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quarta-feira, maio 02, 2012

Sete pontes Vasco da Gama

A exploração do petróleo de xisto é uma trajetória desesperada e muito perigosa. Além do mais economicamente inviável. Artigo/foto: Green Prophet.

Enquanto os piratas sonham com novos aeroportos e autoestradas, a fatura das importações de energia revela bem o beco sem saída onde nos encontramos :(

JdN: “É o valor mais alto dos últimos três anos: 7,1 mil milhões de euros foi o preço pago por Portugal em 2011 pela necessidade de importar energia do exterior. Uma factura que representa um agravamento de 27,7% face ao ano anterior, segundo os mais recentes números da Direcção Geral de Energia e Geologia (DGEG).”

Quando baixarmos a nossa circulação automóvel individual para metade ou menos de metade da atual, que farão as concessionárias das autoestradas e das SCUT? Continuarão a exigir indemnizações compensatórias aos contribuintes? Em nome de que contratos leoninos? Em nome de que negócios ruinosos para o Estado? Está na altura de levar esta gente e os seus gabinetes de advogados a tribunal.

Não há soluções milagrosas para um problema tão grave quanto o Pico do Petróleo e o sobre endividamento público e privado (que já é uma consequência invisível do dito pico) da maioria dos países não produtores líquidos de energia e de matérias primas fundamentais.

Pico do Petróleo: os cenários são todos desastrosos (The Oil Drum)

Temos que começar por algum lado a promover a transição!

Pontos cruciais:
  1. substituir o transporte privado individual pelo transporte coletivo;
  2. substituir os sistemas de transporte assentes no petróleo/gasolina por sistemas de transporte elétricos e em todo o caso menos dependentes de hidrocarbonetos;
  3. apostar na ferrovia e no transporte por mar e rio;
  4. associar a desmaterialização de uma parte dos sistemas produtivos a tecnologias avançadas de telepresença e teletrabalho, com a penalização das deslocações físicas desnecessárias (desde logo acabando com os subsídios às viagens dos executivos pagos pelo erário público);
  5. promover a transição das cidades sobreaquecidas e ineficientes do ponto de vista energético (a começar pelos edifícios e instalações públicas) para cidades mais ecológicas e libertas da captura especulativa de que foram alvo pelas lógicas de especulação e pirataria capitalistas;
  6. desconstruir o subúrbio urbano, seja recuperando os centros urbanos e as cidades, seja transformando os subúrbios em unidades urbanas auto-sustentáveis (quer dizer, com atividades produtivas próprias, e reagrupamentos democráticos de governança local)
  7. retirar o Estado de onde a sua presença não é estratégica, nem essencial (no caso português, o número de funcionários públicos terá que ser reduzido para não mais do que 1% da população, ou seja, para cerca de 110 mil funcionários, em vez dos atuais 512 mil...)
O tempo para evitar uma enorme catástrofe está a esgotar-se :(

terça-feira, janeiro 31, 2012

Colapso energético em 2014?

O petróleo acabou!

O desastre da plataforma de perfuração Deepwater Horizon, Golfo do México, 2010.

Medina Carreira parece já ter percebido o essencial:
  1. O Ocidente, a começar pelos Estados Unidos, desde meados da década de 1970, começou a exportar as suas indústrias para Oriente, substituindo uma economia material, produtiva e de crescimento endógeno, por uma economia de serviços, de consumo e de endividamento, cada vez mais virtual — a qual viria a ser replicada, uma década mais tarde, na Europa;
  2. As democracias ocidentais (as únicas que, na realidade, existem e são dignas do conceito que exibem para o resto do mundo) degeneraram em regimes burocráticos de representação partidária, populistas e corruptos, vivendo em simbiose oportunista com um sistema financeiro essencialmente especulativo e cada vez mais assente na fraude internacional organizada;
  3. A superioridade tecnológica, militar e diplomática permitiu, durante os últimos quarenta anos, aos Estados Unidos e à Europa ocidental, um endividamento público e privado sem precedentes, do qual viria a resultar o nosso declínio demográfico (envelhecimento populacional e perda de população) e a presente crise sistémica — financeira, económica, social e política;
  4. Na base mais profunda da crise do actual modelo de civilização encontra-se um fenómeno de que só muito recentemente Medina Carreira parece ter-se dado conta: sem petróleo barato a economia do consumo e do estado social não só não pode funcionar, como entra rapidamente em colapso assim que o preço da energia ultrapassa um certo patamar; acima dos 100 dólares, situação que tem vindo a consolidar-se (ver cotações), temos recessão em largas dezenas de países; e acima dos 150-200 dólares a economia muito provavelmente entrará num colapso irreversível, isto é, do qual não será mais possível sair, se não através da instauração de um novo modelo de economia e de sociedade!




No programa Olhos nos Olhos (TVI 24) dedicado à crise petrolífera apareceu um tal “Agostinho Pereira de Miranda, advogado, [e] um dos maiores especialistas portugueses em assessoria jurídica e fiscal na área da exploração petrolífera.” Disse coisas acertadas durante uma parte do programa, mas parece ter reservado para o fim duas mensagens contraditórias e desastrosas (certamente sintonizada com o frenesim da caça ao último atum!):
  1. que o Pico do Petróleo seria uma fantasia do passado, em que ele mesmo chegou a crer;
  2. e que a energia nuclear seria certamente uma alternativa, ou um elemento da "diversidade" a ter em conta no futuro do sector energético.
Se temos petróleo para dar e vender, então não se justifica o risco e o preço do nuclear. Se, pelo contrário, o futuro do petróleo é incerto, então o nuclear será sempre insuficiente para substituí-lo, dada a magnitude da presença do petróleo nas nossas vidas; e também não justifica, nem o preço, nem o risco de insistir na sua problemática utilização, depois de mais uma tragédia tão incomensurável como a de Fukushima, ou face à permanente instabilidade internacional decorrente de qualquer tentativa de alargar o clube nuclear!

Menos mal que Medina Carreira se não deixou levar pelas palavras confusas do seu convidado, e atalhou as contradições do tal assessor dizendo simplesmente que não vai haver tempo suficiente para substituir o petróleo leve e barato por petróleo pesado e caro!

Há certamente muito petróleo pesado e extra pesado a cinco e a seis mil metros de profundidade; e muito petróleo misturado nas lamas venezuelanas e nas areias betuminosas do Canadá, e ainda o chamado gás de xisto. O problema, porém, desta abundância, é que a mesma é ilusória, pois custa muito dinheiro obter tais formas impuras de petróleo e gás, e correm-se riscos tremendos na sua extração, como ficou provado no desastre da Plataforma Deepwater Horizon da BP no Golfo do México.

O Pico Petrolífero global já chegou, em 2006, ou chegará até 2015 se descontarmos o efeito da uma recessão global duradoura, como a que está presentemente em curso. Entretanto, teremos volatilidade dos preços (que não é apenas resultado da especulação, como se diz) e a real possibilidade de um oil crunch, ou seja, a contração repentina da oferta sempre que há uma retoma da procura — e a subsequente e instantânea alta dos preços.

Assim como não vimos o crédito mundial secar, antes do colapso financeiro nos bater à porta com toda a sua brutalidade, tudo parece apontar agora para que o  colapso energético irrompa um dia destes por entre gargalhadas parlamentares, cimeiras inconclusivas e algum reality show novo.

sábado, julho 09, 2011

O fim de uma era

Verão 2011: depois do sonho, um pesadelo inesperado - I



A corrida espacial foi iniciada pelos russos e tudo leva a crer que serão os últimos a fechar a porta. Mais de 8000 despedimentos, directos e indirectos, são esperados na NASA. Até que a promessa de Obama, à laia de compensação, se cumpra —levar os americanos a Marte e a mais um asteróide qualquer— a América andará à boleia do vai-e-vem russo, fazendo ao mesmo tempo muitos votos para que o turismo espacial arranque!

É possível que os bilionários globais do futuro ganhem massa crítica suficiente para sustentar um tal negócio imbecil. Tenho, porém, sérias dúvidas de que tal venha a ocorrer. O que na realidade este último lançamento da nave espacial Atlantis assinala é o fim de uma era e o prenúncio de uma longa e desconhecida crise social à escala planetária, de que o colapso do sistema financeiro mundial, em curso desde 2007-2008, é o epifenómeno.

As causas deste colapso são de ordem sistémica, sendo por isso impossível travar semelhante derrocada. Ao longo dos últimos duzentos anos a humanidade cresceu demais, envelheceu e tornou-se uma espécie predadora perigosa para todas as demais formas de vida, à excepção das bactérias e dos vírus, além de assustadoramente autofágica. O empinar da sua longa curva de crescimento demográfico deveu-se principalmente ao descobrimento e aproveitamento tecnológico de três fontes de energia abundantes e baratas até meados da década de 1970: o carvão, o petróleo e o gás natural. Mas à medida que, por um lado, o consumo humano das reservas energéticas, dos recursos minerais e dos solos vivos da Terra crescia exponencialmente, acompanhando a explosão demográfica e o enriquecimento de uma parte da humanidade, por outro, estas mesma base finita do desenvolvimento desigual cedo começaria a dar sinais de esgotamento.

Lentamente, entre 1973 e 2007, até chegar ao pára-arranca actual da economia mundial, as previsões de Thomas Malthus, M. King Hubbert, Rachel Carson, do trio Donella Meadows, Jorgen Randers e Dennis L. Meadows, ou ainda do médico, ornitólogo e ambientalista Jared Diamond, ganharam uma actualidade crítica dificilmente disputável. As subidas dos custos da energia fóssil afectam imediatamente o crescimento, obrigando este a ajoelhar até à recessão; a recessão baixa temporariamente o preço do petróleo, até que a economia dá sinais de melhoria, mas à medida que estes sinais se traduzem em mais encomendas de matérias primas e consumo humano à escala global, a pressão da procura sobre as reservas energéticas acaba por reenviar as economias para taxas de crescimento anémicas e para a estagnação, provocando finalmente novas recessões. Mas ao contrário deste sobe-e-desce, o desemprego, a falta de emprego, a inflação real e a perda imparável do poder de compra da esmagadora maioria das pessoas, de que a destruição das classes médias no Ocidente é um sinal mais do que evidente e dramático, instalaram-se como os novos e reveladores invariantes do declínio cada vez mais evidente do paradigma de desenvolvimento humano decorrente do abuso sem precedentes das riquezas naturais disponíveis à face da Terra.

Sem este cenário de fundo corremos o risco de ir simplesmente atrás da espuma dos dias e das intrigas palacianas a que a propaganda mediática se entrega como sua própria condição de sobrevivência.

À medida que os salários e em geral os custos sociais do trabalho foram aumentando nos Estados Unidos e na Europa, sobretudo após a guerra mundial de 1939-1945, a par de uma subida paulatina dos preços da energia, das matérias-primas e dos alimentos oriundos das antigas colónias americanas, asiáticas, do Médio Oriente e africanas, as economias ocidentais, embora muito competitivas e produtivas no interior dos respectivos países e alianças de comércio livre, viram baixar drasticamente a competitividade das suas exportações para o resto do mundo. As mesmas moedas fortes —o dólar, a libra inglesa, o franco suíço e o marco alemão— que serviam para controlar os preços das importações de preciosos recursos oriundos dos países pobres, manipulando-os enquanto pareciam sem fim, impediam as nações mais fracas de aceder às manufacturas cada vez mais tecnológicas do Ocidente.

A opção dos Estados Unidos e da Europa foi então, sobretudo depois da longa crise económico-financeira que vai do colapso de 1929 até ao fim da Segunda Guerra Mundial, expandir a procura interna e o consumo popular nos seus grandes espaços económicos. Mas para atingir este desiderato, a principal medida de estratégia económica e financeira adoptada foi expandir consistentemente a oferta e a circulação monetárias, aumentando ao mesmo tempo para níveis sem precedentes em tempo de paz os tectos do endividamento público. O chamado deficit spending não nasceu, portanto, neste século, mas com o New Deal (1933-1936) de Roosevelt, e com o Plano Marshall (1948-1951).

O que aconteceu entretanto foi que esta estratégia deixou, sobretudo a partir da década de 1960 (por alturas da formação da OPEP), de assentar num certo equilíbrio entre produção e consumo, passando a estar ancorada cada vez mais na combinação fatal entre dois tipos de inflação inusitada: a inflação do consumo (elevada entretanto a uma verdadeira cultura do consumo conspícuo), e a inflação do crédito, conseguida através do abandono do padrão ouro e de uma imparável política de diminuição das taxas de juro. Mas os preços crescentes das matérias primas solicitadas por uma demografia planetária em crescimento explosivo, apoiada nos equilíbrios diplomáticos saídos da derrota da Alemanha (bipolarização EUA-Europa versus URSS, ou EUA-Europa versus URSS+China), começaram a erodir de forma grave as expectativas de lucro das empresas e dos investidores ocidentais, tornando-os cada vez mais sensíveis aos custos directos e indirectos do trabalho que dentro dos EUA e na Europa esmagavam de forma imparável as suas margens de lucro. Numa primeira fase, Washington, Londres e Berlim começaram a abrir as suas fronteiras aos produtos industriais —nomeadamente os automóveis, máquinas e material electrónico em geral— muito mais baratos, oriundos do Japão. Depois abriram-se aos produtos coreanos, e finalmente aos chineses. A fase seguinte, na realidade uma decisão fatal, foi a imposição estratégica do processo da globalização comercial e financeira, promovendo através desta destruição das barreiras alfandegárias à escala mundial, três processos destinados a atrasar o declínio social do Ocidente, sem atacar verdadeiramente as suas causas:
  1. transferência dos processos produtivos, tecnologias e marcas para os países de trabalho barato, ausência de regras e moedas subavaliadas;
  2. aumento exponencial da disponibilidade de liquidez no sistema financeiro, nomeadamente através da diminuição deslizante dos rácios de solvabilidade dos bancos e sociedades de investimento não reguladas —ver aqui a longa série (1975-2011) do stock de moeda da Reserva Federal, conhecido por M1;
  3. criação de produtos derivados financeiros cada vez mais complexos, com o objectivo inconfessável de expandir até limites inimagináveis a capacidade de endividamento das antigas potências coloniais: o valor nocional do mercado de derivados financeiros OTC era em Dezembro de 2010 de aproximadamente 10xPIB mundial (BIS).
Resumindo: a humanidade, liderada por um Ocidente irresponsável, atingiu o planalto insustentável de três curvas de exaustão: o Pico do Petróleo, o Pico Demográfico e o Pico da Liquidez Especulativa. Para sair daqui não bastam os Memorandos de Entendimento com o FMI, o BCE e a Comissão Europeia. É preciso muito mais!

(continua)

segunda-feira, junho 20, 2011

Alea jacta est

Só a recessão nos pode salvar!
Os dados da escassez energética estão lançados, e os do colapso ambiental também.
Só uma profunda, prolongada e muito dolorosa recessão global poderá evitar o pior. Mas poderá?



Agência chinesa de rating baixa notação do Reino Unido, em Maio, de AA- para A+. Alguém ouviu falar disto?
Dagong Downgraded the Sovereign Credit Rating of United Kingdom

Dagong Global Credit Rating Co., Ltd. (hereinafter referred to as “Dagong”) has downgraded the local and foreign currency sovereign credit rating of the United Kingdom of Great Britain and Northern Ireland (hereinafter referred to as the “UK”) from AA- to A+ with a negative outlook for its solvency. The downgrade reflects the true status of the deteriorating debt repayment capability of the UK and the difficulty in improving its sovereign credit level in a moderately long term in the future — Dagon Global Credit Rating.

O consumismo ocidental foi uma fuga em frente destinada a criar os famosos mercados internos baseados no endividamento progressivo das sociedades do chamado bem-estar social. As indústrias fugiram, em geral, do Ocidente para o Oriente, ao longo das últimas quatro décadas, em busca de trabalho barato e de condições de exploração agressiva, por forma a compensar basicamente uma grande perda, que hoje se tornou irreversível, e cada vez mais evidente: a perda da energia fóssil barata.

As sociedades ocidentais, induzidas pela ideologia da gratificação instantânea plasmada no consumismo e no hedonismo generalizado acabaram por empobrecer paulatinamente, ainda que sem se darem propriamente conta do fenómeno. Só agora, com o colapso do gigantesco mercado da especulação financeira em volta do endividamento doméstico, empresarial e público, começamos a dar-nos conta da tragédia.

Os Estados Unidos estão à beira de novo colapso financeiro, tão ou mais sério do que os colapsos em curso no Reino Unido e na União Europeia. Basta somar as dívidas soberanas de todos estes países, e a respectivas dívidas externas, para vermos a dimensão do problema criado. Se as dívidas são, em si mesmas, difíceis de pagar, tapar o buraco negro nuclear formado pelos activos virtuais, activos reais mas em queda abrupta de valor, e contratos de derivados financeiros, com especial destaque para os especulativos e obscuros OTC, é uma missão impossível. Insistir em virar a cara a esta tragédia anunciada convocará inexoravelmente novos holocautos sociais, revoluções e guerras destinadas a provocar uma devastação imensa. Como aterrorizado confessa Jean-Paul Trichet ao especialista da CNN, Richard Quest: “Greece is part of bigger problem”.

China: European recovery crucial (China Daily)

BEIJING – China registered new concern Friday over the fate of its top trading partner, the embattled eurozone, saying the ability of stricken countries to overcome their financial woes is of "crucial importance."

China's support in terms of buying European debt and promoting imports is beneficial to both sides, Vice Foreign Minister Fu Ying told reporters at a briefing ahead of Premier Wen Jiabao's visit next week to Hungary, Britain and Germany.

But she expressed some anxiety over the fate of the eurozone. Greece is at risk of defaulting on its debt even after a massive bailout, and European leaders fear the country's problems could hurt other struggling economies that use the euro, including bailed-out Ireland and Portugal.

A China já percebeu que se não comprar parte significativa da dívida europeia (o que está fazendo desde que, em Novembro passado, Hu Jintao visitou Portugal e Espanha) ao mesmo tempo que se desfaz de consideráveis volumes de obrigações americanas, perderá o seu maior parceiro comercial. E sem este, ao mesmo tempo que as suas exportações para os EUA rendem cada vez menos, o crescimento chinês poderá entrar rapidamente em colapso, com tudo o que tal paragem significará para a estabilidade social e política desta potência emergente.

Japan Posts Second Biggest Trade Deficit In History (Zero Hedge)

For those who may not have noticed it, the headline says "deficit" and pertains to Japan: once upon a time a booming export economy. The reason: the ongoing collapse in export trade, after May exports dropped by 10.3% from a year ago, and just better than April severe economic contraction of 12.4%. Consensus was for an 8.4% decline. The net result was a monthly deficit of 853.7 billion yen, or $10.7 billion, the second biggest inverse surplus ever. And just like in Europe, where things are going to go from insolvent to perfectly solvent any minute now... just not yet... so in Japan the economic renaissance which will cause the economy to surge (unclear how: no new monetary stimulus, and the recently announced fiscal stimulus of Y500 billion in new loans will do precisely nothing to boost anything except for some corrupt bureaucrats Swiss bank accounts) is coming any minute.... just not yet.

O Japão tem a maior dívida pública do planeta: 225,8% do PIB! Mas até agora dizia-se que a coisa era suportável, porque o povo japonês continua a ser maioritariamente composto por uma espécie de servos da nova aristocracia tecnológica, e porque o país do Sol Nascente, além de boicotar ardilosamente qualquer importação de bens manufacturados fora do país, é o quarto exportador mundial, depois da União Europeia, China, Alemanha e Estados Unidos. O tsunami e sobretudo a tragédia nuclear de Fukushima, a par da recessão mundial e da desvalorização agressiva do dólar, e da manutenção da moeda chinesa muito abaixo do seu real valor, vieram colocar em risco o grande motor das exportações nipónicas.

Temos, em suma, demasiados países, e demasiadas potências nucleares endividadas, com populações envelhecidas e dominadas por bandos de gnomos e piratas incorrigíveis. Duvido que na Europa, Rússia e Japão haja suficiente gente nova para o cometimento de verdadeiras revoluções, ou mesmo guerras civis. Mas já não direi o mesmo relativamente ao continente americano, à África, ao Médio Oriente e a uma parte da Ásia (ver mapa). Sem uma gestão demográfica mundial inovadora e corajosa, espera-nos o pior.

A Grécia, se continuar pela via do protesto oportunista, acabará pior do que está. Portugal e Espanha, por sua vez, terão que fazer os impossíveis para evitar cair na armadilha da agitação social orquestrada a partir de Wall Street. Uma revolução de esquerda é praticamente impossível, pelas seguintes razões: não há programas credíveis; não existe uma base social de apoio coerente; e não há dinheiro. Logo, o que vemos são protestos compreensíveis, mas inconsequentes. Porém, se a Esquerda burocrática de Portugal e Espanha resolver apostar no quanto pior melhor, terá que arcar mais tarde com a responsabilidade ter ajudado a entregar o euro ao dólar! É isto que Francisco Louçã quer?

POST SCRIPTUM

Les océans «dans un état critique»
La vitesse de dégénérescence des mers est bien plus rapide que ce qui avait été prévu, concluent les spécialistes de six pays (Le Devoir.com, 21-06-2011)

Por paradoxal que seja, evitar um colapso ecológico à escala planetária já só depende da nossa ruína a curto prazo, e esta, por sua vez, acabará por resultar da confluência entre duas curvas catastróficas: a do Pico do Petróleo, e a da implosão económica mundial causada pelo buraco negro em que se transformou o mercado global de derivados financeiros. Se conseguíssemos escapar a esta tenaz, morreríamos como espécie, arrastando connosco uma extinção em massa da vida, nomeadamente à superfície dos oceanos e nos continentes, por via da destruição ecológica que o nosso crescimento como espécie representa para as outras espécies e para o fenómeno da vida em geral. A humanidade tornou-se uma espécie altamente tóxica, simultaneamente assassina e suicida. Convém pois relativizar a crise financeira em curso, evitando clubismos desnecessários. Não são as suas causas próximas que importa atacar, mas as suas causas sistémicas — e estas, não sei se teremos capacidade de realizar. A inércia é colossal!

quarta-feira, junho 01, 2011

A miopia dos economistas

A avaliação leviana do declínio inexorável do petróleo barato é a principal causa dos erros grosseiros de governação portuguesa desde 1996



Para lá dos maniqueísmos de ocasião, convém ter presente que o colapso das economias ocidentais assenta em três factores corrosivos de ordem estrutural que, se nada for feito, conduzirão as economias afluentes de hoje, mais rapidamente do que previram M. King Hubbert (1956) e Donella Meadows (1972), ou mais recentemente, C. J. Campbell (1997), à rampa descendente da curva de Hubbert — a saber:

  • PRIMEIRO FACTOR: declínio inexorável da principal fonte energética das últimas revoluções industriais, da urbanização em massa e do bem-estar social, i.e. o petróleo (+ gás natural); 
  • SEGUNDO FACTOR: envelhecimento populacional e subsequente declínio demográfico das sociedades alimentadas a petróleo; 
  • TERCEIRO FACTOR: desaparecimento do trabalho, causado por duas consequências inevitáveis das economias liberais: tropismo dos centros produtivos em função do custo do trabalho humano e da proximidade das matérias primas; e substituição progressiva do trabalho humano, incluindo o altamente especializado, por máquinas cada vez mais inteligentes.

Vale a pena ler o último artigo de investigação de Rui Rodrigues (Público) sobre os impactos tremendos que a cegueira dos estrategas pode provocar numa economia, no caso a nossa.
Previsões sobre petróleo levaram a política de transportes errada

Nas próximas eleições, os partidos deveriam discutir e debater seriamente as 120 Parcerias Público Privadas num valor superior a 60 mil milhões de Euros, em que 41% deste valor será destinado à construção de novas auto-estradas e vias rápidas.

Neste artigo vamos recordar as conclusões de um documento governamental, publicado em Março de 1996, cujo título era “Energia 1995-2015. Estratégia para o Sector Energético” da Secretaria de Estado da Energia do Ministério da Indústria e assinado pelo então Secretário de Estado Luís Filipe Pereira. Este estudo pretendia, como se pode ler na página inicial, “apontar os grandes objectivos estratégicos, as políticas fundamentais e as medidas a desenvolver no período considerado”. No final da página V da Síntese é dito: “relativamente aos preços do petróleo, há razões plausíveis para admitir uma certa estabilização dos preços do petróleo no curto prazo e o seu aumento moderado num horizonte mais longínquo”. O que veio a verificar-se foi que, em 1995, o preço do crude era de 17 dólares. No ano de 1998 baixou para os 12 dólares e as previsões, no documento governamental publicado em 1996, eram, para o ano 2000, 23 dólares e de 2005 até 2015 o preço ficaria estabilizado nos 28 dólares!

O buraco de 20 mil milhões de euros das PPPs rodoviárias teve origem (descontando a pirataria) numa hipótese energética completamente irrealista: em 1996, o governo português estabeleceu um cenário de desenvolvimento baseado numa estimativa do preço do petróleo, entre 2005 e 2015, de 23 dólares o barril (PDF). O preço do petróleo bruto à hora que escrevo este texto oscila entre os 100,28USD (WTI) e os 114,61USD (Brent). O resultado é simples: com o actual preço do gasóleo, mais os 8 cêntimos/Km impostos pelas portagens das famosas autoestradas “Sem Custos para o Utilizador” (SCUT), a mobilidade automóvel custa 400% mais nos dias de hoje do que há 10 anos atrás, sem que os salários (salvo o dos administradores do regime) tenham subido ao mesmo ritmo — obviamente!

Em geral, os nossos políticos e burocratas, incluindo a maioria dos deputados e governantes, são uma espécie de novos-ricos para quem andar de comboio, metro ou eléctrico, é um desprestígio. Só os carros de alta cilindrada e o avião lhes dão aquele status que os faz sentir bem. Parece pueril, mas é o principal factor psicológico e cultural que concorre para a irresponsabilidade energética do nosso país.

A ideologia do automóvel e do avião esteve, por outro lado, intimamente associada às pressões dos fabricantes de automóveis e aviões, e às empresas de engenharia e betão armado, dentro e fora de portas. Só o colapso da bolha do endividamento, disfarçada durante duas décadas pelo biombo dos bancos de investimento e as falsas estatísticas, veio desnudar toda a irracionalidade que hoje aperta, como um garrote, a nossa economia, o sistema financeiro de uma ponta à outra, e a sustentabilidade do estado social.

A Mota-Engil e a Brisa, entre outras empresas, parecem ter acordado para o fim de ciclo do betão, e voltam-se finalmente para outras áreas: a ferrovia e os portos. Menos mal! Têm, no entanto, que compreender uma coisa simples: Portugal, para se ligar a Espanha e ao resto da Europa, terá que estabelecer rapidamente três corredores ferroviários —para transporte rápido de pessoas e mercadorias— em bitola europeia (UIC):
  1. Pinhal Novo-Poceirão-Caia; 
  2. Aveiro-Salamanca
  3. Porto-Vigo
Outro sector estratégico da mobilidade a médio e longo prazo abrange os transportes colectivos urbanos, suburbanos e interurbanos, sobre carris, para pessoas e mercadorias, igualmente em bitola europeia. O automóvel eléctrico é uma miragem, e a população portuguesa está a envelhecer rapidamente!

POST SCRIPTUM — O artigo de Rui Rodrigues acima citado deu origem a um debate vivo na Net. Reproduzo, pelo interesse objectivo que tem, a mais recente resposta do autor às críticas que lhe foram dirigidas.

A referência ao documento governamental, publicado em Março de 1996, cujo título era “Energia 1995-2015. Estratégia para o Sector Energético” teve como objectivo chamar a atenção [de] Portugal [para a necessidade de] mudar de política de transportes e [de] investir numa nova rede ferroviária de bitola europeia mista para mercadorias e passageiros, [para deste modo] resolver o grave problema de interoperabilidade ferroviária que o País apresenta.

Limitei-me a apresentar os factos, e pelos dados apresentados temos a certeza absoluta que o preço do Petróleo vai continuar a subir de preço. Mais uma razão para alterar a actual política de transportes e deixar de continuar a gastar dezenas de milhares de milhões de euros em novas auto-estradas.

Temos assistido frequentemente aos comentários de muitos economistas que são contra o troço Poceirão-Caia mas quase nada dizem sobre as novas auto-estradas, muito mais caras, e construídas em regiões onde nem sequer existe tráfego que as justifique. Ninguém consegue entender esta atitude, ainda por cima, quando invocam que o nosso País não tem dinheiro para investir numa nova rede ferroviária. As novas auto-estradas representam 41% dos 60 mil milhões de euros das 120 PPP.

As pessoas que são contra a nova rede ferroviária mista UIC (bitola europeia) nem sequer apresentam alternativas para reduzir os custos de transporte dos contentores de e para a UE. Chamo a atenção para o facto de 50% das nossas exportações serem efectuadas por camião TIR.
Lembro que, quando a Opel de Azambuja anunciou a sua saída de Portugal, para Saragoça, onde tinham outra fábrica, o Presidente da Opel afirmou que a saída daquela empresa tinha, como principal fundamento, os custos de logística. A empresa transferiu-se para Saragoça, onde paga salários duas vezes superiores aos de Azambuja.

A Opel de Azambuja representava, por ano, 0,6% do PIB.

A Auto-Europa também se queixa dos elevados custos de logística devidos ao transporte que tem que ser efectuado em camiões TIR desde a Alemanha até Portugal.

Portugal é um País periférico e para ter acesso aos maiores centros de consumo da Europa, a menores custos, terá que construir uma nova rede ferroviária com 3 linhas, 2 transversais e uma Norte-Sul:

Aveiro-Salamanca, que ligará os portos da Região Norte e o Porto à UE.

Pinhal-Novo-Badajoz, que ligará os portos de Setúbal e Sines e a Região de Lisboa à UE

Vigo-Porto-Lisboa-Sines-Algarve-Huelva, que permitirá conectar todos os nossos portos e principais plataformas logísticas e a nossa fachada Atlântica à rede UIC europeia.

Esta rede vai ter que ser construída de forma faseada, começando pelas vias internacionais que nos ligam à UE.

Vai ser necessário construir uma nova linha Lisboa-Porto, porque é fisicamente impossível mudar a bitola na Linha do Norte, onde circulam centenas de comboios por dia.

Esta nova rede ferroviária vai ser cara? É claro que vai, mas muito pior seria se nada fosse feito. Nesse caso, a nossa economia ficaria menos competitiva e os nossos portos iriam atrofiar. A Espanha seria a grande beneficiada porque iria ganhar receitas de logística à nossa custa.

Cumprimentos Rui Rodrigues 

ÚLTIMA ACTUALIZAÇÂO: 03.06.2011 10:20

quarta-feira, março 23, 2011

Alemanha a Leste

Luteranos demarcam-se da intervenção militar euro-americana na Líbia, ao lado da Rússia e da China

E no campo económico, veremos amanhã. Repito o que já escrevi: ou os PIGS saiem do euro, ou sai a Alemanha! O meio termo parece cada vez mais longínquo.




À medida que os EUA e o Reino Unido colapsam num mar de dívidas, e a competição pelo petróleo, e pelo último atum, se agrava, a questão do Novo Tratado de Tordesilhas ganha rapidamente actualidade. A Alemanha começou um notório tropismo em direcção à Rússia e à China. Mas Israel também!


Ver declaração de Hillary Clinton sobre a competição com a China.

A dolce vita dos europeus do Sul tem os dias contados. Mas a mudança de hábitos seculares não será nem fácil, nem rápida. Daí o nervosismo crescente da Alemanha. A economia mudou-se para o Oriente. Mas atenção: boa parte do petróleo e do gás natural, apesar das novas descobertas de gás natural na Papua-Nova Guiné, continua na bacia mediterrânica, no Médio Oriente, em volta do Mar Cáspio, no Golfo da Guiné, delta do Congo, Angola e continente americano. Há, por conseguinte um T deitado formado pelo Atlântico e pelo Mediterrâneo que a senhora Merkel e os luteranos não deverão hostilizar demasiado, sob pena de voltarem a partir os dentes numa mais do que provável e última guerra mundial pelos recursos petrolíferos.

Os fantasmas regressam.

domingo, fevereiro 13, 2011

2030: end-of-the game

Onde não há petróleo...

Telegramas diplomáticos confidenciais divulgados pelo WikiLeaks revelam a incapacidade da Arábia Saudita de impedir a subida dos preços do petróleo, e o declínio a curto prazo da sua produção.
WikiLeaks cables: Saudi Arabia cannot pump enough oil to keep a lid on prices
US diplomat convinced by Saudi expert that reserves of world's biggest oil exporter have been overstated by nearly 40%

(…) According to the cables, which date between 2007-09, Husseini said Saudi Arabia might reach an output of 12m barrels a day in 10 years but before then – possibly as early as 2012 – global oil production would have hit its highest point. This crunch point is known as "peak oil".

Husseini said that at that point Aramco would not be able to stop the rise of global oil prices because the Saudi energy industry had overstated its recoverable reserves to spur foreign investment. He argued that Aramco had badly underestimated the time needed to bring new oil on tap.

"(…) Aramco's reserves are overstated by as much as 300bn barrels. In his view once 50% of original proven reserves has been reached … a steady output in decline will ensue and no amount of effort will be able to stop it. He believes that what will result is a plateau in total output that will last approximately 15 years followed by decreasing output" — Guardian, Tueaday 8 Feburary 2011.

Uma das consequências da revolução democrática que varre a margem sul do Mediterrâneo, com fortes possibilidades de se estender à Arábia Saudita, Iémen e vários outros países africanos populosos e jovens, será um maior consumo mundial de petróleo e gás natural. António Costa Silva adianta em artigo publicado no Expresso desta semana que este acréscimo será da ordem dos 30% nas próximas três décadas — se houver disponibilidade de produto, e quem possa pagar por ele, claro (acrescento eu). Ou seja, à pressão exercida pelo crescimento dos chamados países emergentes, entre os quais se incluem o Brasil, a Índia, a China e a Rússia, mas também a Turquia, o Vietname, a Tailândia e a Argentina, que crescem três a quatro vezes mais depressa do que os Estados Unidos e a União Europeia (ver quadro), virão somar-se ao longo desta e da próxima década uma série de vizinhos de longa data da Europa, onde o passado de colónias submissas poderá ter sido definitivamente enterrado no dia em que Hosni Mubarak foi apeado do poder.

Esta tendência para o equilíbrio mundial irá, no entanto, provocar uma tensão enorme nos mercados de matérias primas, dos alimentos básicos, e da energia. Pão, arroz, mas também todos os produtos industriais e serviços serão apanhados por uma onda prolongada e crescente de inflação, cuja origem primordial é, precisamente, a escassez progressiva do petróleo e a correspondente e imparável subida de preço. Nada do que se conhece tem o poder e a dimensão suficientes para substituir o petróleo e o gás natural na alimentação do estilo de vida e bem-estar criados pelo homem nos últimos duzentos anos.

As consequências deste facto, que um número crescente de indícios diplomáticos, relatórios oficiais e estatísticas comprovam, são praticamente inimagináveis. Desde 1972 que o relatório The Limits to Growth, encomendado aos cientistas Donella H. Meadows, Dennis L. Meadows, Jørgen Randers e William W. Behrens III, pelo Clube de Roma, previu o iminente colapso da civilização humana moderna em resultado de uma confluência galopante entre crescimento demográfico e exaustão das reservas potenciais de matérias-primas e alimentos. No vários cenários de The Limits to Growth, tal como no estudo pioneiro de 1956, desenvolvido por Hubbert M. King, "Nuclear Energy and the Fossil Fuels 'Drilling and Production Practice'" (PDF), o período compreendido entre 2030 e 2050 é apresentado como a barreira inultrapassável do actual paradigma energético do nosso crescimento como espécie. Sabe-se hoje que a energia nuclear não pode ser a salvação. E sabe-se que a única grande reserva energética disponível cuja capacidade de resposta se aproxima do petróleo e do gás natural é o carvão — depois de liquefeito. Acontece, porém, que esta operação é muito cara. Conclusão: o actual paradigma de desenvolvimento da espécie humana está irremediavelmente condenado — e a curto prazo! Se soubermos decrescer com graça, talvez nos safemos. Se não... a extinção parcial da espécie será a funesta herança que deixaremos aos nossos netos.

Enquanto o ruído surdo do fim dos tempos parece aproximar-se da nossa espécie, mas nos dá ainda algum tempo de análise e acção, a prioridade das prioridades chama-se eficiência energética — um bem que escasseia flagrantemente no nosso país. Se não pusermos rapidamente na ordem os piratas que nos levaram à falência, seremos dos primeiros povos a sucumbir!

quinta-feira, janeiro 06, 2011

O pico da tragédia

Não é preciso lançar o pânico. Mas é preciso uma solução

A China extrai 95% da produção mundial de metais raros, e já começou a açambarcar e a restringir as exportações — Telegraph.

Bens alimentares batem preços recordes em todo o mundo
Os preços dos bens alimentares atingiram em Dezembro um máximo histórico por todo o mundo, alertou ontem a FAO, a organização das Nações Unidas para a agricultura e alimentação. O índice que reúne 55 matérias-primas alimentares negociadas nos mercados internacionais subiu em Dezembro para 214,7 pontos, o valor mais elevado desde a criação desta série estatística em 1990. O anterior recorde (213,6 pontos) remonta a Junho de 2008, em plena crise de alta de preços dos bens alimentares, o que gerou uma vaga de protestos nos países mais pobres de África e Ásia. O açúcar e o milho foram os que mais encareceram. A FAO alertou ainda que "continua a existir potencial para os preços dos cereais subirem". — DN, 6 jan 2011.

Rare Earths: China´s not-so-secret secret weapon
"… Without an immediate fix of China rare earths,  Japan´s automotive, electronic, military, scientific, medical and even green industries  were suddenly facing  imminent collapse." — Alan Parker, Toronto SUN, Thursday, January 6 2011.

World faces hi-tech crunch as China eyes ban on rare metal exports
Beijing is drawing up plans to prohibit or restrict exports of rare earth metals that are produced only in China and play a vital role in cutting edge technology, from hybrid cars and catalytic converters, to superconductors, and precision-guided weapons. — Ambroise Evans-Pritchard, Telegraph, 24 Aug 2009.

Pico Alimentar: tenho insistido, de acordo com um número crescente de analistas e de observadores sérios, no estado objectivo de emergência para que caminhamos todos. A convergência entre o Pico Petrolífero, o Pico Demográfico e o Pico Alimentar, de que o Buraco Negro dos Derivados Financeiros e a crise sistémica financeira mundial são epifenómenos, imporá inevitavelmente uma dramática desorganização social nas várias escalas da organização humana: global, regional, nacional, e local.

Consequências a curto prazo: à medida que os países produtores de matérias primas (nomeadamente energia, minerais convencionais e raros, e cereais) se forem apercebendo dos sinos da escassez, interromperão ou condicionarão drasticamente as exportações.

A China já o anunciou relativamente às terras ou metais raros, o México deixará de exportar petróleo dentro de um ou dois anos, seguir-se-à a Venezuela e o Brasil, e quando isto acontecer o Médio Oriente e o Mar Cáspio formarão o vórtice explosivo das actuais e já muito graves tensões estratégicas mundiais. Ou a guerra permanente, ou uma divisão do mundo em grandes regiões de influência —com o consequente fim da globalização e o regresso a novas formas, porventura mais articuladas, de proteccionismo—, são inevitáveis.

Novo Tratado de Tordesilhas: a ideia de um Novo Tratado de Tordesilhas, que há muito defendo, pode tornar-se em breve inevitável. Só falta imaginar a geografia desta divisão — uma tarefa nada fácil, e que exigirá muita imaginação, que é coisa que escasseia nos toutiços da esmagadora maioria dos actuais dirigente políticos mundiais. Desde logo, uma Europa de Lisboa a Vladivostok é o que mais convém à Eurásia. Só uma Alemanha de novo irracional e suicida poderia deixar-se provocar pelo eixo anglo-americano que, uma vez mais tenta encurralar Berlim, atacando em várias frentes. A guerra contra o euro é presentemente a mais encarniçada e perigosa de quantas os serviços secretos norte-americanos, ingleses e israelitas têm entre mãos!

Morte deste regime e refrescamento partidário: entre nós, portugueses, é fundamental que os responsáveis políticos e cidadãos atentos olhem para a realidade com olhos de ver. A proliferação de candidatos presidenciais anti-sistema (1) é um sinal claro de que o regime está podre e precisa urgentemente dum refrescamento partidário e institucional (regras simples mas eficazes anti-corrupção, fim das mordomias inaceitáveis de que gozam a generalidade dos agentes político-partidárias e a burocracia de topo, restrição da acção do Estado ao que é essencial e socialmente justificável, libertação da sociedade civil, baixa imediata da carga fiscal sobre o trabalho e as empresas, etc.)

Um novo partido: é necessário, pelo menos, mais um partido político, formado por dissidentes da nomenclatura actual, mas para onde confluam rapidamente caras novas, e sobretudo a imensa juventude qualificada deste país, estrangulada pela situação objectiva e pelo populismo demo-burocrático dominante. Esta juventude licenciada, com os seus mestrados e doutoramentos, que hoje tem que mentir diariamente sobre a suas qualificações (não como Sócrates, que as empolou fraudulentamente, mas auto-diminuindo os seus CVs, por imposição do desqualificado tecido empresarial existente), quando perceber que o mercado da emigração está esgotado, fará a diferença. Mas precisamos de criar muito rapidamente o contexto partidário e de cidadania activa capaz de acolher esta energia explosiva em formação.

Esquerda-Direita: esta dicotomia, há muito esgotada, é o principal véu que cobre a mentira da nossa sociedade. Por baixo existe um sórdido regime de corrupção e burocracia que é preciso desfazer e substituir por uma verdadeira democracia. A democracia que temos é cada vez mais uma democracia formal, institucional, burocrática, endogâmica, nepotista, cabotina, populista, autoritária e profundamente irresponsável, ignara e incompetente. Curar uma tal monstruosidade não vai ser tarefa fácil. Mas se o não fizermos, o corpo que esta minocracia parasita morrerá da sangria imparável que lhe vem sendo infligida há décadas.

História: Durante todo o século 18 Portugal "importou" 850 toneladas de ouro do Brasil. Quando as estourou, nomeadamente na sequência da resistência às invasões Napoleónicas, e da independência do Brasil, expropriaram-se as Ordens Religiosas, o país foi à falência, assassinou-se o rei, e a I República concluiu o festim mergulhando de novo Portugal na bancarrota. Salazar e a sua ditadura refizeram as finanças públicas, voltando a encher os cofres de ouro (em 1974 existiam 865,936 toneladas de ouro), desta vez vendendo volfrâmio a ambos os contendores da segunda grande carnificina mundial, e explorando os quase escravos moçambicanos que eram enviados para as minas de ouro da África do Sul. Após o colapso político da ditadura e a perda do que existia ainda do império colonial (1974-1999), Portugal entrou outra vez no caminho da bancarrota, desta vez ao som de uma democracia de telenovela.

Desde 1974, os respeitáveis governadores do Banco de Portugal foram vendendo paulatinamente o ouro que tínhamos, em nome da democracia, claro! Venderam-se 483,396 toneladas, restando agora nos depósitos da Reserva Federal americana (local para onde Salazar enviou, à cautela, o metal precioso) qualquer coisa como 382,540 toneladas (resta saber se algum deste ouro se encontra ou não comprometido em SWAPS)

Menos mal que a venda do que resta do nosso ouro já não depende apenas da leviandade do regime, mas precisa de aprovação superior do BCE!

NOTAS
  1. Ao contrário do que dizem os "analistas" políticos ao serviço das agendas mediáticas da nomenclatura, todos os candidatos anti-sistema são bons, e é fundamental votar em qualquer deles: Defensor de Moura, Fernando Nobre e José Manuel Coelho. Os outros são farinha estragada do mesmo saco. E a abstenção não chega!

domingo, janeiro 02, 2011

Grandes Obras

Portugal 2010-2020 
as três grandes prioridades de investimento chamam-se: ferrovia, eficiência energética e segurança alimentar

in Plan Estratégico Para El Impulso del Transporte Ferroviario De Mercancías En España, 14/09/2010 (PDF)

PS e PSD chegaram finalmente a acordo sobre as personalidades que irão coordenar o grupo de trabalho encarregado de reavaliar as Parcerias Público-Privadas (PPP): Guilherme de Oliveira Martins, mestre em ciências jurídico-económicas, independente próximo do Partido Socialista, e António Pinto Barbosa, professor de economia e fundador do PPD/PSD (1). Ambas as personalidades merecem grande respeito nas respectivas áreas profissionais, esperando-se que façam um trabalho tecnicamente competente e imune às pressões que sobre ambos pesarão enormemente, em particular, vindas do desmiolado e a caminho da falência Bloco Central do Betão — cuja miragem de salvação é o Novo Aeroporto de Lisboa, que não foi na Ota, como queriam, nem será em Alcochete, como querem e insistem todos os dias por todos os meios ao seu alcance. Nota importante: António Pinto Barbosa não é o irmão gémeo Manuel Pinto Barbosa, Presidente do Conselho Geral e de Supervisão da TAP!

Escrevi e repito que os nossos economistas têm grandes lacunas de informação em três domínios decisivos para o futuro do nosso país: energia, transportes e segurança estratégica —nomeadamente, territorial, marítima, hídrica e alimentar. Sem a frequência de seminários intensivos sobre estes temas correm o risco de falhar, como falharam estrondosamente até agora, nas previsões, nos modelos de desenvolvimento propostos, e nas consultadorias que prestaram.

Os casos Lusoponte, e aeromoscas de Beja —onde pontificaram as opiniões e propostas, respectivamente, de Joaquim Ferreira do Amaral e de Augusto Mateus, são a este título tristemente elucidativos: a ponte Vasco da Gama irá ser paga duas vezes pelos contribuintes, e o grande hub aeroportuário de Beja, de onde deveriam sair diariamente, segundo Augusto Mateus, toneladas de sardinhas —sim, sardinhas e carapaus!— para a União Europeia, está às moscas, provavelmente destinado a ser, no futuro, o parque de estacionamento para as aeronaves paradas da Portugália e da TAP que hoje atravancam as placas de estacionamento da Portela.

A grande pergunta a fazer, nas vésperas da entrada do Fundo Europeu de Estabilização Financeira e do FMI num país tecnicamente falido, é esta: se nos últimos dez anos, apesar do afluxo contínuo de avultadas verbas dos fundos de apoio comunitário, Portugal esteve praticamente estagnado, que poderemos esperar em matéria de crescimento numa conjuntura duplamente marcada pela diminuição drástica do apoio comunitário e pelo colapso financeiro em curso das economias cujo modelo de crescimento (virtual) assentou basicamente na desindustrialização, nas importações, no consumo desmesurado de energia, bens materiais e serviços, e no endividamento? A resposta só pode ser uma: nenhum crescimento, salvo se algum grau de proteccionismo regressar aos grandes espaços económicos e demográficos do planeta —à semelhança do que há muito sucede no Japão, e também na China.

A actual crise portuguesa deve ser vista, na realidade, como o ponto final do nosso modelo colonial de existência. Este modelo acabou de vez em 1974-75, mas os vícios por ele criados sobreviveram até hoje, nomeadamente na tipologia da nossa burguesia burocrática e palaciana, na presença desmesurada, paternalista e autoritária do Estado na sociedade (que as esquerdas marxistas reciclaram a seu favor), e na dependência sistemática do país e respectivas elites de uma qualquer árvore das patacas. O colapso do modelo colonial iniciado em 1415 foi progressivo. Começou com a independência do Brasil, teve outro grande abalo por ocasião da independência das possessões portuguesas na Índia, e culminou com a independência do resto do império entre 1974 e 1999. Cada uma destas perdas de território funcionou como epicentro de agudas crises económico-financeiras (1828, 1846-47, 1890-92, 1923, 1978, 1983), todas elas redundando, ao cabo de alguns anos, em graves crises de regime. O colapso financeiro de 2009-2011 terá como consequência inevitável o agudizar da crise de regime que já é patente, e a probabilidade de uma revolução institucional. O regime secular de autoritarismo burocrático, mediocridade técnica e institucional, incultura, clientelismo e dependência externa, perdeu os pilares sobre os quais assentou ao longo dos últimos seiscentos anos. Para sobreviver, Portugal precisa de se reinventar.

E precisa tanto mais de se reinventar quanto o resto do mundo se encontra também à beira de uma dolorosa metamorfose. Ninguém nos virá ajudar pelos lindos olhos que já não temos. Dependemos agora inteiramente de nós próprios para sair do buraco onde caímos.

O mundo, sobretudo o mundo desenvolvido e industrializado, está confrontado com três pontos de viragem potencialmente catastróficos:
  • o pico petrolífero, 
  • o pico alimentar e 
  • o pico do endividamento especulativo. 
 Resumindo: a produção de petróleo per capita decai desde 1970, a produção de cereais per capita começou a decair na década de 1980, e a bolha de derivados financeiros OTC, fruto de um modelo de crescimento especulativo pela via do consumo e do endividamento exponenciais, traduzia no final de 2009 um risco potencial de incumprimento de contratos de futuros equivalente a uns inimagináveis $615 trillions (615 biliões ou 615 milhões de milhões de dólares), quase 10x o PIB mundial (2).

A gravidade de cada uma das curvas exponenciais acima mencionadas é por si só evidente. Mas o pior é que duas delas —a curva da alimentação e a curva da especulação resultante da criação de dinheiro a partir de castelos no ar— decorrem directamente da descoberta, exploração, abundância e esgotamento a curto prazo dos principais hidrocarbonetos que alimentaram e continuam a alimentar a era industrial e a modernidade tal qual as conhecemos desde meados do século 19 —momento a partir do qual as máquinas começaram a ser alimentadas a carvão, electricidade e petróleo.

Vale a pena seguir o crash course de Chris Martensen sobre este tema...



E ouvir ainda Robert Hirsch a propósito do seu mais recente livro, The Impending World Energy Mess (Equal Time, audio, 50:19 mn)

As consequências do pico petrolífero têm um alcance potencialmente catastrófico para o mundo tal qual o conhecemos desde que Eça de Queirós escreveu A Cidade e as Serras (1892/1901). Teríamos mesmo que recuar aos tempos anteriores a 1830, quando pela primeira vez um caminho ferro e um comboio movido a vapor e alimentado a carvão ligaram duas cidades, Liverpool e Manchester, para imaginar o que poderá ser um futuro sem motores a vapor, ou de explosão, e um mundo sem electricidade, nem computadores, ou telemóveis. A humanidade poderá ver-se em breve imersa numa crise global de recursos sem precedentes. Para muitos analistas tal significará o fim de quase tudo o que hoje temos de barato e assumimos como dádivas naturais da civilização.

Antes, porém, do dilúvio, ou da grande seca anunciada, há coisas que as pessoas e os governos podem fazer para mitigar o inevitável. A primeira delas é não agravar, por falta de informação, estupidez ou ganância, os factores da crise sistémica do actual modelo civilizacional. No caso presente, e em Portugal, não agravar o nosso endividamento, não agravar a nossa dependência energética, e não agravar a nossa dependência alimentar.

Para não agravar, ou mesmo travar o crescimento exponencial do nosso endividamento público e privado, é preciso começar por redefinir as funções essenciais do Estado, aliviando a canga de burocratas e de burocracias que pesa sobre a sua eficiência, e sobre a viabilidade económica do país —nomeadamente na forma de tempo perdido e impostos assassinos (3). Neste ponto, diria que se não formos capazes de sensibilizar as lapas partidárias do regime, haverá que criar um movimento social contra os impostos e contra a burocracia, antes que estes inviabilizem definitivamente a independência nacional.

Para não agravar ainda mais a dependência energética do país teremos que fazer quatro coisas:
  1. diminuir drasticamente a intensidade energética da nossa economia;
  2. aumentar drasticamente a eficiência energética de indústrias, serviços, edifícios e comportamentos; 
  3. renacionalizar, pelo menos parcialmente, os recursos energéticos comuns, acabando ao mesmo tempo com os oligopólios que hoje impedem a sociedade civil de produzir e consumir em pequena escala energia fora das redes; 
  4. dar máxima prioridade ao transporte colectivo urbano, suburbano, interurbano e internacional alimentado por energia eléctrica produzida no país. As oportunidades de investimento neste sector estratégico são enormes e compensam largamente os planos condenados ao fracasso de retomar o business as usual na estafada economia baseada em combustíveis líquidos baratos (autoestradas, aeroportos e plataformas logísticas).

Para não agravar a nossa dependência alimentar, que acarreta por si só um agravamento automático da nossa dependência energética e do nosso endividamento (comercial, público e externo), é fundamental começar por definir um Plano Nacional de Segurança Alimentar, transparente e permanentemente aberto ao escrutínio democrático e discussão pública.

Sendo a área dos serviços aquela que previsivelmente será mais afectada pela escassez tripla de petróleo, dinheiro e alimentos, pois não tem grande coisa para dar em troca daquilo que materialmente é imprescindível à vida —comida, guarida e mobilidade física—, será fundamental desenvolver estratégias de regresso à produção! Sobretudo enquanto durar a actual aceleração dos processos de automação e robotização computacionais das prestações de serviços, num quadro já caracterizado pela impossibilidade de crescimento das dívidas soberanas e das cargas fiscais (cofres naturais da segurança social), tornar-se-à imprescindível religar os indivíduos e as comunidades à produção e transacção dos bens essenciais à vida.

A capacidade de produção alimentar em Portugal é limitada, mas ainda assim está longe de atingir o seu potencial. A propriedade rural encontra-se atomizada. Boa parte dos proprietários rurais vive e trabalha nas cidades, em grande medida por causa da revolução industrial e do desenvolvimento das cidades. Este período está, porém, a chegar ao fim. Em vez de se gastar inutilmente dinheiro público em Novas Oportunidades perdidas, talvez seja o momento de pensar onde melhor gastar os recursos financeiros que ainda vêm de Bruxelas. Por exemplo, lançando um programa nacional de agricultura biodinâmica e biológica, capaz de adaptar tecnologicamente os processos de cultivo e produção alimentar e florestal à escassez futura de adubos e pesticidas industriais (provenientes nomeadamente do gás natural e do petróleo), ao mesmo tempo que se especializa e confere competitividade cognitiva e social à agricultura, pecuária, piscicultura e silvicultura portuguesas. Estude-se, a este propósito o caso austríaco, para perceber até que ponto um país comunitário da Eurolândia pode abolir no seu espaço nacional todos os alimentos transgénicos e escolher uma via verde para a produção alimentar e conservação dos ecossistemas. Levar a segurança alimentar às cidades, e levar as cidades ao campo é todo um programa cujos impactos na mitigação dos constrangimentos que se seguirão ao fim do petróleo barato é demasiado grande para ser adiado. A inércia corporativa do regime tem que ser combatida e vencida, custe o que custar.

No início deste ano negro, o mais importante de tudo é evitar os jogos florais parlamentares e os teatros de sombras permanentemente instigados pelo governo, pelas oposições e pelos lóbis corporativos. Libertar a sociedade civil e salvar o país de uma morte súbita começa por aqui. O mais importante agora é discutir soluções.

NOTAS
  1. António Pinto Barbosa
    Fiscal das contas públicas certificou irregularidades no BPP
    05.01.2011 - 17:04 Por Cristina Ferreira. Público.
    O presidente do grupo de trabalho para criar a comissão encarregue de fiscalizar as contas públicas, António Pinto Barbosa, certificou durante cerca de dez anos as contas do Banco Privado Português, que foi intervencionado no final de 2008 pelo Banco de Portugal, para evitar a sua insolvência imediata.
    Mas haverá alguém que se salve deste naufrágio? — OAM
  2. Se em vez de se considerar o valor nocional OTC dos contratos de derivados, apenas se tiver em conta o respectivo valor bruto de mercado, ou seja a expectativa razoável de ganho, ainda assim está em jogo um volume de apostas especulativas sobre taxas de juros, desvalorizações cambiais, e outros activos virtuais, equivalente a 1/3 do PIB mundial, ou seja, mais ou menos 17 biliões de euros (17*10^12€).
  3. A "esquerda" monocórdica tem a mania de invocar a fuga aos impostos como argumento favorável ao aumento da carga fiscal. Está bom de ver que o argumento é idiota. Mas insistem, não querendo entender que se se combinar uma menor carga fiscal com uma vigilância e penalização forte aos infractores (começando pelos de cima) os resultados seriam bem melhores dos que os conseguidos com o terrorismo fiscal actualmente em curso. Um burro morto não paga impostos!
ÚLTIMA ACTUALIZAÇÃO: 6 de Janeiro de 2011 22:00

    sábado, dezembro 11, 2010

    Metamorfose ou barbárie

    Ver quadro ampliado
    A fome veio para ficar, e poderá levar à morte e a um decréscimo demográfico na ordem dos 2,5 mil milhões de pessoas até 2050

    Antes de voltar ao tema da nova rede ferroviária de "bitola europeia" (UIC) em Portugal, e à importância da interoperabilidade em qualquer estratégia actualizada de mobilidade multi-modal de pessoas e mercadorias, explicando pela enésima vez que a construção de um novo aeroporto internacional em Alcochete não passa de uma fuga em frente do clientelar modelo económico-financeiro que levou Portugal à bancarrota —o que farei no próximo artigo— retomo o célebre tema dos limites do crescimento, do não menos célebre relatório de Dennis L. Meadows, Donella H. Meadow e Jørgen Randers —Limits to Growth (1972)—, a partir de três recentes contribuições sobre o tema: 

    By Tom Whipple  
    Wednesday, December 08 2010 01:50:22 PM

    In case you missed it, a couple of weeks back the International Energy Agency in Paris got around to disclosing that the all-time peak of global conventional production occurred back in 2006. Despite that fact that this declaration was tantamount to announcing the end of the 250-year-old industrial few in the mainstream media noted the event and it was left to obscure corner of cyber space to ponder the meaning of it all.

    It is also worth noting that oil is back in the vicinity $90 a barrel and even Wall Street economists, who are paid to be eternally optimistic, are starting to talk about going for $110-120 a barrel in the next year or so.

    In the meantime, the talking heads, pundits and even hard-headed reporters chatter on about the slow but persistent economic recovery that is supposed to be taking place. As the effects of last year's near-trillion dollar stimulus start to be felt, every statistical twitch upward is hailed as proof that normalcy will soon return. Realists, however, call this twitching "bottom-bouncing" and are convinced that far worse is yet to come.

    The Century of Famine
    by Peter Goodchild  
    02 March 2010

    Famine caused by petroleum supply failure alone will result in about 2.5 billion above-normal deaths before the year 2050; lost and averted births will amount to roughly an equal number.

    In terms of its effects on daily human life, the most significant aspect of fossil-fuel depletion will be the lack of food. “Peak oil” is basically “peak food.” Modern agriculture is highly dependent on fossil fuels for fertilizers (the Haber‑Bosch process combines natural gas with atmospheric nitrogen to produce nitrogen fertilizer), pesticides, and the operation of machines for irrigation, harvesting, processing, and transportation.

    (…) No matter how much we depleted our resources, there was always the sense that we could somehow “get by.” But in the late twentieth century we stopped getting by. It is important to differentiate between production in an “absolute” sense and production “per capita.” Although oil production, in “absolute” numbers, kept climbing — only to decline in the early twenty-first century — what was ignored was that although that “absolute” production was climbing, the production “per capita” reached its peak in 1979.

    By Glider Guider
    May 2007

    At the root of all the converging crises of the World Problematique is the issue of human overpopulation. Each of the global problems we face today is the result of too many people using too much of our planet's finite, non-renewable resources and filling its waste repositories of land, water and air to overflowing. The true danger posed by our exploding population is not our absolute numbers but the inability of our environment to cope with so many of us doing what we do.

    (...) Peak Oil is fundamentally a liquid fuels crisis.  We use 70% of the oil for transportation.  Over 97% of all transportation depends on oil.  Full substitutes for oil in this area are unlikely (I'd go so far as to say impossible). Biofuels are extremely problematic: their net energy is low, their production rates are also low, their environmental costs in soil fertility are too great.  Crop based biofuels compete directly with food, while cellulosic technologies risk "strip mining the topsoil" at the production rates needed to offset the loss of oil.  Electricity will be able to substitute in some applications such as trains, streetcars and perhaps battery powered personal vehicles, though at significant cost in terms of both flexibility and economics.  There is no realistic substitute for jet fuel.

    Sem levarmos a sério o que está realmente em causa quando se fala do fim do petróleo barato, será difícil percebermos o dramatismo sem precedentes da contagem decrescente que nos conduzirá a todos até ao fim da civilização industrial baseada no uso intensivo do carvão, do petróleo e do gás natural, como fontes energéticas insubstituíveis do nosso bem-estar "moderno" e da nossa expansão como espécie. Se, pelo contrário, olharmos sem medo para as realidades energéticas e demográficas que temos pela frente, então será mais fácil descortinarmos tudo aquilo que já não pode ser realizado até ao fim, e o muito que teremos que fazer para sobrevivermos à metamorfose inevitável que em breve nos espera.

    A prioridade das prioridades, na minha opinião, é mitigar, mitigar e mitigar a nossa dependência colectiva e generalizada do petróleo e seus derivados — o que significa baixar abruptamente a intensidade energética das nossas economias, e aumentar de forma e a um ritmo igualmente drásticos a eficiência energética activa e passiva de todos os edifícios, equipamentos e sistemas usados pelo homem.

    O modelo de desenvolvimento dos chamados países ricos do planeta —especialmente nos Estados Unidos, Canadá e Europa Ocidental, mas também no Japão— assentou, desde a primeira grande crise petrolífera (1973), no desenvolvimento de uma economia de serviços, consumista e pseudo-Keynesiana, alavancada através de um imperialismo financeiro com pés de barro, e de uma sobre-exploração de vastas comunidades humanas ultramarinas cujo rendimento, porém, viria a ser crescentemente capturado pelas elites dos países que estrategicamente consentiram essa gigantesca transferência de trabalho e conhecimento do Ocidente para o Oriente.

    Aquilo que o Japão começou a não poder fazer mais, isto é competir em preços salariais com a China, transformou numa agressiva política de destruição das suas próprias taxas de juros e de desvalorização do iene (o chamado Yen carry-trade)— tornando-se desta forma um dos principais agentes mundiais das múltiplas bolhas especulativas que conduziram ao actual estado de ruína das finanças empresariais, domésticas e soberanas do Ocidente. Em Portugal, como no Reino Unido, Espanha, França, Itália, Estados Unidos e na própria Alemanha, as economias e as sociedades estão verdadeiramente trilhadas por moles imparáveis: a mole da bolha do endividamento exponencial e especulativo das economias, e a mole dos preços imparáveis do petróleo e dos factores de produção que dele dependem criticamente, directa ou indirectamente: matérias primas minerais e alimentares, mobilidade de pessoas e mercadorias, e os próprios salários do trabalho produtivo (que estando a descer paulatinamente nos "países ricos" desde os anos 70, estão, por outro lado, a subir de forma constante nos "países pobres"!)

    Nabucco in 'David vs. Goliath' battle for Azeri gas
    Published: 10 December 2010

    Pressure is growing on the Nabucco consortium to reveal its hand over its tender for Azeri gas. The winner, to be announced in April, will be master of Europe's Southern Gas Corridor, designed to bring gas from sources other than Russia.

    Uma das dúvidas mais sérias do momento prende-se com o futuro da União Europeia. Sem governo económico comum, e sem harmonização e nivelamento fiscais em todo o território comunitário, as tensões em volta do euro poderão mesmo provocar o seu colapso e a desintegração da União. Se isso acontecer, regressaremos às velhas alianças regionais, e às velhas tensões diplomáticas.

    Em todo o caso, os desafios impostos pelo declínio na produção de petróleo per capita (constante desde os anos 70), e pelo declínio da produção de cereais per capita (constante desde o início da década de 90), sobretudo num panorama mundial onde a poupança se concentra hoje nos chamados países emergentes —exportadores de energia fóssil, matérias primas, produtos transaccionáveis e trabalho—, e já não nos sobre endividados "países ricos" do Ocidente, são de tal modo dramáticos que não podemos tolerar por muito mais tempo o populismo, a ignorância e a corrupção reinantes nas nossas cada vez mais caricatas democracias parlamentares. Algo teremos que fazer para nos prepararmos para o embate do futuro. Os sistemas políticos irão colapsar em breve. Temos que nos preparar para tal evento, e sobretudo temos que nos preparar desde já para criar as alternativas de poder civilizadas e culturalmente avançadas que terão que enfrentar a passagem para uma espécie de futuro anterior.

    sexta-feira, novembro 05, 2010

    III guerra mundial

    EUA presos no elevador do endividamento



    Stuck In A Falling Elevator

    There is this very interesting NOVA video called ‘Trapped in an Elevator‘ where this poor office worker goes out for a brief smoke, goes back inside and is then trapped for 48 hours stuck on the 13th floor, of all things.  He presses the panic button, calls for help on the telephone, yells like crazy but no one answers.  Even though there is a camera monitor that sees him and records his struggles to survive, the people supervising the building never bother to look at the monitors and rescue him.

    (…) The Democratic Party stabbed Obama in the face when they sided with a foreign leader, Netanyahu, against their own leader and this led to a total loss of prestige and power and Obama is now perceived as a servant, a doorman or doormat rather than a leader and this perception has grown across the board.  Those Americans stuck in the elevator try to contact their concierge at the front desk but he isn’t bothering much anymore.  He is sick and tired of his job and indifferent to the status of the people dying in the stuck elevators.

    — Elaine Meinel Supkis in "Culture of Life News" 

    Os Estados Unidos estão a criar dinheiro virtual (ou seja, meramente escriturado) como doidos. A ideia de descer os juros do banco central até zero (uma ideia peregrina inventada pelos japoneses, e responsável pela depressão da sua economia, que dura há já 20 anos!), foi copiada pela América de Bush, e também do desgraçado Obama. O senhor Trichet tem resistido, mas a verdade é que já empresta a 1% aos bancos comerciais, para estes cobrarem quase 7% por algumas das dívidas soberanas europeias! Aliás, o custo total de alguns créditos pessoais já ultrapassa os 30% —basta fazer uma simulação nalguma das calculadoras disponíveis nos sítios web da banca portuguesa!!

    Mas o grande perigo está mesmo na contrafação imparável de dinheiro virtual através do sofisma financeiro chamado Quantitative Easing. Os Estados Unidos são os campeões desta economia de casino, sem cuidar que foi assim que a Alemanha de Weimar implodiu, ou mais recentemente, que o Zimbabué se transformou num estado falhado. Angela Merkel, pressionada pelo eleitorado alemão, que ainda não se esqueceu das consequências trágicas de confundir dinheiro com notas de Monopóio, meteu travão às quatro rodas em matéria de controlo dos endividamentos europeus, exigindo novas regras de penalização dos infractores nacionais da União, e sobretudo apoiando o BCE na sua anunciada política de garrote relativamente aos improdutivos e perdulários governos europeus.

    O grande problema das economias ocidentais foi terem exportado, ao abrigo da livre circulação e liberdade dos mercados financeiros, boa parte da sua capacidade produtiva real para o Oriente, crendo que uma economia de serviços e de consumo poderia substituir o pão que comemos diariamente, e o telemóvel que trazemos no bolso. Não pode! Que tem o trigo, os metais raros, e as fábricas; quem tem as matérias primas e a mão de obra barata disponível a produzir os bens transaccionáveis, é que, no fim do dia, dará as cartas da economia mundial. Ou seja....

    O facto de não existir ainda um ciclo fatal de hiperinflação nos Estados Unidos, ou mesmo na Europa, reside precisamente na circunstância de as quantidades inimagináveis de dinheiro virtual criado pelo Ocidente (o buraco negro dos derivados financeiros equivale já a 12 vezes o PIB mundial!) estar, no fundo, a ser absorvido pelos países produtores de energia fóssil, matérias primas, alimentos e produtos acabados, que têm vindo a engolir o papel higiénico que lhes enviamos em troca dos bens que importamos massivamente. Daqui ao estalar de uma guerra cambial, e desta a um conflito militar de proporções inimagináveis, é um passo, ou tropeção, que pode ocorrer a qualquer momento.

    Uma III Guerra Mundial poderá de facto vir a ser precedida por uma guerra cambial à escala planetária. Lula vai reunir os países emergentes para responder a esta loucura. O Japão, a quem Obama já prometeu intermediação, pode declarar guerra à Rússia e à China, por causa do excesso das reservas em dólares que acumulou, porque já não pode lucrar com yen carry trade (i.e. combinar uma moeda fraca com empréstimos interbancários a taxas zero ou próximas do zero) e porque o pico petrolífero vai lançar as economias mundiais num remoinho muito perigoso.

    sábado, outubro 16, 2010

    Bancarrota

    Parem as autoestradas e as barragens assassinas!
    in "Parcerias Públicos Privadas e Concessões, Relatório de 2009". Ministério das Finanças e da Administração Pública. Valores em milhoes de euros.
    2030 é, desde o Relatório do Clube de Roma, Limits to Growth, publicado em 1972, o ano comummente aceite como o do grande colapso do actual modelo de crescimento mundial. A principal causa deste colapso civilizacional global é o declínio inexorável das reservas de petróleo barato. Sem este poderoso concentrado energético facilmente manuseável e facilmente transportável não se teria assistido ao crescimento exponencial, embora assimétrico, da população mundial, não teríamos conhecido as sociedades de consumo, não teríamos depauperado de modo tão rápido (200 anos de carvão e apenas 100 anos de petróleo) as fontes energéticas que possibilitaram a industrialização em massa das economias e a urbanização (e sub-urbanização) à escala global dos aglomerados humanos, com consequências a prazo catastróficas. Não teríamos, em suma, exaurido de forma egoísta e suicida os recursos e as condições ambientais imprescindíveis ao equilíbrio e continuidade da vida à face da Terra. Até as abelhas estão ameaçadas. Nada parece salvar-se, salvo as bactérias e os fungos!

    Se olharmos para o gráfico acima, verificamos imediatamente que a nomenclatura e os piratas que tomaram de assalto a democracia portuguesa, além de vorazes, corruptos, insensíveis às questões sociais e ao sofrimento humano, são tremendamente burros!

    Enquanto o resto da Europa, embora talvez demasiado tarde, acordou e prepara um conjunto de planos de emergência para diminuir a sua pegada ecológica, substituindo nomeadamente os transportes movidos a petróleo e similares por sistemas de "car-sharing" eléctricos, e pelo uso de transportes colectivos movidos também a energia eléctrica (eléctricos, trolleys e comboios)—, Portugal passou a última década a levar até ao paroxismo a política do betão — isto é, um modelo de crescimento próprio de países com burguesias fracas, incultas, corruptas e burocráticas, que dependem estruturalmente do Estado que por sua vez capturam através do financiamento ilegal dos partidos, da esquerda à direita.

    A contratação das mais recentes PPPs, para a construção de autoestradas no deserto, quando o colapso financeiro mundial e o endividamento extremo de Portugal eram já uma evidência, bem como a insistência dos imbecis burocratas que vivem das memórias da Esquerda, para que se fizessem mais pontes absurdas (entre Chelas e o Barreiro), nunca se opondo frontalmente às ditas auto-estradas, com medo de perder votos, tem forçosamente que ser considerada crime. Um crime, desde logo, contra a independência do país e contra a riqueza acumulada dos portugueses que pouparam, em vez de gastar à tripa forra, endividando-se alegremente ao som das televisões e da publicidade de rua. Portugal entrou em bancarrota desde Maio deste ano e é, para todos os efeitos, um protectorado encoberto da União Europeia.

    A dívida pública, isto é, contraída pela burocracia partidária que degenerou a nossa democracia e levou o pais à falência, é insustentável. Daí que a política orçamental de Portugal seja agora definida em Bruxelas, enquanto a corja partidária continua alegremente a cuspir retórica no patético parlamento em que se tornou a casa da democracia.

    Do intelectual desonesto chamado Francisco Louçã (desafio-o a demonstrar-me que não é!), aos seminaristas órfãos de Estaline, passando pelos piratas do Bloco Central (os que o não são, nem  foram, têm já pouco tempo para saírem das suas tocas de cobardia), todos querem que Passos de Coelho aprove, ou no mínimo, se abstenha, na votação do documento fraudulento a que todos chamam pateticamente "orçamento de Estado". Pois bem, já disse e repito: se não chumbar, como deve e tem obrigação, a vigarice com que o Sócrates Pinto de Sousa, e o Aníbal Cavaco Silva, o querem embrulhar e despachar, será o seu suicídio político. O cantar interessado das sereias da Quadratura do Círculo e sinecuras afins, não passam de encomendas bem pagas!

    O mundo poderá estar à beira de uma conflito mundial sem precedentes. Se não arrumarmos a casa a tempo e horas, seremos pura e simplesmente ocupados pela Espanha — o nosso maior credor!

    Não está pois em causa coisa pequena.


    POST SCRIPTUM

    Plano Inclinado, 16 outubro 2010
    O súbito conformismo de Medina Carreira
    Quando todo o historial permitia presumir uma oposição frontal de Medina Carreira à aprovação da aldrabice a que a nomenclatura do regime insiste em chamar Orçamento de Estado, fomos hoje reiteradamente surpreendidos pela capitulação do fiscalista perante a chantagem de José Sócrates Pinto de Sousa. Ai, ai, ai que vem aí o FMI! — clama Medina Carreira. Mas não era ele mesmo que reclamava a vinda daqueles senhores para salvar o país?! E se eles não vierem, o país salva-se, continuando nas mãos da santa aliança entre Cavaco e Sócrates? A contradição é insanável. Algo de muito estranho deve ter convencido Medina Carreira a deitar ao lixo toda a sua pregação anti-sistema.


    Expresso, 16 outubro 2010
    A capitulação de um jornal de referência face à pressão de quem o alimenta!
    Nota da Direção  do Expresso:
    "O OE para 2011 é uma terrível notícia para os cidadãos e para as empresas. É a consequência lógica de anos de políticas erradas e impõe medidas duríssimas que decorrem de um estranho período de negação em que este Governo se enredou. Não obstante, chumbá-lo é dar um passo na direção do abismo, tanto no plano financeiro como no plano social. Haveria melhores alternativas ao OE, mas o tempo está infelizmente esgotado. Agora, trata-se de salvar um doente, não de fazer um simpósio. To- dos os esforços para aprovar o Orçamento não são, por isso mesmo, a favor ou contra o Governo, mas algo que se impõe a quem coloca o país em primeiro lugar. Como o Expresso defendeu desde a primeira hora."
     Das duas uma: ou o que escreve no Editorial é irracional (aprovar de olhos vendados o que não conhece, mas foi cozinhado por uma comprovada turma de aldrabões), ou acha que se não capitular desta maneira vergonhosa, vai perder o apoio da banca, do governo e dos oligopólios público-privados que se preparam para o assalto final à bolsa dos portugueses. Como é óbvio, não tenciono gastar mais um cêntimo que seja neste pasquim!

    quarta-feira, março 10, 2010

    Pico petrolífero

    O petróleo regressou aos 80 $/b.
    Se o Pico Petrolífero Mundial chegar em 2014 (previsão mais recente), ou mesmo em 2020, esqueçam os aeroportos!
    Published Mar 10 2010 by Eureka Alert!, Archived Mar 11 2010
    World crude oil production may peak a decade earlier than some predict
    by American Chemical Society press release

    In a finding that may speed efforts to conserve oil and intensify the search for alternative fuel sources, scientists in Kuwait predict that world conventional crude oil production will peak in 2014 — almost a decade earlier than some other predictions. Their study is in ACS' Energy & Fuels, a bi-monthly journal.

    Ibrahim Nashawi and colleagues point out that rapid growth in global oil consumption has sparked a growing interest in predicting "peak oil" — the point where oil production reaches a maximum and then declines. Scientists have developed several models to forecast this point, and some put the date at 2020 or later. One of the most famous forecast models, called the Hubbert model, accurately predicted that oil production would peak in the United States in 1970. The model has since gained in popularity and has been used to forecast oil production worldwide. However, recent studies show that the model is insufficient to account for more complex oil production cycles of some countries. Those cycles can be heavily influenced by technology changes, politics, and other factors, the scientists say.

    The new study describe development of a new version of the Hubbert model that accounts for these individual production trends to provide a more realistic and accurate oil production forecast. Using the new model, the scientists evaluated the oil production trends of 47 major oil-producing countries, which supply most of the world's conventional crude oil. They estimated that worldwide conventional crude oil production will peak in 2014, years earlier than anticipated. The scientists also showed that the world's oil reserves are being depleted at a rate of 2.1 percent a year. The new model could help inform energy-related decisions and public policy debate, they suggest. — in "World crude oil production may peak a decade earlier than some predict" | Energy Bulletin.
    A dependência portuguesa do petróleo e do gás natural é enorme. Ao contrário do que as barragens de contra-informação do governo e da EDP têm vindo a fazer crer, a energia eléctrica que consumimos depende muito do gás natural e do fuel diesel, e mais grave ainda, a circulação de mercadorias por esse país fora depende quase exclusivamente do transporte rodoviário, como ficou demonstrado durante a crise provocada pela greve internacional de camionistas de Junho de 2008.

    A destruição da linha férrea portuguesa, iniciada por Aníbal Cavaco Silva, o actual presidente da república (que talvez por estas e outras se mostra muito satisfeito com o PEC), e o atraso na mudança de bitola das fracas ligações ferroviárias existentes entre Portugal e Espanha, coloca Portugal numa situação particularmente frágil quando projectamos os impactos previsíveis de uma antecipação do Pico Petrolífero. Com o petróleo de novo nos $80/b, e a previsão da sua escassez a curto prazo, precipitará inevitavelmente uma crise económica, social e política sem precedentes no mundo.

    Daqui que há muito venha desvalorizando os devaneios governamentais em volta do seu irrealista plano de transportes, invariavelmente ao serviço dos objectivos de curto prazo do Bloco Central do Betão.

    OAM 697—10 Mar 2010 (última actualização: 13 Mar 11:25)