E Passos de Coelho, quando é que vai a despacho com o Gasparinho?
Maquiavel, uma leitura recomendada a Álvaro Santos Pereira |
O Gasparinho continua borrado de medo desde a última conversa com o todo poderoso ministro alemão das finanças. O olhar azul de Wolfgang Schäuble, buscando um inatingível kantiano qualquer, depois do Gasparinho insistir que estava a fazer os trabalhos de casa (roubando os fundos de pensões da falida banca, claro está!), não o deixa dormir. Deste pesadelo que não desaparece, até tentar a solução de Salazar, isto é, colocar todos os ministros de joelhos e a despacho seu, foi um passo.
Esqueceu-se, no entanto, dum pormenor: o primeiro ministro não é ele, ainda que o que é não passe dum jota que nunca trabalhou na vida e que dificilmente chegará ao fim do mandato. Estará o alucinado Gasparinho a preparar-se para o substituir? Mas isso só com um golpe de estado —e militar— homem!
Depois da reunião entre Ana Pastor (Espanha) e Álvaro Santos Pereira (Portugal) as ratazanas do esgoto lusitano agitaram-se como nunca e, pela mente sempre conspirativa do Paulinho das Feiras (ele lá sabe o que o seu PP deve ao BES) temos o governo do jota Passos de Coelho em pleno Carnaval fora de horas (TSF1 e TSF 2), com os bombos da méRdia indigente que temos a rufar pandeiretas de esquizofrenia xenófoba até à náusea. Uma tal Ana Sá Lopes, do pasquim "i", que confunde a encomenda com a "opinião pública", é particularmente ressabiada, para a idade que aparenta, na sua sanha contra o emigrante Álvaro, como se parte do que almoça não fosse fruto do trabalho de gente como o emigrante Álvaro.
O dilema com que o país se depara é este: não temos nenhuma possibilidade de pagar o que devemos, nem que os crápulas do actual governo matem os velhos todos, arrasem por completo a classe média, e em cima disto expulsem do país todos os Álvaros que gostam, sabem e querem trabalhar.
O contabilista Gaspar descobriu uma nova receita extraordinária (chama-se QREN) para disfarçar o que não tem disfarce possível, isto é, que sem um novo resgate europeu a insolvência declarada de Portugal ocorrerá já em 2012, ou o mais tardar, em 2013. Desta vez, nem a China, e muito menos Angola, ou o Brasil, nos salvarão de uma perigosa e catastrófica aproximação do calvário da Grécia.
É aliás neste cenário que Cavaco aposta e para o qual se vem preparando através de sucessivos avisos ao governo e do namoro descarado com o PS. No fundo, o traste de Belém pensa assim: para salvar a sua pele, e evitar um golpe de estado militar, ou uma revolução social fora dos partidos, terá que se antecipar e preparar um governo de emergência nacional, com um primeiro ministro de sua confiança e muito obediente, até que a tempestade passe. E se a tempestade não passar, ou se agravar durante o seu mandato presidencial, um tal governo resultante do colapso do vigente daria enfim substância à suspensão da democracia de que um dia falou Manuela Ferreira Leite — para escândalo de tantos...
O "povo" pedirá então o fim da pouca-vergonha e o fim do império das ratazanas (dos que drenam a poupança nacional, seja através de empresas de manutenção aeronáutica que ninguém investiga, seja através de rendas criminosas, na energia, nas autoestradas, nas pontes, nas barragens e nos hospitais público-empresariais). Cavaco, que bem sabe o que sucedeu há 120 anos atrás, quando o país entrou em bancarrota e foi humilhado até aos ossos pelos credores, tentará evitar o pior, antecipando-se. O contabilista Gasparinho tem pois um sério rival pela frente!
O cavaquismo tardio planeou a nossa euforia económica e felicidade cultural apostando num cenário macro-económico assente em futuros barris de petróleo a custarem, em 2015, 28 dólares!
Tudo assentou em Portugal no automóvel individual e na rodovia. Desta desgraça não nos livraremos enquanto não houver uma revolução de racionalidade, nem que tenha que ser autoritária. |
Autoestradas, pontes e aeroportos, barragens inúteis e assassinas, estádios impagáveis e rotundas estúpidas, seriam o mato ideal para engordar as ratazanas e os populistas de serviço. Acontece que o dito ouro negro ultrapassou as 100 notas verdes e tudo indica que não só não voltará a ser barato, como será cada vez mais caro. Portugal, dada a ignara irresponsabilidade de economistas, engenheiros e políticos (e a sempre avidez das ratazanas), precisa de 120 milhões de barris de petróleo por ano para manter o seu imprevidente e inviável estilo de vida. Na previsão irrealista do último governo de Cavaco Silva e dos que lhe seguiram as pisadas, o país deveria estar a gastar em 2015 qualquer coisa como 3.360.000.000 de dólares em importações de petróleo. No entanto, a verdade dos factos em 2012 andará certamente acima dos $12.000.000.000!
Os preços, especulativos ou não, dos recursos energéticos, minerais e alimentares acompanham o Pico do Petróleo. Gráfico do BoJ - Recent Surge in Global Commodity Prices, 2011. |
O impacto desta inflação imparável sobre as restantes matérias primas, energéticas, minerais e alimentares, de que dependemos, é óbvio. Café, trigo, milho, soja, alumínio, níquel, chumbo, zinco e cobre viram os seus preços subir de 34% a 564%, entre 2003 e 2008. A partir do momento em que endividamento a custo zero, obtido através do esmagamento do valor do dinheiro e das poupanças (redução sucessiva das taxas de juro) e ainda por intermédio de processos de especulação com as dívidas privadas e soberanas, chegou ao fim, o colapso das economias, mais do que do sistema financeiro (pois este não passa de uma engenharia de sonhos e pesadelos, como a gestão do Gasparinho vem evidenciando à saciedade), tornou-se inevitável. Sem refundar as economias em novos pressupostos energéticos, o que é muito diferente do que gritar pelo "crescimento", como faz o seminarista inSeguro do PS, não iremos a parte alguma.
Não é só o transporte rodoviário, dominante em Portugal, que é caro, mas também o que lá vai dentro, quase tudo importado! |
Se queremos recuperar a dignidade e a independência, uma vez mais perdidas, teremos que voltar a andar a pé, de bicicleta e em transportes coletivos movidos a eletricidade: elétricos, trolleys e comboios —internacionais, interurbanos, suburbanos e urbanos. Teremos que baixar drasticamente a intensidade energética da nossa economia, que é uma das mais elevadas, se não a mais elevada da União Europeia. Teremos que voltar costas ao subúrbio erguido com base no petróleo barato, para engorda e gáudio das ratazanas. Teremos que reforçar a auto-organização democrática como nunca o fizemos, dispensando em muitos casos, sobretudo localmente, nos negócios e no trabalho do dia a dia, a presença ruinosa e corrupta dos governos e dos partidos. Temos que rejeitar em uníssono o terrorismo fiscal!
Ao contrário do que agora possamos crer, só nos livraremos da escravatura e do assassínio económico de dezenas de milhar de portugueses, se substituirmos a insolvente, desmiolada e corrupta democracia que deixámos medrar nos últimos trinta anos, por uma democracia literal, transparente, responsável e unida em volta de uma visão estratégica para Portugal.
O populismo democrático que permitiu a criação duma vasta casta de burocratas de estado e de partido, cujos direitos estão sempre em primeiro lugar, levou-nos à insolvência e à humilhação de vermos Portugal transformado num protetorado de Bruxelas e Frankfurt, mendicante e sem futuro.
Acabará o país? Não creio. A crise mundial dará algum espaço à nossa independência.
Mas como perdemos boa parte dos nossos graus de liberdade ao longo dos últimos vinte anos, é preciso voltar a conquistá-los um a um! Desde logo, e em primeiro lugar, levando por diante uma verdadeira revolução no interior do nosso regime democrático. Algo que nenhuma revisão constitucional poderá conseguir, por estar à nascença marcada pela endogamia e por uma lógica de sobrevivência do excesso de burocracia que é urgente eliminar.
Precisamos de uma democracia com menos Estado e com menos poder partidário. Outras instâncias mais democráticas terão que nascer da ruína já evidente do atual regime. Eu, se fosse o Álvaro, aproveitava para ler O Príncipe, até quinta-feira que vem, e tomaria uma posição filosófica sobre a matilha que ladra em seu redor. Demitir-se não é opção. O jota disfarçado de primeiro-ministro que assuma a liderança do governo, se quiser, ou que a entregue ao Gasparinho, se não tiver coragem para enfrentar os dias difíceis que aí vêm!
POST SCRIPTUM: a rápida sucessão de acontecimentos que congregaram uma autêntica frente golpista contra o ministro da economia ocorreu logo depois da reunião entre este e a ministra espanhola Ana Pastor, onde foi reiterada, pela terceira ou quarta vez, a decisão de construir a linha ferroviária de alta velocidade entre Lisboa e Madrid, e em geral dar seguimento à ligação estratégica de Portugal à nova rede ferroviária europeia de Alta Velocidade, para passageiros, e completa interoperabilidade no transporte de mercadorias — em linha com o PET e com a própria decisão chinesa de fazer chegar os seus comboios AV até Londres! Como há muito aqui se escreveu, esta ligação ferroviária absolutamente necessária, como as que terão que ligar o centro (Aveiro-Coimbra) e o norte (AMP) do país à Galiza, ao resto da Espanha e à Europa atlântica e mediterrânica, mata o embuste do NAL da Ota em Alcochete — uma enormidade do quilate daquele que apressou o olímpico colapso da Grécia! Ora é precisamente por conhecerem este dado incontroverso, que os lobistas do novo aeroporto e da nova cidade aeroportuária da Ota em Alcochete (SLN/Fantasia, BES, Stanley Ho, Roquete, e a rapaziada ávida de almoços -- do genial descobridor do aeromoscas de Beja, ao não menos genial bastonário dos engenheiros do betão, passando por invertebrados de menor porte) fará tudo por tudo para destruir o Álvaro. Se o conseguirem, o país apodrecerá ainda mais depressa, e o coice que daí vier será então muito mais violento. A ideia de que o Português Suave é mesmo um morcão sem emenda (estou no Porto ;) pode revelar-se uma grande mentira histórica, como tantas outras.
Última atualização: 5 mar 201222:53