento das Cidades Europeias!

Não precisamos de mais imobiliário. Precisamos, isso sim, de recuperar o património histórico e imobiliário existente. Precisamos de um programa de emergência para repovoar os centros das cidades, tornando-os confortáveis, amigáveis e justos (i.e. interclassistas). Precisamos de uma FISCALIDADE ECOLÓGICA, de uma FISCALIDADE PATRIMONIAL e de uma FISCALIDADE GERACIONAL. Precisamos, urgentemente, de criar duas novas REGIÕES AUTÓNOMAS: a região dos GRANDES ESTUÁRIOS (Lisboa e Setúbal) e a Região do Norte. No resto do país, a regionalização seria um desastre. O segredo está em manter e potenciar o poder local autárquico, tornando-o mais autónomo, racional, responsável e transparente.

Como se vê, é trabalho que chega para absorver o desemprego (especializado e não especializado) por mais de duas décadas!

PS: António Costa parece ter voltado atrás e repetido que a Ota é um assunto nacional e não de Lisboa. A desorientação é óbvia e a vontade de satisfazer o polvo que está por trás do embuste da Ota, também... O fundamental mesmo é impedir o Estado de celebrar contratos ruinosos nesta matéria com entidades privadas. Este governo quer colocar o país perante um contrato consumado. É preciso impedi-lo, seja por que meio (legal) for! Os fundos comunitários destinados à Ota podem servir para coisas mais úteis e consentâneas com a actual estratégia europeia de transportes, renascimento das cidades europeias e controlo das emissões de gases com efeitos de estufa. Basta vontade política, e Bruxelas entenderá perfeitamente a mudança de agulha.


OAM #209 29 MAI 2007

segunda-feira, maio 28, 2007

Por Lisboa 5

Jose Sa Fernandes
Manuel de Almeida/ Lusa (in Expresso online)

O Zé faz falta?

Escrevi, com alguma crueldade, que José Sá Fernandes tinha sido um bom polícia, mas não um bom político (in Por Lisboa 2). E no entanto, quando o ouvi há dias numa entrevista ao jornal das 10, na SIC Notícias, fiquei a saber que fez muito mais do que montar uma cilada a um provável corruptor activo, e que ainda por cima tem uma ideia central para Lisboa: fazer regressar à cidade uma parte dos mais de 200 mil lisboetas que emigraram para os subúrbios ao longo dos últimos 20 anos (mas haverá quem lhes queira comprar os apartamentos, no Cacém, Massamá, ou Rio de Mouro?) Sá Fernandes cometeu, porém, dois erros fatais na sua aventura camarária: primeiro, apostar num pequeno partido, o Bloco de Esquerda (BE), que embora abrace algumas causas interessantes e actuais, não deixa de ser um saco de gatos sem emenda, agarrados a ortodoxias passadas e incapazes de algum pragmatismo na acção que vá além do conforto a que rapidamente se acomodaram do ninho parlamentar; segundo, não ter sabido difundir, no tempo que já passou, uma visão ambiciosa, propositiva, mas realista para a Lisboa dos próximos 20 ou 30 anos. Ele é provavelmente mais importante para Lisboa do que o próprio Bloco, pois foi a sua coragem e reconhecido amor pela cidade, e não o calculismo do pequeno partido, que o elegeu e poderia, se não se tivesse entretanto deixado enredar na lógica partidária de circunstância, ter projectado a sua figura para outros voos mais sustentados.

Se as sondagens continuarem tão pífias como até agora, creio que José Sá Fernandes deveria desistir à boca das urnas a favor de Helena Roseta. Seria uma decisão individual corajosa, com efeitos potencialmente importantes no resultado de Helena Roseta, permitindo, por outro lado, recuperar em breve um capital pessoal que, doutro modo, se esfumará na própria crise iminente que ameaça o BE. As organizações partidárias, sem excepção, atravessam um péssimo momento. O eleitorado procura e tende, por isso, a confiar cada vez mais nas pessoas. É a boa figura de António Costa, e não tanto o PS, quem vai ganhar as eleições para a presidência da Câmara Municipal de Lisboa (se não fosse a trapalhada da Universidade Independente, Sócrates...). Por sua vez, as intenções de voto em Carmona Rodrigues e em Helena Roseta, e as perspectivas negras do PCP e do CDS-PP, são outras tantas provas desta nova realidade, que durará enquanto durar a crise e a desagregação da actual partidocracia nepotista, ávida, corrupta, incompetente e irresponsável.

O Zé falta, mas não ao Bloco! Faz falta a Lisboa, mas não precisa de perder o seu tempo nos corredores da negociação camarária. A sociedade civil de Lisboa precisa de se organizar e de se preparar para entrar em processos complexos de co-decisão com o poder camarário e com os poderes centrais do Estado. A crise energética, a crise ambiental, o desemprego estrutural, o agravamento das assimetrias sociais e o envelhecimento populacional são realidades poderosas que, a breve trecho, agravarão exponencialmente aos problemas de governabilidade urbana e periurbana, estendendo-se a toda a área metropolitana de Lisboa e aos estuários do Tejo e do Sado.

O Estado e as autarquias engordaram demasiado ao longo dos últimos 20 anos com as clientelas partidárias. O desperdício, a desorganização e a ineficiência são alarmantes (1). Por outro lado, a nomenclatura formada pelos altos cargos partidários, governamentais, da administração pública, autárquicos e das empresas públicas e participadas - a tal "classe média" de que falava Vasco Pulido Valente no Público deste Sábado - é incapaz, por razões óbvias, de se suicidar, mas não de se entregar a práticas fraticidas, como temos vindo a assistir ultimamente, e que tenderão a agravar-se à medida que a mama comunitária for secando. Desta pseudo classe média (2), nada se pode esperar, a não ser o seu próprio desespero. Daí que tenhamos que olhar com cuidado para os cenários implosivos que se estão a formar no horizonte. Os actores políticos tradicionais não serão suficientes para dar conta do recado. Precisamos de estimular o aparecimento de novos protagonistas, capazes de agir autonomamente a partir das suas bases de conhecimento específico e das redes colaborativas que as suas performances desencadeiam e potenciam para a acção inteligente. No caso destas eleições, este novos actores em rede estão já a ter uma enorme influência na respectiva agenda de discussão. O exemplo mais flagrante foi evidentemente dado antes, pela luta sem quartel de José Sá Fernandes contra o pântano da corrupção camarária. Mas sendo necessário ir para além desta agenda, outros temas têm vindo a emergir: o caso do embuste da Ota é um deles (3). Outro igualmente importante será introduzir a oportuníssima Carta de Leipzig (4) na actual discussão eleitoral.

Este balanço e este aviso servem também a Helena Roseta. Cadê o Manuel Alegre? Andará a caçar coelhos?




Notas

1) O problema do Estado português é sobretudo um problema de definição clara das suas funções inalienáveis (segurança energética, infraestruturas estratégicas, justiça, educação, saúde, segurança social, segurança alimentar, defesa militar e segurança dos cidadãos) e de adequação exigente e transparente dos recursos humanos a essa definição. Precisamos de um Estado eficiente, nem máximo, nem mínimo. O problema não está, como já escrevi, na demonização táctica e instrumental da Função Pública, para efeitos de correcção do défice. Definidas as funções essenciais e suficientes do Estado, o que há é que eliminar a sua gordura clientelar (administrações, secretarias de estado, direcções-gerais, institutos e serviços sem prestabilidade alguma e unicamente criados para dar emprego às clientelas partidárias); proceder a um vasto programa de formação geral dos funcionários em prol da administração
responsável, eficiente e amigável; e realocar os recursos por intermédio de concursos internos transparentes.

2 - Vasco Pulido Valente identificou bem esta "classe média" aparente, basicamente composta pela vastíssima prole clientelar do regime. Seria um bom programa de doutoramento de sociologia política identificar e quantificar o peso desta pseudo classe média na nossa democracia e no comportamento eleitoral dos portugueses. Numa coisa, porém, VPV se engana: a natureza bovina imutável desta clientela, e da nomenclatura que a controla, na coisa eleitoral. Na realidade, esta pseudo classe média, dependendo sobretudo de um Estado abundante, afluente e incontrolado, começou já a sofrer e sofrerá ainda mais num futuro próximo (2013) de uma grande fragilidade. Este simples facto (a insuficiência orçamental crescente) tenderá a afectar o seu comportamento eleitoral. Por outro lado, a tendência para tapar o défice do maná europeu com a exploração e repressão fiscais generalizadas de uma população que não chegou verdadeiramente a conhecer o prometido Estado de Bem-Estar Social, levará a um conflito crescente entre a sociedade civil e as burocracias instaladas, ajudando à missa do neo-liberalismo e provocando uma inevitável alteração e instabilidade dos comportamentos eleitorais. O PS e o PSD que não descansem, portanto, à sombra da bananeira eleitoral.

3 - Uma boa síntese contra o embuste da Ota, e a prova de que os argumentos pacientemente montados ao longo de um ano acabaram por fazer o seu caminho, foi a que Miguel Cadilhe escreveu na sua coluna no Expresso de 19-05-2007:
«O NAL, novo aeroporto de Lisboa, é o tema do livro 'O Erro da Ota e o Futuro de Portugal'. Depois de o ler, reforcei a opção 'Portela+1'. Não gosto de destruir boas infra-estruturas, nem o país pode com isso. Prefiro conservá-las bem. Fecha-se a Portela e destrói-se o que lá está, mas porquê? Bane-se a hipótese do '+1', mas porquê? Ergue-se, de raiz, o mais caro de todos, mas porquê? Subalterniza-se o efeito dos voos «low cost», e o do TGV, e o do preço final ao cliente, mas porquê? Não há uma 'análise custos-benefícios', completa e independente, do NAL e suas alternativas, mas porquê?»

«Que diabo, Portugal não é um país rico. A solução Ota, mais seus acessos, mais obras intercalares da Portela e, depois, a integral delapidação (sim, claro, pronto que esteja o NAL), mais imprevistos do costume, tudo poderá rondar os 5 a 6 mil milhões de euros só de investimento. Uma enormidade! Uma péssima consignação de recursos.» -- Miguel Cadilhe.
4 - Sobre este assunto, ver o meu post n'o Grande Estuário. (LINK)

OAM #208 28 MAI 2007

sábado, maio 19, 2007

Por Lisboa 4

Helena Roseta
Abaixo o Costa!

Só Helena Roseta poderá impedir que o candidato das patacas, o Costa, leve por diante a estratégia do lóbi de Macau, i.e. destruir o aeroporto da Portela e lançar Lisboa num beco sem saída.

Ouvimos hoje (18-05-2007) António Costa confessar à TVI três coisas terríveis: que não percebe nada de Lisboa, que apoia a destruição do aeroporto da Portela e a venda a patacas dos respectivos terrenos (a chineses, angolanos, e alguns socialistóides, seguramente), e que para ele, como para os fautores das "trapalhadas" que retoricamente condena, o desenvolvimento de Lisboa é sinónimo de especulação imobiliária (para cuja execução escolheu o medíocre arquitecto da Nova Moscavide e setubalices do género, Manuel Salgado.)

Eu até cria que o Costa era sério! Afinal saiu-me mais um traste típico da era socratintas em que infelizmente se consubstanciou a maioria absoluta do PS. Decoro? Nenhum. Basta ver como, ainda enquanto Ministro da Administração Interna, deu instruções à lacaia que leva o título de Governadora Civil de Lisboa (um dos inúmeros tiques policiais que sobrevive da era Salazarista) para fixar uma data eleitoral incompaginável com coligações pré-eleitorais e, sobretudo, com as esperadas candidaturas independentes. Basta ver como, depois, escolheu a dedo personalidades mediáticas à "esquerda" e à "direita": Saldanha Sanches (vai arrepender-se), José Miguel Júdice (conhecido tubarão oportunista da advocacia alfacinha), Manuel Salgado (era um cooperativista do PCP, mas há muito que se dedica ao negócio da construção civil, sob o disfarce cada vez mais caricato de umas ideias que diz ter sobre arquitectura e urbanismo) e ainda a tentativa de aliciar a desamparada Maria José Nogueira Pinto. Ou seja, o Costa quer desesperadamente a maioria absoluta, e para lá chegar está disposto a transformar a diferença ideológica que legitimamente caracteriza as sociedades democráticas numa tábua rasa, onde o único valor é a vontade de poder (e de não perder o poder.) Fazer da diferença democrática um trapo de usar e deitar fora é demasiado mau para crer. Mas foi assim. E é assim. O Costa quer fazer de Lisboa o que o governo socratintas está a fazer de Portugal: um coutada indefesa do dinheiro, uma província de Espanha e de novo um país de emigração! (1)

O perigo é real, embora os paspalhões da "esquerda" parlamentar ainda não tenham reparado no caso. Daí que só a candidatura de Helena Roseta tenha a virtualidade de impedir o descalabro que o PS prepara para a capital do país. Votar na lista de cidadãos por Lisboa é a única maneira de dizer a este governo de imbecis, inconscientes e aldrabões compulsivos, que dar maiorias absolutas, seja a quem for, é uma enorme imprudência. No caso vertente, seria o caminho mais directo para deixar o polvo de interesses que tomou de assalto o PS levar por diante as suas missões destrutivas.

Este polvo quer que o Estado (i.e. os impostos que pagamos) compre uma empresa aérea falida ao BES (chama-se Portugália Airlines). Este polvo quer privatizar a lucrativa ANA, para continuar a adiar a racionalização do Estado e alimentar a sua própria voracidade financeira. Este polvo quer destruir o aeroporto da Portela e vender os seus terrenos a patacas. Este polvo quer, em nome do chamado projecto da Baixa Chiado, expulsar a diversidade social da capital para os subúrbios mais longínquos e precários da grande Lisboa (tal como se fez recentemente em Barcelona, Sydney, Pequim e noutras cidades por esse mundo globalizado fora.)

Os imbecis que formam o dito polvo ainda não perceberam que desertificando o interior em direcção ao litoral, apenas estão a convidar a Espanha para avançar pelos territórios abandonados (sem educação, sem saúde, sem investimento e com autarquias falidas). Estes imbecis tentaculares ainda não perceberam que suburbanizando continuamente a cidade de Lisboa, em nome da avidez, da especulação e do roubo (ainda que decorada com as novas retóricas da competitividade e da criatividade) estão a criar as condições ideais para uma futura guerra civil urbana, à semelhança do que hoje ocorre intermitentemente em São Paulo, Rio de Janeiro, Copenhaga, Marselha ou Paris (2).

António Costa, já se percebeu, não é mais do que o factotum deste terrível plano de subversão urbana, que é urgente combater. Eu se fosse PSD, ou estivesse mesmo à direita deste partido, pensaria seriamente nas vantagens de votar em Helena Roseta. Quanto aos eleitores sérios e inteligentes do PS, PCP e Bloco de Esquerda, recomendo-lhes vivamente que pensem muito bem antes de votar. Este PS precisa de levar uma boa tareia eleitoral, para bem dos verdadeiros socialistas, e sobretudo para bem de Portugal.

Quem quer conquistar Lisboa não é o Costa, é o governo socratintas. Muito cuidado!



Notas

1- 21-05-2007 15:25 Público. O número de trabalhadores portugueses em Espanha subiu quase quatro por cento entre Janeiro e Abril deste ano, para mais de 75 mil, de acordo com os dados divulgados hoje pelo Ministério do Trabalho e Assuntos Sociais.
2- O actual governo Sócrates é uma caricatura tardia da democracia digital (versão Power Point) ensaiada por Tony Blair. A próxima saída deste do governo de sua magestade é o sinal mais claro do fracasso das teses sobre a "democracia negativa" de Isaiah Berlin, que Blair tentou aplicar à luz dos teoremas mais recentes e caricatos de Samuel P. Huntington e Francis Fukuyama, com desastrosos resultados
na ex-Jugoslávia, no próprio Reino Unido (veja-se a emergência do radicalismo islâmico naquele país), no Afeganistão e sobretudo no Iraque. Do ponto de vista social, o Reino Unido é hoje uma sociedade mais desigual, menos solidária, mais agressiva, mais autoritária, com menos liberdade e mais disfuncional. É esta a verdadeira herança que Blair deixa a Gordon Brown.
Para perceber o pano de fundo da era Blair-Bush (que mais não fez do que retomar e radicalizar a era Thatcher-Reagan), vale mesmo a pena ver o excepcional documentário da BBC, realizado por Adam Curtis, "The Trap", actualmente disponível na Net. Perceberemos então melhor os tiques e manhas da lógica que tomou de assalto o PS e hoje domina a acção do governo de José Sócrates. Tudo muito transparente... e condenado ao fracasso.


PS: se alguém souber quem foi o autor da fotografia da Helena Roseta, diga-me. Teria o maior gosto em creditá-la como deve ser.


OAM #204 18 MAI 2007

quarta-feira, maio 16, 2007

Por Lisboa 3


A corrupção não é uma fatalidade

Os dois candidatos que foram anunciados pelo bloco central reflectem o susto que apanharam os respectivos directórios partidários relativamente ao caos a que chegou a Câmara Municipal de Lisboa. O PS avançou com uma personalidade de topo (forçado a acomodar o empurrão de Sócrates), e o PSD, na impossibilidade de o fazer, por manifesto isolamento do respectivo líder, acabou por apresentar um fiel independente chamado Fernando Negrão. Um ex-ministro da Justiça e, até ontem, ministro da Administração Interna, e um ex-Director-Geral da Polícia Judiciária e antigo e ministro da Solidariedade Social (que me lembre, nunca vi, entre nós, ex-ministros disputarem presidências de câmaras) surgem como os principais adversários de uma disputa eleitoral renhida e de resultado incerto. Ambos prometem, e são credíveis na promessa, de não pactuarem, nem com a bagunça gestionária, nem com o excesso de recursos humanos inúteis, nem com a corrupção endémica há muito instalados na CML. A cidade precisa inadiavemente que tal promessa se faça e se cumpra. Por aí, bem-vindos!

E por aí, digo eu, estarão eleitoralmente empatados, embora bem à frente, na corrida eleitoral, do candidato retórico e cansado do PCP, do candidato exangue do Bloco e dos desaparecidos em combate, Maria José Nogueira Pinto e... muito provavelmente, Carmona Rodrigues (agora que o PP afastou liminarmente a hipótese de o apoiar). Resta saber se Helena Roseta conseguirá resistir à pressão que o próprio António Costa deverá estar a exercer sobre a sua candidatura.

Na verdade, se Helena Roseta concorrer --e espero que o faça-- muita coisa poderá mudar no preguiçoso xadrez da "esquerda" autárquica: o Bloco talvez desapareça da autarquia, surgindo em seu lugar uma verdadeira força política de cidadãos, espécie de partido urbano (solidário e cosmopolita), com real capacidade de preencher a utopia do independente José Sá Fernandes; o PCP poderá definhar um pouco mais (o que seria bom) e o PS talvez viesse a depender criticamente do apoio dos Cidadãos por Lisboa, excelente notícia para a capital do país, que é demasiado importante para ficar nas mãos do lóbi da Ota (de Macau, ou de ambos!) e da política oportunista e mentireira do Sr. Sócrates (1). Para já, uma perguntinha a António Costa: que pensa do embuste da Ota, da liquidação do aeroporto da Portela, da venda da lucrativa ANA aos privados e da compra da falida Portugália pela TAP? São tudo passos de um mesmo negócio ruinoso para o Estado, para o país e em primeiro lugar para Lisboa! São tudo sinais de que a corrupção é um fenómeno bem mais geral e endémico do que parece, não se confinando apenas ao mundo das autarquias. (2)

Gostei de ver Saldanha Sanches como mandatário fiscal da campanha de António Costa. Mas o caldo foi rapidamente entornado com as escolhas seguintes: Nuno Júdice e Manuel Salgado, dois notórios oportunistas esguios numa cidade tão precisada de ideias arejadas e criativas, quanto farta de gentis cortejadores, desactualizados e sem réstea de imaginação.

Aguardemos as cenas dos próximos capítu
los.



Última hora
18-05-2007 13:42. Nobre Guedes é o candidato do PP. Temos assim 3 ex-ministros na corrida para Lisboa. Entretanto, como se previu, Carmona (outro ex-ministro) desistiu, por falta de apoios. O prazo para a formação das listas foi obviamente desenhado para impedir o surgimento de listas de independentes. Vamos ver se Helena Roseta consegue chegar às necessárias 4.000 assinaturas e se terá tempo e capacidade de organizar o processo de candidatura sem falhas técnicas que possam inviabilizá-la. Para já, anda muito silenciosa, o que não parece boa ideia num momento em que a corrida das palavras já começou e vai acelerar vertiginosamente ao longo deste fim-de-semana, e até ao dia da votação. Precisamos de ouvir três ou quatro ideias claras para Lisboa, e de conhecer uma ou duas personalidades credíveis que a acompanhem nesta sua corajosa aventura. -- OAM

Notas


1- As recentes notícias sobre o crescimento da economia portuguesa e a queda do desemprego*, de que a criatura pretende retirar indevidos dividendos, deriva basicamente de três factores: o crescimento das economias alemã, espanhola, francesa e inglesa, para onde vão 61,4% das nossas exportações (só a Espanha é responável por 27% das nossas exportações); o boom da economia petrolífera angolana (para onde se encaminham há uns quatro anos para cá fortes investimentos nacionais, exportações de bens e serviços e mão de obra) e, finalmente, o regresso de uma forte emigração (invisível nas estatísticas do INE) para a Europa e sobretudo para Espanha, composta por centenas de milhares de portugueses sem trabalho, nem perspectivas no seu desmazelado e corrupto país. Entre os milhares de novos emigrantes contam-se, cada vez mais, quadros técnicos e profissões liberais.

* Que hoje, 17-05-2007, o INE aliás desmentiu, anunciando um agravamento de 0,7% face ao período homólogo de 2006, situando-se agora a taxa de desemprego oficial nos 8,4% -- a mais alta dos últimos 21 anos! Ver, entretanto, notícia de 18-05-2007 no Público online.

2- Face à descarada ausência de estudos e de projectos credíveis sobre a Ota (ver O Erro da Ota, recentemente lançado) e as respectivas acessibilidades, há quem pense que este governo está apenas a usar o tema como um estratagema para chegar à privatização da ANA, como forma de encaixar muitas centenas de milhões de euros, deixando a embrulhada do novo aeroporto para o governo que se segue. Seja como for, vincular a privatização da ANA à Ota é não apenas um grave erro, mas uma imprudência criminosa inaceitável. Os seus responsáveis (entre eles o PS), deverão estar cientes de que serão um dia chamados a prestar contas pelo que desde já se afigura como o maior embuste político da II República.

Por outro lado, alienar a Portela (para uma qualquer China Town lisboeta!) é tão grave como alienar o porto de Lisboa. Só um país de atrasados mentais, de carneiros mal mortos, ou atacado por uma verdadeira epidemia de corrupção pública e governamental, deixaria que uma cidade com as características ímpares de Lisboa matasse duas das suas principais valias estratégicas em termos de placa giratória da mobilidade mundial. Espero sinceramente que este imprestável Sócrates seja rapidamente reenviado para os bancos da Universidade Independente.


OAM #203 17 MAI 2007


sexta-feira, maio 11, 2007

Por Lisboa 2

Manuela Ferreira LeiteA pedra de toque

11-05-2007 02:30. A candidatura da Helena Roseta e o discurso de vencido de Carmona Rodrigues vêm colocar a fasquia de responsabilidade das eleições intercalares para a Câmara Municipal de Lisboa num patamar que começa a ser interessante.

Qualquer destes dois potenciais candidatos lançam um sério desafio aos directórios partidários do PS e do PSD, forçando-os a avançar com figuras de proa, perfilando-se assim no horizonte a possibilidade de um confronto entre António Costa e Manuela Ferreira Leite. Quanto aos pequenos partidos, há que distinguir o PP dos dois que ficam à esquerda do PS: PCP e Bloco de Esquerda. No primeiro caso, Portas poderá apoiar a candidatura independente de Carmona Rodrigues, e neste caso terá um efectivo poder de fogo ideológico contra o centrão dos interesses, além de uma real possibilidade de crescer eleitoralmente, não só em Lisboa, mas em todo o país. Esta hipótese não deixaria de ser uma magnífica rentrée de Paulo Portas à frente dos destinos do PP, capaz de precipitar a prazo uma inevitável metamorfose na direita portuguesa. No segundo caso, o dos esclerosados partidos de origem estalinista e trotskysta, PCP e BE, auguro-lhes um triste fim nestas eleições, em particular se a candidatura de Helena Roseta avançar. Na realidade, José Sá Fernandes ficou mais conhecido por ser um bom polícia do que um bom político. E o PCP, além de ser co-responsável por longos anos de gestão autárquica desastrosa na capital, não tem uma réstea de imaginação política que possa servir a cidade. São conservadores e só por isso ainda não desapareceram do mapa eleitoral português.

Mas a pedra de toque destas eleições vão ser os programas!

1 - Que pensam os candidatos, do embuste da Ota e do actual projecto governamental de transformar o estratégico aeroporto de Lisboa numa China Town, com a inevitável e gravíssima perda de competitividade turística da capital?! Se forem eleitos, estarão a favor da Ota ou lutarão contra o assassinato da Portela?

2 - Que pensam os candidatos, da ligação ferroviária de alta velocidade entre Lisboa e Madrid? Acham que podemos adiar por mais tempo uma política clara de transportes, enquanto a Espanha avança a passos largos naquele que é o mais ambicioso projecto ferroviário europeu?

3 - Que pensam os candidatos, da qualidade dos transportes colectivos da capital? Vão agir energicamente neste sector, ampliando a oferta das ligações e a ampliação dos horários de funcionamento, ou vão continuar a favorecer os automóveis particulares?

4 - Que pensam os candidatos, dos automóveis em cima dos passeios? Vão acabar com esta praga, única na Europa, ou continuarão a fazer de conta, prejudicando gravemente a mobilidade e a imagem da cidade?

5 - Que pensam os candidatos, da especulação imobiliária e dos milhares de fogos desabitados? Vão continuar ou parar a actual desfiguração arquitectónica da cidade?

6 - Que pensam os candidatos, do património degradado da capital? Vão continuar a deixar cair os prédios, ou tem soluções claras, democráticas e expeditas para resolver esta vergonhosa situação?

7 - Que pensam os candidatos, da desertificação da capital? Têm planos concretos e quantificados para atrair as pessoas que fugiram para as desgraçadas periferias suburbanas, por não poderem suportar a má qualidade ou a carestia da habitação em Lisboa, ou acham que são os santos Frank Gehry e Manuel Salgado que vão resolver a situação?

8 - Que visão têm os candidatos, do futuro da cidade de Lisboa? Serão capazes de a explanar em termos simples e compreensíveis a quem vive e/ou trabalha na cidade?

António Costa é um político que me cai bem, confesso. Mas, que responde a estas oito perguntas? E em particular, que tem a dizer sobre a Ota? Se não for claramente contra a cupidez do seu partido (1) nesta matéria, bem pode desistir de se candidatar, pois não levará a carta a Garcia.

Manuela Ferreira Leite, se aceitar concorrer, poderá facilmente derrotar o candidato socialista e até convencer os lisboetas que Carmona já era, sobretudo porque poucos acreditarão que este personagem possa actuar no futuro sem a tutela forte de Paulo Portas. Resta saber apenas até onde vai, neste particular, a coragem e a visão do Sr. Marques Mendes. Se tiver medo da sombra, como ocorreu quando convidou Carmona para evitar Santana, então prepare-se para grandes tempestades futuras. O PSD, como todos os partidos parlamentares estão exaustos e o povo está razoavelmente fartos deles. Ou seja, precisam de se renovar drasticamente e em pouco tempo, sob pena de entrarem em irreversíveis processos de cisão. A panela do orçamento já não é o que era.

A cidade de Lisboa, a Grande Lisboa e a Região de Lisboa e Vale do Tejo são uma preciosidade, apesar do mal que lhe tem sido inflingido pela voragem da economia, da má administração, da falta de visão estratégica, da imbecilidade política e da corrupção insane. Nenhuma solução de médio-longo prazo pode deixar de pensar este grande estuário em toda a sua dimensão e em todo o seu mágico equilíbrio, que precisamos de manter e estimular, se quisermos fazer dele um dos mais atractivos exemplos de sustentabilidade urbana e regional da Europa. Este é um sonho efectivamente ao nosso alcance, se agirmos rapidamente. Se o não fizermos, vencerá a estupidez e a ganância. Então, mais depressa do que pensamos, os corruptos de todas as cores porão a cidade e a região a patacos. Dirão que pretendem atrair investimento e criar emprego. Mas saberemos todos que é mentira.

Última hora

15-05-2007 20:42. PSD anuncia Fernando Negrão como candidato autárquico para Lisboa. Quem?! -- Helena e Carmona, candidatem-se! Só as vossas candidaturas independentes poderão travar a ida do actual PS para os comandos da capital. Aos olhos do aparelho de Sócrates, tomar conta de Lisboa é tão só o passo prévio essencial para levar o embuste da Ota adiante. E já se viu como a esquerda indigente, PCP e Bloco de Esquerda, está disposta a branquear todas as tropelias do "engenheiro".

15-05-2007 11:47. Sócrates disse às televisões, com aquele seu ar de pinóquio Nike, que o anúncio da candidatura de António Costa não passava de mera especulação. Menos de 24 horas depois, a Comissão Política do PS e o Conselho Nacional do mesmo partido aprovam a candidatura de António Costa à presidência da Câmara Municipal de Lisboa. É caso para dizer que a actual palhaçada governamental se parece cada vez mais com uma edição do "Big Brother", onde tudo vale, sobretudo a mentira, a dissimulação e o descaramento.

Eu cria que António Costa havia percebido que, na impossibilidade de descolar do actual governo nas questões sensíveis da destruição da Portela (venda dos terrenos do aeroporto e privatização da ANA a favor dos imaginários construtores/exploradores do futuro aeroporto da Ota) e da ofensiva atabalhoada contra o poder local, não iria longe na aventura autárquica de Lisboa. Parece, no entanto, que o risco de ir ao fundo na lancha de Sócrates pesou mais na sua estratégia de sobrevivência política. Mas se, como é bem possível, acabar por ficar fora do governo e da autarquia, que fará? Há algum compromisso de regresso automático ao governo, caso perca as próximas eleições intercalares para a presidência da câmara de Lisboa?

O desnorte no PSD é aflitivo. Em suma, Helena e Carmona, candidatem-se!

PS: o comportamento dos partidos parlamentares relativamente às potenciais candidaturas independentes revela o verdadeiro conúbio em que se transformou a partidocracia portuguesa. Recomendo aos ditos partidos (da "direita" e sobretudo da "esquerda") que estudem atentamente a história portuguesa. Se não tiverem juízo, como não tiveram os seus deletérios antepassados, alguém, mais cedo ou mais arde, se encarregará de lhes preparar o funeral. A parte triste desta possibilidade histórica que se repete é o mal que daí virá então à generalidade da população portuguesa e ao país, se uma vez mais formos incapazes de educar os nossos políticos nas boas práticas da governança, na honestidade e na decência democrática. Imagino que os malfeitores da actual democracia estarão nesse fatídico momento, se vier a ocorrer, bem longe daqui... à sombra de uma qualquer bananeira angolana, ou brasileira.

Os actuais políticos parlamentares inundam a televisão com as suas preocupações relativamente ao populismo anti-partidos. Eu estou muito mais preocupado com a preguiça mental, a imbecilidade e a corrupção endémica que afecta o sistema partidário de que eles são os principais agentes e responsáveis!

11-05-2007 13:28. Sócrates recua na candidatura de António Costa. Um candidato que não poderia deixar de defender a Ota não iria longe e perderia o seu lugar no governo! Creio bem que foi o próprio Costa que deu um murro na mesa e disse não. Alternativas? Face ao espinhoso dossiê da Ota-Portela-ANA, talvez o melhor para o PS seja mesmo convidar João Soares. Não teria um discurso muito diferente de Helena Roseta (já pediu a demissão de Presidente da Ordem dos Arquitectos?) e seria (aceitavelmente...) crítico do plano de encerramento da Portela, defendendo, por exemplo, uma solução provisória do tipo: ampliação e ajustamento da Portela (já em curso), activação do Montijo para as Low Cost (como meio de impedir a queda rápida e a pique da TAP) e uma pausa para reflexão sobre o Novo Aeroporto de Lisboa (com a produção de um novo estudo multicritério sobre a necessidade efectiva de um NAL, e em caso afirmativo, das opções disponíveis para o efeito.) O senhor Mário Lino deveria, em todo o caso, ir para rua, por mau gosto e má figura! -- OAM

Notas

1 - Quando pronunciamos o acrónimo PS temos que ter a consciência de que estamos a falar de quatro realidades distintas: o eleitorado flutuante que vota no PS (onde, por exemplo, às vezes me incluo), o aparelho do PS e a respectiva clientela (aninhada no parlamento, nas autarquias e regiões autónomas, nas empresas públicas e no aparelho de Estado central), os socialistas ideológicos (históricos e éticos) e aquilo a que chamarei, à falta de melhor descritor, o polvo "socialista" (p"s"). Este último, de que conhecemos duas sensibilidades muito activas e não necessariamente coincidentes (o lóbi de Macau e o lóbi da Ota), tomou conta do PS ao colocar no lugar de secretário-geral e actual primeiro ministro o factotum José Sócrates. Para este polvo de interesses, o PS é um mero instrumento dos seus inúmeros negócios. Entre estes, destacam-se o embuste da Ota (que envolve três sub-negócios de grande envergadura: a especulação imobiliária na Ota, de que o BES é um dos principais facilitadores, a privatização da ANA e a venda dos terrenos da Portela), a prometida destruição da Costa Vicentina e a perversão do projecto do Alqueva, e ainda, os favores inexplicáveis ao grupo BES, de que a compra da falida Portugália é o caso mais escandaloso.

Este p"s", a não ser rapidamente travado, pelos eleitores e pelos históricos e éticos socialistas do PS, conduzirá o país a um verdadeiro descalabro, cuja única saída será a rendição económica e política do país aos interesses imediatos e de longo prazo da Espanha. Entretanto, estaremos em breve, se não estamos já, num estado de pré-corrupção sistémica semelhante ao que levou o "socialista" Bettino Craxi à prisão e a Itália a ser notícia pela célebre operação Mani Pulite (mãos limpas.)

Manuel Alegre e João Soares, já não vos resta muito mais tempo para agirem energicamente sobre este lamentável estado de coisas! -- OAM


OAM #202 11 MAI 07